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1 ESTADO E REFORMAS NEOLIBERAIS NO CONTEXTO BRASILEIRO PÓS

ANOS 1990

As três concepções de Estado mais aceitas e discutidas pela humanidade são


visivelmente discordantes em suas compreensões quanto à constituição do mesmo.
Porém, elas se assemelham em um aspecto muito singular as mesmas. Isso porque,
todas têm suas fundamentações teóricas totalmente entrelaçadas a historicidade.
Logicamente não podemos entender o presente sem tentar compreender as
condicionantes ou determinantes do passado, isso é necessário porque, segundo Souza
(2017), é a explicação que traz a reconstrução da gênese da realidade vivenciada.
Nesta conjuntura, a formação do Estado brasileiro, que perpassou por
acontecimentos históricos internos e externos, alguns ainda em desenvolvimento.
Conforme Sader (2010), acontecimentos que trouxeram continuidades e rupturas
significativas que mudaram a “fisionomia econômica, social, política e cultural, de
forma profunda e irreversível” (SADER, 2010, p. 11). Tais rupturas e continuidades se
apresentam quase que de forma linear, porém não de forma concomitante, a
acontecimentos políticos e econômicos que ocorriam no exterior. Acontecimentos esses
que configurariam a trajetória do Estado brasileiro.
A sociedade rentista na qual os Estados mundo a fora se alicerçam, dada pela
hegemonia capitalista regente que organiza e reorganiza seu sistema excludente sempre
que necessário mediante seus interesses, legitimando-os pela figura do Estado.
Utilizando mecanismos que, asseguram a continuidade de reprodução dada
historicamente, controlando as massas e garantindo o direito a propriedade, que Marx
(1993) brilhantemente traduz como um comitê deu uma classe economicamente
superior para simplesmente organizar seus negócios. Essa teoria fica muito clara quando
se configuram manobras político-ideológicas empreendidas sempre que necessário com
a propositura de não somente salvar o sistema capitalista, como também de manter uma
elite no poder.
[...] Gérard Duménil e Dominique Lévy, depois de uma cuidadosa
redistribuição dos dados, concluíram que a neoliberalização foi desde o
começo um projeto voltado para restaurar o poder de classe. Depois da
implementação de políticas neoliberais no final dos anos 1970. A parcela da
renda nacional do 1% mais rico dos Estados Unidos disparou, chegando a
15%[...] (HARVEY,2008, p. 16).

É totalmente indubitável que o sistema capitalista passou por diversas crises,


mas sem dúvidas, que maior transformações trouxe as políticas de governo/Estado foi a
crise da acumulação do capital ocorrida em 1970, que afetou a todos por meio da
combinação de altas taxas de desemprego em ascensão e inflação acelerada, Harvey
(2008). Antes desta crise, o mundo inteiro, havia firmado um modelo de Estado
fundamentado na propositura de um “Estado de bem-estar socia”. Esse Estado, também
conhecido como Estado intervencionista, resumia-se em um empenho para a promoção
de políticas redistributivas. A interferência acontecia apenas de forma mais superficial,
funcionando quase que como um acordo entre as classes, trabalhadores e empresários,
intermediado pelo governo a fins de promover um bem comum. Todavia, esse modelo
cumpria bem seus objetivos de um “[...] capitalismo avançado entrando numa longa fase
de auge sem precedentes – sua idade de ouro –, apresentando o crescimento mais rápido
da história, durante as décadas de 50 e 60”. Sua capacidade de regulação do capital é
inequívoca, porém sem promover um rompimento com a lógica capitalista de
acumulação, possibilitando neste contexto a eclosão de uma crise estrutural do sistema,
[...] “mostrando a fragilidade de qualquer medida que procura conter a
incontrolabilidade do sistema do capital” [...], Costa (2019)

[...] depois de vivenciar a era dos ciclos, adentrava em uma nova fase,
inédita, de crise estrutural, marcada por um continuum depressivo que faria
aquela fase cíclica anterior virar história. Embora pudesse haver alternância
em seu epicentro, a crise se mostra longeva e duradoura, sistêmica e
estrutural.
E mais, demostrava a falência dos dois mais arrojados sistemas estatais de
controle e regulação do capital experimentados no século XX. O primeiro, de
talhe keynesiano, [...]. O segundo de ‘tipo soviético’ [...]. Em ambos os casos
o ente político regulador fora desregulado, ao final de um longo período pelo
próprio sistema sociometabólico1 do capital. [...] (MÉSZÁROS, 2009, p. 10,
11).

Esse modelo de Estado keynesianista, mostrou-se incapaz de dirimir os efeitos


da acumulação de capital, não obstante de todos os modelos já empreendidos pelo
capitalismo, que são comumente ineficazes em romper o paradoxo que desde de muito
antes de sua forma atual, configura-se em uma divisão classista, mas que, cumpriu um
papel singular de amenização e subsídios mínimos de direitos e qualidade de vida
aqueles que precisaram, e precisam da intervenção estatal. A resposta para não assumir-
se a crise como sendo, um produto da acumulação do capital, a culpa foi, de forma no
mínimo leviana, imposta as intervenções estatais no mercado e suas políticas sociais

1
O sistema sociometabólico do capital tem seu núcleo central formado pelo tripé capital, trabalho
assalariado e Estado, três dimensões fundamentais e diretamente inter-relacionadas, o que impossibilita a
superação do capital sem a eliminação do conjunto dos três elementos que compreendem esse sistema
(MÉSZÁROS, 2009, p. 11).
que, conforme Anderson (1995), instrumentalizaram a classe trabalhadora conferindo
um poder excessivo e nefasto aos sindicatos, que consequentemente, corroeram as bases
de acumulação do sistema, com suas sucessivas pressões por aumento de salários e
cobranças por mais gastos sociais. Essas acusações não surgiram por acaso, elas eram
promovidas por um grupo elitista que sustentavam a argumentação de que a intervenção
do Estado regulando a todos e tudo, cerceava a liberdade de crescimento individual,
social e econômico. Isso, em sua sustentação teórica, repelia a dignidade humana e a
liberdade individual, sendo essas condições entendidas como conceitos centrais de uma
civilização.
Contudo, uma ideologia só se legitima pela aceitação de tal condição. Desta
forma,“nenhum modo de pensamento se toma dominante sem propor um aparato
conceituai que mobilize nossas sensações e nossos instintos nossos valores e nossos
desejos, assim como as possibilidades inerentes ao mundo social que habitamos”
Harvey (2008). E assim, a lógica de liberdade individual constituiu a nova era de
pensamento político e econômico, o neoliberalismo, que não viria a abalar apenas as
estruturas de Estado, mas também, provocar um movimento de supressão de direitos
constituídos por lutas e enfrentamento, condicionado por viés das características de
mercado, todas as relações, maximizando a individualidade humana, na busca enfreada
do rompimento com os ideais social democrata.

O processo de neoliberalização, no entanto, envolveu muita "destruição


criativa", não somente dos antigos poderes e estruturas institucionais
(chegando mesmo a abalar as formas tradicionais de soberania do Estado).
mas também das divisões do trabalho, das relações sociais, da promoção do
bem-estar social, das combinações de tecnologias, dos modos de vida e de
pensamento, das atividades reprodutivas, das formas de ligação à terra e dos
hábitos do coração. Na medida em que julga a troca de mercado "uma ética
em si capaz de servir de guia a toda ação humana, e que substitui todas as
crenças éticas antes sustentadas" o neoliberalismo enfatiza a significação das
relações contratuais no mercado. Ele sustenta que o bem social é maximizado
se se maximizam o alcance e a freqüência das transações de mercado,
procurando enquadrar todas as ações humanas no domínio do mercado
(HARVEY,2008, p. 5)

O antídoto proposto para eliminar a crise era a propositura de uma quase


anulação total do Estado. Mas, porque não a extinção por completo? Isso justifica-se
pela necessidade de manter um “Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o
poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e
nas intervenções econômicas”, Anderson (1995). Chegamos à era do controle
monetário, privatizações, e principalmente arrocho salarial, sendo postos como uma
necessidade para a volta do crescimento econômico e o fim do estagflação que assolara
a economia mundial.
Esse movimento político-ideológico não se limitou a territórios europeu e norte-
americanos, chegando aos países de américa latina com um certo retardo, com exceção
do Estado chileno que, segundo inúmeros autores, dentre eles David Harvey (2008), foi
um laboratório das políticas neoliberais, graças a ditadura de Pinochet que, golpeou o
governo eleito democraticamente, com o apoio das elites de negócios do Chile. Ainda,
de acordo com Anderson (2003) a virada para essa agenda na américa latina ocorre:

virada continental em direção ao neoliberalismo [...] [após a] presidência de


Salinas, no México, em 88, seguida da chegada ao poder de Menem, na
Argentina, em 89, da segunda presidência de Carlos Andrés Perez, no mesmo
ano, na Venezuela, e da eleição de Fujimori, no Peru, em 90. Nenhum desses
governantes confessou ao povo, antes de ser eleito, o que efetivamente fez
depois de eleito (ANDERSON, 2003, p.20).

No Brasil, os acontecimentos ocorridos no exterior, têm seus efeitos um tanto


tardios, porém com efeitos ainda mais devastadores. O primeiro deles, foi o que
classifico como a primeira tentativa frustrada de implantação de um princípio de Estado
de bem-estar social, ainda durante o governo de Getúlio Vargas, que fora frustrado pelo
golpe civil/militar amplamente apoiado pela elite brasileira que duraria de 1964 até por
volta de 1986. Durante esse período da história, já começávamos a provar algumas das
medidas ideológicas do neoliberalismo, como: abertura econômica para capital
internacional, privatizações e retiradas de direitos. Isso seria apenas o começo da
deterioração do Estado, proposto pela agenda de neoliberalização que atingiria
proporções maiores, não se restringindo apenas ao período ditatorial.
Em um segundo momento, a constituinte de 1988 que, foi pensada e organizada
para ser a consolidação dos direitos socias, delegando ao Estado a promoção do bem
comum, acabou por ser amplamente remendada nos anos subsequentes. Com a ascensão
de Frenando Collor de Melo que empreendeu a agenda da desqualificação do Estado e
da total regulação econômica, Sader (2010). Mesmo o impeachment de Collor em 1992,
não significou um contorno ou um abandono a tendência neoliberal, mas sim, uma
estratégia a uma ofensiva ainda mais articulada, fortalecida pelo avanço avassalador
dessa no continente, que viram nas reformas do Estado a forma mais eficiente de tomar
o controle perdido. Com o a eleição de Fernando Henrique Cardoso, essas reformas,
foram amplamente implementadas, sendo criado durante esse governo, um ministério
para promover todas as reformas exigidas e necessárias a construção do itinerário
neoliberal e a expansão do capital.
O governo de FHC criou o MARE (Ministério da Administração Federal e
Reforma do Estado), chefiado pelo então ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, que
como o próprio nome denuncia, tinha a responsabilidade de empreender todas as
reformas da ideologia neoliberalista. A investidura em uma política de [...]
“fortalecimento do Estado para que sejam eficazes em sua ação reguladora, no quadro
de uma economia de mercado” [...], Brasil (1995, p.6). Estava implícita intencionalidade
das medidas pretendidas por este ministério, não por acaso, haja vista, a acusação de
que o Estado, em gestões passadas, havia se desviado de suas funções básicas,
ampliando sua presença no setor de produção, o que produziu agravamento fiscal e
inflação.
A desestatização era imprescindível, o lema era privatizar. O Brasil começa a ser
vendido, não somete para o exterior, mas para uma pequena elite, cujo os interesses
passam a ser sumariamente defendido e legitimados........................

1.1 Impactos das políticas neoliberais na carreira e valorização dos profissionais da


educação

Há uma continua relação de interferências e impactos, resultantes de fatores e


agentes externos nas políticas públicas sociais e de educação, com ênfase a política de
remuneração de professores. Para a compreensão dessas determinantes, se faz
inequívoca a necessidade de compreensão da interdependência de processos sociais e
educacionais para a reprodução sistemática da realidade, sendo a educação resultado das
interferências sociais empreendidas em diferentes tempos e contextos. Conforme
Mészáros (2008)

Poucos negariam hoje que os processos educacionais e os processos sociais


mais abrangentes de reprodução estão intimamente ligados.
Consequentemente, uma reformulação significativa da educação é
inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as
pratica educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e
historicamente funções de mudança (MÉSZÁROS, 2008, p. 25).
Entender como as políticas públicas, em especial as políticas de educação, são
compostas, segundo Laswell (1936), implica em tentar responder três perguntas: quem
ganha o quê, por que e que diferença faz. Uma análise de políticas engendradas nos
diferentes governos e suas respectivas agendas, juntamente com suas “ideologias”
extremamente implicantes nos diferentes níveis de introdução dessas políticas, pode
corroborar de forma quase que unilateral para entendermos os rumos que a educação do
país tomou e têm tomado.
Nesta perspectiva, valorização profissional docente, somente pode ser
contemplada mediante o entendimento da complexa relação da política pública
educacional e a social. Isto porque, as políticas sociais podem, por uma capacidade
dentre tantas, produzir maior bem-estar, aumentando direitos e benefícios a população
mais necessitante da intervenção estatal na busca da redução das desigualdades socias,
ou até mesmo um mal maior, como possível restritividade de direitos e amparo. Já a
educação, assim como a política pública social, tem, ou pelo menos deve ter a
incumbência de diminuir a discrepante desigualdade cultural, econômica e social.

a política educacional é uma política pública social, na medida em que busca


a redução das desigualdades, volta-se para o indivíduo – não como
consumidor, mas como cidadão, detentor de direitos, e uma política setorial,
uma vez que se refere a um domínio específico” (MARTINS, 2010, p. 499).

Por conseguinte, a análise política, social, econômica, em


perspectiva...........................

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