Você está na página 1de 6

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM MUSICOTERAPIA

ATIVIDADE AVALIATIVA DO MÓDULO VIII

Prática Clínica I: Musicoterapia e Neurociências –


Musicoterapia na Reabilitação Neurológica.

PROFESSORA: Mt. Dra. Cléo Monteiro França Correia


DISCIENTE: Robson da Silva Cardoso
E-MAIL: robsoncardosos@gmail.com

SALVADOR – BAHIA
SETEMBRO DE 2019
1. Fale sobre memória musical e sua contribuição no atendimento de um paciente
adulto em coma. Elabore uma sessão com as devidas explicações.

● Memória musical
A música é uma experiência multissensorial, pois ativa áreas cerebrais ligadas a
diversos sentidos. Ao escutar música podemos rememorar lugares, sabores,
sensações, etc. A memória exerce o papel de ligar a música que escutamos a eventos
passados. A memória é o que nos constitui como sujeitos, é de onde retiramos o
nosso modo de ser, nossa personalidade, nosso conhecimento e experiências.
Os estudos sobre memória afirmam, por meio de evidências biológicas e
psicológicas, que existem vários tipos de memórias, envolvendo funções motoras,
sensoriais, musculares. É sabido também que essas diversas memórias estão em
locais distintos do cérebro (CORREIA, 2009). Sobre a memória musical, os estudos
ainda não são conclusivos sobre sua localização na estrutura cerebral. Sabe-se,
entretanto, que a memória musical organiza-se de forma diferentes de outras
memórias, como a visual e verbal:

As pesquisas em pacientes com lesão cerebral têm sugerido que a memória


musical tem uma organização cerebral diferente da de outros tipos de
memória, como a visual e a verbal. Os relatos clínicos mostram que, embora
a identificação e o reconhecimento de uma peça musical pareçam envolver
ambos os hemisférios, a integridade do hemisfério esquerdo parece ser
crucial, como foi ilustrado por um paciente que apresentava lesão desse
hemisfério. (CORREIA, 2009, p. 342)

Quanto ao funcionamento da memória musical, Platel et al. (2003) (apud


CORREIA, 2009) afirma que a memória musical de divide em semântica e episódica.
A semântica é aquele referente ao conteúdo musical bem conhecido, armazenado na
memória, mas que não evoca as circunstâncias temporais e espaciais que o envolvem.
A memória episódica musical trata de reconhecer um trecho musical envolvido em
um contexto espaço-temporal, sendo ele familiar ou não.
Outra associação entre música e memória diz respeito à apelo emocional da
experiência musical. Pesquisas indicam que o som promove uma estimulação da
amígdala (área cerebral responsável pelas respostas emocionais) antes que o
neocórtex possa responder ao mesmo estímulo (CORREIA, 2009). Nesse sentido, a
música torna-se um importante instrumento de ativação emocional servindo,
consequentemente, para colaborar na recuperação de memórias e de estímulo a
reações fisiológicas e corporais. Estudos sobre pacientes com demência afirmam que
a memória para músicas familiares preserva-se mesmo com a degeneração de funções
cognitivas. Segundo esses estudos música pode também desencadear respostas
emocionais, reativar memórias antigas e estimular a atividade motora (CORREIA,
2013).

● Pacientes em coma
As desordens de consciência são situações onde acontecem perdas
“psicológicas difusas, quase sempre acompanhadas de redução generalizada ou
alteração no conteúdo da consciência, somadas a deficiências no despertar”
(PUGGINA, 2015, p. 103). O coma, o estado vegetativo, estado minimamente
consciente e sedação são tipos de desordens de consciência. O coma, por sua vez,
trata-se do estado em que o indivíduo não tem conhecimento de si mesmo e do local
onde está, tem diminuição ou ausência do nível de consciência e não responde a
estímulos externos e internos (PUGGINA, 2015).
Devido ao fato de ser uma experiência multissensorial, estar diretamente
relacionada a estímulos emocionais e a ativação de diversas áreas cerebrais, a música
constitui um importante ferramenta de estimulação de pacientes em coma. Para esse
processo deve-se buscar a coleta de informações sonoro-musicais desse paciente a
partir de sua família, de modo a utilizar músicas do seu contexto para as intervenções,
já que:

Os estímulos sonoros e/ou musicais que pertencem a essa história são


extremamente importantes no processo terapêutico, por facilitarem o
desencadeamento de reações, as mais diversas, que possibilitam melhor
compreensão de sua dinâmica psíquica, além de auxiliarem no
diagnóstico. (CORREIA, 2009, p. 339).

A utilização de dados autobiográficos para as intervenções com pacientes em


coma é descrita pela técnica da musicoterapia neurológica Musical Sensory
Orientation Training (MSOT). Nessa técnica o musicoterapeuta utiliza de uma
música familiar ao paciente e modifica a localização da fonte sonora, objetivando
provocar reações do paciente (JURADO-NOBOA, p. 2018).
Além disso, pode-se utilizar do ritmo da respiração com base para a produção
musical do terapeuta de modo a provocar estímulos no paciente. Puggina (2015)
descreve uma seção musicoterapêutica com paciente com alteração de consciência na
qual a terapeuta utiliza do pulso e do ritmo da respiração do paciente para improvisar
uma canção vocalizada e sem letra. Foram observadas diversas alterações no
paciente, que podem indicar uma tentativa de orientação e processo cognitivo.

● Plano de sessão
1) Dados do Estudante (nome, código matrícula, período, supervisor):
Robson da Silva Cardoso
2) Dados do Paciente / Grupo (nome, idade, hipótese diagnóstica):
a.​ ​Nome: Vitor dos Santos Almeida (paciente fictício);
b.​ ​Idade: 35 anos;
c. ​Hipótese diagnóstica: Desordem de consciência devido a traumatismo
craniano (coma).
3) Data e tempo da sessão:
a.​ ​Data: 06 de setembro de 2019;
b.​ ​Tempo da sessão: 15 min.
4) Objetivos Gerais (com justificativa):
a. ​Estimular reações do paciente buscando o aumentos do nível de

consciência.
5) Objetivos Específicos (preferencialmente até 3 e, se possível, quantificáveis):
a.​ ​Estimula a memória através de canção familiar;
b.​ ​Estimular a percepção espacial;
c. Estimular a alterações de indicadores fisiológicos
6) Metodologia:
a.​ ​Individual;
b. ​Tipos de Experiência Musical e/ou Técnicas Específicas (com previsão
de tempo de cada atividade):
● Acolhida e conversa (breve saudação, identificação do terapeuta,
conversa com o paciente e descrição do ques será feito). Duração:
5 min;
● Usar a canção ​familiar indicada por familiar na entrevista inicial
como sendo de importância na história do paciente, executada
através de aparelho de som. Após 2 minutos de execução
modificar a localização da fonte sonora e observar a presença ou
não de reações reações. Duração 5 min
● Em seguida, utilizando o violão e a voz, improvisar canção sem
letra a partir do pulso e ritmo de respiração do paciente. Usar
sequências harmônicas comuns ao estilo musical preferido do
paciente. Observar reações e alterações de indicadores
fisiológicos. Duração 3 min
● Despedida (conversa final com o paciente para finalizar a sessão).
Duração 2 min
d.​ ​Setting (instrumentos, espaço físico etc.):
● Leito do paciente, aparelho de som com música escolhida, violão
e voz.
REFERÊNCIAS

CORREIA, Cléo Monteiro França. Música, Emoção e Memória Musical. In:


NASCIMENTO, Marilena. ​Musicoterapia e a reabilitação do paciente
neurológico​. São Paulo: Memnon, 2009.

Capítulo 13 do livro “Demência. Uma questão multiprofissional”. Coordenação de


Silva RV, Silva RV, Romero SB. Livraria Médica Paulista Editora, São Paulo, 2013;
pp.129-140.

PUGGINA, Ana Claudia Giesbrecht; SILVA, Maria Julia Paes da. Pacientes com
desordem de consciência: respostas vitais, faciais e musculares frente música ou
mensagem. ​Revista Brasileira de Enfermagem​, v. 68, n. 1, p. 102-110, 2015.

JURADO-NOBOA, Cecilia. La Musicoterapia Neurológica como modelo de


Neurorrehabilitación. ​Revista Ecuatoriana de Neurología​, v. 27, n. 1, p. 72-79,
2018.

Você também pode gostar