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O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS INICIAIS E OS EIXOS DA

ORALIDADE, LEITURA, PRODUÇÃO DE TEXTO E ANÁLISE LINGUÍSTICA

Renan Felipe Souza Rodrigues


Robert Kennedy dos Santos Melo
Tania Reis da Silva
Orientadora: Professora Maurecilde Lemes da Silva Santana2 Commented [M1]: Coloquem nota de rodapé.

RESUMO: Este trabalho refere-se ao estudo teórico e prático sobre o ensino da língua
portuguesa nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, abordando os eixos da oralidade, leitura,
produção de texto e análise linguística e como o trabalho vem ocorrendo nos anos iniciais.
Segue o eixo “A integração dos saberes teórico-metodológicos disciplinares no processo de
alfabetização e na produção científica educacional” e da compreensão dessa articulação de
saberes disciplinares na construção de conhecimentos interdisciplinares, a partir da disciplina
de Conteúdos Metodológicos da Língua Portuguesa para o Início da Escolarização. Os objetivos
foram analisar práticas pedagógicas do ensino da língua portuguesa no processo de
alfabetização, considerando os eixos da oralidade, leitura/escuta, produção de texto e análise
linguística/semiótica; refletir sobre as formas de organização do trabalho referente ao
componente curricular Língua Portuguesa; identificar os eixos envolvidos no trabalho
pedagógico no tocante ao ensino da língua portuguesa e a sua articulação com outros
componentes curriculares; identificar as atividades realizadas na sala de aula nos respectivos
eixos articuladores da Língua Portuguesa. O trabalho foi realizado com base em observações e
regência durante o Estágio Curricular Supervisionado, usando como metodologia da pesquisa
a abordagem qualitativa, com a pesquisa de campo e a bibliográfica. As técnicas de coleta de
dados a observação e a observação participante. Concluímos que a língua materna permeia
todas as áreas do conhecimento e seu domínio influencia na compreensão, assimilação e
produção de conhecimento. As experiências no ensino têm que contribuir para a ampliação dos
letramentos, para promover a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais
compostas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens.

Palavras chave: Alfabetização e Letramento. Língua Portuguesa, Eixos articuladores. Prática


pedagógica.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta estudos acerca da língua portuguesa e dos eixos linguísticos
pertinentes ao ensino/aprendizagem da língua materna nos anos inicias do ensino fundamental.
Os conceitos abordados são inerentes ao processo de alfabetização, bem como necessários que
o alfabetizador tenha domínio, para que não se perpetuem práticas desvencilhadas do
referencial teórico, de modo que assegure ao aluno a formação integral, por meio da
aprendizagem a que tem direito.
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Para tanto, faz-se necessário compreendermos os processos pelos quais ocorreram a


aquisição dos conhecimentos linguísticos, perpassando por temas como: alfabetização,
letramento e ensino da língua, os quais abarcam quatro eixos e/ou práticas de linguagem que
são: leitura/escuta, escrita, oralidade e análise linguística/semiótica, trazendo de forma
articulada seus conceitos e formações que corroboram na prática pedagógica.
Ao trazermos elementos conceituais que permeiam o ensino do português, também
discorremos sobre o quanto o embasamento teórico deve alicerçar e justifica a prática do
professor no chão da escola. Trazemos aqui relatos das experiências vivenciadas no estágio
supervisionado, apresentando metodologias e processos empreendidos em sala de aula, para
que os alunos pudessem apropriar-se dos conhecimentos da língua portuguesa.
Abarcados nesses relatos estão formas de como pode se dar a realização e construção
dos conceitos por intermédio de didáticas que visam a formação integral dos saberes da língua
portuguesa.

2 O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO, AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA


LÍNGUA

O direito a educação é previsto na Constituição Federal e referendado em vários outros


textos e leis normativas. Contudo, isso não garante que no processo de inserção a essa garantia
institucional, ocorra também o direito a aprendizagem. Diferente do processo do direito e acesso
à educação, a aprendizagem é compreendida como um processo no qual o indivíduo ocupa
papel central, desenvolvendo capacidades de aquisição, de construção e de desenvolvimento de
habilidades, de conhecimentos culturais, sociais, emocionais, dentre outros tantos.
Os documentos oficiais como a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no
9394/96 e a BNCC – Base Nacional Comum Curricular (2017), normatizam organicamente a
progressão de aprendizagens dentro do que compete à Educação Básica, como descrito no artigo
32° da LDB, que estabelece de forma clara, as capacidades para o processo de formação mínima
do cidadão, fazendo referência a necessidade do domínio básico da leitura, escrita e cálculo
como meios básicos que permeiam a aquisição das demais capacidades de aprendizagem, de
novos conhecimentos de habilidades e formação de atitude e valores.
Desde a pré-história, a Educação passa por mudanças influenciadas pela sociedade, em
relação ao método de ensino que cada professor utiliza, assim como sobre as concepções de
sujeito e educação, buscando sempre ensinar com base na realidade e especificidade dos alunos.
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Educação é um “conjunto de ações, processos, influências, estruturas que intervêm no


desenvolvimento humano de indivíduos e grupo na relação ativa com o ambiente natural e
social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais (LIBÂNEO, p.22.
2000). Com base nesse conceito, a educação é um conjunto de saberes que o indivíduo vai
construindo no decorrer das interações com o meio em que está inserido. No decorrer do tempo,
a civilização sentiu a necessidade de comunicar-se com o outro, principalmente os
comerciantes, que precisavam se comunicar para vender ou trocar as mercadorias. Assim, a
prática de educar foi se aperfeiçoando, tornando-se necessária e de suma importância, adotada
por diversos povos. A linguagem foi ganhando forma, para que a comunicação fosse
estabelecida entre os povos, considerando suas características peculiares locais e históricas.
É preciso entender também que a leitura e a escrita passaram por vários processos de
mudança e aperfeiçoamento, começando na pré-história e se estendendo até os dias atuais. Foi
desenvolvido um sistema de escrita que possibilitou a “padronização” e comunicação das
civilizações. As concepções acerca da concepção, da compreensão e da apropriação da escrita
e da leitura também ganharam diferentes dimensões, tanto que:

As últimas décadas do século XX marcaram um crescimento bibliográfico e


acadêmico na área da alfabetização. Até meados da década de 1980, estudo e
pesquisas sobre essa temática, voltavam-se quase exclusivamente para os aspectos
psicológicos e pedagógicos, ou seja, quase exclusivamente para os processos por meio
dos quais o indivíduo aprende a ler e escrever, os aspectos fisiológicos e neurológicos,
os pré-requisitos para a alfabetização e para os métodos de alfabetização. (MACIEL,
2008, p.229).

Maciel (2008) ressalta que a alfabetização estava voltada apenas na maneira de como o
aluno aprendia a ler e escrever, ou seja, o foco concentrava-se nos métodos de ensino
tradicionais com o uso de cartilhas, e também se relacionava com os aspectos fisiológicos e
neurológicos do indivíduo, ou seja, neurofisiológicos são fatores que influenciam o
desenvolvimento humano é o que torna possível determinados padrões de comportamentos.
Dizendo, portanto, se o aluno é capaz ou não de aprender. São estudos realizados que
comprovam que o processo de alfabetização ainda passa por grandes mudanças no sentido de
atender a demanda da sociedade, e principalmente as necessidades individuais que cada ser
humano tem para aprender.
De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa, alfabetização é o ato ou efeito de
alfabetizar, de ensinar as primeiras letras; processo de aquisição de códigos alfabéticos e
numéricos; ato de propagar o ensino ou difusão das primeiras letras. A partir da década de
1980, entra em cena o termo letramento, que “surgiu porque apareceu um fenômeno novo que
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não existia, ou, se não existia, não nos dávamos conta dele, e, como não dávamos conta dele,
não tínhamos nome para ele”. (SOARES, 2001, p. 34)
A autora nos chama a refletir sobre o letramento, pois, assim como emanou a
necessidade da comunicação, houve o surgimento de um fenômeno que antes não era
conhecido, e que passou a se chamar de letramento, entendendo que não basta apenas
alfabetizar, ou seja, não basta ensiná-los a codificar e decodificar. Necessita-se ir além,
buscando sempre a interação e a interpretação de cada aluno, por exemplo, a partir dos gêneros
textuais, instrumentos propícios para trabalhar o questionamento e gerar uma socialização do
que compreenderam e também passarem para o papel em forma de texto.
Uma vez no processo de alfabetização, é indispensável à leitura e a produção de texto,
é preciso compreender o que se lê e o que se escreve conhecer também diferentes gêneros
textuais e fazer o uso deles socialmente. Os processos de alfabetização e letramento são
distintos, contudo é preciso da junção dos dois para que o indivíduo adquira uma alfabetização
plena, saber ler e escrever e compreender para que serve e como usá-lo. E no processo da
alfabetização, o espaço que se tem deve ser trabalhar de uma forma lúdica e prazerosa com os
alunos para que a aprendizagem ocorra.

2.1 O ensino da língua portuguesa e os eixos articuladores do trabalho pedagógico

A língua portuguesa deve ser trabalhada em todas as áreas, pois, é a língua materna,
aquela que permeia a comunicação e a interlocução nos diferentes espaços sociais, inclusive
nos institucionalizados. O objetivo mais geral do ensino de português para todo as séries da
escola é mostrar como funciona a linguagem humana e, de modo particular, o português; quais
os usos que tem, e como os alunos devem fazer para estenderem ao máximo as especificidades
dos usos nas suas modalidades escrita e oral, em diferentes situações de vida. Em outras
palavras o professor precisa ensinar aos seus alunos o que é uma língua, suas propriedades e
usos que ela realmente tem.
Nas escolas, tradicionalmente a prática pedagógica tem ocorrido de modo restrito, como
por exemplo, o ensino prioritário sobre o que diz respeito à gramática normativa, com
metodologias de exigir redações, fichas de leitura, com o objetivo de treinar alunos para os
vestibulares, exames e concursos.
Com base nos fundamentos expressos no caderno PRÓ-LETRAMENTO (2008),
Santana (2013) reflete sobre a constituição da língua, caracterizando-a como um sistema
estruturado pelas situações e nas relações de interlocução, sendo que a condição básica para o
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seu uso nos remete a aprendizados muito específicos, os componentes do sistema fonológico
da língua e as suas inter-relações, que são independentes do contexto de uso. Nessa ótica, a
relação entre fonemas e grafemas, de consoantes e vogais, seja na fala, seja na escrita, mantém-
se, portanto, independem dos gêneros textuais nos quais aparecem e da esfera social em que
circula. A apropriação da língua e suas especificidades, tanto gráfica como oralmente, se
concretiza na prática, no uso e para o seu uso. É nas práticas discursivas, na interação entre os
sujeitos, que a língua é adquirida, desenvolvida e ganham sentido, de acordo com as adequações
dos ambientes e a função que exerce em cada circunstância.
De acordo com Cagliari (1999), estudos comprovam que não se fala ao aluno qual o
valor funcional dos segmentos fonéticos da língua, como se compõe a morfologia, a sintaxe, a
semântica. O aluno faz redações e não sabe o que está realmente fazendo, de como deve elaborar
um texto escrito ou dizer um texto oral em situações diferentes. E, ensinar português é ensinar
como a língua funciona e quais os usos que ela tem e, na alfabetização, esse ensino difere de
outras etapas não pelo objetivo em si, mas pela especificidade desse primeiro momento, devido
ao grau de desconhecimento que o aluno tem da escrita e da leitura. O aprendizado da escrita e
da leitura prolonga para além dos anos destinados à alfabetização, pois há tantas coisas sobre
escrita e leitura, e de dificuldades tão variadas, que se torna conveniente que o ensino do
português se dê ao longo de todos os anos de estudo. Commented [M2]: Coloquem esse texto nos slides.
Sintetizem.
Sendo assim, no ensino do português, é essencial que o professor tenha um
conhecimento, que constitua uma base linguística fortalecida e que promova práticas de ensino
que permitam ao aprendiz saber como a língua funciona e quais os seus usos, como discorrido
anteriormente.
Consideremos que cada criança tem seu tempo de aprendizagem, assim como as
condições específicas de cada grupo. Alunos de diferentes classes sociais têm seu linguajar
próprio. Quando comparamos classes sociais, um aluno de classe alta falante do dialeto da
escola e que teve grande influência de leituras, e diferentes situações de letramento, tem mais
aproximação da língua formal, mais próximo da escrita, que fala “nós vamos”. Já um aluno que
nunca conviveu com livros, leitura e escrita, que fala um dialeto diferente da escola, está mais
afastado da forma escrita ortográfica que diz “nóis vai” ao invés de “nós vamos”, encontrará
muito mais dificuldades na alfabetização. (CAGLIARI, 1999)
É como se “aprender o dialeto da escola fosse como aprender uma língua estrangeira, e
aprender a escrever ortograficamente é um quebra-cabeça extremamente mais complicado que
o apresentado a um aluno que é falante do dialeto da escola”. (CAGLIARI, 1999, p. ??). Então,
é fundamental que o professor que ensina português, desde a alfabetização até o último ano
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escolar, tenha conhecimento e metodologias para ensinar a língua, seu funcionamento e seu
uso.
A linguística é o estudo científico da linguagem e está voltada para a explicação de como
a linguagem humana funciona e de como são as línguas em particular. Ela teve um
desenvolvimento muito grande e que não houve, muitas vezes, um acompanhamento pelos
professores de português nas escolas de formação, sendo que ainda utilizam métodos
tradicionais que não atendem as demandas sociais da atualidade.
Cabe ao professor e aos demais colaboradores do processo escolar planejar e programar
o ensino do português, com conteúdos e técnicas de investigação, e buscar com que o aluno
tenha motivações para estudar o português.
Percebe-se que o professor de português precisa ser competente, e conhecer
profundamente a língua portuguesa. Pois, como pode ele ensinar se não sabe o conteúdo?
A língua portuguesa como componente curricular tem como objetivo proporcionar aos
estudantes, experiências que contribuam para a ampliação dos letramentos, de forma a
possibilitar, a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais permeadas/
constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens. Commented [M3]: Coloquem a fonte.

De acordo com a BNCC (2017) e DRC/MT (2018), há um conjunto de princípios e Commented [M4]: Colocar nas referências.

pressupostos que envolvem a língua portuguesa. Esta abarca os eixos integradores


correspondentes práticas de linguagem e que são fundamentais para apropriação e uso da
língua: oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise
linguística/semiótica. Cabe ressaltar, que o movimento metodológico não deve ser no nível de
ensino tomado como um fim em si mesmo, devendo estar envolvidos em práticas de reflexão
que permitam aos estudantes ampliarem suas capacidades de uso da língua/linguagens (em
leitura e em produção) em práticas situadas de linguagem.

2.1.1 Os eixos da oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise


linguística/semiótica

Um dos papéis fundamentais da escola é formar cidadãos ativos, que participem das
práticas sociais. A interação e a relação que o que indivíduo tem com o meio podem contribuir
significativamente para a formação integral do indivíduo.
A linguagem oral e a escrita são essenciais para a inserção do indivíduo na sociedade.
A educação linguística envolve um conjunto de fatores socioculturais que possibilitam ao
indivíduo “adquirir, descrever e ampliar o conhecimento de/sobre sua língua materna, de/sobre
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outras línguas, sobre a linguagem de um modo geral e sobre os demais sistemas semióticos”.
(Bagno; Rangel, 2005, p. 63).
Partindo do ponto de vista dos autores, podemos dizer que as relações estabelecidas
socioculturalmente oportunizam o conhecimento da língua materna, neste caso da língua
portuguesa, e de outras formas nas quais a linguagem ou a língua se manifestam. A partir da
aquisição das habilidades relacionadas à língua portuguesa, fica mais fácil conhecer as outras
línguas. Assim como, é a partir da língua portuguesa que as outras disciplinas podem ser
compreendidas e interpretadas.
a) O eixo da oralidade: Além de aprender a ler e escrever, a oralidade também
precisa ser desenvolvida, porque tanto dentro da escola quanto fora dela se utiliza a língua
portuguesa para se comunicar e interagir na sociedade. E é na escola que os diferentes gêneros
textuais que circulam socialmente precisam ser sistematizados, trabalhados pelo professor, com
base em formas diálogos, debates, que oportunizam às crianças terem experiências tanto na
modalidade oral quanto na escrita.
Para Morra-Roth (2008, p. 375), para ter uma boa oralidade é preciso desenvolver
fluência na leitura, é preciso buscar diferentes dialetos e as variações linguísticas para trabalhar
com os alunos, porém as diversas variações linguísticas não devem ser vistas como pré-conceito
por aqueles que acham falar “corretamente”, pois não se tem um jeito correto de falar, tem a
forma padrão de se falar, e de escrever, para que assim todos possam compreender o que se leu
e o que se escreveu.
Segundo Bagno (2002, p.80), em relação à língua, o objetivo da escola consiste na
formação de “cidadãos capazes de se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e
por escrito, para que possam se inserir de pleno e direito na sociedade e ajudar na construção e
na transformação dessa sociedade – é oferecer a eles uma verdadeira educação linguística”.
Sendo assim, à escola cabe proporcionar o conhecimento a respeito da língua e ensinar os alunos
a forma correta de usá-la e ensiná-las para que serve.
b) O eixo da leitura/escuta compreende as práticas de linguagem que decorrem da
interação ativa do leitor/ouvinte, em contextos escritos orais e multissemiótico. Sua
interpretação amplia o letramento, por meio da incorporação de estratégias de leitura em textos
diferentes níveis e de complexidade crescente.
No contexto da BNCC (2017), a leitura é colocada em um sentido mais amplo,
referindo-se ao texto escrito, e também a imagens (fotos, pinturas, desenhos, esquema, gráficos,
diagrama) ou em movimento (filmes, vídeos) e ao som (música), que acompanha em muitos
gêneros digitais. A leitura envolve tanto a decifração do código ou a decodificação
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propriamente dita, quanto a construção de sentidos (construção de coerência), cujo foco consiste
em situações de desenvolvimento de habilidades de compreensão e interpretação da leitura, de
textos verbais dispostos em gêneros textuais. Assim, o leitor precisa ler o texto e identificar
qual o gênero textual em que ele está organizado, assim como as características e função social
do referido gênero.
c) O eixo da produção escrita e multissemiótica norteia as práticas de linguagem
relacionadas a interação e a autoria do texto. Compreende a incorporação de estratégias de
produção de textos de diferentes gêneros textuais, com finalidades de expressar a posição em
um artigo de opinião, relatar uma experiência vivida, registrar rotinas escolares, regras e
combinados, registrar e analisar fatos do cotidiano em uma crônica, descrever uma pesquisa em
um relatório, registrar ações e decisões de uma reunião em uma ata, dentre outros.
d) O eixo da análise linguística/semiótica reúne objetivos de aprendizagens sobre
conhecimentos gramáticos, em uma perspectiva funcional, de regras e convenções de usos
formais da língua, que darão suporte aos eixos da leitura, escrita e oralidade. E norteia entre
outros aspectos: o sistema alfabético de escrita, conhecimentos sobre “gramática” da língua, ou
seja, sobre as regras que explicam o seu funcionamento, conhecimentos sobre a norma padrão
e algumas de suas convenções.
A análise linguística abrange tanto o trabalho sobre as questões tradicionais da
gramática, como o propósito do texto: coesão, coerência interna do texto, adequação do texto
aos objetivos pretendidos, análise dos recursos expressivos utilizados (metáforas, metonímias,
paráfrases, citações, discurso direto e indireto, etc.); organização e inclusão de informações,
entre outros aspectos. A prática de análise linguística não se limita à limpeza do texto do aluno,
com correções gramaticais e ortográficas, mas trata-se de trabalhar com o aluno o seu texto para
que ele atinja seus objetivos junto aos leitores que se destina (GERALDI, 1984, p.74).

Podemos concluir que não é somente o ensinar a ler e escrever, mas é também ensinar
a interpretação, utilizando vários gêneros textuais como ferramenta fundamental para a
produção textual. Não se deve julgar e apontar os erros, mas sim fazer com que eles reflitam o
que não está de acordo com as normas da escrita e até mesmo da oralidade.
É de suma importância a produção de texto quanto está no processo de alfabetização, e
na aquisição da aprendizagem de modo geral, a fim de que os professores contribuam para a
formação de cidadãos com senso crítico, que tenham argumentos para se posicionar na
sociedade, buscando sempre melhorar questões socioculturais.
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2.2 O que vimos, vivemos e concebemos nas práticas de ensino da língua portuguesa

Neste tópico fazemos a relação teoria-prática, com relatos das experiências vivenciadas
no estágio curricular supervisionado, sobre o ensino da língua portuguesa. Segue o relato 1:
Durante a observação, a professora regente trabalhou o tema da Páscoa, com o gênero
textual música, “coelhinho da páscoa”. Ela pediu que seus alunos completassem a música com
as palavras que faltavam, levou atividades impressas com os símbolos da Páscoa, palavras
cruzadas e caça palavras, e pediu que os alunos fizessem as atividades completando a
cruzadinha, e procurando palavras no caça palavras.
O período de regência ocorreu entre os dias 15/04/19 ao dia 02/05/19, a sala era
composta por 24 alunos, turma do 1º ano do ensino fundamental. Trabalhei com os alunos os
seguintes conteúdos da disciplina de língua portuguesa: sílaba, leitura, interpretação de texto,
ditado de palavras sorteadas, gêneros textuais parlendas, contos, caça palavras, com o objetivo
de exercitar a leitura, oralidade e a escrita, e ainda compreender os gêneros textuais, através das
leituras, conhecerem as sílabas, desenvolver a criatividade entre outros. Para desenvolver essas
atividades utilizei o tema de comemoração da Páscoa, dia internacional do índio e tema livre.
Para trabalhar com as sílabas, levei uma atividade impressa, a atividade era para recortar
as sílabas correspondente a nomes de vários objetos representados por figuras (ex: si-no, em
cada sílaba, o desenho do sino, para ficar mais fácil do aluno entender). Depois que eles
recortassem, tinham que formar a palavra completa. Aproveitei a atividade para trabalhar a
interpretação de texto, e leitura. Atividade 2 foi desenvolvida com a história “Boquinha
Redonda”, onde solicitei que os alunos completassem as palavras da historia, com as palavras Commented [M5]: Completassem o que?

que havia na história. Depois, coloquei palavras retiradas da história também, dentro dos balões
e pedi que os alunos um por vez, estourassem os balões e ditassem as palavras, usando a técnica
do ditado estourado.
Sendo assim, nas atividades citadas foram trabalhados os eixos da análise linguística,
da leitura, da produção escrita e da oralidade, reunindo conhecimentos gramaticais, de
coerência e usos formais da língua, a leitura das sílabas para a composição das palavras e dos
sentidos dessas palavras, ou seja, do valor semântico. Destaca-se também os turnos de fala,
quando cada criança se expressou no seu tempo, respeitando a vez da outra; o lúdico também,
pois é de grande importância no trabalho com crianças, pelo prazer inerente aos jogos e que
contribuem para tornar o ensino complexo da língua portuguesa mais ameno.
A escola é o lugar que proporciona a prática do ensino da linguagem materna, e onde
pode se encontras sílabas, palavras, textos. É nesta questão que também entra a análise
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gramática, abordando questões referentes a correção de um texto, para a apropriação do sistema


de escrita na sua forma padrão e de seu desenvolvimento. (BRASIL, 1998)
O segundo relato: No período de estágio que fora realizado em uma escola da rede
públicas estadual de ensino, com uma turma de 4º ano, trabalhei durante a regência a disciplina
de Língua Portuguesa, utilizando-me de uma sequência didática elaborada na propositura do
trabalho com gêneros textuais, como: conto, receita, propaganda e outros.
Ao propor aos educandos o trabalho com esses gêneros, fez-se necessário aulas de
explanação quanto ao que compreende as característica e definições dos mesmos.
Posteriormente, utilizamos cada um desses gêneros para desenvolvermos atividades tanto de
produção de texto, quanto de gramática. Trabalhamos os conteúdos gramaticais, já previamente
definidos pela professora titular, dos quais cabe destacar: classificação numérica de sílabas,
sílaba tônica, classificação da sílaba tônica. Commented [M6]: Esses conteúdos seriam: classificação
das palavras quanto ao número de sílabas, sílaba tônica e
As atividades transcorreram a partir da utilização do próprio gênero textual, propondo a classificação das palavras quanto a sílaba tônica,
respectivamente?
retirada de palavras do texto para montar um novo texto, ainda utilizando essas palavras para
fazermos a contagem do número de sílabas para classificá-las. Depois de classificarmos,
destacamos as sílabas tônicas de cada palavra e as classificamos também, conforme suas
posições na palavra.
Com a proposta de trabalharmos por viés de uma sequência didática e com a propositura
dos gêneros textuais, acreditamos ter contribuído positivamente ao estabelecermos conteúdos
vinculados ao cotidiano dos educandos, com a articulação de uma sequência didática para
sistematizar os conteúdos e corroborar para a aprendizagem desses alunos.
Foi possível trabalhar os conteúdos gramaticais a partir de situações de letramento, por
meio do uso dos gêneros textuais, ou seja, as atividades de escrita, leitura e análise linguística
foram trabalhadas com textos que circulam socialmente, quando se fez uso da escrita e da leitura
para compreender esses textos e, posteriormente, usá-los no dia a dia das práticas sociais que
envolvem a leitura e a escrita.
Quando se toma o texto como unidade de ensino, os aspectos a serem tematizados não
se restringem à dimensão gramatical, pois há conteúdos pertinentes às dimensões pragmática e
semântica da linguagem, que são inerentes à própria atividade discursiva, e que precisam ser
tratadas na escola de modo articulado e simultâneo no desenvolvimento das práticas de
produção e recepção de textos. (BRASIL, 1998, p. 78).

3 CONSIDERAÇÕES
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Libâneo (1994) cita que a atividade de explicar a matéria corresponde ao método de


exposição e que a atividade de estabelecer uma conversação ou discussão com a classe
corresponde ao método de elaboração conjunta, sendo que os métodos de ensino não dependem
somente de técnicas, mas devem ser elaborados também a partir de uma concepção de
sociedade, natureza e de práticas humanas, fundamentadas em uma sociedade educacional.
Portanto, cabe ao professor ser compreensível e flexível ao nível da aprendizagem que está
desenvolvendo com seus alunos, tendo em vista que o planejamento dependerá da forma que
refletirá e que retornos isso poderá trazer por parte dos alunos, por meio de estratégias com
condições simples para aplicar o conteúdo e ter o máximo de aproveitamento escolar, tirando o
grau de dificuldade sem alterar ou diminuir o rigor no cumprimento dos programas.
As diferentes disciplinas que compõem o currículo de uma instituição e as práticas
pedagógicas têm a incumbência a aprendizagem de diversos aspectos e especificidades das
áreas do conhecimento. No espaço escolar, não compete somente aos professores de língua
portuguesa realizar produções textuais e interpretação de textos, porque a língua materna
perpassa por todas as áreas do conhecimento e seu domínio influencia na compreensão,
assimilação e produção de conhecimento de modo geral.
O componente curricular Língua Portuguesa tem como objetivo proporcionar aos
estudantes, experiências que contribuam para a ampliação dos letramentos, para promover a
participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais compostas pela oralidade, pela
escrita e por outras linguagens, por de um conjunto de princípios e pressupostos que envolvem
a língua portuguesa e que se concretizam nos eixos integradores correspondentes práticas de
linguagem, fundamentais para apropriação e uso da língua: oralidade, leitura/escuta, produção
(escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica.
É preciso que esse movimento metodológico envolva práticas de reflexão, que permitam
aos estudantes ampliarem suas capacidades de uso da língua/linguagens, na leitura e nas
produções das diferentes linguagens.

REFERÊNCIAS Commented [M7]: Verifiquem se não está faltando


alguma e se tem relacionadas algumas que não foram
usadas no artigo.
BAGNO, M. Língua materna. São Paulo: Parábola, 2002.

BAGNO, M.; RANGEL, E. O. Tarefas da educação linguística no Brasil. Revista Brasileira de


Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v 5, n. 1, p.68-81, 2005.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental; introdução
aos parâmetros curriculares nacionais: Brasília: MEC/SEF, 1998.
12

FREIRE, Adriani. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

LIBANEO, J. C. Didática / José Carlos Libâneo. – São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção
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LIBANÊO, J. C.; PIMENTA, S. G. Formação para profissionais da educação: Visão crítica e


perspectiva de mudança. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a13v2068.pdf.
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MACIEL, F.I.P. História da Alfabetização: perspectivas de análise. In: VEIGA, C.G;


FONSECA, T. N. L (Orgs). História e Historiografia da educação no Brasil. Belo Horizonte:
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MOTTA-ROTH, D. Análise crítica de gêneros: contribuições para o ensino e a pesquisa de


linguagem. Revista Delta, n. 2, p. 341-383, 2008.

SANTANA, Maurecilde Lemes da Silva. O pensar e o fazer de alfabetizadoras participantes da


proposta do SIGA em Mato Grosso. UFMT, 2013. 230 f. Dissertação de Mestrado.

SOARES, Magda. Letramento: Um Tema de Três Gêneros- 2 ed, Belo Horizonte, Autêntica,
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SOARES, Magda. Oralidade, alfabetização e letramento. Revista Pátio Educação Infantil – Ano
VII – no 20. Jul/Out 2009. Disponível em:
https://falandodospequenos.blogspost.com/2010/04/alfabetizacao-e-letramento-na-educação.-
html. Acessado: 16/05/2019.

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