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FENOMENOLOGIA GESTALTIFICATIVA

GESTALTIFICAÇÃO Compreensão e implicação. Ação. ........................ 5


GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO ......................................................25
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É UMA FEIÇÃO, UM FAZER.
PERFAZER. PERFEIÇÃO. ....................................................................31
QUE É GESTALTIFICAÇÃO ..................................................................38
AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, E METODOLOGIA GESTALTIFICATIVA .....41
IMPRESSSIONISMO, EXPRESSIONISMO TEATRO EXPRESSIONISTA, E
A METODOLOGIA GESTALTIFICATIVA ................................................43
BRENTANO E A METODOLOGIA FENOMENO GESTALTIFICATIVA .......47
Perire', 'arriscar', 'tentar A EXPERIMENTAÇÃO NA GESTALTIFICAÇÃO,
E NA METOLOGIA GESTALTIFICATIVA ................................................51
PRÁTICA E FENOMENÁTICA ...............................................................55
AÇÃO, O FENOMENOLÓGICO EXISTENSIAL -- A COMPREENSÃO E A
MUSCULAÇÃO -- É TRANSAÇÃO, INTENSIONAL, TRANSTENSIONAL.
GESTALTIFICATIVA. ...........................................................................57
PER-FEIÇÃO .......................................................................................59
O PERFEITO, PERFORMAÇÃO E PERFORMANCE ESTÉTICA,
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL, HERMENÊUTICA, EXPERIMENTAL
ESTÉTICA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL HERMENÊUTICA
EXPERIMENTAL, PERFORMÁTICA, PER(FORM)ATIVA, EM GESTALT
TERAPIA E EM PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO
EXISTENCIAL .....................................................................................68
A EXPLICAÇÃO & A IMPLICAÇÃO COMPREENSIVA COMPREENSÃO
IMPLICATIVA INTERPRETAÇÃO COMPREENSIVA COMPREENSÃO
INTERPRETATIVA AÇÃO COMPREENSIVAÇÃO GESTALTAÇÃO .........90
ERRÂNCIA INSISTENCIAL NA EPISTEMOLÓGICA FENOMENOLOGICO
EXISTENCIAL GESTALTIFICATIVA .................................................... 138
GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO .................................................... 168
A ÉTICA POIÉTICA E ESTÉTICA DA GESTALT, E A
AÇÃO. PERFORMANCE, PERFORMAÇÃO, PERFEIÇÃO, FIGURAÇÃO.
........................................................................................................ 179
INIMPUTABILIDADES DA AÇÃO E DO SENTIDO, FENOMENAÇÃO,
FENOMENOLOGIA. 1. ....................................................................... 182
INTERPRETAÇÃO. COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO .......................... 189
O MODO ÔNTICO DE SERMOS DO ENTE, COMO ZONA DE
CONFORTO; E O PRESENTE COMO AMEAÇA. Instalação e
inexorabilidade da instabilidade da coisa .......................................... 192

1
COMPREENSÃO E PERCEPÇÃO ........................................................ 200
COMPREENSÃO & EXPLICAÇÃO De Compreesão Implicativa &
Explicação Reflexiva, Reflexão Explicativa ......................................... 204
A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO ........................................................ 209
CONHECER Pré-Compreensão, Compreensão, Intuição da ação, do
episódio existensial........................................................................... 222
SOBRE A POTENSIA EXISTENCIAL A vontade de viver....................... 229
VISITANDO AS QUEBRADAS DO SI MUNDO Psicologia e Psicoterapia
fenomenológico Existensial Dialógica ................................................ 234
CURA ............................................................................................... 238
INSÓLITA E EFERVESCENTE PERFORMANCE DO POSSÍVEL ............. 242
O EU E A AÇÃO ................................................................................. 246
FENÔMENO, FENOMENOLOGIA ........................................................ 250
EXISTENCIA & EXISTENCIA Insistencia e Existensia .......................... 255
O GRANDE SEGREDO ....................................................................... 259
Escritos da Empatia 1/3. A EMPATIA É A COMPAIXÃO........................ 262
Escritos da Empatia 2/3. VOCÊ PODE EMPATIZAR COM UMA PEDRA...
........................................................................................................ 268
Escritos da Empatia 3/3. GESTALT E EMPATIA .................................. 272
PRESENTE. O MODO NÃO COISA DE SERMOS Propedêutica de
fenomenologia .................................................................................. 277
MUSCULARIDADE DA EMOÇÃO, DA AÇÃO, DA EXISTÊNCIA ............. 281
PERTENSIONALIDADE, TRANSTENSIONALIDADE, TRANSJETIVIDADE
........................................................................................................ 288
O DESENCANTAMENTO E O ENCANTAMENTO DAS COISAS ............. 290
O SUJEITO E A AÇÃO ....................................................................... 292
O ACONTECER É UM EVENTO, UMA EVENTUALIDADE. QUEM CONDUZ
O EVENTO É O VENTO. DA FORÇA DO POSSÍVEL.............................. 295
IMPLICAÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, COMPREENSÃO ......................... 300
COMPREENSÃO E PERCEPÇÃO. 1 .................................................... 303
PRETENSÃO, SUBJETIVAÇÃO, HISTERIA. Formas malogradas das
existensia ......................................................................................... 308
CONCEITUAÇÃO. O TEMPO, O CONCEITO, E O PRECONCEITO. O
conceito e o Tempo. .......................................................................... 312
TOLERÂNCIA.................................................................................... 320
OBJETIVO, SUBJETIVO, TRANSJETIVO ............................................ 323
EXPERIMENTAÇÃO FENOMENOLÓGICA E PERÍCIA........................... 326
2
O CORRPO COMO OBJETO ............................................................... 329
TRANSJETIVIDADE, GESTALTIFICAÇÃO, EXISTÊNCIA E
FENOMENOLOGIA . .......................................................................... 332
EMPIRISMO & EMPIRISMO ................................................................ 334
PERÍCIA, EXPERIMENTAÇÃO, E EMPIRISMO ..................................... 337
AVENTURA DE EXISTIR À ventura da sugestão do vento .................... 340
QUE É GESTALTIFICAÇÃO ................................................................ 344
HISTERIA E AÇÃO ............................................................................ 347
FENOMENOLOGIA GESTÁLTICA, PROJETO & PROJETO ................... 352
PROJETO & PROJETO ...................................................................... 354
"PRÉ-COMPREENSÃO", E O FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL ........ 357
CRIAR, A SUPREMA TRAIÇÃO........................................................... 360
MUSIQUE ......................................................................................... 363
IMPLICAÇÃO. A PERPLEXIDADE COMO MÉTODO .............................. 365
EXISTÊNCIA EMOÇÃO E MÉTODO nas psicologias e psicoterapias
fenomenológico existenciais A EMOÇÃO É O MÉTODO ...................... 370
ESTÉTICA DA EMOÇÃO EMOÇÃO DA ESTÉTICA E o trabalho em
psicologia fenomenológico existencial dialógica ................................ 373
DESPRETENSÃO .............................................................................. 376
TRANSJETIVIDADE. PROJETIVIDADE ............................................... 378
CONSIDERAÇÕES SOBRE TRANSJETIVIDADE .................................. 380
INTUIÇÃO DA INTENSIONALIDADE DA AÇÃO, E O CÁLCULO. ........... 382
IMPLICAÇÃO. SIMPLIFICAR O COMPLEXO. COMPLEXIFICAR O SIMPLES.
........................................................................................................ 386
TRANSJETIVIDADE, O INSPECTADOR. ............................................. 388
JETO, DEJETOS E TRANSJETIVIDADE .............................................. 390
O CONHECER DO CLIENTE EM PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO
EXISTENSIAL .................................................................................... 394
A AÇÃO NÃO É SÓ AÇÃO MUSCULAR. COMPPREENSÃO TAMBÉM É
LEGITIMAMENTE AÇÃO NA MUSCULAÇÃO, A COMPREENSÃO TAMBÉM
É MUSCULAR ................................................................................... 398
Suicídio de jovens no Nordeste 1/9. INTRODUÇÃO AO ESTUDO E
INTERVENÇÃO NA QUESTÃO DO SUICÍDIO DE JOVENS NO NORDESTE
DO BRASIL ....................................................................................... 400
Suicídio de jovens no Nordeste 2/9. ABUSO SEXUAL ......................... 410
Suicídio de Jovens no Nordeste 3/9. ABUSO PSICOLÓGICO............... 414
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 4/9. SUICÍDIO E GÊNERO .... 419
3
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 5/9. INDUÇÃO AO SUICÍDIO 423
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 6/9. A PRODUÇÃO DA
TRISTEZA COMO ESTRATÉGIA ......................................................... 431
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 7/9. HISTERIA E SUICÍDIO .. 435
Suicídio no Nordeste 8/9. O PAPEL DA TERAPIA ................................ 442
Suicídio de Jovens no Nordeste 9/9. ADOÇÃO E SUICÍDIO ................. 449
CORPO 1/2. A CRONIFICAÇÃO DO CORPO COMO OBJETO ............... 453
CORPO 2/2 Fenomenologia do corpo. ................................................ 458
DEPENDÊNCIA DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 3/4. A
alienação e negação da finitude, e do sofrimento. A negação da
existência. Impotência. ..................................................................... 462
DEPENDÊNCIA DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 1/4. A
reificação das drogas nas sociedade contemporâneas ...................... 464
TAO E AÇÃO ..................................................................................... 466
NARRATIVA. IMPLICAÇÃO OU EXPLICAÇÃO? Pedagogia ou Propaganda
........................................................................................................ 473

4
GESTALTIFICAÇÃO
Compreensão e implicação. Ação.

5
GESTALTIFICAÇÃO
Compreensão e implicação. Ação.
Afonso H L da Fonseca, psicólogo.

Conteúdo
Conteúdo
.............................................................................................................................
.1
INTRODUÇÃO.........................................................................................
.................................. 2
CONCLUSÃO
.............................................................................................................................
4
1. O MODO DE SERMOS NÃO ATIVO, NÃO FORMATIVO, NÃO
GESTALTIFICATIVO. NÃO TENSIONAL, NÃO INTENSIONAL, NÃO
IMPLICATIVO. O MODO EXPLICATIVO DE SERMOS. PASSADO, O
MODO DE SERMOS DO ACONTECIDO.
................................................................... 5
2. O MODO ATIVO DE SERMOS, MODO FORMATIVO DE
SERMOS, PERFORMÁTICO, GESTALTIFICATIVO, TENSIONAL,
INTENSIONAL, IMPLICATIVO. Modo de sermos tensional, da vivência da
tensão, da tensidade, da intensidade, e intensificação, da força das
possibilidades. Modo de sermos, portanto, Intensional. Intensionalidade.
Intensionativo. Vivência, fenomenológica existencial e dialógica, do
desdobramento de possibilidades. Ação gestaltificativa. Compreensiva,
Implicativa................................................................................ 6
3. AÇÃO. MERAMENTE COGNITIVA. E, AÇÃO COGNITIVA E
MUSCULAR. AÇÃO GESTALTIFICATIVA, GESTALTIFICAÇÃO.
..................................................................................... 8
4. A CONDIÇÃO PRÓPRIA E ESPECIFICAMENTE
GESTALTIFICATIVA DA CONSCIÊNCIA FENOMENOLÓGICA E DA
AÇÃO DERIVA DE SEU CARÁTER EMINENTEMENTE FORMATIVO --
A PARTIR DA EMERGÊNCIA E DO DESDOBRAMENTO DE
POSSIBILIDADES. E DA ORGANIZAÇÃO FORMATIVA DE SUA
DINÂMICA. QUE SE DÃO COMO VIVÊNCIA DAS DOMINÂNCIASDE
PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE FIGURA E FUNDO,
GESTALTIFICAÇÃO, E NO SEU ESCOAMENTO, QUE SE DESDOBRA
NA INTRÍNSECA FORMAÇÃO DA COISA. Em seus desdobramentos
fenomenológicos pré-reflexivos, gestaltificativos, as possibilidades são,
própria e especificamente, formativas. (1) São formativas dos processos
gestaltificativos de formação de figura e fundo da vivência fenomenológica

6
existencial e dialógica; e (2), no limite, são formativas das coisas, na
instalatividade coisificada delas. ........................................................ 9
5. A CONSCIÊNCIA E A AÇÃO FORMATIVAS --
FENOMENOLÓGICAS, PRÉ-REFLEXIVAS, DESDOBRAMENTOS DE
POSSIBILIDADES --, MOVIMENTAM-SE E ORGANIZAM-SE
GESTALTIFICATIVAMENTE.
...................................................................................................... 10
6. AÇÃO. COMPREENSÃO. IMPLICAÇÃO. GESTALTIFICAÇÃO.
................................................... 12
7. GESTALTIFICAÇÃO. MODO DE SERMOS DO ACONTECER.
Modo de sermos anterior, portanto, ao modo acontecido de sermos do sujeito,
do objeto, e da dicotomia sujeito-objeto. Anterior ao modo acontecido de
sermos da teorética, e da explicação. Anterior ao modo acontecido de
2
sermos da causalidade. Anterior ao modo acontecido pragmático de
sermos do uso e da utilidade. Anterior ao modo acontecido de sermos da
realidade. ............................................ 13
8. CAMINHO DO MEIO. OTIMIZAÇÃO DA GESTALTIFICAÇÃO,
OTIMIZAÇÃO DA AÇÃO, OTIMIZAÇÃO DA ATUALIZAÇÃO
COMPREENSIVA DE POSSIBILIDADES. METODOLÓGICA
GESTALTIFICATIVA.
................................................................................................................. 14
CONCLUSÃO
...........................................................................................................................
17
INTRODUÇÃO.........................................................................................
................................ 18
BIBLIOGRAFIA
.........................................................................................................................
19

Toda alegria é um saber quase só espírito quase só infância quase só


corpo a levantar-se da liberdade de muitas bocas.
(Paulo Roberto do Carmo, 70, Poeta Gaú-cho, em Vida Possível. Do
livro Códigos da Alegria. Território das Artes). (Publicado na revista Caras.
Janeiro 2012).

Todo saber é uma alegria...

INTRODUÇÃO

7
O que significa o termo gestalt?
O que significa gestalt enquanto uma abordagem metodológica?
Tenho preferido utilizar o termo gestaltificação. Porque é exatamente
disso que se trata. De ação. Da essência da vivência formativa, fenomenológi-
co existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, meramente cognitiva, ou
cognitiva e muscular. E, como tal, da essência, eminentemente aparencial, da
estética e da poiética. Da experiência estética e da experiência poiética.
Existimos de dois modos distintos, e que se alternam.
Existimos, (1) de um modo ativo, própria e especificamente formativo
(em termos da vivência do processo de formação de figura fundo, e em termos
da vivência da formação, criação, das coisas); processo, por isso, performático.
Fenomenológico existencial e dialógico; compreensivo, im-plicativo,
gestaltificativo. Caracterizado pelo predomínio de vivência da cons-ciência pré-
reflexiva. Modo de sermos da vivência do acontecer.
E existimos , (2) de um modo, especificamente, não ativo, não formati-
vo. Explicativo.
3
Modo explicativo de sermos que não é fenomenológico, nem existenci-
al, nem dialógico; que não é compreensivo, nem implicativo, que não é gestalti-
ficativo. Modo de sermos que, não sendo formativo, não é performação, não é
performance,, não é performático. Modo de sermos do acontecer.
Este modo não ativo, explicativo, de sermos pode, por seu turno, se dar
como:
(a) Um modo de sermos não ativo, explicativo, teorético; ou
(b) o modo de sermos explicativo comportamental.
O modo ativo, formativo, de sermos é eminentemente cognição. São
eminentemente ativos, formativos – por isso, performance, performática --, a
consciência pré-reflexiva, a vivência, a cognição, o conhecimento, e o conhecer
fenomenológico existenciais e dialógicos, na sua momentaneidade instantâ-
nea,. Como vivência do desdobramento de forças, como vivência dod desdo-
bramento de possibilidades, que é a ação. São propriamente, assim, gestalti-
ficativos. O que também quer dizer que são igualmente compreensivos, e
implicativos.
Necessaria e intrinsecamente múltiplas na vivência de suas emer-
gencias e desdobramentos, as possibilidades se organizam, a ação se organi-
za, como vivência, intrinsecamente cognitiva. Como consciência pré-reflexiva.
Não como consciência re(a)presentativa. Mas como consciência apresenta-
tiva.
Cons ciência apresentativa, fenomenológico existencial, que pode ser
meramente cognitiva, e ou cognitiva e muscular.
Como a vivência de totalizações significativas de formações de figuras e
fundos; como formações de gestalts que se sucedem, no que entendemos co-

8
mo ação. Que é formação, performance, meramente cognitiva, e ou ação cog-
nitiva muscular.
As emergências e os desdobramentos formativos, gestaltificativos, de
possibilidades, as ações, atuações, atualizações, são formativas na medidada
em que, cognitiva e muscularmente, intrinsecamente se constituem como
consciência pré-reflexiva, como vivência, como os processos de formação de
figura e fundo. E na medida em que, em sua decorrência, são constituídas,
formadas, as coisas, os entes. Quer sejam as coisas físicas da mundaneidade
do mundo, quer sejam as coisas mentais -- teoréticas, conceituais.
Buber já dizia que o conceito é o isso da mente.
Naturalmente querendo dizer que o conceito -- não é um tu, compreen-
sivo, implicativo, gestaltificativo -- mas é o isso da consciência.
O tu da consciência é a possibilidade, em suas emergências e desdo-
bramentos ativos, fenomenológico existenciais e dialógicos; compreensivos,
implicativos, gestaltificativos.
Especificamente o tu se dá como ação – como vivência compreensiva
do desdobramento de possibilidades --, que se constitui e que se forma como a
4
vivência gestaltificativa dos processos de formação de figura e fundo; e
que forma as coisas, no limite. E que é, assim, intrinsecamente cognitiva,
gestaltifi-cativa.
Na medida em que, em suas emergências e desdobramentos, as possi-
bilidades se constituem de um modo organizadamente formativo, como consci-
ência fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, ges-
taltificativa. Que, própria e especificamente, é a consciência pré-reflexiva.
Cognição, conhecimento, própria e especificamente, epistemologia, on-
tologia, ontológicas, fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas e
implicativas... Fenomenativa e formativamente, performaticamente, gestaltifica-
tivos.
Assim, este caráter cognitivo, com suas qualidades formativas e de di-
nâmica organizativa próprias, em que se constitui a vivência da ação, o desdo-
bramento de possibilidades como consciência pré-reflexiva, meramente cogni-
tiva, ou cognitiva e muscular, fenomenológico existencial e dialógica, compre-
ensiva e implicativa, é o que entendemos como gestaltificação.

CONCLUSÃO
A gestaltificação, e a metodologia gestaltificativa, configuram-se como a
otimização pela entrega ao caminho do meio. Pela entrega à momentaneidade
instantânea dos episódios do modo fenomenológico existencial de sermos
A entrega ao modo de sermos ontológico, fenomenológico existencial e
dialógico, compreensivo e implicativo, do acontecer, da ação, da atualização.

9
Que é o modo de sermos que Perls chamava, e os Taoístas e Zen Bu-
distas milenarmente chamam, de caminho de meio.
Caminho do meio, especificamente, enquanto absorção nas qualidades
do modo ontológico, fenomenológico existencial e dialógico de sermos.
Que é especificamente não deliberativo e desproposital. Mas é simul-
tânea, própria e especificamente, a ação. A entrega à vivência da presença e
atualidade do modo ontológico, fenomenológico existencial de sermos; mas
vivência participativa e intensional, compreensiva e implicativa, própria e es-
pecífica, do desdobramento cognitivo ativo de possibilidades. Entrega ativa à
vivência participativa da ação, da atualização; entrega que não é uma entre-ga
à passividade, mas uma entrega à atividade laborativa. A vivência do des-
dobramento de possibiliades, com suas características fenomenológico exis-
tenciais e dialógicas, compreensivas, implicativas, gestaltificativas próprias, na
momentaneidade instantânea do modo ontológico de sermos.
Fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, a
gestaltificação é a vivência da emergência e atualização de possibilidades. A
vivência da ação.
Enquanto vivência, a gestaltificação dá-se como processo de vivência da
dinâmica do desdobramento cognitivo de possibilidades. Este processo se
5
constitui intrinsecamente como cognição, como consciência pré-
reflexiva, fe-nomenal, como vivência dos processos de formação de figura e
fundo, vivência dos processos de formação de gestalts. E, no limite, como
vivência do proces-so criativo gestáltico de formação das coisas, em sua
instalatividade coisifica-da. Coisas instalativas, assim, que se constituem e são
formadas, decorrem, dos processos de vivência da gestaltificação.

1. O MODO DE SERMOS NÃO ATIVO, NÃO FORMATIVO, NÃO


GESTALTI-FICATIVO. NÃO TENSIONAL, NÃO INTENSIONAL, NÃO
IMPLICATIVO. O MODO EXPLICATIVO DE SERMOS. PASSADO, O MODO
DE SERMOS DO ACONTECIDO.
O modo de sermos não ativo, não implicativo, modo explicativo de
sermos pode ser:
(a) explicativo teorético, ou
(b) explicativo comportamental.
É sempre o modo acontecido de sermos.
Que sucede à momentaneidade instantânea a vivência do modo de ser-
mos fenomenológico existencial do acontecer.
O modo (a) explicativo teorético de sermos se caracteriza como um
modo de consciência, um modo de conhecimento, de cognição, portanto, no
qual, própria e especificamente, como acontecidos, se constituem o sujeito, o
objeto, e a dicotomia sujeito-objeto.

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A condição da consciência no modo de sermos do acontecido se carac-
teriza pela ausência da vivência da emergência e do desdobramento de possi-
bilidades, se caracteriza pela ausência da vivência do desdobramento cognitivo
da ação. E assim, pela ausência da consciência que é a tensão, que é tensio-
nalidade, que é a intensionalidade -- da ação --, do desdobramento de possibi-
lidades. Característicos da vivência do modo fenomenológico existencial ativo,
formativo, e intensional, do acontecer. .
De forma que, o modo de sermos do acontecido não é um modo de
sermos da ação, não é um modo de sermos da vivência da emergência e do
desdobramento de possibilidades. Não é o modo de sermos da vivência tensi-
onal, intensional, da consciência pré-reflexiva, fenomenológico existencial e
dialógica da ação, não é o modo de sermos da vivência do desdobramento de
possibilidades.
É, ao contrário, o modo de sermos no qual se constituem, enquanto a-
contecido, o sujeito e o objeto. E no qual se constituem como tais as condi-
ções para que -- na vigência do sujeito e do objeto, e da dicotomização entre
eles -- um sujeito, constituindo a teorética, possa, reflexivamente, contemplar
um objeto.
6
A Teorética é, portanto a contemplação de um objeto, acontecido; por
um sujeito igualmente acontecido, no modo acontecido de sermos. É o modo
de sermos do acontecido, no qual se constituem, própria e especificamente
como acontecidos, o sujeito e o objeto. E no qual o sujeito pode, reflexivamen-
te, contemplar um objeto.
É o modo própria e especificamente não formativo de sermos. Caracteri-
zado especificamente pela ausência da ação, pela ausência da consciência
pré-reflexiva, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva, implicativa,
gestaltificativa, pela ausência da emergência do processo figurativo de forma-
ção de figura e fundo. É um modo não performático e não criativo de sermos.
Nele não criamos coisas, físicas ou mentais, nele apenas as repetimos.
O modo acontecido de sermos caracteriza-se, assim, pelo predomínio da
consciência reflexiva. Da Consciência teorética. Da consciência abstrata.
O modo de sermos, (b) explicativo comportamental se caracteriza co-mo
o modo de sermos de nossa atividade padronizada e repetitiva. A atividade
que, acontecida, é padronizada e repetida de modo cada vez mais automático.
E que, enquanto tal -- quanto mais atividade padronizada e repetitiva --,
menos consciência é. Menos consciência, quer seja a consciencia pré-
reflexiva, fenomenológico existencial, formativa, gestaltificativa; quer seja cons-
ciência reflexiva, representativa, teorética.
O modo de sermos explicativo do comportamento é, assim, um mo-do
de sermos da desconscienciação, própria e especificamente.
2. O MODO ATIVO DE SERMOS, MODO FORMATIVO DE SERMOS,
PER-FORMÁTICO, GESTALTIFICATIVO, TENSIONAL, INTENSIONAL,
IMPLICA-TIVO. Modo de sermos tensional, da vivência da tensão, da
tensidade, da intensidade, e intensificação, da força das possibilidades. Modo
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de ser-mos, portanto, Intensional. Intensionalidade. Intensionativo. Vivência, fe-
nomenológica existencial e dialógica, do desdobramento de possibilida-des.
Ação gestaltificativa. Compreensiva, Implicativa.
O modo ativo, formativo, performativo, performático, de sermos, mo-do
de sermos do acontecer. Fenomenológico existencial e dialógico, compre-
ensivo e implicativo, é o modo de sermos da ação.
Caracterizado pela vivência, cognitiva, da emergência e do desdobra-
mento de possibilidades, que é a vivência de forças.
As forças, as possibilidades, se constituem como consciência pré-
reflexiva. Própria e especificamente pela consciência, conhecer, cognição, do
ator. Pela consciência da ação -- pré-reflexiva; consciência poiética, fe-
nomenológico existencial, e dialógica; compreensiva, implicativa, gestalti-
ficativa. Já que, em seus desdobramentos ativos, as possibilidades própria e
especificamente se constituem como tais.
7
O modo ativo de sermos é o modo de sermos, portanto, da vivência da
tensão da ação: da vivência da emergência e do desdobramento, da moção, da
emoção, e da motivação, dos desdobramentos de possibilidades. O modo de
sermos da ação. O modo de sermos do acontecer.
Modo de sermos do acontecer que se constituti, e se desdobra, anteri-
ormente à constituição do modo explicativo de sermos do acontecido: o modo
acontecido de sermos no qual se consituem o sujeito, e o objeto; e a dicotomi-
zação entre eles: como consciência teorética, explicativa; como a consciência
de um sujeito que reflexivamente contempla um objeto; na ausência da tensão,
da intensão, da intensionalidade da atualização de possibilidades. Na ausência
da ação.
A consciência pré-reflexiva do acontecer, a vivência de consciência pré-
reflexiva da ação, formativa, se dá, propriamente, como a vivência da tensão
de forças, como vivência tensão, intensão, intensionalidade, do desdobra-
mento de possibilidades. Do desdobramento intensional da ação. Em seus
desdobramentos, as possibillidades são forças, as forças de tudo que vivenci-
amos, pré-reflexivamente. E que, como tais, como forças, existem necessaria-
mente nos seus desdobramentos.
O que chamamos de ação. Form/ação é, assim, a vivência pré-reflexiva,
fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva, implicativa,
gestaltificativa, dos desdobramentos das possibilidades.
A vivência da ação se constitui, pois, como a vivência, pré-reflexiva,
compreensiva, implictiva, gestaltificativa, intensional, dos desdobramentos de
possibilidades. Desdobramentos estes que se constituem cognitivamente. Pré-
reflexivamente, fenomenológica, compreensiva, e implicativamente. Como pro-
cessos de formação de figuras e fundos. Como as sucessões de processos de
formação de gestalts. Como as sucessões dos processos de gestaltificação.
Da vivência dos desdobramentos das possibilidades, em suas emergên-
cias pré-compreensivas, se constituem formativamente, nas intensidades de
sua vividez, os processos de formação de figura e fundo; os processos fe-
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nomenológico existenciais, intensionais, compreensivos e implicativos, das
gestaltificações.
E, no limite, os processos de formação de figura e fundo, os processos
de gestaltificação, se constituem como processos de formação das coisas em
sua instalatividade. Coisas que, em sua instalação característica, não mais são
experimentadas como tensão, como intensão, como intensionalidade.
Uma vez que, exauridas as forças do acontecer dos desdobramentos
das possibilidades, estas se reduzem em suas formas coisificadas, aconteci-
das, instaladas, instalação. Passando do modo de sermos do acontecer para o
modo de sermos do acontecido. Da condição de possibilidade compreensiva-
mente ativa, atualidade, à condição passada de coisa.
8
3. AÇÃO. MERAMENTE COGNITIVA. E, AÇÃO COGNITIVA E
MUSCULAR. AÇÃO GESTALTIFICATIVA, GESTALTIFICAÇÃO.
A momentaneidade instantânea da vivência da consciência do modo
pré-reflexivo de sermos, modo de sermos da gestaltificação, se constitui, toda
ela, como consciência de desdobramento compreensivo de possibilidades, co-
mo ação, como conscienciação. Compreensão, e implicação. Gestaltificação.
O que quer dizer que, em seus desdobramentos, as possibilidades in-
trinsecamente se constituem como consciência pré-reflexiva, formativa, perfor-
mativa; como consciência fenomenológica e existencial, dialógica, compreensi-
va e implicativa. Gestaltificativa.
As possibilidades se dão, informes, inicialmente. Como forças, ao nível
pré-compreensivo de seus desdobramentos. À medida que se desdobram, o
que constitui especificamente a ação, as possibilidades intrinsecamente se
contituem compreensivamente, fenomenologicamente.
Nos seus desdobramentos, a ação é sempre, assim, intrinsecamente
cognitiva, intrinsecamente compreensiva e implicativa; consciência pré-
reflexiva, conhecer que é inédita possibilidade em desdobramento, possibilita-
ção.
Cognitivo, sempre, e gestaltificativo, o desdobramento de possibilidades,
a ação pode ser dar de duas formas.
A ação, gestaltificativa, pode ser:
(a) meramente cognitiva. Quando não envolve de um modo significativo
a sinergia musculativa do aparelho muscular em sua expressão. Ou
(b) cognitiva e muscular. Quando a sua constituição compreensiva se
prolonga nas ativas sinergias do aparelho muscular.
De modo que, em sua específica expressão, a ação, como desdobra-
mento gestaltificativo de possibilidades, é sempre cognição. É sempre consci-
ência, conhecer, pré-reflexivos, fenomenológico existenciais e dialógicos; com-
preensivo e implicativos, gestaltificativos. E pode se dar nas modalidades de
(a) Ação gestaltificativa meramente cognitiva; ou
(b) Ação gestaltificativa cognitiva e musculativa.
13
9
4. A CONDIÇÃO PRÓPRIA E ESPECIFICAMENTE
GESTALTIFICATIVA DA CONSCIÊNCIA FENOMENOLÓGICA E DA AÇÃO
DERIVA DE SEU CARÁ-TER EMINENTEMENTE FORMATIVO -- A PARTIR
DA EMERGÊNCIA E DO DESDOBRAMENTO DE POSSIBILIDADES. E DA
ORGANIZAÇÃO FORMA-TIVA DE SUA DINÂMICA. QUE SE DÃO COMO
VIVÊNCIA DAS DOMINÂN-CIASDE PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE
FIGURA E FUNDO, GESTALTI-FICAÇÃO, E NO SEU ESCOAMENTO, QUE
SE DESDOBRA NA INTRÍNSE-CA FORMAÇÃO DA COISA. Em seus
desdobramentos fenomenológicos pré-reflexivos, gestaltificativos, as
possibilidades são, própria e especifi-camente, formativas. (1) São formativas
dos processos gestaltificativos de formação de figura e fundo da vivência
fenomenológica existencial e dialógica; e (2), no limite, são formativas das
coisas, na instalatividade coisificada delas.
Como forças, aos níveis ainda pré-compreensivos de seus desdobra-
mentos, as possibilidades são forças cognitivamente informes – [(inter)-prèt-
ação].
E são forças que, performaticamente, se constituem, cognitivamente,
formativamente, como formas compreensivas, como form-ação, figur-ativa, fi-
gur-ação -- compreensiva, e implicativamente, gestaltificativamente --, à medi-
da que os seus desdobramentos se constituem como totalizações significati-
vas, como gestalts, em seus processos de formações de figuras e fundos; em
seus processos de gestaltificações.
As gestalts são, assim, formas -- formações, mais propriamente --, de
figuras e fundos, figurações, que se constituem cognitivamente, compreensi-va
e implicativamente, gestaltificativamente, como forças de possibilidades em
desdobramentos. Fenomenológico existenciais e dialógicos; compreensivos,
implicativos, gestaltificativos.
O processo da ação, meramente cognitiva ou cognitiva e muscular --
processo improvisativo, e momentaneamente instantâneo, do desdobramento
cognitivo de possibilidades --, é, assim, um processo eminentemente formati-
vo. Performativo. Performático. A performática dos processos de formação de
figura e fundo, a performática cognitiva da figuração, da ação. Meramente
cognitiva, ou cognitiva e musculativa.
O processo da ação é formativo, performativo, na medida em que a
emergência, e o desdobramento, de possibilidades se constituem como vivên-
cia dos formativos processos de constituição da consciência pré-reflexiva. Pro-
cessos específicos de formação de gestalts, processos fenomenológico exis-
tenciais e dialógicos, compreensivos e implicativos, da gestaltificação.
Em seus desdobramentos, em suas atualizações, as possibilidades se
desatualizam, como observa Buber. Reduzem progressivamente as suas for-
ças à medida que se desdobram.
Ao reduzirem as suas forças à medida que se desdobram, as possibili-
dades se instalam como coisas. Ou seja, formam-se como as coisas, como os
entes, nos processos de seus desdobramentos. Coisas nas quais residem vir-

14
10
tualmente instaladas, ainda, as possibilidades. De onde podem ser mais
uma vez atualizadas, na ocorrência da estética de sua ação.
Neste sentido, ainda, a vivência do desdobramento de possibilidades, a
vivência da ação, é gestaltificativamente formativa. Na medida em que, é em
decorrência destes processos fenomenológico existenciais gestalticamente
formativos que se constituem as coisas.
Quer sejam as coisas físicas, ou as coisas mentais, em sua instalativi-
dade ôntica.
5. A CONSCIÊNCIA E A AÇÃO FORMATIVAS --
FENOMENOLÓGICAS, PRÉ-REFLEXIVAS, DESDOBRAMENTOS DE
POSSIBILIDADES --, MOVI-MENTAM-SE E ORGANIZAM-SE
GESTALTIFICATIVAMENTE.
O desdobramento cognitivo de possibilidades, a ação, dá-se como vi-
vência, como cognição, como conhecer, como epistemológica, pré-reflexiva,
fenomenológico existencial, fenomenativa, dialógica, gestaltificativa.
A vivência ativa, formativa, dá-se como vivência dos processos de for-
mação de figura e fundo de totalizações significativas, como vivência dos pro-
cessos de formação de gestalts, como vivência dos processos de gestaltifica-
ção.
Nos fluxos dos desdobramentos cognitivos de suas forças, compreensi-
vas e implicativas, a vivência dos desdobmentos das possibilidades fluente-
mente se organiza de um modo gestaltificativo, compreensivo e implicativo.
Mas o que é que isto significa mais propriamente?
As gestaltificações, totalizações significativas -- vivenciativas, fenome-
nológico existenciais e dialógicas, compreensivas e implicativas -- são configu-
radas, sempre, por uma multiplicidade de partes. Participações.
Cada parte, participação, é possibilidade, força, que se constitui cogniti-
vamente no seu desdobramento ativo. São, portanto, cada uma das partes da
multiplicidade da gestaltificação também gestaltificações. Continuamente confi-
guradas e compostas, cada uma delas, por outras multiplicidades de participa-
ções gestalts. E assim, literalmente, ad infinitum...
De modo que cada vivência gestáltica, vivência do desdobramento de
possibilidades, vivência da ação, é intrinsecamente composta por múltiplas ou-
tras gestalts. Possibilidades elas, forças – gestalts participações, gestaltifica-
ções. Que emergem e se desdobram e sucedem como um fluxo contínuo nos
formativos processos de formação de figura e fundo da vivência das totaliza-
ções significativas -- meramente cognitivas, ou cognitivas e musculativas --, da
ação, e da configuração das coisa instalativas.
Como cada possibilidade emergente, e assim constituída vivencialmen-
te, é força, plástica, e eminentemente cognitiva -- sentido, logos, fenomenolo-
gos -- há um contínuo processo de competição entre elas. Processo de com-
11

15
pertição que se constitui como um processo vivencial e logicamente
argumen-tativo e aporético, ainda pré-verbal.
Como são forças plásticas e lógicas, o processo de competição entre as
possibilidades se configura, assim, como um contínuo processo de argumenta-
ção pré-verbal entre elas, na multiplicidade de seus conjuntos, na multiplicidade
de suas emergências, na multiplicidade dos seus desdobramentos. Na compe-
tição e argumentação as possibibidades organizam as suas forças em domi-
nâncias plásticas de sentido, fulgurações, figurações, configurações, gestalti-
ficações. Que fluem e se sucedem nas formas dos processos de formação de
figura e fundo. Como os processos ativos, formativos, gestaltificativos.
Nestes seus procesos vivenciativos de competição, e de argumentação
vivencial, pré-verbal, portanto, nos seus desdobramentos, as possibilidades se
organizam em dominâncias.
E são estas dominâncias que constituem, de modo fenomenologica-
mente temporal, a vivência compreensiva das figuras, a figuração; contra a
movimentação dos fundos. Nos processos de formação de figura e fundo, en-
quanto processos de vivência de totalizações significativas, enquanto vivência
do processamento formativo da gestaltificação.
De um modo tal, que, o que aparece como vivência de consciência, co-
mo figuração de consciência, como figura -- pré-reflexivamente, compreensiva
e implicativamente, fenomenológico existencial e dialógicamente -- constitui-se,
sempre, a partir da vivência das dominâncias, plásticas, de uma multiplicidade
de forças em movimento. As gestaltificações. Que emergem como relações de
sentido figura-fundo, a partir da vivência de uma multiplicidade de possibilida-
des, que competem e argumentam entre si. Constituindo compreensivamente
como figuras contra o fundo de sua multiplicidade sempre emergente.
Assim, própria e especificamente, a vivência do desdobramento cogniti-
vo de possibilidades, a vivência da ação, a vivência da gestaltificação, é a vi-
vência da organização expressiva da dinâmica das dominâncias de suas forças
plásticas. Formativas, sempre. A partir de sua perene e múltipla emergência,
competição e argumentação. É vivência fenomenológica existencial gestaltifica-
tiva de forças de criação.
Os desdobramentos figurativos da gestaltificação são especificamente
as experiências poiética e estéticas.
A gestaltificação é, assim, uma característica inerente à vivência do des-
dobramento, da atualização, das possibilidades. A gestaltificação é inerente à
vivência da ação. É a qualidade fenomenológico existencial e dialógica, com-
preensiva, e implicativa, gestaltificativa, inerente à ação.
É, nos processos de competição e de argumentação de sua emergência
e desdobramentos, um processo inerente de otimização da ação.
O desdobramento cognitivo das possibilidades escoa nos processos de
formação, de constituição, das coisas da coisidade do mundo. Que, continua-
menente, secretamos, na decorrência da vivência de nossos processos cogniti-
12

16
vamente ativos, formativos; que continuamente secretamos na vivência
dos processos de nossos atos, na vivência dos processos de nossas ações,
gestal-tificações.
6. AÇÃO. COMPREENSÃO. IMPLICAÇÃO. GESTALTIFICAÇÃO.
Com as suas particularidades, gestaltificação, implicação, e compreen-
são são, no limite, e em essência, palavras sinônimas e conceitos idênticos.
Referem-se os três ao processo formativo da ação. Da ação meramente cogni-
tiva, ou da ação cognitiva e muscular, e ao processo de sua dinâmica e organi-
zação, como a perene vivência da dinâmica e da organização das dominâncias
de multiplicidades de forças.
Como observamos, a vivência das possibilidades, no modo fenomenati-
vo de sermos, é sempre a vivência das dinâmicas e das organizações em do-
minâncias de um multiplicidade de forças, de possibilidades, que competem e
argumentam entre si. Que constituem hierarquias plásticas de sentido, domi-
nâncias, a partir desta competição e argumentação. São as dominâncias, como
produtos destas competições e argumentações que se constituem como a vi-
vência fenomenológica do processo das figurações, que se formam, e se suce-
dem, como processos vivenciais, gestaltificativos, de formação de figura e fun-
do da vivência gestaltificativa da ação, fenomenação, fenomenológica.
Como a gestaltificação, a compreensão e a implicação referem-se, i-
gualmente, a estes processos formativos de figuração, a estes processos for-
mativos da vivência gestaltificativa, a partir da vivência da competição e da ar-
gumentação entre multiplicidades de possibilidades.
Na verdade, compreensão e implicação são modos diferentes de dizer
gestaltificação.
O termo e o conceito de implicação derivam de plexo (plic, no Grego). O
termo plexo designa a dinâmica da multiplicidade, da pluralidade, gestaltifi-
cativamente organizada, de possibilidades da vivência fenomenológica existen-
cial.
O termo plic (plexo) referia-se originalmente, no Grego, ao entrançamen-
to dos pêlos da crina e do rabo dos cavalos. Como uma multiplicidade organi-
zada.
Neste sentido, a vivência dos enxames de possibilidades gestaltificati-
vamente, implicativamente, compreeensivamente organizados, da consciência
fenomenológica, pré-reflexiva, da ação, são plexos (plic). Plexos de possibili-
dades em desdobramento na constituição gestaltificativa de seus sentidos.
A momentaneidade instantânea da vivência fenomenológica deles, como
vivência do ator, do inspectador, é o que poderíamos chamar de implexação.
Efetivamente é, portanto, o que chamamos de implicação.
13
Do mesmo modo, o termo compreensão refere-se ao caráter integrador
de multiplicidades de possibilidades, momentânea e dinamicamentemente uni-
ficadas, na constituição da figuração do processo gestaltificativo.

17
No processo gestaltificativo, um conjunto de possibilidades em suas mul-
tiplicidades é abrangentemente preendido (cum preensão), cum preendido, nas
formações lógicas, de sentido, de seus processos de formação de figura e fun-
do. Na formação das gestalts, um conjunto abrangente de possibilidades, é
preendido como totalidade significativa, que flui como os processos de forma-
ção de figura e fundo, como os processos da gestaltificação.
De modo que os termos e conceitos de gestaltificação, de compreensão
e de implicação referem-se às integrações formativas da multiplicidade de pos-
sibilidades da vivência pré-reflexiva da ação. Fenomenológico existencial e dia-
lógica.
7. GESTALTIFICAÇÃO. MODO DE SERMOS DO ACONTECER. Modo
de sermos anterior, portanto, ao modo acontecido de sermos do sujeito, do
objeto, e da dicotomia sujeito-objeto. Anterior ao modo acontecido de sermos
da teorética, e da explicação. Anterior ao modo acontecido de sermos da
causalidade. Anterior ao modo acontecido pragmático de ser-mos do uso e da
utilidade. Anterior ao modo acontecido de sermos da realidade.
O modo de sermos da gestaltificação, modo de sermos formativo da a-
ção, fenomenação, existencial, compreensivo, tem características muito peculi-
ares, inerentes às suas qualidades intrínsecas. Antinômicas, principalmente no
que concerne ao predomínio da normalidade do real.
O real, a ordem, o ordenamento ‘do rei’, realidade do real, reificação, é,
especificamente o modo de sermos do acontecido. Modo de sermos, que --
ainda que ontológico, como um dos modos de sermos que nos constituem --,
não é ontológico, enquanto o modo de sermos lógico, ontológico, fenomenoló-
gico, dialógico, do acontecer. Que se caracteriza como ontológico na medida
em que é vivência de logos, na medida em que é vivência de sentido.
O modo de sermos fenomenológico existencial e dialógico, compreensi-
vo, implicativo, gestaltificativo, para todos os efeitos, não é da ordem do real,
não é da ordem da realidade. Própria e especificmente, porque, modo de ser-
mos do acontecer, modo de sermos da ação, da vivência da emergência e do
desdobramento compreensivo de possibilidades, o modo gestaltificativo de
sermos é o modo de sermos do possível. É o modo de sermos da possibilita-
ção, da atualização, da presença e da atualidade. O modo de sermos, especifi-
camente, do acontecer; e não o real modo de sermos do acontecido.
Esta condição, de não pertencer ao modo de sermos da realidade, é ra-
dicalmente intrínseca ao modo de sermos da gestaltificação. E deriva de suas
características como modo de sermos da atualização de possibilidade, como
modo de sermos da atualidade, modo de sermos do presente, e da presença...
14
Modo de sermos que, enquanto modo de sermos da presença e da
atualidade, enquanto o modo de sermos da ação, não é o modo de sermos do
acontecido, no qual se constiituem, enquanto tais, enquanto acontecidos, o
sujeito e o obje-to, e a relação dicotomizada entre eles.
Não sendo da ordem do modo de sermos do sujeito e do objeto, e da di-
cotomizção entre eles, o modo gestaltificativo de sermos não é o modo teoréti-
18
co de sermos, no qual um sujeito contempla reflexivamente um objeto. O modo
gestaltificativo de sermos da ação não é o modo de sermos do sujeito. O modo
gestaltificativo de sermos da ação é o modo de sermos do ator. Ator que não é
o sujeito.
Por idênticas razões, o modo gestaltificativo de sermos da ação não é o
modo de sermos das relações de causa e efeito, o modo de sermos da causa-
lidade. O modo gestaltificativo de sermos é o modo fora da causalidade. A cau-
salidade se dá no modo acontecido de sermos, no modo de sermos das coisas,
e não no modo de sermos gestaltificativo, fenomenológico existencial e dialógi-
co, compreensivo e implicativo, do acontecer.
O modo de sermos gestaltificativo do acontecer não é da ordem do mo-
do de sermos do comportamento. Da mesma forma que não da ordem do mo-
do de sermos da técnica.
Não é da ordem do modo de sermos dos usos, dos úteis, e das utilida-
des. O modo gestaltificativo de sermos da ação se dá como modo de sermos
da inutilidade produtiva. É um modo de sermos que só é pragmática na medida
em que consideremos uma pragmática especificamente do inútil. Uma pragmá-
tica da inutilidade produtiva.
E, last, but not least, como modo formativo, modo produtivo, de sermos
do possível, da atualização de possibilidades, o modo gestaltificativo de sermos
da ação é o modo de sermos do acontecer. E não é da ordem do modo de
sermos, real, do acontecido. Ou seja, o modo gestaltificativo de sermos da a-
ção não é da ordem da realidade. Já que é o modo de sermos da ação, o modo
de sermos da vivência da emergência e do desdobramento da possibilidade...
8. CAMINHO DO MEIO. OTIMIZAÇÃO DA GESTALTIFICAÇÃO,
OTIMIZA-ÇÃO DA AÇÃO, OTIMIZAÇÃO DA ATUALIZAÇÃO COMPREENSIVA
DE POSSIBILIDADES. METODOLÓGICA GESTALTIFICATIVA.
Experiente, Perls1 observou que o modo criativo de sermos é o modo de
sermos do caminho do meio.
Mencionava a indiferença criativa, de Friedlander, e, sobretudo, o mile-
nar conceito Taoísta e Zen Budista.
Buber2 haveria de referir-se magistralmente, antologicamente, às possi-
bilidades, e aos seus desdobramentos, vale dizer, à vivência gestaltificativa, ao
1 PERLS, Fritz GESTALT THERAPY, NY, Pegouin Books, .
2 BUBER, Martin EU E TU.
15
mencionar -- o paradoxo da ação do ator, inspectador, que não é sujeito
--, que, não sou eu que crio as possibilidades, mas elas não acontecem sem
mim...
É a qualidade específica do modo de sermos do ator, do inspectador.
Paradoxicativo.

19
Que envolve o guiar e o ser guiado. Que envolve perfeitamente integra-
dos, a entrega radical e a ação radical. A entrega ativa, ao desdobramentos de
possibilidades.
Mas que não envolve, em sua instantaneidade momentânea, a delibera-
ção. Que é sempre o teatro tensional, intensional, fenomenológico existencial,
e dialógico, compreensivo e implicativo da ação. O palco sempre da improvisa-
ção.3
Improvisação que não é o modo de sermos do sujeito; e, naturalmente,
não é o modo de sermos do objeto, nem da dicotomia sujeito-objeto. Não é o
modo teorético de sermos do espectador. Sujeito, assujeitado, que contempla
um objeto.
Não é o modo explicativo de sermos, seja ele teorético ou comportamen-
tal. Não é, em definitivo, o modo moralista de sermos, todo ele teorético. E,
prudentemente, explicativamente científico. Não é o modo de sermos das rela-
ções de causa e efeito, o modo, de sermos da causalidade. E não é, em espe-
cífico, o modo de sermos da realidade, na medida em que é, em específico, o
modo de sermos do possível, o modo de sermos da possibilidade; e, como tal,
o modo de sermos do acontecer e do devir, do desdobramento de possibilida-
des; e não o modo de sermos do acontecido -- no qual se configura, e se cons-
titui instalativamente, como coisa, a possibilidade desdobrada e exaurida em
suas forças.
O processo da gestaltificação, o processo fenomenativo, existencial e
dialógico, compreensivo e implicativo, é, própria e especificamente, um proces-
so de otimização da ação. Pela contínua competição e argumentação vivenci-
ais pré-verbais – lógicas, fenomenológicas, dialógicas, ontológicas -- entre as
possibilidades --, um processo, de otimização plástica da vivência criativa da
formação de figura e fundo. E do decorrente processo criativo de constituição
de coisas instalativas.
O processo de gestaltificação não é, assim, um processo proposital e
deliberado, voluntarioso; um processo do propósito, deliberação e voluntarismo
do sujeito, explicativamente cognoscente. É, não obstante, o processo própria
e especificamente ativo, na perspectiva da ação do ator, do inspectador. Mes-
mo não sendo um processo proposital e deliberado, voluntarioso, é um proces-
so própria e especificamente ativo -- é, especificamente, o processamento da
ação. No qual somos ativos, como atores.
Não o somos, não somos atores quando somos sujeitos, sujeitados. Não
somos atores, inspectadores, no modo explicativo de sermos; modo explicativo
de sermos do espectador.
3 V. FONSECA, Afonso Dialógica da improvisação. In Gestalt terapia
Fenomenológico Existencial. Ma-ceió, Pedang,.
16
Desta forma, no acontecer de sua momentaneidade instantânea, a ação
ao modo de sermos do ator, a ação, especificamente, a gestaltificação -- feno-
menológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa -- é a ação ao
modo de sermos do caminho do meio.
20
Modo de sermos que é, em sua especificidade própria, não deliberado,
desproposital, descolamento potenciativo do porto da realidade acontecida.
Intensamente, intensionalmente, intensificantemente, ativo – na medida, em
particular, em que a entrega é entrega à potência da ação.
Modo de sermos do caminho do meio que é, no desdobramento de sua
instantaneidade momentânea, especifica e paradoxalmente, entrega a ação,
entrega e ação. Ora guiar, ora dexar-se guiar. Navegação nas linhas entre Ying
e Yang. Que são intensionais.
Ação intensionalidade. Ação intensionalidade da, e na, momentaneidade
instantânea da (im)pro-visação. Ação intensionalidade da, e na, momentanei-
dade instantânea do devir, do desdobramento da atualização de possíveis (de
potentes), de possibilidades. Fenomenológico existenciisl dialógicas, compre-
ensivas, implicativas, gestaltificativas.
De modo que a metodologia gestaltificativa é a metodologia que privile-
gia a vivência do modo gestaltificativo de sermos. A entrega à vivência ativa do
modo gestaltificativo de sermos de atualização de possibilidades. Fenomenoló-
gico existenciacial, compreensivo, e implicativo.
O modo gestaltificativo, fenomenológico existencial e dialógico é o modo
ontológico de sermos. Por suas forças, potências, possibilidades, pela contínua
formatividade de alternativas poentes; pela excitação e pelo interesse, como
Perls observava. Natural e espontaneamente o modo ontológico de sermos se
impôe como fenomenológico existencialmente prioritário. Até porque é o modo
de sermos que continuamente gera a nossa vida, como possibilidades em des-
dobramento, como ação. E o modo de sermos em cuja vivência superamos
continuamente o acontecido de nós próprios e do mundo
Não precisamos fazer especificamente nada para criarmos o modo de
sermos da metodológica gestaltificativa. É o modo ontológico de sermos, que
espontaneamente se impôe por suas forças, por suas potências, enquanto mo-
do ontológico de sermos do acontecer.
Precisamos, para privilegiá-lo, evitar forçarmo-nos aos modos não impli-
cativos, explicativos, de sermos. O modo cientificamente explicativo de sermos,
o modo teoréticamente explicativo de sermos, o modo moralista de sermos, o
modo causal de sermos, o modo utilitário, pragmático, de sermos; o modo téc-
nico de sermos, o modo realista de sermos. Todos, ainda que modos naturais
de sermos, perfazem o modo de sermos do acontecido. E, como tais, impedem
a emergência e o desdobramento do modo implicativo de sermos, gestaltificati-
vo, compreensivo e implicativo, fenomenológico existencial e dialógico.
Ação pelo ‘caminho do meio’, interessa à metodologia a dialógica que
permite condescendermos com as forças atualizativas do desdobramento das
17
possibilidades gestaltificativas, na sua momentaneidade instantânea,
quando estas espontaneamente reividicam a sua presença e atualidade. 4
Dialógico o modo de sermos fenomenológico, na momentaneidade ins-
tantânea de sua duração, nos seus melhores momentos, vivência de sentido

21
compartilhado entre os parceiros da relação. De que se constitui como metodo-
lógica tanto para um como para outro.
CONCLUSÃO
A gestaltificação, e a metodologia gestaltificativa, configuram-se como a
otimização pela entrega ao caminho do meio. Pela entrega à momentaneidade
instantânea dos episódios do modo fenomenológico existencial de sermos
A entrega ao modo de sermos ontológico, fenomenológico existencial e
dialógico, compreensivo e implicativo, do acontecer, da ação, da atualização.
Que é o modo de sermos que Perls chamava, e os Taoístas e Zen Bu-
distas milenarmente chamam, de caminho de meio.
Caminho do meio, especificamente, enquanto absorção nas qualidades
do modo ontológico, fenomenológico existencial e dialógico de sermos.
Que é especificamente não deliberativo e desproposital. Mas é simul-
tânea, própria e especificamente, a ação. A entrega à vivência da presença e
atualidade do modo ontológico, fenomenológico existencial de sermos; mas
vivência participativa e intensional, compreensiva e implicativa, própria e es-
pecífica, do desdobramento cognitivo ativo de possibilidades. Entrega ativa à
vivência participativa da ação, da atualização; entrega que não é uma entre-ga
à passividade, mas uma entrega à atividade laborativa. A vivência do des-
dobramento de possibiliades, com suas características fenomenológico exis-
tenciais e dialógicas, compreensivas, implicativas, gestaltificativas próprias, na
momentaneidade instantânea do modo ontológico de sermos.
Fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, a
gestaltificação é a vivência da emergência e atualização de possibilidades. A
vivência da ação.
Enquanto vivência, a gestaltificação dá-se como processo de vivência da
dinâmica do desdobramento cognitivo de possibilidades. Este processo se
constitui intrinsecamente como cognição, como consciência pré-reflexiva, fe-
nomenal, como vivência dos processos de formação de figura e fundo, vivência
dos processos de formação de gestalts. E, no limite, como vivência do proces-
so criativo gestáltico de formação das coisas, em sua instalatividade coisifica-
da. Coisas instalativas, assim, que se constituem e são formadas, decorrem,
dos processos de vivência da gestaltificação.
4 v. FONSECA, Afonso Presença e Atualidade
18
INTRODUÇÃO
O que significa o termo gestalt?
O que significa gestalt enquanto uma abordagem metodológica?
Tenho preferido utilizar o termo gestaltificação. Porque é exatamente
disso que se trata. De ação. Da essência da vivência formativa, fenomenológi-
co existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, meramente cognitiva, ou
cognitiva e muscular. E, como tal, da essência, eminentemente aparencial, da
estética e da poiética. Da experiência estética e da experiência poiética.
22
Existimos de dois modos distintos, e que se alternam.
Existimos, (1) de um modo ativo, própria e especificamente formativo
(em termos da vivência do processo de formação de figura fundo, e em termos
da vivência da formação, criação, das coisas); processo, por isso, performático.
Fenomenológico existencial e dialógico; compreensivo, im-plicativo,
gestaltificativo. Caracterizado pelo predomínio de vivência da cons-ciência pré-
reflexiva. Modo de sermos da vivência do acontecer.
E existimos , (2) de um modo, especificamente, não ativo, não formati-
vo. Explicativo.
Modo explicativo de sermos que não é fenomenológico, nem existenci-
al, nem dialógico; que não é compreensivo, nem implicativo, que não é gestalti-
ficativo. Modo de sermos que, não sendo formativo, não é performação, não é
performance,, não é performático. Modo de sermos do acontecer.
Este modo não ativo, explicativo, de sermos pode, por seu turno, se dar
como:
(a) Um modo de sermos não ativo, explicativo, teorético; ou
(b) o modo de sermos explicativo comportamental.
O modo ativo, formativo, de sermos é eminentemente cognição. São
eminentemente ativos, formativos – por isso, performance, performática --, a
consciência pré-reflexiva, a vivência, a cognição, o conhecimento, e o conhecer
fenomenológico existenciais e dialógicos, na sua momentaneidade instantâ-
nea,. Como vivência do desdobramento de forças, como vivência dod desdo-
bramento de possibilidades, que é a ação. São propriamente, assim, gestalti-
ficativos. O que também quer dizer que são igualmente compreensivos, e
implicativos.
Necessaria e intrinsecamente múltiplas na vivência de suas emer-
gencias e desdobramentos, as possibilidades se organizam, a ação se organi-
za, como vivência, intrinsecamente cognitiva. Como consciência pré-reflexiva.
Não como consciência re(a)presentativa. Mas como consciência apresenta-
tiva.
19
Cons ciência apresentativa, fenomenológico existencial, que pode ser
meramente cognitiva, e ou cognitiva e muscular.
Como a vivência de totalizações significativas de formações de figuras e
fundos; como formações de gestalts que se sucedem, no que entendemos co-
mo ação. Que é formação, performance, meramente cognitiva, e ou ação cog-
nitiva muscular.
As emergências e os desdobramentos formativos, gestaltificativos, de
possibilidades, as ações, atuações, atualizações, são formativas na medidada
em que, cognitiva e muscularmente, intrinsecamente se constituem como
consciência pré-reflexiva, como vivência, como os processos de formação de
figura e fundo. E na medida em que, em sua decorrência, são constituídas,
formadas, as coisas, os entes. Quer sejam as coisas físicas da mundaneidade
do mundo, quer sejam as coisas mentais -- teoréticas, conceituais.
23
Buber já dizia que o conceito é o isso da mente.
Naturalmente querendo dizer que o conceito -- não é um tu, compreen-
sivo, implicativo, gestaltificativo -- mas é o isso da consciência.
O tu da consciência é a possibilidade, em suas emergências e desdo-
bramentos ativos, fenomenológico existenciais e dialógicos; compreensivos,
implicativos, gestaltificativos.
Especificamente o tu se dá como ação – como vivência compreensiva
do desdobramento de possibilidades --, que se constitui e que se forma como a
vivência gestaltificativa dos processos de formação de figura e fundo; e que
forma as coisas, no limite. E que é, assim, intrinsecamente cognitiva, gestaltifi-
cativa.
Na medida em que, em suas emergências e desdobramentos, as possi-
bilidades se constituem de um modo organizadamente formativo, como consci-
ência fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, ges-
taltificativa. Que, própria e especificamente, é a consciência pré-reflexiva.
Cognição, conhecimento, própria e especificamente, epistemologia, on-
tologia, ontológicas, fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas e
implicativas... Fenomenativa e formativamente, performaticamente, gestaltifica-
tivos.
Assim, este caráter cognitivo, com suas qualidades formativas e de di-
nâmica organizativa próprias, em que se constitui a vivência da ação, o desdo-
bramento de possibilidades como consciência pré-reflexiva, meramente cogni-
tiva, ou cognitiva e muscular, fenomenológico existencial e dialógica, compre-
ensiva e implicativa, é o que entendemos como gestaltificação.
BIBLIOGRAFIA
ALBERTAZZI, Lilian The School of Brentano.
2

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GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO

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GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo

Conteúdo
GESTALTIFICAÇÃO.
.................................................................................................................... 2
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É UMA FEIÇÃO, UM FAZER.
PERFAZER. PERFEIÇÃO. ....................... 3
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, PERFEIÇÃO, É UM PROCESSO
DE OTIMIZAÇÃO DE FORMAÇÕES. Do processo de formação de figura e
fundo. Do processo de formação criativa das coisas. ............ 5
A OTIMIZAÇÃO DA GESTALTIFICAÇÃO DECORRE DA
VIVÊNCIA INTENSIVA DA INTENSIONALIDADE DA AÇÃO.
.................................................................................................. 5
2
GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo
Toda alegria é um saber quase só espírito quase só infância quase só
corpo a levantar-se da liberdade de muitas bocas.
(Paulo Roberto do Carmo, 70, Poeta Gaúcho em Vida Possível. Do
livro Có-digos da Alegria. Território das Artes). (Publicado na revista Caras.
Janeiro 2012).
Todo saber é uma alegria...
Gestaltificação e perfeição são intimamente relacionadas. São aspectos
do mesmo processamento da ação – que é, própria e especificamente, feno-
menológica existencial, e dialógica, compreensiva e implicativa.
A gestaltificação é a vivência de um processo de otimização. Na
medida em que as dominâncias de forças, de possibilidades, que configuram
os seus processos de formação de figura e fundo constituem-se em processos
de com-petições plásticas, e de argumentações lógicas – ontológicas,
fenomenológi-cas, dialógicas – já que, em seus desdobramentos as
possibilidades são cons-tituídas como forças plásticas, e como sentido.
GESTALTIFICAÇÃO.
A gestaltificação é a intrínseca formatividade compreensiva da ação.
Como processos vivenciais de formação de figura e fundo, e de criação forma-
tiva das coisas. A partir da vivência da atualização de possibilidades.
Vivencialmente, as possibilidades emergem e se desdobram de um mo-
do contínuo e múltiplo. E se constituem cognitivamente.
Em seus desdobramentos formativos múltiplos, as possibilidades se or-
ganizam fenomenológico existencialmente, através da sucessiva configuração,
da figuração cognitiva, fenomenológico existencial, das dominâncias resultan-
tes da competição, e argumentação, entre suas forças cognitivas e plásticas. A
26
3
figuração compreensiva das dominâncias das possibilidades dá-se como
pro-cessos de formação de totalidades significativas, como processos de
formação de figura e fundo, como processos de formação de gestalts.
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É UMA FEIÇÃO, UM FAZER.
PER-FAZER. PERFEIÇÃO.
Enquanto vivência da emergência de forças plásticas, plastificativas --
sempre inéditas, e que se constituem cognitivamente, como compreensão --, o
desdobramento das possibilidades, o processo fenomenológico existencial da
ação, é, própria e especificamente, o processamento de um fazer.
E é este processo de fazer que querem dizer a palavra e o conceito de
feição.
Inicialmente, assim, feição é um fazer. E perfeição é um modo parti-
cular de fazer. No caso específico, o modo fenomenológico existencial de
fazer, através da vivência do desdobramento da ação -- através do desdo-
bramento cognitivo de possibilidades. Que se constitui como a criatividade da
vivência dos processos de formação de figura e fundo, e da vivência da for-
mação das coisas.
Naturalmente, estamos aqui radicalmente distantes de uma concepção
metafísica de perfeição. Ou da perfeição como resultante de uma comparação
e avaliação do feito com um modelo ideal.
A perfeição, como modo fenomenológico existencial de fazer da ação,
é inteiramente física. É vivência performativa do processamento
fenomenológico existencial da ação. E, pour cause, é viência da criatividade
dos processos de formação de figura e fundo, e da criação das coisas, na
multiplicidade de suas formas, formações.
O modo teorético de sermos não é um fazer. O modo teorético de ser-
mos é uma reflexão sobre o feito.
O modo comportamental de sermos não é um fazer. Mas a
padronização e a repetição do feito.
Somente a ação é um fazer.
Somente a ação é uma feição, um fazer.
Aliás, perfeição. Perfazer performativo.
A ação é um fazer pelo seu intrínseco caráter formativo. Performativo,
performático, performance. Pelo seu caráter de modo de sermos da emergên-
cia e do desdobramento compreensivo, implicativo, gestaltificativo, de
possibili-dades. E como modo de sermos dos processos de gestaltificação, de
formação de figura e fundo; e de criação das coisas.
4
A vivência da ação é um fazer pela vivência paulatina de seu processa-
mento fenomenológico existencial. Compreensiva e implicativa,
gestaltificativa. Na momenentaneidade instantânea de seu acontecer -- este é o
sentido de per.

27
O processo de um fazer inteiramente não abstrato. O processamento de
um fazer vivenciativo, experimentado como performance. Como vivência da
emergência e desdobramento compreensivo de possibilidades, no per curso de
um processo de formação de figura e fundo. Que cabalmente se desdobra, com
princípio, meio e fim, fechamento. Desde suas emergências pré-
compreensivas, passando pela configuração, como processo compreensivo de
formação de figura e fundo; e escoando na constituição da coisa, como
instala-ção.
Em todos os seus momentos, percursos de fluxos vivenciais de corpo e
de sentidos, vivência fenomenológica existencial e dialógica. Vivência de
todas as suas etapas, como processo de figuração, como processo estético,
poiético, performático, performativo, de formação de figura e fundo. E como
processo poiético e estético, performático, de formação, de criação, de coisas.
Coisas mentais, ou coisas físicas. Que se instalam como tais.
A vivência do processamento da ação é, própria e especificamente, as-
sim, a experiência estética, a experiência poiética, performática, de um fazer.
Perfazer, perfeição. Na medida em que é a vivência da emergência e do des-
dobramento de possibilidades; que se enformam gestaltificativamente, como
processos de formação de figura e fundo; e como processos criativos de cria-
ção de coisas. A partir da atualização, do desdobramento compreensivo da
força de possibilidades, sempre emergentes, múltiplas, e sempre inéditas.
A ação -- meramente cognitiva, e/ou cognitiva e muscular --; a
experiên-cia estética, a experiência poiética, assim, são, especificamente, um
fazer, um fazimento, uma feição. Perfeição. Um paulatino fazer
fenomenológico existen-cial e dialógico. Que é, como tal, um fazer
experimental, que envolve a vivência de todas as etapas da gestaltificação,
enquanto processo improvisastivo de formação de figura e fundo; e enquanto
processo de formação de coisas, que se instalam enquanto tais.
A ação, experiência estética e poética, é a vivência do percurso de um
fazer fenomenológico, gestaltificativo. A vivência do percurso de um
fazimento, a vivência do percurso, do percorrimento de uma feição, que
envolve o des-dobramento cabal de possibilidades.
Que se desenrola, e acontece, como desdobramento cognitivo de possi-
bilidades. Cabalmente, desde os seus níveis pré-compreensivos, passando,
temporal e ritimicamente, pelo seu processo de formação de figura e fundo;
até decair em sua instalação como coisa.
A vivência cabal do percurso desta feição é, própria e especificamente,
o modo de sermos, o modo de fazermos, da perfeição.
O modo de sermos, desproposital, o modo de fazermos, da perfeição. É
o modo se sermos, e de fazermos, da gestaltificação.
De modo que o modo de sermos, e de fazermos, da perfeição funda-
menta-se na dinâmica do modo fenomenológico existencial e dialógico, com-
5

28
preensivo e implicativo, gestaltificativo, estético e poiético de sermos.
Modo de sermos das emergências e desdobramentos cognitivos,
gestaltificativos, de possibilidades. Sempre múltiplas e inéditas.
No ineditismo emergente e múltiplo de seus desdobramentos, as possi-
bilidades se configuram de modo gestaltificativamente compreensivo. E,
gestal-tificativamente dão origem e constituem as coisas da coisidade
instalativa do mundo. Ou seja, nos seus desdobramentos, as possibilidades
tendem a se configurar cabalmente como as totalizações significativas dos
processos de formação de figura e fundo, e como totalizações que se
constituem como as coisas instalativas.
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, PERFEIÇÃO, É UM PROCESSO
DE OTIMIZAÇÃO DE FORMAÇÕES. Do processo de formação de fi-gura e
fundo. Do processo de formação criativa das coisas.
Nas emergências e desdobramentos de suas multiplicidades, as possibi-
lidades, se organizam a partir de processos de competição e de argumentação
lógica -- fenomenológica, ontológica, dialógica. Este processo vivencial de
competição e de argumentação compreensivas constitui dominâncias.
São essas dominâncias que figuram nos processos compreensivos e
implicativos de formação de figura e fundo.
De modo que, como expressão cognitiva dos processos de competição e
de argumentação que resultam nestas dominâncias, o processo vivencial de
figuração gestaltificativa é especificamente um processo de otimização. Pró-
pria e especificamente, a partir desta competitividade e argumentação caracte-
rísticas das multiplicidades de possibilidades em desdobramento cognitivo,
co-mo processos de formação de figura e fundo, e como processo de formação
de coisas instalativas.
O perfazer, a perfeição, a gestaltificação, constituem, assim, um proces-
so de otimização. A partir da atualização da perene originalidade da forma das
possibilidades emergentes, e a partir da intrínseca competitividade e argumen-
tatividade das forças plásticas; plastificativas, que elas constituem. Como pro-
cessos fenomenológicos de formação de figura e fundo. Que, igualmente, se
constituem como processos de formação de coisas.
A OTIMIZAÇÃO DA GESTALTIFICAÇÃO DECORRE DA
VIVÊNCIA INTENSIVA DA INTENSIONALIDADE DA AÇÃO.
Radicalmente distinto do metafísico e do teorético, o perfeito é, assim,
o feito desta forma.
Ou seja, o perfeito é o feito através do modo fenomenológico
existencial e dialógico, compreensivo e implicativo, gestaltificativo, de
fazermos. Processo
6
de formação de figura e fundo, e de coisas, da ação, processo
gestaltificativo da perfeição.
E, se é belo e bem feito, original, perfeito, o é pela vivência plena e in-
tensa -- intensivativa, intensidade, intensionalidade --, das características da
29
momentaneidade instantânea deste modo fenomenológico existencial de ser-
mos da ação. Da atualização de possibilidades. Da perfeição.
A vivência intensa da momentaneidade instantânea da ação. A vivência
intensa da momentaneidade instantânea do modo de sermos do ator, inspecta-
dor.
Modo de sermos da ação, e do ator, inspectador, que não é o modo de
sermos no qual se constitui o sujeito e o objeto, e a dicotomia entre eles.
Modo de sermos da ação e do ator, inspectador, que não é o modo teorético
explica-tivo de sermos do espectador. Que não é o modo de sermos da
causalidade. Nem o modo pragmático de sermos dos úteis, dos usos e das
utilidades. Nem é o modo de sermos da realidade. Que não é o modo de
sermos do aconteci-do. Mas o modo de sermos do acontecer.
Ou seja, a perfeição gestaltificativa do perfeito – do feito ao modo feno-
menológico existencial de sermos da perfeição, da ação – decorre da entrega
ativa, intensivativa, à momentaneidade instantânea do processo de formação
de figura e fundo que caracteriza o desdobramento de possibilidades do modo
ontológico, fenomenológico existencial e dialógico, de sermos da ação; com-
preensivo e implicativo, gestaltificativo. Modo de sermos da ação e do ator.
Que não é o modo de sermos no qual vigoram o sujeito e o objeto, e a
dicotomização entre eles, característicos do modo acontecido de sermos.
O modo de sermos da ação, da perfeição, não é o modo explicativo e
teorético de sermos, do sujeito que contempla um objeto. Não é o modo de
sermos do sujeito, mas o modo de sermos do ator. Não é o modo de sermos do
espectador, mas o modo de sermos do ator, inspectador. Não é o modo de
sermos da causalidade, das relações de causa e efeito.
É o modo de sermos da ação estética e poiética. Inútil e desproposital.
Não é o modo de sermos da realidade, uma vez que é o modo de sermos da
possibilidade, o modo de sermos do desdobramento do possível. O modo de
sermos da ação. Que não é, por isto, o modo de sermos do acontecido, mas é,
própria e especificamente, o modo de sermos do acontecer.
Perfeccionativo.

30
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É UMA FEIÇÃO, UM FAZER.
PERFAZER. PERFEIÇÃO.

31
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É
UMA FEIÇÃO, UM FAZER.
PERFAZER. PERFEIÇÃO.
Enquanto vivência da emergência de forças plásticas, plastificativas -- sempre
inéditas, e que se constituem cognitivamente, como compreensão --, o desdobramento
das possibilidades, o processo fenomenológico existencial da ação, é, própria e
especificamente, o processamento de um fazer.
E é este processo de fazer que querem dizer a palavra e o conceito de feição.
Inicialmente, assim, feição é um fazer. E perfeição é um modo particular de
fazer. No caso específico, omodo fenomenológico existencial de fazer, através da
vivência do desdobramento da ação -- através do desdobramento cognitivo de
possibilidades. Que se constitui como a criatividade da vivência dos processos de
formação de figura e fundo, e da vivência da formação das coisas.

Naturalmente, estamos aqui radicalmente distantes de uma concepção metafísica


de perfeição. Ou daperfeição como resultante de uma comparação e avaliação
do feito com um modelo ideal.
A perfeição, como modo fenomenológico existencial de fazer da ação, é
inteiramente física. É vivênciaperformativa do processamento fenomenológico
existencial da ação. E, pour cause, é viência da criatividade dos processos de formação
de figura e fundo, e da criação das coisas, na multiplicidade de suas formas, formações.

O modo teorético de sermos não é um fazer. O modo teorético de sermos é


uma reflexão sobre o feito.
O modo comportamental de sermos não é um fazer. Mas a padronização e a
repetição do feito.

Somente a ação é um fazer.


Somente a ação é uma feição, um fazer.
Aliás, perfeição. Perfazer performativo.
A ação é um fazer pelo seu intrínseco caráter formativo. Performativo,
performático, performance. Pelo seu caráter de modo de sermos da emergência e do
desdobramento compreensivo, implicativo, gestaltificativo, de possibilidades. E como
modo de sermos dos processos de gestaltificação, de formação de figura e fundo; e de
criação das coisas.
A vivência da ação é um fazer pela vivência paulatina de seu processamento
fenomenológico existencial. Compreensiva e implicativa, gestaltificativa. Na
momenentaneidade instantânea de seu acontecer -- este é o sentido de per.
O processo de um fazer inteiramente não abstrato. O processamento de um
fazer vivenciativo, experimentado como performance. Como vivência da emergência e
desdobramento compreensivo de possibilidades, no per curso de um processo de
formação de figura e fundo. Que cabalmente se desdobra, com princípio, meio e fim,
fechamento. Desde suas emergências pré-compreensivas, passando pela configuração,
como processo compreensivo de formação de figura e fundo; e escoando na constituição
da coisa, como instalação.
32
Em todos os seus momentos, percursos de fluxos vivenciais de corpo e de
sentidos, vivência fenomenológica existencial e dialógica. Vivência de todas as suas
etapas, como processo de figuração, como processo estético,poiético, performático,
performativo, de formação de figura e fundo. E como processo poiético e estético,
performático, de formação, de criação, de coisas. Coisas mentais, ou coisas físicas. Que
se instalam como tais.
A vivência do processamento da ação é, própria e especificamente, assim, a
experiência estética, a experiência poiética, performática, de um fazer. Perfazer,
perfeição. Na medida em que é a vivência da emergência e do desdobramento de
possibilidades; que se enformam gestaltificativamente, como processos de formação de
figura e fundo; e como processos criativos de criação de coisas. A partir da atualização,
do desdobramento compreensivo da força de possibilidades, sempre emergentes,
múltiplas, e sempre inéditas.
A ação -- meramente cognitiva, e/ou cognitiva e muscular --; a experiência
estética, a experiência poiética, assim, são, especificamente, um fazer, um fazimento,
uma feição. Perfeição. Um paulatino fazer fenomenológico existencial e dialógico. Que
é, como tal, um fazer experimental, que envolve a vivência de todas as etapas da
gestaltificação, enquanto processo improvisastivo de formação de figura e fundo; e
enquanto processo de formação de coisas, que se instalam enquanto tais.
A ação, experiência estética e poética, é a vivência do percurso de
um fazer fenomenológico, gestaltificativo. A vivência do percurso de um fazimento, a
vivência do percurso, do percorrimento de uma feição, que envolve o desdobramento
cabal de possibilidades.
Que se desenrola, e acontece, como desdobramento cognitivo de possibilidades.
Cabalmente, desde os seus níveis pré-compreensivos, passando, temporal e
ritimicamente, pelo seu processo de formação de figura e fundo; até decair em sua
instalação como coisa.
A vivência cabal do percurso desta feição é, própria e especificamente, o modo
de sermos, o modo de fazermos, da perfeição.
O modo de sermos, desproposital, o modo de fazermos, da perfeição. É o modo
se sermos, e de fazermos, dagestaltificação.
De modo que o modo de sermos, e de fazermos, da perfeição fundamenta-se na
dinâmica do modo fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo,
gestaltificativo, estético e poiético de sermos. Modo de sermos das emergências e
desdobramentos cognitivos, gestaltificativos, de possibilidades. Sempre múltiplas e
inéditas.
No ineditismo emergente e múltiplo de seus desdobramentos, as possibilidades
se configuram de modo gestaltificativamente compreensivo. E, gestaltificativamente
dão origem e constituem as coisas da coisidade instalativa do mundo. Ou seja, nos seus
desdobramentos, as possibilidades tendem a se configurar cabalmente como as
totalizações significativas dos processos de formação de figura e fundo, e como
totalizações que se constituem como as coisas instalativas.

A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO,
PERFEIÇÃO, É UM PROCESSO DE
OTIMIZAÇÃO DE FORMAÇÕES.
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Nas emergências e desdobramentos de suas multiplicidades, as possibilidades, se
organizam a partir de processos de competição e de argumentação lógica --
fenomenológica, ontológica, dialógica. Este processo vivencial de competição e de
argumentação compreensivas constitui dominâncias.
São essas dominâncias que figuram nos processos compreensivos e implicativos
de formação de figura e fundo.
De modo que, como expressão cognitiva dos processos de competição e de
argumentação que resultam nestas dominâncias, o processo vivencial de figuração
gestaltificativa é especificamente um processo de otimização.Própria e especificamente,
a partir desta competitividade e argumentação características das multiplicidades de
possibilidades em desdobramento cognitivo, como processos de formação de figura e
fundo, e como processo de formação de coisas instalativas.
O perfazer, a perfeição, a gestaltificação, constituem, assim, um processo de
otimização. A partir da atualização da perene originalidade da forma das possibilidades
emergentes, e a partir da intrínseca competitividade e argumentatividade das forças
plásticas; plastificativas, que elas constituem. Como processos fenomenológicos de
formação de figura e fundo. Que, igualmente, se constituem como processos de
formação de coisas.

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A OTIMIZAÇÃO DA
GESTALTIFICAÇÃO DECORRE DA
VIVÊNCIA INTENSIVA DA
INTENSIONALIDADE DA AÇÃO.

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A OTIMIZAÇÃO DA
GESTALTIFICAÇÃO DECORRE DA
VIVÊNCIA INTENSIVA DA
INTENSIONALIDADE DA AÇÃO.
Radicalmente distinto do metafísico e do teorético, o perfeito é, assim, o feito
desta forma.
Ou seja, o perfeito é o feito através do modo fenomenológico existencial e
dialógico, compreensivo e implicativo, gestaltificativo, de fazermos. Processo de
formação de figura e fundo, e de coisas, da ação, processo gestaltificativo da perfeição.
E, se é belo e bem feito, original, perfeito, o é pela vivência plena e intensa --
intensivativa, intensidade, intensionalidade --, das características da momentaneidade
instantânea deste modo fenomenológico existencial de sermos da ação. Da atualização
de possibilidades. Da perfeição.
A vivência intensa da momentaneidade instantânea da ação. A vivência intensa
da momentaneidade instantânea do modo de sermos do ator, inspectador.
Modo de sermos da ação, e do ator, inspectador, que não é o modo de sermos no
qual se constitui o sujeito e o objeto, e a dicotomia entre eles. Modo de sermos da ação
e do ator, inspectador, que não é o modo teorético explicativo de sermos do espectador.
Que não é o modo de sermos da causalidade. Nem o modo pragmático de sermos dos
úteis, dos usos e das utilidades. Nem é o modo de sermos da realidade. Que não é o
modo de sermos do acontecido. Mas o modo de sermos do acontecer.
Ou seja, a perfeição gestaltificativa do perfeito – do feito ao modo
fenomenológico existencial de sermos daperfeição, da ação – decorre da entrega ativa,
intensivativa, à momentaneidade instantânea do processo de formação de figura e fundo
que caracteriza o desdobramento de possibilidades do modo ontológico,
fenomenológico existencial e dialógico, de sermos da ação; compreensivo e implicativo,
gestaltificativo. Modo de sermos da ação e do ator.
Que não é o modo de sermos no qual vigoram o sujeito e o objeto, e a
dicotomização entre eles, característicos do modo acontecido de sermos.
O modo de sermos da ação, da perfeição, não é o modo explicativo e teorético de
sermos, do sujeito que contempla um objeto. Não é o modo de sermos do sujeito, mas o
modo de sermos do ator. Não é o modo de sermos do espectador, mas o modo de
sermos do ator, inspectador. Não é o modo de sermos da causalidade, das relações de
causa e efeito.
É o modo de sermos da ação estética e poiética. Inútil e desproposital. Não é o
modo de sermos da realidade, uma vez que é o modo de sermos da possibilidade, o
modo de sermos do desdobramento do possível. O modo de sermos da ação. Que não é,
por isto, o modo de sermos do acontecido, mas é, própria e especificamente, o modo de
sermos do acontecer.
Perfeccionativo.

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QUE É GESTALTIFICAÇÃO

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QUE É GESTALTIFICAÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

O termo parece ser novo, e Laura Perls já chamara a atenção para o caráter ativo do que chanmamos
de 'Gestalt'. O fato é que espalhou-se a idéia como 'gestalt', e ficou. À custa de muita incompreensão,
confusão, e equívoco.

Precisamos distinguir: gestaltificação, o ato de agir gestalticamente -- um componente intrínseco à


ação; e a coisa resultante, a gestalt, com suas características objetivas.

Mas, em que consiste este elemento da ação, que é a gestaltificação

Grosso modo, a ação é a vivência de criação, a formação, de uma forma. 'Forma', aqui, num sentido
muito mais amplo de um ser, um ente.

Ora, este sentido 'formativo' é muito original e radical.


De modo que a vivência do processo criativo, o processo formativo, gestaltificativo, envolve
inicialmente, a vivência de um projeto, digamos.
Que atua como um rascunho. Até que é preenchido, concluído. Conclusão, com as intercorrências
que se apresentarem, e forem corrigidas, no processo. Mas, dá-se o projeto nas fases iniciais da
vivência da ação, e 'fecha-se' a gestalt ao concluí-la. Com a correção, gestaltificativa, das
intercorrências.

De modo que o projeto é figurado vivencialmente nas fases iniciais da ação, compreensivamente,
mesmo que seja, apenas, o lampejo de um rascunho. Mas detalhadamente. Mormente se lhe explora.

Este processo é, todo ele, poiético. Resultante da vivência de uma dialógica pelo ator. O que
significa que ele é vivido pré-reflexiva e pré-conceittualmente, fenomenológica e existencialmente, e
é o processo ativo da ação, e a ação que caracteriza a dramática da existência, enquanto dramática da
ação. Vivência do desdobramento de possibilidades;

'Perfeição' é o termo que usamos para definir a ação gestaltificativa, que preenche os requisitos
básicos do projeto inicial, e minuciosamente produz o objeto no processo da ação.
'Feição' é um 'modo de fazer', e o 'per' indica a completude, o trânsito vivencial, dramático, de um
lado a outro da consecução do projeto. Da vivência do projeto a sua conclusão..
A ação gestaltificativa é 'perfeita', neste sentido. E é a melhor, e esteticamente mais perfeita na
produção da forma. E usufrui de todas as características do fazer fenomenológico. É pré-reflexiva e
pré-conceitual, é estética,

O caráter gestaltificativo da vivência, confere algumas características ao processo e ao resultado, o


objeto resultante: a Gestalt.

Ela é original.

Sua originalidade manifesta-se, principalmente, enquanto totalidade significativa. E, enquanto tal,


ele é uma Gestalt, cujo sentido, enquanto totalidade é diferente da soma de suas partes. Ou seja, não
é a soma das partes, seu caráter aditivo, que lhe confere sentido. Mas o seu sentido expressa-se
enquanto totalidade, anteriormente à soma de suas partes.

Sumariando, gestaltação, naturalmente, é uma propriedade espontânea da vivência existencial da


ação. Pré-reflexiva e pré-conceitual, deixada prevalecer, manifesta-se criativamente, pela força
criativa das possibilidades, projetando a ação.

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Os primeiros momentos da vivência existencial, da dramática da ação, da dramática da existência, é
a vivência da Gestalt de um projeto do objeto, a ser atualizado através da ação, na peformática de um
fazer fenomenológico, que inicia-se com o projeto, e vai até à conclusão de sua feitura, na ação.

A gestaltificação é o processo fenomenológico, gestaltificativo, do fazer. O importante é a adesão da


vivência das intensidades da força das possibilidades, na vivência pré-reflexiva e pré-conceitual da
estética do fazer, em toda a duração do episódio da ação, em toda a duração do episódio existencial.

A Gestalt, o objeto. Com mais ou menos arte.

O que implica a perfeição no fazer.

Perfeição não em nenhum sentido moral, mas como modo de fazer ('feição', fazimento, fazer),
enquanto adesão à atualização de possibilidades, como processo eminente pré-reflexivo e pré-
conceitual, fenomenológico existencial, vivência do desdobramento do projeto que se configura
inicialmente, até a sua conclusão (o que significa 'per'), com a correção, igualmente pré-reflexiva e
pré-conceitual, fenomenológico existencial, na dramática da ação, das intercorrências.

O QUE É GESTALT TERAPIA


Em sendo a gestaltificação uma propriedade da ação, Fritz Perls entendeu que a ação era
eminentemente formativa, criativa. E que tratava-se de criar as condições para a dialógica poiética da
ação, em termos de uma psicoterapia implicativa, e compreensiva, e não explicativa. E a vivência
regular da experimentação da ação, em suas condições próprias.

Para tal experimentação, fundamental a liberdade na vivência e desdobramento da dramática da


atualização de possibilidades, da ação.

A eleição do modo de sermos implicativo, e compreensivo dava-se .por causa da constatação de ser
este o modo de criação, e de superação de sermos.

E não o modo de sermos explicativo. Teorético.

Daí uma recusa sistemática à explicação, enquanto elemento metodológico, certos de que esta
recusa, e a afirmação da força das possibilidades, pré-reflexiva e pré-conceitual, do fenomenológico
existencial, dramático, levaria à implicação e criatividade da formativa da dialógica poiética, da
dialógica gestaltificativa.

Assim começa a se desenvolver a Gestalt-terapia, influenciada pelos movimentos gestálticos que se


desenvolviam na arte, na educação, na psicologia...

Fritz e Laura Perls entenderam a amplitude de uma metodologia de experimentação da ação, na


medida em que esta possibilitava o desenvolvimento de metodologias de trabalho, da compreensão à
ação muscular, ensejando a possibilidade efetiva do corpo em terapia, que se insinuava com Reich e
outros psicoterapeutas.

40
AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, E METODOLOGIA GESTALTIFICATIVA

41
AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, E METODOLOGIA GESTALTIFICATIVA
Afonso Fonseca, psicólogo.

A gestaltificação é o modo como se constitui a ação. Em particular em seu devir formativo,


em seu intrínseco devir criativo.
O episódio fenomenológico existencial caracteriza-se pela ação, é a ação.
Em seu próprio devir criativo, formativo, em seu sentido, ontológico, a ação, oo episódio
fenomenológico existencial da aqçãao, são fenomenológicos.
Ação é a atualização vivencial, o desdobramento episoidal, das forças plásticas, criativas,
gestaltificativas, que são as possibilidades, vivenciadas pelo ator. De modo que, a gestaltificação é o
modo como se dá a ação, em seu devir.
A ação é compartilhada porque, na momentaneidade instantânea de seu episódio, existencial,
momento existencial, existência, a ação é, eminentemente, própria e especificamente, dialógica.
De modo que existe uma intrínseca comunicação eu-tu no episódio da ação. Uma especial
comunicação, na qual se dá o dialógico compartilhamento do sentido.
Em Gestalt,´ perguntado como se operacionalizava o seu método, é clássica a resposta de Fritz Perls:
não atrapalhando!!
A resposta pode parecer enigmática, ou mal humorada. Mas é exatamente esta. Com uma precisão
surpreendente – parra o seu tempo, e o seu notório desconhecimento de Fenomenologia...
É que as possibilidades são forças. E forças atuam constantemente, no sentido de seu
desdobramento... Não existem forças paradas...
Aceitas, afirmadas, as possibilidades constantemente se desdobram.
Assim acontece constantemente na ação, na interação.
Aceitas, afirmadas, as possibilidades se afirmam, e se configuram, fenomenológico
existencialmente, em seu intrínseco devir formativo, como ação.
Assim, metodologicamente, tudo que importa é cultivar por um momento o modo pré-reflexivo e
pré-conceitual, fenomenológico existencial e dialógico de sermos, sua intrínseca disposição
experimental.
E vivenciar a dialógica poiética que isto faculta.
Participando, com o cliente, dialogicamente, da afirmação e do desdobramento das possibilidades
vivenciadas na interação cliente/profissional.
Tudo que interessa é por um momento, os seus momentos próprios, cultivar a ação na interação
cliente/profissional.

42
IMPRESSSIONISMO, EXPRESSIONISMO TEATRO EXPRESSIONISTA, E
A METODOLOGIA GESTALTIFICATIVA

43
IMPRESSSIONISMO,
EXPRESSIONISMO TEATRO EXPRESSIONISTA, E A
METODOLOGIA GESTALTIFICATIVA

Afonso Fonseca, psicólogo.

O movimento da Gestalt era naturalmente forte, para confrontar a Psicanálise.


Mas Perls não tinha a ele uma adesão convicta. A Gestalt que ele via dos
teóricos da Gestalt, com relação à qual ele era crítico, não o convencia, muito
teórico explicativa, só existe interesse para o pesquisador... Dizia ele,
no Gestalt Therapy.

Quando se tratou de designar sua nova abordagem, já em Nova York, Perls


vacilou em chamá-la de Gestalt. A bem da verdade, Perls não era
um getáltico, no sentido de teórico do termo. Perls conhecia uma pouco da
Psicologia Organísmica, de Kurt Goldstein. Mas não era um fenomenólogo,
não entendia de Fenomenologia. Mormente no sentido que querem fazer crer
os pseudo eruditos.

O que fez, então, de Perls um dos grandes fenomenólogos de nossa época? E


um dos grandes desbravadores de uma metodologia gestaltificativa?

A compreensão, por outras vias, poiéticas, da dialógica da ação. A ação é que


é gestaltificativa. Compreensivamente gestaltificativa. Mucularmente
Gestaltificativa.... Não foi estudando os tratados, e cascavilhando na imensa
confusão que era, e é, a Fenomenologia.

Há que se dizer, que a libertação da ação, a defesa da ação, estavam na pauta.

Perls tinha uma formação, digamos, ambígua...

Era médico, neuropsiquiatra, pesquisador, assistente da sumidade que era


Kurt Goldstein, o neurologista brilhante. Tinha formação psicanalítica,
analisado por grandes psicanalistas da época. Esse era um seu lado
pesquisador.

E tinha o seu outro lado... Boêmio, dos Cafés de Berlin, de antes da primeira
guerra... Das artes.

É desta época que encontra Laura.

44
Também das artes. Que traz à vida, e á obra, de Perls dois grandes aportes.

Além da Psicologia da Gestalt, mais estudada. As artes expressivas, a


expressão corporal. E Martin Buber. De quem era próxima.

Já antes, a boemia, e as artes tinham levado Fritz ao expressinismo, ao Teatro


Expressinista, no Living Theather. Um grupo de teatro
experimental, expressionista, sob a liderança altamente experimental de Max
Rhinehardt, o grande diretor e teatrólogo.

Nos finais do século 19, os Impressionistas questionariam o império da


realidade nas artes, chegando ao fulcro da questão, ao questionar o papel da
cópia perfeita na arte, e a própria hegemonia do objeto
Uma obra de arte pode ser criação, formação, gestalt. Única. E não reprodução
de uma suposta realidade.

Era a ação, reivindicando seus direitos de originalidade, diante do real. Não


existe a prescrição de um real a ser copiado, mas a ser criado com a obra.
Gestalt.

O Impressionismo representou a afirmação da criação gestaltificativa da ação,


do poiético; diante da hegemonia do real. Representou a alforria do domínio
do objeto. Condições da intensionalidade da Fenomenologia, e da
gestaltificação. Realidade é extensão. Objeto, é extensão. Intensionalidade é
poiese.

O expressionismo radicalizou algumas perspectivas do Impressionismo,


ganhando um cunho mais existencial e performático, o que quer dizer
gestaltificativo.

Tratava-se de privilegiar a vivência, concentrá-la, e expressá-la, num gesto


performático, constituinte da obra de arte.

O expressionismo tomou várias artes, como a pintura, o teatro, a dança, o


cinema, a literatura, a arquitetura... E configurou-se como um dizer, na obra
de arte, que não tinha compromissos maiores com o objetivismo da realidade.
Para centrar-se na vivência do desdobramento de possibilidades, na vivência
performática, gestaltificativa, da ação.

Vivência do desdobramento de forças criativas, as possibilidades, criação, que


se manifesta como completa formação (gestaltificação), compreensiva, e
muscularmente, a vivência da ação é uma formação, per-formação,
performance.

45
O Teatro Expressionista encarnava o experimentalismo expressionista. E
buscava a consígnia nietzcheana do espectador ator, do espectador expressivo.

Foi aí que Perls aprendeu sobre gestaltificação, sobre a performática da


dramática da fenomenologia da ação. E se constitui num grande desbravador
da metodologia gestaltificativa, e da fenomenologia gestaltificativa da ação.

46
BRENTANO E A METODOLOGIA FENOMENO GESTALTIFICATIVA

47
BRENTANO E A METODOLOGIA FENOMENO
GESTALTIFICATIVA
Afonso Fonseca, psicólogo

Brentano (1838) é talvez a mais importante influência no desenvolvimento da


metodologia fenomeno gestaltificativa, e da Psicologia Humanista.

É paradoxal, porque, no que pese uma grande influência, esta é muito mais
qualitativa que quantitativa. E esconde-se atrás de alguns aspectos da obra de
Brentano, que os pseudo eruditos não entendem. Aliás, o que entendem?...

Aspectos que se perdem no contexto da obra, e que, evidentemente, os pseudo


eruditos não percebem, nem entendem. Com certeza não entendem nem o que
é o ensaio, enquanto gênero literário, e a importância, para uma metodologia
gestáltica, de falar no próprio nome. Embusteiros...

Tomo três desses aspectos, de capital importância para a metodologia


fenomeno gestaltificativa, e da Psicologia Humanista -- no caso, refiro-me a
Rogers em particular. Quais sejam

a) O enfrentamento, e a particularidade do enfrentamento a Wundt;


b) A compreensão da Fenomenologia como um empirismo fenomenológico;
c) A ação, e o desenvolvimento da perspectiva da ação.

Liminarmente, digamos, que a perspectiva gestaltificativa, delineada por


Goethe (1749), é uma importante perspectiva ontológica, cujo
desenvolvimento, em si problemático, foi bastante prejudicado.

A perspectiva desenvolvia-se vigorosa, na Alemanha do fim do século 19, e


começo do século 20.

Nas artes visuais, na educação, na psicologia, na arquitetura...

Incrementava o seu desenvolvimento o desenvolvimento do Expressionismo


nas artes, o desenvolvimento do Impressionismo, a Filosofia de Nietzsche, o
desenvolvimento da Fenomenologia, a Filosofia da Vida...

Pelejavam todas estas perspectivas com o objetivismo atro. E apontavam


outras direções.

48
Surge a Psicologia dita da Gestalt, que mal entende a perspectiva, e começa a
distorcê-la, tratando-a numa perspectiva objetivista, quando ela apontava e se
situava numa perspectiva ontológica, pouco entendida, e desenvolvida.

O descaminho continua quando dela se apropriam Koffka e Kohler, e


inclusive Heidegger, comprometidos com o estabilishment nacional socialista
que evolui para a nazismo.

Com o nazismo, tudo se perde, ou desorienta, em geral perseguido ou


instrumentalizado pelo partido e pelo governo totalitário.

É certo que algo se refugia nos EUA.

Mas o desenvolvimento coletivo é destroçado, na Alemanha.

E os EUA eram o âmbito do Empirismo objetivista, que se traveste de


Pragmatismo.

As contribuições de Brentano, já nos finais do século 19, mantém a


fidedignidade ontológica da Gestalt, e da Fenomenologia.

a) Wundt alicerçava sua Psicologia na introspecção, insciente de que


Nietzsche já advertira de que nós não temos 'dentro'.

Brentano entende a roubada que seria nós nos convertermos em sujeitos e


objetos de nós próprios.

E indica a inconsistência da introspecção.

Vindo da Química, Wundt entende a consciência como composta por


elemenos. Dizia-se que ele queria fazer uma Tabela Periódica dos elementos
da consciência...

E dedica-se a considerar os elementos constituintes da consciência.


Entendendo os elementos, per se, chegaria a entender o todo.

Brentano, firmemente plantado na tradição gestáltica, esclarece que, no ato de


consciência, a consciência se dá originariamente como uma totalidade. Que
aufere, antes, o seu sentido deste seu caráter totalizante, e não aditivo... E não
do sentidp per si da soma de seus elementos...

Era esta uma das principais constatações da Gestalt.

49
b) Não sendo teorética, -- reflexiva, o dobrar-se de um sujeito sobre um
objeto, no modo ôntico de sermos --, a fenomenologia, em específico, é um
epirismo.

É particular a compreensão deste caráter empírico. Porque o empirismo


sempre foi identificado com o objetivismo inglês, predominante nos EUA.

Os norte-americanos têm muita dificuldade para compreender um empirismo


fenoenológico. Mas esta é a natureza da fenomenologia.

Não há mistério. Basta entender que objetivismo e empirismo -- cuja


implicação recíproca é, vulgarmente, quase um axioma-- não coincidem... (Se
é que o objetivismo pode ser considerado um empirismo).

Brentano entendeu que o fenomenológico não é o reino da reflexão, e do


objetos. Mas o âmbito vivencial da ação. O sujeito e o objeto são do âmbito
da não ação. E a inspectação do ator é a compreensão, e nada tam a ver com a
teorética do sujeito. Levando à compreensão de que o modo de sermos do
ator, é o efetivo empirismo.

Brentano entende que toda a fenomenologia, que só é da ação, é empírica.

E, diríamos, ex-peri-men-tal.

c) Brentano entendeu que a questão da fenomenologia é a questão da


intensionalidade da ação. Que o fenomenológico é próprio à intensionalidade
da ação. Abrindo caminho para entendermos que o extensional não é
fenomenológico, e que toda a fenomenologia é Fenomenologia
Gestaltificativa da intensionalidade da ação.

Pelo menos na fenomenologia da tradição de Brentano. Tem gente que


confunde...

50
Perire', 'arriscar', 'tentar
A EXPERIMENTAÇÃO NA GESTALTIFICAÇÃO, E NA METOLOGIA
GESTALTIFICATIVA

51
Perire', 'arriscar', 'tentar'
A EXPERIMENTAÇÃO NA GESTALTIFICAÇÃO, E NA
METOLOGIA GESTALTIFICATIVA

Afonso Fonseca, psicólogo.

A experimentação praticamente se confunde com a vivência fenomenológico


existensial da ação, com a gestaltificação, com a performance,
performação, da gestaltificação; da fenomenológica existensial
da ação. Desde que a ação é entendida como vivência do desdobramento de
possibilidades.

Numa de suas melhores frases, Perls já dizia, a ação é o núcleo do


verdadeiro.

E a experimentação é intrínseca à vivência da performance, formativa,


gestaltificativa, da dramática da ação.

A experimentação é empírica. Na medida que a vivência da dialógica da


dramática da ação é, eminentemente, empírica. Fenomenológico existensial
empírica. O que em específico quer dizer não teórica.

O objetivismo se pretende não teórico. Mas, por princípio, não é desse tipo
de empirismo que se trata. Não se trata de um empirismo do objeto. Na
medida em que empirismo, empirismo fenomenológico, o é o da vivência do
episódio fenomenológico existensial da dialógica da dramática da ação.
Que não é objetivista, nem objetivo.
E que dá-se na vivência do modo fenomenológico existensial de sermos,
modo ontológico de sermos, cuja vivência é eminentemente empírica, e
experimental. Transjetiva, e não objetiva.
Nem subjetiva.

O termo e o conceito de Experimentação radica no verbo grego perire. Que


tem o sentido específico de arriscar, tentar.

Na medida que a dialógica do episódio da dramática da ação é atualização de


possibilidades, atualização de forças formativas, criativas -- que se
constituem em forma, na pontualidade do episódio da dramática da
performance, performação, da ação -- a experimentação, a iniciativa, o tentar,
o arriscar, são intrínsecos à dialógica do episódio da dramática da ação..

52
A experimentação, em seu caráter especificamente empírico, é assim
intrínseca à performance da dramática gestaltificativa da ação.

Bobocas, que buscam lugar e autoridade -- que evidentemente não têm --


numa ridícula representação caduca de dogmatismo e ortodoxia -- na verdade
de olho no holerite e na aposentadoria -- que nada entendem de
Fenomenologia, de existensia, de gestalt (entendem de quê, finalmente? Com
toda a pompa?) -- querem censurar moralisticamente, metafisicamente, o
caráter de tentativa e de risco intrínsecos, sempre, à existensia, e à
performance da ação...À metodologia da gestaltificação... Qualquer pessoa
que entende de Gestalt, de Fenomenologia tem isso muito claro... Não é claro
de que estão falando, de modo postiçamente sério... (Entendem de quê,
finalmente? Com toda a pompa?).

Vindo do Teatro Expressionista, Perls entendeu profundamente o caráter da


performance da dialógica da ação. A intrínseca importância, sine qua non, da
experimentação. Daí que a experimentação da ação, o arriscar o tentar, na
ação, passa a ser um constituinte precípuo de sua metodologia gestaltificativa.
Uma metodológica da atualização.

È importante atentar que a experimentação intrínseca à dialógica da dramática


da ação é a experimentação ontológica, fenomenológica existensial, dialógica.
E não a experimentação científica. Que é a reprodução de um evento, sob
condições controladas. A experimentação fenomenológica existensial é a
vivência afirmativa da atualização de possibilidades do episódio da ação.

Ao ser indagado como operacionalizava o seu método, Perls respondia: não


atrapalhando...
As possibilidades, que potencializam a ação são forças, que se dão no modo
ontológico, fenomenológico existensial de sermos. E carecem das
características e condições deste modo de sermos. Nas características e
condições do modo ontológico, fenomenológico existensial de sermos, a
dialógica da dramática da ação naturalmente floresce, e se impôe, como força
criativa, getaltificativa.

Atrapalhar é trazer para o modo ontológico de sermos características e


condoções do modo ôntico, do modo acontecido de sermos. Naturalmente, o
moralismo, o dogmatismo, em princípio; a reflexão, o objetivismo, a teorética,
a técnica, o realismo... As pessoas dogmáticas e ortodoxas são atrapalhadores
contumazes...

A metodologia gestaltificativa floresce num ambiente de respeito pelo


ontológico, dee respeito e estímulo à dialógica, à compreensão, e a

53
musculação, e às suas demandas experimentais, de arriscar, tentar... Na
dialógica do episódio fenomenológico existensial da ação...

Moralistas, se toquem...

Ou, pelo menos usem um pouco o se mancômetro...

Seu tempo passou...

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PRÁTICA E FENOMENÁTICA

55
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AÇÃO, O FENOMENOLÓGICO EXISTENSIAL -- A COMPREENSÃO E A
MUSCULAÇÃO -- É TRANSAÇÃO, INTENSIONAL, TRANSTENSIONAL.
GESTALTIFICATIVA.

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58
PER-FEIÇÃO

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PER-FEIÇÃO
O modo do fazer fenomenológico existencial e dialógico,
compreensivo e implicativo, gestaltificativo
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo

Conteúdo
.............................................................................................................................
.1
FEIÇÃO. O MODO DE SERMOS DO ACONTECER, MODO
SERMOS DO FAZER .............................. 3
PERFEIÇÃO. A TEMPORALIDADE DO ACONTECER,
TEMPORALIZAÇÃO DO FAZER ....................... 4
PERFEIÇÃO. A VIVÊNCIA DA TEMPORALIDADE E DAS
INTENSIDADES DO FAZER É A TEMPORALIDADE DO PROCESSO
DE FORMAÇÃO DE FIGURA E FUNDO. É A TEMPORALIDADE DO
PROCESSO DE GESTALTIFICAÇÃO.
........................................................................................ 4
POSSIBILITAÇÃO, EXPRESSÃO, PROJETAÇÃO,
PERSPECTIVAÇÃO, DISEGNO, INTERPRETAÇÃO,
GESTALTIFICAÇÃO, PERFEIÇÃO.
................................................................................................. 6
O MODO DE SERMOS DA PERFEIÇÃO GESTALTIFICATIVA
NÃO É O MODO DE SERMOS DO SUJEITO, NEM DO OBJETO. NÃO É
O MODO DE SERMOS NEM DA OBJETIVIDADE NEM DA
SUBJETIVIDADE. MAS O MODO DE SERMOS DA AÇÃO, DO ATOR.
QUE NÃO É OBJETIVO NEM SUBJETIVO. E QUE ESPECIFICAMENTE
É O MODO DE SERMOS DESPROPOSITAL, NÃO CAUSAL, INÚTIL. E
NÃO REAL. PORQUE NÃO É ACONTECIDO. MAS AÇÃO. O
ACONTECER DO POSSÍVEL. PERFEIÇÃO.
.............................................................................................................................
.. 7
PERCURSO DO PERFAZER, PERFORMANCE DA
GESTALTIFICAÇÃO. PER-FEIÇÃO. ........................ 8
2
PER-FEIÇÃO
O modo do fazer fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo
e implicativo, gestaltificativo
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo
Toda alegria é um saber quase só espírito quase só infância quase só
corpo a levantar-se da liberdade de muitas bocas.

60
(Paulo Roberto do Carmo, 70, Poeta Gaúcho, em Vida Possível. Do
livro Có-digos da Alegria. Território das Artes). (Publicado na revista Caras).
Todo conhecer é uma alegria...
Especificamente, feição significa fazer. A perfeição é um fazer. A per-
feição é o fazer ontológico. O modo de sermos do fazer. Especificamente,
assim, a perfeição é o modo de sermos do fazer. O modo ontológico de
sermos. O modo ontológico do fazer. Fenomenológico existencial dialógico,
compreensivo e implicativo, gestaltificativo.
O modo de sermos do fazer é, própria e especificamente, o modo de
sermos do acontecer. Como modo de sermos da vivência da ação. Própria e
especificamente, o modo de sermos da vivência compreensiva do desdo-
bramento, da atualização, de possibilidades. O modo assim de sermos da ação.
É, propriamente, um modo de sermos de perfeccionamento. O modo de
sermos da ação é um modo de sermos de perfeccionamento da ação. Um mo-
do de sermos de aperfeiçoamento, de otimização.
Porque é, todo ele, na momentaneidade instantânea da vivência com-
preensiva e implicativa de seu acontecer, o desdobramento intuitivamente
compreensivo, e implicativo, de possibilidades que competem e argumentam
entre si. Constituindo dominâncias. Dominâncias estas que se dão, como cons-
ciência pré-reflexiva, como figuração, nos fluxos dos processos
gestaltificativos de formação de figura e fundo e de criação de coisas. A
gestaltificação. A per-feição.
3
FEIÇÃO. O MODO DE SERMOS DO ACONTECER, MODO
SERMOS DO FAZER
O modo explicativo de sermos, modo de sermos do acontecido, seja ele
explicativo teorético ou explicativo comportamental, não é um acontecer, não
é o modo de sermos do acontecer. E não é, portanto, o modo de sermos do
fazer.
O modo explicativo de sermos é, própria e especificamente, o modo de
sermos de repetição do feito. Da repetição do fato. Modo de sermos de
repetição do acontecido.
O modo explicativo teorético de sermos tem como condição os
aconteci-dos sujeito, e objeto – diversos do jeto da ex-pressão das
possibilidades; do projeto, do ‘projeito’, cuja tensionalidade expressiva,
intensionalidade, constitu-ido modo de sermos do acontecer.
A consciência no modo teoreticamente explicativo de sermos, consci-
ência enquanto acontecido, é a consciência de um sujeito, acontecido, que
contempla um objeto, igualmente acontecido. A consciência teorética não é
consciência enquanto acontecer. Mas consciência teoreticamente explicativa,
enquanto repetição do acontecido.
Já o modo explicativo comportamental de sermos é um modo de sermos
de desconscienciação.
Enquanto modo de sermos da atividade padronizada e repetitiva.
61
Quanto mais padronizad e repetitiva a atividade, quanto mais comporta-
mental, menos consciente...
O modo ontológico de sermos do fazer, modo implicativo de sermos, é,
especificamente, o modo de sermos do acontecer, fenomenológico existencial
e dialógico, compreensivo e implicativo. Modo de sermos no qual o desdobra-
mento de possibilidades se constitui como consciência pré-reflexiva. A
consci-ência compreensiva, e implicativa, gestaltificativa, perfeccionativa,
fenomenoló-gico existencial e dialógica do ator. A própria consciência da
ação, e do acon-tecer.
Enquanto modo de sermos do acontecer, e do fazer, o modo ontológico
de sermos tem características muito peculiares, e exclusivas. Características
que fazem com que o modo de sermos do acontecer, apesar de ser o modo
ontológico de sermos, possa causar estranheza, estranhamento.
Em particular para quem cultiva predominantemente o modo
acontecido de sermos da realidade; o modo acontecido de sermos do fato, do
feito; para quem cultiva o modo de sermos do feito, do fato. Cultivo este que
Buber1 cha-maria, mais propriamente, de fatalidade.
1 BUBER, Martin EU E TU.
4
PERFEIÇÃO. A TEMPORALIDADE DO ACONTECER,
TEMPORALI-ZAÇÃO DO FAZER
Dentre estas características do modo ontológico de sermos do aconte-
cer, do modo de sermos compreensivo e implicativo do fazermos, como Hei-
degger2 observaria, sobressai a sua particular temporalidade. A temporalidade
ontológica, própria e específica da vivência da ação. A temporalidade própria
e específica da vivência da emergência e do desdobramento de possibilidades.
Diversa, esta temporalidade, do tempo ôntico cronométrico,
cronificado, tempo coisificado do acontecido.
Kairós, o acontecer; e Cronos, o tempo cronificado, e coisificado, do a-
contecido. Como a mitologia Grega os veio a designar.
Kairós -- a vivência própria e afirmativa da oportunidade da ação, a vi-
vência da oportunidade do desdobramento de possibilidades, a vivência
afirma-tiva do desdobramento das forças da vivência -- é, devém como,
perfaz, uma temporalidade, uma temporalização própria. A temporalização
própria do des-dobramento de possibilidades.
Possibilidades, e temporalidade, que especificamente se constituem co-
mo compreensão e implicação, como consciência pré-reflexiva,
fenomenológi-co existencial. Uma temporalidade específica. Gestaltificativa.
E esta temporalidade é, própria e especificamente, a temporalidade da
perfeição; a temporalidade do modo de sermos e de fazermos da perfeição.
PERFEIÇÃO. A VIVÊNCIA DA TEMPORALIDADE E DAS
INTENSI-DADES DO FAZER É A TEMPORALIDADE DO PROCESSO
DE FORMAÇÃO DE FIGURA E FUNDO. É A TEMPORALIDADE DO
PROCESSO DE GESTALTIFICAÇÃO.
62
Dentre outras coisas, isto quer dizer que, na constituição de suas domi-
nâncias -- como processos vivenciativos, figurativos, de formação de figura e
fundo --, as possibilidades se configuram, figuram, como consciência fenome-
nológica pré-reflexiva, nas temporalizações da ação.
Isto quer dizer que, nos seus desdobramentos compreensivos e implica-
tivos, a vivência de possibilidades se constitui compreensivamente na
tempora-lidade ontológica própria e específica da vivência de um processo de
formação de figura e fundo.
Processo de formação de figura e fundo que se dá como processamento
vivencial de formação de totalidades significativas, gestaltificações, e como
2 HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO.
5
processos vivenciais de criação de coisas. Coisas e figurações,
figurações e coisas, que, característicamente, se dão como tais, como
totalizações significa-tivas.
Totalizações que, na pontualidade de suas vivências, se dão como tota-
lizações que são diferentes da soma de suas partes. Gestaltificações.
Originalmente, assim, as gestaltificações -- figurações compreensivas e
implicativas de dominâncias das forças de possibilidades -- se constituem
como consciência pré-reflexiva. E especificamente se dão como totalizações
signifi-cativas. Que são compostas, enquanto tais, por uma multiplicidade de
partes. Totalizações, gestaltificações, compostas por partes, mas que,
enquanto totali-zações, gestaltificações, são diferentes da soma de suas partes.
Da mesma forma que são totalizações que se apresentam como tais, e
que se constituem vivencialmente, de um modo anterior à sucessiva figuração,
configuração, e explicitação subsequente, de suas partes. Num processo de
consciência pré-reflexiva, fenomenológica, de formação de figura e fundo.
Por exemplo, a vivência da idéia da canção Aquarela3. É a vivência de
uma totalidade significativa. Totalidade que é individualizada compreensiva-
mente. Se me apresentarem uma parte de uma outra canção, eu saberei cla-
ramente que não é Aquarela.
Mas, enquanto vivencio Aquarela, como uma totalização significativa,
como uma gestaltificação, não vivencio particularmente um, ou cada um de
seus versos; não vivencio cada uma das partes/possibilidades/forças de sua
totalização significativa. Vivencio o seu todo, sua gestaltificação, como tal.
Mas, especificamente, sei de antemão, intuitivamente, compreensiva e
implicativamente, o que faz parte desta totalidade significativa, Aquarela.
Todas as partes de sua letra estão presentemente contidas na sua
gestaltificação ini-cial. Tanto que se me apresentam partes de uma outra
canção saberei reco-nhecer que não é Aquarela.
Em seguida, posso vivenciar paulatinamente, performativamente, como
desdobramento dos processos formativos de formação de figura e fundo, cada
uma das partes/possibilidades, dos versos de Aquarela. Com seus sentidos,
temporalidade e intensidades, intensificações, próprios. Posso perfazer
63
particu-larmente cada uma das partes desta todização. Que, inicialmente, me é
dada como todo, como gestalt, como totalidade significativa integrada, o todo
que, não só é diferente da soma de suas partes, mas que aparece como tal,
anteri-ormente à sucessiva figuração particular de suas partes. Como gestalt,
como gestaltificação. Como perfeição.
Assim é também, por exemplo, quando perguntamos a uma pessoa:
Como você está?
E ela diz: Não sei... Mas não estou bem...
A vivência deste não estou bem... é a vivência de uma totalização signi-
ficativa.
3 Vinicius de Moraes e Toquinho.
6
Quanta coisa ele sabe, ou pode, efetivamente, vir a saber, a criar, não
obstante este singelo não sei...
O não estou bem é uma gestaltificação de mesmo tipo. Prenhe de par-
tes/possibilidades/gestaltificações, potentes, possíveis, e prestes a se desdo-
brarem e explicitarem, como forças, possibilidades, em desdobramento, que
são.
POSSIBILITAÇÃO, EXPRESSÃO, PROJETAÇÃO, PERSPECTIVA-
ÇÃO, DISEGNO, INTERPRETAÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, PERFEI-
ÇÃO.
A vivência deste não estou bem..., a vivência de Aquarela, todas as vi-
vências, como vivências compreensiva e implicativamente figurativas da
domi-nância de forças de possibilidades em desdobramento, é a vivência de
tensi-dades. De intensidades. É tensional, É intensional. É, por isso, pressão.
Ex-pressão. É um projeto No sentido de que é uma projetação, como ex-
pressão vivencial de forças, como expressão do desdobramento de
possibilidades, uma gestaltificação, de seu conjunto. Conjunto ex-pressivo,
compreensivo e implica-tivo, de possibilidades, de forças, em desdobramento
fenomenológico existen-cial, cognitivo, compreensivativo, tensional,
intensional. Ação. Gestaltificação. Perfeição.
Cognitivamente, pela vivência da emergência e desdobramento de pos-
sibilidades, somos seres tensionais, intensionais, intensionalmente projetati-
vos. Gestaltificativos – perspectivativos, disegnativos, interpretativos (herme-
neuticos), perfeccionativos --, neste sentido.
Não é outro o sentido da palavra e do conceito de perspectiva (que Ni-
etzsche apreende). Não é outro o sentido do termo e do conceito de disegno,
da pintura perspectivativa do Renascimento. Não é outro o sentido de interpre-
tação, compreensiva, fenomenológica. O sentido de hermeneutica, que Hei-
degger4 elucida.
De modo que gestaltificação, projeto, perspectiva (perspectivação), di-
segno, interpretação compreensiva são rigorosamente sinônimos neste senti-
do. Sinônimos, igualmente, de perfeição.

64
A gestaltificação, a projetação, perspectivação, o disegno, a pers-
pectivação disegnativa, a interpretação compreensiva, a per-feição de nossa
vivência. Como vivência dos desdobramentos de totalizações significati-vas,
nas quais se constituem as dominâncias dos desdobramentos de multipli-
cidades de possibilidades. Que, na emergência e desdobramentos de seus
conjuntos, aparecem, ex-pressam-se, acontecem, como tais. E que determi-
nam a vivência da sucessão temporal e rítimica de um processo de formação
de figura e fundo, e de formação criativa de coisa, que é o modo de sermos do
acontecer, o modo de sermos da ação, e do fazer. Perfeição.
4 HEIDEGGER, Martin op. Cit.
7
O MODO DE SERMOS DA PERFEIÇÃO GESTALTIFICATIVA
NÃO É O MODO DE SERMOS DO SUJEITO, NEM DO OBJETO. NÃO É
O MODO DE SERMOS NEM DA OBJETIVIDADE NEM DA SUBJETI-
VIDADE. MAS O MODO DE SERMOS DA AÇÃO, DO ATOR. QUE NÃO
É OBJETIVO NEM SUBJETIVO. E QUE ESPECIFICAMENTE É O
MODO DE SERMOS DESPROPOSITAL, NÃO CAUSAL, INÚTIL. E NÃO
REAL. PORQUE NÃO É ACONTECIDO. MAS AÇÃO. O ACON-TECER
DO POSSÍVEL. PERFEIÇÃO.
Este modo de sermos da ação, do acontecer, e do fazer, modo de ser-
mos da perfeição, especificamente, não é o modo de sermos do sujeito, nem
do objeto. Não é o modo de sermos, teorético, da dicotomia sujeito-objeto.
É o modo de sermos não teorético, não explicativo, e não moralista, da
ação. No qual não vigoram nem a subjetividade, nem a objetividade; no qual
não vigoram as relações de causa e efeito, as relações causalidade. Em espe-
cífico, é o modo ontológico de sermos da ação, do fazer, e do acontecer. É o
modo inútil de sermos, o modo de sermos da inutilidade. Ou seja, é o modo de
sermos no qual não vigoram nem os úteis, nem os usos, nem as utilidades.
E é o modo de sermos que, vigência de possibilidades em desdobra-
mentos, não é o acontecido modo de sermos da realidade. Mas o modo de
sermos da vigência das forças expressivas de tudo que vivenciamos, modo de
sermos de vivência dos desdobramentos de possibilidades, modo de sermos da
ação, da vigência da ação. Compreensiva e implicativa. Fenomenação, ges-
taltificação, perfeição.
Modo específico e próprio de um fazer, a experiência deste modo de
sermos da gestaltificação, a experiência deste modo de sermos da perfeição, é,
própria e especificamente, a experiência estética, e a experiência poiéti-ca. A
experiência poiética da experiência estética, a experiência estética da
experiência poiética... Por isso, e por ser, ação, atualização cognitiva --
fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa -- de
possi-bilidades. Poiese, estética.
Um estético e poético fazer fenomenológico existencial, fenomenativo.
Per-feição.
8
65
PERCURSO DO PERFAZER, PERFORMANCE DA
GESTALTIFICA-ÇÃO. PER-FEIÇÃO.
Vivencial, cognitiva – meramente cognitiva, ou cognitiva e muscular --,
a atualização gestaltificativa de possibilidades -- a ação, a perfeição, o fazer, o
acontecer --, é um movimento, uma moção – emoção e motivação. Especifica-
mente um movimento; um trânsito, um curso, um percurso. Devir.
Que transita, como movimentação vivencial -- meramente cognitiva, ou
cognitiva e muscular --, a partir dos níveis pré-compreensivos da ação -- do
desdobramento de possibilidades --, configurando-se compreensivamente, fe-
nomenologico existencialmente -- como figuração compreensiva, como
proces-so de formação de figura e fundo. Decaindo na condição da coisa
instalativa.
Este percurso do desdobramento, da atualização, de possibilidades é
assim o percurso vivencial da ação. Percurso e percorrer compreensivo e im-
plicativo, gestaltificativo, fenomenológico existencial e dialógico, vivencial. É
o percorrer vivencial do paulatino desdobramento de possibilidades. É,
própria e especificamente, o fazer. É a feição. A Perfeição. É, movido pela
força viven-cial do possível, do existencialmente potente, o percurso vivencial
de um pulso, de um pulsar.
Pulso vivencial este que se desencadeia, vivencialmente, na emergência
pré-compreensiva das forças das possibilidades; que se prolonga como as do-
minâncias que figuram, que se configuram compreensivamente, como forma-
ção de figura e fundo; e que se instala como coisas.
De modo que o fazer efetivamente da ação -- que é especificamente
gestaltificativo, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e
implica-tivo --, em sendo uma feição, é o que entendemos como per-feição.
Neste sentido, a perfeição, assim, nada tem a ver com a perfeição num
sentido teorético, metafísico, ou idealista. Nada tem a ver com o fazer que ten-
tasse seguir um modelo ideal. Nada tem a ver com a comparação do feito com
qualquer tipo de modelo teórico, abstrato.
A perfeição é, efetivamente, um processo vivencial, físico, portanto.
Que se constitui como o percurso vivencial da temporalidade própria e
específica do desdobramento das possibilidades. Com forças e chances
intrínsecas de se otimizar, de se perfeccionar, contínua e progressivamente,
em seus desdobra-mentos. A partir, especificamente, das competições e
argumentações das pos-sibilidades que o constituem, como processo de
formação de figura e fundo de suas dominâncias.
Na medida em que a vivência da originalidade, da perene originação, e
do desdobramento, de possibilidades, nas perenes competições e argumenta-
ções entre elas -- como processos de formação de figura e fundo, e de criação
de coisas --, pode se dar na sua temporalidade e intensidades próprias.
De modo que, quanto mais, e melhor, nós podemos nos entregar à mo-
mentaneidade instantânea do modo de sermos da ação -- na temporalidade
própria dos seus dedobramentos paulatinos de formação de figura e fundo, e
66
9
de formação de coisas; na temporalidade do desdobramento
compreensivo de possibilidades --, mais e melhor podemos perfeccionar a
ação.
Assim, na vivência intensiva, intensional, das características próprias da
momentaneidade instantânea deste modo ontológico de sermos -- característi-
cas de não objetividade, nem subjetividade; de implicatividade, de não
causali-dade, de despropósito; características não pragmáticas, e não realistas
--, mais podemos aperfeiçoar a perfeição da riqueza, originalidade, e minúcia
do des-dobramento de possibilidades, como processo formativo e criativo, de
formação de figura e fundo, e de criação de coisas. Mais podemos aperfeiçoar
a poiética do processo de sua estética. A poiética e a estética de sua perfeição.
Do modo de sermos e de fazermos da perfeição.
Perfeccionativo...
A vida muda lentamente Como a cor dos frutos A vida muda rapidamente
Como a flor em fruto Mas quando é tempo E é tempo todo tempo Mas não
basta um século Para fazer a pétala Que um só instante faz Ou não Mas a
vida muda (...)
(Ferreira Gullar. Dentro da noite veloz.).
10
BIBLIOGRAFIA
ALBERTAZZI, Lilian. The School of Brentano.
BUBER, Martin Eu e Tu.
GULLAR, Ferreira Dentro da Noite Veloz.
HEIDEGGER, Martin Ser e Tempo.

67
O PERFEITO, PERFORMAÇÃO E PERFORMANCE ESTÉTICA,
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL, HERMENÊUTICA, EXPERIMENTAL

ESTÉTICA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL HERMENÊUTICA


EXPERIMENTAL, PERFORMÁTICA, PER(FORM)ATIVA, EM GESTALT
TERAPIA E EM PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO
EXISTENCIAL

68
O PERFEITO, PERFORMAÇÃO E PERFORMANCE
ESTÉTICA, FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL,
HERMENÊUTICA, EXPERIMENTAL
ESTÉTICA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
HERMENÊUTICA EXPERIMENTAL, PERFORMÁTICA,
PER(FORM)ATIVA, EM GESTALT TERAPIA E EM PSICOLOGIA E
PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

'Não conheço ópticas mais separadas do que a do artista que observa a


elaboração de sua obra (quer dizer, se observa a ele próprio) com o olhar de
uma testemunha; e a do artista ‘que esquece o mundo’: este esquecimento é a
essência de qualquer arte monólogo; a arte monólogo assenta no
esquecimento, a arte monólogo é a música do esquecimento.”“.
F. Nietzsche. A Gaia Ciência.

... faça o que eu digo faça o que eu faço aja duas vezes antes de pensar
(in Bom Conselho. Chico Buarque de Hollanda)

A partir de agora, senhores filósofos, guardemo-nos melhor, portanto,


da perigosa e velha patranha conceitual que criou um “sujeito puro do
conhecimento, sujeito alheio à vontade, à dor, ao tempo”, guardemo-nos dos
tentáculos de conceitos contraditórios como “razão pura”, “espiritualidade
absoluta”, “conhecimento em si”: -- se nos pede sempre aqui pensar um olho
que de nenhuma maneira pode ser pensado, um olho carente absoluto de toda
orientação, no qual deveriam estar entorpecidas e ausentes as forças ativas e
interpretativas, que sem dúvida são as que fazem com que o ver seja ver-algo,
se nos pede sempre aqui, portanto, um contrasentido e um não-conceito de
olho. Existe unicamente um “conhecer” perspectivista; e quanto maior for o
número de afetos aos quais permitamos dizer a sua palavra sobre uma coisa,
quanto maior for o número de olhos, de distintos olhos que saibamos
empregar para ver uma mesma coisa, tanto mais completo será o nosso
“conceito” dela, tanto mais completa será a nossa “objetividade”. Mas
eliminar em absoluto a vontade, deixar em suspenso a totalidade dos afetos,
supondo que pudéssemos fazê-lo: Como? Não significaria isso castrar o
intelecto?...
F. Nietzsche. Genealogia da Moral.

69
O PER-FEITO É O PER-FAZIDO, PER-FORMADO, FEITO PELA
PER-FEIÇÃO: ESTÉTICA DA PER-FORMANCE. GESTALTIFICAÇÃO.
A especificidade do logos metódico da Gestalt Terapia, e a sua
contribuição para a psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial, -- e
para a psicologia e psicoterapia, de um modo geral --,é, em grande parte, a do
desenvolvimento experimental, e a experimentação do valor da psicologia e
da psicoterapia de uma estética da existência, como condição metódica para a
vivência estésica, per-form-ativa, de atualização fenomenológico existencial
de possibilidades por parte do cliente. A Gestalt Terapia, constitui-se,
experimentou, e experimenta-se, assim, como uma estética performática
experimental da existência. Ou seja, a Gestalt Terapia entendeu o radical valor
existencial deste modo de ser; e, em particular, a riqueza de sua propiciação,
no âmbito do trabalho psicológico e psicoterápico, como metodologia hábil no
propiciamento da atualização de possibilidades por parte do cliente.
Importante notar, que a atuação do terapeuta e do psicólogo, no âmbito
inter humano de sua relação com o cliente, e com o grupo, é, alinhada com
esta concepção metodológica, igualmente, estésica, estética, experimental, e
performática; dramática (ativa), poiética (fenomenativa existencialmente
generativa). Isto significa que não é teórica, não é reflexiva, não é moralista,
não é científica, não é técnica, não é comportamental.
Ou seja, da mesma forma que a Gestalt Terapia preconiza e propõe,
para o cliente, a oportunidade pontual e regular, e o desenvolvimento da
habitualidade, do estilo existencial de uma estética performática experimental
– estética performática esta de sua atualidade, de suas questões, e dos
elementos de sua crise existencial -- ela propõe esta mesma estética
performática fenomenológico existencial experimental, como logos metódico,
para a ato ação do psicoterapeuta e para a ato ação do psicólogo.
De modo que é extremamente interessante, para o esclarecimento de
concepção e método da Gestalt Terapia, em Psicologia e Psicoterapia, a
compreensão dos sentidos particulares, valores e interesses, do modo de ser
desta estética performática experimental da existência, e de sua ato ação,
atualização.
O logos metódico da Gestalt Terapia – com o qual ela contribui – é,
assim, o logos de uma estética existencial experimental e, especificamente, o
logos metódico de sua vivência performática – vivência fenomenológico
existencial, fenomenativo existencial -- per-form-ativa.
A performance é o modo de ser, fenomenológico existencial
experimental, especificamente ativo e poiético, da vivência. Através do qual
se dá a atualização fenomenoativa do possível, enquanto tal, como fenômeno
existencialmente vivido. Esse processo generativo no ser-no-mundo configura
o que chamamos de poiese.
De modo que, nem teórica, nem prática – nem técnica, nem
comportamental, nem objetivista --, nem científica, nem moralista, muito
menos realista –, a metodologia da Gestalt Terapia é, especifica e
70
eminentemente, estésica, uma este(sia)ética, experimental, performática, e
poiética.
3
Nietzsche diria física, em contra/posição a quaisquer das possibilidades
abstratas da meta-física. Física, vivencial e vividamente vivida; é, assim, a
performance.
Na performance assim (entendida do ponto de vista fenomenológico e
existencial), naturalmente, o possível, a possibilidade, enquanto tais,
vivencialmente transitam -- pela ação -- de uma condição de pré-
compreensão, compreensão, interpretação1 e objetivação. Concluindo-se,
assim, fechando-se, como o per-feito, no processo da performação, do
perfazimento, da perfeição (a gestalt).
PER
O prefixo per significa: cabalmente através de, plenamente através de.
Enquanto que feição, do Latim, significa 'fazer inteiramente, acabar, terminar,
perfazer; fabricar (com arte)2.
A “forma”, num sentido fenomenológico existencial, refere-se às
formas do vivido. De modo que temos, do ponto de vista fenomenológico
existencial, a performance, a performação, especificamente per-feição,
perfazimento, como designação do processo da vivência fenomenal, no qual a
forma se constitui, como processamento pré-compreensivo, a partir da força
do possível fenomenalmente vivido. E se configura, como tal, como
atualização compreensiva: meramente compreensiva; ou compreensiva e, mais
ou menos, motora. E/ou mais ou menos inter humana. E/ou mais ou menos
objetivativa.
Especificamente, o im-per-feito é o inconcluso. O inacabado, o
incompleto. O mal executado; e, portanto, feito incorretamente; defeituoso,
malfeito, incorreto3. Cujo ciclo (digamos) da per-feição, o ciclo de sua
performance, de sua per-formação, de seu completo perfazimento, do
perfazimento de sua totalidade, não se concluiu, não se fechou. O imperfeito é
a performance, a performação, a perfeição, o processo de formação figura-
fundo, encalacrados. Inter-rompidos, inacabados, mal acabados, abertos.
Ah, a frustração e a queixa da mulher quando o homem não quer e/ou
não sabe esperar; e o abraço e o beijo encadeados e conclusivos da inter
humana dialógica da per-feição.
PERFEITOS E PERFEIÇÃO TEÓRICOS?
Freqüentemente, os sentidos de perfeito, de perfeição, obedecem a
critérios abstratos de avaliação, critérios alienados do físico processo de sua
per-feição,
1 v. FONSECA,
2 HOUAISS,
3 HOUAISS,
4

71
processo vivencial de elaboração fenomenológico, fenomenativa,
existencial. Podemos, ter, assim, abstratos, o “perfeito”, a “perfeição” meta-
físicos... Não vivenciados, mas abstrações, exatamente, do processamento da
vivência de sua perfeição, de seu perfazimento, de sua per-formação.
Uma contradição em termos, naturalmente. Porque o que caracteriza o
perfeito é, exatamente, a vivência do processamento de sua elaboração
fenomenológico existencial, o seu perfazimento como vivência, o processo de
seu perfazimento, como vivência física, corpo-ativa.
Mas podemos pensar, assim, e muito vigora, o “perfeito” meta-físico.
De uma “estética” que, curiosamente, não é estésica! Mas, mais própria e
especificamente, é conceitual e abstrata; e que, por isso mesmo,
especificamente, não é estética. É moral e moralista.
O perfeito metafísico se constitui como adequação ótima de algo a um
seu modelo teórico; ou, mais especificamente, a um seu conceito. Um
“perfeito” teórico, que nada tem de vivencial, de vivenciado. Mais que isso,
um “perfeito” teórico, especificamente como afastamento da vivência
fenomenal de ser-no-mundo, um “perfeito” teórico que nada tem da
experienciação do‘perfazer’, da processualidade vivencial do ‘fazimento’
(perfazimento, performance, performação), vivido. Que nada tem de ‘feitura’,
como encadeamento de atu(aliz)ação vivida de possibilidade, como
possibilitação. Mas que se constitui de comparação e de avaliação, teóricas, de
adequação, do fato ao conceito4, comparação e avaliação abstraídas, e
especificamente afastadas, alienadas, da vivência.
PERFORMANCE ESTÉSICA, ESTÉTICA.
Naturalmente, na concepção e metodologia da Gestalt Terapia, e em
psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial, não se trata deste tipo
de “estética” teórica e conceitual, abstrata, meta-física; na verdade, estática.
Trata-se, de fato, da estética, que podemos dizer, redundantemente, da própria
estesia da vivência do perfazimento: estética da própria estesia da vivência do
perfazimento. Assim, podemos conceber o perfeito como processo e resultante
da própria vivência experimental, fenomenológico existencial hermenêutica,
processamento encarnado, da per-feição; não meta-físicos, mas físicos. O
feito, per-feito, resultante do processo – da travessia fenomenativa -- da per-
feição .
E, mais uma vez, como diria o Riobaldo Tartarana (aliás, per-feito por
Guimarães Rosa), a verdade, a per-feição, o per-feito, não se põe nem no
início nem na chegada, mas na travessia... Per-formação...
Na travessia... Travessura...
4 HEIDEGGER, M.
5
Este o sentido deste “per”, que está em per-feito, em per-feição, em per-
formance, em per-formação, em per-fazimento. Perfeição de ...

72
Travessia vivencial da feição, a per-feição é, especificamente, o
perfazimento, a per-formação, a performance, num sentido de processualidade
primária e eminentemente vivencial, fenomenal.
Performance que é sempre dialógica, na medida em que é toda ela e
sempre dialógica do possível e de sua possibilitação. Performance que é
freqüentemente inter humana. Performance que pode, meramente, ser, como
mencionamos, o desdobramento (“subjetivo”) de uma compreensão, na
performação compreensiva (atualização compreensiva) (a “caída da ficha”...)
E/ou que pode ser mais ou menos performação, perfazimento, objetivativo.
Este mesmo, mais, ou menos, organismicamente compreensivo; mais ou
menos voluntário ou espontaneamente expressivo, mais ou menos motor, ou
sensível, mais ou menos objetivativo. Ainda que, sempre, na ótica da
expressividade sentida e vivida, e caracteristicamente desproposital.
De parte de um sujeito?
Em seu momento próprio, não exatamente. Pelo menos no que
interessa, e é vital.
Na medida em que, fenomenal, o processo da performance se
desenvolve como vivência espontânea de desdobramento de possibilidade.
Que, como tal, é vivido e vivencial, fenomenal, fenomenativo. E não é, assim,
da ordem das relações sujeito-objeto. Da mesma forma que não é da ordem
das relações de causa e efeito, que não é da ordem do útil e da utilidade; que --
como possível pré-compreendido e possibilitação -- não é, mesmo,
naturalmente, da ordem da realidade.
Similarmente, como observamos, o processo vivencial da performance,
não é da ordem da teoria, não é da ordem da prática, nem da ordem do
comportamental; não é da ordem do científico, muito menos da ordem do
técnico. Não é da ordem do explicativo. É, especificamente, da ordem do
compreensivo, da ordem do dialógico, e potencialmente da ordem da dialógica
compreensão inter humana. É da ordem do poiético, do hermenêutico. Que,
atu(aliz)ação de possibilidade, transita, como vivência, de pré-compreensão de
possibilidade, para a sua possibilitação. Em seu característico, e próprio,
despropósito poiético.
Estamos, assim, bastante distantes do “perfeito”, e de uma “estética”,
meta-físicos, estabelecidos por comparação, teoricamente, abstratamente
(abstraídos, justamente, do processo vivido da per-feição).
Precisamos, assim, em Gestalt Terapia, em psicologia e psicoterapia
fenomenológico existencial, desta compreensão do que é o perfeito, a
performação, a performance fenomenológico existencial experimental. A
compreensão do caráter eminentemente vivido, pré-reflevivo, pré-conceitual,
intuitivo, fenomenal, hermenêutico, fenomenológico existencial,
experimental,
6

73
ativo, per-form-ativo (poiético)(de travessia da vivência da duração), do
processo de sua feição, per-feição; especificamente física, corpo-ativa,
estésica, est-ética...
Ou seja, precisamos da compreensão do quanto este processo ativo --
mais ou menos compreensivo/intuitivo, mais ou menos espontâneo/voluntário,
mais ou menos compreensivo ou motor (o próprio “caminho do meio”) --, o
quanto este processo é, em seu momento e movimentação próprios,
especificamente, vivência corporal, vivência corpoativa, sentidos, sentidação.
Estésico, assim, neste sentido (vivência configurativa das sensações, como
totalidades compreensivas específicas, e especificamente diferentes da soma
de suas partes, sensibilidade, capacidade de perceber o sentimento da
beleza).5 Propiciado por uma est(esia)-ética. Por uma Estética. Que é um
modo de proceder (uma ética), uma atitude de ação, que privilegia o,
fenomenal, o ponto de vista estésico. O ponto de vista, fenomenológico
existencial, da sensibilidade, da vivência, da capacidade de engendrar e
vivenciar o belo, o perfeito.
Deste modo, a vivência gestáltica, o logos metódico da Gestalt Terapia,
e da psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial, além de se
caracterizar como sendo fenomenológico existencial experimental, é, por isso
mesmo, uma metodologia estética e performática experimental. O interesse
metódico em Gestalt Terapia é o da experiência experimental da vivência
estésica da per-feição, no estésico engendramento próprio do perfeito, e na
vivência e apreciação estésicas de sua perfeição. Uma estética, como processo
hermenêutico de atualização de possibilidades, no âmbito da atualidade e
atualização existencial do cliente. Uma estética como procedimento metódico
do terapeuta/psicólogo.
Estética como atualização meramente compreensiva, muito
freqüentemente. Ou estética como atualização objetivativa. não importa. O
que importa é a natureza per-form-ática experimental da sua experiência. E o
desenvolvimento do ponto de vista estético, como critério existencial. Ao
mesmo tempo que o desenvolvimento de um estilo existencial performático
experimental, vigoroso, robusto, e sensível, no eterno e incontornável
processo existencial de atualização de possibilidades, no humano ser-no-
mundo. Processo que do possível e do próprio mundo se nutre, no
enfrentamento com, e no afrontamento criativo do mundo e da vida
coisificados; e no afrontamento e enfrentamento criativos da fatalidade da
própria coisidade e da própria coisificação da realidade realizada, fatalizada.
O EXPRESSIONISMO E O LOGOS METÓDICO ESTÉTICO
PERFORMÁTICO DA GESTALT TERAPIA E DA PSICOLOGIA E
PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
Histórica e paradigmaticamente, não é certamente difícil acompanhar a
linha constitutiva deste caráter fundamental da concepção e método da Gestalt
Terapia e da psicologia e psicotrerapia fenomenológico existencial.
5 HOUAISS,
74
7
De um modo mais imediato, este caráter performático advém, de modo
fundamental, do caráter performático do Expressionismo. Que, seminalmente,
influenciou o desenvolvimento da concepção e método da Gestalt Terapia.
Num segundo momento (ou primeiro), a influência vem do
perspectivismo nietzscheano, que já é fonte do perspectivismo, e do caráter
performático do Expressionismo, enquanto movimento das artes européias da
segunda metade do século XIX, e primeira metade do século XX.
Pois bem, a experiência com teatro, em especial com o teatro de Max
Reinhardt, que desde os quatorze anos de idade é experiência fundamental na
vida de Fritz Perls, e no desenvolvimento da Gestalt Terapia; a experiência de
Laura Perls com teatro e com expressão corporal, igualmente importantes, no
desenvolvimento da formulação conceitual e metodológica da Gestalt Terapia,
são experiências com artes cênicas e expressivas, de natureza e filiação
especificamente Expressionistas. São experiência que profundamente
marcarão o caráter do paradigma conceitual e metodológico da Gestalt
Terapia.
O Expressionismo6 surgiu, nos finais do Século XIX, como um imenso,
vigoroso e essencial afrontamento à hegemonia do Positivismo, do
objetivismo científico, da ciência, da objetividade, do princípio de realidade, e
da própria realidade.
Sinalizava o que viria a ser indicado, depois, pela fenomenologia
existencial, pela filosofia da existenz, e pelo existencialismo. Ou seja, que,
fora, e distanciados, desse modo de sermos que é a experiência fenomenal,
fenomenológica e fenomenativa do vivido (que não é da ordem do conceitual
e do teórico; que não é da ordem da objetividade, nem da ordem da
subjetividade, nem mesmo da intersubjetividade: porque não é da dimensão da
dicotomia sujeito-objeto; que não é da ordem da dimensão da vivência das
causas e dos efeitos, dos meios e dos fins; que não é da ordem da utilidade,
portanto; nem da ordem da realidade, na medida em que é, antes,
essencialmente prenhe de possíveis não realizados), distanciados deste modo
de sermos da vivência fenomenal, eminentemente experimentativa, estamos
exilados do que nos é ontologicamente mais essencial.
A Experiência fenomenal do vivido não se movimenta no âmbito da
explicação, da teoria e da conceituação; também não se movimenta no eixo
das causas e dos efeitos, da causalidade. Não é da ordem da utilidade, ainda
que dela brotem todos os úteis e as suas utilidades, mesmo que dela provenha
a objetividade do mundo. Sobretudo, é experiência que não é da ordem da
realidade (no sentido objetivo do termo), na medida em que não é da
dimensão da objetividade; e é, muito mais, impregnada de possível e de ação
possibilitativa, do que de real.
6 Expressionismo
8

75
Pois bem, fora e distanciados dessa insólita experiência fenomenal e
fenomenativa do vivido, sinalizava o Expressionismo estamos exilados. O
mundo, enquanto realidade objetivada não é a casa do homem, como diria
Heidegger.
Num momento em que o mundo e a vida coisificados avizinhavam
absurdos e terrores nunca imaginados, a vivência fenomenativa humana
reivindicava expressão, em seus próprios termos. E veio o Expressionismo,
representado, naquele momento, pelo pavor do Grito, de Munch.
O Expressionismo reivindicava, então, expressão e lugar para este
modo de sermos que é o vivido, o fenomenal, o existencial; potente e
possibilitativo, poiético. Mesmo, e em particular, contra a estranha sensação
de absurdidade, por não ser esta dimensão essencial do humano e do mundo,
da ordem das relações sujeito-objeto, da ordem das relações de causa e feito,
da ordem da utilidade, nem mesmo da ordem da realidade.
O Expressionismo7 surge, então, como um estilo, artístico.Mas, na
verdade, com muito mais amplas implicações; implicações em particular
culturais, e especificamente existenciais. Um estilo artístico e existencial, que
intenta centrar-se na, e concentrar, a experiência dita subjetiva: a experiência
fenomenal, fenomenológica e fenomenativa do vivido.
De modo que, centrada, e própria, e otimamente, concentrada, possa
esta experiência manifestar-se potente, fluída, expressiva, e integralmente;
como ato expressivo, como performance, per-form-ação. A performance que
configura a obra de arte, ou o desempenho artístico, como per-feição, como
per-feito; se transita, plena e fluidamente, pelo ciclo de sua complementação,
ciclo de sua per-feição, de seu perfazimento, na expressão, ato(aliz)ação, mais
ou menos compreensiva, e sempre fenomenativa; mais ou menos objetivativa,
da forma de um possível, que se atualiza em sua per-feição.
A experiência do vivido podendo concentrar-se como uma mola, ou
como a musculatura de uma pantera no prenúncio do bote; e botando,
atu(aliz)ando o bote expressivo, na performance.
Assim nasceu, e atualizou-se, uma Isadora Duncan, e sua dança
expressionista; a arte dos pintores expressionistas, dos escultores, do teatro
expressionista, do cinema expressionista (uma idéia na cabeça, e uma câmera
na mão...), da arquitetura expressionista, da pedagogia expressionista... da
Gestalt e da Gestalt Terapia...
Sempre, o artista expressionista é um artista performático, neste
sentido. Não apenas nas artes cênicas, como no teatro e na dança, por
exemplo. Nas artes plásticas, os escultores e os pintores são, igualmente,
performáticos expressionistas. Concentrando artística e sensivelmente a
vivência fenomenativa de sua inspiração, como a musculatura de uma pantera
armando e presentificando o seu bote, e botando, na conformação
performática, no perfazimento, de um per-feito artístico, como obra de arte.
Assim, mesmo um pintor ou um escultor expressionista é performático.
7 Expressionismo
76
9
Num sentido radical8, são eminente, própria, e especificamente,
estésicos e est-éticos, os performáticos expressionistas. Centram-se, e buscam
adensar, a vivência fenomenal, a sensibilidade, corpo, vivido, sentidos, na
vivência da configuração de seus possíveis, e de suas possibilitações; e
investem-se estésicamente, o que quer dizer esteticamente, na performação
vividamente vivida, e expressiva, de um per-feito como feito artístico.
A beleza e a magnanimidade, a incomensurabilidade, fascinação, graça
e mistério, deste feito, a sua perfeição, advêm do processo próprio de sua
feitura – específica e propriamente per-feitura. Que, essencialmente, permite e
configura-se como a atualização per-feita, em sua formação e ex-pressão (ex-
pulsão) plenas, de um possível; na estesia do processo de sua per/feição.
Toda a sua guiação, portanto, a guiação da perfeição e da performance,
é, eminentemente, estésica; especificamente estética. A aquiescência na
estética, e a vivência estésica e pré-compreensiva de uma configuração de
possíveis. E a estética, e a estesia, de sua atu-ação, mais ou menos
compreensiva, ou mesmo no lusco-fusco organísmico da compreensão; mais
ou menos objetivativa, mais ou menos motora, mais ou menos
voluntária/espontânea, mais ou menos interhumanamente inter-ativa.
A estética e a estesia de dar à luz, como feito, como perfeito – e
bendito, vale dizer – algo de absolutamente singular, novo, criativo, original e
belo, em sua acabada per-feição.
A vivência estética, estésica, do sentimento de beleza advém da estesia
de ser-se e exercer-se à imagem e semelhança de Deus, ou de ser-se e exercer-
se divino, no processo da perfeição criativa.
VIGOR, BRILHO, INTENSIDADE, FASCINAÇÃO, UNIDADE,
GRAÇA...
Todo este processo de feição, de perfeição, perfazimento, é, enquanto
processo vivido -- vividamente vivido --, processo de formação de figura e
fundo. Como indicou Perls9, este processo de formação de figura e fundo tem,
é, em si, a fonte da avaliação e do valor. E tem características,
fenomenológico existencialmente vividas, intrínsecas e peculiares, tais como
vigor, brilho, intensidade, fascinação, unidade, graça...
Tais características estéticas fenomenologicamente intrínsecas ao
processo de formação de figura e fundo decorrem especificamente da
qualidade estésica, estética, vivencial, do processo da performance, do
processo da perfeição. Que é propiciado, vivido, concluído, e avaliado,
esteticamente, o que quer dizer estesicamente.
São características do processo de formação figura-fundo performático
que se perdem na imperfeição: ou seja na im-per-formação. Quando a per-
formação, a
8 De tomar pela raiz, como diria W. Reich.
9 PERLS,
10
77
performance, é interrompida em sua per-feição, e resta o per-feito
inconcluso, inacabado. Específica, e propriamente, imperfeito, encalacrado e
interrompido, aprisionado, no processo de sua per-feição.
PERFORMANCE E A POSSIBILIDADE DO DESEMPENHO
HISTÉRICO. A VIRTUALIDADE É A DOENÇA.
De um modo curioso, podem ser aparentemente próximas, ainda que
decididamente inconfundíveis, a performance e a histeria.
E, a bem da verdade, o próprio Expressionismo chegou a ser acometido
em certos momentos pela confusão, e pela ameaça do desempenho histérico.
Que meramente simula a performance; na sua insensibilidade, e impotência,
para a vivência da perfeição, e para a oferta ao mundo de algo perfeito a partir
de possíveis.
A própria Gestalt Terapia, e mesmo a sua cultura, já foram afetadas
pelo mal entendido. Talvez o seja menos, hoje. O risco, aliás, é corrente, na
medida em que a confusão entre performance e desempenho histérico grassa,
panepidemicamente, na cultura da modernidade. Certamente como uma
aversão ao possível e à possibilitação, e em conseqüência de seus
investimentos radicais na mímesis, na imitação e na simulação, na cultura do
espetáculo e do parecer.
Creio que a advertência com relação à possibilidade da confusão entre
performance e desempenho histérico já é feita no I Ching10, no Hexagrama
61. Que é representado pela pata de uma ave sobre um ovo, a chocá-lo.
Se o ovo estiver efetivamente choco, fecundado, e contiver um
embrião, o choco (o ato de chocar) chegará a termo, na geração de um
pintinho.
Mas, se o ovo não estiver fecundado, por mais que a ave o choque, dele
não resultará um pintinho...
Suprema metáfora da ação... A ação que decorre de uma “verdade
interior”, ou seja, que está em si emprenhada, impregnada, de possível, é
como o desempenho, a performação, perfazimento, de um ovo fecundado. Em
seu momento oportuno, dará à luz o fruto perfeito de sua novidade.
A ação que não decorre de uma verdade interior, que não se enraíza
num possível e em sua atualização, não gerará frutos nem novidade, e será
estéril.
O “embrião” da perfeição, e do que especificamente podemos entender
como ação, como ato, como fruto e novidade – diferentemente do
desempenho histérico -- é a impregnação estésica e estética pelo possível, e a
sua performação, perfeição, em um per-feito.
10 I Ching
11
Simulação, o desempenho histérico, não está fecundado por este
“embrião”, pela vivência fenomenal do possível; e pela disposição para a
perfeição, para a performance, por ele alimentada e potencializada, no
engendramento de um per-feito. Infenso e hostil ao possível e a sua
78
possibilitação, infenso e hostil à novidade, à criação, à mudança, o
desempenho histérico fecha-se para eles, e é comportamento estéril. Mera
virtualidade.
E esta virtualidade -- que se impermeabiliza para o possível,
reprimindo-o, quando poderia atualizá-lo, em sua urgência e emergência, no
processamento de sua perfeição --, é a doença propriamente moderna,
insidiosa e panepidêmica.
Prestemos atenção, pois, a virtualidade é a doença.
Nada mais distinto, portanto do que performance estética e desempenho
histérico.
[]
PERFORMANCE E SENTIDO DO TRÁGICO
Uma última consideração, importante.
A de que a vivência do possível e de sua atualização na per-feição, a
performance, de um perfeito, demanda eminentemente como condição a
estética e a estesia do sentido trágico, tal como Nietzsche o recuperou dos
Gregos antigos.
Atualização de possibilidades, eminentemente, a vivência estésica do
possível, esteticamente propiciada, demanda e configura a superação da
medida do estabelecido como tal, em sua individualidade; e a sua superação.
Na performance, e em decorrência da performance, nada será como
antes. O preposto, e suposto, sujeito, estabelecido ao nível da realidade
coisificada, desmesura-se de sua individualidade e de seu tempo próprio. Na
vivência de um modo de ser que não mais comporta a dicotomia sujeito-
objeto, pelo menos até o fim do processo da perfeição. Jamais será o mesmo
preposto. Mudam as suas condições e o seu mundo objetivado, muda ele
próprio, no engedramento da novidade do possível perfeito.
De modo que a vivência da performance, o engendramento do perfeito,
na atualização do possível, determinam sempre finitudes. O sentido do trágico
é exatamente a vivência compreensiva dessas finitudes, e a afirmação delas,
como afirmação estética do possível e de suas forças formativas, da perfeição,
da performance.
Sempre a alternativa entre a identificação com o que se fina, e declina
na coisidade; ou a identificação com o incerto e aventuresco mergulho no
possível e na possibilitação, como per-formação, como per-feição, dele
decorrente; a identificação com a vivência estética da beleza e do belo na
perfeição e no perfeito, per-formado.
12
Para o sentido do trágico, desde sempre e sempre, esta identificação
com a vivência da potência do possível para a per-feição; a opção
inquestionada pela identificação com o vigor, brilho, intensidade, fascinação,
unidade, graça da perfeição e dos per-feitos...
13

79
PERFORMANCE, ARTE MONÓLOGO E A MÚSICA DO
ESQUECIMENTO. TOMADA DE INCONSCIÊNCIA, E DRIBLE DE
CORPO NA CONSCIÊNCIA.
Em contraposição ao desempenho histérico, simulado, e dissimulado,
da virtualidade, a performance, a perfeição, tem tudo da integração da arte
monólogo, que se diferencia da arte diante de testemunhas, de que fala
Nietzsche11, no aforismo 367 de A Gaya Ciência. Uma arte, a arte monólogo,
em que o ator é todo ação, DRAMA. Arte monólogo eminentemene dialógica,
ativa, fenomenoativa, experimental e poiética. Sem a possibilidade de que o
ator em sua integração como tal possa configurar-se subsidiariamente como
um observador de si mesmo, enquanto re-primiria a força do possível, e a
sublimaria...
Tudo o que se pensa, escreve, pinta, compõe, ou seja, tudo o que se
esculpe e constrói, revela ou da arte monólogo ou da arte diante de
testemunhas. (...) Não conheço ópticas mais separadas do que a do artista que
observa a elaboração de sua obra (quer dizer, se observa a ele próprio) com o
olhar de uma testemunha; e a do artista ‘que esquece o mundo’: este
esquecimento é a essência de qualquer arte monólogo; a arte monólogo
assenta no esquecimento, a arte monólogo é a música do esquecimento.”“.
A característica do esquecimento é essencial à performance estética, e
tema caro à filosofia da vida de Nietzsche. Isto porque, o que muito nos
interessa, o processo da perfeição, a performance, em sua concentração
fenomenativa, caracteristicamente instaura um esquecimento, é momentum de
esquecimento. De modo que o esquecimento é mesmo uma condição
específica de sua momentaneidade.
Nietzsche investe, a marteladas, contra a supervalorização da
consciência. Um erro a supervalorização da consciência, diria ele,
supervalorização que é da ordem do reativo, e não do ativo. A
supervalorização da consciência constitui-se em supervalorização da memória,
e supervalorização da história.
No âmbito desta supervalorização, proscrita a possibilidade do modo de
ser do esquecimento, fenece miseravelmente a potência do modo de ser
possível, e da possibilidade da performance estética que ela pode engendrar.
No sentido da garantia das condições da vivência perspectivativa,
estética, performática, do possível, e de sua possibilitação, Nietzsche12 dirá:
(...) De fato, está mais do que no tempo de avançar contra os
descaminhos do sentido histórico...
11 Nietzsche, F, Gaia Ciência. Lisboa, Guimarães e Cia Editores, 1984.
p. 276.
12 NIETZSCHE, F. PENSADORES, p.69.
14
O homem teria de ler (na história) assim como Goethe aconselha que se
leia o Werther: como se ela clamasse, ‘sê um homem e não me sigas!’13

80
Mais importante do que seguir a história é performá-la. E condição
essencial da performance, do momento propriamente performático, é esta
estética monólogica e ativa do esquecimento.
Todo agir requer esquecimento (...) Portanto é possível viver quase sem
lembrança, e mesmo viver feliz, como mostra o animal; mas é inteiramente
impossível viver sem esquecimento, simplesmente viver. (...) há um grau de
insônia, de ruminação, de sentido histórico, no qual o vivente chega a sofrer
dano e por fim se arruína, seja ele um homem ou um povo ou uma
civilização.14
... nas menores como nas maiores felicidades é sempre o mesmo aquilo
que faz da felicidade felicidade: o poder esquecer ou, dito mais eruditamente,
a faculdade de, enquanto dura a felicidade, sentir a-historicamente.15
E possa ser assim entendida e ponderada minha proposição: ‘a história
só pode ser suportada por personalidades fortes, as fracas ele extingue
totalmente’.16
Nesses efeitos, a história é o oposto da arte: e somente quando a
história suporta ser transformada em obra de arte e, portanto, tornar-se plena
forma artística, ela pode, talvez, conservar instintos ou mesmo despertá-los.17
13 Ibid.
14 op.cit. p 58. Grifo nosso.
15 Ibid.
16 op.cit. p 64.
17 op. cit. p 65.

81
A FOTOGRAFIA DO FOTOGRAFADO, & A FOTOGRAFAÇÃO

82
A FOTOGRAFIA DO FOTOGRAFADO, & A FOTOGRAFAÇÃO
Fotação, fotática, fotética & fotografia
Quando tal, apenas o registro é digital.
A criação, a produção, fotografação, continua, inapelavelmente,
analógica...
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

Parece importante diferenciarmos que, na arte do que chamamos de


fotografia existe: o momento artístico da estética da ação, da fotografação; e
existe o registro da foto, a grafia da foto, a fotografia propriamente dita.
Fotografação, e fotografia, assim...

Enquanto que, como coisa, a fotografia dê-se como objeto. Na


inapelável dicotomia sujeito-objeto da coisa, característica da coisidade – ainda
que possa vir, em seguida, a não sê-lo, a não ser objeto; libertada da condição
da coisa pela olhação do olhar do ator.
Como estética, como arte, a fotação, ação, estética -- inamovivelmente
no modo de sermos da ação, nunca é a contemplação do objeto pelo sujeito; a
expectação, expectação, do objeto pelo sujeito, teorética...
Mas a inspectação do ator. No modo de sermos do ator, da ação. Daí
fotação, ação, arte, estética, em específico. Momentaneidade instantânea que
não pode ser confundida com a coisidade da fotografia.
Ação, modo de sermos do ator, a fotação especificamente é pré-
reflexiva, dá-se no modo pré-reflexivo de sermos... Coisa, inapelavelmente
apreendida enquanto tal, na condição de um objeto que pode ser contemplado
por um sujeito, teoreticamente, a fotografia é reflexiva.

Trata-se na verdade, a distinção, dos termos da mesma questão crucial


com que se defrontaram os Impressionistas, e os Expressionistas.
O sumiço, na estética, na arte, não só da contemplação espectativa,
expectativa, do objeto. Mas a impossibilidade, na arte, e na ação, na estética,
da cópia, da reprodução de um objeto. O sumiço do objeto na ação, o sumiço,
igualmente, do sujeito; o sumiço da própria dicotomia sujeito-objeto, no modo
de sermos, jeto, da ação, da estética, da arte.
Domínio da plástica implicativa da ação...
Antes projeto, do que ob-jeto, ou sub-jeto; ou do que sujeito-objeto.
Importante frisar que, ao não vermos o mundo como objeto, não se trata,
em absoluto, de não vermos o mundo, em particular em sua alteridade
específica. Mas de que, na ontológica, o mundo, em sua incontornável
83
alteridade, em absoluto não se dá como objeto, como contemplação objetiva.
Mas como a compreensão da implicação da dialógica da ação. Efetivamente
como um tu. Em sua alteridade absoluta.

A questão ganha importantes contornos quando se trata de vermos,


registrarmos, e falarmos do outro.
Vê-lo e descrevê-lo como coisa, na pobreza de sua experienciação
como ob-jeto; na ausência da riqueza da experimentação com ele na sua
condição de projeto?
Ou vê-lo, registrá-lo e descrevê-lo na interação, como invenção, ação,
estética, arte, atualização do possível. Como jeto, especificamente, no modo
projeto de sermos.
Na específica dialógica do ontológico modo de sermos da ação?
A questão da distinção da momentaneidade da fotação desafia-nos à
resignação à inevitabilidade do projeto da invenção outro – estética, e
dramática, da pontualidade momentânea da dialógica da interação com sua
absoluta alteridade.
E por isso assumirmos a total responsabilidade – o outro é alteritário e
dialógico, e nossa invenção na dialógica...
Ou resignarmo-nos à irresponsabilidade de condená-lo, e condenarmo-
nos, à petrificação em sua coisidade...

É ilusiva a discussão sobre a qualidade, e a opção, digitais da


fotografia; ou o filme supostamente analógico, na fotografia.
Principalmente, porque ilude a questão principal.
É necessário entender que na foto digital, apenas o registro material da
fotação, a fotografia, a grafia da foto, é que é digital... Apenas o registro.
Em si, na duração de sua momentaneidade instantânea, a vivência
estética da formação, a vivência estética da criação, a produção criativa da
foto, a fotação, que produz a fotografia; como vivência dramática, ação, de
produção de sentido, natural, e inapelavelmente, é especificamente, e continua,
eminente e especificamente, analógica.
É vivência gestaltificativa da ação e de sua elaboração de sentido.
Especificamente
Como sempre...
Latu sensu, somos todos artistas fotografativos, fotógrafos; porque
somos todos artistas. Já que existir em específico é arte.
Num sentido mais estrito, os artistas são os que, naturalmente,
compreendem; e eventualmente fotófilos, entregam-se à estética da

84
fotografação; o modo de sermos que produz o registro fotográfico. A
fotografia...
Isto, naturalmente, aponta para a importância, estética, ontológica, de
adequadamente considerarmos a distinção entre o registro fotográfico -- ou
eletrônico, por um lado; e a sua produção, a ação fotografogênica,
propriamente dita.
A questão aponta para a distinção entre as características pré-reflexivas,
ontológicas, e presentativas, da ação; no caso, da fotação, da fotática,
fotética... Compreensivas, implicativas, gestaltificativa, e dialógicas.
Fenomenológico existenciais, enfim. E as características especificamente da
fotografia, como registro, como instalação, enquanto coisa, e reflexão. Objeto,
e subjeto. Disponível à teorética e à explicação.
A questão aponta para as próprias distinções entre as características
ontológicas da ação, do presente; e as características não ontológicas,
meramente ônticas --, da coisa, e do reflexivo, em sua entidade. As
características pré-reflexivas da ação e sua concomitante elaboração de
sentido, e o caráter conceitual do reflexivo, do ôntico, que em sua teorética não
tem sentido. Não é elaboração de sentido. Porque, ontológico, o pré-reflexivo e
o seu em específico sentido é analógico. E o digital é conceitual e reflexivo.
Reflexivo, o digital é apenas um caso do conceitual.
No limite, a questão passa pelas questões tematizadas,
problematizadas, e venturosamente superadas pelo Impressionismo, e pelo
Expressionismo, com relação à ação.
Em contraposição com a objetividade, e à realidade.
A ação não é coisa, nem comportamento – que é coisa --; a ação não é
representação, mas apresentação; a ação não é reflexão, a ação é
prerreflexiva: nem subjetiva, nem objetiva. A ação não é teorética. A ação não
é moral, nem moralista. A ação não é a intrínseca expectativa, espectativa, do
sujeito, na sua contemplação do objeto, a teorética da dicotomia sujeito-objeto.
Mas inspectativa; a inspectação, do ator.
A vivência da ação é não causal. É desproposital.
Não é útil nem prática, não é pragmática. A ação não é prática.
A ação não é técnica.
Nem passado, nem acontecido, a ação não é coisa, não é ente -- coisa.
Mas presente -- acontecer... Já que fenomenática, fenomenética; e poiética.
E o sentido, analógico, é uma decorrência da duração da ação. Como
compreensão de sua implicação. O sentido se constitui como apuração da
multiplicidade de possibilidades da ação. O sentido se constitui comoapuração
da multiplicidade de possibilidades que constituem a ação. O sentido se nutre
da multiplicidade, e qualquer redução ou purificação o empobrece
inexoravelmente.
Já o conceito vive da purificação, da unificação.

85
Já em Aristóteles, se distinguem os modos do conhecimento em teórico,
prático, e poiético.
Reflexivo, o teórico -- já que flexão – do sujeito sobre o objeto --, e
repetição, re-flexão...
Flexão e reflexão, do sujeito sobre o objeto. Contemplação do objeto
pelo sujeito. No modo coisa de sermos, modo ôntico de sermos. Teorética.
Modo de sermos no qual --, não mais jeto, não mais o modo projeto de
sermos, não mais o modo de sermos do desdobramento de forças, as
possibilidades, não ação --, em específico, somos as coisas sub-jeto e ob-jeto.
Com o seu modo próprio de cognição. No qual o sujeito é contemplador de
objetos, um espectador, expectador. A teorética.
O modo estético, poiético de sermos, é pré-reflexivo.
No estético, poiético, não somos sujeito, ou objeto. Ação, não somos
coisa, o acontecido. Mas o acontecer. Não somos espectativa, expectativa;
mas inspectativa, inspectação.
Ontológicos, lógicos somos. E não meramente ônticos.
O modo prático de sermos se define por sua utilidade.
Em sua objetividade, o modo coisa de sermos, o modo acontecido, pode
ser útil. E em sua utilidade, é prático. Pragmático, na medida em que o seu
conhecimento é definido pela praticidade de sua utilidade.

O poiético modo de sermos é deliciosa e produtivamente inútil. A virtude


que dá... Segundo Nietzsche, no Zaratustra.
Projeto, projetação, possibilitação; desdobramento de possibilidades...
jeto, o modo poiético de sermos não tem objetividade. Não tem a disjetividade
que permite a inércia, e a utilidade da coisa. A utilidade do acontecido.
O modo poiético de sermos é a imensa pulsação de produtividade
gratuita. Gratuita e inútil, na dramática de sua atividade.
Na produtividade da inutilidade gratuita de sua inobjetividade reside,
entretanto, o elemento definidor, vital, e poiético da estética. Estética do
Impressionismo e do Expressionismo, estética do artista da fotação, e da
fotografia.
A impossibilidade do objeto, a impossibilidade do modo de sermos do
objeto... E, portanto, a impossibilidade de cópias de objetos...
É importante entender que esta impossibilidade -- do objeto, e do modo
acontecido de sermos do objeto – é densamente povoada por sua inércia... Por
seu caráter distensional, não intensional, inintensional... O objeto, o modo de
sermos, acontecido, do objeto, não é tensão porque não é pulsátil, não é
possível, não é força, possibilidade em desdobramento, não é ação, assim...
Não é a dramática, a ação, do modo de sermos do acontecer...
Neste seu caráter inintensional, o objeto não é um tu, mas um isso. Não
é a dialógica da interação de um eu-tu.
86
E, na sua inintensionalidade, em sua extensionalidade específica,
enquanto isso, enquanto coisa, não pode nos incomodar, desacomodar e
despertar com a provocatividade de um tu.
Carente da provocatividade de um tu, da provocatividade dramática de
um tu em seu caráter ativo, não interessante, não é inter-essante, não é
interessativo... Não provoca o interessere, a dialógica, do possível... O
interessere da produção artística. Da dramática da produção artística.
A dramática da produção artística, dom devir do sentido, enquanto
produção, especificamente, não se dá no modo de sermos da improdutividade
do sujeito, e dos objetos. A dramática da criação da dialógica da produção
artística não se dá na específica improdutividade, distensional, do modo útil de
sermos.
Mas efêmeramente radica na produtividade da ontológica do modo inútil,
e poiético, de sermos da ação, do acontecer... Da compreensão e da
implicação, em sua multiplicidade própria de possibilidades que converge em
ação.

De modo que quando se trata da momentaneidade instantânea da


dramática da ação da produção artística, e de sua inerente produção de
sentido, não se trata de sujeitos e de objetos. Não se trata de representação,
mas de apresentação. Não se trata de reflexão, mas de ação. Prerreflexão, não
se trata de causalidade, de propósito, de técnica, de utilidade, de realismo...
Mas de ação, em específico.
De inter-prèt-ação, compreensiva, fenomenológico existencial, que na
sua produção de sentido a partir da multiplicidade de sua implicação, é lógica,
analógica.
E a ação não é objetiva, nem subjetiva. Não é do modo de sermos dos
sujeitos e dos objetos... Não é espectação, nem expectação; mas inspectação.
Não se trata de representação – nem psicológica, nem material. Mas de
vivência da apresentação. Não tem a ver com meios, e fins, é imediata. Não
tem a ver com causas e efeitos. Não tem a desordem da improdutividade da
utilidade. Mas é da específica ordem, do ordenamento tensional, intensional, da
produtividade lógica, fenomenológica, dialógica, analógica, do sentido, do inútil.
Não é realista, nem da ordem do real, nem da realidade. Mas da ordem
do possível, e de sua pulsátil (Lícia) atualidade e atualização.

Esta era a questão que explodia e interessava aos Impressionistas , e


aos Expressionistas. E animou a sua capital revolução no mundo da arte, e das
culturas europeias e mundiais. Em termos de arte, em termos da
momentaneidade instantânea da produção artística, definitivamente não se
tratava, e não se trata, de copiar objetos... Os objetos existem como coisas
acontecidas. O devir da ação é a duração do vir a ser de algo que não existe.

87
No modo artístico de sermos da inutilidade produtiva, da produtividade
inútil, no modo de sermos da vivência da produção do sentido, analógico, não
estamos no modo de sermos dos sujeitos e dos objetos; mas no modo de
sermos da ação. No modo de sermos em que o tu em sua provocatividade se
desvela e se revela como interessante, quer dizer, dialógico. Não copiamos um
objeto, não copiamos o tu, porque o tu não é objeto, o tu não é copiável. Não
há um único ponto de inércia, e coisidade, na interação entre o eu e o tu, a
partir do qual o tu possa ser copiado.
Como ação, interação, o eu e o tu constituem-se reciprocamente, na
duração da momentaneidade instantânea de sua dialógica, e tudo que
podemos é interpretá-la, na sua pontualidade. E, inevitavelmente, como
polaridade alteritária e dinâmica, em relação a um eu, como o tu, igualmente
dramático, ativo, alteritário, e igualmente dinâmico.
O, posterior, objeto artístico não se produz em sua alteridade e interesse
como cópia, mas inevitavelmente como ação, como interpretação.
E, intrinsecamente, a interpretação, compreensiva -- a ação, em
específico no modo não coisa, no modo presente, de sermos --, envolve a
vivência da constituição do sentido, como elemento cognitivo, compreensivo,
como a própria compreensão.
Nomodo de sermos da ação, a vivência da constituição do sentido, em
específico, não é conceitual, é pré-conceitual. Do mesmo modo que não é da
esfera do ente, mas da esfera do presente. A constituição do sentido é
analógica. E o digital é apenas um caso do conceitual. O sentido, o analógico,
é pré-conceitual. E constitui-se, como tal, a partir da vivência da multiplicidade
de sua implicação.
Explicação, o conceitual, unifica-se e purifica-se como tal.
Implicação, a vivência de sentido nutre-se de sua multiplicidade. Da
multiplicidade de possibilidades constituintes da vivência da ação, no modo
pré-reflexivo e pré-conceitual de sermos.
Assim, enquanto o registro fotográfico, a fotografia, se dá como objeto,
no modo coisa de sermos, reflexivo e conceitual, a ação fotocriativa a fotação,
se dá no modo de sermos criativo, formativo, do acontecer. Pré-reflexivo e pré-
conceitual. Analógico. O modo de sermos da ação e do ator.
Cabe, assim, distinguir entre fotação e fotografia.

A questão da foto, como dissemos, leva-nos a considerar a questão da


apreensão do outro.
Não podemos apreender o outro, como se copia um objeto. O outro se
nos dá como tu, no modo de sermos ontológico, da ação.
Considerado que em sua ontológica fenomenológico existencial e
dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa, o outro não é coisa. E
recusando-nos a tratá-lo como tal, recusando-nos a encerrá-lo no modo de
sermos de sua, da nossa, coisidade, entendemos que, em sua alteridade

88
pulsante (Lícia) de possível, o outro só se nos pode dar como interação, como
ação. Na dinâmica interativa da dialógica.
Do mesmo modo que o outro não é coisa, na originalidade de sua
alteridade absoluta. Igualmente ele nunca, em específico, se pode dar como
objeto. Como conceito, digital. A vivência da interação com o outro é vivência
de sentido, analógica, portanto.
Não se dá a um inoperante sujeito.
Protagonista específico da dialógica de uma interação, em sua
alteridade absoluta, o outro só pode se dar, no modo de sermos da ação, como
ator, interator, na interação com outro ator, na inspectação da dialógica... Não
podemos esperar o outro no objeto, ou na objetividade. Que são características
do passado.
O objeto deve consumir-se para tornar-se presença... Observava
Buber...
Não ente, presente, presença, o outro, livrando-se do casulo de sua
objetividade, só se dá na atualidade do modo de sermos do atual e da
presença, da ação. Na dialógica da interação.
Nesta, o outro já não é apenas alteridade, ou apenas invenção.
Na dramática da dialógica da interação, o outro é a possibilidade da
alteridade original e absoluta, que se dá como possibilidade de invenção. Do eu
e do tu. O outro é sempre criação de um ator, na dialógica interação com sua
alteridade absoluta.
Não existe um outro a ser copiado. Mas um outro, sempre, a ser
inventado na interação com sua alteridade, no analógico modo de sermos da
ação.
Do mesmo modo que na foto. Se o equipamento que faz o registro da
fotografia é digital, a vivência ontológica da fotação é eminentemente, própria e
especificamente, irrecorrivelmente, analógica... Pré-conceitual... Pré-reflexiva...
E, neste caso, criação. Há uma incompatibilidade entre o conceito, o
conceitual; e a arte. A arte é pré-reflexiva, e pré-conceitual. Já o artefato, o
artifício...

89
A EXPLICAÇÃO &
A IMPLICAÇÃO COMPREENSIVA
COMPREENSÃO IMPLICATIVA
INTERPRETAÇÃO COMPREENSIVA
COMPREENSÃO INTERPRETATIVA

AÇÃO
COMPREENSIVAÇÃO
GESTALTAÇÃO

90
91
A EXPLICAÇÃO &

A IMPLICAÇÃO COMPREENSIVA
COMPREENSÃO IMPLICATIVA
INTERPRETAÇÃO COMPREENSIVA
COMPREENSÃO INTERPRETATIVA

AÇÃO
COMPREENSIVAÇÃO
GESTALTAÇÃO

Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

O que o poeta quer dizer


no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.

Ferreira Gullar.
A Não Coisa.

Conteúdo
CONCLUSÃO. .....................................................................................94
INTRODUÇÃO.....................................................................................96
1. O EXPLICATIVO I. Consciência Reflexiva. ...................................... 103
2. O EXPLICATIVO II. Comportamento ............................................... 104
3. IMPLICATIVO I. Ação. A consciência do Ator.................................. 105
4. IMPLICATIVO II. Ação. Possibilidade. ............................................. 106
5. IMPLICATIVO III. Ação. Intensionalidade. ....................................... 107
6. IMPLICATIVO IV. Ação. PLexo de Possibilidades. ........................... 108
7. IMPLICATIVO V. Ação. Plexo. Implexação. Implicação. ................... 109
8. IMPLICATIVO VII. Ação. Compreensão. ......................................... 110
9. IMPLICATIVO VIII. Ação. Fenômeno. Fenomeno Logos.
Fenomenologia. ................................................................................ 111

92
10. IMPLICATIVO IX. Ação. Inter-pret-ação, Compreensiva. ............... 112
11. IMPLICATIVO X. Ação. Estética. ................................................... 113
12. IMPLICATIVO XI. Ação. Poiese. Poiético, Poiética. ........................ 114
14. IMPLICATIVO VI. Ação. Gestalt. ................................................... 115
15. IMPLICATIVO XII. Ação. Perfazimento fenomenológico existencial
dialógico, compreensivo, implicativo da ação. Performação.
Performance..................................................................................... 116
16. IMPLICATIVO XIII. Ação. Trágico. A implicação, a ação, é trágica. 118
17. IMPLICAÇÃO. Ação. .................................................................... 119
18. IMPLICATIVO XIV. Ação. Implicação. Implexação. Perplexificação.
Perplexidade. ................................................................................... 120
19. IMPLICATIVO XV. Ação. Emoção .................................................. 121
20. IMPLICATIVO XVI. Ação. O Presente, a atualidade. Implicação, Ação.
O Acontecer. .................................................................................... 122
21. IMPLICATIVO XVII. Ação. Pathos, Empatia, Pathética. .................. 123
22. IMPLICATIVO XVIII. Ação. Experimentação Fenomenológica. ....... 124
23. IMPLICATIVO XIX. Ação. Empirismo Fenomenológico Existencial
Implicativo ........................................................................................ 126
24. IMPLICATIVO XX. Ação. Argumentatividade e Aporia das
Possibilidades. O Método Aporético. ................................................. 127
25. IMPLICATIVO XXI. Ação. Dialógica. .............................................. 128
26. IMPLICATIVO XXII. Ação. Implicação. Ontologia. Peculiaridade
Ontológica do ser humano: ser ontológico. ........................................ 129
27. EXPLICATIVO 3. Inação. A Coisa, e a re-flexão sobre a coisa. A mera
re-petição da coisa. .......................................................................... 130
28. EXPLICAÇÃO. Inação. Reflexão – Teoria. ..................................... 132
29. EXPLICAÇÃO. Inação. Comportamento. Com-portamento. O
comportamento é explicativo. ........................................................... 133
CONCLUSÃO. ................................................................................... 134

93
CONCLUSÃO.

Implicação, Consciência e intensionalidade pré-reflexivas.


Compreensão gestáltica. Aporia. Aporética. Argumentatividade. Ação.
Interpretação.

A implicação -- que caracteriza a vivência no modo fenomenológico


existencial de sermos -- dá-se como vivência, como consciência, pré-reflexiva
da tensionalidade, da intensionalidade, do compreensivo desdobramento de
possibilidades: do compreensivo desdobramento da ação; ou seja, a vivência
da implicação dá-se como vivência compreensiva do desdobramento de
gestalts¸ da vivência compreensiva do desdobramento da dominância da
multiplicidade, de um plexo, de possibilidades.
Consciência pré-reflexiva, pré-teorética; e pré-comportamental, esta
vivência da implicação se constitui assim como compreensão. A compreensão
é a constituição como consciência pré-reflexiva, fenomenológico existencial, e
dialógica, da dominância de uma multiplicidade, de um plexo, de
possibilidades. É, pois, aspecto cognitivo do desdobramento da ação, do
desdobramento de possibilidades.
A compreensão é especificamente gestáltica. Na (des)medida em que se
dá sempre como a totalidade significativa, compreensiva, que é diferente da
soma de suas partes. E é vivenciada inicialmente como uma totalidade de
partes, que só sucessivamente se configuram paulatinamente como tais.
Originaria e primitivamente, portanto, a consciência implicativa --
compreensiva, Gestáltica -- se dá, intuitivamente, como consciência pré-
reflexiva, da dominância da atividade do plexo de possibilidades, na medida em
que é vivenciada como totalidade significativa, anteriormente à configuração
compreensiva paulatina das partes, que re-formam, agora como coisa,
possibilidade desdobrada, exaurida, realizada, a totalidade, a gestalt,
atualizada.
O desdobramento gestáltico da dominância das possibilidades, da ação,
é o que entendemos como Implicação, e como Interpretação. No caso
Interpretação compreensiva, implicativa. É a consciência da ação, e do ator.
Projetativo. E não subjetivo, nem objetivo.
Implicação, e não explicação. Interpretação própria e especificamente
compreensiva, fenomenológico existencial, e não a interpretação explicativa.
Na vivência gestáltica da ação, e enquanto sentido, própria e
especificamente, enquanto logos, dia-logos, fenômeno-logos, em sua intrínseca
multiplicidade, pluralidade, implicativas, as possibilidades competem
argumentativamente umas com as com outras, se desdobram, se atualizam.
De um modo tal que as possibilidades se limitam entre si. Impondo-se aporias
uma às outras.

94
A aporia é o limite do fluxo do desdobramento da força da
possibilidade.
No limite, na aporia, emergem outras possibilidades, outras implicações,
que, logos, sentido, compreensivas, argumentam, competem, e limitam-se
entre si. Até que as mais potentes plasticamente imponham os seus
desdobramentos dominantes.

95
INTRODUÇÃO
De uma perspectiva fenomenológica e existencial, em termos da
experiência de nossos modos de ser, temos duas alternativas, basicamente.
Duas alternativas de modos de sermos que ontologicamente se alternam,
regularmente. Uma ensejando a alternância da re emergência da outra.
São elas:
(a) A experiência de um modo explicativo de sermos;
(b) E a experiência e experimentação -- a ação, e interpretação
(Compreensiva, fenomenológica e existencial, dialógica) -- do
modo implicativo, modo, compreensivo, de sermos.
Fenomenológico, existencial, e dialógico.

Estes modos de sermos definem-se, enquanto tais, pela experiência e


experimentação particular e própria de cada um deles,
(1) No modo Explicativo de sermos:
(a) a experiência reflexiva – Teorética. O modo de sermos, a
consciência e a experiência do Espectador. E,
(b) a experiência comportamental.

(2) No modo Implicativo de sermos: a experimentação da vivência


compreensiva, fenomenológico existencial, e dialógica, implicativa,
hermenêutica, e experimental, -- que é experimentação pré-reflexiva, e pré-
comportamental. A experiência e experimentação da ação, do
desdobramento de possibilidades, da atualização de possibilidades.
Desdobramento este que se constitui como compreensão, como a
experiência e a experimentação da ação compreensiva. Experimentação
esta, vivência, que é anterior ao modo explicativo de sermos: ou seja: que
anterior, mais originária do que o modo teorético, reflexivo, de sermos; e do
que o modo comportamental, de sermos.

Algumas características básicas são naturalmente próprias e inerentes à


vivência do modo implicativo de sermos. Modo de sermos, como observamos,
compreensivo, fenomenológico e existencial. Que é vivência da força plástica
de possibilidades, do desdobramento de possibilidades, vivência
fenomenológico existencial, dialógica, do que chamamos de Ação. Implicação.
(1) Assim, a vivência implicativa é vivência do desdobramento de
possibilidades. A vivência fenomenológica, implicativa, é própria e
especificamente ativa, atualizativa. É, própria e especificamente, a ação. Por
ser especificamente vivência de possibilidade, e do desdobramento de
possibilidade; o que responde por seu caráter fenomenológico existencial
hermenêutico; intuitivo, estético, e poiético.
(2) O caráter compreensivo do modo implicativo de sermos.
A vivência fenomenológica existencial, implicativa, é compreensão.
96
Na medida em que a vivência de possibilidade, implicativa, intrinsecamente se
constitui como consciência pré-reflexiva, como sentido, como logos:
fenomeno logos.
Esta constituição da vivência do desdobramento de possibilidades, da ação,
como consciência pré-reflexiva, dionisíaca, é própria e especificamente, o que
chamamos de compreensão. O modo fenomenológico e existencial de
sermos, ativo, implicativo, no seu intrínseco aspecto cognitivo, é,
especificamente, compreensão; é compreensivo.

De modo que a compreensão significa que, neste modo de sermos, a vivência


de possibilidade e do desdobramento de possibilidade, a ação, que lhe é
intrínseca e característica, se constitui como consciência pré-reflexiva,
fenomenológica. A possibilidade, em seu desdobramento ativo, e motivo,
emotivo, é preendida como consciência pré-reflexiva. Neste modo de sermos,
a possibilidade é apreendida como consciência pré-reflexiva. Este modo de
sermos é, assim, um modo de sermos com(a)preensão da possibilidade em
seu desdobramento como consciência pré-reflexiva. O modo de sermos
com(a)preensão, modo de sermos da compreensão, o modo compreensivo de
sermos.

(3) O caráter própriamente implicativo deste modo compreensivo de


sermos. O caráter implicativo deste modo fenomenológico existencial de
sermos da ação, da compreensão. O que, própria e especificamente, quer
dizer: o seu caráter gestáltico.
Na medida em que a vivência fenomenológica, -- ativa, implicativa,
compreensiva -- se constitui compreensivamente, e de um modo
intrínseco, como vivencia ativa do desdobramento de um plexo (de uma
multiplicidade) de possibilidades. Possibilidades estas que se organizam
em sua vivência compreensiva, a cada um de seus momentos, segundo
uma dominância de seu conjunto, ativa e compreensivamente, assim,
como gestalt, como gestaltação.

Assim, o gestáltico desdobramento de possibilidades, que se dá


implictivamente, a vivência fenomenológica existencial, é, própria e
eminentemente, ação. É, própria e especificamente, compreensiva.
Implicativa. Compreensiva. Gestáltica.

Não é explicativa (como explicativa o é a experiência teorética, e a


experiência repetitiva e padronizada do modo de sermos do comportamento...).

(4) Na vivência momentânea da experiência e da experimentação da


ação, assim – fenomenológica e existencial, ativa, implicativa, compreensiva,
hermenêutica, gestáltica --, a vivência de possibilidades e do seu
desdobramento, a vivência da ação, dá-se sempre como a vivência da
dominância de um conjunto múltiplo de possibilidades – de um plexo de
possibilidades – sempre.

97
O conjunto da multiplicidade de possibilidades da vivência do plexo gestáltico
de possibilidades, se organiza como uma dominância1. Esta dominância
das possibilidades do plexo gestáltico de possibilidades determina a linha e
o curso, percurso, da ação. Implicativa: inplexativa.

Ação que é espontânea, e desproposital, ativa, compreensiva,


experimental...
Relação eu-tu, fora – anterior e mais originária -- do modo de sermos da
dicotomia sujeito-objeto; fora também -- anterior e mais originária -- do
modo de sermos da causalidade; e fora do modo de sermos da utilidade,
dos úteis e da utilização.
(5) A afirmação vivencial, compreensiva, do desdobramento da
dominância despropositativa da ação fenomenológica, gestáltica, implicativa, é
o que constitui o seu caráter experimentativo, experimental, no sentido
própria e especificamente fenomenológico existencial.
É, pois, o investimento na tentatividade, e no risco, e no riso, da incerteza deste
caráter da implicação -- desproposital, implicativo, compreensivo, hermenêutico
--, da ação e da vivência fenomenológicas, que constitui o caráter experimental
da ação, e da interpretação compreensivas, fenomenológicas.
(6) Como eminentemente ativa, enquanto vivência de possibilidades,
vivência do desdobramento de possibilidades, ativa, compreensiva, implicativa
– diferentemente dos modos explicativos da teorização, e do comportamento
–, a vivência fenomenológica é movimento, é moção. É emoção. É, sempre, a
sensibilidade, o pathos (no sentido Grego), emocionados. Constitui-se, sempre,
assim, como movimento, como moção, e como emoção. E como motivação.
A vivência fenomenológica, pré-reflexiva, é moção, ativa, compreensiva,
implicativa, é moção, é movimento, é emoção, é motivação.
(7) Dadas estas características de moção, de desdobramento
compreensivo de forças, de possibilidades, de ação -- diferentemente do que
ocorre no modo teorético, e no modo comportamental de sermos, explicativos -
- a vivência do modo fenomenológico de sermos, implicativo, é tensão, é
tensional.
A instantaneidade momentânea de sua vivência é, portanto, intensional. É o
modo tensional, intensional, de sermos.
(8) Caracteristicamente, a momentaneidade instantânea da vivência
deste modo intensional de sermos se dá como a vivência do modo de sermos
no qual somos, devimos, anteriormente ao modo de sermos da dicotomia
sujeito-objeto.

O Modo fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo, implicativo,


intensional, é, assim, um modo de sermos não só pré-reflexivo, mas própria e
especificamente, pré-objetivo e pré-subjetivo; pré-intersubjetivo, naturalmente,
também. Na medida em que é um modo de sermos que se constitui, enquanto
tal, como projeto. Anteriormente às condições do subjeto, e do objeto.

98
Anteriormente à dicotomização sujeito-objeto.
Este modo de sermos, não obstante, se dá, anteriormente à dicotomia sujeito-
objeto, como tensão da dialógica eu-tu.
Tensão esta que não é dicotomia sujeito-objeto.
A dualidade da dialógica eu-tu se dá como acontecer – projeto e projetação do
dialógico desdobramento de possibilidades. E a dicotomia sujeito-objeto é da
ordem do acontecido – ou seja, é posterior ao acontecer da ação, como
desdobramento compreensivo, implicativo, de possibilidades.
(9) Da mesma forma que, enquanto modo compreensivo de sermos do
desdobramento de possibilidades, o modo implicativo, fenomenológico e
existencial, de sermos, por ser vivência de desdobramento de possibilidades,
está fora das relações de causa e efeito.
Na vigência de sua momentaneidade instantânea, não vigoram as relações de
causa e efeito, mas o desdobramento da ação, da atualização experimental,
desproposital e hermeuticativa.
(10) Fora do modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto, o modo
implicativo de sermos está igualmente fora – anterior e mais originário -- das
relações de uso, e de utilidade. Dá-se como modo intuitivo de sermos da
inutilidade.

(11) A vivência da ação, fenomenológica, compreensiva e implicativa, é


desproposital. Na medida em que é desdobramento de possibilidades, que,
na arguta observação de Buber, não sou eu que crio, mas que não acontecem
sem mim...
Possibilidades que, compreensivas, partem, emergem, de níveis pré-
compreensivos da vivência fenomenal.

Assim, ainda que seja eminentemente ativa, eminentemente ação,


cognitivamente compreensiva, a implicação é modo de sermos da ação
desproposital; modo de sermos despropositativo, acausal, e que se dá num
modo de sermos fora da objetividade, e da subjetividade, da dicotomia sujeito-
objeto -- da intersubjetividade, também. Da mesma forma que se dá fora das
relações de causalidade.

A vivência fenomenológica da possibilidade em seu desdobramento


constitui-se compreensivamente, como sentido, como fenômeno, como logos,
como fenômeno logos, vivência, ao modo de sermos, própria e
especificamente, da consciência pré-reflexiva. De um modo tal, que
vivenciamos compreensivamente, como logos, como sentido, a ação da
possibilidade em seu desdobramento – não subjetivo, não objetivo, não inter-
subjetivo.

Na vivência fenomenológica, as possibilidades não se dão


unitariamente, mas como totalidades significativas. Compostas estas de
conjuntos de partes; cada uma delas também constituídas, igualmente, por seu

99
turno, como outras tantas totalidades significativas. Estas totalidades
significativas são o que designamos por Gestalts2.
As Gestalts se dão, assim, compreensivamente, como totalidades
vivenciativas de sentido.
Totalidades nas quais, na vivência do desdobramento da atualização de
suas possibilidades, o todo é diferente da soma das partes.
E como totalidades significativas que, própria e especificamente,
aparecem antes enquanto tais, como totalidades; só então se dando,
paulatinamente, a seguir, a explicitação figurativa, a atualização, de suas
partes.
As possibilidades que constituem as totalidades significativas, as
gestalts, são forças. Dotadas de uma intensidade plástica, de uma intensidade
própria de plasmação.
É interessante, assim, notar o caráter especificamente plástico da
intensidade da força em que se constitui como possibilidade. Intensidade
plástica esta que se constitui, vivencialmente, como ação gestáltica
compreensiva, implicativa; e que, também, pode se prolongar como ação
muscular, ação somática, material. Não só da dimensão modo vivencial de
sermos, mas ação no mundo material.

Na instantaneidade momentânea da vivência fenomenológica, e


existencial, as possibilidades, múltiplas, se constituem como Gestalts,
totalidades significativas ativas, totalidades ativas de sentido, no fluxo de seu
desdobramento.
Vivências de totalidades de sentido, estas Gestalts competem entre si.
Dialogam, na verdade argumentam entre si, na vivência. De modo que as mais
intensamente plásticas se afirmam progressivamente, em consonância com a
intensidade própria da instantaneidade de sua momentaneidade argumentativa.

As totalidades significativas, as Gestalts, são assim plexos, articulações


múltiplas, compreensivas, ativas, argumentativas, de outras Gestalts
possibilidades, que se explicitam, figuram, paulatinamente, segundo as
intensidades plásticas de suas forças, na sequência de suas argumentações.
De forma que, na vivência do modo gestáltico de sermos, modo de
sermos fenomenológico existencial, e dialógico, implicativo, estamos na
vivência gestáltica da multiPLicidade constituinte de um PLexo de
possibilidades em desdobramento. Um PLexo que não é apenas PLexo, cum-
PLexo, mas que – ação, movimentação, moção, emoção, motivação – é,
própria e eminentemente, per-PLexo, per-PLexidade, per-PLexificação. Na
medida em que é ação, moção, movimentação, moção, emoção, das
articulações possibilitativas e argumentativas das possibilidades partes,

2
Gestalten.

100
gestálticas, constituintes das gestalts mais abrangentes, enquanto totalidades
significativas.
A vivência desses plexos que são as Gestalts é, portanto, implexa, é
implexativa. E é isso que significa que este modo de vivência é o modo de
sermos da imPLicação.
A vivência fenomenológica existencial e dialógica tem assim a
implicação como uma de suas características fundamentais. Na medida em
que a vivência fenomenológica existencial é vivência eminentemente gestáltica,
ação gestáltica.
Que, própria e especificamente, é a vivência perplexa do trânsito de
plexos, múltiplos, de possibilidades. Organizadas estas, de acordo com suas
dominâncias, em totalidades significativas, compreensivas. Que aparecem,
antes, como tais, como totalidades significativas, constituídas de partes,
igualmente significativas. Mas que só paulatinamente se explicitam
figurativamente, a seguir, sucessiva, e argumentativamente, num processo de
formação de figura e fundo.
Estar na momentaneidade instantânea ativa, atualizativa, desta vivência
compreensiva -- fenomenológico existencial, dialógica, gestáltica, pléxica -- é o
que é a implicação, implexação. É o que, como devir, é estar implicado.
Implexificado.
Cum-plexo, sem dúvida, mas, sobretudo, perplexo.

101
CUMPLICIDADE E DRAMÁTICA DA PERPLEXIFICAÇÃO
DA CUMPLEXIDADE
(E UM GUIA PARA OS CUMPLEXOS)

Perplexai-vos perplexai-vos
Não o permitais
jamais
Que vos paralize
O cumplexo
É moção é moção é moção emoção
É ação, motivação
Moção Per-multipliperpl(i)xidade
Per-multi-perplexificação
É drama é ato
É ação. É moção é moção é moção
É fazer e per-fazer o per-feito
Num é feito
É ato
Num é fato
(Comendo um guizado de bode,
no Bodódromo de Petrolina)

102
1. O EXPLICATIVO I. Consciência Reflexiva.

Representação – re-apresentação. A consciência no modo


teorético de sermos. A Consciência no modo de sermos do espectador.

No modo explicativo de sermos vigora a condição, a consciência, do


espectador.
No modo implicativo de sermos somos ativos, somos atores,
especificamente. No modo implicativo vivenciamos, portanto, a condição, a
consciência, intuitiva, pré-reflexiva, de ator.
Isto porque, no modo implicativo de sermos -- no modo de sermos do
ator, da ação -- implicativa, e compreensivamente, vivenciamos possibilidades,
e o desdobramento compreensivo intrínseco dessas possibilidades. Isto é que
é a ação, propriamente dita. No modo implicativo de sermos, somos, portanto,
atores, e ação, especificamente.
No modo explicativo de sermos somos espectadores, não somos atores.
Porque o modo explicativo de sermos não é o modo de sermos em que
vivenciamos a ação. Não é o modo de sermos em que vivenciamos
possibilidade, e o desdobramento, em ação, de possibilidades. No modo
explicativo de sermos, somos espectadores. E é isto exatamente que é o
significado de teorético. A inatividade da contemplação.
A ação, no modo implicativo de sermos, é o processamento do
acontecer. É o Acontecer.
Em seu decaimento (Heidegger), no percurso do acontecer, a
possibilidade perde em força de possibilidade, e se coisifica paulatinamente,
cura (idem), à medida que se constitui como coisa. A coisa, o ente, é o
acontecido. O passado.
Na experiência e experimentação do modo de sermos implicativo, do
acontecer, da ação, não vivenciamos a fragmentação da dicotomia sujeito-
objeto. No modo de sermos, acontecido, do explicativo, o ente, a coisa
constituída, se dá como objeto, e podemos contemplá-la como sujeito. O
conhecimento, neste caso, já não é mais vivencial, implicativo, ativo. Mas é
teorético, explicativo, representativo, reflexivo.
Na medida em que um sujeito re-flete, re-pete, re-incide, na
possibilidade acontecida, no acontecido -- constituído e instalado como coisa,
como objeto; constituído e instalado como ente, como coisa, do mundo
material; ou como, ente, coisa, e objeto, psicológico (Buber3 diria que o
conceito é o ‘isso’ do pensamento) --, a possibilidade já não se apresenta,
original e originariamente, no seu desdobramento. Mas se re(a)presenta,
reflexivamente, como coisa material, ou conceitual. Agora, já não mais no
desdobramento de sua vivescência potente, como acontecer, mas como coisa,

3
BUBER, MARTIN

103
acontecida, como ente, como objeto. Não mais como possível, possibilidade,
potente, em desdobramento, no vir a ser da ação.
O modo explicativo de sermos, portanto, é o modo teorético de sermos;
é o modo de sermos da reflexão, e da representação, o modo de sermos da
contemplação do acontecido, da re-apresentação. O modo de sermos não do
ator e da ação, mas o modo de sermos do espectador. O modo não
implicativo de sermos.

2. O EXPLICATIVO II. Comportamento

O modo comportamental de sermos; a dimensão da atividade


padronizada e repetitiva; a desconscienciação;
Além do modo teorético de sermos, o modo não implicativo de sermos, o
modo explicativo de sermos, comporta também o comportamento. O
comportamento é explicativo meramente porque não é implicativo. Está fora do
modo implicativo de sermos, é explicação, é explicativo.
A atualidade, a ação, a presença, pré-reflexivas, próprias ao modo
implicativo de sermos; e a reflexão, característica do modo teorético de sermos,
se constituem, ambas, como formas de cognição, como formas de consciência.
Formas distintas de consciência, mas formas de consciência: numa a
consciência implicativa, pré-reflexiva, do ator; na outra a consciência
explicativa, reflexiva, do espectador. Mas formas, ambas, de consciência, de
cognição, de conhecimento.
No modo implicativo de sermos, a compreensão, como modo de
consciência característico da ação. A consciência fenomenológico existencial, e
dialógica, desproposital, intuitiva, apresentativa.
No modo explicativo de sermos, a consciência teórica, conceitual,
reflexiva, e re(a)presentativa, proposital, do espectador.

Não é uma forma de consciência que caracteriza o modo explicativo de


sermos do comportamento, não é uma forma de cognição, uma forma de
conhecimento. O comportamento, como modo de sermos da atividade
padronizada e repetitiva é, mais propriamente, uma forma de
desconcienciação. A atividade padronizada e repetitiva caracteriza o
comportamento. Quanto mais padronizada e repetitiva a atividade, quanto mais
comportamental, portanto, menos consciente.
Desconcienciação -- à medida que se desenvolve o seu caráter
padronizado e repetitivo -- o comportamento, ex-plicativo, não é o modo de
sermos da ação. Comportamento não é ação (Arendt). Não é a implicação
vivencial, impregnada de consciência pré-reflexiva, que se constitui como
vivência do desdobramento de possibilidades, na performação da ação.

104
O comportamento, assim, não é implicativo, é explicativo, porque se dá
fora do modo implicativo de sermos.

3. IMPLICATIVO I. Ação. A consciência do Ator.

Consciência Vivencial Pré reflexiva, e pré comportamental,


fenomenológica, existencial, e dialógica. A consciência no modo
fenomenológico existencial e dialógico de sermos; Ação -- a
consciência, a vivência fenomenológica, experiência e experimentação
do ator;

Dilthey4 distingue a consciência compreensiva, da consciência


explicativa; a compreensão – como vivência --, da explicação; os modos de
sermos da interpretação compreensiva, e o modo de sermos da
interpretação explicativa.
O modo implicativo de sermos, pré-reflexivo -- fenomenológico
existencial e dialógico --, é, própria e especificamente, compreensivo.
Isto quer dizer que, no modo implicativo de sermos, pré-reflexivo, a
vivência do desdobramento de possibilidades se constitui, é preendida, é
apreendida, como consciência – consciência pré-reflexiva, e pré-conceitual,
pré-teorética, pré-comportamental.
O modo implicativo de sermos é um modo de sermos, assim,
com(a)preensão. É o modo de sermos da compreensão, o modo
compreensivo de sermos. A compreensão caracteriza o modo implicativo,
fenomenológico existencial, e dialógico, de sermos.
Dilthey designa a compreensão, e este modo implicativo de sermos,
como vivência.
A vivência é o modo fenomenológico existencial, dialógico, e ontológico
de sermos. Modo implicativo e compreensivo de sermos. A vivência se constitui
especifica e intrinsecamente em consciência – consciência compreensiva,
compreensão. E em vivência do desdobramento de possibilidades: que é a
ação. Ação, a vivência fenomenológico existencial e dialógica,
concomitantemente, se constitui, assim, como compreensão, ação, atualização.
Como a consciência do ator.
A consciência vivencial, compreensiva, fenomenológico existencial,
dialógica, é pré-reflexiva, pré-conceitual, e pré-comportamental. Na medida
em que é um modo de sermos que se dá anteriormente ao modo de sermos da
reflexão, e ao modo de sermos do comportamento. Ainda que a eles se
destine.

4
Dilthey, W.

105
Assim, o modo de sermos do comportamento, da atividade padronizada
e repetitiva, também se constitui posteriormente ao modo compreensivo de
sermos. Assim, este modo compreensivo, vivencial, além de pré-reflexivo, é
pré-comportamental.
Como vimos, assim, o modo compreensivo de sermos, fenomenológico
existencial, e dialógico, é o modo de sermos do ator, modo de sermos da ação,
na medida em que é modo de sermos da vivência compreensiva do
desdobramento de possibilidades.

4. IMPLICATIVO II. Ação. Possibilidade.

A intrínseca impregnação pela possibilidade, pelo


desdobramento compreensivo, implicativo, da possibilidade, da
vivência pré-reflexiva; a possibilidade em desdobramento: Ação.

O modo fenomenológico existencial de sermos, implicativo,


compreensivo, pré-reflexivo, pré-conceitual, ontológico; e, ainda, pré-
comportamental; é, na duração de sua momentaneidade instantânea, todo ele
Ação.
Ou seja, é assim, este modo de sermos, porque todo ele é impregnado
pela possibilidade. A vivência de possibilidade é a vivência de força, que
somente existe no seu exercício e desdobramento. Força que é, assim, a
possibilidade é, sempre, desdobramento. E é este desdobramento da
possibilidade que é a Ação. Por um momento, esqueçamos assim o sentido
vulgar do termo possibilidade. No sentido que aqui nos referimos, possibilidade
é toda a força daquilo que pode acontecer, enquanto vivência pré-reflexiva,
fenomenológico existencial e dialógica – enquanto Ação.
Intrínseca e inerentemente, a Ação, o desdobramento de possibilidade,
se constitui como consciência pré-reflexiva; como consciência compreensiva,
fenomenológica, existencial, dialógica; como compreensão. E é,
eminentemente, da ordem da implicação. A vivência do processamento da
ação, como desdobramento de possibilidade, é, sempre, assim, implicativa, e
compreensiva.
A Ação pode ser:
(1) meramente – simplesmente -- compreensiva, ou
(2) compreensiva e somática, musculativa, material.

É meramente compreensiva, quando se dá como desdobramento de


possibilidade ao nível meramente da compreensão. Não implicando em
musculação significativa.

106
E é compreensiva e somática, musculativa quando, desdobramento,
implicativo, compreensivo, de possibilidades, envolve, também, de modo
significativo, a mobilização muscular, a musculação.

5. IMPLICATIVO III. Ação. Intensionalidade.

Tensão da força da possibilidade em seu desdobramento. A


vivência Intensional do modo pré- reflexivo de sermos, como vivência
fenomenológico existencial tensa, intensional, do desdobramento de
possibilidades: da ação. Vivência do ‘acontecer’.
A vivência pré-reflexiva, fenomenológico existencial, e dialógica, é, como
vimos, um modo de sermos que se dá anteriormente à dicotomia sujeito-objeto.
Modo de sermos do acontecer, é vivência do desdobramento da dinâmica da
dialógica eu-tu, como desdobramento de possibilidade, como ação,
eminentemente compreensiva.
Originário e anterior o modo implicativo de sermos da ação, do
acontecer -- no qual não vigora a dicotomia sujeito-objeto --, o modo de
sermos, explicativo, no qual vigora propriamente a dicotomização sujeito-
objeto, constitui-se, a seguir, em decorrência do desdobramento da
instantaneidade momentânea do modo de sermos da ação, do acontecer –
própria e especificamente como modo de sermos do acontecido. O modo de
sermos do acontecido, modo coisa de sermos, se constitui com a exaustão em
seu desdobramento da força da possibilidade.
O modo implicativo de sermos, fenomenológico existencial, modo de
sermos do acontecer, é, assim, o modo de sermos da pré ação, da inter-pret-
ação; da ação, propriamente dita; como vivência da emergência pré
compreensiva, e desdobramentos compreensivos, das possibilidades.
Na medida em que a vivência da possibilidade, no modo pré-reflexivo,
fenomenológico existencial, de sermos, é, a cada momento, a vivência de uma
força em desdobramento -- a vivência da possibilidade em desdobramento, a
vivência da ação – a vivência deste modo pré-reflexivo, fenomenológico
existencial de sermos, a vivência da ação, é uma vivência tensa, é uma
vivência de tensão. Intensional, portanto – na (des)medida da tensão do
desdobramento da força da possibilidade. A vivência deste modo
fenomenológico existencial e dialógico de sermos, compreensivo, e implicativo,
modo de sermos da ação, é, assim, uma vivência intensional. Vivência da
tensão, da tensionalidade, da intensionalidade da experimentação da força da
possibilidade em seu desdobramento. A tensionalidade, a intensionalidade
compreensiva da ação. Diversamente do modo extensional de sermos, da
coisa, do acontecido, do passado.
A intensionalidade, compreensiva, é, portanto, uma característica
intrínseca à vivência da momentaneidade instantânea da ação, da
interpretação compreensiva, fenomenológico existencial; a intensionalidade
compreensiva é intrínseca à instantaneidade momentânea do modo
fenomenológico existencial e dialógico de sermos, modo de sermos implicativo,
107
e compreensivo. Modo de sermos da ação, da interpretação, e da
experimentação fenomenológico existenciais, compreensivas.

6. IMPLICATIVO IV. Ação. PLexo de Possibilidades.

Na vivência fenomenológica, compreensiva, e não explicativa,


implicativa, as possibilidades são sempre múltiPLas. E se organizam
em ação, no seu desdobramento, como a dominância da competição das
forças de sua multiPLicidade, como um PLexo de possibilidades. A
Implicação, compreensiva, a ação, a vivência fenomenológico
existencial, são sempre, assim, a vivência de um plexo, de uma
multiplicidade, de possibilidades. A implicação é sempre vivência da
implexação.

A vivência de possibilidades, no modo pré-reflexivo, fenomenológico


existencial, e dialógico, de sermos -- modo imPLicativo de sermos --, é,
sempre, a vivência de uma multiPLicidade, de uma PLuralidade de
possibilidades.
Cada uma das possibilidades desta multiPLicidade é uma força múltipla,
em desdobramento ativo, pré-compreensivo. E que pode se constituir de um
modo compreensivo, quer seja na dinâmica rítmica do seu conjunto, ou
particularmente. Cada uma das possibilidades é, ela própria, constituída por
uma multiPLicidade de possibilidades, ativas, e ação, organizada em
dominâncias, em seus desdobramentos, e assim sucessivamente.
Em seu caráter compreensivo de figuração, de formação de figura e
fundo, isto é especificamente a vivência Gestáltica, implicativa, implexativa, a
Gestaltética, a gestaltação, a Gestática. A vivência implicativa desta
multiPLicidade de possibilidades figura e se configura, fulgura, como vivência
compreensiva, pré-reflexiva, de um PLexo de possibilidades, ativo, portanto.
A palavra plexo tem, em Grego, um sentido original de tecer, entretecer,
de tessitura, de trança; sentido este originado no trançamento, no trançado,
dos pêlos das crinas dos cavalos. E, sem dúvida, na trança dos cabelos.
Metaforicamente, na vivência de possibilidades, na vivência do plexo de
possibilidades, as possibilidades são múltiplas, e se organizam e se inter
trançam entre si, de acordo com a força plástica de suas dominâncias.
Assim, na vivência compreensiva e implicativa do PLexo de
possibilidades, a multiPLicidade de possibilidades ativas organizam as suas
atividades sob a forma de uma dominância. Esta Dominância constitui o curso
compreensivo e implicativo do desdobramento da ação particular, a partir da
organização de cada uma, e do conjunto, das possibilidades constituintes da
multiplicidade, e da competição entre elas. Constituindo, assim, a dinâmica

108
figurativa de seu processo gestáltico, gestático, gestético, de formação de
figura e fundo.
A vivência de possibilidades, assim, no modo fenomenológico existencial
e dialógico, imPLicativo, gestáltico, é sempre, em sua multiPLicidade Plural, a
vivência de um PLexo, de uma multiplicidade, de possibilidades. Plexo este
articulado e organizado, no curso de seu fluxo de ação do seu desdobramento,
como uma dominância particular, para a qual converge a dominância das
atividades de cada possibilidade ativada.
É a vivência do curso desta dominância, compreensiva, ativa,
implicativa, que entendemos como Gestalt. Gestaltação.
A vivência do plexo, a implicação, assim, é eminentemente ativa, é ação,
é compreensiva, e gestáltica. Pré-reflexiva, fenomenológico existencial, e
dialógica.

7. IMPLICATIVO V. Ação. Plexo. Implexação. Implicação.

ImPLexação, ImPLicação. A vivência fenomenológico existencial


como vivência da dominância da ação de um PLexo, de uma
multiPLicidade organizada, Gestalt, de Possibilidades,

Compreensiva e ativamente absorvidos na vivência do desdobramento


gestalticamente figurativo do plexo das possibilidades, absorvidos no
desdobramento da ação, da atividade, absorvidos na ação, do PLexo --
atividade compreensiva, compreensivamente figurativa, e fulgurativa,
fulgurante, e motiva, emotiva, ação, interpretação, fenômeno-logos, em suas
intensidades plásticas próprias --, estamos imPLexos, estamos imPLexados.
Estamos implicados.
Este é o sentido do termo imPLicação. O sentido de que estamos
imPLicados. Estarmos compreensivamente, gestalticamente, absorvidos no
desdobramento pré-reflexivo, fenomenológico existencial e dialógico, da ação.
Desdobramento da ação do plexo de possibilidades.
Ou seja, a Implicação é a vivência momentânea instantânea, os
momentos da experiência, e da experimentação, do modo de sermos,
compreensivo -- pré-reflevivo, fenomenológico existencial e dialógico, gestáltico
-- da ação. A vivência compreensiva do desdobramento da ação é a vivência
gestaltica, figurativa, do desdobramento da dominância da atividade de uma
multiplicidade, de um plexo, de possibilidades.
É isto o que chamamos de Implicação.

109
8. IMPLICATIVO VII. Ação. Compreensão.

Com preensão – ou seja, com a constituição como consciência pré-


reflexiva -- do desdobramento da possibilidade: do desdobramento da
Ação. A Ação como Compreensão. O aspecto cognitivo da Ação. A Ação
como conhecer. Uma Ciência compreensiva. Intuitiva. Estética.

A ação é intuitiva, compreensiva, e implicativa.


A ação inexiste na explicação. Comportamento e ação são modos
radicalmente distintos de sermos.
A ex-plicação não é o modo ativo de sermos. Não é, igualmente, o
modo compreensivo, implicativo, de sermos. É o modo teorético de sermos, no
qual, não atores, somos espectadores, no âmbito da dicotomia sujeito objeto,
da causalidade, da utilidade, da realidade, da coisidade. E, por outro lado,
também, o modo de sermos da atividade padronizada e repetitiva, o modo
comportamental de sermos.
Ação e comportamento são, pois, dois diferentes modos de sermos. A
ação não é comportamento.
A ação, implicativa, consciência compreensiva, ontológica. Modo de
sermos do acontecer. O comportamento, atividade padronizada e repetitiva, no
âmbito do modo de sermos do acontecido.
A ação, que é compreensiva, e implicativa, própria e especificamente
poiética, estética, distingue-se do modo teorético de sermos, da teorética. Na
medida em que o modo teorético de sermos é reflexivo, e conceitual. Não
implicativo, portanto. Dá-se, pois, o modo teorético de sermos, no modo de
sermos do acontecido, no passado.
A ação -- e a compreensão, que é a sua dimensão cognitiva --, pré-
reflexivas, e pré-conceituais, são da ordem do processo do acontecer.
Assim, a ação, a vivência do desdobramento da possibilidade, que se
constitui como consciência pré-reflexiva, a interpretação fenomenológica,
própria e especificamente se constituem como conhecimento. Como conhecer.
Ou seja, intrinsecamente, o desdobramento da possibilidade, a ação, se
constitui como cognição, como conhecer, como consciência pré-reflexiva. Esta
consciência pré-reflexiva em que se constitui a possibilidade, no fluxo de seu
desdobramento, a ação, dá-se, ao nível cognitivo, como Compreensão, como
consciência compreensiva.
Que é da ordem da Implicação. (E não da Explicação).
Assim, a Compreensão é um conhecer, e um conhecimento,
especificamente, pré-reflexivos, implicativos. E não um conhecimento
explicativo, teorético. É conhecimento ativo, pré-reflexivo e pré-conceitual.

110
Estético. E poiético. O conhecer especificamente do ator – e não o modo
teorético de conhecer do espectador.
O desdobramento da possibilidade, assim, como vivência do
desdobramento da ação, da interpretação fenomenológica, se constitui como
consciência pré-reflexiva, implicativa. Ou seja, é apreendida como consciência
pré-reflexiva, implicativa. De um modo tal, que a vivência do desdobramento de
possibilidades dá-se com(a)preensão consciente. É, portanto, própria e
especificamente compreensivo, com-preensão. É, portanto, própria e
especificamente, compreensão.

9. IMPLICATIVO VIII. Ação. Fenômeno. Fenomeno Logos. Fenomenologia.

Heidegger5 observa que o fenômeno da Fenomenologia é o que


explicitamente se mostra em si mesmo – o que em si mesmo se mostra, nas
formas da intuição.
Na intuição, pré-reflexiva, o fenômeno se constitui, e devém, porque
pode, porque é possibilidade, de se constituir, e devir. Especificamente, assim,
portanto, porque é possibilidade, potência, força, para tal.
A possibilidade, a dominância do desdobramento de possibilidades, se
constitui como consciência pré-reflexiva, se constitui como compreensão. De
modo que, como indica Heidegger, sentido, o fenômeno no qual a possibilidade
aparece compreensivamente tem um caráter de fala, de argumento. Como a
ação que o constitui, o fenômeno é, especificamente, compreensivo. Como
sentido, como logos. Logos que, ainda na linguagem de Heidegger, é fala do
fenômeno. Que torna patente aquilo de que se fala.
Força, possibilidade, o fenômeno é, assim, a vivência da ação. É a
possibilidade, em seu desdobramento. Que se constitui, compreensivamente,
como consciência pré-reflexiva. Toda fenomenologia, como a vivência do logos
do fenômeno, em seu desdobramento, como desdobramento da possibilidade
que se constitui compreensivamente, é fenomenologia da ação.
O fenômeno e o seu logos são assim compreensivos e implicativos. São
vivência pré-reflexiva, e pré-conceitual.
A metodologia da Ontologia e da Epistemologia fenomenológicas centra-
se, pois, em privilegiar, em insistir, na experiência e na experimentação pré-
reflexivas, compreensivas, e implicativas, como modo próprio de sermos do
desdobramento das possibilidades, da ação propriamente dita. E da criação.
Da estética da poiese.

5
HEIDEGGER, EL SER Y EL TIEMPO, PP. 39-49.

111
10. IMPLICATIVO IX. Ação. Inter-pret-ação, Compreensiva.
O significado mais comum do termo interpretação é o de seu sentido
explicativo, o seu sentido como interpretação explicativa. Este sentido
explicativo não é o único do termo interpretação. O sentido originário do termo
é o seu sentido própria e especificamente implicativo. E, portanto, própria e
especificamente compreensivo. O sentido da Interpretação Compreensiva,
Implicativa, fenomenológico existencial, e dialógica.
Quando nos referimos ao modo implicativo de sermos, quando nos
referimos ao modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos, quando
nos referimos ao modo ativo, gestáltico, e performático, de sermos, nós nos
referimos, especificamente, à modalidade da interpretação fenomenológico
existencial, própria e especificamente compreensiva, e implicativa,
naturalmente. Forma do acontecer. E não do acontecido. Forma da ação. A
nossa modalidade de sermos do atores. E não do espectadores, como o é o
modo de sermos, explicativo, da interpretação explicativa.
A vivência do desdobramento implicativo, e compreensivo, de
possibilidades, assim, a ação, se constitui como consciência pré-reflexiva,
fenomenológico existencial, compreensiva. E é a Interpretação própria e
especificamente fenomenológica – a interpretação fenomenológico
existencial, e dialógica, implicativa, compreensiva.

A raiz inter do termo inter-pret-ação, da interpretação fenomenológica -


- compreensiva, implicativa, e não ex-plicativa -- se refere ao caráter
especificamente dialógico da interpretação fenomenológica, implicativa, e
compreensiva. Ou seja, refere-se ao aspecto de que, na vivência da ação,
como desdobramento de possibilidades, as possibilidades são vivenciadas, em
seu desdobramento, sempre, como a alteridade radical do tu de uma dialógica
eu-tu. E não no modo de sermos no qual vigora a dicotomia sujeito-
objeto.
A inter-pret-ação é dialógica na medida em que, especificamente
compreensiva, e implicativa, a possibilidade é a alteridade radical de um tu com
relação a nós próprios, que inter-age com o eu de nós próprios, no percurso
vivencial compreensivo e implicativo de seu desdobramento. Como ação,
especificamente, portanto, no processamento de uma dialógica eu-tu de
compartilhamento compreensivo, implicativo, e dialógico, de sentido.
Surgida nos níveis mais originários da vivência fenomenológica
compreensiva, a possibilidade, em seu desdobramento, no modo implicativo de
sermos, é intuída como gestalt ainda pré-compreensivamente, pré-
reflexivamente. Ou seja, é intuída nos níveis mais originários da pré-
compreensão, e da pré-ação, da ação. O desdobramento da vivência de
possibilidades, a ação, é movimento vivencial que, da pret-ação. Direciona-se
inevitavelmente para a ação. Do pré-compreensivo, se tensiona no sentido da
compreensão, no sentido da constituição do desdobramento da ação.
112
Dialógica, em suas origens, e ao longo de seu desdobramento, a ação é Inter-
pret-ação Fenomenológica.
A Hermenêutica é a arte da interpretação6.
De modo que, interpretação fenomenológica, a ação é
fenomenológico existencial hermenêutica. Uma hermenêutica própria e
especificamente compreensiva, e implicativa, fenomenológico existencial,
na momentaneidade instantânea do seu desdobramento, ativo, e
compreensivo.
E não explicativa.
Como Hermenêutica, a ação, a interpretação fenomenológica,
compreensiva, implicativa, desdobra, atualiza possibilidades. Possibilidades
que, na vivência fenomenológica, compreensiva, implicativa, emergem do Ser.
O Ser é a fonte do possível. Não é conceitual. É a intuitiva fonte das
possibilidades, cujo desdobramento se dá vivencialmente, compreensiva e
implicativamente, e que fenomenológico existencialmente nos constitui, e
constitui o mundo que nos diz respeito.
De sua emergência, transitando como o seu devir, a atualização da
possibilidade, a ação, compreensiva, se traduz terminalmente na coisa, no
acontecido. Pelo dispêndio de sua potência no desdobramento de seu
acontecer. A vivência do acontecer é assim a interpretação compreensiva,
implicativa, fenomenológico existencial.
Esta interpretação, tradução, da possibilidade na ontidade da coisa, este
dispêndio da força do possível (ontológica), é que é a Hermenêutica, a arte de
Hermes.
Hermes é o personagem da mitologia Grega encarregado de interpretar,
de traduzir, para os humanos a linguagem dos Deuses do Olimpo. Sendo, por
isto, considerado o intérprete por excelência.
Heidegger diria que o homem é o ser intérprete por excelência; ou seja,
o homem é o ser hermenêutico por excelência (no sentido existencial, de que a
sua existência é hermenêutica). Na medida em que interpreta o possível em
ação, na medida em que interpreta, ontológicamente, a possibilidade,
ontológica, como ação compreensiva, no modo ôntico de sermos da coisidade.
Na medida em que a sua existência transita, como devir intensional,
compreensivo, da vivência do acontecer do desdobramento da possibilidade,
para a experiência coisificada e objetiva do acontecido, ôntico. Hermenêutica,
em sua ontológica, a existência humana é, na formulação heidggeriana,
ontológica e ôntica: o homem é o ser hermenêutico por excelência.

11. IMPLICATIVO X. Ação. Estética.

6
PALMER,

113
O Estésico é um vento que sopra na Grécia, numa determinada fase do
ano. É a moção que impulsiona as velas dos navios, para que eles se façam ao
mar. Filósofos e marítimos, os Gregos perceberam que o modo de sermos da
sensibilidade, o modo originário de sermos, vivencial, o modo pré-reflexivo de
sermos, fenomenológico existencial, e dialógico, implicativo, o modo ativo de
sermos, também é impulsionado por uma moção, por uma força impulsionante,
a possibilidade, em desdobramento. Que é moção, performativa,
compreensiva, implicativa,da ação, da implicação.
De tal forma, que designaram como estesia a este modo sensível,
fenomenológico existencial dialógico, compreensivo, implicativo, motivo,
emotivo, de sermos que é o modo de sermos da vivência do desdobramento da
possibilidade, o modo de sermos da vivência da ação.
Parestesias, somos alternativamente, também, os modos não
implicativos, explicativos, de sermos. O modo teorético, e o modo
comportamental de sermos.
Cada modo de sermos destes configura o modo de sermos de uma
ética.
Temos assim a teorética. A ética comportamental. Que são éticas
explicativas. E temos a ética deste modo fenomenológico existencial e
dialógico, implicativo, modo ativo de sermos, que é o modo estésico de sermos.
E que é o que chamamos de estética.
Os modos teorético, e o modo comportamental de sermos, explicativos,
não são estéticos.
O que caracteriza a estética é a sua constituição como vivência, como
experiência e experimentação pré-reflexivas, pré-conceituais, implicativas. Que
são vivências do desdobramento de possibilidades, vivências do
desdobramento da ação.

12. IMPLICATIVO XI. Ação. Poiese. Poiético, Poiética.

O prefixo Grego poi refere-se a força. É assim que ele está em potência,
poder, possibilidade, poiese, poiético, poiética. Precipuamente, refere-se ao
modo estético de sermos. Pré-reflexivo, Implicativo, compreensivo,
fenomenológico existencial, dialógico, poiético.
Refere-se, em particular, à força característica que intrinsecamente
impregna a totalidade deste modo de sermos, a cada momento de sua
instantaneidade momentânea. A força da possibilidade, do plexo de
possibilidades, em seu desdobramento compreensivo, que é a ação.
O modo poiético de sermos é, portanto, o modo implicativo de sermos,
fenomenológico existencial e dialógico, que se constitui como o desdobramento

114
criativo da força da possibilidade, em seu processamento compreensivo de
devir criativo.
A poiética é a ética da poiese. Ou seja, a momentaneidade instantânea
da vivência, da habitação, neste modo implicativo, fenomenológico existencial e
dialógico de sermos. A poiese é a vivência criativa, ativa, atualizativa que se dá
como desdobramento da possibilidade, como ação, implicação, neste modo de
sermos.

14. IMPLICATIVO VI. Ação. Gestalt.


O termo implicação remete ao caráter própria e especificamente
gestáltico deste modo vivencial de sermos. O caráter gestáltico de vivência pré-
reflexiva, fenomenológico existencial, e dialógica, compreensiva –
(1) meramente compreensiva, ou
(2) compreensiva e muscular, somática.

Vivência, compreensiva, da dominância do desdobramento, ativo, ação, da


multiplicidade da pluralidade de um plexo de possibilidades.
A implicação é, assim, a vivência compreensiva, fenomenológica e
existencial, dialógica, gestáltica, inerente ao processamento da ação, como
desdobramento de possibilidades.
É a vivência, mais ou menos, organizada da multiplicidade de plexos
possibilidades.
O Plexo é a dominância da organização das atividades compreensivas
das várias possibilidades, vivenciadas como o fluxo da ação.
A vivência compreensiva desses plexos, organizados como a
dominância do curso, do percurso, da ação, é o que chamamos de gestalt. A
vivência pontual do desdobramento das gestalts, em sua instantaneidade
momentânea, eminentemente ativa, é implexação, implicação.
Na vivência pré-reflexiva, compreensiva e implicativa, da ação, as
possibilidades, como vimos, são sempre múltiplas. E organizam a
multiplicidade do seu desdobramento gestalticamente, numa dominância, que é
o curso compreensivo da ação. Esta organização da dominância do plexo de
possibilidades dá-se como um todo que é diferente da soma de suas partes;
uma totalidade significativa, que, como tal, aparece, antes, como totalidade; e
que só em seguida as suas partes vão se desdobrando figurativamente, num
processo gestáltico de formação de figura e fundo.
Mais organizado, mais integrado, gratuito, desproposital, intensamente
plástico, gracioso, e fluído, nos modos ótimos de nossa vivência. A vivência
gestáltica é fenomenológica, e existencial. Compreensiva, e implicativa
De modo que a vivência gestáltica – que é eminentemente ação,
eminentemente gestaltação, sempre – é a vivência implicativa, a vivência da

115
implicação. Ou seja, a vivência pré-reflexiva, compreensiva, fenomenológico
existencial, e dialógica, ativa, do desdobramento da dominância de um plexo
de possibilidades – vivência compreensiva, gestáltica, do desdobramento da
ação.
Caracteristicamente, assim, a vivência da ação -- a vivência
fenomenológica e existencial, a vivência da implicação, a vivência do que
chamamos de interpretação fenomenológico existencial, compreensiva -- é a
vivência gestáltica, vivência da gestaltação.
Assim, a vivência gestáltica, compreensiva, é a vivência de uma
totalidade significativa, ativa, portanto, em que o fluxo do desdobramento das
possibilidades, e da dominância delas.
(1) Constitui-se compreensivamente. Como consciência pré-
reflexiva, fenomenológica e existencial. Como a vivência do
desdobramento de possibilidades, que é a ação; a
interpretação compreensiva. Fenomenológico existencial.
(2) A vivência gestáltica da ação, da implicação, por sua qualidade
específica e intrinsecamente gestáltica, é a vivência
compreensiva de uma totalidade significativa processual que,
enquanto totalidade, é composta por uma multiplicidade de
partes. Partes estas própria e especificamente gestalts,
também.
(3) Caracteristicamente, a vivência gestáltica dá-se, como
totalidade compreensiva, anteriormente à configuração de
suas partes. As partes, totalidades significativas cada uma
delas, gestalts, possibilidades, podem então figurar, a seguir,
de um modo ativo, paulatina, compreensiva, e particularmente,
num processo figurativo de formação de figura e fundo;
sempre na dinâmica de suas relações com o todo.
(4) A totalidade significativa das gestalts é diferente da soma de
suas partes, sendo a sua articulação dinâmica, e ativa, o que
lhe confere o seu sentido e o seu caráter.

15. IMPLICATIVO XII. Ação. Perfazimento fenomenológico existencial


dialógico, compreensivo, implicativo da ação. Performação. Performance.

O pré compreensivo. A pret ação. Formação, Figuração


compreensivas. Performance. Perfeição.

Na implicação, na vivência compreensiva da ação, o percurso


compreensivo do desdobramento das dominâncias do plexo de possibilidades
surge pré-compreensivamente, desdobra-se compreensivamente, e decai de
116
modo igualmente compreensivo, ao longo do desdobramento. Atingindo o
ponto mais baixo do decaimento à medida que as possibilidades se constituem,
e se instalam, como coisa, como entes. Onticamente.
No seu desdobramento, as possibilidades se constituem, pré-
reflexivamente, como compreensão, como consciência pré-reflexiva. Elas
paulatinamente se desdobram, e, paulatinamente, se constituem como figuras,
como formas compreensivas. Que cabalmente se explicitam, à medida de suas
forças. Enquanto vivência compreensiva, e enquanto formação, figuração,
objetiva, no processo de sua coisificação.
De modo que o processo da ação implicativa, fenomenológico
existencial e dialógico, é, ao nível vivencial compreensivo, um processo
figurativo, gestáltico, um processo de formação – de figura e fundo --,
formático, performático, performativo. À medida que, em seus melhores
momentos, a possibilidade em desdobramento se constitui, formativamente, em
compreensão.
No seu desdobramento, o processo compreensivamente formativo da
ação constitui a coisa objeto, atualizada, realizada – coisa material ou
psicológica --, na forma da instalação de sua coisidade.
Como performação, como performance, perfazimento, a compreensiva
implicativa da ação é um processo de feição. É, própria e especificamente, um
processo, e, em particular, um modo, de fazer, de perfazer – o modo de fazer
ativa e vivencialmente.
E é a este modo de fazer que chamamos de perfeição. A performação,
a performance, a perfeição é, pois, este modo de fazer, através da vivência
ativa, atualizativa, presente, do desdobramento das formas vivenciais da
compreensivas – no modo de sermos da implicação. Formas em que se
constituem, em que se fazem, em que se coisificam, compreensivamente, as
possibilidades, em seus desdobramentos. Neste modo, fenomenológico
existencial e dialógico, performático, de sua formação, de sua feição.
Assim, são per-feitas as coisas objetivadas desta forma, na instalação
de sua coisidade. As coisas que se (per)fazem, se (per)formam, própria e
especificamente, neste modo implicativo, compreensivo, de sermos.
O sentido do prefixo Per decorre de que, em seu aparecer
compreensivo, e implicativo, a possibilidade é o pulso gestáltico de uma força.
Cuja forma já está anunciada em sua enunciação pré-compreensiva, intuída
pré-reflexivamente, nos primórdios de seu desdobramento.
De modo que o seu desdobramento atualizará, explicitará, uma forma,
uma gestalt, já anunciada, na embriaguês trágica de sua vivência pré-reflexiva
dionisíaca.
O percurso performático meramente compreensivo, ou compreensivo e
muscular, da explicitação cabal da ação desta gestalt anunciada é que é a
perfeição da performance.
Fechamento da Gestalt.

117
Perfeição é, assim, um modo performático, compreensivo, implicativo, de
fazermos.
Não por acaso, o modo estésico, estético, de fazermos.
A interrupção deste anunciado percurso -- compreensivo, desproposital
e implicitativo, gestáltico, ativo -- é o que é a imperfeição. Diversamente da
perfeição da performance, a imperfeição é o encalacramento, a interrupção, da
feição, do fazimento, da performance da perfeição. Que é um pulso de
potencia, de força, que tende, por sua própria força, a se explicitar cabalmente
-- implicativa e compreensivamente, fenomenológico existencial, experimental,
e hermenêuticamente.
Em Gestal’terapia, por exemplo, o que interessa não é que uma Gestalt
ou outra, anunciada, não se explicitem cabalmente. Isto é, eventualmente,
inevitável. Mas um padrão de interrupção, regular e sistemático, do
desdobramento espontâneo de possibilidades, do desdobramento de gestalts.
No qual o funcionamento (na verdade, o desfuncionamento), implicativo,
compreensivo, da ação compreensiva é interrompido pelo funcionamento,
oportunamente impróprio, do modo explicativo de sermos; quer ele seja o modo
teorético, ou o modo comportamental de sermos.

16. IMPLICATIVO XIII. Ação. Trágico. A implicação, a ação, é trágica.

A implicação é dionisíaca, apolínea, e dionisíaca. A implicação é


trágica. A intensional, e implicativa, consciência embriagada,
gestáltica, do desdobramento da ação, do desdobramento da
implicação no plexo de possibilidades; Formação, performação,
performance.

A implicação assim, vivência compreensiva, fenomenológico existencial,


dialógica, de um plexo ativo, de uma multiplicidade ativa, de possibilidades,
vivência da ação. Em sua multiplicidade, é consciência dionisíaca. Na qual
predomina a multiplicidade gestaltizada (apolinizada), organizada, da
compreensão, pré-conceitual. E não a unidade do conceitual da consciência,
teórica, do espectador.
É, assim, que a implicação é a momentaneidade instantânea do
desdobramento compreensivo da multiplicidade gestaltizada da consciência do
ator. Do desdobramento compreensivo da consciência da ação.
A implicação, a ação, é apolínea, dionisíaca, e apolínea.
Na medida em que é vivência apolínea-dionisíaca do vigor do
desdobramento compreensivo da multiplicidade gestaltizada da forma; e é
vivência, igualmente apolínea dionisíaca, do limite do desdobramento da forma,
e de diluição da forma.

118
O que conduz ao retorno, ao eterno retorno, da possibilidade em
formação dionisíaco apolínea trágica.
A ação, a implicação, é per-form-ação, é per-formance. A ação é
compreensiva; e, na constituição compreensiva da ação, a forma se constitui,
fulgura, e figura, como figura compreensiva, na sucessão de um processo
gestáltico de formação de figura e fundo.
A forma compreensiva se dissolve, à medida que decai a força da
possibilidade que a anima, dando origem novas possibilidades.
Deixando, como o seu resíduo, a coisa criada, no esgotamento da força
da possibilidade. No seu processo criativo, a possibilidade secreta a coisa,
como algo que não existia, e veio a ser. Assim, criamos o mundo, e a nós
próprios; à imagem e semelhança de Deus...
Instalada em sua coisidade objetiva – vulnerável à observação de um
subjetivo sujeito, causal, útil, e prática, é bom que se diga -- eventual, e
inevitavelmente, atualizada, a coisa, em sua forma, em sua multiplicidade, se
dissolve de modo mais ou menos lento – por isso, ela é ainda ação, instal-
ação. Dando lugar a novas, possibilidades e possibilitações, a novas ações,
formações, a novas performances compreensivas; e a novas coisas
objetivamente instaladas.
Formação e dissolução da forma -- na multiplicidade das possibilidades,
e na integração das possibilidades em seu caráter gestaltizado, em seus
modos apolíneo e dionisíaco --, a atualização da possibilidade, a ação, a
implicação, é assim trágica. No sentido que Nietzsche recuperou aos Gregos.7
As possibilidades em desdobramento emergem do conflito e da
competição em sua multiplicidade. Exaurido o desdobramento das
possibilidades, novas possibilidades podem emergir, e atualizarem-se de modo
formativamente compreensivo, resultando sempre na instalação da coisa como
resíduo.

17. IMPLICAÇÃO. Ação.


Já que não há ação na explicação, a implicação é o modo ativo de
sermos. Ou seja, a implicação é o modo de sermos próprio e específico da
ação, do ato, da atualização, da atualidade. A ação, como vivência do
desdobramento de possibilidades, é, própria e especificamente, implicativa. A
ação é, própria e especificamente, implicação.
A experiência e a experimentação da ação são, própria e
especificamente, vivência pré-reflexiva, fenomenológico existencial dialógica.
Como tal, são vivência do curso do desdobramento da dominância de um plexo
de possibilidades.

7
MACHADO, Roberto NIETZSCHE E A VERDADE.

119
De modo que a implicação é especificamente ativa, desdobramento
possibilidades. Ação.
A atividade da implicação é o curso, percurso, do desdobramento da
dominância de uma multiplicidade – de um plexo – de possibilidades. Que é a
vivência compreensiva da ação, da atualização.
Poderíamos pensar que a vivência de possibilidades, a vivência da ação,
é sempre, assim, como a vivência do movimento da multiplicidade de um
cardume, de possibilidades.
Neste cardume, nesta multiplicidade, neste plexo de possibilidades, cada
unidade é, também, uma multiplicidade, ela também um plexo, de
possibilidades.
A possibilidade, como dominância de sua multiplicidade, pode se
constituir como consciência pré-reflexiva, fenomenológica existencial, e
dialógica; ou seja: pode se constituir como compreensão.
O plexo, gestalt, se dá como a vivência pré-reflexiva, compreensiva, de
uma totalidade significativa, em processo ativo de desdobramento. Neste
desdobramento, as possibilidades partes, constituintes da totalidade, gestalt,
sucessivamente se constituem compreensivamente como figuras. Na medida
que figuram particularmente, reconfigurando em seu percurso, a totalidade
significativa, gestalt, original. Agora como coisa, como acontecido, e não mais
como acontecer, não mais como presente.
É a momentaneidade instantânea da vivência compreensiva do
desdobramento deste plexo de possibilidades que é a implexação, ou seja, a
implicação. E que, em específico, é a ação.

18. IMPLICATIVO XIV. Ação. Implicação. Implexação. Perplexificação.


Perplexidade.

A ação, a implicação, é Perplexidade; é perplexificação.


Pléxica, a ação não é, simplesmente, complexa – cum-plexo . Na
medida em que, em sua constituição, ela é o desdobramento de possibilidades,
ela não é simplesmente a constituição e a constatação do plexo – não é,
simplesmente, com plexo. A ação é uma movimentação, um trânsito, um devir,
que agencia, num vir a ser, as forças dominantes das possibilidades ativas e
envolvidas na multiplicidade do plexo. A própria plexidade, em sua vivência
pré-reflexivamente pré-compreensiva, se constitui neste movimento vivencial
do desdobramento das possibilidades, da ação, da implicação.
Na anunciação pré-compreensiva de sua força, a possibilidade, em sua
plexidade, já anuncia, como possibilidade, a sua forma, a sua formação,
complexas. De modo que o percurso do seu desdobramento é o agenciamento
per-plexo, de constituição e desdobramento do plexo, da multiplicidade, de
possibilidades que se anunciam pré-compreensivamente. Este percurso do
120
desdobramento múltiplo da possibilidade é, per-plexo, a perplexidade, e
perplexificação.
A ação, a gestaltação, é, sobretudo, perplexa, portanto. Ela é, sobretudo,
perplexidade. Perplexificação.
Ou seja, a ação é agenciamento compreensivo, gestáltico, do
desdobramento da dominância das forças das possibilidades do plexo de
possibilidades, que se anunciam pré-compreensivamente, e que se desdobram
como tais e de modo igualmente compreensivo. No movimento de uma
dominância que é perplexidade, que é perplexa, que é o curso da ação, da
implicação, como organização da dominância e agenciamento de uma
multiplicidade de possibilidades . Que é o curso cabal da ação, como cabal
desdobramento compreensivo de possibilidades, com seu princípio, meio, e
fim; fechamento.
O desdobramento do curso da ação constitui a sua consciência
compreensiva, como desdobramento da dominância do plexo das
possibilidades, e do desdobramento de cada uma das possibilidades, do modo
mais cabal.
Desde sua gênese pré compreensiva, até o seu desdobramento
compreensivo. Que, como vimos, pode ser meramente compreensivo, ou
compreensivo e muscular.
A ação, pois, não é meramente a constituição ou a explicação, a
elucidação explicativa, de um plexo.
A ação é a vivência compreensiva do devir -- performático,
fenomenológico existencial, e dialógico -- da constituição, e do desdobramento,
da vivência das possibilidades da multiplicidade de um plexo de possibilidades.
Possibilidades estas que se organizam numa dominância
compreensivamente ativa. E que, agenciamento de constituição e do
desdobramento do plexo, é perplexa, movimento da perplexidade e da
perplexificação, gestáltica. Implexa. Implicação.
Que, compreensivamente, fulgura e figura, inicialmente, como totalidade
compreensiva de uma multiplicidade organizada de possibilidades em
desdobramento. Possibilidades estas que paulatinamente figuram, configuram,
compreensivamente, o desdobramento de suas possibilidades partes. Na
direção da objetivação de suas formas.

19. IMPLICATIVO XV. Ação. Emoção

A ação, implicação, perplexa, é motiva, é moção, é emoção, é


motivação.

O modo fenomenológico existencial de sermos, compreensivo,


implicativo, o modo de sermos da ação, da mesma forma que é o modo de
sermos da movimentação, do devir, é, igualmente, o modo de sermos da
121
emoção. É o modo de sermos do pathos (no sentido Grego), o modo de
sermos, estésico, estético, poiético, da sensibilidade emocionada.
Na medida em que é desdobramento de possibilidade, na medida em
que é movimento, perplexa, a ação é intrinsecamente motiva. É motivação, e é
moção, é emoção.
Por isso a vivência da ação é motivação. E é emotiva.
Daí que o modo de sermos da ação, fenomenológico existencial e
dialógico, compreensivo, e implicativo, é o modo de sermos da emoção. O
modo de sermos da vivência emocionada. O modo de sermos da sensibilidade
emocionada.
O modo de sermos, assim, do pathos, no seu sentido Grego.
O modo de sermos da pathia. Da Empathia.

20. IMPLICATIVO XVI. Ação. O Presente, a atualidade. Implicação, Ação. O


Acontecer.

A ação, o acontecer, envolve, como Buber o coloca, uma


desatualização.
Ou seja, a força da ação, a força do acontecer, a possibilidade, decai
(Heidegger)8 progressivamente. À medida que a possibilidade se desdobra. No
seu desdobramento, a possibilidade cura (Heidegger) em coisa. Desnatura,
perde o seu frescor e atualidade, desatualiza-se em coisa. Inevitavelmente.
Coisifica-se à medida que perde a sua força de possibilidade.
O desdobramento da possibilidade, o acontecer, a ação, são
eminentemente compreensivos, e fenomenológico existenciais, e dialógicos,
são vivenciais, desdobramento de possibilidade, e não coisificados. São
ontológicos.
A coisa terminal, o ente, secretado pela ação compreensiva, são ônticos.
E não ontológicos.
A ação, o acontecer, não são ônticos. Não são entes.
Desdobram-se inevitavelmente, como vivência do desdobramento de
possibilidades, até que, na sua exaustão, secretam a condição de coisa, a
condição de ente, ôntica.
Este desdobramento vivencial da ação, da atualização, que não é da
ordem do ente, da ordem da coisa, da ordem da realidade, mas da ordem,
ontológica, da vivência, se constitui como consciência pré-reflexiva, se constitui
como compreensão. Dá-se, portanto, como vivência compreensiva de sentido,
que se constitui como logos, assim – onto logos, são ontológicos.

8
HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO.

122
Assim, todo a vivência ontológica, à medida que a possibilidade se
desdobra, decai à coisidade, decai ao ôntico, decai à condição de ente, à
condição de coisa.
A coisidade, o ente, o ôntico, estão prontos, estão prestes, à medida que
a ação, que é o acontecer, pré-reflexivo, fenomenológico existencial, e
dialógico, à medida que a possibilidade, ontológica, se desdobra
compreensivamente. A ação, o desdobramento fenomenológico existencial,
compreensivo e implicativo de possibilidades, é própria e especificamente
anterior ao ente, pré-ente.
Mas este desdobramento compreensivo da ação, como desdobramento
da possibilidade, como acontecer, compreensivo, implicativo, fenomenológico
existencial e dialógico, especificamente não é da ordem do ente. Não é ôntico,
da esfera do ente. Ontológico, o desdobramento compreensivo da ação é
especificamente pré-ente, é especificamente pret-ente. É vivência
compreensiva do desdobramento implicativo de possibilidades, e é, e constitui,
própria e especificamente, o que entendemos como Presente. O tempo em
que, igualmente, é a Atualidade.

21. IMPLICATIVO XVII. Ação. Pathos, Empatia, Pathética.

O Pathos Grego da vivência fenomenológica, sensibilidade


emocionada. Em-pathos, Empathia, o modo de sermos da sensibilidade
emocionada fenomenológico existencial, dialógico, compreensivo,
implicativo;

A vivência fenomenológica, pré-reflexiva, implicativa, é movimento, é


motiva, é moção. Ou seja, é sensibilidade estética, e poiética, é sensibilidade
motiva, motivativa, emotiva.
É este sentido que faz com que o modo fenomenológico existencial
implicativo seja entendido como Pathos, na acepção Grega original. Como
sensibilidade emocionada.
Na acepção Latina, derivada, o termo Pathos teve privilegiado o sentido
de sofrimento, de doença. Foi este sentido Latino do termo que predominou
entre nós. E que se constitui enquanto tal em termos e conceitos como os de
Patologia.
Mas, no sentido Grego original, o termo e o conceito de pathos
designam o modo de sermos, movente, comovente, motivo, emotivo, da
estética poiética da sensibilidade emocionada.
De forma que a habitação momentânea neste modo de sermos que
contém a emoção, modo de sermos implicativo, e compreensivo, da
sensibilidade emocionada, fenomenológico existencial, e dialógico,
compreensivo, e implicativo, é o que entendemos como Empatia. Em-pathos.
123
Dentro do pathos.
O pathos aqui entendido, no seu sentido Grego, como sensibilidade
emocionada.
A empatia, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva, é,
assim, estética, e poiética, ativa, e implicativa. A implicação é empática.
Fenomenológica, e dialógica.
A ética do pathos, a patética, compreende o privilegiamento e o valor
ontológico do pathos. Na medida em que a vivência pathica é geradora, é
criativa – na medida em que é a vivência que permite a vivência compreensiva,
implicativa, de possibilidades, e do desdobramento de possibilidades. A ação.
O riginal. E a novidade do devir.
A vivência pática, a vivência empática, patética, é o modo implicativo,
compreensivo, de sermos da ação.

22. IMPLICATIVO XVIII. Ação. Experimentação Fenomenológica.

Empirismo e Experimentação, própria e especificamente,


Fenomenológico Existenciais Implicativos. Dialógicos e compreensivos.

Os termos e conceitos de Empírico, e de Experimental, têm uma mesma


e única raiz: o verbo Grego perire. Que significa arriscar, tentar. O Empirismo
e a experimentação guardam assim entre si certa identidade.
O que se coaduna com a perspectiva implicativa. Na qual a vivência
empírica é sempre experimentação (fenomenológico, compreensivo, e
implicativo); e a vivência experimental é sempre empírica (igualmente no
sentido fenomenológico, compreensivo, implicativo). No modo de sermos,
enquanto atores, enquanto ser no mundo, o acontecer de um devir.
E, sobretudo, no modo de sermos no qual é intrínseco o lidar com a
despropositabilidade, com a incerteza, com a disposição de tentatividade da
atualização de possibilidades. Da ação.
Nada a ver, aqui, naturalmente, com o sentido científico, explicativo, do
empírico e do exprimental.
O empirismo e a experimentação, implicativos, fenomenológico
existenciais, compreensivos, enquanto tais, se dão no modo de sermos que,
dialógica eu-tu, é anterior ao modo de sermos no qual vigora a dicotomia
sujeito-objeto. Ou seja, o empirismo e a experimentação fenomenológico
existenciais são a vivência intuitiva, não teorética, e não comportamental, ativa,
implicativa, não explicativa, que é desproposital, e dialógica, fora do âmbito do
modo de sermos no qual vigora a dicotomia sujeito-objeto...
Naturalmente, o que os diferencia do empirismo e da experimentação
especificamente objetivistas, é que o empirismo e a experimentação
fenomenológicos não se dão no modo de sermos do acontececido, que é o
124
modo explicativo de sermos, no qual impera a dicotomia sujeito-objeto. Como
tais estão Fora da possibilidade de privilegiamento desta dicotomia, e de
privilegiamento de seu polo objeto.
Ainda que o modo de sermos do acontecido seja constituinte do que
somos, ele não é o modo de sermos de vivência pré-reflexiva de sentido: o
modo ontológico de sermos. O modo de sermos implicativo, compreensivo, da
vivência da ação, da vivência do acontecer, da vivência do sentido, é que nos
distingue e caracteriza como humanos, é o modo ontológico de sermos.
O empirismo e a experimentação fenomenológicos são especificamente
ontológicos, compreensivos, implicativos, existenciais.

Empirismo, e experimentação querem dizer sem teoria.


No caso do empirismo e da experimentação fenomenológico existenciais
implicativos, sem teoria; mas, própria e especificamente, no modo dialógico de
sermos, modo implicativo, ontológico, de sermos, modo de sermos da ação
compreensiva, do desdobramento gestáltico de possibilidades, do acontecer,
pré-objetivo, pré-subjetivo, no qual vigora a vinculação dialógica com o tu de
uma alteridade radical. Mas não a dicotomia sujeito-objeto do modo explicativo
de sermos.
Por suas próprias características gestálticas, o modo implicativo de
sermos é assim eminentemente empírico, e experimental – no sentido
fenomenológico existencial. A característica empírica e experimental da
vivencia fenomenológico existencial, compreensiva, decorre, assim, de suas
qualidades gestálticas. O modo de sermos da explicação não é experimental,
neste sentido vivencial, compreensivo, fenomenológico existencial.
A vivência implicativa, fenomenológico existencial, por sua qualidade
gestáltica, é, inicialmente, pré-compreensivamente intuitiva. Ou seja, por sua
qualidade gestáltica, dá-se, antes, como a vivência da força de uma totalidade
significativa. Uma totalidade significativa que, caracteristicamente, é anterior à
figuração paulatina de suas partes.
A ação gestáltica, a gestaltação, a implicação, demanda assim a
disposição para a afirmação intuitiva desta totalidade significativa intuitiva,
ainda em seus níveis pré-compreensivos, e em seu desdobramento
compreensivo, à medida que suas partes figuram compreensivamente, na
dinâmica de sua relação parte todo.

A disposição experimental fenomenológico existencial dialógica, a


experimentação fenomenológico existencial compreensiva, empiricamente
fenomenológico existencial, é esta disposição para arriscar e tentar (perire) a
afirmação do desdobramento vivencial da totalidade significativa, ainda em
seus níveis pré-compreensivos, à medida que, enquanto desdobramento de
possibilidade, ela desdobra figurativamente as suas partes.

Ou seja, a disposição para afirmar este desdobramento a cada


momento, e para decididamente tentar, arriscar, a sua atualização,
eminentemente incerta, e em conflito sempre com o status quo do acontecido.
125
A afirmação, o desdobramento implicativo da totalidade significativa,
pode ser sustado. Bastando para tal que se saia do modo implicativo, para o
modo explicativo de sermos – para o modo teorético, ou comportamental de
sermos. A experimentação, a própria gestaltação, a performance da ação, da
atualização, dá-se na medida em que, implicativamente, insistimos, arriscamos,
tentamos, intuitivamente, pré-reflexivamente, no desdobramento do plexo de
possibilidades, no desdobramento da gestalt, no desdobramento da ação.
O caráter experimental da implicação reside na afirmação de uma gestalt
pré-compreensiva, que evolui compreensivamente, com a qual interagimos,
mas à qual não controlamos, uma vez que, como observa Buber, a
possibilidade precisa de nós próprios para a sua ocorrência, mas não somos
nós que a criamos. Ela tem um controle próprio no pulso e no curso de seu
desdobramento, do qual participamos interativamente, se nos entregamos
afirmativamente ao fluxo de sua espontaneidade.
De modo que lidamos com o risco da incerteza, eminentemente. E
lidamos com o inconveniente que o devir da possibilidade engendra, com
relação ao status quo acontecido, do mundo, e de nós próprios.

Já a partir do sentido do verbo que lhe dá origem, da mesma forma que


dá origem à palavra empírico (o Grego perire), a experimentação em seu
sentido próprio, fenomenológico existencial, envolve esta disposição de tentar,
de arriscar, intuitivamente.

23. IMPLICATIVO XIX. Ação. Empirismo Fenomenológico Existencial


Implicativo

A vivência implicativa, fenomenológico existencial


compreensiva, é eminentemente empírica.
Sua empiria está, assim, na condição de que ela não é teórica, não é a
experiência do espectador, mas a vivência do ator. Em princípio, o que define a
empiria fenomenológico existencial, compreensiva, implicativa, é esta sua
condição de não teorética. É a própria vivência afirmativa, e não a partir de
teoria à priori.

Difere fundamentalmente, como vimos, do empirismo objetivista. Porque


o empirismo objetivista permanece no modo de sermos, explicativo, quer dizer,
não implicativo. No qual vigora a dicotomia sujeito-objeto. O empirismo
objetivista privilegia o polo objeto desta dicotomia.

Ora, a vivência implicativa, pré-reflexiva, fenomenológico existencial, e


dialógica, que caracteriza o empirismo implicativo, fenomenológico,
compreensivo, dá-se no modo implicativo de sermos, que é o modo de sermos
126
no qual não vigora o objeto, e no qual não vigora a própria dicotomia sujeito
objeto. Vigorando a ação, a inter ação da dialógica eu-tu, que não é dicotomia
sujeito objeto. E da qual surge a objetividade, e a subjetividade. E a própria
dicotomização sujeito-objeto.

No modo de sermos da vivência implicativa, fenomenológico existencial


e dialógica, vigora a dialógica da ação, como inter ação eu-tu, como vivência
compreensiva de possibilidade, e do desdobramento de possibilidades.

A vivência implicativa, como empirismo fenomenológico existencial,


implicativo, compreensivo, e dialógico, distingue-se do empirismo objetivista
porque é vivência implicativa, neste modo implicativo e pré-reflexivo de sermos,
que é anterior à objetividade, que é anterior à subjetividade. Que é anterior à
dicotomia sujeito-objeto. E que é, própria e especificamente, o modo de sermos
implicativo da ação. Assim é a vivência empírica, não teorética, fenomenológico
existencial.

Este empirismo fenomenológico implicativo não conflita com o modo


teorético de sermos. Uma vez que o modo teorético de sermos é inevitável, e
interessante, a posição do espectador, anteriormente, e posteriormente, à
momentaneidade instantânea da empiria da vivência implicativa, experimental,
da performance, da interpretação, da ação do ator. Esta, não obstante a
ocorrência, inevitável, a seguir, da experiência teorética, será sempre empírica,
implicativa, compreensiva, fenomenológico existencial, e dialógica.

24. IMPLICATIVO XX. Ação. Argumentatividade e Aporia das Possibilidades. O


Método Aporético.

Argumentatividade e Aporia na vivência da constituição da


dominância no plexo da experiência do desdobramento das
possibilidades;

Em sua vivência fenomenológico existencial, compreensiva, implicativa,


as possibilidades, as forças, que se desdobram em ação, são sempre
múltiplas.
Compreensivas, em seu caráter de consciência pré-reflexiva, as
possibilidades se dão sempre, em seu desdobramento, como sentido, como
logos – fenômeno-logos, dia-logos. Sua vivência compreensiva como sentido,
é, sempre, a vivência de plexos, de multiplicidades organizadas de
possibilidade. Na multiplicidade de seus plexos, elas competem entre si.
Na verdade, elas competem entre si. O que quer dizer que, a nível
cognitivo, a nível de consciência pré-reflexiva, compreensiva, a nível de

127
vivência de logos, de sentido, elas argumentam entre si, implicativa e
compreensivamente.
O que coloca limite a uma possibilidade, em sua força, são outras
possibilidades, a força de outras possibilidades. O que coloca limite às
dominâncias de um plexo de possibilidades são outras dominâncias de plexos
de possibilidades.
Quando uma dominância tem força para se impor, ela vigora, e se
desdobra. Decaindo progressivamente, enquanto, concomitantemente, se
atualiza, se realiza, se coisifica...
A coisificação, e a competitividade de outras possibilidade, e
dominâncias de possibilidades, impõem aporias ao fluxo das possibilidades.
As aporias se constituem como interrupções no fluxo do desdobramento
das possibilidades (poro, passagem; a/poria, sem passagem).
Ao mesmo tempo em que são limites, são estes limites das aporias que
se determinam e promovem o desencadeamento do tempo do desdobramento
de outras possibilidades e dominâncias.
De modo que, na vivência fenomenológica e existencial, o vigor da
possibilidade constitui o seu desdobramento, decaimento, e esgotamento. A
sua aporia; e determina a emergência poiética de novas possibilidades. Essas
novas possibilidades competem entre si, e argumentam entre si, a partir de
suas forças inerentes, e a partir de seus sentidos compreensivos. Até que
podem emergir, e se desdobrar, em seus processos formativos, de formação
de figura e fundo, as mais potentes plasticamente.
Processo implicativo, e compreensivo, é este o desdobramento da ação,
da implicação, da interpretação compreensiva.
Permitir, e insistir, afirmativamente, na vivência afirmativa da intensidade
da possibilidade, na vivência do tempo do vigor da possibilidade, na vivência do
decaimento, e do tempo da aporia da possibilidade; no tempo da criação; e na
vivência da emergência de novas possibilidades, é o que constitui o método
aporético. Desenvolvido já por Aristóteles, e retomado por Brentano, no
empirismo fenomenológico experimental da fenomenologia e da psicologia de
sua tradição.

25. IMPLICATIVO XXI. Ação. Dialógica.

O caráter dialógico da ação, o caráter dialógico da Implicação.

Como temos observado, a ação, a implicação, tem na compreensão, na


consciência pré-reflexiva compreensiva, o seu aspecto cognitivo.

128
A ação, a implicação, dá-se no modo de sermos fenomenológico
existencial. Que, como vimos, é um modo de sermos em cuja momentaneidade
instantânea não vigora a dicotomia sujeito objeto.
A momentaneidade instantânea da ação, a implicação, não obstante, dá-
se estrutural e compreensivamente como a vivência de uma vinculação
dialógica, e incontornável, com uma alteridade radical. Esta alteridade radical é
a alteridade ativa, possibilitativa, e que não é objeto, do tu.
O tu é possibilidade e ação na dialógica da relação.
A momentaneidade instantânea da dialógica se dá como uma implicação
recíproca, eu-tu, na qual o tu se remete ao eu como possibilidade, e como
sentido; e, como possibilidade e como sentido, o eu se remete ao tu.
A dinâmica deste movimento do eu para o tu, e do tu para o eu, como
possibilidade e como sentido, a dinâmica desta inter-ação, cria, como inter-
ação, uma esfera dialógica de vinculação entre o eu e o tu. A esfera do entre –
do inter. Esfera esta que é exatamente designada pelo prefixo dia, do dia-
logos. Esta esfera do entre é uma esfera de compartilhamento de sentido.
Nesta dialógica da ação, o tu se remete compreensivamente ao eu como
sentido; enquanto o eu se remete compreensivamente ao tu, como sentido. De
modo que existe, vivencialmente, compreensivamente, o devir da
movimentação do eu para o tu, do tu para o eu. Criando um campo dialógico
compreensivo, como esfera de inter ação entre o eu e o tu – esfera de
compartilhamento de sentido, de dia-logos.
Neste campo dialógico de sentido, compreensivamente compartilhado, o
diálogo se dá como compartilhamento (dia) de sentido (logos), como diálogo..
O dialógico pode se dar, então, como campo compreensivo de
compartilhamento de sentido, em todos os âmbitos da Implicação. (1) No
âmbito da relação com a natureza não humana, (2) no âmbito da relação entre
humanos, a esfera do inter humano; e (3) no âmbito da relação com o sagrado.
E pode se dar como relação com a outridade de nós próprios. Da qual
continuamente emergimos como possibilidade.
No âmbito da relação inter humana, ou no âmbito da relação com o
Ambiente, a outra pessoa ou o Ambiente podem, no modo implicativo de
sermos, ser vividos como possibilidade em desdobramento, como tu; ou
podem, explicativamente, ser experienciados como objetos – como isso.

26. IMPLICATIVO XXII. Ação. Implicação. Ontologia. Peculiaridade Ontológica


do ser humano: ser ontológico.

A Ontologia é a área da filosofia que estuda a peculiaridade dos seres.


Qual a peculiaridade, para a Ontologia, deste ser que é o ser humano?

129
Para a Ontologia, a peculiaridade ontológica do ser humano é a de ser
ele um ser que é, que devém, onto-lógico; um ser que devém, lógico – um ser
que em sua originalidade se constitui como sentido. Um ser, ontos, cuja
peculiaridade ontológica é de ser ontológico, um ser cuja peculiaridade é a
vivência de sentido...
E que sentido é este? É a vivência compreensiva, implicativa, pré-
reflexiva, de sentido (logos), fenômeno-lógica, dia-lógica, que caracteriza este
ser que é o humano naquilo que ele tem de mais originário.
Os termos Ontologia e ontológico têm aqui cada um deles duas
acepções diferentes.
Na primeira delas, referimo-nos à peculiaridade explicativamente
ontológica, característica, do ser humano; que é a vivência do logos, do
sentido.
Na segunda, falamos do próprio logos, do próprio sentido.Onto sentido,
onto-logos, cuja vivência caracteriza o ser humano. Do logos. O onto logos, a
vivência de sentido que é ontológica do ser humano.
Logos, no caso, que é a constituição do desdobramento da possibilidade
como consciência pré-reflexiva, como compreensão, e implicação. Sendo
assim a vivência deste sentido, o onto logos, o que caracteriza a peculiaridade
do ser humano. A vivência implicativa, compreensiva, fenomenológico
existencial, e dialógica, empírica, experimental, e hermenêutica é, portanto,
vivência de logos, e é ontológica. O sentido, compreensivo, que nela se
constitui, como consciência pré-reflexiva é o logos, o ontologos do ser humano.
Que é eminentemente, intrínseca, própria e especificamente, dia-logos.

27. EXPLICATIVO 3. Inação. A Coisa, e a re-flexão sobre a coisa. A mera re-


petição da coisa.

O caráter inintensional, não tensional, não intensional, da


consciência, e do modo explicativo de sermos, modo de sermos
reflexivo, teorético; e do, explicativo, modo comportamental de
sermos.

O modo explicativo de sermos – quer seja o modo teorético, ou o modo


comportamental de sermos – não é tensional, não é intensional.
É ex-tensional.
No modo explicativo de sermos não vivenciamos a tensão da força das
possibilidades em desdobramento, não vivenciamos o desdobramento
compreensivo de possibilidades, Não vivenciamos a consciência compreensiva
e implicativa do ator e da ação. Não vivenciamos o acontecer, não vivenciamos
intratensionalmente, compreensivamente, o desdobramento da ação. O modo
explicativo de sermos é o modo de sermos do acontecido, da coisidade, da
realidade.
130
Desta forma, não vivenciamos neste modo explicativo de sermos a
tensionalidade, a intensionalidade, própria da presença da vivência da
possibilidade, e de seu desdobramento. Não vivenciamos a tensionalidade, a
intensionalidade da ação compreensiva, a interpretação compreensiva, em sua
tensionalidade, em sua intensionalidade, em sua criatividade, e alegria
próprias.
O modo implicativo de sermos, modo fenomenológico existencial e
dialógico, modo ontológico de sermos, é o modo de sermos do desdobramento
de possibilidades, da ação. O modo de sermos da nossa condição de atores,
modo implicativo de sermos. Que, sendo o modo compreensivo de sermos da
ação, é o modo de sermos do acontecer.
Como o modo explicativo de sermos não é o modo de sermos no qual
vivenciamos possibilidades, e o desdobramento de possibilidades, na
compreensiva da ação, os momentos da experiência do modo explicativo não
são momentos do acontecer. São momentos da instalação do acontecido. E da
realidade.
A realidade, em sua coisidade, ex-tensa, objetiva de acontecido.
Realizada, atualizada, acontecida. Instalação, instalada.
Momentos nos quais o processo de vivência do desdobramento das
possibilidades, a ação, e o acontecer, já se esvaíram. Da mesma forma que já
se esvaíram a tensão, a tensionalidade, a intensionalidade, a eles
correspondente. E nos quais elas não mais vigoram.
A instalação da realidade, o acontecido, são momentos do modo
explicativo de sermos, momentos nos quais vigora a experiência da instalação
do ente, da instalação da coisa, enquanto acontecidos. E, momentaneamente
não tensionais.
Até que, novamente, a ação possa vir a infundi-los de possibilidades e
de presença, de atualidade, e vir a tensioná-los, com o desdobramento de
possibilidades, com a ação, a atualização.
O modo explicativo, de sermos, não implicativo – o modo teorético, e o
modo comportamental de sermos --, modo igualmente não tensional de sermos
-- é, assim, um modo inintensional. Diferentemente do modo implicativo de
sermos, que é caracteristicamente, intrínseca, e eminentemente, um modo
tensional, intensional, de sermos.
Coisificado, carente da ação, de atualidade, e de presença, o modo
explicativo de sermos é o modo no qual a coisa, acontecida, é solicitada, é
pedida, e se re-pete. Mais que isto, o modo explicativo de sermos é o modo de
sermos no qual se desintegra a integridade dialógica eu-tu da ação, do modo
implicativo de sermos (que não é relação sujeito – objeto), e se constitui o
modo de sermos, eu-isso, da dicotomia sujeito-objeto. No âmbito desta
dicotomia, a coisa é objeto que pode ser contemplado, teóricamente, a partir da
perspectiva de um sujeito, que não é o ator, da perspectiva de um sujeito
espectador.

131
28. EXPLICAÇÃO. Inação. Reflexão – Teoria.
A reflexão, a teoria, o modo teorético de sermos, dá-se em decorrência,
e diverge e diferencia-se do modo ativo, implicativo, de sermos. A reflexão, e a
teoria, o modo teorético de sermos, caracteristicamente se dá de um modo
posterior à ação, à interpretação fenomenológico existencial compreensiva, e
implicativa.
O modo ativo de sermos, fenomenológico existencial, compreensivo,
implicativo, dialógico, é, propriamente, ativo; é acontecer, como vivência do
desdobramento compreensivo e implicativo de possibilidades. Com todas as
características que este modo de sermos enquanto tal implica: quais sejam: a
de ser da ordem do modo dialógico eu-tu de sermos, e de não ser, portanto, da
ordem da dicotomia sujeito-objeto; de ser um modo desproposital de sermos, e
de não ser um modo de sermos da ordem da causalidade; de não ser da ordem
da utilidade, de não ser da ordem dos úteis, e da utilização; de não ser,
enquanto modo de sermos do acontecer e do devir, da ordem das coisas e da
coisidade, de não ser da ordem da realidade, do acontecido, uma vez que a
realidade, se constitui com a realização, com a atualização da possibilidade:
com a coisificação da possibilidade. Que, em seu processamento
compreensivo, e implicativo, como desdobramento de possibilidades, é a ação,
a atualização, a realização.
O modo teorético de sermos, própria e especificamente explicativo, se
constitui depois da terminação do modo ativo, implicativo, de sermos. Própria e
especificamente, depois que a vivência e o esgotamento da vivência de sua
instantaneidade sempre momentânea produz, realiza, atualiza, a coisa, a
coisidade... E, fora do modo implicativo, ativo, compreensivo, de sermos,
constitui-nos como modo de sermos do acontecido, no qual vigoram a
dicotomia sujeito-objeto, a causalidade, a utilidade.
Assim, se a ação, a interpretação fenomenológico existencial,
compreensiva, implicativa, e dialógica, se constitui como o próprio processo
fenomenológico existencial do acontecer; a reflexão, e o teorético se
constituem enquanto acontecido.
Na verdade, constituída a coisa -- na ação, com o esgotamento e
realização da força da possibilidade --; reconstituído o modo de sermos da
dicotomia sujeito-objeto; a coisa, material ou psicológica, constituída como
objeto, pode agora ser explicativamente contemplada. Na abstração do
movimento de sua instalação, na abstração da ação, na abstração da vivência
compreensiva, implicativa, de corpo e sentidos. Como objeto abstratamente
teórico, abstratamente contemplado, por um sujeito abstratamente teórico.
Explicativo.
A experimentação da ação nunca é um retorno. Experimentada, ela
desdobra a sua força de possibilidade, desde a pré-compreensão até a
realização, a coisificação. Constituída a coisa como objeto, podemos re-tornar
sobre o objeto instalado, e re-apresentá-lo: representá-lo teóricamente.
O modo implicativo de sermos, compreensivo, fenomenológico
existencial, não é, assim, portanto, o modo de sermos da re(a)presentação, o
modo de sermos da representação. Mas é, em específico, própria e
132
especificamente, o modo de sermos da apresentação. Apresentação, enquanto
apresentação da possibilidade, em sua força, que se projeta, que se insinua,
pressivamente, ex-pressivamente, já desde a pré-compreensão, e que, na
ação, no presente da ação, estamos desafiados a realizar.

E como a reincidência, a repetição sobre, e dos produtos coisificados do


acontecer. Da ação. Da interpretação fenomenológico existencial.
Assim, é necessária a ação implicativa, fenomenológico existencial, para
a objetivação, para a constituição da coisa, sobre a qual re-fletimos, re-
incidimos, explicativamente, no explicativo modo de sermos.
Esta re-incidência é a re-flexão, a re(a)presentação. A teoria, o modo
teórico de sermos; e o modo de ser de nossa condição, não de atores,
implicativamente compreensivos, mas de espectadores.

29. EXPLICAÇÃO. Inação. Comportamento. Com-portamento. O


comportamento é explicativo.

Sem portamento, a ação compreensiva, implicativa, é um des portar, é


um desportamento. Porque nela, ao modo de sermos da ação, implicativa,
compreensiva, fluímos, no fluxo estético, compreensivo e implicativo, do
desdobramento das possibilidades.
Já o com portamento, não. O com portamento é “com porto”, não é
fluxo, é com-portamento.
E o porto do comportamento é o passado, o acontecido, é a repetição, e
a padronização.
O comportamento é a dimensão padronizada e repetitiva de nossa
atividade. Na medida em que se constituem -- a partir da potência e do
ineditismo vivencial, compreensivo, e implicativo, da vivência de possibilidades
-- a ação, a interpretação fenomenológica, e compreensiva, implicativa, não é
atividade padronizada e repetitiva. Ainda que forneça à atividade padronizada e
repetitiva, ao comportamento, a matéria prima, os produtos coisificados da
vivência ativa, poiética, que podem ser, então, padronizados, e repetidos.
Mas, então, realizados, já decaídos e coisificados. Ônticos, entes.
Oriundos do presente.
Neste sentido, a repetição e a padronização teóricas são, própria e
especificamente, com porto. Com port a mentais. E é curioso perceber como
o comportamento, da mesma forma que a teoria, não é implicativo, mas é
explicativo; ao mesmo tempo em que a teoria é comportamental.

133
Teorização e comportamento dão-se no acontecido. Na repetição da
explicação. Que se originam e constituem na vivência múltipla e multiplamente
articulada em processo de formação de figura e fundo da ação. Implicativa.
A ação, a interpretação fenomenológico existencial, implicativa,
compreensiva, é desporto; desportamento. Desporta e flui no devir implicativo,
criativo.

CONCLUSÃO.

Implicação, Consciência e intensionalidade pré-reflexivas.


Compreensão gestáltica. Aporia. Aporética. Argumentatividade. Ação.
Interpretação.

A implicação -- que caracteriza a vivência no modo fenomenológico


existencial de sermos -- dá-se como vivência, como consciência, pré-reflexiva
da tensionalidade, da intensionalidade, do compreensivo desdobramento de
possibilidades: do compreensivo desdobramento da ação; ou seja, a vivência
da implicação dá-se como vivência compreensiva do desdobramento de
gestalts¸ da vivência compreensiva do desdobramento da dominância da
multiplicidade, de um plexo, de possibilidades.
Consciência pré-reflexiva, pré-teorética; e pré-comportamental, esta
vivência da implicação se constitui assim como compreensão. A compreensão
é a constituição como consciência pré-reflexiva, fenomenológico existencial, e
dialógica, da dominância de uma multiplicidade, de um plexo, de
possibilidades. É, pois, aspecto cognitivo do desdobramento da ação, do
desdobramento de possibilidades.
A compreensão é especificamente gestáltica. Na (des)medida em que se
dá sempre como a totalidade significativa, compreensiva, que é diferente da
soma de suas partes. E é vivenciada inicialmente como uma totalidade de
partes, que só sucessivamente se configuram paulatinamente como tais.
Originaria e primitivamente, portanto, a consciência implicativa --
compreensiva, Gestáltica -- se dá, intuitivamente, como consciência pré-
reflexiva, da dominância da atividade do plexo de possibilidades, na medida em
que é vivenciada como totalidade significativa, anteriormente à configuração
compreensiva paulatina das partes, que re-formam, agora como coisa,
possibilidade desdobrada, exaurida, realizada, a totalidade, a gestalt,
atualizada.
O desdobramento gestáltico da dominância das possibilidades, da ação,
é o que entendemos como Implicação, e como Interpretação. No caso
Interpretação compreensiva, implicativa. É a consciência da ação, e do ator.
Projetativo. E não subjetivo, nem objetivo.
134
Implicação, e não explicação. Interpretação própria e especificamente
compreensiva, fenomenológico existencial, e não a interpretação explicativa.
Na vivência gestáltica da ação, e enquanto sentido, própria e
especificamente, enquanto logos, dia-logos, fenômeno-logos, em sua intrínseca
multiplicidade, pluralidade, implicativas, as possibilidades competem
argumentativamente umas com as com outras, se desdobram, se atualizam.
De um modo tal que as possibilidades se limitam entre si. Impondo-se aporias
uma às outras.

A aporia é o limite do fluxo do desdobramento da força da


possibilidade.
No limite, na aporia, emergem outras possibilidades, outras implicações,
que, logos, sentido, compreensivas, argumentam, competem, e limitam-se
entre si. Até que as mais potentes plasticamente imponham os seus
desdobramentos dominantes.

135
BIBLIOGRAFIA
BUBER, Martin EU E TU.
HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO.
NIETZSCHE, Frederich O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA
PALMER, Richard HERMENÊUTICA.

136
137
ERRÂNCIA INSISTENCIAL NA EPISTEMOLÓGICA FENOMENOLOGICO
EXISTENCIAL GESTALTIFICATIVA

138
ERRÂNCIA INSISTENCIAL NA EPISTEMOLÓGICA
FENOMENOLOGICO EXISTENCIAL GESTALTIFICATIVA
Ética e performática do erro, da errância, na perfeição, no perfazimento,
da experiência, e da metodologia fenomenológico existencial
gestaltificativa.
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

O que o poeta quer dizer no discurso não cabe e se o diz é pra saber o que ainda não sabe.
Ferreira Gullar. A Não Coisa.

INTRODUÇÃO
A experiência do modo reflexivo de sermos, modo de sermos explicativo,
representativo, modo coisa de sermos do acontecido, distingue-se da experi-
mentação do modo implicativo de sermos, pré-reflexivo, compreensivo, feno-
menológico existencial e dialógico. Porque a momentaneidade instantânea do
modo pré-reflexivo de sermos é vivência implicativa, fenomenológico existenci-al e
dialógica, gestaltificativa. Ação, atualização, modo de sermos, presente, do
acontecer.
A vivência fenomenológica gestaltificativa, e a metodológica gestaltifica-tiva
fenomenológico existencial constituem-se como uma entrega às temporali-dades
próprias à experimentação vivencial fenomenológico existencial e dialó-gica,
compreensiva, implicativa, gestaltificativa deste modo de sermos.
A vivência da implicação fenomenológica gestaltificativa, no modo pré-reflexivo de
sermos é a vivência do desdobramento fenomenológico, fenome-nativo,
eminentemente cognoscitivo, de uma multiplicidade de forças plásticas. Forças, de
múltiplas intensidades. As possibilidades.
Que se organizam criativamente, formativamente, nos processos figura-tivos de
formação de figura e fundo; e nos processos de formação das coisas.
A experimentação, a ética, e a metodológica gestaltificativas -- enquanto entrega à
vivência ativa das temporalidades propriamente fenomenológicas da emergência e
do desdobramento das possibilidades --, constituem-se, intrínse-ca e
inerentemente, como um pervagar, um errar, uma ativa errância performa-tiva,
desproposital, acausativa, e não pragmática, nem realista, pelas tempora-2

139
lidades próprias das intensidades dos desdobramentos destas possibilidades. Na
dialógica de seus gestaltificativos processos de formação.
Formação criativa de figura e fundo, e formação criativa de coisas.
Que, percurso de projetação das forças criativas, form-ativas, das possi-bilidades,
em suas temporalidades próprias, é, a cada um de seus momentos, a performance
de um fazer, nas temporalidades dos desdobramentos próprios de suas
intensidades, um per-fazer, um per-fazimento. Per-feição.
A ética e a metodológica das psicologias e psicoterapias fenomenológico
existenciais consistem no privilegiamento deste modo fenomenológico existen-cial
e dialógico de sermos, compreensivo, implicativo, gestaltificativo. O que significa a
aquiescência com a vivência das temporalidades da errância gestal-tificativa que
caracteriza a emergência e o desdobramento, na ação, na atuali-zação, das forças
das possibilidades que constituem a sua vivência. 3

140
CONCLUSÃO
Assim, a experiência, a experimentação, a ética, e a metodologia feno-
menológicas, e fenomenativas, gestaltificativas, das psicologias e psicoterapias
são uma incidência insistencial na dialógica da experiência pré-reflexiva, e da
experimentação do desdobramento de possibilidades fenomenológico existen-
ciais, gestaltificativas. O que implica, intrínseca e inerentemente, um certo tipo de
errância fenomenológica pelas temporalidades das intensidades das domi-nâncias
das forças das possibilidades, em suas constituições e atualizações, em seus
processos de formação de figura e fundo, e de formação de coisas.
Uma ativa pervagância desproposital, uma transvagância, do erro, da er-rância
gestaltificativa. Que, pelas desiguais temporalidades das desiguais in-tensidades
das forças desiguais das possibilidades e possibilitações, em sua ontológica
emergência e desdobramento, é sempre uma extra-vagância. E, formação, um
fazer, uma feição, ao modo do perfazer, ao modo da perfeição fenômeno dialógica
gestaltificativa. 4

141
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 3
SUMÁRIO ..................................................................................................................... 4
FORÇAS DA VIVÊNCIA FENOMENOLÓGICA, AS POSSIBILIDADES, NA
FORMAÇÃO DE FIGURA E FUNDO, E NA FORMAÇÃO DAS COISAS
INSTALATIVAS. GESTALTIFICAÇÃO. ....................................................................... 5
INSPECTADORES DA AÇÃO. INSPECTADORES DO ACONTECER. ATORES. ..... 8
ERRÂNCIA E DOMINÂNCIA NA TENSÃO, NA TENSIONALIDADE, NA
INTENSIONALIDADE. ................................................................................................. 9
EM SEU ACONTECER, AS PERCEPÇÕES SÃO MÚSICAS .................................... 11
VONTADE DE NADA, NIILISMO RESSENTIMENTO E A ÉTICA, ESTÉTICA, E
METODOLÓGICA DA ERRÂNCIA GESTALTIFICATIVA FENOMENO DIALÓGICA.
................................................................................................................................. 12
VONTADE DE IMPOTÊNCIA. VONTADE DE NADA. NIILISMO E NILISMO
RESSENTIMENTO. PUNIBILIDADE E PUNIÇÃO DA ERRABUNDAGEM ................
13
DANE-SE A REALIDADE... ....................................................................................... 16
A PERFEIÇÃO DO ERRO. PERFAZIMENTO, PERFORMANCE DO ERRO,
PERFORMANCE DA ERRÂNCIA. ............................................................................. 17
PERFEIÇÃO, PERFAZIMENTO, DA AÇÃO, DA INSPECTAÇÃO. O CAMINHO DO
MEIO. O MOVIMENTO PELA LINHA DE MENOR RESISTÊNCIA. ...........................
19
PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL DIALÓGICA,
COMPREENSIVA, IMPLICATIVA, GESTALTIFICATIVA, E ERRÂNCIA
FENOMENOLÓGICA GESTALTIFICATIVA. ..............................................................
23
VIVÊNCIA GRUPAL. GRUPATIVIDADE. INTENSIONALIDADE, ERRÂNCIA E
INTENSIFICAÇÃO NA EXPERIÊNCIA COLETIVA GRUPATIVA. .............................
24
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 26
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 29
5

142
FORÇAS DA VIVÊNCIA FENOMENOLÓGICA, AS POSSIBILIDA-DES, NA
FORMAÇÃO DE FIGURA E FUNDO, E NA FORMAÇÃO DAS COISAS
INSTALATIVAS. GESTALTIFICAÇÃO.
O modo implicativo de sermos se distingue do modo explicativo de sermos por
ser fenomenológico existencial, e dalógico; compreensivo e gestal-tificativo, própria
e especificamente. O modo implicativo de sermos é o modo de sermos de
consciência, de cognição, pré-reflexivas, fenomenológico exis-tenciais. Modo de
sermos pré-reflexivo da vivência do desdobramento gestalti-ficativo de
possibilidades. A ação, a atualização. O que quer dizer, o modo im-plicativo de
sermos, é o modo de sermos do acontecer. Diversamente do mo-do explicativo
que é caracteristicamente o modo de sermos do acontecido.
O que caracteriza o modo implicativo de sermos, fenomenológico exis-tencial e
dialógico, compreensivo e implicativo, é que ele é o modo fenomeno-lógico
existencial de sermos da ação. Da criação. Que é a vivência, cognitiva, pré-
reflexiva, do desdobramento fenomenológico de possibilidades.
As possibilidades que constituem a vivência fenomenológica pré-reflexiva da ação
são sempre múltiplas, infinitamente múltiplas...
E intrinsecamente organizam-se em plexos – plic -- de possibilidades. Que
significaria o entrançamento das possibilidades. Daí implicação, como designação
própria desse modo de sermos. As gestaltificações.
As possibilidades são forças intrinsecamente cognoscíveis, por defini-ção, em seus
desdobramentos fenomenológicos gestaltifictivos. De modo que, inerente e
intrinsecamente, se os desdobramentos de possibilidade se consti-tuem como
consciência. Em específico, a experiência e a experimentação pré-reflexivas da
consciência fenomenológica gestaltificativa.
Assim, na sua vivência fenomenológica implicativa, na instantaneidade de cada um
de seus momentos, as possibilidades são eminentemente múltiplas em seus
desdobramentos. A consciência fenomenológica gestaltificativa se constitui
vivencialmente, pré-reflexivamente, fenomenologicamente, como pro-cessos de
figuração, como processos de formação de figura e fundo, a partir de
multiplicidades de forças plásticas, formativas, gestaltificativas, que são intrin-
secamente cognoscentes em seus desdobramentos, e que se organizam impli-
cativamente.
A vivência fenomenológica implicativa do desdobramento das possibili-dades
constitui o que chamamos de ação.
A vivência da dinâmica dramática -- quer dizer ativa, drama quer dizer ação --,
desta organizatividade fenomenológica gestaltificativa decorre de que,
especificamente cognitiva (logos, fenômeno logos, sentido), a vivência da
multiplicidade de forças plásticas, formativas, a vivência dos desdobramentos das
possibilidades, se dá caracteristicamente entre elas em competições e
argumentações1 fenomenológicas.
1 ALBERTAZZI, L. The School of Franz Brentano. 6

143
Resultando destas lógicas, fenômeno-lógicas, onto-lógicas, dia-lógicas,
competições e argumentações plastificativas a vivência fenomenológica gestal-
tificativa da constituição de dominâncias.2

144
2 PERLS, F Gestalt Therapy.
Dominâncias que figuram, então, como formações e como formas da
consciência fenomenológica, pré-reflexiva; figurações que cognitivamente, como
consciência pré-reflexiva, fenomenal, fulguram, contra suas fundações. E que se
constituem, a seguir, em instalações coisificativas, subjetivas, e obje-tivas.
A vivência da constituição das dominâncias, nos processos de forma-ção de
figura e fundo, e da formação de coisas instalativas, é o acontecer fe-
nomenológico gestaltificativo.
A experiência objetiva, e subjetiva, da factualidade da coisidade instala-tiva é o
acontecido, que decorre do acontecer.
Nós não controlamos deliberadamente a ação fenomenológica do des-dobramento
das possibilidades. Buber já diria, ontológico, que não somos nós que criamos
as possibilidades, e os desdobramentos delas; arremataria paradoxalmente,
não obstante, que, sem nós elas, as possibilidades, não acontecem.
Isto nos confere uma intrínseca parceria participativa na fenomenológica
interpretação da dramática interativa dos processos da ação, de atualização das
possibilidades; nos desdobramentos de seus processos lógicos, fenômeno
dialógicos, compreensivos, e implicativos, de competição e de argumentação. Uma
parceria participativa nos processos de formação das dominâncias, da formação
de figura e fundo da vivência fenomenológica gestaltificativa. E, no limite, nos
processos de formação das coisas.
Mas, fenomenológica parceria participativa interativa, compreensiva e implicativa.
Dialógica. Apenas.
Retira-nos o controle deliberado e premeditativo.
Como forças especificamente plásticas que são, plastificativas, as possi-bilidades,
em suas gestaltificações, são eminentemente criativas, formativas.
De um modo tal que a característica especificamente gestaltificativa i-nerente ao
processo da vivência fenomenológica e existencial reside de um modo essencial,
dentre outros de seus aspectos essenciais, no seu caráter in-trinsecamente
formativo. Em seu caráter de ação formativa (form-ativa).
Dentre outros de seus aspectos, gestaltidade, gestaltificação, é formati-vidade. 7

145
Não forma, simplesmente; mas formação, vivência formativa.
Vivência própria e especificamente Formativa:
(1) Vivência inspectativa formativa das formas e das dinâmicas pré-reflexivas,
fenomenológicas, de figuração e fundação, de formação de figura e fundo.
Vivência formativa das figuras, vivência das figurações.
E, no seu limite, vivência formativa
(2) das coisas, como instalações; das coisas como coisas instalati-vas.
Coisas mentais e coisas materiais.
Porque, própria e especificamente, a vivência gestaltificativa é formativa do
processamento de formação de figura e fundo da consciência pré-reflexiva, e do
processo formativo da formação das coisas, a vivência fenomenológico existencial
é, assim, própria e especificamente, gestaltificativa. É Fenomeno-logia
Gestaltificativa.
As possibilidades que se constituem em vivência gestaltificativa dão-se sempre
como multiplicidades de forças. Vivência de multiplicidades, multi-plicidades de
forças. Forças eminentemente plásticas, formativas, que se constituem pré-
reflexivamente, conscientemente, como a experiência es-tética e poiética.
O caráter gestaltificativo da vivência fenomenológica se dá ainda de uma outra
maneira.
Na intrínseca e inerente condição de que, de um modo característico,
anteriormente aos seus desdobramentos como partes, a vivência fenome-
nológica se dá, pré-reflexiva e intuitivamente, como a vivência de totalidades.
Como a vivência de totalidades significativas. Gestaltificações.
De modo que anteriormente ao desdobramento de suas participações, de suas
figurações, as possibilidades, as forças plásticas que constituem a vi-vência,
intuitivamente se dão, figuram, como totalidades significativas. Poste-riormente
a esta figuração como totalidades significativas, as possibilidades se desdobram
desfiando as figurações dos processos particulares de forma-ção de figura e
fundo, constituintes e reconstituintes das totalidades significa-tivas que
anteriormente se apresentam.
Nos seus desdobramentos plasticamente formativos, sequencialmente à vivência
da intuição das totalidades significativas, a multiplicidade das forças delas
constituintes, as possibilidades, se organiza temporal e ritmicamente em
dominâncias (Perls). Que se constituem como particip-ação das figura-ções
participativas da vivência dos processos gestaltificativos de formação de figura e
fundo.
Que escoam, a seguir, no seu decaimento (Heidegger), nos processos de
constituição objetiva, e subjetiva, de coisas, a instalação de coisas, as coisas
instalativas, em sua em sua inovatividade criativa. 8

146
INSPECTADORES DA AÇÃO. INSPECTADORES DO ACONTECER. ATORES.
Inspectadores, atores -- e não espectadores, já que não somos, nestes
momentos, sujeitos, na contemplação de objetos --, vivemos de modo interati-
vamente dialógico a relação com a alteridade das forças que são as possibili-
dades. Na vivência fenomenológica gestaltificativa, fenomenativa, as possibili-
dades, não são objetos para nós outros; não são objetos do sujeito que sería-mos,
na espectação, e não o somos na inspectação. Não somos, na instata-neidade
momentânea da vivência fenômeno dialógica gestatificativa, da ação, o sujeito,
sujeitado, que seríamos na acontecida condição do acontecido, na condição de
coisa instalativa. Nos modos teorético, e comportamental, de ser-mos.
Não temos com elas, as possibilidades, uma relação objetiva, nem sub-jetiva –
porque não estamos no modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto, nem no
modo de sermos de sua teorética dicotomização. No modo de sermos da ação,
modo de sermos fenômeno dialógico do desdobramento de possibili-dades, não
estamos no modo de sermos da causalidade; nem no modo de sermos da relação
proposital; nem modo de sermos da pragmática dos utei, e das utilidades; nem no
modo de sermos da realidade. Todas estas característi-cas do modo de sermos do
acontecido.
Quando, na momentaneidade instantânea da vivência dramática do des-
dobramento das possibilidades, somos acontecer.
Em seu acontecer gestaltificativa e dialogicamente fenomenológico, as
possibilidades em seus desdobramentos, e com as quais interativamente nos
vinculamos, não são objetos, mas a alteridade dialógica de um tu.
Na vivência do desdobramento das possibilidades, na dialógica da rela-ção com
elas, especificamente criamos, a nós próprios e ao mundo, com os outros. À
imagem e semelhança de Deus.
Mas não temos com as possibilidades inerentes a nossa vivência feno-menológica
gestaltificativa uma relação objetiva, nem subjetiva, nem uma rela-ção causal, nem
proposital, nem pragmática, nem realista.
E elas, as possibilidades, forças, são sempre múltiplas, na vivência, in-
finitamente múltiplas. Multiplamente emergentes em sua originalidade fenome-
nológica. E múltipla e implicativamente se apresentam, e se organizam, gestal-
tificativamente. Ontologicamente emergentes do Ser. Em seus desdobramen-tos
cognoscentes. 9

147
ERRÂNCIA E DOMINÂNCIA NA TENSÃO, NA TENSIONALIDADE, NA
INTENSIONALIDADE.
Intensidades, intensões, intensionalidades, intensificações; que, tempo-ral e
ritmicamente, se organizam em dominâncias. As possibilidades, em suas
multiplicidades, forças e temporalidades, temporalizações que são, são ten-sões,
intensões, tensionalidades, nas vivências, intensionalidades, de seus
desdobramentos temporativos.
A constituinte, formativa, fenomenologia gestaltificativa de suas vivên-cias é a
temporativa de um vagar, de um divagar, de um pervagar, de um errar, de uma
errância; vigorosamente direcionada pelos vetores de força do fluxo de suas
intensidades, na constituição expressiva de suas dominâncias gestaltifica-tivas.
A vivência fenomenológica gestaltificativa se constitui, assim, como a
temporalidade de uma errância formativa pelas temporalidades das forças das
possibilidades, na constituição e desdobramentos de suas dominâncias feno-
menativas.
A vivência da ética e da metodológica fenomenológica existencial gestal-tificativas
constitui-se, assim, como a vivência da performance, da performa-ção, das
temporalidades de uma vagância, de uma errância fenomenológico existencial
gestaltificativa, formativa.
Como vivência interativa dos desdobramentos das temporalidades das
competições e argumentações entre as possibilidades, na constituição de suas
dominâncias figurativas; e, a seguir, instalativas.
Dialógicamente, logicamente, fenomenologicamente, compreensiva e
implicativamente, experimental e hermeneuticamente, assim, o que vivemos de
modo gestaltificativamente fenomenológico na dramática da ação, na dramática
fenômeno dialógica da atualização das possibilidades, na dramática da vivên-cia
fenomenológica gestaltificativa da ação, são as temporalidades de um va-gar, um
pervagar; um devagar divagar. As temporalidades da errância ativa e cognitiva,
motiva, e emotiva, motivativa, no fluxo fenomenológico gestaltificativo das
competições e argumentações multívagas das dádivas das possibilidades.
Exclusivamente guiados, e fortemente guiados, entusiasticamente guia-dos,
motivamente, emotiva e motivativamente, pelas variações das intensida-des
plastificativas e intensificações gestaltificativas de suas multiplicidade de forças, na
constituição de suas dominâncias.
Forças que se formam cognitivamente, como consciência pré-reflexiva, fenomenal,
em dominâncias figurativas, nos processos de formação de figura e fundo; e, no
limite, nos processos da formação das coisas instalativas. 10

148
Assim, na pontualidade de sua duração, o processo fenomenológico --
fenomenativo, gestaltificativo, o processo fenomenologicamente formativo da ação
-- é, por excelência, o processo gestaltificativo intensional de formação de figura e
fundo, e o processo de formação de coisas, a gestaltificação. Que sucessivamente
se constitui, a partir da constituição temporal das dominâncias na interação entre
as possibilidades.
Fenomenologicamente, a gestaltificação é a vivência de uma errância pelas
competições e argumentações das possibilidades, ritmicamente tempora-lizadas
pela força de suas intensidades, intensificações, intensionalidades, na constituição
da dominância de suas figurações, vivenciais; e instalativamente coisificantes. De
modo que o erro, a errância, são inerentemente constituintes do ethos, da ética, da
qualidade, da vivência fenômeno dialógica gestaltificati-va.
Não se trata, de modo algum, de um errar randômico e aleatório. Uma vez que
é um errar vigorosamente impulsionado pela inerente e intrínseca força das
possibilidades e de suas dominâncias; e todo ele intensão, intensio-nalidade,
portanto, na pontualidade de sua duração.
Mas a vivencia intensional do desdobramento das possibilidades, a vi-vência
fenomenológica gestaltificativa da ação é intrínseca e inerentemente
desproposital, um despropósito.
Já que, inspectativa, fenômeno dialógica, compreensiva e implicativa, é anterior à
constituição coisificativa de sujeitos e objetos. Vivenciamos mas não controlamos
as suas emergências, as suas forças, os seus desdobramentos...
Ainda que deles inteira e integramente participemos, na ontológica fe-nômeno
dialógica gestaltificativa do modo interativamente dialógico de sermos.
Fenomenológico existensial e dialógico, compreensivo, implicativo, gestaltifica-
tivo...
A vivência fenomenológica formativa da figuração, contra a fundação, do fundo; a
vivência igualmente, da formação de coisas; a ação; decorre, assim, de que este
processo fenomenologicamente gestaltificativo de figuração, e de coisificação, se
dá, originariamente, como a vivência das temporalidades do desdobramento de
forças, como vivencia dos desdobramentos de possibilida-des. Possibilidades que,
nos seus desdobramentos pressivos, expressivos, como tais, se projetam, se
lançam, fenomenologicamente, se expressam, como vivencia, como forças, como
possibilidades em desdobramentos: projetos, je-tos, jatos, projetações; como
esboços, como disegnos, como perspectivas, perspectivações, como
gestaltificações, como interpretações.
Interpretações compreensivas, e implicativas... 11

149
EM SEU ACONTECER, AS PERCEPÇÕES SÃO MÚSICAS
Alguém já disse, não recordo quem, fico devendo, que seria fantástico se
pudéssemos perceber as pessoas como músicas...
Fantástica a ideia.
Intrinsecamente vivencial, fenomenológica, a percepção de cada pesso-a, cada
percepção, em verdade, em sua atualidade, é como a atualidade, e a atualização,
de uma música. Com seus acordes, com seus tempos, movimen-tos; enfáticos,
sutis, breves, longos... Com as temporalidades da duração da errância de suas
intensidades...
Tão sábios são os Africanos Sudaneses, e tanto sabem disso, me con-tou a minha
amiga Morgana, que quando uma pessoa nasce compõem para ela uma música. A
música dela. Que é tocada nas datas e momentos celebrati-vos. Disse Morgana
que quando a pessoa comete uma falta, a aldeia se reúne, coloca a pessoa no
centro de um círculo, e canta para ela a música dela. Até que ela possa voltar a si.
Incrível a sensibilidade dos Sudaneses, inclusive nesta sofisticada per-cepção da
essência de nós outros como músicas.
Este é já um aspecto mais ritual, relativo a este caráter musical de nosso ser, de
nosso vir a ser.
Na verdade, toda vivência, toda percepção é música. Toda vivência é música,
na temporalidade própria da errância de sua expressão, na errância de sua
interpretação fenômeno dialógica... Um vagar, um divagar devagar, um erro, uma
errância, intensional, insistensial, inspectativa, pelas temporalidades dos
desdobramentos cognoscitivos de intensidades de possibilidades, que se
organizam e atualizam na constituição de dominâncias.
Quer dizer, se admitimos, se aquiescemos, se condescendemos, se in-sistimos, na
vivência de suas temporalidades próprias, pré-reflexivas, fenome-nológico
existenciais e dialógicas, compreensivas, e implicativas, gestaltificati-vas.
Não só na atualização da revivescência de possibilidades incrustadas na
instalação de um acontecido, na instalação de uma coisa -- atualização que é
sempre nova, sempre atualização na instalação coisificada, acontecer, tam-bém.
Mas, igualmente, a atualização, como emergência do desdobramento,
interpretação, da possibilidade inédita.
Na condescendência sutil com as temporalidades, das intensidades, de suas
forças, de suas possibilidades, próprias, toda vivência é música. Se con-
descendemos com a musicalidade intrínseca de suas temporalidades. Se con-
descendemos com a errância própria e particular das temporalidades de suas
tensionalidades, se condescendemos com a errância particular das forças e
dominâncias de suas intensionalidades.
Um errar, uma errância expressivamente fenômeno dialógica, compre-ensiva e
implicativamente, interpretativa. Por competições e argumentações, intensidades,
intensões, intensionalidades; por dominâncias, de possibilidades. Pela vivência de
forças. Plásticas forças. Por tons e ritmos, que rigorosa e sua-vemente, ou não, se
organizam e se expressam figurativamente; que se confi-12

150
guram, figuram, segundo as dominâncias, seguindo a temporalidade das domi-
nâncias, de suas intensificações plásticas, criativas, formativas. Seguindo as
dominâncias de suas intensificações.
VONTADE DE NADA, NIILISMO RESSENTIMENTO E A ÉTICA, ES-TÉTICA, E
METODOLÓGICA DA ERRÂNCIA GESTALTIFICATIVA FENOMENO
DIALÓGICA.
O caráter errativo -- o caráter de erro, de errância, de variação -- da constituição da
vivência, da ética, da estética, gestaltificativa fenômeno dialógi-ca, e da
metodológica gestaltificativa --, do processo gestaltificativo performáti-co de
formação de figura e fundo, e de formação de coisas --, advém, assim, no limite,
destes dois aspectos intrínsecos e fundamentais das possibilidades e de sua
atualização gestaltificativamente fenomenológica e pré-reflexiva.
(a) Esta intrínseca característica da vivência fenomenativa de se consti-tuir
especificamente como a vivência de forças; forças plásticas, ten-sionais,
intensionais, estéticas, poiéticas. As possibilidades. As forças de tudo em que
agimos, as forças de tudo em que devimos em nosso ser no mundo. E que se
expressam em competições e argumenta-ções, constituindo dominâncias, lógicas,
fenomenológicas, dialógicas, ontológicas.
(b) E a intrínseca característica de que estas forças, as possibilidades
experienciadas na vivência ontológica -- pré-reflexiva, fenomenológi-co existencial,
e dialógica, compreensiva e implicativa -- intrinseca-mente se constituírem como
vivência de multiplicidades de forças. Como vivência de multiplexidades,
implexativas, implicativas. Como a vivência de multiplicidades infinitas de forças
plásticas.

Forças múltiplas. Forças que, em suas multiplicidades, competem e ar-gumentam


entre si, constituindo dominâncias, que se destacam cognitivamen-te, que se
impõem na constituição da vivência das figurações dos processos de formação de
figura e fundo. Processos igualmente ontológicos de criação de coisas. Forças,
multiplicidade de forças, é o que constitui a nossa vivencia fe-nômeno dialógica
lógica compreensiva e implicativa, gestaltificativa.
Nos fluxos dos desdobramentos cognitivos da vivência, esta multiplici-dade de
possibilidades organicamente se organiza de um modo característico, de um modo
rítmico, segundo a ordem estética e poiética da temporalidade de suas
intensidades plásticas, segundo a ordem de suas competições e argu-mentações,
enquanto intensidades cognitivas.
A vivência de multiplicidades infinitas de forças, de possibilidades, forças
cognitivamente plásticas, que vivencialmente se organizam em suas competi-ções
e argumentações, faz com que a aquiescência, intensional, inspectativa, na
temporalidade própria da duração de suas intensidades, de suas competi-ções e
argumentações ontológicas, seja, em específico, um errar, a temporali-dade de um
errar, a temporalidade de uma errância gestaltificativa, improvisati-va e formativa.
O erro e a errância vivenciativas por intensidades, intensões, 13

151
intensidades, intensionalidades; e dominâncias, mais ou menos, mas sempre,
provisórias.
Um errar vivido de um modo rítmico vigoroso, como processo de forma-ção de
figura e fundo, e como processo de formação de coisas...
Naturalmente que não nos referimos aqui ao erro no sentido moral, de certo e de
errado.
Até porque este errar gestaltificativamente fenomenológico se dá e se desdobra
no domínio do ético.
Aliás, própria e especificamente, no domínio ético do est-ético. E, evi-dentemente,
no domínio do poi-ético, ético, da vivência fenômeno dialógica gestaltificativa do
desdobramento de possibilidades.
No sentido de um caráter ético própria e especificamente errabundo3 da
vivência fenômeno dialógica gestaltificativa da ação, da vivência do
desdobramento cognoscitivo das possibilidades.
3 (fr)[Classe...]
(demorarse; durar; ir despacio; tomarse su tiempo; demorar; moverse muy despacio), (andanza; vagabundeo; odisea;
andanzas; extravío; merodeo; viajes; vuelta; paseo)[Thème]
(vía; carril), (moverse), (tráfico; tránsito; circulación)[Thème]
qui se déplace (fr)[Classe]
errabundo (adj.) (http://dictionnaire.sensagent.com/errabundo/es-es/).
E não no domínio teorético do moral. E dos moralismos.
Errar no sentido metafórico de errância, de vagar, de perambular...
De erro e de errância falamos aqui no sentido, pré-reflexivo, ético, de pensamento
errante, de que falam os nietzscheanos...
VONTADE DE IMPOTÊNCIA. VONTADE DE NADA. NIILISMO E NILISMO
RESSENTIMENTO. PUNIBILIDADE E PUNIÇÃO DA ERRABUNDAGEM
Uma errabundagem, naturalmente, nas forças das potências do possí-vel, as
possibilidades. O erro, o errar, a errância, fenômeno dialógicos gestalti-ficativos
são indissociáveis e intrínsecos não só à ação, como movimento, à moção; mas
indissociáveis e intrínsecos à própria e-moção, e à motivação, i-gualmente
intrínsecas e inerentes à ação.
E aí as coisas mais se complicam, na ótica da vontade de nada do nii-lismo, e da
moral do fatalismo e da fatalidade.
Porque, em essência, a errância possibilitativa é vontade de potência, vontade
de possibilidade, vontade de tudo, a bem da verdade – vontade com tudo, com
toda a força, diríamos, num certo dialeto nosso. 14

152
E aí -- na ótica do niilismo, do fatalismo, nas óticas da vontade de nada -- a
potência --, a vontade de potência, a vontade de possibilidade, a criação, a
vontade de tudo, à vontade com tudo --, são criminalizadas, e punidas.
São criminalizados, numa tentativa vã de imobilização, e punidos, natu-ralmente, a
própria moção, a emoção, e a motivação, o movimento... A motiva-ção e a
emoção, que são intrínsecas e essenciais à moção, ao movimento, da atualização
de possibilidades, da ação, são criminalizadas. São criminalizados o errar, a
errância, intrínsecos à temporalidade fenomenológico gestaltificativa constituinte
da ação.
A vontade de impotência almeja a imobilização, a criminalização e a pu-nição do
erro e da errância; a criminalização e a punição da errabundagem, inerentes à
atualização de possibilidades da vivência fenomenológica gestaltifi-cativa da ação.
Estrategicamente, trata-se de imobilizar a vivência da tempora-lidade estética e
poiética próprios e específicos à errabundagem da constitui-ção da ação, na
originalidade de sua vivência de atualização de possibilidades; de imobilizar a
vivência da temporalidade própria à errância da constituição fenômeno dialógica
gestaltificativa da ação.
De modo que prevaleça, unitária e explicativamente, a morta moral do acontecido,
do fato, da fatalidade, da realidade. E não a ética errabunda da ação fenômeno
dialógica gestaltificativa.
Não importando, para tal, que propriamente não seja ela a verdade.
Na ordem do rei, a realidade, a objetividade científica, a cientificidade objetiva,
passam a ser a norma. A realidade do objeto, acontecido e imóvel.
A realidade é, apenas, o acontecido.
E – para a realidade, para o acontecido --, aquém do objeto e da objeti-vidade,
aquém da realidade, aquém da explicação: apenas a transgressão.
Não importa que, no seu moralismo, a insistência na realidade, e no a-contecido,
sejam, apenas, o fatalismo do fato, do feito, do acontecido, de pre-servação do
acontecido; e da vontade de impotência; da vontade de nada, do niilismo, do
niilismo ressentimento...
De visita aos fantásticos sítios arqueológicos da Serra da Capivara -- mais ou
menos por ali onde os Sertões do Piauí se transformam nos Sertões da Bahia,
mas a Caatinga é a mesma – braba --, o guia do Parque Nacional explicava os
homens primitivos e os indígenas que por ali perambulavam, que por ali erravam,
possivelmente já há sessenta mil anos atrás...
E, na sua linguagem particular, sai-se com um incrível uso da palavra, que me
deixa atônito...
Estávamos numa fenda entre morros, cortada por um riacho, onde vários vestígios
arqueológicos de fogueiras de acampamentos dos homens primitivos haviam sido
encontrados. E ele, curiosa e ambiguamente, diz...
Eles ‘transgrediam’ por aqui... 15

153
E continuou falando como se nada tivesse acontecido, como se ele nada tivesse
dito... Tão natural para ele a ideia, que ele nem se deu conta...
Ele apenas queria dizer, Eles perambulavam, eles erravam, por aqui... Eu quase
que engasguei, maravilhado. Quase que perguntei,
O quê?!?!?!
Foi isso mesmo que você falou?
Ele não negligenciava o sentido delinquencial das transgressões que ele atribuía
ao homem primitivo... Daquele errar, daquela errabundagem...
O uso ambiguamente errôneo e ambiguamente correto da palavra. O uso
ambiguamente ambíguo, e ambiguamente desambiguado. Mas precisão de
sentido que só as sutilezas da errabundância da ambiguidade podem facultar...
Isso me maravilhou... De tal modo, que fiquei falando só...
Como progredir sem errar? Como errar e progredir sem transgredir? Como
progredir sem transgredir... Como transgredir, sem progredir... Sem er-rar?...
E, no seu erro, e no seu acerto, o guia fazia uma implicação perfeita da palavra.
No sentido específico de que eles se movimentavam por aqui.
Talvez ele só intuísse, e não captasse muito bem...
Além de perambulação, o próprio movimento, a própria moção, a emo-ção, era a
transgressão.
Talvez sem querer -- ou difusamente querendo, talvez --, ele também di-zia que a
transgressão era a progressão...
Mas que, inevitavelmente, progredir era transgredir...
Fantástico...
Não poderia certamente haver melhor formulação da estratégia da or-dem do rei.
As pífias ordem, e moral, da realidade do acontecido. Moral da vontade de
impotência, da vontade de nada. Imobilizar o movimento, imobilizar a ação,
imobilizar a atualização de possibilidades.
E, de passagem, isso nunca foi, e o é, tão verdadeiro quanto o foi para o Indígena
Brasileiro.
O Indígena Brasileiro era visceralmente nômade. E o seu nomadismo in-viabilizava
o projeto colonialista de escravizá-lo. O nomadismo, a errância, a errabundagem,
não europeia, do indígena foram imediatamente criminalizados. Eles tinham que
ser recolhidos, e aceitar ser recolhidos, em aldeamentos per-manentes, estáticos.
Não por acaso, chamados de presídios. Como o da Praia do Ceará; o de Jacuípe,
em Pernambuco; de Palmeira dos Indios, de Porto Real de Colégio, em Alagoas. E
muito outros.
O Índio nômade é fixado, para os usos escravocráticos do colonialismo. E, na
interdição de seu nomadismo, apodrecem as suas culturas, as suas vi-das, e os
seus próprios corpos...
Quem nos conta isso é o mestre Darci Ribeiro; e o mestre Dirceu Lindo-so, em seu
monumental Utopia Armada. 16

154
Criminalizou-se oficialmente a errância, a errabundagem indígena, índio nômade
era índio criminoso...
É um dos exemplos mais chocantes de como a moral da fatalidade e do niilismo,
da vontade de impotência, odeia o movimento, a moção, e a emoção, a motivação.
Pois bem, este exemplo, de passagem, é do mundo objetivo. Histórico, cultural.
Mas a moção, e o errar, a errância, a errabundagem, não se restringem, como
temos visto, ao mundo objetivo, e à experiência subjetiva; não se restrin-gem à
realidade, não se restringem ao acontecido...
Em essência eles são, como temos visto, originariamente, própria e es-
pecificamente cognitivos, ontológicos, aconteceres. Fenômeno dialógicos e
existenciais, compreensivos, e implicativos.
Suas temporalidades próprias, na vivência das dominâncias das compe-tições e
argumentações das intensidades plásticas das possibilidades, são as
temporalidades ontológicas de constituição da ação em sua originalidade e cri-
atividade.
Em termos psicológicos, trata-se, então, para a moral do niilismo, e para a moral
da fatalidade -- para a moral da vontade de impotência, para a moral da vontade
de nada -- de perseguir o movimento, a moção, a emoção, e a con-dição de sua
errância e errabundagem – a ação, a atualização de possibilida-des --, ali onde
não é mais a dimensão dos objetos, dos sujeitos, e das coisas. Trata-se de
desqualificar e extinguir a própria dimensão da vivência, pela des-qualificação e
extinção, pelo bloqueio e interdição da erratividade, da errabun-dagem, por suas
temporalidades...
Porque a vivência, em suas temporalidades próprias, a vivência, é emi-
nentemente, a temporalidade da errância, a vivência do erro, da errabundagem
fenômeno dialógica gestaltificativa. A metodológica do erro, que permite a ori-
ginalidade ontológica da fenomenológica gestaltificativa da ação, da atualiza-ção.
A criação. A originalidade da formatividade fenomenológica gestaltificativa. Como
vivência intensificativa da figuração dos processos de formação de figura e fundo;
e como formação, criação, de coisas; como formação, criação, do mundo...
DANE-SE A REALIDADE...
A realidade é apenas o acontecido. Como a instituição da real ordem do rei.
Assim, por esta instituição se reiifica e se equaciona o acontecido como realidade.
Do ponto de vista epistemológico; e, evidentemente, do ponto de vista
epistemofílico. Do ponto de vista moral. Do ponto de vista moral da epis-temologia.
Do ponto de vista epistemológico da moral – do ponto de vista do preconceito. 17

155
Mas, a possibilidade é mais importante do que a realidade, diria Heideg-ger;
tornar-se o que se é, diria Nietzsche...
Na dramaticidade insuportável de seus momentos históricos, os Expres-sionistas
entenderam o sentido do preconceito supervalorativo da realidade. Entenderam, e
diriam com Heidegger, que a possibilidade é mais importante do que a realidade.
E, podemos dizer que se dane a realidade seria a disposição primeira da ética
Expressionista. E, de resto, de toda a ética fenomenológico existencial e dialógica,
compreensiva e implicativa, gestaltificativa.
Não que a realidade, o acontecido, não tenham a sua importância pró-pria.
Naturalmente que não podemos negligenciar e desvalorizar o acontecido e as
forças e condições de sua instalatividade, como ontológico constituinte igualmente
do que somos. Não podemos ignorar a realidade. Mas, em sua ins-talação, o
acontecido é só a capa inerte da possibilidade enclausurada. Um beco sem saída
em sua clausura. Que demanda a ontológica peripécia do re-torno ao eterno
retorno do ontológico, da possibilidade.
Por isso que a ética, e a metodologia, gestaltificativas -- fenomenológico
existenciais, e dialógicas, compreensivas e implicativas; assim como a ética e a
metodologia do Expressionismo – caracteristicamente se constituem como um
desligamento do privilégio moralista e niilista, fatalista, da realidade; do aconte-
cido. Um desligamento do princípio de realidade, do positivismo do real, um
desligamento do objetivismo, da objetividade, e do próprio objeto. Um desliga-
mento do sujeito, em sua subjetividade real, e acontecida. Um desligamento da
condição do espectador.
Para privilegiar a condição do inspectador ator. Um desligamento do pri-vilégio da
causalidade e da causação, um desligamento do privilégio do propó-sito
deliberado, um despropósito; e um desligamento do prático, do útil e da utilidade,
da ação funcional -- que, funcional, em efetivo, não é ação. Uma en-trega à
errância desproposital da atualização de possibilidades. Um desliga-mento, em
síntese, do privilégio do acontecido, do privilégio da moral do acon-tecido, da
fatalidade. Que recebe o nome de realidade.
Para privilegiar a precedência ontológica da vivência do desdobramento
fenomenológico existencial gestaltificativo de possibilidades. Na momentanei-dade
instantânea do ontológico modo de sermos do possível, do potente, das
possibilidades. Da ação. Modo de sermos que, na vivência da errância das in-
tensidades das dominâncias de suas forças, as possibilidades, em sua momen-
taneidade instantânea, não por acaso, chamamos de ação. Acontecer.
A PERFEIÇÃO DO ERRO. PERFAZIMENTO, PERFORMANCE DO ERRO,
PERFORMANCE DA ERRÂNCIA.
A multivagagem vivenciativa, errabunda, na vivência das temporalidades próprias
às competições e argumentações, ontológicas, fenomenológicas, dia-lógicas, das
intensidades, e intensificações das possibilidades, no processo de formação de
figura e fundo, e da formação das coisas, constitui o per-curso, o trajeto, de um
projeto. A pro-jetação, que se constitui como a ação. 18

156
Projeto, projetação.
Na medida em que, projeto, projetação de forças, a vivência da ação é tensão,
intensão, intensionalidade. A vivência da tensão da pressão, pressiva, expressiva,
do desdobramento de forças. As possibilidades.
Formativa, a ação, como desdobramento cognitivo de possibilidades, em
específico é um fazer. Uma feição.
Como é processo gênico, genético, de formação – de formação de figu-ra e
fundo, da vivência de consciência pré-reflexiva; e da vivência de formação das
coisas instalativas --, como é processo de formação, o percurso da vivên-cia de
projetação das dominâncias das intensidades e intensificações das pos-sibilidades,
nas suas temporalidades próprias, é o percurso, o percorrimento, a projetação,
como ex-pressão, de um fazer; como ex-pressão de uma fei-ção.
Que, formação, é o percurso vivenciativo da per-formance, da per-formação, da
per-feição. Da performação e da perfeição de figura e fundo, e da performação
e perfeição de coisas.
Fenomenologicamente, vivencialmente, decorridas, percorridas, é a de-corrência,
a percorrência, a per-feição, do perfazer, da performação, da per-formance, da
formação de figura e fundo; e da formação criativa das coisas instalativas.
A própria estética e poiética da perfeição como perfazimento.
As gestaltificações -- os processo ativos, atualizativos, de formação de figura e
fundo; e de constituição das coisas, engendradas, criadas e bem cria-das, na
aquiescência com as temporalidades próprias às errâncias pelas domi-nâncias das
intensidades e intensificações, competições, e argumentações da força das
possibilidades --, as gestaltificações constituem-se no percurso da performance
do erro. No percurso, na vivência fenomenológica e fenomenativa da performance
da errância. Num perfazer. Percurso da vivência de um perfa-zimento errante. Que
é, em específico, própria e especificamente, o processa-mento estético e poiético
da perfeição, o percurso próprio da perfeição, em seu específico e formativo
perfazer.
Assim criadas, própria e especificamente, na performance do perfazi-mento de sua
perfeição, as figurações, as gestaltificações, e as coisas -- não são mal criadas,
nem mal ditas -- são perfeitas, perfeições, portanto. Perfeições constituídas na
vivência das temporalidades e atualizações da ética, da estéti-ca, e da poiética,
errabunda de sua fenômeno dialógica gestaltificativa.
Porque resultam da vivência, da atualização, do labor, do desdobramen-to da
constante dádiva misteriosa das possibilidades. Resultam da vivência
fenomenológica da atualização do perfazimento das temporalidades das inten-
sidades, das intensificações, das competições e argumentações, das possibili-
dades; no processamento de suas vivencias formativas.
A vivência da perfeição é, assim, o perfazimento, a performance, este modo
gestaltificativo, fenomenológico existencial, especificamente estético e poiético, de
fazer. De perfazer. 19

157
Na performance da errância. Na performance do erro. Na performance da errância
pelas intensidades das possibilidades; na errabunda vivência da performação, de
figuras e fundos; e de coisas.
O estético e poiético modo de fazermos da perfeição.
Vivências formativas de coisas, processos vivenciais de formação de fi-guras e
fundos, os feitos deste modo de fazer são perfeitos, portanto. Gestalti-ficações e
coisas. Os feitos, os fatos, feitos, no rítmico percurso errabundo do erro, na
percorrência do erro; os feitos nos percursos e nas percorrências da errância na
vivência das intensidades e intensificações da temporalidade das forças das
possibilidades -- fenomenológico existenciais e dialógicas, compre-ensivas,
implicativas, gestaltificativas – são, perfeitos.
A perfeição, eminentemente decorre, assim, e é função, do erro, da er-rância
fenômeno dialógica gestaltificativa.
A perfeição percorre e decorre da vivência das temporalidades próprias à errância.
A perfeição é a percorrência do erro. Própria e especificamente er-rabunda, a
perfeição é a percorrência da errância fenomenológica, fenomenati-va, intrínseca e
inerentemente gestaltificativa...
De modo que a plena e cabal vivência do erro, a plena e cabal vivência da errância
fenomenológica gestaltificativa, não resultam em imperfeição, não resultam em
imprecisão. Pelo contrário. A vivência metódica do percurso da perfeição, como
percurso errabundo da meticulosa vivência da errância, da vivência do erro -- pelas
intensidades das possibilidades, em suas dominân-cias, em suas competições e
argumentações fenomenativas – são intrínsecos e inerentes à performance da
perfeição. Resultam, sim, e assim, na estética e na poiética precisão da formação,
e da forma, perfeitas.
Per-feição da gestaltificação como vivência, e como coisificação.
Na aquiescência com a vivência da errância pelas temporalidades pró-prias das
intensidades das possibilidades, na aquiescência com a errância que é própria à
dialógica de sua atualização, é que consiste, portanto, a metodoló-gica
gestaltificativa. Uma estética, uma poiética, uma ética da performance e da
perfeição do erro. Estética da errância; poiética, ética, ontológica, epistemológi-ca,
fenomenológica, e metodológica, do erro.
PERFEIÇÃO, PERFAZIMENTO, DA AÇÃO, DA INSPECTAÇÃO. O CAMINHO
DO MEIO. O MOVIMENTO PELA LINHA DE MENOR RESISTÊNCIA.
A vivência da ação, a vivência da insistensia, a inspectação, constitui-se como o
modo de sermos, do ator.
Que é pro-jet-ação. Na medida em que é pressão, ex-pressão, do des-dobramento
das forças das possibilidades. 20

158
O modo de sermos do pro-jeto – modo de sermos do acontecer --, não é o modo
de sermos do sub-jeto, nem do ob-jeto. Sub-jeto e ob-jeto pertinentes ao modo
acontecido de sermos ôntico, do ente. Da coisa.
O ontológico modo de sermos do acontecer, modo de sermos do projeto, da
projetação, é o modo pré-ôntico de sermos, modo de sermos pré-ente, o modo de
sermos do presente.
O modo de sermos do presente, fenomenológico existencial e dialó-gico. Modo
de sermos do acontecer, não é o modo de sermos do sub-jeto, nem do ob-jeto,
mas o modo de sermos da própria vivência do jeto, modo de sermos projeto, modo
de sermos da ação, ou seja da emergência, do desdo-bramento, da pressão, da
ex-pressão das possibilidades.
Ainda que seja, o modo de sermos do presente, sempre, intrinsecamen-te, inter-
ação dialógica com a alteridade de um tu.
O tu vivido sempre como possibilidade em desdobramento, o tu como efetiva
alteridade possível, potente. Segundo Buber, alteridade que pode ser da esfera da
natureza não humana, alteridade da esfera do humano, ou da esfera do sagrado...
A interação com a alteridade do tu é, sempre, partcip-ativa, a particip-ação na
dinâmica e na dramática de uma dialógica, como atuação cognitiva-mente
interativa de possibilidades; ação.
O que implica que, ainda que seja participação interativa, dialógica, a
momentaneidade instantânea da dialógica interação eu-tu é desproposital, não
objetiva, não teorética, não causal, não técnica, desproposital, e não pragmáti-ca.
O que quer dizer que não está sob o nosso controle deliberado.
Buber definirá a natureza da interação dialógica da ação, do desdobra-mento
cognitivo de possibilidades, observando paradoxalmente que não cria-mos as
possibilidades, e evidentemente os seus desdobramentos; mas as
possibilidades e os seus desdobramentos efetivamente não acontecem sem
nós outros.
Tal é a natureza especificamente interativa, dialógica, da ação – da atua-lização,
do desdobramento, de possibilidades.
Que é fluência da errância no ativo processo de constituição e desdo-bramento
das possibilidades. Ao mesmo tempo em que é eu, é vínculação in-trínseca e
imanente com a alteridade de um tu. A inter ação eu tu. A sua dialó-gica.
Possíveis, potentes, atualização de possibilidades.
Possibilidades que, vivência de forças em desdobramento, múltiplas, im-plicativas,
se constituem como gestaltificações. Como as temporalidades da errância
fenomenológica. Na específica constituição das dominâncias da multi-plicidade
implicativa de suas forças, plásticas, e cognoscíveis, em suas gestalti-ficações.
O perfazimento, a perfeição, da ação, decorre da integridade e integra-ção da
vivência das temporalidades expressivas desta dialógica errância, tem-poralmente
constituída pela constituição das dominâncias gestaltificativas. 21

159
Dialógicos, o perfazimento, a perfeição da ação tem a nossa participa-ção, na
intrínseca interação com a participação dos desdobramentos do tu, i-gualmente
como possível, como potente, como possibilidade.
É nessa ambiguidade dialógica -- de ser a multifacetada interação do
desdobramento de possibilidades que constituem o eu, que constituem o tu, e que
constituem o eu-tu -- que se constitui a fenômeno dialógica gestaltificativa da ação
– fenomenológico existencial e dialógica; compreensiva, implicativa,
gestaltificativa.
De modo que, como Buber observa, toda a instantaneidade momentâ-nea da
vivência dialógica, fenomenológico existencial, compreensiva e implica-tiva,
gestaltificativa, é ação – é desdobramento cognitivo de possibilidades. A ação que,
dialógica, é o devir do desdobramento multifacetado de possibilida-des -- do eu, do
tu, e do âmbito da movimentação de sua dialógica inter-ação.
Meu professor de natação, e de zen, professor Kanichi Sato, costumava dizer, em
sua suprema e bem humorada simplicidade: O zen é o casamento de
‘oportunidade e ação’...
E é este senso de oportunidade -- que nada, nada tem oportunismo -- que é a
orientação exclusiva da participação do eu na dialógica da ação, na
momentaneidade instantânea da interação eu-tu. A orientação advinda da vi-
vência, temporal, da temporalidade da errância pelas dominâncias gestaltifica-tivas
das forças das possibilidades.
Existe a força alteritária das possibilidades, e as possibilidades da inicia-tiva e
participação na dialógica interativa da ação. É a errância, são as tempo-ralidades
da errância fenomenológica, que disponibilizam as oportunidades para a iniciativa
da ação. Que não é nem objetiva nem subjetiva, fenomenoló-gica, desproposital,
não causal, não pragmática, não real.
Guardando uma reserva, por suas respectivas particularidades, o que se chama,
no zen, de caminho do meio -- que Perls menciona, e que menciona Friedlander,
citado por Perls – é esta particular part-icipação dialógica, na mo-mentaneidade
instantânea do desdobramento da ação, numa inter-atividade desproposital,
despropositativa, intensional, inspectativa.
Que não é subjetiva, nem objetiva. Que não é, portanto, teorética, nem explicativa,
mas implicativa; que está fora dos domínios da causalidade, fora dos domínios da
relação de causa e efeito; que está fora do modo acontecido de sermos; fora da
utilidade, fora do modo de sermos da pragmática dos usos e das utilidades, e da
ação funcional; e que não é da ordem, acontecida, da realidade.
Mas, própria e especificamente, é o acontecer...
O caminho do meio é a ação pela linha de menor resistência. O cami-nho. A
‘virtude’ do zen.
Em termos do zen, a virtude não é virtuosa, nem moralista. Mas tem a virtuosidade
de ser como o tao. E, em específico, é esta a sua virtude, a de ser como o tao. 22

160
A ação que está entre o propósito e o não propósito. A ação desproposi-tal. Mas a
potência de constituição da ação na temporalidade própria da errân-cia, na
intensidade e intensificação da força de suas possibilidades.
Em termos fenomenológicos, o zen radicalmente é uma fenomenologia,
fenomenológica, fenomenativa.
Muito mais desenvolvida e requintada, de alguns milhares de anos, do que a
primitiva e precária fenomenologia Ocidental.
No zen e no Taoísmo Heidegger bebeu essencialmente, e não referiu
adequadamente...
Em termos fenomenológicos, o caminho do meio, a linha de menor resis-tência, é
a ação desproposital, constituída na mais perfeita errância, no mais perfeito erro,
pelas temporalidades da constituição, da atualização, das domi-nâncias dos
desdobramentos das possibilidades, dos desdobramentos da ação gestaltificativa.
Errância nos desdobramentos das possibilidades que constitu-em o eu, que
constituem o tu, e que constituem a dialógica interativa eu-tu.
O caminho do meio, a linha de menor resistência configura-se como a perfeição, o
fazimento, o perfazimento da ação, na perfeita temporalidade e temporalização da
errância, no perfeito erro pela constituição das dominâncias, na atualização das
possibilidades do eu e do tu, e do eu-tu, da multifacetada interação dialógica entre
eu e tu. Que potencializa a possibilidade da atualiza-ção da ação. Tão espontânea
que é como se fosse não agir, não ação.
Que é tão perfeita como implicação que, efetivamente, não poderia ser a
explicativa de um eu subjetivo.
Dialógica ação eu-tu, efetivamente não é a ação de um eu. Na sua per-feita e
espontânea dialógica, nem mesmo parece ação.
De um modo tal, que frequentemente se fala em não ação, em precárias
traduções. Quando, na verdade, na vivência fenômeno dialógica, zen, do cami-nho
do meio, da ação pela linha de menor resistência, não se trata, em absolu-to, de
não ação. Mas da espontaneidade da ação.
Tudo que não falta é ação. Como Buber diz, o momento da dialógica é todo ele
ação...
Mas, trata-se, própria e especificamente, na errabundagem do erro fe-nômeno
dialógico, pelas constituições das temporalidades das dominâncias de
possibilidades, de ação sem alvoroço.
Ação sem alvoroço...
É esta a adequada tradução do caminho do meio da ação, da ação pela linha de
menor resistência, da ação sem alvoroço, e da errabunda e epistemo-lógica ação
intrínseca à fenomenologia gestaltificativa.
A ação só é ação, efetiva e plenamente, quando é ação na vivência da
momentaneidade instantânea da duração da dialógica do inter, do entre, na
errância pelas temporalidades tão próprias da implicativa e multifacetada rela-ção
eu-tu.
A ação sem precipitações, na perfeita vivência das temporalidades da errância
fenômeno gestaltificativa... 23

161
O dialógico caminho do meio da ação. A ação pela linha de menor resis-tência. O
caminho. A virtude.
Virtude que, própria, e especificamente, é a de ser como o tao...
O ser como o tao, yin, yang, chi, yin, yang.
Que, na errante espontaneidade de sua perfeição, nem parece ação. Que não
demanda o esforço da ação subjetiva. Na medida em que é ação co-mo
atualização do fluxo das dominâncias das intensas, intensionais, potências de suas
intensificações. A potencialização da ação nos fluxos das errâncias pelos
desdobramentos das dominâncias das possibilidades.
Tão espontânea e potente, que parece não ação. Quando, simplesmen-te, é a
perfeição, a perfeitação (per-feita-ação), o perfazimento, da ação. Na vivência do
perfeito perfazimento das temporalidades das errâncias nos desdo-bramentos das
dominâncias de suas forças, de suas possibilidades.
A ação é um mistério...
Como diria o Nietzsche do Zaratustra.
No seu afã de tornar-se o que era...
PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO EXISTENCI-AL
DIALÓGICA, COMPREENSIVA, IMPLICATIVA, GESTALTIFICA-TIVA, E
ERRÂNCIA FENOMENOLÓGICA GESTALTIFICATIVA.
O critério ético e metodológico das psicologias e psicoterapias gestaltifi-cativas,
fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas e implicativas é a eleição
da vivência pré-reflexiva, implicativa e dialógica, fenomenológico existencial de
sermos como eixo e elemento metodológico e ético centrais.
Com isso, própria e especificamente, a eleição da entrega ao modo on-tológico de
sermos, fenomenológico existencial e dialógico, que não é objetivo, nem subjetivo;
que não é teorético, nem técnico; que é acausal, desproposital, e não pragmático,
nem realista.
Isto significa, então, a eleição, e a entrega, à vivência fenomenológica das
temporalidades da errância fenomenoativa, instantaneamente momentâ-nea, pelos
processos constituintes das dominâncias na vivência da emergência e do
desdobramento formativo, gestaltificativo, e inter humanamente dialógico, das
possibilidades.
Gestaltificação quer dizer o desdobramento de nossa humana tendência
atualizante, a nossa tendência para a ação. Que, cognitiva, é eminentemente,
própria e especificamente, uma tendência formativa. A nossa tendência forma-tiva.
Na medida em que, cognitiva, formativa, gestaltificativa, é tendência for-mativa dos
processos fenomenológicos existenciais e dialógicos, compreensi-vos e
implicativos, de formação de figura e fundo; que se concluem, na sua
desatualização, nos processos também de formação das coisas. Sujeitos e ob-
jetos. Coisas objetivas e subjetivas. 24

162
A atualização, a ação, é o processo de desdobramento das possibilida-des
vivenciadas nas temporalidades do modo pré-reflexivo de sermos. Possibi-lidades
estas que trazem em si a sua aporia, a sua finitude. Mas o retorno ao modo
implicativo de sermos do possível, da possibilidade, a insistência neste modo
implicativo de sermos, é o retorno e a insistência no modo de sermos do eterno
retorno da possibilidade. Cujas atualizações constituem os nossos pro-cessos de
movimento, de moção, de emoção, e de motivação. A ação, a atuali-zação. Da
mesma forma que alegria da vivência e dos desdobramentos das forças do
possível. Criativas, formativas, gestaltificativas. Motivas e motivativas da alegria. E,
em especial, da superação. E da promoção e potencialização da grande saúde, de
que falava Nietzsche, a grande saúde do eterno retorno de uma superabundância
de forças de vida. De ação, de atualização, de criação. De superação.
Nietzsche diria, e eis o que me segredou a vida. Eu sou aquilo que se auto supera
indefinidamente.
Nas refinadas temporalidades do erro. Nas refinadas temporalidades da errância
pelas temporalidades da constituição e atualização das dominâncias cognitivas,
gestaltificativas, das possibilidades...
VIVÊNCIA GRUPAL. GRUPATIVIDADE. INTENSIONALIDADE, ER-RÂNCIA E
INTENSIFICAÇÃO NA EXPERIÊNCIA COLETIVA GRU-PATIVA.
Na vivência grupal, o processo da vivência gestaltificativa fenomenológi-co
existencial, o processo da emergência e do desdobramento cognitivo das
possibilidades, do desdobramento da ação, é cada vez mais factível como pro-
cesso coletivo. A emergência e o desdobramento das possibilidades, a ação,
cognitiva, é, cada vez mais, vivência coletiva, à medida que o grupo se constitui e
se desdobra como tal.
De modo que a errância fenomenológica, fenomenativa, gestaltificativa pela
temporalidade constituinte da força das dominâncias das possibilidades é cada vez
mais possível, própria e especificamente, como fenomenológica ges-taltificativa
coletiva.
Um princípio primeiro da ética e da metodológica fenomenológicas ges-taltificativas
no grupo é o de privilegiar a consciência fenomenológica pré-reflexiva grupal,
portanto. E, com isso, o de privilegiar a aquiescência do medi-ador, dos
participantes, a aquiescência coletiva, com a temporalidade própria ao caráter
errabundo da consciência coletiva pré-reflexiva grupal. Caráter este fenomenativo,
fenomenológico, gestaltificativo, despropositativo.
Avesso à teorética e à técnica, avesso ao propósito deliberado, à causa-lidade, à
pragmática da utilidade e da ação funcionais, avesso à realidade. Que só
emergem e se constituem no modo acontecido de sermos.
Para privilegiar a momentaneidade sempre instantânea do desdobra-mento
coletivo do processo de atualização cognitiva das possibilidades.
O processo grupal fenomenológico existencial pode, desta forma, consti-tuir-se
tendo como critério a errância fenomenológico existencial gestaltificativa 25

163
pelas temporalidades das intensidades e intensificações das possibilidades que se
constituem e se desdobram no âmbito da consciência coletiva, como vivên-cia
grupativa.
Evidentemente, o tema merece muito ser desdobrado. Aqui não é ainda o local
próprio para este desdobramento... 26

164
CONCLUSÃO
Assim, a experiência, a experimentação, a ética, e a metodologia feno-
menológicas, e fenomenativas, gestaltificativas, das psicologias e psicoterapias
são uma incidência insistencial na dialógica da experiência pré-reflexiva, e da
experimentação do desdobramento de possibilidades fenomenológico existen-
ciais, gestaltificativas. O que implica, intrínseca e inerentemente, um certo tipo de
errância fenomenológica pelas temporalidades das intensidades das domi-nâncias
das forças das possibilidades, em suas constituições e atualizações, em seus
processos de formação de figura e fundo, e de formação de coisas.
Uma ativa pervagância desproposital, uma transvagância, do erro, da er-rância
gestaltificativa. Que, pelas desiguais temporalidades das desiguais in-tensidades
das forças desiguais das possibilidades e possibilitações, em sua ontológica
emergência e desdobramento, é sempre uma extra-vagância.E, for-mação, um
fazer, uma feição, ao modo do perfazer, ao modo da perfeição fe-nômeno dialógica
gestaltificativa. 27

165
INTRODUÇÃO
A experiência do modo reflexivo de sermos, modo de sermos explicativo,
representativo, modo coisa de sermos do acontecido, distingue-se da experi-
mentação do modo implicativo de sermos, pré-reflexivo, compreensivo, feno-
menológico existencial e dialógico. Porque a momentaneidade instantânea do
modo pré-reflexivo de sermos é vivência implicativa, fenomenológico existenci-al e
dialógica, gestaltificativa.
A vivência fenomenológica gestaltificativa, e a metodológica gestaltifica-tiva
fenomenológico existencial constituem-se como uma entrega às temporali-dades
próprias à experimentação vivencial fenomenológico existencial e dialó-gica,
compreensiva, implicativa, gestaltificativa deste modo de sermos.
A vivência da implicação fenomenológica gestaltificativa, no modo pré-reflexivo de
sermos é a vivência do desdobramento fenomenológico, fenome-nativo,
eminentemente cognoscitivo, de uma multiplicidade de forças plásticas. Forças, de
múltiplas intensidades. As possibilidades.
Que se organizam criativamente, formativamente, nos processos figura-tivos de
formação de figura e fundo; e nos processos de formação das coisas.
A experimentação, a ética, e a metodológica gestaltificativas -- enquanto entrega à
vivência ativa das temporalidades propriamente fenomenológicas da emergência e
do desdobramento das possibilidades --, constituem-se, intrínse-ca e
inerentemente, como um pervagar, um errar, uma ativa errância performa-tiva,
desproposital, acausativa, e não pragmática, nem realista, pelas tempora-lidades
próprias das intensidades dos desdobramentos destas possibilidades. Na dialógica
de seus gestaltificativos processos de formação.
Formação criativa de figura e fundo, e formação criativa de coisas.
Que, percurso de projetação das forças criativas, form-ativas, das possi-bilidades,
em suas temporalidades próprias, é, a cada um de seus momentos, a performance
de um fazer, nas temporalidades dos desdobramentos próprios de suas
intensidades, um per-fazer, um per-fazimento. Per-feição.
A ética e a metodológica das psicologias e psicoterapias fenomenológico
existenciais consistem no privilegiamento deste modo fenomenológico existen-cial
e dialógico de sermos, compreensivo, implicativo, gestaltificativo. O que significa a
aquiescência com a vivência das temporalidades da errância gestal-tificativa que
caracteriza a emergência e o desdobramento, na ação, na atuali-zação, das forças
das possibilidades que constituem a sua vivência. 28 29

166
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTAZI, Lilian The School of Franz Brentano.
BUBER, Eu e Tu.
HEIDEGGER, Martin Ser e Tempo.
NIETZSCHE, Fredrich Assim Falava Zaratustra
Gaya Ciencia.
Ecce Homo.
PERLS, Fritz Gestalt Therapy.

167
GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO

168
GESTALTIFICAÇÃO E PERFEIÇÃO
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo

Conteúdo
GESTALTIFICAÇÃO. 1
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É UMA FEIÇÃO, UM FAZER. PERFAZER. PERFEIÇÃO. 1
A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, PERFEIÇÃO, É UM PROCESSO DE OTIMIZAÇÃO DE
FORMAÇÕES. 4
A OTIMIZAÇÃO DA GESTALTIFICAÇÃO DECORRE DA VIVÊNCIA INTENSIVA DA
INTENSIONALIDADE DA AÇÃO. 4

Gestaltificação e perfeição são intimamente relacionadas. São aspectos do


mesmo processamento da ação – que é, própria e especificamente, fenomenológica
existencial, e dialógica, compreensiva e implicativa.
A gestaltificação é a vivência de um processo de otimização. Na medida em que
as dominâncias de forças, de possibilidades, que configuram os seus processos de
formação de figura e fundo constituem-se em processos de competições plásticas, e de
argumentações lógicas – ontológicas, fenomenológicas, dialógicas – já que, em seus
desdobramentos as possibilidades são constituídas como forças plásticas, e como
sentido.

GESTALTIFICAÇÃO.
A gestaltificação é a intrínseca formatividade compreensiva da ação. Como
processos vivenciais de formação de figura e fundo, e de criação formativa das coisas. A
partir da vivência da atualização de possibilidades.
Vivencialmente, as possibilidades emergem e se desdobram de um modo
contínuo e múltiplo. E se constituem cognitivamente.
Em seus desdobramentos formativos múltiplos, as possibilidades se organizam
fenomenológico existencialmente, através da sucessiva configuração, da figuração
cognitiva, fenomenológico existencial, das dominâncias resultantes da competição, e
argumentação, entre suas forças cognitivas e plásticas. A figuração compreensiva das
dominâncias das possibilidades dá-se como processos de formação de totalidades
significativas, como processos de formação de figura e fundo, como processos de
formação de gestalts.

169
A TERAPÊUTICA É EXPERIMENTAL, E HERMENÊUTICA.
FENOMENOLÓGICO INSISISTENSIAL.
A PROPEDÊUTICA, TAMBÉM.

170
A TERAPÊUTICA É EXPERIMENTAL, E HERMENÊUTICA.
FENOMENOLÓGICO INSISISTENSIAL.
A PROPEDÊUTICA, TAMBÉM.

Afonso H L da Fonseca, psicólogo.

De um ponto de vista fenomenológico existencial hermenêutico, a psicologia e a


psicoterapia fenomenológico existencial afastam-se própria e especificamente do
objetivismo do modelo biomédico.
Isto sem emitir, em princípio, nenhuma avaliação, ou censura a este modelo.
Mas, diante da condição de que, enquanto tais, as pessoas não se nos dão como
objetos. Mas na ontológica, fenomenológica e dialógica da interação.
Que, própria e especificamente, não se dá no modo acontecido de sermos, dos
sujeitos e objetos. Mas no modo de sermos da ação. Modo de sermos ontológico,
fenomenológico existencial e dialógico do desdobramento de possibilidades, que é a
ação. O acontecer, em específico.
Apenas porque, fenomenológico existenciais, empíricas, experimentais, e
hermenêuticas, as abordagens fenomenológico existenciais, e dialógicas, de psicologia e
de psicoterapia situam-se -- em termos da concepção e de metodologia de sua prática --,
no âmbito de uma ontologia, e de uma epistemologia, compreensivas, e implicativas;
fenomenológico existenciais e dialógica, compreensivas, implicativas, gestaltificativas.
O modo de sermos da ação, do acontecer. Própria e especificamente diverso das
características explicativas, e objetivistas, do modelo biomédico.
Como a chamada clínica psicológica muito deve, em suas origens, à clínica
médica, a psicoterapia, e mesmo a psicologia, ficaram profundamente marcadas pelo
objetivismo explicativo. Marca esta que manifesta seu vigor nas abordagens
psicanalíticas, e comportamentais. Que não se precatam de que a vivência ontológica do
ser humano não se dá no âmbito do modo acontecido de sermos, que comporta o
objetivismo.
Influenciadas desde sempre por Aristóteles e por Brentano – do empirismo
fenomenológico da consciência --, por Nietzsche, e Dilthey, as abordagens
fenomenológico existenciais de psicologia e de psicoterapia logo se sentiram
incomodadas e inadequadas na esfera do paradigma objetivista da ciência explicativa.
O seu desenvolvimento na América do Norte, o pouco conhecimento da
fenomenologia e do existencialismo, e outras dificuldades, como as questões culturais,
contribuíram para uma descompasso na efetiva, e devida, radicalização e apropriação da
psicologia fenomenológico existencial nas características da ontologia e da
epistemologia compreensivas, e implicativas de suas inspirações originais. São
dificuldades que só aos poucos vão sendo superadas. Enquanto as sua vertentes
perambulam por um tempo como abordagens em busca de um paradigma. Paradigma
este que já lhes servira de modelo inicial.

171
A proximidade da medicina e do modelo biomédico foi sempre uma fonte de
descaminho. Na medida em que apontava na direção e impunha um outro paradigma,
enraizado numa prática incompatível de poder, e numa outra epistemologia, ontologia, e
metodologia, portanto.
Daí, uma necessidade de clarificar e de radicalizar a distinção, e o afastamento,
do paradigma da psicologia e da psicoterapia das características, ontológica e
epistemologicamente objetivistas, da clínica médica. Já que metodologicamente nos
dirigimos a pessoas, no âmbito ontofenomenológico da interação dialógica.
E não, a corpos como objetos.
Ontologia, epistemologia, metodologia próprias para que os médicos possam
exercer as suas competências dirigindo-se a corpos, sistemas e órgãos com objetos.
Necessitamos, pois, na psicologia e na psicoterapia, afastarmo-nos do empirismo
objetivista do modelo biomédico. Em privilégio do paradigma de um empirismo
fenomenológico existencial, da hermenêutica fenomenológica.
Assim mesmo, não obstante, ainda se trata como clínica a prática da psicologia e
da psicoterapia. De um modo confuso, e de um modo tendente a criar confusões e mal
entendidos com o paradigma da clínica médica. Do qual cumpre afastarmo-nos, para um
âmbito compatível com a ontológica e a fenomenológica do humano.

De qualquer forma, mesmo quando assim entendamos, como clínica, a prática


da psicologia e da psicoterapia fenomenológicas existenciais, é necessário especificar, e
ter claro, a sua intrínseca desvinculação do paradigma objetivista, e explicativo, da
clínica médica. E, por outro lado, a sua própria e específica vinculação ao âmbito do
paradigma de uma ontologia, e de uma epistemologia fenomenológicas. Sob o risco de
criarmos mais confusões. E nos vulnerabilizarmos aos poderes institucionais bio
médicos...
Assim, mesmo quando pensamos em termos de clínica a psicoterapia
fenomenológica existencial – a gestal’terapia e a abordagem rogeriana --, forçoso é
reconhecer que, em sua substância, a terapêutica é, própria e especificamente,
experimental, e hermenêutica. Naturalmente, no sentido própria e especificamente
fenomenológico existencial, compreensivo, e implicativo, gestaltificativo.
Da mesmíssima forma que o é, igualmente, a propedêutica.

Propedêuticos são, na clínica, os procedimentos que se constituem como


condições para a terapêutica.
A experimentação, e a hermenêutica -- fenomenológico existenciais, e
dialógicas, compreensivas, implicativas, gestaltificativas --, além de se constituírem
como uma metodologia, configuram, própria e especificamente, uma epistemologia;
uma metodologia epistemológica, uma epistemológica metodológica. Mas, mais que
isto, elas, própria e especificamente, são a ética de uma ontologia. Ou a ontologia de um
ethos. De uma ética.
De modo que seria descabido, e um contra senso

172
(1) que a terapêutica não fosse em específico fenomenológico existencial e
dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa.
Já que as abordagens fenomenológico existenciais e dialógicas derivam e são
partes do movimento da Fenomenologia e do Existencialismo. Historicamente, são
dimensões do movimento da Fenomenologia.
O que quer dizer que, ontológica, epistemológica, conceitual e
metodologicamente a sua história, e sua história conceitual, derivam da Fenomenologia
e do Existencialismo.
E (2), seria um contra senso que, como a terapêutica, a sua propedêutica não
fosse, igualmente, fenomenológico existencial e dialogicamente experimental, e
hermenêutica. No sentido fenomenológico existencial.
Nas abordagens fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas e
implicativas, gestaltificativas -- como a gestal’terapia e a abordagem rogeriana --, a
terapêutica é eminentemente experimental e hermenêutica, dramática, no sentido
fenomenológico existencial. Do mesmo modo que o é a sua propedêutica. São
fenomenológico existenciais a terapêutica e as condições da terapêutica, a propedêutica,
das psicologias e psicoterapia fenomenológico existenciais.

É curioso vermos quando eventualmente se assume e propala explicitamente


uma metodologia fenomenológico, existencial; e se assume, desde o início, por outro
lado, uma atitude essencialmente objetivista. Mormente com a negação da dialógica
fenomenológico insistencial com o cliente...
As determinações ontológicas, e epistemológicas trazem importantes
implicações teóricas, metodológicas, e éticas. Que se põem desde os primórdios, nas
condições de operacionalização da terapêutica. Na sua propedêutica.
Se a terapêutica é fenomenológico existencial, a propedêutica igualmente o é... E
um ponto de encontro entre propedêutica e terapêutica é o inerente privilégio da
dialógica entre a pessoa do terapeuta e a pessoa do cliente.
Porque se trata da eleição, ontológica, epistemológica, metodológica, ética, do
modo de sermos da ação, e do ator, modo fenomenológico existencial de sermos do
acontecer; em alternativa ao modo acontecido de sermos, do sujeito, e da subjetividade;
dos objetos e da objetividade.
O sujeito e a subjetividade, o objeto e a objetividade, são próprios do modo
reflexivo de sermos do acontecido.
O modo de sermos pré-reflexivo, fenomenológico existencial e dialógico,
compreensivo, implicativo, gestaltificativo, da ação, do ator, é o modo de sermos do
acontecer.
Numa abordagem fenomenológico existencial, compativelmente, tanto as
condições da terapêutica, a propedêutica; como a terapêutica são, ontológica,
epistemológica, conceitual, e metodologicamente. Fenomenológico existenciais
hermenêuticas. E, portanto, dialógicas. Dão-se no modo de sermos do ator, e da ação.
Fenomenológico existencial.
E não no modo de sermos, do acontecido. Dos sujeitos, e dos objetos.

173
Em sua efetividade, o provimento das condições da terapia fenomenológico
existencial é... fenomenológico existencial. Naturalmente. Dá-se no modo de sermos do
ator. E não no modo de sermos dos sujeitos e dos objetos.
O psicólogo, o psicoterapeuta, no âmbito da vivência da metodológica de uma
abordagem fenomnológico existencial, não é um sujeito. Mas um ator. Interator,
inspectativo, na dialógica com o cliente.
O cliente não é um objeto, na concepção e na metodologia da terapêutica, e da
propedêutica, de uma abordagem fenomenológico existencial de psicologia e
psicoterapia. Nem é um sujeito.
Da mesma forma que o psicólogo, o terapeuta, não são sujeitos.Em sua
efetividade, o terapeuta não se dá como um sujeito, mas como um ator.
E o cliente, igualmente, não é um objeto – nem sujeito --, mas ator.
De um modo tal que tanto a propedêutica, como a terapêutica, decorrente desta
propedêutica, é interação. Entre atores, interatores. A dialógica da interação.
Interação entre interatores, inspectativos.
E, obviamente, nada de intersubjetividade...
Acho que esta palavrinha e conceito, se é que há, merecem a lata de lixo.

TERAPÊUTICA
O que é que é terapêutico* nas abordagens fenomenológico existenciais e
dialógicas – a gestal’terapia e a abordagem rogeriana?

Efetivamente, o que é terapêutico nessas abordagens é o que taduz, tanto para a


Gestal’terapia como para a Abordagem Rogeriana, a expressão tendência
atualizante, do Rogers. A expressão atualizativa da da ação.
Que, na efetividade de sua vivência, é especificamente fenomenológico
existencial e dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa. A vivência
eminentemente experimental e hermenêutica do desdobramento e da expressão da ação,
da atualização de possibilidades.
Como superação, como diacrítica dialógica, fenomenológico existencial, como
criação, e superação, da atualidade existencial.
E o desenvolvimento da habitualidade do modo de sermos da ação. Isso é o que
é terapêutico.

Ação entendida, assim, no seu original sentido fenomenológico existencial e


dialógico. Fenomenação, fenomenática, fenomenologia. Como a vivência pré-reflexiva
do desdobramento de possibilidades – desdobramento que, na pontualidade de sua
vivência é fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo,
gestaltificativo.

174
Ontologicamente, a vivência da ação é vivência da moção, do movimento, no
sentido fenomenológico existencial. É isso a vivência da emoção, da motivação, da
criação, da superação, e da regeneração da saúde.
Como devir da emergência e do desdobramento de possibilidades, a vivência da
ação é movimento, compreensivo; e musculativo...
Como movimento, é moção, é movimento. E enquanto tal é a própria vivência
da emoção.
Enquanto ação, a vivência do desdobramento de possibilidades é motiva. A
vivência do desdobramento de possibilidades, a ação, é motivação. É, criação e
emergência do novo. Acontecer sobre o acontecido, é superação. É a cognição, e o
conhecer. Na medida em que, em seus desdobramentos, as possibilidades se constituem
como consciência pré-reflexiva.
E é a regeneração saúde, na medida em que, como Nietzsche observava, a saúde,
num sentido existencial, a grande saúde, é o retorno de uma superabundância de forças
de vida, que decorre, e se dá, na experimentação, e na hermenêutica, do modo
fenomenológico existencial e dialógico de sermos.
A terapêutica das abordagens fenomenológico existenciais de psicologia e de
psicoterapia é, portanto, ontológica. Espaço e tempo para a vivência da ontológica
fenomenológico existencial da ação, da atualização. Fenomenológico existencial e
dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa.
Potencializa a superação das questões da atualidade existencial do cliente, e co-
labora no sentido do desenvolvimento de uma habitualidade da ação na superação das
questões de sua atualidade existencial, e em sua vida.
Co-labora no sentido do desenvolvimento de um modo ativo de sermos.
Vivência de saúde, e promotora de mais saúde.

A PROPEDÊUTICA
A metodológica das condições para a operacionalização desta psicoterapêutica --
que faculte ao cliente a experimentação e a hermenêutica fenomenológico existencial da
atualidade, e atualização, a ação, fenomenológica de sua existência -- é, igualmente,
experimental e hermenêutica; no sentido propriamente de uma propedêutica
fenomenológico existencial e dialógica; compreensiva, implicativa, gestaltificativa.
O campo dialógico que pode se constituir como encontro, a interação
fenomenológico existencial e dialógica, entre terapeuta e cliente dá-se como campo
ontológico, fenomenológico existencial e dialógico. No âmbito dos momentos
paroxísticos de sua interação. Na qual terapeuta e cliente superam suas condições de
sujeitos, e de objetos, nas próprias condições de atores, inter atores. Atualizadores de
possibilidades.
De modo que, na duração da momentaneidade instantânea da vivência
metodológica da interação, não prevalecem as condições da subjetividade (nem
da intersubjetividade, claro...), nem as condições da objetividade.

175
Não prevalecem as condições da realidade, mas as condições (da verdade --
Heidegger) da hermenêutica da dialógica do desdobramento das possibilidades, a ação,
inter ação. O acontecer, diverso do modo de sermos do acontecido, que constitui a
realidade.
Como projeto, projetação, possibilitação, disegno, perspectivação,
gestaltificação -- da dialógica fenomenológico existencial da ação, da atualização.
Fenomenativa, fenomenática, e não prática, fenomenológica. Não causal, não técnica.
Não real. Mas possível.

EXPERIMENTAÇÃO E HERMENÊUTICA ONTOLÓGICAS.


DRAMÁTICA DA AÇÃO.
A experimentação, e a hermenêutica fenomenológicas, e existenciais, são a
vivência dramática da ação (ação = drama). Fenomenológica e fenomenativa,
existencial, e dialógica, compreensiva, implicativa... gestaltificativa.
A ação, não é teorética. Não é a consciência abstrata do sujeito que
reflexivamente se volta, como espectador, na contemplação de objetos. Modo de sermos
do ator, do acontecer. O modo de sermos da ação, não é o modo de sermos do sujeito e
do objeto. Da subjetividade, e da objetividade.
O ator não é o sujeito. E não contempla objetos, como espectador.
Efetivamente, o ator não é espectador.
Consciente -- não obstante consciência especificamente pré-reflexiva,
compreensão e implicação, inspectação --, o ator é, antes, inspectador. A vivência do
ator, inspectador, é, antes, inspectação.
No modo de sermos do ator, da ação, não estamos no modo de sermos da
teorética. Não estamos no reflexivo modo de sermos do espectador. Do sujeito.

Desproposital, o desdobramento de possibilidades, a ação, é caracteristicamente


um despropósito é, caracteristicamente, o modo de sermos do ator, da ação, da
interação, da experimentação, e da interpretação fenomenológico existenciais,
compreensivas, e implicativas.
É o modo produtivamente desproposital de sermos, do desdobramento de
possibilidades, da ação.
No modo de sermos do ator, e da ação, não vigoram as relações de causa e
efeito, não vigora a causalidade, própria ao modo de sermos do acontecido, da
realidade.
Modo ontológico de sermos, o modo de sermos da ação é o modo de sermos da
gestaltificação, da perspectivação, da vivência disegnativa, da possibilitação, como
vivência do desdobramento de possibilidades, da ação. Desproposital, não causal, não
pragmático, vivência de possibilidades. E não a acontecida realidade...
Pré-pósito, despropósito, fora do pragmático modo de sermos dos úteis, dos
usos, e das utilidades.
176
Que são objetivos. E não projetativos.
Característico modo de sermos, o da ação, portanto, que não é assim o
acontecido modo de sermos da realidade. Modo de sermos da ação, do ator, do
inspectador, da inspectação. Modo de sermos que não é da ordem da realidade, mas que
p´ropria e especificamente é o modo de sermos da verdade.
A realidade é apenas o modo acontecido de sermos. Dá-se a real realidade (do
rei) como o modo acontecido. Modo acontecido de sermos de sujeito e objetos,
acontecidos; da teorética, de causalidade, de técnica; de usos, úteis, e utilidades, de
pragmática; de realidade...
O modo de sermos da ação se caracteriza como o modo dialógico de sermos. O
modo de sermos no qual, atores, interatores, interação, compartilhamos a vivência do
processo de produção de sentido, de logos, dia logos. Aliás, onto logos, igualmente;
fenômeno logos...
Na relação com a natureza não humana, na relação inter humana, e na relação
com o sagrado.
O caráter dialógico do fenomenológico e fenomenativo modo de sermos da ação
é uma articulação fundamental entre as condições propedêuticas e a terapêutica
fenomenológico existencial.
A propedêutica, as propedêuticas condições, da terapêutica fenomenológico
existencial residem assim na vivência livre do modo de sermos do ator, do modo de
sermos da ação. Na interação dialógica entre o cliente e o terapeuta, como atores --
interatores.
Modo de sermos que faculta e se constitui na dinâmica livre de experimentação e
de interpretação fenomenológico existenciais da ação. Na livre vivência da atualização
das possibilidades da ação. No inter jogo da inter ação, da presença e da atualidade,
atualização, existencial. Fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva,
implicativa, gestaltificativa.
Assim o são, própria e especificamente, tanto a terapêutica quanto a
propedêutica nas psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais dialógicas.

* Terapêutico.

177
178
A ÉTICA POIÉTICA E ESTÉTICA DA GESTALT, E A AÇÃO.
PERFORMANCE, PERFORMAÇÃO, PERFEIÇÃO, FIGURAÇÃO.

179
A ÉTICA POIÉTICA E ESTÉTICA DA GESTALT, E A AÇÃO.
PERFORMANCE, PERFORMAÇÃO, PERFEIÇÃO, FIGURAÇÃO.

Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

O que o poeta quer dizer


no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Ferreira Gullar.
A Não Coisa.

Cinco das características essenciais da vivência gestáltica são:


(1): A de que a Gestalt é a vivência de uma totalidade que é, ante tudo,
própria e especificamente, a vivência de uma totalidade; ou seja:
anteriormente à vivência das partes, ou elementos que constituem esta
totalidade;
(2) Segundo Goethe, a vivência de uma Gestalt expressiva de uma
totalidade que se constitu como uma totalidade oriunda ‘do mundo’ é da
mesma dimensão desta; antecipando a perspectiva da intencionalidade, da
Fenomenologia de Brentano;
(3) A vivência da Gestalt tem naturalmente um caráter pulsativo, um
caráter propulsivo, de potência: possível: possibilidade: vontade de
possibilidade. De modo que o seu desdobramento é o que entendemos como
ação;
(4) Como vivência, a vivência de Gestalt é fenomenológica, e
existencial. É pré-reflexiva, pré-comportamental. Intuitiva, no sentido de
vivência originária, própria e especificamente pré-reflexiva, e pré-
comportamental.
(5) Como tal, a vivência de Gestalt é própria e especificamente da
ordem da compreensão. Ou seja, é da ordem da Im-plicação, jamais da ordem
da ex-plicação. A vivência de Gestalt é, portanto, da ordem da implicação, e é
compreensiva – cum-preensiva. É preensão e desdobramento de possibilidade.
É própria, e especificamente, ação.

Assim, a vivência de Gestalt é a raiz da ação.


Como tal, a vivência gestáltica é intuitiva, e... gestáltica: ou seja,
própria e especificamente, expressa sempre uma totalidade
significativa, anteriormente à configuração de suas partes.

180
A ação envolve, assim, a afirmação da gestalt, que se dá como
totalidade que se constitui anteriormente à configuração de suas partes. A
ação, portanto, implica na afirmação intuitiva da Gestalt.
A Gestalt é, assim, uma forma que é gestalticamente compreensiva, ao
modo de conhecimento da pré-compreensão. É forma que originária e
fenomenologicamente se constitui como potência, como possibilidade, como
possível; que só se configura, efetivamente figura, com a vivência de sua
afirmação, em seu caráter intuitivo, e com a afirmação de seu efetivo
desdobramento, nos mínimos detalhes de suas partes, e de seu conjunto.
Assim, a partir de seu caráter de potência, de possível, de possibilidade,
de força, a vivência de Gestalt se constitui com o caráter de um projeto, de
uma projetação, de uma emergência, no sentido de seu desdobramento, e
configuração, figuração, de sua totalização.
Num mesmo sentido, de projeto, de projetação, de emergência,
de jorro, que se projeta a partir da força, da potência do possível, da
possibilidade, a Gestalt foi referida como disegno – na arte do Renascimento,
ou como perspectiva, perspectivação – inclusive no sentido Niezscheano, e,
certamente, poderíamos estendê-lo para Outlook, outsight.
Uma postura de afirmação do vivencial – uma postura de afirmação da
vida --, se constitui, basicamente, como uma postura estética, poiética – que
privilegia a vivência pré-reflexiva, e pré-comportamental --, de afirmação da
Gestalt; própria e especificamente, em sua potência, e no caráter projetativo,
de disegno, de perspectivação, de outsight. E em seu caráter intuitivo de uma
totalidade que se anuncia enquanto totalidade pré-compreensiva,
anteriormente à efetiva totalização compreensiva da configuração de suas
partes.
Essas são as condições hermenêuticas da postura gestáltica, são as
condições hermenêuticas da ação. A que em Gestalt Terapia se referiu como
“contato”. As condições da criação, da criatividade, e da superação.

181
INIMPUTABILIDADES DA AÇÃO E DO SENTIDO,
FENOMENAÇÃO, FENOMENOLOGIA. 1.

182
INIMPUTABILIDADES DA AÇÃO E DO SENTIDO,
FENOMENAÇÃO, FENOMENOLOGIA. 1.
Afonso H L da Fonseca, psicólogo.

A ação e o sentido -- fenomenação, fenomenológica -- são intrínseca e


inerentemente inimputáveis.
Não contáveis, não computáveis, incomputáveis, inimputáveis (de put-:
purificação), por isso.
Já que são, intrínseca e inerentemente, fenomenológico insistenciais,
compreensivos, implicativos, gestaltificativos. Em suas características necessárias de
atualidade e de presença. Própria e especificamente, no modo ontológico,
fenomenológico insistensial de sermos.
E isto, em específico, quer dizer: que são, a ação e o sentido, a vivência do
desdobramento concomitante e simultâneo de proliferativas multiplicidades de forças
formativas, criativas; de multiplicidades de possibilidades...
Que -- preservada, na duração de sua vivência, esta sua característica, de
essencialmente múltiplas, e proliferativas -- organizam-se e arquitetam-se na vivência
de totalidades significativas, diferentes da soma de suas partes, pela
específica apuração promíscua na multiplicidade de intensidades de suas competições e
argumentações. Em sua vivência ontológica -- fenomenológico insistensial e dialógica,
compreensiva, implicativa, gestaltificativa --, as possibilidades, em sua multiplicidade,
própria e especificamente, competem e argumentam entre si.
Na intrínseca e inerente preservação da promiscuidade de suas multiplicidades, e
proliferação, na vivência da apuração implicativa, compreensiva, gestaltificativa, das
intensidades de suas competições e argumentações, de sua ética e de sua
fenomenológica fenomenativa, reside o caráter da inimputabilidade, incomputabilidade,
incontabilidade, da constituição e do desdobramento da ação, e do sentido.
Assim, a fenomenológica compreensiva e implicativa, gestaltificativa, da ação --
e de sua concomitante vivência de sentido -- tem como condição a vivência da duração
dos desdobramentos múltiplos e apuriativos, apurativos, da promiscuidade das
competições e das argumentações entre multiplicidades de possibilidades, proliferantes,
no âmbito dos plexos da implicação.
Num processo que, ao invés de purificativo, é, própria e especificamente, um
processo um processo a-purificativo, de a-puria, (aporia?),de apuração (a-pur-ação, a-
put-ação, não purificação) do sentido e da ação, da multiplicidade de suas
possibilidades, competições e argumentações. Constituem-se, assim, a ação e o sentido,
da vivência apurativa, apuriativa, da promiscuidade de multiplicidades de
possibilidades, que compreensiva e implicativamente arquitetam-se na vivência
fenomenológica, fenomenativa, de formações gestaltificativas de figurações e
fundações.
A vivência da fenomenológica, fenomenativa, da ação, e de sentido, depende da
preservação da integridade do processamento da multiplicidade de possibilidades da
implicação, e das competições e argumentações entre elas nos plexos fenomenológicos
da vivência da implicação...
Estas competições e argumentações ordenam e hierarquizam as possibilidades,
segundo suas forças plásticas, segundo a criatividade, formativa, de suas foeças, em
dominâncias de logos – dominâncias de sentido --, e de curso de ação. A integridade dos
183
processos das competições e argumentações compreensivas, no plexo de possibilidades,
depende da manutenção e da proliferação de sua multiplicidade, na constituição de seus
plexos, a compreensão, a implicação, gestaltificativas. Ontológicas, fenomenológicas, e
dialógicas.
De modo que, é a vivência das competições e das argumentações, múltiplas e
proliferativas das possibilidades que se constitui e arquiteta como a fenomenológica do
sentido, e da ação, na pontualidade da vivência de seus desdobramentos. Nas
competições e argumentações, na vivência do desdobramento dos plexos de
possibilidades, na constituição de sua fenomenológica e de sua fenomenação
gestaltificativas, as possibilidades, múltiplas e proliferantes, não se excluem entre si,
mas arquitetam-se em dominâncias -- constitutivas estas dos processos compreensivos
de formação de figura e fundo, de gestaltificação, de implicação, da ação e de seus
sentidos.
A fenomenação, fenomenológica, depende da vivência da proliferante
multiplicidade de possibilidades, das competições e argumentações entre elas, dos
plexos, a implicação, na duração da vivência dos desdobramentos fenomenológicos, da
fenomenologia, da ação.
A específica vivência da multiplicidade proliferativa das possibilidades, em seus
plexos, é intrinsecamente competitiva e argumentativa. Implicativa, gestaltificativa, a
vivência da multiplicidade proliferativa, competitiva e argumentativa, de possibilidades
é, assim, especificamente constituinte da compreensão, constituinte da ação e da
vivência de sentido. É deste modo, inerente e intrínseca, é necessária, ao processamento
de sua constituição como fenomenação, e como fenomenológica.
Num processo que, em específico, se constitui em suas qualidades como a
vivência fenomenológica da integridade da proliferação, de competição, e de
argumentação entre as possibilidades, e de constituição de suas dominâncias... Um
processo específico de apuria e de progressiva apuração da ação, e do sentido.

Processo polarmente oposto aos processos purificativos, putativos, que


conduzem aos resultados conceituais e matemáticos...
Estes, sim, purificados, putados, imputados e imputáveis...

O digital não é um progresso em relação ao analógico.


O digital apenas indica e representa o modo acontecido de sermos, o modo coisa,
o modo passado, de sermos.
Sua constituição dá-se especificamente pela purificação, pela putação,
imputação, computação, da multiplicidade implicativa proliferante, cuja vivência é
constituinte do modo pré-ente, presente, o modo, ontológico, pré-coisa, de sermos.
Só assim se constitui o conceito, o número, o contável, o putável, o computável.
A vivência, lógica, fenomenológica, ontológica, dialógica, vivência da
temporalidade própria da constituição da ação e do sentido, não comporta purificação,
sem perda significativa de suas qualidades. A-pur-ação, apuração, apuria é a
característica distintiva de constituição da ação e do sentido. Apuração pela competição
e argumentação entre as possibilidades, na vivência da temporalidade própria, da
perplexidade, do plexo da implicação.

Efetivamente, o desdobramento da vivência da ação, e do sentido --


fenomenativos, fenomenológicos, implicativos, gestaltificativos -- não só
são inimputáveis, impurificáveis, como em específico decorrem e se constituem em
184
específico da apuria e da apuração. Da vivência íntegra das abrangentes competições e
argumentações, lógicas, ontológicas, fenomenológicas, dialógicas, da proliferante
multiplicidade inerente a seus plexos de possibilidades.
Num processamento, que não tolera, efetivamente avêsso,
à putação, à putrificação, à purificação. (Put- :sem mistura).
De um modo simples, a fenomenação, em sua fenomenologia, nutre-se da
multiplicidade e da mistura, da misturação.
A vivência da fenomenológica ontológica de cada ato, a fenomenológica
fenomenativa da ação, e do sentido, inimputável, se constitui na vivência de ampla e
irrecorrível promiscuidade. Promiscuidade da proliferante multiplicidade implicativa e
auto-organizativa de seus plexos de possibilidades. Possibilidades que continuamente
constituem, na competição e na argumentação, as dominâncias da compreensão da
vivência dos processos gestaltificativos de formação de figura e fundo.
E é, assim, em primeiro lugar, estética e poiética -- como uma decorrência
própria das próprias características fenomenológicas de sua vivência...
Resultando qualquer redução de sua multiplicidade na perda, no dano, de suas
intrínsecas qualidades como processo de apuração, como processo apuriativo. Própria e
especificamente inimputável.

Os resultados conceituais, e matemáticos, especificamente, não.

Estes, ao contrário, intrínseca e especificamente são, própria e


especificamente, imputáveis, putáveis... Computáveis... Porque, própria e
especificamente, são putados, purificados, imputados.
Não diríamos muito se os disséssemos putativos – além do mais.

Porque só pela putação, pela purificação, constituem-se o conceito e o número.


Pela específica purificação da promiscuidade intrínseca à proliferante
multiplicidade inerente à vivência do plexo de possibilidades, pela purificação
da promiscuidade intrínseca e inerente à vivência da implicação. Multiplicidade
eminentemente formativa, criativa, gestaltificativa, na apuração. Multiplicidade que
arquiteta-se intuitivamente nas constituições da fenomenológicas da compreensão, e da
ação, do sentido. E que constitui a superação, sempre, do acontecido, da instalação
coisificativa que se constituiu como fato. Que constitui a emoção, a cognição, a
motivação, e a regeneração.
No conceito e no número conceitual a multiplicidade é natural e obstinadamente
reduzida, e eliminada. Até que só reste a casca vazia de uma metáfora que outrora
inervava a intuição (E. Fink).

É importante compreendermos que o conceito é especificamente uma


decepação...
Uma decepção, porque não dizê-lo...
O Dicionário Houaiss traz uma definição para decepação: 1. ...extrair ou cindir
(parte de um todo) por golpe de objeto cortante; cortar, amputar, mutilar (...).
Em essência o conceito é uma decepação. E, porque não dizê-lo, uma
decepção...

185
Este sentido de conceituação é, entretanto, secundário. Em particular, em sua
forma de obstinação e de transtorno. Depois que entram a conceituar o teórico e o
filósofo, o moralista.
Mormente como precipitação e o preceito.

Mas, à revelia deles, a redução, a purificação, a putação da multiplicidade da


vivência da implicação, é natural, inevitável; e necessária – no sentido de que dá-se
inevitavelmente, necessariamente..
Sempre, à medida em que transitamos do modo de sermos do acontecer para o
modo de sermos do acontecido, naturalmente fenecem as forças das possibilidades, e
elas, as possibilidades, fenecem e se coisificam. Instalam-se, reduzindo a sua
multiplicidade, e a proliferação de sua multiplicidade...
O tempo ontológico da vivência se esvai, na momentaneidade instantânea da
duração da ação e da vivência de sentido. E deságua na constituição do tempo ôntico e
crônificado da coisa. Na realização da coisa.
A temporalidade da realização da coisa não é o tempo de sua realidade
(Realization is actualization, but actuality isn’t reality...).

Esta questão do tempo é, assim, crucial.


Porquanto que é uma a temporalidade própria, ontológica, a da vivência
compreensiva da implicação, da duração da ação e do sentido, da fenomenológica da
fenomenação.
E é outro o tempo, cronos, ôntico, da teorética da conceituação. Do número e da
digitaização. Da contação, da putação, purificação, imputação, computação.

Mas, muito importante é compreender a transição, da temporalidade


compreensiva da implicação fenomenativa, e lógica – ontológica, fenomenológica,
dialógica –, para a cronicidade explicativa do conceito, e do número conceitual.

Ontologicamente, a transição entre a temporalidade pré-conceitual da


implicação, e a cronicidade conceitual explicativa, já se constitui durante a própria a
temporalidade da implicação.

Insistensial, a duração da implicação especificamente é sístole.


Composta esta, como toda sístole, por diástole e sístole.

Tensão ex-presssiva, a sístole naturalmente decresce em sua potência e tensão...


Até o seu momentos não tensional, extensão – existensia --, assistolia.
A tensão, intensão, intensionalidade, é pré-conceitual.

A extensão o espaço e o tempo, cronos, é conceitual.

Extensão, exsistensia, este é o momento crônico do conceito, do conceitual,


como coisa, e do número. Coisas nas quais subsistem, instaladas, as possibilidades. Na
condição de instalação coisificativa.

Da vigência intencional, perplexa, do desdobramento implicativo,


gestaltificativo, até a sua instalação como coisa, transita a momentaneidade instantânea
186
da temporalidade fenomenológica da fenomenação. A constituição e o desdobramento
do sentido, e da ação. Cuja perplexa multiplicidade implicativa se reduz, e decai em
suas forças, à medida em que se desdobra, e unifica-se progressivamente,
extensivamente, existencialmente, na unidade instalativa do conceito, como coisa, como
eixo predominante coisificado, e desnaturado. Resultante da formatividade coisificativa
da temporalidade sistólica, insistensial, da implicação.

De modo, assim, que a instalação coisificativa, e a progressiva redução da


multiplicidade pléxica, perpléxica, da implicação, é inerente à momentaneidade
instantânea da vivência fenomenológica, fenomenativa. De sua ontológica.
Sem os aspectos negativos, e aterrorizantes, mas só aproveitando a analogia,
poderíamos dizer que é como uma gangrena seca, como uma lepra, que vai reduzindo a
vitalidade do vivencial – não até a morte efetiva, mas até a instalação coisificativa, o
acontecido. A coisa instalada da possibilidade. A unificação e apolínea, clareza
conceitual. Coisa instalada, acontecido.
Ou, ainda metaforicamente falando, como o molde em plástico de uma árvore
vascular. Por mais rica que seja, drasticamente reduzida da multiplicidade pléxica da
vivência efetiva, e da vitalidade múltipla, de sua implicação.
Assim, o decaimento e a redução da multiplicidade inerentes à vivência
implicativa, preconceitual, da ação, fenomenológica, fenomenação -- na unificação, e
empobrecimento, da experiência do conceito --, naturalmente faz parte da própria
ontológica implicativa da vivência pré-conceitual.
Temos aí, então, o conceito, o objeto – e o sujeito --, em sua mais pura e fresca
acepção (Ooooopssssss...). Especificamente constituídos pelo pleno desdobramento
temporal, e pré-conceitual, pré-reflexivo, da ação, da fenomenação, em sua
fenomenológica.

A precipitação, a preceituação, e a obstinação conceituantes são já um tipo de


disfunção, um tipo de transtorno.
Similar à necrofilia.
É cortar obsessivamente do conceito aquilo que, em particular no seu
decaimento, a insistênsia perplexa da ação -- da fenomenação, fenomenológica, pré-
reflexiva, e pré-conceitual -- não constituiu na instalação coisificativa... No sentido de
uma hiper puria conceitual.

Quando se constituem o conceito, e o número como conceito, já são ex-


plicativos, ex-tensionais, ex-istensiais, des-providos, desbastados das proliferantes
multiplicidades implicativas de sua vivência fenomenológica e fenomenativa, pré-
conceituais. O equilíbrio na conceituação advém da recepção, da baceitação, da
afirmação, da admiração, da vivência implicativa.

Em específico, o dígito, o número, representam na verdade, conceitualmente,


abstratamente, abstrativamente, um intervalo. Neste intervalo representado interpõe-se
especificamente o infinito.
Abstraído do infinito interposto no intervalo, o dígito é conceitualmente
purificado do infinito interposto no intervalo. Purificado, putificado, Imputado.
Computado. Contável. E computável.
Só então ele pode seguir a pragmática de seu caminho na ex-plicação.

187
Mas só à custa de deixar a ontológica da vivência fenomenológica,
fenomenativa, da implicação. Somente à custa de deixar a fenomenológica
fenomenativa do modo de sermos do acontecer, da ação, e do sentido. E de dar-se
sempre como acontecido computável, computativo, putável, imputável, putativo.

Preconceituais, implicativamente fenomenativos, e fenomenológicos, o sentido e


a ação concomitante só se constituem na promiscuidade da pléxica, perpléxica,
formatividade multiplicativa, proliferativa, da implicação. Fenomenação,
fenomenológica.
Promíscua, a vivência da constituição do sentido, e da ação, na implicação de
sua intrínseca e inerente multiplicidade perpléxica, fenomenológica, fenomenativa, é
própria e especificamente in im putável.
Não é purificável, não é putável, não é contável, não é computável.

Ao contável, computável, portanto, o que é putável, contável, computável.

A constituição do sentido, e da ação, fenomenação, fenomenologica, é


inerentemente, intrinsecamente, própria, e especificamente, inimputável.

E putaria, em específico, é querer imputar o que em absoluto é inimputável.

Vão pr(o)á puto(a) que os putiu!...


Vão pr(o)á puto(a) que os putiu!!! (Claro que isso não é com você).

188
INTERPRETAÇÃO. COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO

189
INTERPRETAÇÃO. COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Conceituar a interpretação já demanda uma perspectiva de suas modalidades.


Se implicativa, compreensiva; se explicativa.

A interpretação compreensiva é a ação.

É a vivência do engendramento da forma, a performance, na dramática


do desdobramento da implicação de possibilidades.

É uma dialógica. Uma dialógica com os plexos de possibilidades. Que


dialogicamente se expressa, como vivência de compreensão e da musculação.
A partir da vivência plástica de suas intensionalidades.

Naturalmente, que isto difere de um conceito de interpretação


explicativa.

A 'hermnêutica' é 'arte da interpretação'.

Em homenagem a Hermes, o herói grego, que fazia a interpretação da


linguagem dos deuses do Olimpo para os humanos.

As modalidades da interpretação -- (a) implicativa, compreensiva; e (b)


explicativa --, correspondem, ontológica, e epistemologicamente, aos dois
modos de sermos, o ontológico, e ôntico. Uma é ontológica, a outra é ôntica.

Radicada no desdobramento da compreensão, a interpretação


compreensiva é cognitiva -- compreensiva --, e muscular. É pré-reflexiva, e
pré-conceitual. Ativa, e formativa.

Dá-se como o modo de sermos do ator.

190
E, pré-reflexiva. Como tal, não se dá no eixo da relação de um sujeito
com objetos.

Compreensiva, e muscularmente, dá-se no âmbito da duração da


transjetividade do jeto da intensionalidade da ação -- é transjetiva. Na
inspectação da vivência fenomenológica do ator.

A emoção é constituinte do modo ontológico de sermos. De modo que a


interpretação compreensiva é matizada pela emoção. O que não ocorre com a
interpretação explicativa.

A interpretação explicativa é objetiva.

Uma vez que dá-se no modo coisa de sermos -- no modo de sermos do


acontecido.

Objeto, em específico, significa, 'afastamento do jeto'.

Quando a vivência da ação transita do modo ontológico de sermos para


este modo ôntico de sermos, só então se constituem sujeito e objeto. E o
sujeito se debruça, se dobra, sobre o objeto.

Como este dobrar-se acontece no modo acontecido de sermos, nada de


novo acontece. E a flexão torna-se re-flexão. E isto a teorética.

A interpretação explicativa configura-se, assim, como uma reflexão --


no modo acontecido, teorético, explicativo, reflexivo de sermos, naturalmente
--, que o sujeito faz sobre o objeto.

191
O MODO ÔNTICO DE SERMOS DO ENTE, COMO ZONA DE CONFORTO;
E O PRESENTE COMO AMEAÇA.
Instalação e inexorabilidade da instabilidade da coisa

192
O MODO ÔNTICO DE SERMOS DO ENTE, COMO ZONA
DE CONFORTO;
E O PRESENTE COMO AMEAÇA.
Instalação e inexorabilidade da instabilidade da coisa
Afonso Fonseca

Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria


ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto, na
certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair.
Era lindo, mas eu morria de medo.
Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de
circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era
disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre.
Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores.
O circo chegou à cidade era uma tarde de sonhos, e eu corri até
lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o
espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser
trapezista.
Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era
uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu
um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível.
Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que
parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público.
De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou
olhando.
A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva
no céu aberto.
Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as
pessoas, só aí, eu vi que eu estava sozinha.
Trapezista de Circo. Antônio Bivar.

... Um pequenino grão de areia era um eterno sonhador


Olhando o céu viu uma estrela
Imaginou coisas de amor...
Passaram anos, muitos anos
Ela no céu ele no mar
Dizem que nunca o pobrezinho pôde com ela encontrar
Se houve ou se não houve alguma coisa entre eles dois
Ninguém pôde até hoje afirmar

193
O certo é que depois, muito depois
apareceu a estrela do mar...

A ontológica do presente é, toda ela, ação; atualização de possibilidades


(Buber), formação, criação, fazer...
Que forma, que gestaltifica, que cria a coisa, o feito, o fato: cria o momento do
modo ôntico, do modo coisa de sermos.
É inerte o momento do modo ôntico de sermos.
E, não esqueçamos, o movimento sem aceleração é a inércia...
Mais do que isso, endogenamente o momento ôntico não se movimenta, como o
ontológico.
Porque não secreta o possível; não secreta as possibilidades. Que, em específico,
são as forças criativas, gestaltificativas; cujo desdobramento vivenciamos, como fazer,
na momentaneidade instantânea da dramática da ação, no modo ontológico de sermos.

Criada a coisa, feita a coisa, na ontológica da ação; a partir do ontológico modo


de sermos do presente, o movimento da dramática criativa da ação presente se esvai.
Restando residualmente a coisa. E o seu modo transitório de sermos. De onde, mais uma
vez, o presente pode se desencantar, pela abertura à dinâmica do possível.
A inércia da coisa, a inércia do modo coisa de sermos, especificamente é,
assim, instalação.
E, instalação da coisa, a coisa, é, especificamente, instável.
Lentamente tragada, como por um buraco negro, pela dramática da ação
presente do possível.
Assim, no que pese a sua concretude e inércia, mesmo a experiência do modo
coisa de sermos, do acontecido, do formado, do feito, em formação -- por mais
agradável que possa ser -- tem em específico, um prazo de validade.
E, seja qual for a sua cronicidade, será tragada pela dinâmica da dramática do
possível, deixando-nos órfãos da segurança postiça de sua impossível instalação...

Pensei que instalação fosse um termo do jargão da Fenomenologia.


Curiosamente, os dicionários próprios não registram.
É um termo utilizado na Estética. Referindo-se sempre à obra de arte. Num
sentido, sempre, de que, criada, ela se desvanescerá, passada a sua consistência de coisa,
tragada pelos poderes diluentes do possível. Ou no sentido de uma grande obra de arte,
uma obra com a qual se pode interagir.
Instaladas são todas as coisas, todos os elementos do modo coisa de sermos.
Sutilmente, a instalação é própria do próprio modo coisa de sermos.
E, mais que isto, instaladas, as coisas são eminentemente, própria e
especificamente, instáveis.
Constituindo-se a condição da instalação, e uma incontornável instabilidade da
coisa como elementos próprios de sua condição.
Curiosamente, ainda, aprendemos que instalação é um processo e um conceito
do âmbito da técnica.
194
Vindo etimologicamente o termo de stand still, ou de stall, install...
Num caso, permanecer quieto (stand still); no outro, um abrigo, um abrigo
interior...
Está instalada, por exemplo, uma barra de ferro de algumas centenas de quilos,
parada no ar, sustentada pelas mãos, e pelo corpo, de um atleta; que em seguida,
passados os segundos regulamentares, a deixará, precipitar-se ao solo. Desinstalando-se
a instalação quando o atleta começa a relaxar o seu esforço, e a deixa-la cair, em direção
ao solo, sob efeito da gravidade...
A cabine de um elevador, por exemplo, permanece parada, no nono andar,
digamos... Mas, na verdade, existe todo um sistema de motores e de pesos, e aparatos
eletrônicos, que mantêm esta instalação. A cabine do elevador não está parada. Está
transitoriamente instalada. Se fosse deixada assim por muito tempo, algo degringolaria
na sua instalação, e ela se desinstalaria abruptamente...
Ainda no sentido de stall, install, instalação origina-se do sentido de um
abrigo. Como se, por exemplo, viemos em um ambiente natural, e encontramos uma
barraca, onde podemos nos abrigar... E, em algum momento voltaremos ao ambiente
natural...
Instalação é uma parada, por isso essencialmente provisória.
E, da mesma forma que não podemos ficar, ou permanecer, no modo ontológico
de sermos da ação, é ilusório pensarmos que pode perenizar-se a transitória parada da
instalação da coisa.
Sendo que esta ilude mais.
O esgotamento do episódio do modo ontológico de sermos da ação é mais
compulsório. O esgotamento da força criativa das possibilidades, as forças que
vivenciamos na vivência da ação são mais peremptórios. Atirando-nos,
irrevogavelmente, na condição da instalação da coisa.
O modo de sermos da instalação da coisa permite-nos iludirmo-nos um pouco
mais, e postergar o retorno à tentativa e risco da experimentação do episódio da ação.
Afinal, a ação demanda a afirmação da possibilidade, o que eventualmente só se faz a
expensas do desespero.
Mais, que na nossa cultura fortes tendências sistemáticas -- inclusive na dita
Psicologia -- elidem o retorno ao presente ontológico da ação; e, por mil meios,
seduzem para a perenização postiça da condição da coisa.
Potencializando a incompetência, e o medo eventual, da ação.
No que poderíamos chamar de ontofobia.
E um tipo de hiper-realidade. Na medida em que se proscreve o ontológico. E
em que se busca reforçar, e não raro glamourizar as condições da coisa, e do modo coisa
de sermos...
Ciclo diabólico da vida anapoiética e coisificada. Entre a ontofobia e a hiper-
realidade, responsável pela ausência de alívio no pré-conceitual. Pela vida sem emoção,
pela vida sem criatividade, pela vida sem ação. Ao mesmo tempo que supostamente
embalsamada na condição da coisa.
Mais grave ainda, porque podemos encontrar na circularidade repulsiva de
ontofobia e hiper-realidade, não só a falta de emoção, de sentido, de compreensão, de
musculação; mas as próprias violências. Inclusive as mais atrozes...
Fosse isso o bastante para o absurdo, a falta de sentido, e a violência; a
irresignação e insubmissão da coisa ao possível; de resto inexorável; potencializa uma
identificação com a coisa, e com o modo coisa de sermos.

195
De modo que a desestruturação e desintegração da coisa, e do momento do
modo coisa de sermos -- promovidos pela instabilidade, pela necessária precariedade de
sua instalação – são vividos pelo sujeito como desintegração e desestruturação de si
próprio.
É onde precisamos buscar a origem de muitos distúrbios.
Na ontofobia e na hiper-realidade. Na identificação com a coisa e com a
coisidade. Na identificação com uma coisa e com uma coisidade essencialmente
transitórias, e necessariamente ameaçadas, na precariedade transitória de sua instalação.
Coisas há de ciclos muito longos; não há coisas que não ciclem -- entre a sua
instalação e a erosão de sua instalação --, pelas águas das marés do possível.
Sempre se pode remediá-los paliativamente. Não se pode proscrever os ataques
das águas do possível. Inexorável, o possível tragará sempre a postiça segurança da
coisidade.
E identificar-se com a coisa é identificar-se com a angústia, eventualmente com
o pânico, de sua desintegração, mais ou menos lenta.

196
INTERPRETAÇÃO. COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO

197
INTERPRETAÇÃO. COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Conceituar a interpretação já demanda uma perspectiva de suas modalidades.


Se implicativa, compreensiva; se explicativa.

A interpretação compreensiva é a ação.

É a vivência do engendramento da forma, a performance, na dramática


do desdobramento da implicação de possibilidades.

É uma dialógica. Uma dialógica com os plexos de possibilidades. Que


dialogicamente se expressa, como vivência de compreensão e da musculação.
A partir da vivência plástica de suas intensionalidades.

Naturalmente, que isto difere de um conceito de interpretação


explicativa.

A 'hermnêutica' é 'arte da interpretação'.

Em homenagem a Hermes, o herói grego, que fazia a interpretação da


linguagem dos deuses do Olimpo para os humanos.

As modalidades da interpretação -- (a) implicativa, compreensiva; e (b)


explicativa --, correspondem, ontológica, e epistemologicamente, aos dois
modos de sermos, o ontológico, e ôntico. Uma é ontológica, a outra é ôntica.

Radicada no desdobramento da compreensão, a interpretação


compreensiva é cognitiva -- compreensiva --, e muscular. É pré-reflexiva, e
pré-conceitual. Ativa, e formativa.

Dá-se como o modo de sermos do ator.

198
E, pré-reflexiva. Como tal, não se dá no eixo da relação de um sujeito
com objetos.

Compreensiva, e muscularmente, dá-se no âmbito da duração da


transjetividade do jeto da intensionalidade da ação -- é transjetiva. Na
inspectação da vivência fenomenológica do ator.

A emoção é constituinte do modo ontológico de sermos. De modo que a


interpretação compreensiva é matizada pela emoção. O que não ocorre com a
interpretação explicativa.

A interpretação explicativa é objetiva.

Uma vez que dá-se no modo coisa de sermos -- no modo de sermos do


acontecido.

Objeto, em específico, significa, 'afastamento do jeto'.

Quando a vivência da ação transita do modo ontológico de sermos para


este modo ôntico de sermos, só então se constituem sujeito e objeto. E o
sujeito se debruça, se dobra, sobre o objeto.

Como este dobrar-se acontece no modo acontecido de sermos, nada de


novo acontece. E a flexão torna-se re-flexão. E isto a teorética.

A interpretação explicativa configura-se, assim, como uma reflexão --


no modo acontecido, teorético, explicativo, reflexivo de sermos, naturalmente
--, que o sujeito faz sobre o objeto.

199
COMPREENSÃO E PERCEPÇÃO

200
COMPREENSÃO E PERCEPÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

É muito particular, e significativa, a distinção entre compreensão e


percepção.

Compreensão e percepção marcam, cada uma delas, um modo diverso


de ser, e uma respectiva área específica de cognição.

E esta diferença radica na condição ontológica da compreensão. E na


condição ôntica da percepção.

O que significa, a condição pré-reflexiva e pré-conceitual da


compreensão; e a condição reflexiva e conceitual da percepção.

A conceituação, a concepção, atua como um filtro, que delimita a


reificação dos produtos da ação. Sua caricaturização e esquematização. O seu
empobrecimento. Sua coisificação, enfim. À medida em que há o decaimento
na força das possibilidades, no episódio da ação. Da existência. É isto a
conceituação. Antes da conceituação, no episódio da ação, modo ontológico
de ser; depois da conceituação, modo ôntico, modo acontecido de sermos, de
instalação da coisa.

A vivência ontológica da ação, da existência -- o modo de sermos do


acontecer, o presente -- anterior à conceituação, naturalmente, pré-conceitual.
A experiência ôntica -- modo de sermos do acontecido, modo ente de sermos -
- posterior à conceituação, é conceitual.

A vivência ontológica da ação, pré-conceitual, modo de sermos do


acontecer, é o modo de sermos do ator. No qual desdobramos a ação,
enquanto implicação, enquanto desdobramento de possibilidades.

201
No modo de sermos do ator não existe e não vigora a dicotomia entre
sujeito e objeto.

Ao momento ontológico do episódio da ação, se sucede, com a


conceituação, o momento ôntico.

No momento ôntico do acontecido, constituem-se objeto, e sujeito. E o


sujeito dobra-se, se flete, sobre, e contempla, o objeto. Esta flexão, se converte
em re-flexão. Na medida quee, modo acontecido de sermos, tudo se repete, e
nada de novo acontece.

O modo ôntico de sermos é reflexio. Conceitual, e reflexivo.

O modo de sermos do acontecer, modo ontológico de sermos, o


presente, é pré-reflexivo. E pré-conceitual.

Uma característica particular é a de que o modo ontológico de sermos é


o modo de sermos da emoção. A compreensão se dá no modo de sermos da
emoção. No modo ôntico de sermos, não se dá a emoção. De modo que a
emoção está ausente da explicação, da reflexão; da percepção.

A compreensão é a cognição intrínseca ao modo ontológico de sermos


da ação.

A percepção é própria ao modo ôntico de sermos.

A compreensão é pré-reflexiva, e pré-conceitual.

A percepção é reflexiva, e conceitual.

Assim, a compreensão, é transação. Não é objetiva, nem subjetiva. Mas


transjetiva. E secreta-se na intimidade da implicação. Do momento ontológico
da ação.

202
A percepção é uma reificação da compreensão. Uma coisificação, e
destacamento ôntico da coisa de sua matriz ontológica. E uma redução
esquematizante e caricatural.

203
COMPREENSÃO & EXPLICAÇÃO
De Compreesão Implicativa & Explicação Reflexiva, Reflexão Explicativa

204
COMPREENSÃO & EXPLICAÇÃO
De Compreesão Implicativa & Explicação Reflexiva, Reflexão
Explicativa
Afonso Fonseca, psicólogo.

Porque a Compreensão é ontológica.

E a explicação é ôntica.

Ou seja, a Compreensão Implicativa -- a Compreensão e a Implicação -


- são ontológicas. A explicação e a Reflexão, são ônticas.

Não é só uma questão de termos, mas uma questão da qualidade de dois


processos distintos, e de seus conceitos.

De quatro conceitos próprios.

Referentes aos dois modos de sermos. O ôntico, e o ontológico, e suas


respectivas formas de cognição. A compreensão, e a explicação..

Fronteira entre eles, a intensionalidade. E, naturalmente, o processso


da ação.

A compreensão se constitui no âmbito do movimento da


intensionalidade da implicação. Por definição, a explicação não é a
implicação.

A implicação é ontológica. A explicação é ôntica.

Os dois modos de sermos assim se definem. O ontológico é da ordem


da implicação; o ôntico é da ordem da explicação, em função dos processos de
sua constituição. O ontológico se constitui no processo da implicação, É a

205
implicação (v. abaixo). O ôntico, fora da implicação, em específico, é
explicação.

O episódio do modo ontológico de sermos da ação -- o episódio da


ação, da existência -- é, todo ele, ação (Buber), desdobramento de forças
plásticas, de forças criativas. As possibilidades.

Como tal, é uma tensão. É intensional. Intensionalidade.

Durante o episódio, da ação, da existência, esta tensão


emerge, intensifica-se. E decai.

Ao decair, a intensionalidade das possibilidades decai, distensiona-se,


proporcionalmente, instalando-se como coisa.

A coisa instalada, o modo ôntico de sermos, é inerte e inerme, porque


não mais se movimenta segundo a força, a intensionalidade, das possibilidade.
As coisas não são poiéticas, não tem a força das possibilidades, não são
formativas. Não são criativas, como as possibilidades do modo ontológico de
sermos. Que são forças plásticas, formativas, criativas.

Quando decai a intensionalidade das possibilidades, elas minguam,


fenecem, qualitativa e quantitativamente, em sua multiplicidade, e poderes
criativos. Daí, nesta decadência, proporcionalmente se constitui a instalação
da coisa, do modo ôntico de sermos.

Num sentido mais geral, as possibilidades são poiéticas; e são lógicas,


ontológicas, fenomenológicas, dialógicas.

Isto quer dizer que a implicação -- a organização do processo de


desdobramento das possibilidades, e a compreensã -- se constituem como
sentido. Como logos.

Sentido, a implicação e a compreensão são pré-conceituais e pré-


reflexivas.

206
A explicação, e a reflexão são conceituais, e reflexivas.

Na sua dinâmica ontológica, a multiplicidade de possibilidades é uma


multiplicidade em que as possibilidades competem e argumentam entre si
(Brentano).

Nesta competição e argumentação, as possibilidades se organizam em


dominâncias, em plexos -- plics (multiplicidade organizada). Que são plexos
de sentido, pré-conceituais, e pré-reflexivos.

Este processo -- lógico, ontológico, fenomenológico, dialógico, sentido


-- de constituição de plexos, da implicação, corresponde à constituição da
vivência da pré-compreensão, e da vivência da compreensão. A consciência
lógica, ontológica, fenomenológica, dialógica. Especificamente implicativa.

Diferentemente da explicação. E da percepção. Que seriam uma


consciência -- se assim podemos chamá-la --, ôntica.

À medida que as possibilidades se distensionam, no episódio da ação,


que perdem em força, elas se constituem em coisa.

A coisa não é poiética, não tem forças de possibilidades. E, de pré-


conceituais, se esquematizam, se supersimplificam, em conceituais. E se
reificam, apartando-se de sua matriz ontológica.

A constituição da coisa dá-se no como uma relação objetiva, sujeito-


objeto, inexistente no modo ontológico de sermos -- da ação, da existência.
Ou seja, à medida em que se distensionam as possibilidades, e se coisificam.
E, de jeto, se constituem especificamente em objeto (afastamento do
jeto), dejeto. E sub-jeto. Sujeito.

E o sujeito contempla o objeto. O sujeito se dobra, se flete, sobre o


objeto.

Mas, de um modo tal, que, sendo na distensão do modo coisa de


sermos, não há mudança. Nem no sujeito, nem no objbeto. E nada de novo
acontece.
207
O objeto pode, então, ser contemplado reflexivamente, teoreticamente.

A consciência ôntica é explicação reflexiva. Não é, pois, implicação. É


conceitual, e reflexiva. É teorética,.

A compreensão é consciência ontológica. É implicativa. Pré-reflexiva.


E preconceitual.

É o elemento cognitivo do processo da implicação.

208
A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO

209
A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Em Fenomenologia temos uma tendência a valorizar a poiese, o modo


de sermos do acontecer, modo ontológico, a implicação, a compreensão, a
ação. E, concomitantemente, desvalorizar o modo coisa, o modo ôntico, de
sermos, a explicação, a reflexão...

Não é assim. Como a implicação e a compreesão; explicação, a


reflexão, tem a sua importância própria.

Naturalmente que, ontologicamente, é preciso entender a importância


da ascendência hierárquica do ontológico. Da implicação, e da compreensão.

Mas, daí a desvalorizar o modo coisa de sermos; a explicação, a


percepção, e a reflexão, é entrar no terreno do impertinente, e indevido...
Porque nada existe de errado com ele...

O modo ôntico de sermos -- a explicação, a reflexão, a percepção, o


conceitual -- se constitui depois da fenomenologia do momento ontológico da
ação, da existência...

Tanto que o modo ontológico de sermos (da implicação), e da


compreensão, é o près-ente... O modo pré-ente, pré-coisa de sermos.

Quando transita o presente, e se constitui o passado, este passado é conceitual.


E reflexivo. Perceptual. E conceitual...

Fora da implicação, ele, em específico, é explicação.

No modo ôntico de sermos, particularmente se constituem o objeto, e o


sujeito.

210
E o sujeito dobra-se, se flete, sobre o objeto.

Como, no modo coisa de sermos, só existe repetição, a flexão que o


sujeito faz sobre o objeto se constitui como re-flexão.

O modo ôntico de sermos, que assim se constitui -- conceitual,


reflexivo, explicativo -- é o modo teorético de sermos.

O modo de ôntico não é poiético -- atualização de possibilidades --,


não é ontológico, não é fenomenológico existencial.

É conceitual, reflexivo, e explicativo.

Isto o torna hierarquicamente menos importante, em termos


ontológicos, com relação ao episódio do modo ontológico de sermos.

A cada episódio da existência, da ação, somos ontológicos e ônticos;


para voltarmos a ser ontológicos...

A poiésis do ontológico é como o brotar de uma fonte. Tem uma


velocidade e um ritmo próprios. Grande parte deles latente, e não explicitado;
pré-compreensivo.

Enquanto se desdobram subterrâneos os trânsitos do ontológico, deles


descansamos na imobilidade da explicação, da reflexão, do conceitual. Do
modo ôntico de sermos.

Nesse sentido, o ôntico é como uma parada, uma pausa, um momento


de quietude, entre dois momentos de ação.

211
Para o ontológico, o ôntico, aparentemente, é uma interrupção, um
obstáculo, um empecilho.

Não.

A momentaneidade do ontológico morre no ôntico. E a emergência do


ontológico -- a partir do ôntico --, realiza uma possibilidade deste. Na medida
em que, com o esgotamento do tempo crônico de sua instalação como coisa, a
temporalidade do ontológico emerge, como uma borboleta que emerge do
casulo.

Esta relação entre o ontológico e ôntico, caracteriza-se como uma


relação de aporia.

Em que o ôntico parece limitar o caminho do ontológico.

Efetivamente, sob o ôntico, o ontológico, em sua poésisa pré-


compreensiva, é um vulcão emergente.

No limite da desintegração da aporia, está a poiése.

Nas eventualidades mais fluídas e bem sucedidas do ontológico, a


poiese, equaciona e resolve.

Não quer dizer que isto sempre ocorra.

Eventualmente pendências remanescem. Unfinished busyness, como


diria Perls.

A constituição explicativa da reflexão permite a constituição do objeto,


a objetificação. E a reflexão sobre o objeto permite uma outra abordagem,
reflexiva, teorética, explicativa do mesmo.

212
De modo que, no seu momento próprio, o retorno da poiese pode dar-se
num outro nível de resolução. Potencializado pela contenção da aporia.

A tentativa prematura da ação, antes da vivência plena da aporia,


é pretensão. Ou histeria.

213
CONSCIÊNCIA E VIVÊNCIA
Afonso Fonseca, psicólogo

Da mais alta importância -- para a compreensão da Ontologia, da


epistemologia, e da metodologia fenomenológico existenciais -- é a distinção
entre vivência e consciência.

Ao longo do tempo, em Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico


Existencial, lançou-se mão de conceitos precários e impróprios para expressar
suas distinções, e a importância delas.

Às vezes a distinção parece não existir. Ou é abordada de modo


simplório.

Normalmente, entende-se que o elemento central do


Compormentalismo é o comportamento; o elemento central da Psicanálise, o
inconsciente; e o elemento central da Psicologias Humanistas é a 'consciência'.

Mas, qual 'consciência'?

Como definir 'consciência'? E qual 'consciência'?

Foi Dilthey que --, perseguindo as distinções entre a compreensão e


a explicação -- lançou luz, inicialmente, sobre a questão. Sendo que a
Fenomenologia fez dela a sua questão de trabalho.

Em função destas explorações, possuímos um arsenal conceitual que


nos permite formular as propriedades e distinções
entre consciência e vivência, de modos esclarecedores.

CONSCIÊNCIA E VIVÊNCIA

214
É necessário evitar a dualidade fisiológica, e a metáfora, consciência x
inconsciência.

No nosso modo de sermos de vigília, podemos ser de dois modos.

(1) No modo ôntológico; e no (2) modo ôntico de sermos.

No modo ontológico de sermos, vivemos condições e capacidades


humanas particulares. Que são próprias deste modo de sermos. E não se dão
no modo ôntico.

Dentre elas, definidora, a vivência do logos. Do sentido.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos em que vivenciamos


o logos, o sentido. Melhor diríamos: é o modo de sermos em que um
ser (onthos, gr.) que vivencia o sentido (logos), em específico, vivencia o
sentido.

O modo ôntico de sermos não é ontológico porque, em específico, não


é lógico. Não é modo de sermos de vivência do sentido. É conceitual,
reflexivo, teorético...

Ao modo Ontológico de sermos Dilthey distinguiu, em sua filosofia da


vida, com o termo vivência, erleben. Derivado do termo Vida, Leben. Para
indicar seu caráter imediato. E empírico.

O modo ontológico de sermos, é o modo existencial de sermos, é


fenomenológico, é o modo dialógico, o modo de sermos da dramática da ação.

No modo ontológico de sermos, vivenciamos possibilidades. Que são


forças plásticas, criativas, que se desdobram como ação. A ação, do modo
ontológico de sermos, é, assim, poiética.

A ação, enquanto desdobramento, moção e emoção, de possibilidades,


caracteriza o modo ontológico de sermos, como modo de sermos
do acontecer.
215
Enquanto que o modo ôntico de sermos, no qual não vigora a dramática
da ação, é o modo de sermos do acontecido...

Uma distinção, assim, definidora entre os modos de sermos do


acontecido, e o modo de sermos do acontecer é a vivência das possibilidades,
e da ação, no modo ontológico de sermos do acontecer. Isto caracteriza o
episódio deste modo ontológico de sermos como 'acontecer', como
'acontecimento'.

Enquanto que o modo ôntico de sermos, que não é vivência e


atualização de possibilidades, é não só o modo de sermos do 'acontecido',
como o modo coisa de sermos. O modo de sermos do ente (onthos)

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos do (près)ente.

Em específico, o modo ontológico de sermos é pré-reflexivo e pré-


conceitual.

Assim, o modo de sermos ontológico, vivencial, é pré-reflexivo, e pré-


conceitual. É o modo de sermos da ação, do ator. Modo de sermos
da intensionalidade, da implicação, e da compreensão.

O modo ôntico de sermos é o modo de sermos especificamente,


reflexivo, conceitual, teorético. Modo de sermos explicativo.

VIVÊNCIA

Essas duas características básicas -- a de ser pré-reflexivo, e pré-


conceitual -- são características próprias básicas do modo ontológico de
sermos. Da vivência.

E não da consciência reflexiva. Do modo ôntico de sermos.

216
O modo ontológico de sermos, a vivência, é pré-reflexivo. Em
específico, porque evolui para a reflexão.

A duração de seu episódio, entretanto, é anterior à reflexão. Pré-


reflexiva.

Ou seja, o modo ontológico de sermos dá-se anteriormente ao modo


coisa de sermos. Modo coisa de sermos no qual se constituem, como coisas,
sujeito, e objeto.

O sujeito contempla, dobra-se, flete-se, sobre o objeto.

Como isto se dá no modo coisa de sermos, em que nada de original


acontece -- no qual só há repetição --, a flexão converte-se em reflexão.

Daí, que o modo ôntico de sermos, é reflexivo, o modo reflexivo de


sermos. O modo ôntico de sermos é reflexivo. Nele o sujeito se flete, e reflete,
sobre o objeto. No que entendemos como o modo teorético de sermos.

Agora podemos, meridianamente, entender a enfática contestação da


introspecção, de Wundt, por parte de Brentano. Não se pode ser sujeito e
objeto...

Por outro lado, o modo ontológico de sermos é (près)-conceitual.

No sentido de que é anterior, e prepara, a conceituação.

É necessário dar uma atenção particular ao que significa 'conceituação'.

A vivência das possibilidades, no modo ontológico de sermos, da ação,


é a vivência do desdobramento de forças. É tensional, intensional,
intensionalidade. Conceituação é a perda do vigor criativo de multiplicidade

217
de possibilidades. A reificação dos produtos da ação. Caricaturização.
Esquematização. Desnaturação deles.

A vivência do modo ontológico de sermos é a vivência do vigor de


plexos de forças, a vivência da força de plexos de possibilidades. A
implicação.

Esta vivência, intensidade, depois que inicia-se, tem um pico de


intensificação, para, em seguida, decair.

Quando há o decaimento, este ocorre como o decaimento da


intensidade, intensionalidade, da força das possibilidades, e de seus plexos.

À medida em que decaem, as possibilidades se


instalam como coisas individualizadas. E destacadas de sua fonte, e duração,
ontológicas.

Este processo, decorrente da perda do vigor da intensidade da força da


multiplicidade de possibilidades -- a reificação dos produtos da ação, a
esquematização, inerente à coisidade da coisa, a caricaturização -- é o que
entendemos por conceituação.

A vivência da duração da transjetividade da ação, da fenomenológica


do episódio existensial, do modo ontológico de sermos, prepara a
conceituação; mas é, em si pré-conceitual (près-conceitual).

De modo que a vivência do modo ontológico de sermos


é intensional e pré-conceitual.

A implicação (através de plexos) é a forma pela qual se organiza o


movimento de atualização de possibilidades.

No episódio fenomenológico existensial da ação, as possibilidades, são


múltiplas.
218
Esta multiplicidade de possibilidades é uma multiplicidade de
possibilidades em que, forças plásticas e lógicas, as possibilidades competem
e argumentam entre si.

Na intensionalidade desta competição, e argumentação, organizam-se


em plexos (plics). Multiplicidade organizada). Nisso constituindo
a implicação.

Toda a vivência do episódio do modo ontológico de sermos é ação.

A intensionalidade da ação organiza-se como implicação.

De modo que a vivência do modo ontológico de sermos, a vivência da


ação, é implicação.

A experiência do modo ôntico de sermos, da consciência reflexiva


é explicação.

A implicação organiza as forças da ação. Forças que são forças


plásticas, criativas.

E são forças lógicas, ontológicas, fenomenológicas, dialógicas.

Quando se formam, os seus plexos se constituem, e são preendidos,


vivencialmente. Como com-preensão.

A com-preensão é, assim, o aspecto cognitivo do episódio do modo


ontológico de sermos, do episódio fenomenológico existensial da existensia,
ação.

A teorética, a objetividade, o conceito, a explicação, constituem o


aspecto cognitivo do modo ôntico, do modo coisa de sermos.
219
Enquanto coisa instalada, as coisas não têm a criatividade da dinâmica
poética da ação. Não tem moção, nem emoção, Nem motivação.
Característicos da vivência do episódio ontológico, fenomenológico
existencial, da ação.

CONSCIÊNCIA REFLEXIVA

Adjetivamos de "reflexiva" a cognição subjetiva -- conceitual,


perceptual, como consciência de um sujeito -- para diferenciá-la da
consciência pré-reflexiva, pré-conceitual. A compreensão. O aspecto
fenomenológico, cognitivo, do episódio da ação, do episódio da existência.

Se cuidarmos de uma definição mais acurada da consciência -- de seu


aspecto intrinsecamente poiético, criativo, formativo; sua característica de
ação, de atualização de possibilidades, de efetivo conhecer pré-reflexivo e pré-
conceitual; seu aspecto fenomenológico existencial de superação, e de
regeneração... Vemos que, só este aspecto cognitivo da ação, do modo
ontológico de sermos, mereceria o nome de 'consciência'.

Dado o uso comum, e equívoco do conceito, todavia, no seu amplo


sentido genérico -- desde "estar desperto", no sentido de estar no estado de
vigília, até a consciência explicativa --, mantemos o uso.

E designamos como "vivência" o aspecto cognitivo do modo ontológico


de sermos. Do episódio da ação, do episódio da existência.

A consciência reflexiva é o modo de sermos de instalação da coisa. o


modo ôntico de sermos, do ente.

No episódio da ação -- transitada a duração do modo jetivo da ação --


há o decaimento da força das possibilidades.

E a poiética da ação instala-se como coisa.

220
Nesta coisificação, surgem as dimensões do sujeito, e do objeto, e sua
dicotomização. O sujeito 'contempla' o objeto. O sujeito é espectador do
objeto...

Assim, o modo ôntico de sermos, é conceitual (v. acima) e reflexivo.

Modo de sermos já fora da duração da intensionalidade da ação. Pelo


decaimento da força de possibilidades, a instalação da coisa não pertence à
implicação. De modo que, em específico, o modo ôntico, modo coisa de ser, é
da ordem da explicação.

Assim sendo, a consciência reflexiva, em específico é reflexiva, e conceitual.


E, no seu momento próprio, sua experiência não é mais da ordem da
implicação, mas da ordem da explicação.

Diferentemente do modo ontológico de sermos -- cujo aspecto


cognitivo é, especificamente, compreensão --, o aspecto cognitivo do modo
ôntico de sermos, da instalação da coisa, do modo ôntico de sermos é
a explicação.

221
CONHECER
Pré-Compreensão, Compreensão, Intuição
da ação, do episódio existensial.

222
CONHECER
Pré-Compreensão, Compreensão, Intuição
da ação, do episódio existensial.

Afonso Fonseca, psicólogo.

Aqui, falmos de 'conhecer'. Do ato de conhecer.

Não de 'conhecimento'.

Muito menos de teoria. O isso do conhecimento, como diria Buber. O


conceito é o isso do conhecimento.

Interessante isto...

E Buber tem tanta autoridade para dizê-lo.

O conhecimento constitui um isso. Seu passado, sua condição de ente.

O conhecimento tem o seu presente.

Seu momento, ante- passado. Seu presente. Seu-pré-ente. Seu modo de


ser anterior ao ente. Pres-ente signifca ante-ente.

Como vivência do desdobramento de possibilidades. Como eu-tu.


Como presença e atualidade da ação. O aspecto, especificamente, de
cognição da ação...

223
Momento pré-coisa. Pré-conceitual.

De, inevitável, conceituação. Condução ao conceitual.

O teorético, a teoria, o isso do conhecimento, são próprios ao modo


ôntico, o modo coisa de sermos.

O teorético, a teoria, dão-se como flexão, e reflexão. Do sujeito sobre o


objeto. Ambos como coisa.

Carecem, portanto, de ocorrer no modo ôntico de sermos. No qual se


constituem sujeito e objeto; subjetividade e objetividade. Que só se repetem.
Já que nada de original acontece no modo ôntico de sermos.

Sendo o conhecer,propriamente dito, próprio ao modo ontológico do


episódio da ação. Da existênsia.

O aspecto cognitivo do episódio da ação; do episódio da existência.

Que é logos, compreensão, ontológica.

Da ordem da implicação.

O conhecer é jeto, transjeto, transjetividade.

O conhecimento, o teorético, a teoria, são da ordem da ex-plicação. O


conhecer, da implicação. Pré-reflexiva, e pré-conceitual... A intuição da pré-
compreensão, e da compreensão...

O conhecer é inerente à ação. Ao episódio da existência. É o aspecto


cognitivo do episódio da ação, do episódio da existência... Na medida em que
224
o conhecer é jeto, enquanto desdobramento de forças; o conhecimento, o
conceitual, a teoria, em específico é 'dejeto''. Já que não é mais jeto, ação,
desdobramento de possibilidades...

Só existe conhecer na ação. Na momentaneidade instantânea do ato da


existência. Da ação.

Logo, o conhecer, evidentemente, não é teórico, nem reflexivo.


Ontológico, o conhecer é compreensão. É pré-reflexivo, e pré-conceitual.

O conhecimento, em específico, é reflexivo e conceitual... Dá-se, como


coisa, no modo ôntico de sermos. É explicação.

Já transitou, como implicação. como fenômeno, como sentido,


como logos, como compreensão... No modo ontológico de sermos. E inicia,
agora, sua condição ôntica, como explicação.

Na condição de objeto, que é contemplado por um sujeito.

Empobrecido, de sua riqueza, de seu refinamento -- de logos, de sentido


--, a um esquematismo, e uma caricatura: o conceito.

A ser contemplado como objeto. Teoreticamente.

O termo objeto, em específico, significa afastamento do jeto.

O jeto é a ação, enquanto desdobramento de forças. As possibilidades.

Existe, assim,

(a) uma cognição que dá-se na duração do episódio do jeto, da ação,


especificamente. É, assim, transjetiva; transação. O conhecer..

E,
225
(b) uma cognição que é objetiva. O conhecimento, o teorético, o
conceitual.
Que se dá depois do jeto da ação, e da presença, da ação, e da
compreensão.
E é reflexiva.
Dá-se na ôntica condição de coisa de sujeito e do objeto. E de sua
dicotomia.

A imPLIcação, é um padrão maior do episódio da ação, da existência,


da pré-compreensão; e da copreensão.

A vivêcia da dramática do episódio da ação é intensional. É uma


tensão, na medida em que é constituída pelo desdobramento de forças. As
possibilidades.

Na vivência da interpretação da ação, as possibilidades são múltiPLas.


Uma multiplicidade que se organiza.

As estruturas fluídas nas quais as possibilidades se organizam, no


episódio da ação são PLexos ('PLics (gr.)': multiplicidades organizadas)

Como forças, lógicas, que são, as possibilidades competem e


argumentam entre si.

E formam dominâncias.

Que são PLexos, gestalts, de possibilidades. No decurso do episódio da


ação.

Os PLexos e as possibilidades, prosseguem, na intensionalidade,


formando novas dominâncias, e novos PLexos, no que chamamos
de imPLICação.

226
Lógicos, ontológicos, fenomenológicos, enquanto vivência de sentido,
especificamente, os PLexos, desdobram-se da pré-compreensão à
compreensão, à medida que se constituem. E duram, trasjetivamente, a
duração do jeto da transação, do transcurso, da dramática da ação.

Implicação, pré-compreensão, e compreensão são, na intensionalidade,


os elementos da cognição da ação. Enquanto atualidade e presença
fenomenológico existencial, ontológica.

Na sua específica intensionalidade, a implicação, a pré-compreensão, e


a compreensão são pré-reflexivas, e pré-conceituais.

Pré-reflexivas, na medida em que dão-se, na vivência da implicação, do


modo ontológico de sermos, da ação. Antes da constituição de sujeito e de
objeto.

No seu caráter cognitivo não há um objeto a ser contemplado,


teoreticamente, na pré-compreensão, e na compreensão. Nem um sujeito que o
contemple.

O ator é o agente da ação, e de inspectação. Que vivencia


intuitivamente, como vivência de consciência.

A pré-compreensão, e a compreensão -- intrínsecas ao modo


ontológico, fenomenológico existencial de sermos -- são preconceituais. Na
medida em que se dão antes do empobrecimento, caricaturização, e
esquematização de seu processo de constituição de sentidos, pelo decaimento
da forças das possibilidades.

Isso permite que seja gestaltificativo o conhecer pré-compreensivo, e


compreensivo.

Na medida em que -- pré-conceitual -- preserva a constituição do


conhecer, como vivência pré-reflexiva, e pré-coneitual do projeto,
atualidade, presença, performance, do todo, que é diferente da soma das
partes...

227
Mais original, rico e fluído que o esquematismo e caricaturização do
conhecimento conceitual. Objetivo. Teorético.

O efetivo conhecer, que se constitui na ontologia da fenomenologia


existensial da ação...

228
SOBRE A POTENSIA EXISTENCIAL
A vontade de viver

229
SOBRE A POTENSIA EXISTENCIAL
A vontade de viver

Afonso Fonseca, psicólogo.

Com 's'. 'Potensia' 'existensial'.

Para enfatizar que é uma 'tensão'...

De mobilização. Mobilização própria à ação.

Ação que é 'tensão'. 'Intensional'. 'Intensionalidade', portanto.

Essencialmente distinta da 'ex-tensão', da 'ex-tensionalidade'... Que dá,


'existencia', 'existencial'...

'Como coisa'. Ôntico...

Ontológico, existência.

Ôntico, existência!!! Que coisa?

Que tal falarmos de (Ontológico:) Insistensia. (Ôntico:) Existensia.

De qualquer forma, tanto faz...

Porque 'tensão' ou 'tenção' dá no mesmo, significa a mesma coisa.


'Tensão'... 'In' e 'Ex' significam 'dentro', e 'de dentro prá fora...'

230
Aqui, utilizamos 'Insistensia' e 'Existensia'...

O episódio exSISTtensial, in-sistensial; a in-sistensia, a existência é a


SISTole da ação.

Existênsia é o episódio da sístole da ação.

Que é, vivida como tensão.Intensionalidade.

E o episódio da ação, o episódio da existênsia, é tensão.

Porque é desdobramento de possibilidades -- as forças cujo


desdobramento vivenciamos como ação, no modo ontológico de sermos,

Na vivência do episódio da ação, vivência do episódio da existênsia, as


possibilidades se desdobram formativamente, criativamente. Em ação. Ou
seja, em compreensão e musculação. Originais.

Aas possibilidades, assim -- que vivenciamos no modo ontológico de


sermos, cujo desdobramento é a compreensão e a musculação, a ação --, têm
uma característica especial.

São eminentemente formativas, criativa.

São, assim, POIéticas, as POSsibilidadees.

Nem teóricas, nem práticas -- que poderiam ser --, como tais são,
especificamente,POIéticas. Desdobramento criativo, produtivo.

Como vivência do desdobramento de possibilidades, a ação, a


compreensão e a musculação, que constituem a ação, o episódio da existência,
são eminentemente originais. E motivados, motivacionais. Criativas, e
recriativas. Da condição de ser no mundo.

231
Assim, podemos ser, e somos, criativos de nós próprios, de nossas
condições no mundo. E do próprio mundo.

Como ação, o episódio existensial é moção e emoção. É motivação.


Resgate da emoção e da motivação. É criação do novo, e original.

É superação de nós mesmos, do mundo. De nossa fragilidade, e da


dureza do mundo.

À ação nossa fragilidade pode se descobrir efetivamente criativa. A


dureza do mundo pode se revelar vulnerável.

E, sobretudo, a alegria pode se dar.

Como celebração da vida,. E como o infatigável retorno eterno da


alegria.

Resgate das forças de vida. Das forças de uma super abundância. O que
é a alegria...

Desde que saibamos, e até que saibamos, celebrar que a finitude e o


sofrimento existem.

O que não me mata me fortalece... Eu abençôo até o mais negro


sofrimento... E, ... a vida merece ser afirmada, e vivida, mesmo quando é
sofrimento e finitude...

Nem por isso, a vida merece ser difamada.

Merece, sim, ser incondicionalmente afirmada.

E, o seu segredo: a vida retorna eternamente...

Enquanto existe vida, existe um eterno retorno da vontade (da força) de


viver...
232
Que se oferece sempre como mais vida...

Mais uma dança, aceita?

233
VISITANDO AS QUEBRADAS DO SI MUNDO
Psicologia e Psicoterapia fenomenológico Existensial Dialógica

234
VISITANDO AS QUEBRADAS DO SI MUNDO
Psicologia e Psicoterapia fenomenológico Existensial Dialógica

Afonso Fonseca, psicólogo.

Atenção: É "... o si no mundo", não "... o si imundo"... :-)

O si no mundo.

Esta construção, para evitar a subjetividade, e a objetividade. Evitar


mencionar o sujeito, e o objeto. E a dicotomia entre ambos... Já que eles não
se dão no modo ontológico de sermos.

Aí, uns pomposos dizem, não é relação sujeito - objeto,


é intersubjetividade. Porque é relação sujeito-sujeto...

Poooorrrroooteeeee... :-)

A questão não é essa.

Mas tran-jeto.

Nem objetividade, nem subjetividade, mas transjetividade...

No modo ontológico. Fenomenológico existensial de sermos, da ação.


Transjeto, Transjetividade.

A duração deste modo de sermos, é a duração do jeto da ação. Do jeto do


desdobramento de forças. As possibilidades.

Coisa, digo... não coisa, que Perls já sabia, quando falava de self.

235
Que Buber já sabia, quando falava de ontológico; de Eu-Tu.

Que Goethe já sabia, quando falava de Gestalt.

E que, em Fenomenologia Existencial, ganha o conceito de ser-no-


mundo.mundo.

O si mundo -- nesse modo de dizer o modo ontológico de sermos --, a


existência, não obstante, apesar de não ser dicotomia sujeito-objeto, é
dualidade.

Mas a dualidade do vínculo da dialógica, Eu-Tu. Da existência, da


ação.

Já que a duração do episódio do modo ontológico de sermos, o episódio


da existência, é todo ele ação, como dizia Buber.

Diretamente -- em proporção com o seu significado e interesse, e


problematicidade --, cada evento da vida é vivido, e recordado, como uma
organização de possibilidades, no campo do si mesmo - mundo.

Numa dialógica significativa, interessante, e probemática, entre o si


mesmo - mundo.

E, assim, ele é interpretado, compreensivamente, como um evento do


ser-no-mundo.

Até se concluir.

Enquanto não se conclui, o evento continua se dando à vivência, à


interpretação fenomenológica.

Na medida de seu significado, interesse, e de sua problematicidade, ele


pode oferecer-se, como vivência, no contexto da terapia.

236
Aceito, e afirmado, será paulatinamente interpretado,
compreensivamente, como dramática do ser-no-mudo, até poder concluir-se,
dialogicamente, como episódio da dialógica do ser-no-mundo.

De modo que a psicoterapia é a revisita fenomenológico existencial a


quebradas do si mundo, na medida de sua problematicidace, interêsse, e
problematicidade para o cliente.

Até que ele possa encaminhar, e resolver suas questões mais


significativas, problemáticas, e interessantes....

237
CURA

238
CURA
Em Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existensial.

Afonso Fonseca, psicólogo.

Na perspectiva fenomenológio existencial, o termo, e conceito,


de cura, não têm, de modo algum, o mesmo sentido que, devidamente, têm,
no contexto biomédico. Até porque as questões existencias não têm a ver com
doenças, e não têm, portanto, a ver com cura, no sentido biomédico.

Dos vários sentidos do termo, e do conceito, é, apenas, um, o


de restabelecimento da saúde. Conceito que nos dá o que pensar, acerca do
que é que significa o restabelecimento da saúde...

Dentre outros, cura (segundo o Aurélio) significa:

... preparação para uso... E,


... método de curar ('secar') queijos, chouriços e outras iguarias...

Estes sentidos estão mais próximos dos sentido em fenomenologia existensial,


e em psicologia e psicoterapia fenomenológico existensial e dialógicas.

No primeiro sentido, num sentido muito próprio -- porque a vivência do


episódio fenomenológico e existencial, a existênsia, a ação, não é pragmática.
Não é da ordem do uso.

Jeto, da ação; e não objeto, o modo ontológico de sermos, em sua


transjetividade própria, é da ordem da poiese, e não do uso, de uma
pragmática.

Inclusive, transjeto, a ação, na qual ainda não se constituíram sub-


jeto e ob-jeto.

Naturalmente, do transjeto ao ob-jeto, e ao sub-jeto, a tranjetividade da

239
transação da ação se converte em coisa, objetiva e subjetiva, usável, e em um
valor pragmático. Pronto para uso. Pelo decaimento de suas forças, no
transcurso da duração da ação.

De modo que o episódio fenomenológico existensial, o episódio da


ação, é pré-prático, pré-pragmático. E prepara o momento ôntico da forma.
Que é da ordem do uso, da usabilidade, da prática, da pragmática.

A vivência, o ontológico, o fenomenológico existensial, em específico,


é da ordem da poiética, em si é cura.

A coisa, o modo ôntico de sermos, a constituição, e a relação sujeito-


objeto, é da ordem da teoria, e da prática.

A cura, transjetiva, desdobramento de possibilidades, ação, conduz à


coisa, à medida que decaem as suas forças. Objetiva, e subjetiva, a coisa
resulta da cura.

Este processo, a cura, em termos existenciais, é bastante análogo


à cura de conserva de carne, de queijo, de concreto... Que significa a secagem
da umidade, até que o curado, seco, esteja próprio para consumo.

A vivência ontológica significa uma análoga desnaturação do


ontológico. Que, desnaturado, converte-se em coisa, ôntica, ente, à medida
que decaem as suas forças, a força de suas possibilidades. De pres-
ente em ente (coisa).

Assim, o processo do episódio fenomenológico da existência, da ação, é


análogo ao processo da cura. Ao processo de secagem de linguiça, de carne,
de queijo, de concreto... Os eruditos torcem o nariz,,,

Mas, paciência...

Ainda mais, para aumentar a confusão, intencionalmente, ou não, o


termo, desinformadamente, é, indevidamente, entendido como cuidado. O que
aumenta, tremendamente, a confusão...

240
O termo Sorge -- do qual deriva o termo, e
o conceito, de cura fenomenológico existensial -- é um termo escandinavo.

Na Europa, e na Escandinávia, em particular, a cura de alimentos é um


processo muito importante. Na medida em que os longos, e intensos invernos,
limitam a criação de gado a maior parte do ano. Fazendo com que seja
necessário preservar para o consumo a proteína da carne. Sob a forma de
carne em conserva, embutidos, queijo, e outros derivados do leite.

Daí, ser o processo da cura um processo, extremamente, importante.

E ter sido tomado como analogia para o processo fenomenológico do


episódio da existência, da ação. (Antes que Heidegger houvesse transformado
a linguagem da Fenomenologia numa linguagem hipnótica, e intoxicante...
Estupefaciente)

(Estupefaiente: adjetivo e substantivo de dois gêneros


1. Rubrica: medicina.
que ou o que provoca costume e conduz a um estado de privação,
podendo levar à toxicomania (diz-se de substância psicotrópica); entorpecente
2. Derivação: por extensão de sentido, sentido figurado.
que ou o que provoca grande espanto, assombro).
(Etimologia: lat. stupefacìens,entis 'que entorpece', part.pres. de
stupefacìo, is, féci, factum, facère 'entorpecer, adormentar, tornar insensível';
ver estup(e/i)- e faz-). (Houaiss).

241
INSÓLITA E EFERVESCENTE PERFORMANCE DO POSSÍVEL

242
INSÓLITA E EFERVESCENTE PERFORMANCE DO
POSSÍVEL
Afonso Fonseca, psicólogo.

O possível, a possibilidade, são forças plásticas, criativas,


gestaltificativas, que vivenciamos na instataneidade momentânea do episódio
do modo ontológico de sermos. E que constitui o episódio fenomenológico
existensial, o episódio da existência, o episódio da ação.

O modo ôntico de sermos, a instalação da coisa, o modo acontecido de


sermos, é aporiativo. A coisa revela a sua aporia, sua impossibilidade de
passagem; ao contrário da transjetividade, da duração da atualização, e
presença, do desdobramento de possibilidade.

Todo ele moção, emoção, motivação.

Quando a coisa revela sua aporia, provoca a vivência do possível.

O possível, a possibilidade são, assim, aporéticos; sua moção, emoção,


motivação são aporéticos.

De modo que, aí, onde se dá a aporia, é onde se desencadeia a poiese, a


atualização do possível, fenomenológico existencialmente, como existência. O
episodio da existência, episódio da ação.

Força, força plástica, poiética, estética, o possível demanda, para a sua


efetiva atualização, a dialógica vivência de sua afirmação.

Insinuação, possibilidade entre possibilidades, a vivência do possível


está, assim, impregnada do incerto, e do risco.

A vivência do possível nutre-se da incerteza.

243
Não fosse a incerteza, ele não seria possível, e eminentemente
experimental.

Experimentar a vivência de atualização do possível, é arriscar, e tentar.


E é perigoso. A experimentação.

Não coisa, acontecer e não acontecido, presente e não passado, o


possível não tem a solidez da coisa. Não tem a realidade, a solidez, da coisa.
É insólito.

O possível não é real. É possível. .Sua verdade, está no 'perigoso', no


expeimental, no arriscar, e no tentar. No experimentar...

A vocação do possível, da possibilidade, é constituir-se em forma.


Forma do pensamento, forma do gesto, forma material.... É constituir-se em
gestalt.

Através da vivência da ação, da gestaltificação, da sístole do episódio


da existência.

A hermenêutica da existência é a constituição do possível em forma,


gestalt. Aatravés da ação, do episódio da existência... Isto é da
experimentação, da interpretação, A interpretação fenomenológico existencial,
compreensiva.

Assim, a presença e a atualidade da vivência do possível é a criação. A


criatividade, a ação. E a superação.

Estético, a vivência fenomenológico existensial da atualização do


possível, a ação, existência, é criativa. Poiese, poiética.

A ação, o episódio, fenomenológio existencial, a existência, é, não só


dramática, mas dramática da formação. Da criação. A atualização do possível
é um fazer. Mais especificamentem um modo de fazer.

244
Como modo de fazer, modo de feição -- perfeição --, a vivência da
atualização do possível, através da existenciação, da ação, elabora a forma, no
desdobramento do possível, até os detalhes, e sem soluções de continuidade.

Na verdade, as primeiras fases da ação, do episódio fenomenológico


existencial, é a vivência de um jeto, de um projeto, como rascunho, da forma.
Ação, a performance da ação, preenche mesmo os detalhes do rascunho, ainda
que estes resultem de re-projetação, de acordo com intercorrências, na duração
do episódio da ação. Mas a atualização do episódio da ação tem sua
conclusão, enquanto conclusão de formação da forma.

Da completa formação, per-formação, da per-formance.

De modo que esta, a formação da forma, perfeição, é performação, é


performática, ação. A formática da forma -- gestalt, gestaltificação --, é uma
performática.

245
O EU E A AÇÃO

246
O EU E A AÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Fenomenologia do eu.

Não existe uma fenomenologa do eu.

Porque o eu, simplesmente, não é fenomenológico.

O eu é coisa. É ôntico. Conceitual, e reflexivo, explicativo.


subjetivo/objetivo. Caricatural, e esquemático.

O que é ontológico? Compreensivo? Intensional? Transtensional?


Implicativo? Pré-reflexivo e pré-conceitual é a vivência da agência da ação.

O eu é putativo.

Este é um termo da filosofia aplicado a algo que parece muito importante,


verdadeiro... Mas que não é nem tanto. O eu é assim.

A cada episódio existencial, a cadaa episódio da ação, ele se recria e


recria seus determinantes e determinações.

E, em particular, na ação o eu não é um sujeito, nem um objeto.


Cedendo lugar ao agência na ação, Que é jeito, jeto, transjeito, tranjetivo. O
ator.
Como é o ator?

Sobretudo, o ator é jeito, é jeto, da ação. Do desdobramento de


possibilidades.

247
E não ob-jeto, nem sub-jeto. Ob-jeto significa afastamento do jeto.

O que denuncia a condição do sub-jeto. Apenas um ob-jeto.

Na ação, ao contrário, tudo é jeto. Pro-jeto. Trans-jeto. Trans-


jetividade. Do desdobramento de possibilidadres, no modo ontológico de
sermos. Que é vivência de logos. Vivência de sentido. Com-preensão.

O ob-jeto, e o sub-jeto, constituem-se no modo ôntico de sermos. No


modo ente de sermos, modo coisa de sermos. E o sujeito contempla o objeto.
Contemplação que chamamos de teorética.

No modo ontológico de sermos, na atualidade, e presença, não há objeto, nem


sujeito. Nem o sujeito contempla o objetos. Não há teorética. Não há a flexão,
reflexão, do sujeito sobre o objeto.

Pré-reflexivo, o agente da ação não é espectador de objetos.


Compreensivo, ele é, apenas, inspectador.

No âmbito da vivência do modo ontológico de sermos, em sua


transjetividade, a compreensão se dá no âmbito da implicação.

Intensidades, as possibilidades vividas, no modo ontológico de sermos,


competem e argumentam entre si. E, ao competirem e argumentarem, por
suas, intensidades, coalescem em novos plexos.

De modo que a intensidade, intensionalidade, na implexação, digo,


implicação significa intensificação. Intensificação das intensidades na
intensionalidade. Que é o momento não extensivo, não extensional;
intensional, na vivência do episódio da ação. Na vivência do episódio da
existência, do modo ontológico de sermos. Fenomenológico existensiai.

Na ação, no episódio existensial, a implicação é a organização da


multiplicidade de possibibilidades. Que subsiste qua
multiplicidade. Conferindo, da multiplicidade, o seu sentido.

248
Podemos dizer que na ação, no episódio fenomenológico existencial da
ação, a multiplicidade é inimputável. Não purificável.

Passada a momentaneidade instantânea da vivência do seeu episódio; o


episódio fenomenológico existensial da ação, a multiplicidade é imputada,
purificada, de modo que ela é conceituada, objetificada, constituindo-se o seu
aspecto simplificado, caricato do eu, e esquemático.

Assim, em sua multiplicidade simultânea de possibilidades, a vivência


da agência da ação é inimputável.

O eu é imputado. Conceitual, e reflexivo.

De modo que, ao aproximar-se da vivência do episódio fenomenológico


existencial da ação, o eu aproxima-se de sua dissolução relativa e reversível, e
de sua recriação. O limite da coisidade, é o limite no qual se detona o retorno
das forças criativas de seu restauro, e regeneração.

249
FENÔMENO, FENOMENOLOGIA

250
FENÔMENO, FENOMENOLOGIA
Afonso Fonseca, psicólogo.

Tudo é pulsativo.

A existência é pulsativa.

E dá-se em episódios, como a música.

O ato existencial, o episódio existencial, por excelência, é a ação. Em sua


recorrência, a ação é o episódio existencial. Como retorno, e atualização de
forças plásticas, as possibilidades, que vivemos no modo ontológico de
sermos. E que se constituem, cognitivamente, em compreensão; e em
musculação.

O fenômeno corresponde à constituição existencial da ação.

O ato existencial constitui-se -- a partir da vivência do desdobramento de


possibilidades --, em compreensão e musculação.
O fenômeno, em específico, é a ação. E se constitui em compreensão e
musculação.

A compreensão é a constituição inteligível do desdobramento de


possibilidades, a constituição cognitiva da ação, do ato existencial, do
fenômeno.

A compreensão é sentido. Logos, originalmente.

Fenomenologia, portanto, é o sentido do fenômeno. Do ato existencial. Da


ação.

Nunca o estudo do fenômeno.

Isto -- nunca --, porque a existência, a vivência e a vivência do desdobramento


a ação, a musulação, a compreensão, dão-se como o modo ontológico de
sermos.

No qual não vigora o sujeito e o objeto. Não há objetos.

Jeto, especificamente, transjetivo, o fenômeno NÃO É OBJETO, NÃO É


OBJETIVO. Nem a dicotomia entre sujeito e objeto. Evidentemete.
251
Constituído, a-preendio, como com(a)preensão, o fenômeno é trasjeito,
transjeto; nem objeto, nem subjeto; nem objetividade nem subjetividade; mas
transjetividade.

A ação, pois, a existensia, não é descontínua, mas é episódica.

O fenômeno é episódico. Sempre um epifenômeno.

Na música, o episódio musical é um evento (episode), que culmina uma série


de eventos.

O evento musical, ode, tem a sua pros-ode -- a sua prosódia --, nos eventos
aos quais culmina.

O ato existencial, a ação, o fenômeno, tem sua prosódia equivalente.


A implicação. Processo no qual, a vivência de uma multiplicidade de
possibilidades, como forças plásticas, e lógicas, competem e argumentam
entre si. Coalescendo em dominâncias, gestaltificativas.

Que são plexos (plics) gestaltificativos. Cuja vivência, e vivência do


desdobramento, constiti a ação, o ato existensial, e seu fenômeno. Sua
fenomenologia. Que envplve musculação e compreensão. Sentido. Logos.

Em seu caráter intuitivo, a vivência da implicação é, em grande parte, pré-


compreensiva. Até se constituir na abrangência cognitiva da compreensão.

Especificamente gestaltificativo, o ato existencial, o fenômeno, é


especificamente anunciado em sua formação, nos primórdios do ato de
consciência, como específico projeto gestaltificativo. A implicação é a
atualização das possibilidades deste projeto, na formação gestaltificativa, com
as naturais intercorrências.

Ao concluir-se a atualização das possibilidades do projeto formativo,


consuma-se a conclusão, o fechamento da gestalt, em relação ao projeto
gestaltificativo, que se anuncia nos primódios da mobilização da ação.

A mobilização da ação, enquanto exercício de forças plásticas, é intensa,


intensidade, intensionalidade. A ação é intensional.

O caráter intensional do modo ontológico de sermos -- todo ele ação (Buber) -


-; da ação -- enquanto dura o jeto da ação, confere à existensia o caráter
específico de sístole. Por seu caráter de sístole é que a existensia se designa
como existensia. Melhor seria chamar-se de insistensia...
252
Transitada a intensionalidade da existensis, somos ex-tensionalidade, ex-
tensão, ex-tensionalidade, coisa. Modo ôntico de sermos.

Toda a vivência fenomenal do ato existencial, em sua fenomenologia


dramática, dialogicamente compreensiva e muscular, é formativa, per-
formativa. Performance.

Em sua performance, formação, é per-feita. É per-feição. Quer dizer


fazimento, per-fazimento. Toda a vivênncia se dá como um fazer. E tende ser
um completo fazer, um per-fazer.

É feita, em específico, na vivência do transcurso da transjetividade da


vivência do desdobramento do jeto de suas possibilidades. Na vivência pré-
compreensiva e compreensiva de sua implicação.

Seu caráter empírico, pré-compreensivo, e dialógico, além do incontornável


desafio ao status quo, inevitavelmente lhe conferem um grau de incerteza e de
risco. Envolvendo sempre graus diversos de tentativa e de arriscar.

Tentatividade e risco é a raiz do sentido do verbo grego perire, que dá origem


às palavras empírico (na ausência de teoria, vivencial), experimentação, e
muitas outras. Inclusive pirata, numa certa acepção.

Da vivência das possibilidade, da vivência dos plexos de possibilidades, a


ação gestaltifica a forma, material, o gesto, o conhecer. A ação, o ato
existensial, interpreta, assim, fenomeno existencialmente, a possibilidade em
forma.

Heremes transitava entre o Olimpo e o mundo dos homens. E interpretava


para os homens a liguagem dos deuses para os homens.

Em homenagem a Hermes, a arte da interpretação -- mesmo que fenomeno


existencialmente, do possível em forma --- ficou conhecida
como Hermenêutica.

A existênia, a ação, o fenômeno, a fenomenologia, são interpretação, em


específico são hermenêutica.
Já se disse que o homem é o ser hemenêutico por excelência... Difícil é saber
quem disse...

Mas não esquecer que, da ordem da compreensão, em específico são


hermenêutica Compreensiva.

253
Não brigaremos com Freud por causa da interpretação.

Já que Freud explica, ele pode ficar para ele com todas as explicações.

O que nos interessa é a interpretação compreensiva. A hermenêutica


compreensiva.

E, alguém avisa pro Merleau-Ponty que Fenomenologia é pré-conceitual

E da compreensão.

Não existe Fenomenologia da Percepção. Ele dormiu de touca...

Simplesmente porque a percepção não é fenomenológica...

Fenomenológica, e existensial, é a compreensão.

254
EXISTENCIA & EXISTENCIA
Insistencia e Existensia

255
EXISTENCIA & EXISTENCIA
Insistencia e Existensia
Afonso Fonseca, psicólogo.

Por conta da referência oposta de um prefixo -- referências de sentidos de


diferentes origens --, a mesma palavra, existência, termina por designar,
simultaneamente, tanto o modo ontológico de sermos; modo de sermos do
acontecer, modo presente de sermos. Quanto, paradoxalmente, o modo de
sermos do passado, modo coisa, modo ôntico de sermos. No que pesem os
seus sentidos eminentemente antagônicos. Causando significativa confusão, e
dificuldade de compreensão. Deleite dos pseudoeruditos...
Liminarmente, o termo existência, no modo ontológico de sermos,
designa vivência da tensão de uma sístole.
Que remete ao caráter precípuo do episódio recorrente da ação, do modo
ontológico de sermos, fenomenológico existensial.
Que, em específico, é a vivência de um jato, jeto. Enquanto vivência da ação,
do desdobramento de possibilidades. A vivência da tensão de uma sístole.
Existência.
O modo ôntico, modo de sermos do acontecido, modo coisa de sermos, o
passado, tem o sentido de fora, depois, do jato, depois da tensão da
sístole. Existência.
A designação de ambos os modos de sermos têm a sístole, a vivência da
tensão da sístole, como referência de sentido.
Sendo que, no modo ontológico, dá-se, especificamente, como dentro da
tensão da sístole. Existência. E no modo ôntico, especificamente, fora,
acontecida, a tensão da sístole. Existência.
Ora o termo significa na vivência da tensão da sístole; intensional, intensão,
intensionalidade.
Em outro momento, fora da tensão da sístole; extensional, extensão,
extensionalidade.
Podemos, assim, evitar a confusão da ambiguidade do termo existência, se
usarmos os termos insistensia, para o ontológico; e existensia para o ôntico.
Assim, ao invés de falarmos em existência e existência. Falamos
em Insistênsia (ontológico) e Existênsia (Ôntico). Significando, mais
desambiguadamente, dentro e fora da tensão da sístole.
Sístole, o episódio da existensia tem um caráter de respiração. Com seu
específico caráter de piração. Com a novidade de sua ação e compreensão, e
sua regeneração.

Creio que, em suas experimentações, expirações, com jeito objetivo, mas com
tensão fenomenológica, Carl Rogers -- involuntariamente, mas muito seguro
na intuição metodológica -- nos aponta importantes aspectos.
256
A fenomenologia, análoga, é também diádica, e grupal.
Aspecto já entendido na dialógica, de Buber.
E a Insistênsia, tanto individual, como diádica, ou grupal, este um aspecto
metologicamente fundamental, se dá em dois tempos.
Primeiro, sístole fenomenológica, a Insistênsia é sístole e
diástole fenomenológicas.
Assim sendo, podemos dizer que a Insistensia é composta pelos momentos
de Diasistensia e Sistensia;
O episódio da Insistênsia, se compôe de Diasistensia e Sistensia.
Sendo a diasistensia o momento em que, múltiplas e pléxicas, emergem as
possibilidades, competem e argumentam, segundo Brentano, e se
organizam em direção ao jato de sua atualização. A Sistensia.

Sendo a fase da Existensia o momento entre dois episódios ontológicos. O


momento ôntico, acontecido, de instalação da coisa.

257
Escritos da Empatia 2/3.
VOCÊ PODE EMPATIZAR COM UMA PEDRA...

258
O GRANDE SEGREDO

259
O GRANDE SEGREDO

Afonso Fonseca, psicólogo.

A aplicação da metodologia da Gestalt, da metodologia das abordagens


fenomenológico existensiais de Psicologia e Psicoterapia têm um segredo.

Conta-se que, perguntado como operacionalizava o método de sua abordagem,


Fritz Perls simplesmente teria respondido, no seu irreverente estilo:

-- Não atrapalhando...

Resposta mais concisa, e precisa, e certeira, não haveria...

A metodologia fenomenológico existensial, a metodologia gestaltificativa,


atua no propiciamento, no favorecimento, das condições do episódio da
dialógica da ação, das condições do episódio do modo fenomenológico
existensial, e dialógico, modo ontológico, de sermos.

Este episódio não é deliberado, nem proposital. É desproposital.

Ocorre pelo desdobramento de suas próprias forças, as possibilidades, forças


da ação.

Participamos de sua dialógica de modo ativo; mas desproprosital. Pre-


reflexivo, e pré-conceitual.

Dentre outras característica episódio do modo fenoenológico existensial de


sermos.

Que, além de desproposital, pré-reflexivo, e pré-conceitual, em específico, é


implicativo e compreensivo, moção, emoção, não pragmático, criativo,
superativo; quer dizer, gestáltico. E regenerativo.

O modo Ôntico de sermos é proposital, é repetitivo, é conceitual; e reflexivo,


inafetivo, não criativo, não superativo, e realista.

De modo que o modo ontológico, gestaltificativo de sermos, e o modo ôntico


dão-se de acordo com suas respectivas e próprias carcterísticas.

Atrapalhar o desdobramento do episódio do modo gestaltificativo de sermos é


trazer ao dedobramento de seu episódio -- ao invés da participação dialógica --
as características do modo ôntico de sermos. Ou seja, trazer ao desdobramento
260
do episódio do modo ontológico de sermos o propósito, a reflexão, a teorética,
o pragmatismo, o realismo.

Ao evitarmos estas características no episódio da ação, em específico, não


atrapalhamos a dialógica da dramática da ação, nem a consecução de suas
características, como compreensão e musculação.

O episódio da ação pode afirmar-se como criação, como superação, e alegria,


como compreensão, motivado. Pré-reflexiva e pré-conceitualmente, ativo,
atual e presente. Mas despropositalmente.

Este o segredo metodológico da abordagem gestaltificativa, e das abordagens


fenomenológico existenciais.

Mas há que saber esperar,,, Porque

A vida muda
A vida muda lentamente
Como a cor dos frutos
A vida muda rapidamente
Como a flor em fruto
Mas quando é tempo
E é tempo todo tempo
Mas não basta um século
Para fazer a pétala
Que um só instante faz
Ou não
Mas a vida muda

A dialógica dss forças da ação, o desdobramento delas, sua implicação, no


modo fenomenológico existensial de sermos, tem seu ritmo próprio. É preciso
saber participar da dialógica deste ritmo. E ter a natural paciência para o seu
desabrochar. E para, com ele, desabrochar...

E estar habilitado para a dialógica de seus desdobramentos.

Sem lançar mão, ansiosamente, das características reflexivas e conceituais,


técnicas e teóricas, do modo ôntico de sermos. O que, em específico, é
atrapalhar...

261
Escritos da Empatia 1/3.
A EMPATIA É A COMPAIXÃO

262
Escritos da Empatia 1/3.
A EMPATIA É A COMPAIXÃO

Afonso Fonseca, psicólogo.


Instituto Carl R Rogers de Psicologia Fenomenológica.

Hoje muito se fala de 'empatia', mas pouo se entende dela, e pouco se lhe
pratica.

Cabe a Carl Rogers o ter resgatado a empatia, e a ter constituído como um


importante elemento de sua Psicologia, e Psicoterapia.

Mas, mesmo no âmbito de sua abordagem, o conceito é mal compreendido.

Milita contra sua compreensão o individualismo, e o objetivismo atrozes,


prevalecentes na sociedade norte americana, e em grande parte do pobre
mundo dito 'civilizado'.

Rogers conseguiu relativizar o individualismo e o objetivismo, constituindo-se


heterogeneamente, em relação ao meio norte americano, por ater-se à
fenomenologia e por ater-se a dialógica, de Martin Buber. E, assim, conseguiu
salvar sua idéia de empatia.

Ouvi, certa vez, Maureen Miller -- que trabalhou bastante proximamente com
Carl Rogers, e era Irlandesa -- dizer que, perguntado se nada tinha melhorado
na Psicologia, Ronald Laing teria respondido:

-- Hoje fala-se muito de 'empatia'.

Quem conhecesse as idéias de Laing, sabe a importância que ele dava ao que
estava querendo dizer.

Não que ele fosse um mestre da compreensão da empatia. Ele era só um


Britânico, existencialista, em busca de caminhos.

Mas intuía o significado da comunicação para o ser humano.

Carl Rogers também. Não era um mestre da empatia.

Mas teve uma coerência sólida em aderir a perspectiva da compreensão, como


elemento metodológico, como elemento epistemológico, e ontológico.

263
Só quem entende o que é a cabeça dura, e a disseminação, do objetivismo nos
Estados Unidos, e alhures, pode entender como foi heróica a resistência de
Carl Rogers, na perspectiva da compreensão, nos EUA, e no mundo...

Isso apenas com o conhecimento de lampejos de uma Ontologia e de uma


Epistemologia fenomenológicas.

Carl Rogers falava de compreensão empática. Como se houvese outra... Como


se não fosse todo pathos compreeensivo, e páthica toda compreensão.

Porque empatia é a vivência do pathos, no sentido Grego, e não


Romano. A pathética. A sensibilidade emocionada.

E a viêvncia do pathos, a empatia, pré-conceitual e pré-reflexiva, é, por


definição, a constituição cognitiva do desdobramento da ação.
A preensão, a compreensão, cognitiva, do desdobramento da ação.

Além de compreensivo, o pathos é o modo de sermos do movimento, da


movimentação, enquanto atualização de possibilidades,
da moção, da motivação, e da emoção. O modo de sermos da sensibilidade
emocionada. O modo de sermos da emoção. Da compreensão e da emoção.

Rogers intuiu a questão da compreensão, e fez dela a sua trincheira


ontológica, epistemológica, e metodologicamente; negando-se,
metodologicamente, ontológicamente, epistemologicamente, à explicação.

Algo atabalhoada e romanticamente, Carl Rogers intuiu a importância da


ação.

Ainda que não tenha entendido a conexão entre empatia, pathos, copreensão, e
ação. Talvez fosse pedir demais para seu tempo e lugar.

O importante, é que, nas suas experimentações, a adesão à compreensão, e ao


pathos, a empatia, a sensibilidade emocionada, a emoção, abriram o caminho
para que Rogers se abrisse a uma perspectiva fenomenológica, e dialógica, e
se descolasse do objetivismo, e do individualismo. Abrido um caminho, no
âmago da civilização ocidental, para a empatia, para a compreensão, para a
compaixão.

Porque a empatia diz respeito ao modo ontológico, fenomenológico


existencial, de sermos. Que é a nossa sensibilidade emocionada, o modo de
sermos da emoção. Eminentemente da ordem da compreensão. E o modo
ontológico de sermos não comporta o objetivismo e o individualismo.

264
Porque, nos episódios fenomenológicos do modo ontológico de sermos, nos
episódios da ação, da existência, não vigoram nem objetos, nem sujeito; não
somos nem objetos, nem sujeitos. O mundo não é nem objeto, nem sujeito.

Já imaginou um modo de sermos em que não somos nem objetos, nem


sujeitos, em que o mundo, e seus elementos, não são nem objetos nem
sujeitos. É o modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e
dialógico. Modo de sermos da ação. A existência.

De uma só tacada, vão-se, na vivência do modo ontológico de sermos, o


objetivismo, e o individualismo.

Porque, simultaneamente, o modo ontológico de sermos, modo de sermos da


empatia, é, necessariamente, tanto fenomenológio, quanto dialógico. É o
modo de sermos em que não somos, e mundo não é, nem sujeito, nem objeto.
Ainda que se configure, a cada momento de sua vivência numa dualidade --
que não é a dicotomia sujeito-objeto, mas -- a dialógica eu-tu. Em que eu e tu,
necessariamente vinculados, pela esfera do 'entre', compartilham não só o
sentido e sua produção, mas a poiese, a ação, sua produção e desdobramento.

Um aspecto crucial, na dialógica do modo ontológico de sermos, sine qua


non, é que ela faculta, como condição imprescindível, que eu tome
conhecimento do outro, e o confirme. E que esta tomada de conhecimento e
confirmação sejam recíprocos. Mesmo que seja apenas no conflito, na disputa.

Esta tomada de conhecimento, e confirmação recíprocos, e inerentes ao


dialógico, é a compaixão.

Ao descobrimos, no modo de sermos da sensibilidade emocionada, que o


outro não é um preconceito, nem um conceito, que o outro é como nós. Que
luta para viver, que ama, que sofre... O que não é possível, quando
guerreamos com conceitos e preconceitos, e não interagimos com outros,
como nós. O que, igualmente, não é possível, quando o outro é apenas uma
utilidade, ou um objeto.

Buber diria: o objeto há que consumir-se para tornar-se presença...

Laing diria, não encontraremos pessoas tratando-as apenas como objetos...

Nenhuma palavra talvez seja tão gasta ou distorcida como a simples


'compaixão'. Ficou carregada do sentido Cristão de piedade. E nada tem a ver
com isso. Trata-se da idéia como concebida nas civilizações orientais, de
vivência páthica.

265
A mera descoberta que, completamente diferente, o outro é similar a nós.
Dialógica da empatia.

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Escritos da Empatia 2/3.
VOCÊ PODE EMPATIZAR COM UMA PEDRA...

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Escritos da Empatia 2/3.
VOCÊ PODE EMPATIZAR COM UMA PEDRA...

Escritos da Empatia 2/3.


VOCÊ PODE EMPATIZAR COM UMA PEDRA...
Afonso Fonseca, psicólogo.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas


No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
(Poema do Menino Jesus. F Pessoa).

O meu olhar é nítido como um girassol.


Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento


É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,


Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,


Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
269
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...


Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,


E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"


8-3-1914
(F.Pessoa)

Não importa...
Empatia é dialógica.
Buber esclarece que o tu, da transação eu-tu, da dialógica, pode ser um tu da
natureza não humana, um tu da esfera do humano, inter humano; ou um tu da
esfera do sagrado...
Não importa se é uma pedra, uma árvore, ou uma paisagem...
Importa que não seja um objeto, alvo de conhecimento, e de utilidade...
O decisivo é que a inter ação, a ação, seja vivida no âmbito do modo
ontológico de sermos, como ação, inter ação. Que haja confirmação, e
reciprocidade...
Não obstrui a dialógica a condição de que uma pedra é uma pedra. Uma
árvore seja uma árvore, uma paisagem uma paisagem, um cavalo um cavalo,
um cachorro um cachorro.. E de que, como tais, participam da dialógica...
E cabe não esperar que participem da dialógica como gente, se não o são, mas
como o tu que são, e podem ser, em sua condição própria.
No encontro, que é a dialógica, é a alteridade característica, e a diferença do tu
que participam e são compartilhadas como esfera de poiese, e de sentido. Se
eu a confirmo, e sou a ela recíproco. A confirmação e a reciprocidade
requerem uma particular aproximação entre eu e tu, na esfera do entre, que
significa um conhecimento do outro, na poiese de sua criação. Entendida
como empatia.
Na poiética do encontro tudo é ação, tudo é inter ação, tudo compreensão, e
criação. Compartilhadas, como dialógica, e diapoiese, Com um tu que,
enquanto tal, é sempre novo e desconhecido, e de produção compartilhada, em
seus sentidos e possibilidades.

270
Um tu que na ação, na inter ação, não é objeto, na medida em que não somos
sujeito, não é útil nem percebido. Mas, especificamente, compreendido, na
implicação. Inexplicável, enquanto tu.

271
Escritos da Empatia 3/3.
GESTALT E EMPATIA

272
Escritos da Empatia 3/3.
GESTALT E EMPATIA

Afonso Fonseca, psicólogo.

Bobamente, alguns entendem que a empatia não é uma questão de Gestalt, da


metodologia gestaltificativa. E, puristas, entendem que ela seria da esfera
rogeriana. E estamos conversados... Bobos...

A empatia é a vivência do pathos, do modo pático de sermos. Que nada mais


que a sensibilidade emocionada, o modo emocionado de sermos, o modo
ontológico de sermos.

Para compreendermos, é preciso superarmos a tremenda confusão em torno do


conceito de pathos.

A palavra, e o conceito, de pathos tem duas raízes. Grega e Romana.

A raiz prevalecente em nossa cultura é a raiz Romana. Em que pathos tem a


conotação de sofrimento, de doença, de paixão num sentido doentio...

Esta não é a raiz original do termo pathos, e do conceito.

A raiz original da palavra e do conceito é grega. E, nesta, pathos significa o


modo ontológico de sermos, como sensibilidade emocionada. O modo de
sermos dentre outros aspectos, da emoção. Porque o outro, o modo ôntico de
sermos, não o é...

Gestalt, a metodologia gestaltificativa, é favorecer, privilegiar, o episódio


atual do modo páthico de sermos, o modo ontológico de sermos,
fenomenológico existencial e dialógico, o modo de sermos onde existe a a
ação, e a emoção.

O modo gestaltificativo de sermos. O modo gestaltificativo de sermos


é páthico, empáthico.

Dizemos favorecer, porque, se optamos por uma metodologia gestaltificativa,


é preciso não o desfavorecer...

273
Favorecido, fazemos o restante, como a vivência páthica, a vivência
fenomenológico existensial, a vivência da ação. Desproprositadamente, pré-
reflexiva e pré-conceitualmente, fenomenológico existencialmente, de modo
não pragmaticamente inútil. (Vale dizer, de modo criativo, superativo,
regenerativo...).

O modo ontológico de sermos é gestaltificativo, empático, em primeiríssimo


lugar, porque é criativo. Gestalt quer dizer criação.

Formas se constituem no seu episódio. Formas cognitivas, compreensivas,


musculares, e materiais... E a vivência, como ação, desta gestaltificação se dá
por implicação.

Como vivência de constituição de plexos (multiplicidade organizada, plics, em


grego). É a vivência do desdobramento, da atualização, de possibilidades.

As possibilidades fluem sempre,


constituindo plexos (plics, daí implicação, quando vivemos o episódio do
modo ontológico de sermos.

Forças, vivência de forças, a vivência das possibilidades é a vivência de seu


fluxo. Fluxo em que elas competem e argumentam entre si, constituindo os
plexos, sucessivamente. Processo da implicação, que se constitui como a
dramática do episódio da ação.

Na implicação da dramática do episódio da ação, na implicação, partimos de


alguns plexos já constituídos. Forças, compostos de forças, as possibilidades,
que se desdobram constituindo novos plexos. Intensificação das intensidades
na intensionalidade.

Foças, as possibilidades, seus plexos, são em específico, intensionais.


Intensificação das intensidades na intensionalidade. Depois do episódio da
ação, estamos na extensão, extensionalidade, porque explicação.

A vivência dos plexos originais oferecem-se como projetos, que se desdobram


-- intensificação das intensidades na intensionalidade -- atualizando suas
forças, e objetivando o projeto original. Que, da vivência ontológica, constitui
a coisa. Da a origem a sua instalação, enquanto tal. E enseja o surgimento de
novos plexos de possibilidades...

Objetivado o processo vivenciado, originalmente, na dramática da ação, dá-se


a conclusão, o fechamento da gestalt.

274
Deixando pronta a possibilidade da emergência de novos plexos, num novo
episódio fenomenológico existensial da implicação. Da dramática
fenomenológico existensial da ação. Numa nova e sucessiva recorrência do
modo empático, gestaltificativo, de sermos. Recorrência do episódio da
existensia, da ação.

275
276
PRESENTE. O MODO NÃO COISA DE SERMOS
Propedêutica de fenomenologia

277
PRESENTE. O MODO NÃO COISA DE SERMOS
Propedêutica de fenomenologia

Afonso Fonseca, psicólogo.

Somos um modo de sermos coisa.

O que define o modo coisa de sermos é a ausência das forças criativas que
vivenciamos, que se desdobram como a ação, que são as possibilidades. A
ausência das forças plásticas, que vigoraram no episódio do modo ontológico
de sermos. O modo coisa de sermos é o passado.

O desdobramento de possibilidades é a ação. A ação é o episódio reorrente da


existênsia. Do modo ontológico, não coisa de sermos.

Podemos ser: um modo coisa de sermos; e um modo não coisa.

No modo coisa de sermos não vivenciamos as possibilidades. E o


desdobramento das possibilidades, que é a ação.

Por isso, somos coisas, nesse modo de sermos.

Onthos, diriam os Gegos, usando a palavra que eles nos deram


para coisas. Os entes, em nossa linguagem. Modo de sermos
dos entes. Modo ôntico de sermos. Em que somos coisa.

O modo de sermos pré-coisa, é o presente. O modo ontológico de sermos.

Por quê ontológico, o presente? EE

Acima de tudo, porque lógico.

O termo lógico remete a sentido.

É o modo de sermos em que vivenciamos a compreensão. O sentido. É,


portanto, o modo de sermos fenomenológico. Quer dizer, de vivencia do
sentido. Ontológico.

278
O presente, o modo ontológico de sermos, é o modo de sermos em que este ser
que vivencia o sentido o vivencia.

Que sentido?

O sentido ontológico. O sentido que este ser que vivencia o sentido vivencia.

A vivência do sentido é a compreensão. Que é a dimensão cognitiva,


fenomenológica, da ação.

A ação é compreensão e musculação. O fenomenológico é compreensão, e


musculação... Todo o episódio do modo ontológico de sermos,
fenomenológico existensial, é ação, desdobramento de possibilidades.
Compreensão, e musculação.

As possibilidades, forças plásticas da ação, estão, sempre, em desdobramento,


no episódio existensial do modo ontológico de sermos, da ação.

Ao decaírem as possibilidades, transitamos do modo ontológico para o modo


ôntico de sermos. O modo coisa de sermos. No qual as possibilidades não
vigoram, estão inativas. A coisa, deste modo de sermos, é uma instalação. Um
refúgio temporário, que volta ao modo ontológico de sermos, decorrido o seu
período.

Porque é ôntico o modo coisa de sermos.

Sobretudo, porque não é lógico. Não é ontológico -- não


é fenomenológico. Nem dialógico. Não é lógico, não é vivência de sentido. Já
que a vivência de sentido acompanha a ação. E esta, em específico, dá-se
como o modo ontológico de sermos.

O modo ontológico de sermos, fenomenológico existensial, por ser


desdobramento de foeças, as possibilidades, que se desdobram como ação, é o
modo tensional de serrmos, intensional, tanstensional.

O modo coisa de sermos,em específico, é extensão, extensional,


extensionalidade...

O modo ontológico de sermos é implicação.

O modo ôntico é explicação.

Cognitivamente, o modo ontológico de sermos é compreensão.


279
O modo ôntico é explicação.

No vigor de sua duração, do desdobramento da multiplicidade de suas


possibilidades, o modo ontológico de sermos, o presente, o modo pré-coisa de
sermos, é pré-conceitual.

Quando fenecem, decaem, em suas forças, as possibilidades, são ceifadas,


podadas, cepadas, decepadas, concepadas, conceituadas, até que só sobre um
esquematismo, uma caricatura, de seu vigor intensional. Convertem-se elas
em conceitos. O modo ôntico de sermos é conceitual..

Tensional, intensional, transtensional, transjetivo, enquanto duração do


desdobramento de possibilidades, o modo ontológio de sermos é jato, jeto,
transjeto, transjetivo.

O modo ôntico de sermos, não é jeto. Constitui-e o modo ôntico de sermos em


ob-jeto (afastamento do jeto) e o sub-jeto. O sub-jeto contempla, se flete sobre
o objeto.

No modo coisa de sermos, em que tudo se repete. A flexão converte-se em Re-


flexão. O modo ôntico de sermos é o modo, assim, Reflexivo, teorético, de
sermos. Dos sujeitos e do objeto.

O modo ontológico de sermos é o modo de sermos da ação, do ator.

O modo Ôntico de sermos é o modo, não só, dos sujeitos e dos objetos, mas o
modo de sermos em que o sujeito é espectador de objetos.

No modo ontológico de sermos, o ator de nada é espectador.

Compreensivo, ele, em específico, é inspectador.

280
MUSCULARIDADE DA EMOÇÃO, DA AÇÃO, DA EXISTÊNCIA

281
MUSCULARIDADE DA EMOÇÃO, DA AÇÃO, DA EXISTÊNCIA

Afonso Fonseca, psicólogo.

Ainda hoje recordo impressionado... E admiro a fina e explícita lição...

Como os Sudaneses da África do Sul se comportaram, nos Funerais de


Mandela.

Tão diferente do luto e do lamento ocidentais...

Nada de ficar sentado, cabisbaixo, olhando o chão, mãos entre as pernas...

Os Sul Africanos saiam aos montes, aos grupos, nas ruas, cantando e
dançando, o mais seriamente, a sua tristeza, e celebrando Mandela. Os
funerais andavam, com pompa, e líderes mundiais. Os negros corriam pelas
ruas, aos grupos, cantando e dançando...

Que lição deram para a Humanidade, do tanto que os Negros ensinam, e têm
para ensinar!

Uma experiência algo similar e desconcertante, guardando as devidas


diferenças, e proporções, foi quando da morte de Tancredo, no Brasil...

Durante um mês, acompanháramos o noticiário do quadro clínico. Todo


mundo mobilizado, eletrizado. Anos de luta pela democracia convergiam para
aquilo, para o destino daquele homem.

Eu morava em São Paulo e, de vez em quando, ia no Incor. Era frustante.


Algumas pessoas na porta, mas a situação era a mesma. Moribundo.

Tancredo veio a falecer.

De manhã fui na frente do Incor. havia uma crescente multidão... Comoção


geral. Comoção no Brasil...

Silêncio absoluto, quando o caixão saiu, num caminhão dos Bombeiros...

O caminhão saiu lento, pelo meio do povo, que abria passagem.

Ia para o aeroporto, uns oito quilômetros depois...

À medida que o caminhão passava, o povo fechava atrás, e começava a


acompanhar.
282
Daí a pouco, a marcha vai ficando forçada, e o povo começa a correr atrás do
caminhão, motos completam o cortejo.

Era pouco, simplesmente, ficar parado durante e depois da passagem do


caminhão com o caixão. A multidão acompanha correndo, como se, mesmo
insatisfeita a multidão o acompanhasse na despedida...

Todo o percurso, é percorrido, por uma multidão, correndo atrás do


caminhão....

Cantos, palavras de ordem, gritos de esperança...

Chegando no Aeroporto, o prédio não comportava aquela multidão toda...

O povo não fazia por menos, queria ir até o avião. De preferência, carregando
o caixão nas costas...

Não deixaram. Daí a pouco, o barulho de vidros quebrados. As paredes de


vidro do aeroporto vinham a baixo, A pedradas. Parte da multidão adentra o
Aeroporto. O trânsito é liberado contra a multidão. Saímos cruelmente da
história, e o cotidiano começa a se impor...

Não foi em vão; Mas decepcionante...

Uma vez, assistíamos a um show de Hermeto Paschoal, no Tuca. Durante


umas três horas ouvíramos Hermeto e sua trupe a executar piruetas.

Termiinou o show. O público fica, em pé, naquela atitude de quero mais...

De repente, novamente se escuta os instrumentos. Agora de um outra


perspectiva que não é mais o palco. Todos estranham...

Para o divertimento e alegria de todos, Hermeto e sua banda adentram a


platéia, por uma porta lateral.

Passam pelo meio do público, viram à esquerda, e sobem, tocando, a escada


central da platéia. Todos dançam, riem, batem palmas, abrem passagem, e lá
vai a bandinha, com um flautista maravilhoso, à frente. Sobem até a primeira
fila. E as pessoas começam a se resignar, que agora acabou...

Lá da frente, Hermeto começa a acenar, chamando o público; os músicos


também acenam, enquanto continuam tocando... O público não acredita, mas
não se faz de rogado; começa a seguir atrás. A bandinha percorre os salões do
283
teatro. E o público atrás. E embica pela porta principal, em direção à rua.
Passa pelos jardins do Teatro, e entra na Monte Alegre, dançante, e aos pulos.
Todo riem incrédulos, e não acreditam. Mas seguem atrás. Pelas ruas já
desertas do bairro de Perdizes. Asfalto escuro, umedecido pela garoa. Mas o
povo esfuziante. Nos prédios, as pessoas já recolhidas, veem até as janelas,
para ver de que se trata. Surpresas, batem palmas, dançam, chamam as
outras...

E a bandinha vai, com seu cortejo, por mais de uma hora insólita de alegria, e
de simplesmente ser feliz. Volta, e encerra-se na frente do Teatro...

Esse Hermeto sabe das coisas...

E quem quiser presenciar a exuberância da conexão corpo-compreensão, na


ação, e sua inutilidade, e alegria: Carlinhos Brown, Terça, para a Quarta Feira
de cinzas, já de madrugada, no Circuito Barra-Ondina, e alhures, em
Salvador...

As coreografias, improvisadas, são sugeridas por dançarinos de axé, e o


público vai atrás. As mais edrúxulas, que atualizam as possibilidaes
musculares do corpo. No trio, Carlinhos Brown dirige, com maestria.

Prá refrescar, água mineral:

Bebeu água, não!


Tá com sede, tô!
Olha, olha, olha, olha a água mineral
Água mineral
Água mineral
Água mineral
Do Candeal
Você vai ficar legal

A tristeza não é metafísica, não está num coração metafísico. Mas no físico
coração, mesmo; nos músculos, no sangue, nas vísceras... E o coração, os
músculos, o sangue, as vísceras, precisam dizê-lo, precisam interpretá-lo,
numa hermenêutica de sintomas que nem sempre se expressam nos sinais...

A ação, o episódio existensial, é sempre muscular, ainda que se acompanhe,


sempre, ainda que, cognitivamente, seja, sempre, acompanhado da
compreensão. Desgraçadamente, desenvolveu-se na civilização ocidental, a
crença de que não é de bom tom expressar muscularmente a emoção da ação.

284
E toda uma série de dispositivos se desenvolve, para reprimir a muscularidade
da emoção. E as pessoas transformam-se em sarcófagos. Rígidas, e mortas,
por fora; e degenerativas por dentro, no que concerne à emoção.

Em sua ritimicidade, a expressão da emoção, é o fluxo de um contínuo.

E a ação, da qual a emoção é uma dimensão, intrinsecamente constitui-se de


compreensão e de musculação.

Reprimir a expressão da muscularide da açaão, indissociavelmente significa


reprimir a emoção, reprimir a ação, reprimir a existência. Recurso
abundantemente utilizado na política, ou dispolítica, repressiva da existência.

285
AÇÃO, O FENOMENOLÓGICO EXISTENSIAL -- A COMPREENSÃO
E A MUSCULAÇÃO -- É TRANSAÇÃO, INTENSIONAL,
TRANSTENSIONAL. GESTALTIFICATIVA.
Afonso Fonseca, psicólogo.

A existência, que é o fenomenológico, existensial, é a ação. O episódio


fenomenológico existensial da ação é a existência. A ação, a existência são
fenomenológicas.

A existência, a ação, é episódica.

Como fenomenológica existensial, a ação é a vivência do desdobramento, a


atualização, de possibilidades. Que são forças plásticas, formativas, criativas,
gestaltificativas, vivenciadas no modo ontológico de sermos. Que é o modo
pré-reflexivo, e pré-conceitual., especificamente fenomenológico existensial
de sermos.

Anterior ao modo ente, ôntico, de sermos, o episódio da ação, do modo


ontológico de sermos, é o pré-ente, o presente.

Como mobilização da vivência do desdobramento de forças, a ação -- o


episódio fenomenológico existensial -- é tensão, é tensional, é intensional.
É, na duração da pontualidade de sua vivência, da vivência da duração de seu
evento, intensional, pertensional, ou, mais especificamente, transtensional,
enquanto evento da duração do desdobramento das possibilidades,
desdobramento da ação.
É entendido como um jeto, um jato, no modo projeto, projato, ontológico, de
sermos.

É, assim, na sua duração -- na duração do episódio fenomenológico existensial


da ação -- intensiva, intensional, transtensional, transjetiva, pertensiva,
pertensional, perjetiva, transação.

De modo que -- intrínsecos constituintes fenomenológicos existenciais da


ação -- a compreensão e a musculação são intensivas, intensionais,
transtensionais, transjetivas, perjetivas, pertensivas, pertensionais --
transação.

O modo ôntico, acontecido, de sermos -- que sucede intrinsecamente a cada


episódio fenomenológico existensial da ação -- é o passado, a explicação,
extensivo, extensionalidade, reflexivo, e conceitual. O modo dejeto de sermos

286
em que se constituem os dejetos, sub-jeto, sujeito; e ob-jeto. Que já não mais
são vivência do desdobramento de força de possibilidade.
E em que o sujeito contempla o objeto. Se flete sobre o objeto. No modo
acontecido de sermos, modo coisa de sermos.
Flexão que, ocorrendo no modo repetitivo, acontecido, de sermos, só se
repete. Constituindo-se especificamente em re-flexão. O que constitui o modo
teorético de sermos, a teoria.

Diversamenente, no modo ontológico de sermos, a ação -- a compreensão e a


musculação -- acontecem como novidade, e atualidade sempre. Como poiese
-- atualização de possibilidades -- gestaltificativa. A dramática criativa da
ação.

287
PERTENSIONALIDADE, TRANSTENSIONALIDADE, TRANSJETIVIDADE

288
PERTENSIONALIDADE, TRANSTENSIONALIDADE,
TRANSJETIVIDADE
Afonso Fonseca, psicólogo.

A transjetividade é o modo de sermos do episódio fenomenológico existensial


da ação.
Anterior, portanto, à constituição de objetividade, e de subjetividade.

A dramática da ação, em que se constitui


a transjetividade, é tensional. Enquanto atualização de possibilidades.

Na duração do episódio fenomenológico existensial da ação, vigora a


transjetividade.
A transjetividade da ação caracteriza-se
como pertensionalidade, como transtensionalidade.
Na medida em que é o transcurso, o percurso, da tensionalidade, da dialógica
da intensionalidade. Que própriamente conduz a dramática da ação.

A intensionalidade da dramática ação constitui-se como compreensão, e


como musculação.
De modo que, à duração do episódio fenomenológico existencial e dialógico
da ação -- atualização; da pertensionalidade, da transtensionalidade da ação
--, corresponde à constituição episódica da compreensão e da musculação. A
pertensionalidade, a transtensionalidade, constitui-se como compreensão e
como musculação. Como ação. Como a fenomenologia da ação. A
fenomenologia existencial da dramática da ação. A fenomenologia existencial
da dramática da ação é pertensa, transtensa, transtensional, na duração da
intensionalidade. Transjetiva. Compreensão, e musculação.

289
O DESENCANTAMENTO E O ENCANTAMENTO DAS COISAS

290
O DESENCANTAMENTO E O ENCANTAMENTO DAS COISAS
Afonso Fonseca, psicólogo.

"A Martin Buber,


desde o tempo em que ele era uma coisa,
no livro sobre a banca de estudos na Biblioteca..."

O mais encantador com relação ao encantamento e descantamento das coisas,


é que, por mais que, com o seu dedo clean, e podre -- que apodrece o que toca
--, a cultura da modernidade tente extinguí-los, ela não o consegue.

As coisas, o mundo, a vida são encantados. Encantam-se e desencantam-se. E


isso é irreparavelmente ontológico.

As coisas, o mundo, a vida, são ontológicos e ônticos. Transitam do


ontológico ao ôntico, e do ôntico ao ontológico. E isto é... ontológico... Agora,
enfia o dedo no cú, e rasga... (como dizíamos, quando éramos crianças...
encantadas, encantadores...) (dirigido ao dedo podre da cultura moderna...)..

O encantamento das coisas é que elas podem ser coisas, objetos, reflexão,
conceitos. E podem ser possíveis, sentido, compreensão, poiese, regeneração...

A vivência do possível é pré-coisa, e por isso ele é presente. E neste presente,


ele tem a vida de sua atualidade. Que é ser ação, ser ator. E ser ator é ser
outro. Criação e superação.

A vivência das possibilidades, a ação, se instala em coisa.

E, assim, perde o seu encanto. E se desencanta.

Mas o desencantamento propicia um encantamento. Porque, na coisa instalada


encanta-se um tu provocativo.

E transitado o tempo da instalação da coisa, e aos olhos sensíveis, e ativos,, a


coisa se desencanta em TU.

E, enquanto tu, ela é presente, atualidade, ação. Possível, possibilidade em


desdobramento.A vivência da dramática formativa, gestaltificativa, da ação.

291
O SUJEITO E A AÇÃO

292
O SUJEITO E A AÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

O sujeito não é o agente da ação, como se costuma considerar.

O sujeito, não importa qual seja a sua importância, nada tem a ver com a
ação. Porque o sujeito, e o objeto se constituem fora do modo de sermos da
ação. A ação é ontológica, o sujeito, e objeto, são ônticos.

Ou seja, sujeito e objeto, se constituem no modo ôntico de sermos, transitado


o momento ontológico do episódio fenomenológico existencial.

Ob-jeto (afastamento do jeto), e sub-jeto, o objeto e o sujeito, não são jeto.


Na medida em que, quando eles surgem, já transitou o momento ontológico
de sermos da ação, do jeto, que é ação, enquanto desdobramento de forças.
Desdobramento de possibilidades.
Evidentemente, o sujeito não é o agente da ação. O agente da ação é o ator.

Diferentemente do sujeito, e do objeto, o ator é performance, é desdobramento


de possibilidades, é ação. É ontológico.

Quando transita o momento ontológico do episódio do modo fenomenológico


existencial de sermos da ação, ai, como coisas, dejetos, porque já sem forças,
sem possibilidades, se constituem sujeito e objeto. Dejetos estes, portanto, em
relação ao ator, que é jeto.-- é desdobramento de possibilidades, ação.

O sujeito e o objeto são reflexivos, e conceituais.

Em sua ontológica, o ator é pré-reflexivo, e pré-conceitual.

O sujeito flete-se sobre o objeto. Como isso acontece no modo coisa,


repetitivo, de sermos, o dobrar-se, a flexão, do sujeito sobre o objeto é,
reflexão, reflexivo.

Reificados, apartados de sua gênese, empobrecidos radicalmente pela perda e


corte das possibilidades, caricatura, e esquema, do ator, abstração, o sujeito e
o objeto são conceituais.

Em contraposição ao modo de sermos do ator, que é PRÉ-conceitual.

O sujeito contempla o objeto, como espectador, no que se chama de teorética.

293
O ator, se inclui na perspectiva da dialógica da ação.

E, enquanto o sujeito é espectador do objeto, o ator é inspectador.

Criativo, poiético, gestaltificativo, o ator é formativo, formático, performático,


performativo, da dramática formativa, criativa, da ação.

O sujeito é repetitivo, reflexivo.

294
O ACONTECER É UM EVENTO, UMA EVENTUALIDADE.
QUEM CONDUZ O EVENTO É O VENTO. DA FORÇA DO POSSÍVEL...

295
O ACONTECER É UM EVENTO, UMA EVENTUALIDADE.
QUEM CONDUZ O EVENTO É O VENTO. DA FORÇA DO
POSSÍVEL...

Afonso Fonseca, psicólogo.

A fenomenológica, fenomenática, fenomenética, da vivência


do acontecer, a ação, o desdobramento de possibilidades, que constitui o
episódio da vivência do modo fenomenológico existencial, modo ontológico,
de sermos, é poewred por um vento.
Metaforicamente, o possível; o vento, a eventualidade do possível, da
possibilidade, da poiética. Que é o modo de sermos da avaliação, da estética;
e, efetivamente, o modo de sermos da ética. Além de ser, em sua
transjetividade, o modo de sermos da dramática da ação.

Donde vem o possível?

Quem sabe, em sã consciência.


O descritível é que, quando somos ao modo ontológico de sermos, nós
vivenciamos forças. Cognominadas de possibilidades.

De que natureza são as possibilidades?

As possibilidades são forças, fenomenológicas, dialógicas, ontológicas.

Forças de quê?

Desdobradas, são as possibilidades forças da ação. São forças que se definem


pela criatividade. São forças criativas. E não força bruta, quantidade de força.

E a ação?

Desdobramento de possibilidades. Desdobramento de possibilidades que, em


sua dialógica, constitui-se em cognição, compreensão; e como musculação.

E essa história de vento, evento, eventualidade, e até vento ventania, para


designar a vivência fenomenológica, a ação?
(E eu diria mais, até, cavalgar o furacão...)

Isso é dos Gregos, os grandes Gregos antigos.

296
Os modernos são simples e bem humorados... Os outros, tão corruptos como
os Italianos corruptos...

Os Gregos antigos viviam sob o influxo da periodicidade de um elemento


fundamental, a moção anual do vento estesio...
Litorâneos e insulares, os Gregos navegadores tinham em grande conta o
vento estesio.
Porque era a periodicidade da moção do vento estesio que propiciava a
navegação, insuflando e impulsionando as velas dos navios, a fazerem-se ao
mar, com seu comércio e descobertas.

Os filósofos Gregos, litorâneos e insulares, pensaram as forças que


vivenciamos no modo ontológico de sermos, as possibilidades, como
impulsionadoras, analogamente ao impulsionamento do vento estesio. E
designaram o modo de sermos ontológico, de vivencia do impulsionamento do
aparecimento e desdobramento de possibilidades, da ação, como estesia,
estética.
A ação, pois -- o acontecer, o modo ontológico, fenomenológico existensial de
sermos --, é eminentemente estética. E, estesia, a estética é, eminentemente,
eventualidade, evento, acontecer fenomenológico existensial, da dramática da
ação.

E de duas formas se corporifica a fenomenológica da dramática da ação.


Cognitivamente, como compreensão; e, muscularmente, como musculação.
Como musculação é compreensivamente constituídado. E vice versa.

Em específico, o evento da ação é constituído pela vivência do desdobramento


de uma multiplicidade de possibilidades

A implicação é o processo através do qual a multiplicidade de possibilidades


vividas na ação -- forças lógicas, de sentido --, ontológicas, fenomenológicas,
dialógicas --, competem e argumentam entre si. Formando plexos (plics, em
grego) de possibilidades.
Por sua vez competentes e argumentativos. E que, no seu fluxo, constituem a
ação. Compreensão e musculação...

Findo o processo do episódio fenomenológico existensial da ação,


a implicação converte-se
em explicação. A intensão em extensão; a intensionalidade em extensionali
dade. A unicidade do ator, na dicotomia sujeito-objeto. A condição
de inspectador do ator, na condição de expectador, espectador, de objetos, do
sujeito. O ontológico, no ôntico. A insistensia na existensia. A dramática
fenomenológica da eventualidade -- do acontecer -- da ação, na condição da
instalação da coisa.
297
O impulsionamento do evento de emergência e desdobramento de
possibilidades é uma tensão.
Sua vivência intensão, intensionalidade.
A vivência da ação é, assim, intensional.
Poderia ser intencional. Daria no mesmo. Na vivência da tensão, em
específico. Da mobilização da ação.

Mas, evidentemente, esta intesão nada tem de consciência reflexiva, teórica,


subjetiva, deliberada. A intensionalidade no modo ontológico de sermos dá-se,
não no modo de sermos coisa, do ente, mas no modo pré-reflexivo e pré-
conceitual do presente. Não se dá, portanto, no modo espectativo de sermos
do sujeito, na dicotomia sujeito-objeto, mas no modo inspectativo de sermos
do ator. É intensoonalidade desproposital...

Vivência do modo ontológico de sermos, a vivência da intensionalidade do


evento da ação guarda, intrinsecamente, suas características:
É pré-reflexivo. Nem objetiva, nem subjetiva, mas transjetiva.
Pré-conceitual.
É desproposital.
Não causal.
Não pragmático, não útil.
Não realidade.
O modo de sermos do movimento, da moção.
Modo de sermos da emoção.
Modo de sermos da cognição, a compreensão.
Modo de sermos poiético, da criação.
Modo de sermos da superação.
Modo de sermos, do eterno retorno, da regeneração de uma superabundância
de forças de vida.

A implicação, o desdobramento de possibilidades, a ação, a intensionalidade


do acontecer do evento da ação, são dialógica.

Buber diria, Não criamos as possibilidades; mas sem nós mesmos as


possibilidade não acontecem.

A ação é dialógica, eu-tu, com a possibilidade.

Ocorre que, como diz Maffesoli, ser ator é ser outro...

De modo que o eu do eu-tu da dialógica da ação, não é o eu identitário do


sujeito, reflexivo e conceitual. Mas um eu que é outro.

298
Na medida em que, ação, desdobramento de possibilidades, intensionalidade,
o eu do eu-tu do evento fenomenológico existensial da dialógica da ação é,
ação, desdobramento de possibilidades. E guarda as característica do modo
ontológico de sermos.

È pré-reflexivo. Nem subjetivo nem objetivo, não teorético. Pré-conceitual.


Desproposital. Não causal. Não pragmático, não útil, E não real.

Intensionalidade dialógica, caminho do meio, iniciativa dialógica no fluxo da


ação, conduzir e conduzir-se pelo fluxo da ação. No impulsionamento do
vento da poiese. Do vento dialógico do desdobramento de possibilidades.

Como diria Leminsky:

E, lá vou eu

Gesto no movimento...

299
IMPLICAÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, COMPREENSÃO

300
IMPLICAÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, COMPREENSÃO
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

O termo e o conceito de implicação são extremamente importantes para a definição e


caracterização da perspectiva fenomenológica. Quando menos, porque o conceito de im-
plicação caracteriza o fenomenológico, em contraposição ao termo e ao conceito de ex-
plicação.
Simplesmente, a ex-plicação é o modo de sermos que não é a im-plicação. O modo de
sermos que não é a vivência de consciência fenomenológica, pré-reflexiva. Ou seja,
explicação é o modo teorético de sermos, e o modo comportamental de sermos. Que não
são implicação, não são implexação. E, fora do modo de sermos da implicação, são
portanto o modo de sermos da explicação
Uma característica fundamental da vivência fenomenológica, pré-reflexiva, do modo
ontológico de sermos, é a sua inesgotável multiplicidade. Multiplicidade que,
vivencialmente, apresenta-se artisticamente, de um modo significativo, como um processo
fluente de formação e de contínua sucessão de totalidades significativas, de gestalts,
enquanto um rico processo de formação de figura e fundo, um processo de gestaltificação.
De implicação.
Donde podemos entender que gestaltificação e implicação são exatamente sinônimos. Ou
referem-se à mesma vivência do processo de formação de figura e fundo, de totalidades
significativas, da vivência de consciência, fenomenológico existencial e dialógica.
Um aspecto fundamental da implicação, da gestaltificação, da compreensão, é o de que a
vivência fenomenológica na qual elas se constituem se dá como ato, como ação; ou seja,
se dá como vivência de de uma multiplicidade de possibilidades, o que quer dizer -- já que
as possibilidades, como forças, só existem em seus desdobramentos -- como vivência do
desdobramento de uma multiplicidade de possibilidades, em padrões de articulação das
multiplicidades em processos de formação de figuras e fundos, padrões de articulação de
gestalts. Que, nos seus desdobramentos, são o acontecer. Que dura até a gradativa
extinção da força da articulação de possibilidades. Quando então elas se coisificam.
Constituindo, enquanto coisificadas, as condição do sujeito e do objeto. De um sujeito que
contempla um objeto. Contemplação que caracteriza o teorético modo de sermos da
explicação. E a condição do ente, enquanto condição da coisidade, que é a condição da
possibilidade exaurida.
Não obstante, a duração da vivência do ato, a duração da vivência da ação, enquanto
desdobramentos de possibilidades, a duração da vivência do processo de formação de
figura e fundo, não é da ordem do acontecido, é acontecer, e não é da ordem da
coisidade. De modo que, em sendo dialógica eu-tu, não é da ordem da dicotomia sujeito-
objeto. A vivência daimplicação, a gestaltificação, é acontecer, e não é da ordem da
dicotomia sujeito-objeto, não é da ordem da objetividade, nem da subjetividade, mas da
ordem da dialógica eu-tu, da ordem da condição -- não do sujeito -- mas da condição da
ação, da condição do ator. Inspectador, e não espectador. Não teorético, mas
fenomenológico existencial e dialógico;compreensivo, implicativo, inspectativo, gestáltico.
Não é da condição do ente, mas, acontecer, da ordem do pré-ente, dopresente.
Um aspecto fundamentalda gestaltificação, da implicação, da compreensão, da
inspectação, da vivência fenomenológico existencial, pré-reflexiva, é que,
caracteristicamente, elas são sempre a vivência de uma multiplicidade de possibilidades.
Que, em sua contínua geração , se constitui como um processo de consciência
fenomenológica, pré-reflexiva. No qual a multiplicidade de possibilidades se articula, e se
dissolve, perenemente, num processo de figuração, num processo de formação de figura e
fundo, à medida em que se constituei como consciência pré-reflexiva.. Essas totalidades

301
significativas, que são as gestalts, são plexos, enquanto totalidades -- de multiplicidades --
organizadas. A raiz Grega para o termo, e conceito, de plexo é plic. Daí o termo e o
conceito de implicação, significando a vivência fenomenológica do processo de formação
de gestalts. De figuração, de formação de figura e fundo. A partir das articulações de
multiplicidades de possibilidades.
A compreensão tem em essência o mesmo sentido que implicação, e que gestaltificação.
Referindo-se, especificamente, ao processo organizado, enquanto totalidades organizadas
significativas, de consciência pré-reflexiva, de figuração, de formação de figura e fundo, de
formação de gestalts, a partir da vivência do desdobramento de um plexo, de uma
multiplicidade organizada, de possibilidades.
Pense em como um grampo, através de sua preensão, organiza e enfeita, embeleza,
inclusive, uma mecha de cabelos. Este é o efeito gestáltico, implicativo, preensivo, com-
preensão, com-preensivo, na organização sucessiva dos plexos, das multiplicidades de
possibilidades, no processo implicativo de formação de figura e fundo, de figuração, de
formação de gestalts, de gestaltificação.

302
COMPREENSÃO E PERCEPÇÃO. 1

303
COMPREENSÃO E PERCEPÇÃO. 1

A Apuração implicativa gestaltificativa


e a decepação purificativa putativa
Afonso Fonseca, psicólogo.

Como a raiz do termo conceito, a raiz de percepção tem o sentido forte de capturado,
prisioneiro de guerra, capado...
Se assim o são, o conceito e a percepção enquanto tais veem de um território alienígena,
e inimigo. Invasores contumazes de um exército de diabos...
Invasores, sem dúvida. Uma vez que, travestido de instalação coisificativa, o ontológico
em sua dramática constante e continuamente invade a esfera do acontecido. Mesmo à
custa de se coisificar, e de se desatualizar, em acontecido.
Seria um inimigo?
Viria de um território inimigo, e alienígena?
Teria que ser assim? (Dionísio, o estrangeiro do interior?).
É certo que o processo de sua constituição é eivado de incerteza. A percepção e a
conceituação...
Para uma postura que rigidamente encistou-se na (suposta) certeza da coisidade, e do
acontecido, o percepto, o concepto, não enganam, são inimigos que emergidos de terras
alienígenas e ignotas, profanas, a serem capturados e aprisionados. Captados,
capturados, decapitados, como a mão que captura um saco de cunhões, prestes a ser
decepado.
Digo: conceptuado, perceptuado. Apenas...
Mas, para que o escândalo? ...
O prisioneiro em breve estaria inevitavelmente instalado em seu ataúde de coisa.
Desprovido de sua dramática furibunda, de suas nuances e detalhes. Paralítico, rígido,
unificado... Mumificado...
Naturalmente oferecer-se-ia, entregar-se-ia assim, como cap-turado. Como prisioneiro,
como aprisionado. Ao findarem as suas forças...
Tratar-se-ia de se garantir, como morto, e investir contra a vida da possibilidade...
Inevitável e indestrutivelmente refugiada no recôndito da instalação da coisa.
Não vejo como poderia...
Do mesmo modo que não se pode evitar a instalação da dramática possibilidade na
coisidade da coisa, não podemos evitar a ressurgência, a insurgência, a re-volta, como
diria Maffesoli, da possibilidade, ao estalo da instalação da coisa.
Quando a prenhez da coisa pela possibilidade estiver a termo...
... E é tempo todo tempo... Mas não basta um século para fazer a pétala... Que um só
instante faz, ou não... Mas a vida muda...
Estará então prestes e a postos a estética, como parteira...

Compreensão e Percepção são processos experienciais radicalmente distintos.


E aqui, não nos enganemos com o sentido comunal do termo experiência.
Experiência é, naturalmente, um termo que serve tanto à epistemo-logia de um empirismo
fenomenológico, quanto à epistemologia de um empirismo objetivista. E pode, portanto,
referir-se tanto à ontológica fenomenológico existencial da presença e da atualidade da
compreensão, como à ôntica da instalativa da percepção.
Normalmente distingue-se que só a percepção, objetiva, é experi-ência.
Apesar de o sentido original do termo experiência designar fidedig-namente a ontológica
fenomenológica intrínseca à vivência pré-reflexiva. Eminentemente experimental.
De fato, a compreensão é efetivamente experiência no sentido de que é insperiência...
Na própria distinção diversa dos dois sentidos do termo experiência está dada a pista para
a radical distinção de sentidos entre Compreensão, e Percepção...
304
Este ensaio busca tematizar esta distinção.
Assim, antecipadamente digamos que a Compreensão, naturalmente, é ontológica. E a
Percepção é ôntica.
Mas não seria a compreensão um tipo de percepção?
Podemos dizer que o processamento da compreensão, como pro-cessamento cognitivo da
ação, culmina na percepção. Mas é crucial distinguir a momentaneidade e a temporalidade
própria à presença e atualidade da compreensão, com relação ao caráter ôntico,
coisificado, acontecido, da percepção.
Poderíamos identificar compreensão e percepção se o processo de constituição da
percepção não fosse uma decepagem, uma decepção. Um limite, uma limitação, e um
corte da multiplicidade característica da implicação da vivência de sentido que é a
compreensão.
A compreensão é uma apuração, uma apuria.
A percepção uma purificação, uma puria.
O processo gestaltificativo de constituição da compreensão – apuração, apuria -- reside
exatamente na preservação da integridade da multiplicidade da implicação. Na
preservação do processo apurativo da interação -- competição e argumentação -- entre os
elementos da multiplicidade de possibilidades da implicação. Que resulta na constituição
de seu processo formativo, na constituição da formação figurativa da vivência
fenomenológica, e na figurativa formação das coisas...
Isto, é, assim, uma decorrência da distinção entre o caráter ontológico da compreensão, e
o caráter ôntico da percepção.
A purificação conceitual da percepção, o conceito, decorre, em princípio, do próprio
processo do decaimento das possibilidades e de sua instalação coisificativa. No decorrer
paulatino do qual a multiplicidade de possibilidades da vivência pré-reflexiva, atualizadas,
tem desatualizadas, e instaladas coisificativamente, como coisa, a intensidade de suas
forças.
De uma rede infinita de possibilidades que constituem a implicação, resta os eixos de seu
esquemático esqueleto coisificado. A coisa, então, a ser percebida, o conceito.
O que Fink chamava de a casca vazia que outrora inervava a intui-ção...
A distinção entre compreensão e percepção não é, assim, uma distinção quantitativa. Mas
uma distinção eminentemente qualitativa, que envolve distintos modos de sermos.
Distintos modos de sermos, que se constituem como distintos modos de conhecermos.
A apuração pré-reflexiva específica da implicação, que especifica-mente se constitui como
compreensão. Característica do modo ontológico, fenomenológico existencial, de sermos,
do acontecer.
E a puria, purificação, putificação, putabilidade, característica do conceptual. Do perceptual
Intrinsecamente decorrente do decaimento da ação, da conceituação. O conceito --
reflexivo, objetivo, ou subjetivo, coisificado, e explicativo -- que se constitui como a
percepção. Característica do modo coisificado de sermos, explicativo, do acontecido.
A conceptualização, assim, decorre do desbaste da presença, e da atualidade, da
multiplicidade de possibilidades da vivência momentanea-mente instantânea da
implicação, da vivência fenomenológica da ação.
A compreensão é conhecer, epistemológica, conhecimento, intrínsecos à momentaneidade
instantânea e dramática da ação. Da implicação, em sua intrínseca multiplicidade
apuriativa, apurativa. O conhecer, a epistemologia ontológicos, pré-conceituais, pré
reflexivos, inspectativos, implicativos, gestaltificativos. O processo apuriativo de
constituição de sentido, especificamente como apuração da vivência das competições e
argumentações entre os elementos da multiplicidade de possibilidades, da multiplicidade
de forças criativas, da vivência ontológica. Fenomenológico existenciais e dialógicas,
compreensivas, implicativas, gestaltificativas.

305
A percepção -- explicativa, a não implicação --, o conhecimento acontecido, característico
da epistemológica ôntica – reflexiva, teorética, conceitual. Putativa. Produzida pela
putação, pela pu(t)rificação, pela decepação, pela castração, capação -- dos elementos da
multiplicidade das possibilidades ontológicas.
Possibilidades estas que apurativamente se afiguram, na momenta-neidade instantânea
da ação, como os sentidos da compreensão, como a própria epistemológica
fenomenológica da implicação ontológica da ação. Para serem a seguir desbastadas,
podada – com o decaimento da ação --, na constituição da instalação coisificativa
característica do modo acontecido de sermos.
Como concepto. Como percepto. Como percepção.
COMPREENSÃO PERCEPÇÃO
ONTOLÓGICA ÔNTICA
FENOMENOLÓGICA INSTALAÇÃO COISIFICATIVA
INSISTENSIAL EXISTENSIAL
INTENSIONAL DISTENSIONAL
DIALÓGICA EU-TU NÃO DIALÓGICA, EU-ISSO
COM-PREENSÃO SEM-PREENSÃO
IMPLICAÇÃO EXPLICAÇÃO
APURIA. APURAÇÃO. INIMPUTÁVEL. INCONTÁVEL. PUTATIVA. PURIA. PURAÇÃO.
IMPU-TÁVEL. CONTÁVEL.
AÇÃO. ATOR INSTALAÇÃO
INSPECTAÇÃO ESPECTAÇÃO
FAZER DIALÓGICO FATO. FEITO.
TEATRO. DRAMÁTICA. SUJEITO. OBJETO.
FATO. FEITO.
GESTALTIFICATIVA GESTALT
Como a raiz do termo conceito, a raiz de percepção tem o sentido forte de capturado,
prisioneiro de guerra, capado...
Se assim o são, o conceito e a percepção enquanto tais veem de um território alienígena,
e inimigo. Invasores contumazes de um exército de diabos...
Invasores, sem dúvida. Uma vez que, travestido de instalação coisificativa, o ontológico
em sua dramática constante e continuamente invade a esfera do acontecido. Mesmo à
custa de se coisificar, e de se desatualizar, em acontecido.
Seria um inimigo?
Viria de um território inimigo, e alienígena?
Teria que ser assim? (Dionísio, o estrangeiro do interior?).
É certo que o processo de sua constituição é eivado de incerteza. A percepção e a
conceituação...
Para uma postura que rigidamente encistou-se na (suposta) certeza da coisidade, e do
acontecido, o percepto, o concepto, não enganam, são inimigos que emergidos de terras
alienígenas e ignotas, profanas, a serem capturados e aprisionados. Captados,
capturados, decapitados, como a mão que captura um saco de cunhões, prestes a ser
decepado.
Digo: conceptuado, perceptuado. Apenas...
Mas, para que o escândalo? ...
O prisioneiro em breve estaria inevitavelmente instalado em seu ataúde de coisa.
Desprovido de sua dramática furibunda, de suas nuances e detalhes. Paralítico, rígido,
unificado... Mumificado...
Naturalmente oferecer-se-ia, entregar-se-ia assim, como cap-turado. Como prisioneiro,
como aprisionado. Ao findarem as suas forças...
Tratar-se-ia de se garantir, como morto, e investir contra a vida da possibilidade...
Inevitável e indestrutivelmente refugiada no recôndito da instalação da coisa.
Não vejo como poderia...

306
Do mesmo modo que não se pode evitar a instalação da dramática possibilidade na
coisidade da coisa, não podemos evitar a ressurgência, a insurgência, a re-volta, como
diria Maffesoli, da possibilidade, ao estalo da instalação da coisa.
Quando a prenhez da coisa pela possibilidade estiver a termo...
... E é tempo todo tempo... Mas não basta um século para fazer a pétala... Que um só
instante faz, ou não... Mas a vida muda...
Estará então prestes e a postos a estética, como parteira...

BIBLIOGRAFIA
BUBER, Martin Eu e Tu
GOULART, Ferreira Dentro da Noite Veloz.
HEIDEGGER, Martin Ser e Tempo.
HOUAISS, Antonio Dicionário Eletrônico Houaiss.
MAFFESOLI, Michel A Conquista do Presente.

307
PRETENSÃO, SUBJETIVAÇÃO, HISTERIA.
Formas malogradas das existensia

308
PRETENSÃO, SUBJETIVAÇÃO, HISTERIA.
Formas malogradas das existensia
Afonso Fonseca, psicólogo.

Ação, a existênsia é caracterizada pela tensão de seu vir a ser. Pelo seu caráter de ex-
pressão, como desdobramento e expressão de forças, as possibilidades. Pela tensão,
implicativa e compreensiva, da compreensão e da ação muscular. Pela sua ex-pressão
dos seres formados, gestaltificados, para a mundaneidade.
Por isso o tencia, tensia, de tensão, na sua designação.
Constituindo-as como da ordem da ex-pressãao,, da ex-pulsão, da ex-tensão, da ex-teriorização.
O sucesso da ação, do episódio fenomenológico existencial, da existensia, da ação, exige, mais do
que a sua expressão, que é ontológica, a sua exteriorização, fundada na força das possibilidades,
nesta pressão expressiva das possibilidades.
É fundamental a vivência de seu projeto gestaltificativvoo, e a sua pefeeição, o seu perfazimento, na
vagância de seu fazimento, perfazimento, fenomenológico.
Isto implica a sincronia da dialógica, eem que eu e possibilidade perfazemos a unidade
gestaltificativa da formação, da constituição dos objetos, dejetos, da aqção, na vivência de sua
transjetividade instantaneamente momentânea.
De btrês formas pode malograr a ação, o episódio fenomenológico da existensia:
a) Como prtenwão: 2quando a possibilidade é desdobrada antes da constituição de seu efetivo
desdobra,mento, numa tentativa de atualização precoce;
b) Como histeria. Quando o episódio da ação apenas simula a ação, na ausência da poiese de um
efetiva ddialógica. Como na tentativa de que ecloda um ovo na ausência de fecundação;
c) E no desconhecimento da vivência da transjjetividade. Confundido-se a viv^3encia deste modo de
sermos da ação, do episódio fenomenológico existencial, com a ssubjetividade, ou com a
objetividade.
O caráter ótimo da vivência da ação, do episódio , preessupõe a vivência da dialógica poiética da
ação, vivência efetiva da dialógica da poiese da implicação compreensiva de suas possibilidades, a
sincronia da a sinestesia das possibilidades.
Não adianta nem o antes nem o depois da transjetividade da momentaneidade da ação, na atualização
de suas possibilidades. E, principalmente, a atualidade e a presença destas possibilidades eem
ação,no transjetivo modo de sermos ontológico da ação, da existência.
Como se dá na pretensão, na histeria, e na subjetivação ou na objeetivação da ação.
Já que a ação não é uma questão, não se dá, no modo de sermos da objetividade ou da subjetividade.
Mas, no modo de sermos da transjetividade. Que se constitui como dramática ao longo do fluxo da
vivência do jeto implicativo, e compreensivo, do desdobramento, atualização e presença, das
possibilidades da ação, em seu desdobramento.

309
A AÇÃO NÃO É SÓ AÇÃO MUSCULAR.
COMPPREENSÃO TAMBÉM É LEGITIMAMENTE AÇÃO
NA MUSCULAÇÃO, A COMPREENSÃO TAMBÉM É MUSCULAR

Afonso Fonseca, psicólogo.

Restou como aspecto negativo de Freud uma idéia de que o psíquico é só o mental. O
corpo seria uma instância heterogênea, não raro alienígena. Fantasmática.
Reich trouxe o corpo para a psicologia e para a psicoterapia, de um modo enfático. Não
importa quais sejam os seus equívocos, é seu este mérito.
Podemos dizer que Fritz e Laura Perls são mais um degrau nesta trajetória ascendente em
direção à integração do corpo.
Com motivos, enfatizaríamos a Laura Perls neste sentido.
Trabalhando com expressão corporal, Laura tinha uma intuição profunda da integração da
consciência-corpo. E muitas vezes indicou para a Gestalt o caminho do corpo, pelo
caminho da arte. Uma via diferente do holismo científico de Kurt Goldstein.
Mas não podemos ignorar as fortes intuições de Fritz Perls em direção ao corpo. Primeiro,
mas sem ordem de precedência, por influência do próprio Reich. Influência pessoal e das
idéias. Nessa ordem da terapia, as influências das metodologias terapêuticas de Ida
Hoffmann. E, evidentemente, do próprio Goldstein.
Dentre estas influências, sobressai a influência da expressão corporal no teatro
expressionista, a experiência da expressão corporal do Expressionismo sobre Fritz Perls.
A própria importância do corpo para a expressão na expressividade expressionista.
Há um nexo não explicitado, em termos desta integração do corpo, que envolve a
Fenomenologia, os teóricos da Gestalt, teoria da Gestalt, Kurt Goldstein, W. Dilthey, Max
Wertheimer, Brentano, Expressionismo – porque não colocar a Max Reinhardt? –Fritz
Perls...
Não sei se um nexo não explicitado, não sei se um nexo que eu não atino. Não seis se um
nexo que eles não atinavam. Mas que intuíam.
O expressionismo vai muito longe em experimentar, e explorar, teatralmente esta
integração organísmica de compreensão e muscularidade.
De que Kurt Goldstein vai se aproximar, pela via de sua Neurologia Organísmica.
Certamente temos que trazer a Brentano, sua Fenomenologia. Principalmente em termos
de sua compreensão da ação, sua compreensão de que a ação não é comportamento. E
de que o sujeito não é o ator...
E Martin Buber e sua abordagem da dialógica...
Fato é que a vivência da ação é a dimensão de nossa ontologia em que participam
cognição e muscularidade. Porque, em específico, a ação é compreensão e
muscularidade.
Compreensão e musculação são vivência da atualização de possibilidades.
Têm, assim, todas as características da ação.
A compreensão e a musculação são, enquanto atualização de possibilidades, moção,
emoção, cognição, criação e superação. São estéticas e poiéticas. São pré-reflexivas e
pré-conceituais, não pragmáticas, não reais...
A ação é pré-reflexiva. Mas, não existe ação, efetivamente, sem cognição: ação como
cognição pré-reflexiva. Que é a compreensão.
E não existe ação sem a dimensão da muscularidade da ação. Sem a musculação.
Compreensão e musculação, pre-reflexivas, a ação é apresentação.
E não representação (re-apresentação).
De modo que, na fenomenologia da ação, na ontologia da ação, no episodio
fenomenológico existencial da ação, cognição e muscularidade, compreensão e
musculação são intrínsecas dimensões, que se dão necessariamente.

310
A compreensão -- própria e especificamente no âmbito da implicação – é própria à ação.
Dá-se no modo de - sermos do pathos da sensibilidade emocionada. A compreensão
impregna-se da emoção. E, sobretudo, é diversa da percepção.
Que é conceitual. E reveste-se das características do modo coisa de sermos. Apartando-
se do ontológico modo de sermos do fazer.
Como um resíduo freudiano, ainda que nas abordagens fenomenológico existenciais,
mesmo quando fenomenológicamente inspiradas, efetivamente, resta o resíduo de que as
resoluções seriam mentais. Que se dariam ao nível psicológico da compreensão, em seu
aspecto cognitivo.
Compreendeu, em particular, compreendeu o que eu quero, tá bom...
Não. As resoluções dão-se ao nível da ação.
E a ontológica fenomenológica da ação é inspectativa, cognitiva e muscular.
Compreensiva e musculativa. Na sinestesiologia da fenomeno ontológica da ação.
A compreensão não é subjetiva. E não se dá isoladamente, mas improvisativamente
acompanha pari passum todos os momentos do desdobramento do episódio
fenomenológico existencial da ação.
Mas é necessário entender, substancialmente, o caráter pre-reflexivo e pre-conceitual da
ação. O caráter pre-reflexivo e pré-conceitual específico da compreensão e da
musculação, como dimensões da ação.
Mais simples, talvez, o caráter de prereflexividade da ação significa que ela se dá no modo
de sermos do fazer, do acontecer. E não do fato.
Que é o modo de sermos do ator, e não o modo de sermos do sujeito. E do objeto.
Em seu caráter pré-conceitual, a vivência da ação se constitui a partir de uma vivência de
multiplicidade de possibilidades. Multiplicidade esta que, na vivência do episódio da ação,
se organiza, pela implicação, pela gestaltificação, em linhas de ação.
No seu desdobramento, a ação, o fazer, transita do modo ontológico para o modo ôntico
de sermos; do fazermos para o fato, o feito. Da ação para o teorético. Com a tendência à
redução de sua multiplicidade à unidade do conceito.
E isto significa a passagem, no episódio existencial, do modo pré-conceitual ao modo
conceitual de sermos. A par da transição do modo pré-reflexivo ao modo reflexivo de
sermos...
Na duração do episódio fenomenológico existencial da ação, todavia, a compreensão e a
musculação dão-se de modo pre-reflexivo e pré-conceitual.
Compreensão e musculação pré-reflexivas e pré-conceituais.
Compreensão que, além de cognitiva, é, também, muscular.
A musculação, além de especificamente muscular, é propriamente cognitiva.
Compreensiva.
A musculação é compreensiva, a compreensão é musculativa.
Compreensão e musculação são dimensões da ação.
A ação, a fenomenologia ontológica da ação, é compreensiva e musculativa.

311
CONCEITUAÇÃO.
O TEMPO, O CONCEITO, E O PRECONCEITO.
O conceito e o Tempo.

312
CONCEITUAÇÃO.
O TEMPO, O CONCEITO, E O PRECONCEITO.
O conceito e o Tempo.
Afonso H L da Fonseca, psicólogo.

INTRODUÇÃO 1
CONCLUSÃO 2
TEMPORALIDADE E CONCEITUAÇÃO. E O TEMPO CRÔNICO DO CONCEITO 3
DECAPITAÇÃO, DECEPAÇÃO, CONCEITUAL. E CONCEITO. 4
DESTEMPÊRO. O TEMPO DA MISTURA, E A EXPLICATIVA COMPORTAMENTAL DO
PRECONCEITO. PRECARIZAÇÃO DA ONTOLÓGICA INSISTENCIAL, DA
EPISTEMOLÓGICA COMPREENSIVA DA IMPLICAÇÃO. ... E DA EXPLICATIVA. 6
INTRODUÇÃO 8
CONCLUSÃO 8
INTRODUÇÃO
É interessante considerar que, em específico, o conceito é coisa, acon-tecido. Um tipo de
excrescência, excretude, concrescência, concretude, expli-cativa, da duração da
momentaneidade instantânea de episódio da implicação. Explicação.
A conceituação, ao contrário, que o precede, é vivência fenomenológico insistensial de
ação.
Fenomenodialógica, pré-coisa, atualidade e presença. É acontecer. A conceituação é
ontológica, ação, implicação. Fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva,
implicativa, gestaltificativa.
O conceito é ôntico, ente, objeto, explicação. Que não é presença nem atualidade.
E é interessante considerar as próprias e específicas condições e carac-terísticas que
disto derivam.
CONCLUSÃO
O conceito, em suas características de acontecido, própria e especifica-mente deriva da
conceituação.
A conceituação é vivência do acontecer fenomenodialógico da ação.
A ontológica e a epistemológica do conceito demandam uma dedicação própria às
características interpretativas, hermenêuticas -- no sentido fenome-nológico compreensivo
--, da ontológica fenomenológica da conceituação, da ontológica da ação. Nietzsche diria,
a temporalidade da Filologia . O que permite a boa qualidade, não só da vivência
ontológica ativa, fenomenológico insistensial, epistemológica, epistemogênica,
epistemocoativa, assim hermenêutica -- o próprio processo da hermenêutica,
compreensiva e implicativa, formativa, da unidade, da clareza, da objetividade do conceito.
Como toda vivência ontológica, fenomenológica, como vivência do des-dobramento de
possibilidades, ação, a vivência da conceituação é um pulsar, que se desdobra em
começo, meio e fim. Concluindo-se num anticlímax. Em que as forças múltiplas, e
compreensivas, da implicação da ação apuram-se dramática e compreensivamente -- na
formação do que vão ser as grandes linhas da abstração conceitual. Constituída a
abstração conceitual, a seguir definham e fenecem. Restando, enquanto experiência da
abstração conceitual, apenas os grandes eixos da formação apuriativa da conceituação. A
unidade, a clareza ônticas do conceito.
Isto significa que a apuração conceitual implicativa, a apuração formati-va, e hermenêutica,
do conceito é, enquanto vivência ontológica, a vivência dialógica de uma temporalidade
própria e específica, a temporalidade da mo-mentaneidade instantânea da ação, em suas
características e condições parti-culares.

313
Que envolvem o momento da emergência de uma multiplicidade de for-ças, na implicação,
a apuração delas, num processamento ontológico de com-petições e argumentações, e a
constituição dos eixos predominantes da abs-tração conceitual.
Coisificando-se e fenecendo as demais forças, em seus vários níveis, da implicação
conceituativa, em seguida à constituição dos eixos principais desta abstração conceitual.
Em suas características ontológicas -- fenomenológico insistensiais e di-alógicas,
compreensivas, implicativas, gestaltificativa --, a vivência da tempora-lidade da ação, da
implicação, da conceituação, é: pré-reflexiva, é não causal, desproposital, é inútil, não
pragmática, e irreal.
Diversa e heterogênea com relação às características do modo aconte-cido de sermos.
Modo acontecido de sermos do conceito, da abstração concei-tual.
Que é ôntico, explicativo (não implicativo), reflexivo, causal, útil, pragmá-tico, e real...
A vivência própria da ontológica da temporalidade da conceituação de-manda uma
dedicação a suas características próprias, em particular a esta sua temporalização. Que
envolve o surgimento e o desdobramento da multiplicida-de de forças da implicação, a sua
apuração, enquanto ação compreensiva; e a constituição do conceito, explicativo. Com a
decapitação, pelo decaimento, da maior parte das forças que apuraram para a constituição
dos eixos principais da abstração conceitual. Do conceito.
Este processo fenomenológico hermenêutico, em suas características próprias, constitui
um todo, com começo, meio, e fim... Levando, da vivência do ontológico, à experiência
ôntica; da vivência da compreensão, e da implicação, à experiência da explicação; da
atualidade da presença do acontecer, à coisi-dade do acontecido. Da conceituação, ao
conceito.
A duração da instantaneidade momentânea do modo ontológico de ser-mos pode ser
invadida e interrompida disruptivamente pelas características do modo acontecido de
sermos. Na forma do comportamento proposital e delibe-rado. Invasão esta que precipita o
processo da vivência ontológica, precipitan-do disruptivamente o processo da
conceituação.
Resultando num conceito pobre, aquém de suas possibilidades. Ou no puro e simples
preconceito.
Na conceituação, a epistemologia ontológica compreensiva e implicativa, fenomenológico
insistensial e dialógica; e, efetivamente, a própria epistemologia explicativa dependem de
um respeito à, e uma dedicação à, um usufruto, da duração da momentaneidade
instantânea da temporalidade da vivência ontológica. Fenomenológico insistensial e
dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa.
Sob o risco do empobrecimento substancial do conceito. Ou de operar na mera produção,
e operação, do preconceito.
Operado, equívoca ou oportunisticamente, pela precipitação explicativa da implicação.
TEMPORALIDADE E CONCEITUAÇÃO. E O TEMPO CRÔNICO DO CONCEITO
Fundamentalmente, medeia uma questão de tempo entre a vivência da conceituação, e o
conceito,
Própria e especificamente, a questão da duração da vivência da tempo-ralidade ontológica
da ação. Implicação.
Já que, ontológica, a conceituação, especificamente, é a vivência da ação. A vivência
ontológica de sua temporalidade, como ação, implicação. Fe-nomenológica insistensial, e
dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificati-va.
E, ainda enquanto tal, a culminância da momentaneidade instantânea do episódio de seu
pulsar, sua necessária culminância, portanto – a culminância da conceituação -, no modo
acontecido de sermos. Própria e especificamente, explicativo. A sua culminância no
decurso inerte do tempo cronificada do conceito; na sua própria instalação, enquanto
coisa. A coisa conceito.
Que assim prevalece, até o momento estético da estalação de sua insta-lação, pela
poiética de seu eterno retorno ao possível. Uma vez mais, o retorno da vivência da ação.

314
Ontológica, a vivência da conceituação é, propriamente, a vivência da duração da
temporalidade fenomenodialógica da ação, da implicação. O que quer dizer, a vivência
propriamente da temporalidade própria do desdobramen-to do possível, do desdobramento
de forças plásticas, criativas, as possibilida-des, enquanto a instantaneidade momentânea
da ação. A vivência da herme-nêutica, a hermenêutica da vivência da ação.
Fenomenológico insistencial e dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa. Ou
seja, especificamente pré-reflexiva, não causal, desproposital, inútil, irreal. Ainda que
moção, comoção insistensial, emoção, cognição fenomenológica, fenomenativa; criação,
superação, e regeneração –, não obstante.
Coisa, instalação da coisa, a experiência do conceito é a experiência do acontecido.
Efetivamente, enquanto tal, o conceito é atemporal, atemporativo, a atemporalidade.
No sentido de que o seu tempo é o tempo inerte, a inércia, da coisa. O tempo crônico, o
tempo cronificado do acontecido, do passado...
Distinção de tempo e atemporalidade, medeia entre a possibilidade da conceituação e a
realidade do conceito a hermenêutica temporalidade feno-menativa da ação, da
implicação. Até a culminância e anti clímax da culminân-cia de sua duração, no modo de
sermos, em específico, que não é implicação: no modo de sermos da explicação.
Assim sendo, a unidade, a clareza e a distinção apolíneas do conceito; a unidade, a
clareza e a distinção apolíneas do conceitual, só resultam efetivas enquanto tais, depois
que, chegando à explicação, fenecem as potências múltiplas da temporalidade da
implicação. No transcurso fenomenológico da ação, da implicação. Da conceituação.
Apuração hermenêutica, própria e inerente à duração da vivência da temporalidade
múltipla e potente das forças ativas, criativas, formativas, da im-plicação.
Que, fatalmente, direcionam-se, decadentemente, na momentaneidade instantânea da
ação, de seu pulsar, em direção ao fato, ao acontecido. À factu-alidade, do conceito. Em
toda a sua unidade, clareza, e distinção apolíneas. Conceituais.
Ao se exaurirem, assim, as forças múltiplas da ação, da implicação, na vivência da
conceituação, elas se coisificam, no conceito.
DECAPITAÇÃO, DECEPAÇÃO, CONCEITUAL. E CONCEITO.
Desculpe esta primeira metáfora, mas é análogo a uma lepra seca. Na qual os dedos, os
membros, vão se desvitalizando, fenecendo, morrendo; até caírem...
Ou como o belo e colorido molde em plástico da árvore vascular de um órgão.
Depois do órgão morto, e retirado todo o tecido orgânico vital.
Analogamente, assim é a constituição do conceito, como resultante do decaimento das
múltiplas forças da implicação, na vivência da duração do epi-sódio de seu pulsar, na
duração do epsódio da ação... Na vivência da duração da temporalidade conceituação. E
de constituição da coisa, o conceito coisa, a coisa conceito, em sua instalação.
Maravilhoso objeto de estudo, o molde em plástico... Para a Anatomia Patológica...
E quão diverso da maravilha do órgão vivo, e funcional. Com a atividade de todos os seus
vasos vivos, até à micro capilaridade dos espaços do tecido intersticiais.
Analogamente, só que muito mais ricas e ativas, assim é a multiplicida-de, e a
multiplicação, de forças criativas da vivência da duração da momenta-neidade instantânea
da ação, da implicação, da conceituação. Com seus ele-mentos múltiplos
multitudinariamente interagindo, apurativamente, na constituição da dramática
fenomenodialógica da ação, da implicação.
Como o ciclo diário do sol, no seu momento de intensidade máxima, o pulso da reiteração
do episódio da momentaneidade instantânea da ação é sucedido por um declínio. E, ao
declinarem, decaem, e fenecem, as forças que, como implicação, constituíram-se como a
ação – compreensiva, e musculativa. Na conceituação, em particular.
Resta o que, analogamente, seria o molde de plástico da árvore vascu-lar. Com seus
vasos e sua rede vascular plastificados, acontecidos, mortos. Prestes a preciptarem-se
numa inexorável decapitação e decepação.
Até que, decapitados, só restem, tétricos, devidamente enrijecidos, unifi-cados e claros,
conspícuos, os seus eixos principais.
315
Na analogia, os eixos principais restantes são os conceitos. Em sua uni-dade e clareza
individual – desabilitados e desprovidos da multiplicidade da implicação. Efetivamente
mortos, acontecidos, tétricos em sua rigidez.
Mas este é, apenas, o momento da instalação conceitual, da instalação da coisa, da
instalação desta coisa que é o conceito.
Instalação que permanece -- não como duração, mas como inércia --, até o momento em
que a estética estala a instalação da possibilidade na coisa conceito, no conceito coisa. E
este retorne, por seu turno, à abertura da mo-mentaneidade instantânea da vivencia do
desdobramento da possibilidade. De modo que, mais uma vez possível, ele retorne
revoltosamente à ação, conceituação. À Implicação.
Inexorável, a conceituação, como toda ação, direciona-se e conclui-se, em seu
decaimento, na precipitação, a ciptação, da decapitação, conceitual.
A toda conceituação -- ontológica, fenomenológica existencial e dialógi-ca, compreensiva,
implicativa, gestaltificativa -- segue-se a constituição ôntica do conceito – acontecido,
desistencial, não dialógico, em sua inércia e cronici-dade dura de coisa, explicativo... Para
isto, um decaimento e fenecimento da multiplicidade de suas forças implicativas, e a
decapitação, a decepção, do que não forem os seus eixos principais. Acontecidos,
coisificados.
Não há, então, porque temer. Como prometido, a conceituação, inexorá-vel e irreversível,
no conceito resulta.
Não obstante, cumpre considerar que, como ação, ontológica, em es-pecfico, a
conceituação, implicação, é a vivência fenomenológica, dedicada e hermenêutica, de uma
temporalidade própria. Ontológica, e epistemologica-mente, cumpre a consideração, e a
dedicação, à temporalidade própria à onto-lógica da conceituação.
Pré-reflexiva, não causal, desproposital, inútil, irreal...
Mas moção insistencial, ação, emoção, cognição, criação, superação, motivação,
regeneração...
Na sua culminância de desdobramento da instantaneidade momentânea da duração desta
temporalidade, dá-se a decapitação natural da multiplicidade de forças ativas... No seu
anticlímax, a conceituação entrega-se ao conceito... Ao conceito, bem fornido, e bem
constituído...
Natural...
DESTEMPÊRO. O TEMPO DA MISTURA, E A EXPLICATIVA COM-PORTAMENTAL DO
PRECONCEITO.
PRECARIZAÇÃO DA ONTOLÓGICA INSISTENCIAL, DA EPISTEMOLÓGICA
COMPREENSIVA DA IMPLICAÇÃO. ... E DA EPISTEMOLÓGICA
EXPLICATIVA.
Má epistemologia, entretanto, precária epistemologia, é não se dar à de-dicação própria, à
vivência da duração da temporalidade ontológico da ação, implicação. Da conceituação.
Desqualificando-se este tempo. Pela imposição, e impostura, do preconceito. Ou
desqualificando-se a vivência da duração des-ta temporalidade da conceituação, pela
precipitação...
A cipitação é a culminância natural da vivência da duração da conceituação, que resulta no
conceito. Ontológica, como ação, implicação, a conceituação -- a decepação dos
elementos da árvore multitudinária de forças da vivencia da implicação, depois que elas
decaem, e fenecem, na sua atualização -- é a sua natural, e desproposital, culminância.
Processo no qual desvelam o conceito, como acontecido, em sua unidade, clareza e
pureza apolíneas.
A precipitação pode invadir, como cipitação prematura -- deliberada, re-flexiva, causativa,
utilitária, realista --, o modo desproposital de sermos da ação, da implicação, da
conceituação. E determinar um prematuro corte, precipitado, precipitante, da multiplicidade
de forças da implicação – processo este que naturalmente se daria, em sua efetividade
ontológica, na culminância da vivência da natural duração pré-reflexiva da conceituação.
316
Preciptado, precipita desta forma, o conceito, por uma prematura decapitação,
precipitação, da implicação. Da ação. Da ação da conceituação...
Precipitado, prematuro, o corte da implicação determina uma pré-conceituação.
A constituição de um conceito pobre, aquém de suas possibilidades.
Ou a mera intromissão de um preconceito. Um conceito predeterminado, precário e
fraudulento. Resultante do prejuízo, da prejudicação, da vivência própria da ontológica e
da epistemológica da ação, da implicação. Da conceitu-ação. E da intromissão fraudulenta
de um conceito prévio.
Assim, o conceito pobre ou deliberadamente empobrecido, e a intromis-são são as
consequências da precipitação da momentaneidade instantânea da implicação, na
conceituação.
Como ocorre com o termo precipitação, são dois os sentidos do termo preconceito.
Precipitado é todo o vigor da vivência pré-reflexiva, anterior ao decai-mento, e ao
fenecimento, das forças ativas, criativas, da ação, da implicação. No caso, da
conceituação. A cipitação dá-se naturalmente, a seguir, a decapi-tação, dos membros do
esqueleto das forças decaídas e desnaturadas, feneci-das, da implicação. Toda a vivência
anterior a cipitação é pré-ciptação. Plena-mente vigorosa, e não pré-matura.
Não obstante, preciptado é o corte prematuro destas mesmas forças, ainda ativas. E que
naturalmente resulta não no conceito, em sua instalação de coisa. Mas na coisa
preconcebida que é o preconceito.
Este preconceito, preconceitual, é anterior à natural constituição, com-preensiva, e
implicativa, do conceito. É o preconceito.
Mas todo o vigor da vivência implicativa intensional da duração da tem-poralidade da ação,
da implicação, da paulatina apuração do sentido -- promo-vida pela interação das forças
múltiplas da implicação, anteriormente à natural decapitação, que sucede ao seu
decaimento e fenecimento --, é prévia, e pre-para, na conceituação, o conceito. É pré-
conceitual, e assim prepara. o concei-to. Preconceitual no sentido de que é anterior e
prepara o conceito. Toda a vi-vência da ação, da implicação, na instantaneidade
momentânea de sua dura-ção, especificamente é preconceitual. Naturalmente resulta no
conceito. Mas não em sua precipitação...
Toda a vivência da conceituação é especificamente, assim, pré concei-tual. Na medida em
que é o processo anterior à constituição do conceito, e o prepara, e o gera, e determina.
Mas o termo pré-conceito também remete ao conceito pré-maturo, ima-turo, o preconceito.
Determinado pela inconclusa vivência da conceituação, e sua precipitação conceitual, a
precipitação de sua cipitação. Resultando na tosca elaboração, e empobrecimento do
conceito, em sua constituição, em sua conceituação. E dando espaço -- não para a ativa,
implicativa, constituição fe-nomenológica do conceito --, mas para a específica imposição
do preconceito. Quer seja pela pobreza conceitual resultante. Quer seja pela imposição
fraudu-lenta de um conceito prévio. Com o intuito de interromper a efetiva conceitua-ção.
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
É interessante considerar que, em específico, o conceito é coisa, acon-tecido. Um tipo de
excrescência, excretude, concrescência, concretude, expli-cativa, da duração da
momentaneidade instantânea de episódio da implicação. Explicação.
A conceituação, ao contrário, que o precede, é vivência fenomenológico insistensial de
ação.
Fenomenodialógica, pré-coisa, atualidade e presença. É acontecer. A conceituação é
ontológica, ação, implicação. Fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva,
implicativa, gestaltificativa.
O conceito é ôntico, ente, objeto, explicação. Que não é presença nem atualidade.
E é interessante considerar as próprias e específicas condições e carac-terísticas que
disto derivam.
CONCLUSÃO

317
O conceito, em suas características de acontecido, própria e especifica-mente deriva da
conceituação.
A conceituação é vivência do acontecer fenomenodialógico da ação.
A ontológica e a epistemológica do conceito demandam uma dedicação própria às
características interpretativas, hermenêuticas -- no sentido fenome-nológico compreensivo
--, da ontológica fenomenológica da conceituação, da ontológica da ação. Nietzsche diria,
a temporalidade da Filologia . O que permite a boa qualidade, não só da vivência
ontológica ativa, fenomenológico insistensial, epistemológica, epistemogênica,
epistemocoativa, assim hermenêutica -- o próprio processo da hermenêutica,
compreensiva e implicativa, formativa, da unidade, da clareza, da objetividade do conceito.
Como toda vivência ontológica, fenomenológica, como vivência do des-dobramento de
possibilidades, ação, a vivência da conceituação é um pulsar, que se desdobra em
começo, meio e fim. Concluindo-se num anticlímax. Em que as forças múltiplas, e
compreensivas, da implicação da ação apuram-se dramática e compreensivamente -- na
formação do que vão ser as grandes linhas da abstração conceitual. Constituída a
abstração conceitual, a seguir definham e fenecem. Restando, enquanto experiência da
abstração conceitual, apenas os grandes eixos da formação apuriativa da conceituação. A
unidade, a clareza ônticas do conceito.
Isto significa que a apuração conceitual implicativa, a apuração formati-va, e hermenêutica,
do conceito é, enquanto vivência ontológica, a vivência dialógica de uma temporalidade
própria e específica, a temporalidade da mo-mentaneidade instantânea da ação, em suas
características e condições parti-culares.
Que envolvem o momento da emergência de uma multiplicidade de for-ças, na implicação,
a apuração delas, num processamento ontológico de com-petições e argumentações, e a
constituição dos eixos predominantes da abs-tração conceitual.
Coisificando-se e fenecendo as demais forças, em seus vários níveis, da implicação
conceituativa, em seguida à constituição dos eixos principais desta abstração conceitual.
Em suas características ontológicas -- fenomenológico insistensiais e di-alógicas,
compreensivas, implicativas, gestaltificativa --, a vivência da tempora-lidade da ação, da
implicação, da conceituação, é: pré-reflexiva, é não causal, desproposital, é inútil, não
pragmática, e irreal.
Diversa e heterogênea com relação às características do modo aconte-cido de sermos.
Modo acontecido de sermos do conceito, da abstração concei-tual.
Que é ôntico, explicativo (não implicativo), reflexivo, causal, útil, pragmá-tico, e real...
A vivência própria da ontológica da temporalidade da conceituação de-manda uma
dedicação a suas características próprias, em particular a esta sua temporalização. Que
envolve o surgimento e o desdobramento da multiplicida-de de forças da implicação, a sua
apuração, enquanto ação compreensiva; e a constituição do conceito, explicativo. Com a
decapitação, pelo decaimento, da maior parte das forças que apuraram para a constituição
dos eixos principais da abstração conceitual. Do conceito.
Este processo fenomenológico hermenêutico, em suas características próprias, constitui
um todo, com começo, meio, e fim... Levando, da vivência do ontológico, à experiência
ôntica; da vivência da compreensão, e da implicação, à experiência da explicação; da
atualidade da presença do acontecer, à coisi-dade do acontecido. Da conceituação, ao
conceito.
A duração da instantaneidade momentânea do modo ontológico de ser-mos pode ser
invadida e interrompida disruptivamente pelas características do modo acontecido de
sermos. Na forma do comportamento proposital e delibe-rado. Invasão esta que precipita o
processo da vivência ontológica, precipitan-do disruptivamente o processo da
conceituação.
Resultando num conceito pobre, aquém de suas possibilidades. Ou no puro e simples
preconceito.
Na conceituação, a epistemologia ontológica compreensiva e implicativa, fenomenológico
insistensial e dialógica; e, efetivamente, a própria epistemologia explicativa dependem de
um respeito à, e uma dedicação à, um usufruto, da duração da momentaneidade

318
instantânea da temporalidade da vivência ontológica. Fenomenológico insistensial e
dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa.
Sob o risco do empobrecimento substancial do conceito. Ou de operar na mera produção,
e operação, do preconceito.
Operado, equívoca ou oportunisticamente, pela precipitação explicativa da implicação.

BIBLIOGRAFIA
ALBETAZZI, Lilian The School of Franz Brentano.
BUBER, Martin Eu e Tu.
HEIDEGGER, Martin Ser e Tempo.
PIMENTA, Silvia Crítica do Conceito de Consciência na Filosofia de Nietzsche. Relume-
Dumará.

319
TOLERÂNCIA

320
TOLERÂNCIA
Afonso Fonseca, psicólogo.

Quando participamos do Grupo Vivencial de Arcozelo,1977 -- um grupo residencial


intensivo, de quinze dias de duração, Rio de Janeiro --, muitos eram os impactos, dos
resultados, e dos princípios teóricos novos...
Não era para menos... Se não eram grandes quantitativamente, representavam novidades
qualitativas apreciáveis. E víamos e participávamos de uma revolução teórica e
metodológica na Psicologia.
Não menos, que tinha havido toda uma fermentação da Psicologia Fenomenológico
Existencial, na Europa, e esta irrompera nos Estados Unidos, devidamente incorporada
pelo grupo do Rogers, em La Jolla, no EUA, depois de longa história.
Em que consistia a revolução? Numa mudança de paradigmas, destas apontadas por
Khun. No caso de Rogers e colegas, em Psicologia, o paradigma explicativo estalava em
suas bases, e começava a desabar, na prática, em sua hegemonia.
A uma Psicologia explicativa, Rogers, definitivamente, desbordava experimentalmente
para uma Psicologia e uma Ciência implicativa e compreensiva., Com as radicais
alterações que isto implicava.
Não mais significava 'explicar', mas 'compreender'. E isso implicava, talvez, uma forma
nova de conhecer. Que tinha coma 'conditio sine qua non' a afirmação, e a compreensão
da alteridade do outro, a efetiva interação com o outro, a relação. A valorização da
dialógica.
Era esta a essência da mudança paradigmática. E podíamos vê-la na metodologia do
trabalho com grupos. E nos seus resultados poiéticos, por toda parte.
Rogers há que ser reconhecido como pioneiro de uma metodologia, de um ontologia e de
uma epistemologia, compreensivas, e implicativas. Não só em Psicologia e Psicoterapia;
genialmente, nos trabalhos com grupos.
Mas em Ciência compreensiva e implicativa, efetivamente. Em Ciências Humanas.
Naturalmente este paradigma em Psicologia tinha uma longa maturação, que passava por
Abraham Maslow, Rollo May e Erich Frommm. Que passava por Medrard Boss e Ludwig
Binswanger, por Nietzsche, por Dilthey. Brentano. E tantos outros geniais, que militaram
pioneiramente, na Psicologia Fenomenológica Existencial.
Naturalmente que uma séria de outros princípios e procedimentos apoiavam e ancoravam
esta ética e este paradigma.
Dentre estes, uma tolerância especial e espetacular. Nada mais eram do que o clássico
"vivo e deixo viver"...
Uma tolerância quase pragmática, se não fosse, de princípio, ética.
Não se tratava de aprovação, como se diz normalmente. E, se fosse de aceitação, tratava-
se de uma aceitação consistente, do direito do outro à alteridade. Uma premissa ética da
dilógica. Se me incomodasse, vamos acreditar na dialógica e no encontro, sempre
ornamentado com iniciativa, e a boa vontade de um sorriso.
Lembro como John chegou perto de mim, num grupo em San Diego. Meio desambientado,
eu estava lendo um painel na parede. Era um mero concluinte de Psicologia, e ele, um
PhD. Chegou perto, como um companheiro de basket, com um bola na mão. Puxou
assunto sobre um dos anúncios na parede. Breves instantes, de todo significado. Você se
sentia gente, participante, incluído...
Uma tolerância acompanhada sempre de um fino bom humor... Que sempre era o início de
um papo...
Um senso de humor refinado, sempre pronto...
Conversávamos, de outra vez, junto com Maureen, ao lado da piscina,de um Centro de
Previdência do México, onde realizaríamos um Encontro. Eu estava exausto da viagem, da
Cidade do México até Puebla, e de Puebla até Cuernavaca, com uma mal dormida noite
em Oaxaca, entre montanhas e vulcões do Sul do México -- um, há pouco, entrara em
erupção, e a estrada estava coberta de cinza fininha...
321
Já havia chegado a Cuernavaca, e John e Maureen tentavam ambientar-me.. Deitei numa
confortável cadeira, na borda da piscina,e já dormia a sono solto.
De repete, um trovão tremendo. Daqueles típicos do Altiplano Mexicano. Incomum no
Brasil...
Acordei assustado, indagando o que era aquilo. As mãos de John apontavam para mim,
quase em súplica; os olhos para os céus, e dizia:"não faça isso, que falta de respeito... o
rapaz acabou de chegar de viagem..."
Caímos todos numa gostosa gargalhada. E eu me sentindo ofendido...
Uma vez, no Brasil, lembro-o a observar, sobre uma amiga comum: "eu posso entender
que as questões da sua vida levem-na a afastar-se. Mas não entendo que ela me negue.
Mas, se ela quiser..."
Era diferente, John podia aceitar o outro mesmo que este lhe fosse antagônico. A ponto de
não querer, sinceramente, excluí-lo.
Aí estava o princípio metodológico da ética rogeriana compreensiva.. Profundamente
enraizado e sedimentado, o princípio de que o outro não precisa concordar comigo para
ter direito à inclusão, e à pertinência num todo que nos incluísse. Em particular, quando eu
tenho o poder, e o outro me antagoniza...
Na facilitação de grupos, é esse um princípio fundamental.
No grupo, o grupo fenomenológico existencial carece de uma facilitação e de uma gestão
que disponibilize toda a sua diversidade, independentemente do gosto dos facilitadores.
Esta é uma "conditio sine qua non" da estrutura e do processo grupal.
O grupo é a auto-sustentação estável da poiética da interação entre seus participantes.
Demanda, desta forma, toda a sua diversidade, na constituição de seu processo, na
medida em que a sua multiplicidade pode estimular um processo rico, produtivo, vigoroso.
Ai do grupo cujo facilitador começa a cortar, de acordo com suas preferências egoístas e
covardes. Os resultados podem ser catastróficos.
Na equipe do Rogers, mais do o próprio Rogers -- um tanto tímido e
desconsertado --, mais do que Maureen -- um bocado técnica -- mais do que Jack Bowen -
- bem humorado demais --, era o John Wood quem, naturalmente integrava o espírito da
tolerância.
Não por um princípio teórico ou metodológico, simplesmente. Não por um princípio técnico;
mas como uma ética a que facilmente ele se ajustava, por estilo pessoal. Em sua vida
pessoal ele era assim

322
OBJETIVO, SUBJETIVO, TRANSJETIVO

323
OBJETIVO, SUBJETIVO, TRANSJETIVO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Corpo e consciência, na interinidade da momentaneidade instantânea do episódio


existencial da ação.
Afonso Fonseca, psicólogo.
Interessante, que a Epistemologia consegue fixar a posição do corpo, e da consciência,
depois do decurso do episódio da ação, depois do decurso do episódio existencial. Mas
não consegue lhe definir sua não geografia, durante o transcurso do episódio existencial
da ação.
Transjetivos, transtransjetos. Nem sub-jetos, nem ob-jetos. Na interina duração do
transcurso da ação, o corpo e a consciência, como compreensão, são transjetivos.
Transjetos. Precisamos conhecer a idéia de transjetividade.
Diriam:
"Eu sou objetivo, tá ouvindo?!..."...
"Que merda, eu consigo ser transjetivo..."
"Eu sou sujeito."
"Eu sou transjeito!"
O modo transjetivo de sermos é o modo de sermos da ação. Da ação muscular, da
produção artística, da compreensão, da criação, da superação, do funcionamento grupal
fenomenológico, do efeito terapêutico, do grupo, dos efeitos terapêuticos...
É o modo de sermos da ação, e da compreensão...
Isto é muito importante...
Nem objetivistas, nem subjetivistas, preocuparam-se com esta importantíssima questão.
Mais intensivamente, só os gestálticos, a ela se dedicaram. Como Fritz Perls, ou como os
Psicólogos Humanistas; ou os existencialistas e fenomenológos; ou os artistas, ou nós
próprios, na efetiva intuição da recepção da arte – Clarice Lispector, quando dizia, em
Água Viva:
"...Eu quero captar o instante já.
Que de tão fugidio não é mais.
Cada coisa tem o instante em que ela é. Eu quero apossar-me do é da coisa.
Eu tenho medo ainda. Por que o próximo instante é imprevisível..."
Curioso, porque a condição de transjetividade, assim, é a condição própria da dramática
da ação, a condição própria da possibilidade, da ação muscular, da consciência ativa,
compreensiva...
O OB-JETO É UM AFSTAMENTO DO JETO
Ob-jeto é uma metáfora utilizada, justamente, a partir do caráter jetativo da existência, da
ação. Estas, sim, jetativas.
Ob-jeto e subjeto, denotam o afastamento do jeto.
Objeto e sujeito não são existenciais. Não participam da momentaneidade instantâneo do
episódio da existência. Do episódio da ação.
Mas, o que seria o transjeto participa, da momentaneidade instantâneo do episódio da
existência. Do episódio da ação .
É pré-reflexivo, e pré-conceitual. E encarna, enquanto ação muscular, e enquanto
consciência compreensiva, a duração, o transcurso da duração, do episódio da existência,
do episódio da ação. Transjetivas.
Poderíamos dizer que o transjeto é o que age. O que age muscularmente. E vivencia o
transcurso da compreensão, na duração da ação, do episódio existencial da ação.
324
Enquanto tais, sujeitos e objetos são vivência da ação extinta. Na verdade, dejeitos,
dejetos (nos sentidos próprios das palavras, com ênfase no fato de que foram jetos).
Assim, a transjetividade é da mais alta importância. Na medida em que designa o agente
da ação. O agente da ação muscular, e o agente efetivo da compreensão.
Usufrutuário, enquanto ator, das características da ação. Enquanto vivência da moção, da
emoção, da compreensão, da pré-compreensão, da intuição, da criação, da superação, da
regeneração.
A transjetividade é a condição que buscavam os psicólogos fenomenológico existenciais.
Sob a designação, um tanto perdida, de 'aqui e agora', 'awareness' em grande parte como
a mágica da 'empatia'. Como a condição curativa de nós próprios. O pré-ente, a nossa
condição de não coisa, o presente. A nossa condição curativa.
Justamente por isto, a condição da criação, e da superação. A condição da ação, na qual
podemos ser dialógicos partícipes da ação. Muscular e cognitivamente. A condição da
moção, da emoção, da compreensão, da intuição...
Metodologicamente, da mais alta importância.

325
EXPERIMENTAÇÃO FENOMENOLÓGICA E PERÍCIA

326
EXPERIMENTAÇÃO FENOMENOLÓGICA E PERÍCIA
Afonso Fonseca, psicólogo.

Podemos dizer que, em termos fenomenológico existenciais, a pericia é a perícia para


criar, pra tentar, arriscar e criar, dar forma --- afirmando a estética das forças da existência.
'Perire' é o mesmo verbo grego que se encontra na raiz da palavra e do conceito de
'experimentação', e na raiz e no conceito de 'pericia', e de inúmeras outras palavras.
Inclusive 'empírico'. Denotando sempre, que tentar, arriscar é o sentido do verbo grego. E
que, quanto mais tentamos e arriscamos mais experimentamos e interpretamos, mais nos
tornamos peritos, nesta arte da afirmação da existência, e da criação. Mas o tentar, o
fazer, de uma confecção tão caprichosa, que se esmera em conhecer a matéria prima, os
resultados, e, mais que tudo, deleita-se no processo do fazer caprichoso, do dar forma no
fazer. Gestatificar.
(o que o poeta diz, no discurso não cabe, e se o diz é prá saber o que não sabe – Gullar).
Segundo Nietzsche, na interpretação de Fink, com quem o ser humano aprendeu que é
assim?
Com a vida.
A vida é experimental, a vida experimenta, com espírito de uma vida que experimenta...
Aprendeu com os animais mais corajosos e ferozes as suas virtudes... A covardia não lhe
pertence.

A covardia, e o caráter mofino, não são a nossa condição. E Zaratustra faz, assim, um ato
de fé:
Porque o medo é a vossa exceção. Mas a coragem e a aventura, e o gosto do que é
incerto, do que ainda não foi tentado... A coragem parece-me ser toda a história primitiva
do homem.
Invejou e roubou todas as suas virtudes aos animais mais corajosos e mais selvagens: foi
só assim que ele se tornou... Homem.
A perícia no caso .é a perícia de ser o retorno e a afirmação do retorno das forças
eminentemente criativas da vida. As forças criativas da vida são assim. Elas seduzem e
criativamente se oferecem à criação. Permitem-nos ser criação. E, exauridas, retornam e
se oferecem à sedução da tentativa hábil de experimentação, de criação experimental.
Sob, sempre, sob o risco.
"Uma mulher de Nagasaki chamada Kame dedicava-se à fabricação de incensários. Os
incensários são, no Japão, um delicado trabalho de artesanato, e são utilizados nas salas
de chá ou diante dos oratórios familiares.
Kame, cujo pai havia sido um destacado artista do mesmo grêmio, era bastante chegada à
bebida. Também fumava, e bastava-se para associar-se com homens e tocar o seu
pequeno negócio. Sempre que conseguia reunir algum dinheiro, celebrava uma festa, para
a qual convidava artistas, poetas, carpinteiros e trabalhadores, homens de todas as
vocações e profissões. Falava com eles e apreendia novas idéias para seus desenhos.
Kame era extraordinariamente lenta em sua atividade criativa. Sua produtividade, em
consequência, era escassa. Uma vez concluídos, entretanto, seus trabalhos eram
considerados, sem exceção, como obras de arte. Seus incensários acumulavam-se em
lares cujas mulheres nuca bebiam, nem fumavam, nem se associavam livremente com
homens.
Um dia, o alcaide de Nagasaki encomendou-lhe um incensário. Kame, ao cabo de quase
meio ano, não havia ainda encontrado o desenho definitivo. O alcaide, que esperava ser
transferido em breve para uma cidade distante, apressou-a para que desse início ao
trabalho.

327
Recebida, enfim, a inspiração, Kame fabricou o incensário. Uma vez concluído, colocou-o
sobre uma mesa, olhando-o longa e detidamente. Fumou e bebeu diante dele como se se
tratasse de um companheiro de conversa. Passou todo o dia a observá-lo.
Fê-lo por fim em pedaços com um martelo.
Não era a criação perfeita que sua mente havia imaginado."

328
O CORRPO COMO OBJETO

329
O CORRPO COMO OBJETO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Como a existência, o corpo não pode quedar-se meramente em sua condição de objeto...
O corpo e a existência vivem uma alternância entre a sua condição ôntica, e a sua
condição ontológica.
E jeto, em sua condição ontológica, o corpo não é objeto (afastamento do jeto), mas
especificamente jeto, nesta condição em que assume sua condição existencial de projeto.
Sua tensão, sistólica, de ex (exsistência), sua pressão de ex (expressão), sua pulsão de ex
Expulsão), no exercício da ação, da existência.
Condição ontológica, em que, efetivamente, o corpo é existência, ação, como atualização
existencial de possibilidades, na dramática da ação.
Jeto porque, em sua condição ontológica do episódio existencial da ação, o corpo é
eminentemente força, força que se jeta, se projeta, como o devir da ação.
Em sua condição ôntica, o corpo perde, assim, sua condição compreensiva de jeto do
devir da ação. E constitui-se como sub-jeito (sub-jeto), ou como ob-jeto (afastamento do
jeto).
Surge, aí, como dejetos, o sujeito e o objeto, a posteriori da ação. Como resíduos da ação.
Porque a vivência não é mais força, que pode ser jetiva, projetiva. Com o aparecimento de
sujeito e objeto, alternativamente ao ator, que pré-reflexivo, surge a possibilidade da
reflexão. Em que o sujeito dobra-se sobre o objeto. E como, paralisada a dialógica poiética
de nossa condição ontológica, nada de novo acontece, numa condição de coisa, sem
possibilidade. E tudo se repete. E a flexão do sujeito sobre o objeto se constitui,
repetitivamente, como reflexão. Entre dejetos.
E, se dejeto, em sua condição ôntica, o corpo, e a existência, são plenamente jeto, em
toda a duração do episódio existencial.
O que ocorre, assim, é que, Transjetivo, o corpo não é objeto, na transitoriedade da
duração da momentaneidade instantânea da ação, da existência. Transjeto, não somos,
nem subjeto, nem objeto, na transitoriedade da ação; ou seja: na transitoriedade episódial
da existência.
Assim, objeto, ou sujeito -- porque não mais o jeto da ação --, o corpo é dejeto, em sua
condição ôntica. Condição de dejeto, traduzida pelo empobrecimento do corpo agora na
condição de objeto, e de sujeito. Pela condição reflexiva. Pela perda da sua condição
transjetiva.
A conceituação é um processo mais rico e complexo, do que normalmente pensamos. E,
se é inevitável, é índice do empobrecimento do corpo, e da ação, da existência. Na medida
em que representa o decaimento, o fenecimento, das possibilidades. Que, exercidas, e
exauridas, as suas forças, decaem massivamente. Decaimento apoiado pelo obsessivo
trabalho do conceito. Conceituar quer dizer podar. Natural processo. Mas que implica o
fenecimento das possibilidades. E da riqueza de sua sinergia.
Não mais pré-reflexivos e pré-conceituais, o corpo, a existência, limitam e empobrecem
suas possibilidades, numa ciclagem natural.
Corpo que perdeu seu acesso à liberdade não reflexiva, pré-reflexiva, da não
subjetividade, nem objetividade – da não sujeição. Corpo que perdeu, na sua condição
ôntica, de sujeito, ou objeto, o acesso à multiplicidade de possibilidades, e à incrível
sinergia sinestética delas, na ação. Corpo que perdeu o seu acessso à capacidade para a
compreensão, e sobretudo, para a pré-compreensão. Corpo desprovido de capacidade
para a movimentação e plasticidade da implicação.
Corpo que, enquanto corpo, é incompetente. Tendo, transitoriamente, perdido as suas
capacidade para o exercício de seus potenciais e capacidades efetivos.
Por isso que transitória esta perda. Por isso que é transitória a perda de sua condição
ontológica. A prevalência de sua condição ôntica.

330
Mas se, por qualquer motivo, esta perda se cronifica, e a existência, e o corpo, perdem
suas capacidades para a recepção das dádivas de Kairós, na dialógica poiética de seu
tempo próprio, cronifica-se a perda do corpo de suas capacidades milagrosas.
E o corpo, e a existência, são incapazes de exercerem-se como tais. O corpo já não é
mais o corpo do devir, e do devir da ação O corpo já não é mais o corpo da compreensão,
e da pré-compreensão. O corpo já não é mais o corpo da sinergia sinestética da ação. De
modo mais ou menos crônico.
Ora, neste caso, o corpo vai sendo progressivamente constituído como objeto, como uma
entidade objetiva. Alheio às possibilidades de sua insujeição, e inobjetividade. Na verdade,
um dispositivo de auto-frustração. Porque, requerido para suas funções, insubjetivas, nem
objetivas, transjetivas, o corpo é frustrante e incompetente, e incapaz.

331
TRANSJETIVIDADE, GESTALTIFICAÇÃO, EXISTÊNCIA E
FENOMENOLOGIA .

332
TRANSJETIVIDADE, GESTALTIFICAÇÃO, EXISTÊNCIA E FENOMENOLOGIA .
Afonso Fonseca, psicólogo.

A 'gestaltificação', a 'fenomenologia', a existência carecem da noção e da compreensão de


'transjetividade'. Carecemos uma compreensão da dramática da ação que é a da
'transjetividade'.
Porque o fenomenológico, a gestaltificação, o existencial, não acontecem na subjetividade,
nem na objetividade. Mas em específico são transjetivos.
Precisamos dizer, 'objetivo ', 'subjetivo', ' 'transjetivo' .Só a gestaltificação, e a
fenomenologia, a existência o solicitam: porque o acontecido é pós-jetivo. Ou seja,
acontece depois da duração do jeto do desdobramento de possibilidades, depois do jeto
da ação. Por isso são 'afastamento do jeto' Sujeito e objeito (digo, objeto), sub-jeito e
objeito. Que, em específico, significam isso, 'afastamento do 'jeito', afastamento do jeto'.
Porque se constituem DEPOIS de acontecida a duração do jeto da ação.
Mas, e o que acontece DURANTE A DURAÇÃO do jeto da ação?
Ah, 'Papudo!, Muita coisa acontece durante a duração (não é redundância...) do jeto da
ação. E devemos ao Existencialismo, á Fenomenologia, a Nietzsche, a Perls, e tantos
outros -- na civilização ocidental -- tê-lo chamado à atenção. Porque o que acontece
DURANTE A DURAÇÃO do jeto da ação, é o desdobramento de possibilidades; ou seja, a
ação. Ou seja a existência, e sua fenomenologia... Só isso...
E não temos a designação para este modo de ser humano, que não é objetivo, nem
subjetivo. Ainda que seja não objetivamente empírico...
Talvez.porque não estejamos acostumados a um modo de sermos em que não somos
sujeitos, nem objetos. Mas atores.
Ator é exatamente o que não é sujeito, nem objeto, mas transjetivo.
Um modo de sermos pré-conceitual. Um modo de sermos em que o tempo é o tempo da
ação. Um modo de sermos em que somos moção e emoção. Em que somos cognição
efetiva. Compreensão. Um modo de sermos em que somos criação, gestaltificação.
Superação. E esta incrível propriedade da vida, e da existência, que é a regeneração...
Mas, mais desconcertante, ainda, um modo de sermos que -- além de não situar-se na
dicotomia sujeito-objeto --, não é da ordem da causalidade, das relações de causa e efeito.
É bem diferente, mas é o feijão com arroz de cada dia de cada um de nós.
E é o próprio modo de sermos da eventualidade do episódio da existência e de sua
poiética fenomenológica, da elementar dramática da ação, da duração do episódio do
desdobramento de possibilidades. Da duração da eventualidade do episódio da existência.
Para entendermos a gestaltificação, a existência, a fenomenológica da existência; ou seja,
para entendermos o passado fenomenológico, e o presente, necessitamos entender este
espaço entre coisas, entre dois passados, que é o presente, que é a ação, a existência, e
sua fenomenologia. Que não é nem objetivo, nem subjetivo, mas que transita entre duas
emoções, enntre duas objetividades, que é o presente. Transjetivo, e que ACONTECE, E
DURA DURANTE A DURAÇÃO DO JETO QUE CONSTITUI O EPISÓDIO EXISTENCIAL,
QUE CONSTUI DO EPISÓDIO DA AÇÃO -- EFETIVAMENTE..

333
EMPIRISMO & EMPIRISMO

334
EMPIRISMO & EMPIRISMO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Para a fenomenologia, para a existência, é interessante esclarecer que, dentre os diversos


tipos de empirismo existente, existe o empirismo objetivista, e o empirismo não objetivista.
Como um sub tipo deste segundo, o empirismo ontológico da existência, da ação. Mais
especificamente, o empirismo fenomenológico existencial.
Dentre suas características, esta: de que não é objetivista.
É o empirismo da dramática da ação. é fenomenológico, e existencial.
Pois bem, empírico, no sentido ontológico, fenomenológico existencial. O fenomenológico,
a existência, o existencial, são eminentemente empiricos. De todo, não teorizantes, pré-
reflexivos e pré-conceituais.
Faz toda a diferença.
Porque o empírico, no sentido fenomenológico existencial, é acontecer. E não acontecido
como o é, o reflexivo e conceitual. Ou seja, o empírico, fenomenológico existencial não é
da ordem do objeto, do objetivo. Nem do sujeito, do subjetivo. Porque ambos são posições
do acontecido. São afastamentos do jeto, da ação, da existência; acontecidos.
O caráter especificamente empírico da vivência da ação, da existência, é da ordem do
acontecer. Inerente à própria vivência do acontecer (E só existe vivência da ação, da
existência, do acontecer, de um modo, específica e particularmente, empírico).
De modo que não se dá com ela na constituição de um afastamento do jeto, ob-jeto.
Mas ela é a própria vivência do jeto, como dramática da existência. O próprio jeto, como
atualização do desdobramento de possibilidades. Como dramática da ação, e da
existência.
Em específico, o afastamento do jeto, é que é o ob-jeto, e o sujeito.
O objeto e o sujeito, a objetividade e a subjetividade, como acontecido, se constituem a
posteriori à ação.
O transjeito se constitui durante a duração do desdobramento da dramática da ação, da
existência. Durante a vivência da ação. A vivência da dramática da existência, da ação, é
da ordem do não teorizante, do pré-reflexivo e pré-conceitual. É da ordem da
transjetividade.
E não comporta objetos. Transjetos.
Passado o episódio da ação, finda a oportunidade da transjetividade, e se constituem, a
posteriori, o objeto e o sujeito. O objeto, e o sujeito são posteriores ao episódio da ação,
da existência. São da ordem do acontecido.
Passada a tensionalidade da ação, como que se cristalizam, se constituem o sujeito e o
objeto.
Constituídos, em acontecido, o sujeito e o objeto – afastamentos do jeto -- pode o sujeito
contemplar o objeto.
A contemplação que o sujeito pode fazer do objeto é, assim, o que chamamos de teoria. A
teoria é passado, acontecida, é reflexiva e conceitual. E á posteriori do acontecer do
desdobramento de possibilidades, do desdobramento da ação, do desdobramento do
episódio da sístole da existência.
Durante a duração do episódio existencial da ação, não há a possibilidade de sujeitos,
nem de objetos. Porque não existem sujeitos nem objetos, no transcurso da duração da
ação.
Transjetos transcorrem a ação. Que é o espaço e o tempo da transjetividade. Não
havendo, portanto, possibilidade da teoria na transjetividade do acontecer. Que é espaço,
e tempo, da dramática da ação, da existência, do acontecer.
A ausência de teoria é o que chamamos de empírismo. É a vivência na própria vivência,
sem teorização.
Sem teorização, o episódio da vivência do acontecer, da ação,. da existência, é
eminentemente, própria e especificamente, empírico. Empirismo.
335
Como o empirismo, a experimentação fenomenológico existencial, enquanto arte é própria
vivência do acontecer. Pré-reflexiva e pré-conceitual. É fenomenológico existencial
empírica, portanto.
A perícia na arte da ação, da existência é, portanto, uma arte eminentemente, empírica.
Própria e especificamente, empírica. No sentido fenomenológico existencial do episódio da
ação. Ou seja, do episódio da dramática e estética da existência.
Em si, esta perícia é a perícia na implicação.
Porque a vivência pré-reflexiva e pré-conceitual da implicação, a vivência da plexificação
do desdobramento de possibilidades, que é a implicação, a vivência do episódio da ação,
da existência, são eminentemente empíricos. A arte da ação, e da existência é
eminentemente empírica. Consiste na vivência da empiria da dialógica poiética da
errância, desinteressada e gratuita, da vivência da atualização de possibilidades, da ação.

336
PERÍCIA, EXPERIMENTAÇÃO, E EMPIRISMO

337
PERÍCIA, EXPERIMENTAÇÃO, E EMPIRISMO
Afonso Fonseca, psicólogo

A perícia (não gosto do termo, mas é o que se usa. Na verdade, usa do verbo 'perire',
como prefixo. Como experimentação, empirismo) -- a perícia fenomenológico existencial,
dialógica e poiética, -- e não pragmática -- é, eminentemente, empírica e experimental --
no sentido fenomenológico existencial, ontológico, do acontecer.
E, em sendo experimental, é, eminentemente, empírica.
Três termos que é interessante esclarecer, e é importante esclarecer as conexões.
Para a fenomenologia, para a existência, é interessante esclarecer que, dentre os diversos
tipos de empirismo existente, existe o empirismo objetivista, e o empirismo não objetivista.
Como um sub tipo deste segundo, o empirismo ontológico da existência, da ação. Mais
especificamente, o empirismo fenomenológico existencial.
Dentre suas características, esta: de que não é objetivista.
É o empirismo da dramática da ação. é fenomenológico, e existencial.
Pois bem, empírico, no sentido ontológico, fenomenológico existencial. O fenomenológico,
a existência, o existencial, são eminentemente empiricos. De todo, não teorizantes, pré-
reflexivos e pré-conceituais.
Faz toda a diferença.
Porque o empírico, no sentido fenomenológico existencial, é acontecer. E não acontecido
como o é, o reflexivo e conceitual. Ou seja, o empírico, fenomenológico existencial não é
da ordem do objeto, do objetivo. Nem do sujeito, do subjetivo. Porque ambos são posições
do acontecido. São afastamentos do jeto, da ação, da existência; acontecidos.
O caráter especificamente empírico da vivência da ação, da existência, é da ordem do
acontecer. Inerente à própria vivência do acontecer (E só existe vivência da ação, da
existência, do acontecer, de um modo, específica e particularmente, empírico).
De modo que não se dá com ela na constituição de um afastamento do jeto, ob-jeto.
Mas ela é a própria vivência do jeto, como dramática da existência. O próprio jeto, como
atualização do desdobramento de possibilidades. Como dramática da ação, e da
existência.
Em específico, o afastamento do jeto, é que é o ob-jeto, e o sujeito.
O objeto e o sujeito, a objetividade e a subjetividade, como acontecido, se constituem a
posteriori à ação.
O transjeito se constitui durante a duração do desdobramento da dramática da ação, da
existência. Durante a vivência da ação. A vivência da dramática da existência, da ação, é
da ordem do não teorizante, do pré-reflexivo e pré-conceitual. É da ordem da
transjetividade.
E não comporta objetos. Transjetos.
Passado o episódio da ação, finda a oportunidade da transjetividade, e se constituem, a
posteriori, o objeto e o sujeito. O objeto, e o sujeito são posteriores ao episódio da ação,
da existência. São da ordem do acontecido.
Passada a tensionalidade da ação, como que se cristalizam, se constituem o sujeito e o
objeto.
Constituídos, em acontecido, o sujeito e o objeto – afastamentos do jeto -- pode o sujeito
contemplar o objeto.
A contemplação que o sujeito pode fazer do objeto é, assim, o que chamamos de teoria. A
teoria é passado, acontecida, é reflexiva e conceitual. E á posteriori do acontecer do
desdobramento de possibilidades, do desdobramento da ação, do desdobramento do
episódio da sístole da existência.
Durante a duração do episódio existencial da ação, não há a possibilidade de sujeitos,
nem de objetos. Porque não existem sujeitos nem objetos, no transcurso da duração da
ação.
338
Transjetos transcorrem a ação. Que é o espaço e o tempo da transjetividade. Não
havendo, portanto, possibilidade da teoria na transjetividade do acontecer. Que é espaço,
e tempo, da dramática da ação, da existência, do acontecer.
A ausência de teoria é o que chamamos de empírismo. É a vivência na própria vivência,
sem teorização. Sem teorização, o episódio da vivência do acontecer, da ação,. da
existência, é eminentemente, própria e especificamente, empírico. Empirismo.
Pois bem, empírica, no sentido ontológico, fenomenológico existencial. De todo pré-
reflexivo e pré-conceitual. Faz toda a diferença.
Porque o empírico, no sentido fenomenológico existencial, é acontecer. E não acontecido
como o é, no sentido reflexivo e conceitual. Ou seja, o empírico, fenomenológico
existencial não é da ordem do objeto, do objetivo. Nem do sujeito, do subjetivo.
Porque ambos são posições do acontecido. São afastamentos do jeto, da ação, da
existência, acontecido.
A vivência empírica da ação, da existência, é da ordem do acontecer. Inerente à própria
vivência do acontecer (E só existe vivência da ação, da existência, do acontecer, de um
modo específica e particularmente empírico).
De modo que não se dá com ela na constituição de um afastamento do jeto, ob-jeto.
Mas ela é a própria vivência do jeto, como dramática da existência, o próprio jeto, como
atualização do desdobramento de possibilidades, como dramática da ação, e da
existência.
Em específico, o afastamento do jeto, é que é o ob-jeto, e o sujeito.
O objeto e o sujeito, a objetividade e a subjetividade, como acontecido, se constituem a
posteriori à ação.
O transjeito se constitui durante a duração do desdobramento da dramática da ação, da
existência. A vivência da ação, A vivência da dramática da existência, da ação, é da ordem
do pré-reflexivo e pré-conceitual. É da ordem da transjetividade.
E não comporta objetos. Transjetos.
Passado o episódio da ação, finda a oportunidade da transjetividade, e se constituem, a
posteriori, o objeto e o sujeito. O Objeto, e o sujeito são posteriores ao episódio da ação,
da existência.
A seguir, pode o sujeito contemplar o objeto.
A contemplação que o sujeito pode fazer do objeto é o que chamamos de teoria. Assim, a
teoria é reflexiva e conceitual. E á posteriori do acontecer do desdobramento de
possibilidades, do desdobramento da ação, do desdobramento do episódio da sístole da
existência.
Durante a duração do episódio existencial da ação, não há a possibilidade de um sujeito,
nem de objetos. Porque não existem sujeitos nem objetos no transcurso da duração da
ação. Transjetos transcorrem a ação. Que é o espaço e o tempo da transjetividade. Não
havendo, portanto, possibilidade da teoria na transjetividade do acontecer. Que é espaço e
tempo da ação, do acontecer.
A ausência de teoria é o que chamamos de empírismo. É a vivência na própria vivência,
sem teorização.
Como o empirismo, a experimentação fenomenológico existencial, enquanto arte é própria
vivência do acontecer. Pré-reflexiva e pré-conceitual. É fenomenológico existencial
empírica, portanto.
A perícia na arte da ação, da existência é, portanto, uma arte eminentemente, empírica.
Própria e especificamente, empírica. No sentido fenomenológico existencial do episódio da
ação. Ou seja, do episódio da dramática e estética da existência.
Em si, esta perícia é a perícia na implicação.
Porque a vivência pré-reflexiva e pré-conceitual da implicação, a vivência da plexificação
do desdobramento de possibilidades, que é a implicação, a vivência do episódio da ação,
da existência, são eminentemente empíricos. A arte da ação, e da existência é
eminentemente empírica. Consiste na vivência da empiria da dialógica poiética da
errância, desinteressada e gratuita, da vivência da atualização de possibilidades, da ação.

339
AVENTURA DE EXISTIR
À ventura da sugestão do vento

340
AVENTURA DE EXISTIR
À ventura da sugestão do vento
Afonso Fonseca, psicólogo.

... tolice é viver a vida assim...


sem aventura...

Lulu

Os Gregos pensaram o impulsionamento inerente à vivência da sensibilidade,


impulsionadas pela força da vivência de possibilidades -- a pressão da ex-pressão, da
tensionalidade da vivência fenomenológica, fenomenativa, da ação, vivência do
desdobramento cognitivo de possibilidades, que se constituem compreensivamente -- os
Gregos pensaram a sensibilidade como o impulsionamento por um vento.
Presença naturalmente muito consistente na cultura grega.
O vento.
Por se tratar de um povo marítimo, em grande parte navegante, e insular.
Em particular, a presença do Vento Estesio. Que era a moção, a comoção, que, numa
certa época do ano, impulsionava as velas dos navios a, à ventura. Á aventura de
fazerem-se ao mar.
O modo fenomenológico existencial de sermos da ação, a existensia, é, eminentemente,
própria e especificamente, um impulsionamento. É vivência de forças, as possibilidades.
Que, na vivência pontual da implicação, desdobram-se gestaltificativamente, como ação.
Força, tensão, intensão, intensionalidade, insistênsia, existênsia, consistênsia.
Impulsionamento, entendido em analogia ao vento estésico, que impulsiona as velas dos
navios. As possibilidades impulsionam a eventualidade do episódio da ação, a
eventualidade do episódio da existência. O vento, no seu momento próprio, impulsiona as
velas dos navios... Tanto que o impulsionamento das possibilidades, pelas possibilidades
ficou conhecido como estética. E a vivência das possibilidades como estesia...
Assim, o Impulsionamento, de um modo tal -- o modo fenomenológico insistensial de
sermos -- que, analogamente ao vento, os Gregos deram-lhe o nome de estesia.
Impulsionamento, pulsão, im-pulsão, ex-pulsão, das possibilidades. Estética.
Constiuindo propriamente como estética o ethos da estesia.
Na propriedade de sua vivência o ethos da estesia, a est-ética, é, assim, uma ventura.
Uma vivência à ventura da força impulsionativa, da pulsão, do possível. Da possibilidade,
como vento. Eventualmente até como vento ventania.
A ação como vivência da momentaneidade instantânea da ventura do possível, como
ventura do desdobramento de possibilidades, é uma aventura, um modo de sermos à
ventura, do impulsionamento e da incerteza do possível, do impulsionamento e da
incerteza do desdobramento de possibilidades.
É a momentaneidade instantânea, e sempre recorrente, do modo de sermos do ator. Que
não é o modo de sermos do sujeito. Sub-jato, e o ob-jato que se lhe defronta, o modo de
sermos do ator é o modo de sermos do jato, propriamente dito, do jeto, pro-jeto, como
desdobramento de forças. Que é a vivência da estética da ação, em sua momentaneidade
instantânea.

341
Momentaneidade instantânea que sempre se esvai em sua vivência, no decaimento das
forças de seu pulso. De um modo tal que se instala em seu término, encistando-se como
coisa, instalação coisificativa: o modo propriamente acontecido de sermos.
Mas, enquanto acontecer, a vivência da ação é projeto, é jeto.
Com características e consequências muito próprias.
Talvez a mais radical delas... Não é da ordem do modo de sermos da realidade. Porque o
modo de sermos da realidade é o modo de sermos, do sujeito, e dos objetos, da instalação
coisificativa. O modo acontecido de sermos. Modo de sermos no qual, relativamente
desativada, a possibilidade jaz, relativamente inerte, na intimidade da coisa.
Quando a possibilidade em seu desdobramento como ação instala-se coisificamente, a
consciência deixa de ser a consciência do ator, e se constitui como consciência do sujeito
que contempla objetos com os quais se confronta. Em sua consciência subjetiva, o sujeito
se volta, se flete, flexiva, reflexivamente, sobre objetos. Contemplando objetos. E esta é a
epistemológica (lógica?) teorética. O sujeito é espectador de objetos.
O ator, no modo de sermos da ação, não é um espectador, mas um inspectador.
O modo de sermos do sujeito e dos objetos é reflexivo porque enquanto instalação
coisificativa distingue-se em sujeito e objetos. E o sujeito se flete, contemplativamente por
sobre objetos. Como se dá já no modo acontecido de sermos, a flexão do sujeito sobre o
objeto se constitui em re-flexão.
Pré-reflexivo, o modo de sermos do ator, da ação, não se estrutura em sujeito e objetos E
sua consciência não se constitui reflexivamente como a consciência de sujeitos que
contemplativamente se fletem e refletem por sobre objetos. A consciência do modo de
sermos da ação, do ator, é pré-reflexiva. Vivência pré-reflexiva do desdobramento de
possibilidades. Possibilidades que se constituem como compreensão. Perspectiva,
perspectivação. Inspectativa, inspectação. Ao invés de expectativa, expectação. O ator é
um inspectator, inspectador, na medida em que vivencia como consciência pré-reflexiva
imediata a perspectiva do desdobramento de possibilidades, que se constitui
compreensivamente; a perspectiva, perspectivação, da ação, como constituição em
compreensão fenomenológica do desdobramento da momentaneidade instantânea da
ação.
No âmbito de suas características expressivas, a vivência do projeto, projetação,
perspectivação, da ação, tem características e condições muito particulares.
Por não ser acontecido, mas acontecer, por não ser passado, mas especificamente o
presente da dramática da atualização de possibilidades, da dramática da ação, por ser
jeto, e não sub-jeto, e ob-jeto, a vivência do desdobramento da ação não é reflexiva. Não é
dicotomia sujeito-objeto, não teorética. Ainda que ética, não é moral, muito menos
moralista.
A vivência do desdobramento da ação é desproposital. Não tem antecipadamente um
propósito.
Não é da esfera do modo de sermos das causas e dos efeitos, da causalidade. Não é
causal.
A vivência da ação não é da esfera da utilidade. Não é da ordem pragmática do modo de
sermos dos úteis, dos usos, das utilidades.
Não é da esfera do modo de sermos da realidade. Uma vez que a realidade se constitui
como o modo acontecido de sermos. E a vivência do desdobramento da ação configura-se
como o próprio modo de sermos do acontecer.
Na medida em que em seus desdobramentos as possibilidades se constituem como logos,
como sentido, o desdobramento da ação é lógico, ontológico. A vivência de logos, de
sentido, que caracteriza distintamente a vivência deste ser, ôntico, que é o ser humano. O
ser ontológico por excelência. Ôntico e ontológico.

342
O sentido que se constitui como vivência ontológica é fenomenológico. Na medida em que
por si se dispõe. E é dialógico, na medida em que, pré-reflexivo, se constitui na esfera de
produção de possibilidades, e de sentido, da relação de si com uma alteridade.
Alteridade esta que, enquanto acontecer, desdobramento de possibilidades, ação,
atualização, é da ordem do acontecer. E não da ordem da instalação coisificativa do
acontecido...
Expressiva, a ação é a vivência de um pulso, um pulso, uma sístole, compreensiva, no
decurso de sua duração, do desdobramento de possibilidades. A ação é in-sístole-tensia-
entia. A ação é insistensial. Fenomenológico insistensial.
Fenomenológico existencial diríamos. Se quiséssemos utilizar uma terminologia ambígua.
Ocorre que o termo existência designa, de um modo ambíguo, e equívoco, os modos de
sermos do acontecer, e do acontecido. (v. Insistensia). Melhor seria se os designássemos
por insistênsia e existensia.
Fenomenológico insistensial é a sístole da ação. A vivência da duração da
momentaneidade instantânea da ação é insistensial. É tensional, é intensional, é
intensionalidade.
A experiência do modo acontecido de sermos é extensionalidade. É extensional.
Assim, ontológica, fenomenológico insistensial é a vivência da dramática da
momentaneidade instantânea da ação.
Da mesma forma que implicativa, e, na implicação: compreensiva.
Constituindo-se gestaltifictivamente, na implicação, como ação muscular e como
compreensão, como vivência dos processos de formação de figura e fundo do
desdobramento da momentaneidade instantânea da ação. E da formação das coisas... Do
passado. Do acontecido...
De modo que a vivência experiencial, a experiência e a experimentação,do vento estético,
da expressão, do desdobramento de possibilidades, como processo formativo da vivência
ontológica, fenomenológico insistensial, de formação de figura e fundo, e de formação das
coisas, atua nessas condições da vivência ontológica fenomenológico insistensial. É
vivência pré-reflexiva, inspectativa, do ator, da ação. E nunca a experiência expectativa do
sujeito. É vivência de forças que se desdobram no modo não causal, e desproposital, de
sermos. È vivência experimental que não se serve da, nem serve à utilidade. Vivência do
desdobramento de possibilidade, o modo de sermos do acontecer, não da ordem do modo
de sermos da realidade, que constitui o modo acontecido de sermos...
Não obstante, as possibilidades são forças. Eminentemente criativas, eminentemente
formativas. Vento; eventualmente vento ventania...
De modo que, no modo de sermos pré-reflexivo, pré-conceitual, não teorético, e não
moralista; não causal, desproposital; não útil, não prático; não real... O vento do possível, o
desdobramento das possibilidades, campeia, desdobrando as suas forças.
O direcionamento do processo vivencial do desdobramento de suas forças é seguro. Na
medida em que as forças de suas dominâncias constituem-se e reconstituem-se formativa,
criativamente, na competição e na argumentação lógica, intensional, da multiplicidade
implicativa de suas possibilidades.
O que, perene, não se extingue é a sua onipresente incerteza. Incerteza que é quase
sinônimo de presença e de atualidade. Na medida em que a multiplicidade da implicação,
e a alteridade das forças das possibilidades, na dialógica da interação, preservam-se
sempre intactas, e perenemente recriativas. Recreativas.
À ventura do possível. Sempre ativo. Superativo sempre.

343
QUE É GESTALTIFICAÇÃO

344
QUE É GESTALTIFICAÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

O termo parece ser novo, e Laura Perls já chamara a atenção para o caráter ativo do que
chamamos de 'Gestalt'. O fato é que espalhou-se a idéia como 'gestalt', e ficou. À custa de
muita incompreensão, confusão, e equívoco.
Precisamos distinguir: gestaltificação, o ato de agir gestalticamente -- um componente
intrínseco à ação; e a coisa resultante, a gestalt, com suas características gestálticas.;
gestaltificativas.
Mas, em que consiste este elemento da ação, que é a gestaltificação
Grosso modo, a ação é a vivência de criação, a formação, de uma forma. 'Forma', aqui,
num sentido muito mais amplo de um ser, um ente.
Ora, este sentido 'formativo' é muito original e radical.
De modo que a vivência do processo criativo, o processo formativo, gestaltificativo,
envolve inicialmente, a vivência de um projeto, digamos.
Que atua como um rascunho. Até que é preenchido, concluído. Conclusão, com as
intercorrências que se apresentarem, e forem corrigidas, no processo. Mas, dá-se o
projeto nas fases iniciais da vivência da ação, e 'fecha-se' a gestalt ao concluí-la. Com a
correção, gestaltificativa, das intercorrências.
De modo que o projeto é figurado vivencialmente nas fases iniciais da ação,
compreensivamente, mesmo que seja, apenas, o lampejo de um rascunho. Mas
detalhadamente. Mormente se lhe explora.
Este processo é, todo ele, poiético. Resultante da vivência de uma dialógica pelo ator. O
que significa que ele é vivido pré-reflexiva e pré-conceittualmente, fenomenológica e
existencialmente, e é o processo ativo da ação, e a ação que caracteriza a dramática da
existência, enquanto dramática da ação.
'Perfeição' é o termo que usamos para definir a ação gestaltificativa, que preenche os
requisitos básicos do projeto inicial, e minuciosamente produz o objeto no processo da
ação. 'Feição' é um modo de fazer, e o 'per' indica a completude, o trânsito de um lado a
outro da consecução do projeto. Da vivência do projeto a sua conclusão.. A ação
gestaltificativa é 'perfeita', neste sentido. E é a melhor, e esteticamente mais perfeita na
produção da forma. E usufrui de todas as características do fazer fenomenológico. É pré-
reflexiva e pré-conceitual, é estética,
O caráter gestaltificativo da vivência, confere algumas características ao processo e ao
resultado, o objeto resultante: a Gestalt.
Ela é original.
Sua originalidade manifesta-se, principalmente, enquanto totalidade significativa. E,
enquanto tal, ele é uma Gestalt, cujo sentido, enquanto totalidade é diferente da soma de
suas partes. Ou seja, não é a soma das partes, seu caráter aditivo, que lhe confere
sentido. Mas o seu sentido expressa-se enquanto totalidade, anteriormente à soma de
suas partes.
Sumariando, gestaltação, naturalmente, é uma propriedade espontânea da vivência
existencial da ação. Pré-reflexiva e pré-conceitual, deixada prevalecer, manifesta-se
criativamente, pela força criativa das possibilidades, projetando a ação.
Os primeiros momentos da vivência existencial, da dramática da ação, da dramática da
existência, é a vivência da Gestalt de um projeto do objeto, a ser atualizado através da
ação, na peformática de um fazer fenomenológico, que inicia-se com o projeto, e vai até à
conclusão de sua feitura, na ação.
A gestaltificação é o processo fenomenológico, gestaltificativo, do fazer. A Gestalt, o
objeto. Com mais ou menos arte. O importante é a adesão às intensidades da força das
345
possibilidades, na vivência pré-reflexiva e pré-conceitual da estética do fazer, em toda a
duração do episódio da ação, em toda a duração do episódio existencial.
O que ignifica a perfeição no fazer. Perfeição não em nenhum sentido moral, mas como
modo de fazer ('feição', fazimento, fazer), enquanto adesão à atualização de
possibilidades, como processo eminente pré-reflexivo e pré-conceitual, fenomenológico
existencial, desdobramento do projeto que se configura inicialmente, até a sua conclusão (
om que significa 'per'), com a correção, igualmente pré-reflexiva e pré-conceitual,
fenomenológico existencial, na dramática da ação, das intercorrências.
O QUE É GESTALT TERAPIA
Em sendo a gestaltificação uma propriedade da ação, Fritz Perls entendeu que a ação era
eminentemente formativa, criativa. E que tratava-se de criar as condições para a dialógica
poiética da ação, em termos de uma psicoterapia implicativa, e compreensiva, e não
explicativa.
A eleição do modo de sermos implicativo, e compreensivo dava-se .por causa da
constatação de ser este o modo de criação, e de superação de sermos. E não o modo de
sermos explicativo. Daí uma recusa sistemática à explicação, enquanto elemento
metodológico, certos de que esta recusa, e a afirmação da força das possibbilidades, pré-
reflexiva e pré-conceitual, do fenomenológico existencial, dramático, levaria à implicação e
criatividade da formativa da dialógica poiética, da dialógica gestaltificativa.
Assim começa a se desenvolver a Gestalt-terapia, influenciada pelos movimentos
gestálticos que se desenvolviam na arte, na educação, na psicologia...
Fritz e Laura Perls entenderam a amplitude de uma metodologia da ação, na medida em
que esta possibilitava o desenvolvimento de metodologias de trabalho, da compreensão à
ação muscular, ensejando a possibilidade efetiva do corpo em terapia, que se insinuava
com Reich e outros psicoterapeutas.

346
HISTERIA E AÇÃO

347
HISTERIA E AÇÃO

Afonso Fonseca, psicólogo

Sabemos que a histeria tem uma acentuada prevalência.


Muito distante de ser exclusiva de mulheres, como a alusão ao útero sugeriria, a histeria é
um padrão comportamental que atinge indistintamente a homens e a mulheres. E,
fortemente, o gênero masculino...
Seria o caso, se estudar eventuais distinções no padrão entre gêneros.
A histeria tem uma grande prevalência, seja isoladamente, seja como participante de
outros ditos distúrbios. O que a torna merecedora de uma atenção, que não mereceu,
devidamente.
Com o interesse de Freud sobre ela, faz parte proeminente da história da Psicoterapia.
Sem que isto tenha significado um melhor esclarecimento de suas determinações e
consequências.
Ao considerarmos devidamente a histeria, como é necessário -- como a maior parte dos
distúrbios mentais --, carecemos de fazê-lo social e historicamente -- no sentido mais
essencial das palavras. E com a ajuda de antropólogos, sociólogos, historiadores,
filósofos, médicos... Como um fenômeno social.
E não individualisticamente. Como algo ligado ao corpo, simplesmente, daquele que a
manifesta. Como uma entidade médica, simplesmente...
HEREDITARIEDADE DA HISTERIA
Como a maior parte dos distúrbios comportamentais e psicológicos, à observação mais
superficial, a transmissão da histeria facilmente manifesta um padrão que é confundido
com o padrão de uma genética biológica. Pessoas em diferentes gerações de uma família
afetadas pelo distúrbio; uma óbvia vinculação entre pais e filhos, e pessoas próximas,
etc...
Um olhar mais detido revela, no entanto, o engano. Sobretudo um olhar que tenha
sensibilidade para o sócio cultural... Há uma genética, sim, na histeria. Mas uma genética
que não é biológica. Que opera, e se manifesta, socialmente, por meio da aprendizagem.
A histeria é um padrão social extremamente contaminante.
Tais as intensidades das forças sócio históricas envolvidas.
E que atuam diacronicamente. Como são os processos históricos e culturais envolvidos. A
histeria é transgeracional, não se resolve no período de uma geração, penetra gerações, e
pode atingir várias, na sequência histórica.
O que elimina e obscurece importantes de suas determinações, quando ela é vista
simplesmente em cortes de sua sincronia.
A intimidade da reprodução da histeria dá-se pela concorrência da diacrônica intimidade
de fatores culturais, entre as pessoas envolvidas. Privados os demais. Atores culturais
que, notoriamente, passam despercebidos, enquanto tais; ao leigo, ou ao profissional de
outras profissões.
Ligam-se, aparentemente, em grande parte, esses fatores culturais à migração
populacional, e sócio cultural. E às transformações das culturas nos novos contextos e
processos sócios culturais, e históricos, decorrentes. Em particular, a concorrência, ou
não, da hegemonia de duas culturas.
Como, por exemplo, a cultura sertaneja brasileira emigrada para o meio urbano; a cultura
do Shetl para o meio urbano europeu e norte americano, a cultura do Pampa Argentino
emigrada para a Capital, as culturas em geral emigradas para o meio urbano...
No novo ambiente cultural, novos fatores, novas tensões, estão presentes; determinantes
de novos mecanismos culturais. A estressar a vida familiar. Para certos indivíduos, em
particular. Fatores e tensões que hão de resultar nos padrões familiares e individuais que,
desinformados e superficialmente, conhecemos, positiva e de modo objetivamente
empírico, e reificamos, como padrões da entidade médica, histeria...

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Alterações nas delicadas relações de poder, mudanças de expectativas, inseguranças
várias, mudança nas condições, ou nos modos de vida.
De repente, todo um modo, concepção e estrutura de vida que se esvaem; 'que são
sólidos, e desmancham no ar...'
Há desorientação entre os agentes familiares de poder. Que passam a encarnar novas
solicitações. Enquanto que as antigas permanecem fantasmáticas.
Os indivíduos desorientam-se. Porque toda uma configuração de expectativas culturais de
desenvolvimento perde a sua consistência, e não se valida, como a ordem natural das
coisas. E outras, novas, são demandadas.
Os membros recém-ingressados na família sofrerão do dilema, já que os fatores culturais
atuam desde a mais tenra infância. Ou serão aculturados, anomalamente, nos cânones da
nova. O processo apresentará várias, e diferentes, demandas, ao longo de seu curso
histórico.
Sobre estes, diacronicamente, pesarão as mais ansiogênicas e duradouras dúvidas e
conflitos...
Os padrões antigos não terão mais consistência – no máximo justificados (injustificados...)
pelo covarde autoritarismo moralista dos membros mais antigos. Os padrões novos
carecem da consistência e segurança dos antigos...
Como conciliar a diacronia das forças dos contextos conflitantes?
A vida social é culturalmente confusa para os novos membros.
Não têm experiência na cultura antiga, nem o traquejo no exercício da nova. A cultura
antiga já não oferece o guarda chuva, centenário, dos ancestrais; a cultura nova não
oferece consistência, nem confiabilidade.
Aprisionado nos conflitos, o indivíduo pode desorientar-se, emitindo, eventualmente,
"comportamentos não consensuais de acionamento do novo contexto cultural" (histéricos).
Comportamentos não consensuais, em relação à nova cultura.
Que podem ser relativamente bem sucedidos, ou francamente desajustativos. Em
particular, na medida em que a cultura originária possui fortes padrões, e que alguns
membros da família desenvolvem um nível razoável de ajustamento ao novo contexto.
A cultura que a família porta consigo pode, eventualmente, ser, uma cultura "forte" --
mormente com relação à cultura receptora. O que pode, facilmente, levar certos indivíduos
a experimentarem e a desenvolverem estes mecanismos não consensuais de
acionamento da cultura receptora.
E ser, eventual e relativamente, bem sucedidos. Levando estes indivíduos à modelagem
desses mecanismos comportamentais.
A histeria surge desses mecanismos comportamentais de acionamento cultural. Que, ao
serem bem sucedidos, podem ser selecionados e modelados. Estes mecanismos podem
aumentar a sua bizarria, exagero, ou caráter cada vez mais exigente e apelativo, na
medida em que decai ou torna-se problemática a sua eficácia. Ou mesmo, quando são
sistematicamente bem sucedidos.
Ocorre que estes mecanismos também tendem a ser disruptivos, e degenerativos...
Na medida em que, improvisados, tendem a ser inadequados e/ou ineficazes, cada vez
mais, no acionamento da nova cultura.
Temos aí o quadro da histeria: o indivíduo que busca acionar a cultura, através de
mecanismos culturais não consensuais, que é relativamente bem sucedido, mas que
encontra mecanismos cada vez menos efetivos, à medida que os aplica. Desajustando-se
progressivamente...
Isso nos casos pior sucedidos.
Porque nos mais bem sucedidos o indivíduo pode encontrar um ajustamento precário, que
progressivamente se otimiza, até o grau da razoabilidade.
Ou, eventualmente, chegando ao nível de casos de absurdos históricos, que se
funcionalizam, em determinados momentos sócio-históricos.
Como é o caso de Hitler, por exemplo...

349
Daí que, não nos enganemos: há indivíduos histéricos mais bem sucedidos; e aqueles pior
sucedidos. Uns levados ao relativo sucesso, os outras, levados ao fracasso retumbante, e
ao hospital psiquiátrico...
A HISTERIA E A AÇÃO
Se não é a sua lógica, um dos subprodutos eméritos da histeria é o de evitar a ação.
Subproduto emérito, porque a ação é o mais nobre produto humano, com o qual
a pessoa movimenta e modifica o mundo, a vida social e geológica.
A ação traz inúmeros inconvenientes. Uma vez que portadora de possibilidades, introduz a
novidade, o que quer dizer mudanças, na realidade...
Novidades cuja aceitação nem sempre é consensual.
Sendo constantemente vistas como inconveniente, confusa, subversiva, indesejada.
Ás vezes trazendo inconvenientes incômodos, ou terríveis.
Na dinâmica da realidade, os agentes credenciam-se para agir.
Mas este credenciamento decorre das dinâmicas políticas microsociais. Tanto que, em
muitos casos, o conflito vigora, em torno da mera possibilidade de agir. Chegando este
conflito a graus extremos, em torno da possibilidade da ação. Principalmente quando esta
ação traz inconvenientes para as sucursais do poder instituído, em suas diversas
instâncias.
Mais que tudo, o poder autoritário instituído teme o novo, teme a crítica.
E, inevitavelmente, a ação é diacrítica, e política, e portadora do novo. Da reconfiguração e
construção dos contextos. A ação tem sempre, assim, que enfrentar o poder autoritário,
para meramente estar autorizada, para ser meramente explicitada. Inconciliável, a ação é
uma força, e quer explicitar-se, acarretando a punição, às vezes, mas nem sempre,
autoritária e violenta...
Agir é perigoso.
Não para todos, não em qualquer situação. Mas para alguns, em algumas situações, sim.
Decorre, assim, na vida social toda uma política da ação. Ação que transita, em seu loci.
Desde a vivência das possibilidades, à ação concluída. Da ação muscular, à
compreensão.
Sobre estes mecanismos condicionantes da ação, atuam diacronicamente a repressão do
autoritarismo oportunista, conducente à histeria, em indivíduos fragilizados, desde a mais
tenra infância. Produzindo o histérico.
Que, sobretudo, tem medo de agir.
E simula a ação.
Com (o objetivo?) a consequência principal de evitá-la.
A simulação do histérico não nasce por geração espontânea. Ela tem definido e definíveis
mecanismos e contextos determinantes.
Poderíamos pensar em comparar dois paradigmas de ação, que frequentam a literatura, o
Cinema, e as artes, em geral... O trágico e o histérico. São muito evocados na Literatura
de Graciliano Ramos. Na qual encontramos famílias de personagens, de cada um dos dois
padrões, e o confronto entre ambos os tipos. O que sugere um análogo conflito social.
Compreensível numa sociedade autoritária e violenta como a nossa...
O trágico é a ação decidida e inquestionada.
O trágico sabe que, com sua novidade, a ação é uma morte, factual ou simbólica. Mas que
opera o renascimento das forças criativas.
Em nenhum momento o histérico pretende agir. Todo curso da pseudo ação histérica,
especificamente, é uma simulação. E se algo o histérico espera, é alcançar os efeitos
desta simulação. Nisto, nesta simulação consiste a sua arte. O histérico chega à perfeição
da simulação.
A arte histérica é, eminentemente, uma arte para os olhos de terceiros; a arte trágica é,
diria Nietzsche, uma arte monologa, para a qual não existe espectadores.

350
..
Não queremos ser excessivamente rigorosos com os histéricos.
O moralismo de nada adianta.
Não cremos que os dispositivos comportamentais histéricos destinem-se meramente a
chamar a atenção, como se costuma dizer.
São, ao contrário, mecanismos extremamente arraigados, com um enraizamento sócio
cultural, e histórico, poderoso, inclusive – como é usual que aconteça nos distúrbios
mentais e comportamentais. Com sofrimentos vários para o portador e para sua família.

351
FENOMENOLOGIA GESTÁLTICA, PROJETO & PROJETO

352
FENOMENOLOGIA GESTÁLTICA, PROJETO & PROJETO
Afonso Fonseca, psicólogo.

A Fenomenologia é pródiga em cascas de banana. Algumas clássicas.


Uma delas é o termo projeto. E sua mística.
Isto porque, dado o caráter de força da possibilidade, e de seu caráter atualizativo, a ação, a
existência é, eminentemente, um jeto. Projeto. Um estar lançlado...
Ocorre que o termo projeto é uma palavra que se presta a uma ambiguidade de sentido.
E também significa esboço, rascunho (a ser preenchido...).
O episódio existencial, o episódio da ação, powered pela possibilidade, em sua jectação é jeto. É
projeto. Num sentido metaforicamente mecânico da palavra.
A confusão vem de que das duas formas ele é jeto, projeto.
1. Num sentido metaforicamente mecânico; de força de ejetação; projetação;
2. Outro, de rascunho, de esboço.
O episódio existencial, o episódio da ação. É projetivo, é projeto. E nele se confundem os dois
sentidos do termo.
Metaforicamente, a ação, o existencial, o fenomenológico, é projeto.
No sentido de que é propulsivo, propelido, por uma força, a possibilidade.
E, gestaltificativamente, inicialmente, na vivência, é projeto no sentido de um rascunho, de um
esboço, que orientará o rumo da ação. Que será corrigido, de acordo com as intercorrências, até a sua
conclusão, com a objetivação da ação.
Eventualmente, fica incompreendido um dos sentidos, ou os dois, do episódio existencial da ação.
Ficando incompreendido o seu importante caráter especificamente jetivo. Projetivo.
Caráter que nos provoca à errância criativa, como nossa participação, na dialógica poiética do
episódio existencial da ação.

353
PROJETO & PROJETO

354
PROJETO & PROJETO
Fenomenologia Gestatificativa
Afonso Fonseca, psicólogo.

A Fenomenologia é pródiga em cascas de banana. Algumas clássicas.


Uma delas é o uso do termo 'projeto'. E sua mística.
Isto porque, dado o caráter de força da possibilidade, e de seu caráter atualizativo, a ação, a
existência é, eminentemente, um jeto. Projeto. Um estar lançado...
Ocorre que o termo 'projeto' é uma palavra e conceito que se presta a uma ambiguidade de sentidos.
E também significa esboço, rascunho (a ser preenchido...).
O episódio existencial, o episódio da ação,' powered' pela possibilidade, em sua jectação, é jeto. É
projeto. Num sentido metaforicamente mecânico da palavra.
Pois bem,
A confusão vem de que das duas formas ele é jeto, projeto.
1. Num sentido metaforicamente mecânico; de força de ejetação; projetação;
2. Outro, de rascunho, de esboço.
O episódio existencial, o episódio da ação. É projeativo, é projeto.
E nele se confundem os dois sentidos do termo.
Metaforicamente, a ação, o existencial, o fenomenológico, é projeto.
No sentido de que é propulsivo, propelido, por uma força, a possibilidade.
E, gestaltificativamente, na vivência, é projeto, no sentido de um rascunho inicial, de um esboço, que
orientará o rumo da ação. Que será corrigido, de acordo com as intercorrências, até a sua conclusão,
com a objetivação, no decurso do episódio existencial da ação.
Eventualmente, fica incompreendido um dos sentidos, ou os dois, do episódio existencial da ação.
Ficando incompreendido o seu importante caráter especificamente jetivo. Projetivo.Tanto num
sentido, como no outro. Ou nos dois.
Caráter que nos provoca à errância criativa, como nossa participação, na dialógica poiética do
episódio existencial da ação.
Fenomenologia Gestatificativa
Afonso Fonseca, psicólogo.
A Fenomenologia é pródiga em cascas de banana. Algumas clássicas.
Uma delas é o uso do termo 'projeto'. E sua mística.
Isto porque, dado o caráter de força da possibilidade, e de seu caráter atualizativo, a ação, a
existência é, eminentemente, um jeto. Projeto. Um estar lançado...
Ocorre que o termo 'projeto' é uma palavra e conceito que se presta a uma ambiguidade de sentidos.
E também significa esboço, rascunho (a ser preenchido...).
O episódio existencial, o episódio da ação,' powered' pela possibilidade, em sua jectação, é jeto. É
projeto. Num sentido metaforicamente mecânico da palavra.
Pois bem,
A confusão vem de que das duas formas ele é jeto, projeto.
1. Num sentido metaforicamente mecânico; de força de ejetação; projetação;
2. Outro, de rascunho, de esboço.
O episódio existencial, o episódio da ação. É projeativo, é projeto.
E nele se confundem os dois sentidos do termo.
Metaforicamente, a ação, o existencial, o fenomenológico, é projeto.
No sentido de que é propulsivo, propelido, por uma força, a possibilidade.
355
E, gestaltificativamente, na vivência, é projeto, no sentido de um rascunho inicial, de um esboço, que
orientará o rumo da ação. Que será corrigido, de acordo com as intercorrências, até a sua conclusão,
com a objetivação, no decurso do episódio existencial da ação.
Eventualmente, fica incompreendido um dos sentidos, ou os dois, do episódio existencial da ação.
Ficando incompreendido o seu importante caráter especificamente jetivo. Projetivo.Tanto num
sentido, como no outro. Ou nos dois.
Caráter que nos provoca à errância criativa, como nossa participação, na dialógica poiética do
episódio existencial da ação.

356
"PRÉ-COMPREENSÃO", E O FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL

357
"PRÉ-COMPREENSÃO", E O FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
Afonso Fonseca, psicólogo.

."..um 'ser subterrâneo' a trabalhar, um ser que perfura, que escava, que solapa. Ele é
visto – pressupondo que se tenha vista para este trabalho na profundeza – lentamente
avançando, cauteloso, suavemente implacável, sem muito revelar da aflição causada pela
demorada privação de luz e ar; até se poderia dizer que está contente com o seu obscuro
lavor Não parece que alguma fé o guia, algum consolo o compensa? Que talvez queira a
sua própria demorada treva, seu elemento incompreensível, oculto, enigmático, porque
sabe o que também terá: sua própria manhã, sua redenção, sua aurora?... Certamente ele
retornará: não lhe perguntem o que busca lá embaixo, ele mesmo logo lhes dirá, esse
aparente Trofônio e ser subterrâneo, quando novamente tiver “se tornado homem”. Um
indivíduo desaprende totalmente o silenciar, quando, como ele, foi por tão longo tempo
toupeira, solitário --"
(F. Nietzsche, em Aurora)
O fenomenológico é vivencialmente consciente; o vivencialmente consciente é
fenomenológico. O ato é vivencialmente consciente, a vivência consciente é ativa...
Não fora assim, como seria o seu caráter aparencial? Para quem apareceria ele? E é esta
aparência que caracteriza a preensão da com-preensão. A preensão consciente,
vivencialmente.
Interessante a pré-compreensão, que marca o limite da vivência. Porque a pré-
compreensão, não obstante constituinte do ato, do fenomenológico, a pré-compreensão
não é consciente. A compreensão é fully consciente, vivencialmente. E isto a define. A pré-
compreensão se situa, experimentalmente, no limite intuitivo da vivência. Suprindo-a, só
intuitiva e experimentalmente, de modo qualitativo. Analógico...
O fenomenológico é vivencialmente consciente; o vivencialmente consciente é
fenomenológico. O ato é vivencialmente consciente, a vivência consciente é ativa...
Não fora assim, como seria o seu caráter aparencial? Para quem apareceria ele? E é esta
aparência que caracteriza a preensão da com-preensão. A preensão consciente,
vivencialmente.
Interessante a pré-compreensão, que marca o limite da vivência. Porque a pré-
compreensão, não obstante constituinte do ato, do fenomenológico, a pré-compreensão
não é consciente. A compreensão é fully consciente, vivencialmente. E isto a define. A pré-
compreensão se situa, experimentalmente, no limite intuitivo da vivência. Suprindo-a, só
intuitiva e experimentalmente, de modo qualitativo. Analógico...
A pré-compreensão é um dos modos mais interessantes e ricos de ser. Eu diria, até mais
do que a própria compreensão.
Porque a pré-compreensão é um processo que provoca e se constitui como vivência, mas
não se constitui como consciência. Permanece no nível de pré-consciência, despertando
seus indícios intuitivos, certamente a partir de processo implicativos, nos quais só se
constituem os indícios, parcialmente. Como intuições vivenciais de alta qualidade. Ainda
que experimentais, e experimentalmente incertas...
Quando uma ética compatível lhe permite o desimpedido desdobramento, e acesso
experimentais.
Assumindo que a pré-compreensão desdobre-se algo como a compreensão, e a
implicação, teríamos um funcionamento vastamente não consciente, fornecendo seus
resultados à implicação compreensiva da consciência fenomenológica.
Não poderíamos falar muito da pré-compreensão, porque seus processos são vastamente
não conscientes, e só são acessíveis à consciência indícios qualitativos de seus
resultados. Por esses, podemos entender um funcionamento maravilhoso, e resultados
intuitivos igualmente.

358
Assumindo que a pré-compreensão dá-se implicativa e compreensivamente, como a
vivência pré-reflexiva, e pré—conceitual, temos um funcionamento lógico, fenomenológico,
amplamente pré-reflexivo e pré-conceitual. Que, na sua aceitação e afirmação éticas, é um
império da força das possibilidades, e dispõe da atualização ampla delas, fornecendo seus
resultados qualitativos de suprimento intuitivo da vivência fenomenológica experimental.
No âmbito da dinâmica das forças, as possibilidades, o papel de condução permanece ao
nível das forças. E não de qualquer dispositivo da consciência reflexiva. Isto porque,
inimputável, o modo pré-conceitual de sermos depende da inimputabilidade da
multiplicidade de forças, no seu livre desdobramento, e no provimento da força qualitativa
de seus resultados.
A premissa ética da natural aceitação, e da afirmação, do pré-compreensivo, a
habitualidade no trato com ele e com os resultados de seus funcionamentos, garante a sua
livre operação e provimento de seus resultados. Analógicos...
Assim, a ética de uma aceitação e afirmação do pré-compreensivo, no seu caráter pré-
conceitual, é o caminho das pedras para a otimização de sua vivência.

359
CRIAR, A SUPREMA TRAIÇÃO

360
CRIAR, A SUPREMA TRAIÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo..

Podemos dizer que a criação é um privilégio humano e dimensão fundamental de nossa


constituição ontológica, e de nossos modos de ser, de nossa alegria e regeneração.
Por isso que é curioso e surpreendente constatar como a deve encarar o niilista, e o que
ela deve para ele significar.
Sobretudo, para o niilista, a criação é algo a ser meticulosa e diligentemente evitado, já
que está tão próxima.
Como a uma bactéria, por exemplo. Algo que sua ascética recomenda evitar, e odiar. E ele
o faz diligentemente, com uma obediência cega e fanática. Sem questionamento. De um
modo para nós frustrante, e surpreendente.
Eminentemente criativos, ele termina por odiarmo-nos, a nós, os humanos. E a ser, contra
nós, os criativos, e a criação. Animados por uma vingança cega, por uma vingatividade
crônica.
Pior, ele não pode evitar odiar, e vingar-se contra si. Não pode evitar odiar, e vingar-se
contra si próprio, não pode evitar odiar, e vingar-se contra sua própria criatividade, e contra
si. E contra si próprio. Na mesma medida em que odeia, e vinga-se contra os outros. É
como odiar, e às vwzes defato, que o dia nasça, que os cabelos, e as unhas cresçam...
Desiste, orgulhosa e arrogantemente, dos benefícios que a regeneração brinda, e das
vantagens que a condição humana nos proporcionou com a criatividade. Como a moção, a
emoção, a motivação emocionada, a superação... E prefere as vantagens que a
acomodação e a manutenção lhe trazem...
Não pode afirmar-se pela criação, e como Nietzsche observa, recorre ao artificio da
constituição dos outros como maus. E entender-se como bom, ao comparar-se com eles.
Os bons contra os maus. E está constituída a primeira forma do niilismo, que é o
ressentimento.
Admite, ainda segundo Nietzsche, que o estado e a cultura o constituam a ele próprio
como culpado, por sua própria infelicidade, por sua própria miséria... Assumindo-se, assim,
como culpado. Agora como ressentido e como culpado. Numa curiosa retroflexão da culpa.
A segunda forma do ressentimento.
Em que Simão Bacamarte, admite-se como culpado. E só encontra como alternativa
internar-se a si próprio em seu hospício.
Mas a lógica ressentida não poderá parar nos indivíduos.
Todo este mundo está errado de princípio, toda esta vida estará errada de princípio. A
vida, como ela é, é um erro. E cumpre deles se abster, como quem se abstém de um
veneno, já que tão próxima.
Mas, sorte, existe um ideal. Desde que não seja a vida vivida, e que dela permite uma
ascese. Uma ascética, que limpe e purifique da vida, e do mundo. E o ideal ascético se
configura como a terceira forma do niilismo, de evitação da criatividade
Proscrita a criação, ele se tornará um militante da manutenção e dos mecanismos.
Especialista estrito, na manutenção e nos mecanismos.
E sua função de ódio, aliada a sua frustação, haverá de especializar-se, e brutalizar-se,
cada vez mais.
A dialógica pressupõe a criação. E sem a dialógica, resta só a violência e a destrutividade,
a aniquilação.
Impõe-se, cada vez mais, a destruição dos inimigos – para que os niilistas se afirmem
como bons. Sejam eles, os inimigos, Judeus, Negros, Homossexuais; Tutsis, Muçulmanos,
Católicos, adeptos do Batman, escolares, pessoas indefesas ao acaso, jovens num
acampamento de férias, inimigos políticos, moradores de rua, líderes rurais, crianças de
pré-escola...
O niilista não tem limites para a seu delírio destrutivo...

361
A violência e a destruição são o caminho natural de sua recusa radical a si próprio, como
um ser criativo.
O niilista parece ter um compromisso sagrado com a não criação. Não é que ele não
possa criar. Aparentemente, ele pode. E muitas vezes ele poderá criar. Mas, ele não pode,
e não criará.
Entregando-se à manutenção, aos mecanismos, à sutil simulação do já acontecido. Como
se criar fosse trair a uma ética sagrada. Em sua radical e cega fidelidade ao nada, e à
nadização.

362
MUSIQUE

363
MUSIQUE
Afonso Fonseca

A existência, o episódio existencial, o episódio da ação tem um padrão musical. Tanto que
o chamamos de episódio. O que é um termo musical.
Episódio é a designação de um evento que sucede a vários outros eventos. O episódio.
'Epi-ode'.
Aos eventos que culminam no episódio chamamos de prosódia.
O evento da ação, o evento existencial; o episódio da ação, o episódio existencial, é precedido por
outros eventos, que entendemos como implicação.
Analogamente. Como se fosse a prosódia do episódio da ação, a prosódia do episódio existencial, a
implicação – que implícita tem a compreensão.
Isso permeado por um ritmo, que determina o surgimento episoidal pulsional, e cíclico, do evento
episoidal da ação, do evento existencial episoidal.
De modo que, o evento existencial, na sua unicidade, não é uma mônada, mas constituído numa
totalidade orgânica. Que se constitui a níveis pré-compreensivos da vivência ontológica, até
aparecer, na vivência fenomenológica, ser preendido, como compreensão.
Pré-reflexiva e pré-conceitual, a implicação integra-se com o caráter igualmente pré-reflexivo, e pré-
conceitual do episódio existencial.
E o caráter pré-conceitual da vivência musical, da vivência da ação seja, como se diz, analógico.
Melhor dizer que o caráter assim, que o caráter da existência, seja pré-conceitual, que o é.
Porque o modelo do analógico, o analógico do qual o analógico é análogo, é exatamente o pré-
conceitual...
O dito analógico é, exatamente, o pré-conceitua e as características do ontológico. O pré conceitual e
o humano são o analógico.
E, no humano, falece a analogia do analógico e digital.
Já que o analógico seria o ontológico. Efetivamente o analógico radica em sua condição de pré-
conceitual.
O dito digital é um tipo de conceitual. O conceitual baseado no dígito.
Pré-conceituais, tanto a música, como a existência, não são causais, não são propositais, não são
teóricos, não são reflexivos, nem objetivos, nem subjetivos... Utilizando-se das intensidades das
possibilidades para constituir os seus sentidos expressivos.
De modo que a metodologia para lidar com a música e com a existência envolve todos estes
elementos, e outros pré-conceituais. O que significa que estamos diante de novas questões e desafios
metodológicos, que envolvem o caráter pré-conceitual da gestaltificação da ação, da existência
gestaltificativa, como episódio musical.

364
IMPLICAÇÃO. A PERPLEXIDADE COMO MÉTODO

365
IMPLICAÇÃO. A PERPLEXIDADE COMO MÉTODO
Perplexidade como caminho
Afonso Fonseca, psicólogo.

Ontologicamente, somos criativos.


Basicamente, vivenciamos o possível como experiência ontológi-ca, e criamos a nós
mesmos e ao mundo, no desdobramento da vi-vência da experiência ontológica da
possibilidade. O episódio existencial. O episódio da ação.
A experiência ontológica do possível a é a experiência de forças, múltiplas forças sempre.
Lógicas, fenomenológicas, ontológicas, dialó-gicas. Que hierarquicamente competem e
argumentam entre si, e coa-lescem e se organizam, como a vivência da constituição de
dominâncias.
Plexos de dominâncias. A implicação.
Dominâncias que, ao se desdobrarem, fenomenologicamente, prevalecem, como a
vivência formativa do curso da ação, constituindo-se cognitivamente como a vivência da
compreensão e da implicação, como vivência compreensiva e implicativa.
Em específico, a implicação é a estrutura da dinâmica dramática da duração da ação.
É a momentaneidade instantânea desta vivência formativa, com-preensiva, do
desdobramento de possibilidades.
Como consciência pré-reflexiva, processo figurativo de formação de figura e fundo da ação
musculativa e da compreensão, de constitui-ção de dominâncias gestaltificativas resultante
das competições e ar-gumentação entre as possibilidades.
A preensão cognitiva de seus processamentos e dominâncias figurativas é a
compreensão.
A vivência da dinâmica dramática do desdobramento da multipli-cidade e da
organizatividade formativa das possibilidades, em dominân-cias, própria e especificamente
cognitiva é, na vivência de sua momen-taneidade instantânea, o que entendemos como
implicação, e como compreensão, como ação. A nossa vivência ontológica
fenomenológico insistensial, e dialógica.
Na formatividade da momentaneidade instantânea da duração desta nossa vivência
ontológica, fenomenológico insistensial, especifi-camente criamos a nós próprios e ao
mundo. Como inéditos, como acontecer.
Somos então o presente. O acontecer formativo, da fenomenológica da ação, como
vivência do desdobramento implicativo e compreensivo de possibilidades.
Mais que criarmos -- na pontualidade da vivência, presente, da duração da
fenomenológica ontológica da ação --, nós nos superamos, nós somos superação.
A ação é superação.
Superamos o passado, o acontecido, de nós próprios e do mundo.
Na medida em que, presentes, somos o acontecer.
No modo de sermos da implicação, e da compreensão, na com-preensão e na implicação,
na fenomenológica ontológica da ação, nós nos regeneramos, somos regenerabilidade,
regeneração.
Na medida em que somos a vívência contínua da emergência e reemergência de forças,
as possibilidades. Que mais uma vez, e sempre, se constituem implicativa e
compreensivamente.
Regenerativa a ação, a implicação e a compreensão, enquanto modo de sermos no qual
vivenciamos a contínua emergência de forças possíveis, é, por isto, o modo de sermos da
produção de nossa saúde. Tanto como saúde existencial, saúde psicológica; e delas como
compo-nentes de nossa saúde física.
O modo ontológico de sermos da ação – da implicação, e da com-preensão – é, assim, o
modo de sermos da criação, da superação, da saúde, e da regeneração. É o ethos, o
modo ético de sermos, a ética, da criação, da superação, da regeneração, da saúde.

366
Como modo de sermos da vivência da ação, da vivência do desdobramento de
possibilidades, o modo de sermos da ação, da implicação e da compreensão, é própria e
especificamente o modo de sermos da movimentação, da moção. Existencial, psicológica,
e física. Convenhamos que seja a inércia o movimento sem ação...
Como modo de sermos da movimentação, o modo de sermos da ação, modo de sermos
da implicação e da compreensão, é assim o modo de sermos da moção.
Enquanto tal é o motivo modo de sermos da motivação.
E, motivo, emotivo, motivação, é o modo de sermos da emoção.
Modo ontológico de sermos, fenomenológico insistensial, e dialó-gico, é o modo de sermos
implicativo e compreensivo. É, assim, o ethos, ética, o modo ético de sermos da moção, da
movimentação fenomenológica, ontológica, dialógica; o modo ético de sermos da emoção,
da motivação. Modo ético de sermos da ação, da criação, da superação, e da
regeneração.
De nós próprios e do mundo que nos diz respeito.
Implicação, implexação, e sua concomitante compreensão.
O modo ontológico de sermos da ação, fenomenológico insisten-cial, e dialógico,
compreensivo, implicativo, gestaltificativo – ética da ação, da movimentação, moção,
emoção, motivação; criação, supera-ção; e de regenerabilidade, regeneração, da saúde,
da grande saúde --, é o modo ético de sermos da duração da vivência gestaltificativa do
desdobramento de plexos, ou seja, de multiplicidades autoorganizativas de possibilidades
– implexação.
Que gestaltificativamente se constituem como ação. Implicação.
PerPLEXIdade. PerPLEXIficação.
Enquanto tal, implicação e compreensão, perplexidade, perplexificação, constituem o
metodológico modo de sermos, a ética, da ação, da movimentação – moção --, emoção,
da motivação; da criação, e da superação.
Como tais, perplexidade, implicação – a duração da vivência da travessia dos plexos de
possibilidades, no modo pré-reflexivo de sermos– a perplexificação, configura, não só a
ética da ação – da moção, da emoção, da motivação, da criação, da superação, e da
regeneração, da saúde – mas a sua própria metodológica.
A ética e a metodologia da ação – da moção, da emoção, da moti-vação, da criação, da
superação, e da regeneração, da saúde – é a perplexidade característica da vivência do
modo de sermos da ação – fenomenológico insistensial e dialógico, compreensivo,
implicativo, gestaltificativo.
A perplexidade, perplexificação, a implicação e a compreensão, têm as suas próprias
condições de possibilidades. Condições próprias e específicas da vivência da duração da
momentaneidade instantânea do modo de sermos da ação, do desdobramento de
possibilidades.
Em primeiríssimo lugar, o caráter de instantaneidade e momenta-nea da duração de sua
vivência perplexa.
Pulso que se esvai é a duração da momentaneidade instantânea da vivência da
implicação, da vivência da ação, e da compreensão, da vivência da perplexidade.
Em sendo forças, as possibilidades, emergem fortes, potentes. E se despotencializam, à
medida em que se desdobram. Buber diria, toda ação envolve uma desatualização...
A perplexidade, a ação, é instantânea e momentânea. E decadente, segundo a
terminologia de Heidegger.
Ao decaírem as suas forças, a possibilidade instala-se como coisa.
Até que a dialógica abertura estética para a coisa, em sua instalatividade coisificativa, mais
uma vez, desvende a possibilidade em sua instalação.
Desvendamento que, estalação do possível, mais uma vez, então, se desdobra, como
ação.
Em segundo lugar, é preciso considerar que, diferentemente do modo de sermos da
explicação, o modo de sermos da implicação, e da compreensão, especificamente é pré-
reflexivo, não é reflexivo; é despropositativo, não é proposital; está fora do eixo da
367
causalidade, das causas e dos efeitos, característicos do modo explicativo de sermos; a
perplexidade da implicação não é da esfera da utilidade, não é pragmática, como o é o
modo acontecido de sermos da explicação; e o modo de sermos da perplexidade
implicativa, e compreensiva, é da ordem do modo de sermos da possibilidade, da vivência
da possibilidade, e não é da ordem do modo de sermos da realidade. Que é característica
do acontecido modo de sermos não perplexo, da ex-plicação (Ex-plexação).
A reflexividade se constitui no modo acontecido de sermos.
Coisificando-se ônticamente como acontecido, a consciência ins-pectativa do ator se
cinde, na constituição do sujeito e do objeto, e da sua dicotomização.
A consciência do sujeito flete, flexiva e reflexivamente, face ao objeto que se lhe depara. E
isto propriamente se constitui como a reflexão do modo acontecido, explicativo, de sermos.
Não mais jeto, não mais pro-jeto -- característicos da ação, característicos do modo de
sermos do ator, e do acontecer --, reflexivo, o modo de sermos do acontecido estrutura-se
na dicotomização entre o subjeto flexivo, re-flexivo, e o objeto que se lhe depara, ao qual
contempla como espectador.
A reflexão é teorética. É a contemplação do objeto pelo sujeito. Que se dá no reflexivo, o
modo acontecido, modo coisa de sermos.
A perplexidade compreensiva é, especificamente, pré-reflexiva. Fora, e anterior, à
dicotomia sujeito-objeto. Modo de sermos da ação.
Eu-tu, a ação é dialógica.
A dialógica da relação eu-tu, sobretudo, não é dicotomia sujeito-objeto. Vivência ontológica
e dialógica do desdobramento de possibili-dades, a perplexidade da ação dá-se no modo
de sermos do acontecer: modo de sermos do ator. E não no modo reflexivo de sermos,
modo acontecido de sermos, dos sujeitos e objetos.
Vivência ontológica e dialógica do desdobramento de possibilida-des, a perplexidade
compreensiva, a ação, em sua atualização, está fora do eixo da causalidade. Não é da
ordem das causas e dos efeitos.
Da mesma forma que, inutilidade produtiva da ação, poiética, além de especificamente
estética, a perplexidade compreensiva está fora do eixo da utilidade, dos úteis e dos usos.
As utilidades, os úteis e os usos dão-se no modo acontecido de sermos da instalação
coisificativa, da coisa. No modo de sermos dos úteis nós não criamos – inclusive não
criamos úteis e usos, utilidades...
E, vivência da possibilidade, acontecer, a ação em seu desdobra-mento, a vivência da
perplexidade compreensiva, não é da ordem da realidade.
A realidade é o acontecido, em sua condição de coisidade instalativa. A perplexidade
compreensiva é vivência do acontecer da ação, vivência do desdobramento da ação, como
vivência da duração do desdobramento de possibilidades.
De modo que a metodológica da perplexidade compreensiva da ação pressupõe a
preservação de suas condições de possibilidades.
A condição de instantaneidade momentânea da vivência do acontecer fenomenológico
existencial e dialógico; compreensivo e implicativo, gestaltificativo da ação. Seu caráter
pré-reflexivo, e de ação desproposital. Seu caráter de experiência não causal, não
causativa; desproposital. Seu caráter de vivência da inutilidade produtiva. E seu caráter,
vivência do desdobramento de possibilidades, de acontecer do desdobramento
compreensivo da ação.
Dentre suas qualidades, como vivência pré-reflexiva, a perplexi-dade compreensiva da
vivência da ação é eminentemente dialógica. Dialógica na medida em que, própria e
especificamente, é intrínseca interação com a outridade, no modo de sermos da produção
de sentido, e de ação, sentidação. Na duração instantaneamente momentânea, e sempre
recorrente, da esfera interativa do compartilhamento da ação, e do logos: do sentido.
A interatividade da relação com outridade. Outridade da natureza não humana, a outridade
humana -- inter-humana --, a outridade do sagrado.
Privilégio da vivência ontológica na atualidade e presença de sua duração, a perplexidade
implicativa, enquanto metodológica, é eminen-temente dialógica.
368
Dialógica, na momentanidade instantânea de sua duração, en quanto ação, enquanto
acontecer, nunca é dicotomia sujeito-objeto.

369
EXISTÊNCIA EMOÇÃO E MÉTODO
nas psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais
A EMOÇÃO É O MÉTODO

370
EXISTÊNCIA EMOÇÃO E MÉTODO
nas psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais
A EMOÇÃO É O MÉTODO
Afonso Fonseca

O episódio existencial é ação. Em sendo ação, é emoção.


Moção, a emoção é assim constituinte do episódio existencial, e do episódio da ação.
De modo que é um seguro indício de método, para a metodologia das abordagens
fenomenológico existenciais de psicologia, e psicoterapia.
Não num sentido pragmático, mas no sentido de direção metodológica.
Neste sentido, as emoções têm, sempre tiveram – às vezes desinformadamente – um
valor diferenciado. Chegando às raias da histeria, ou de procedimentos que visavam
produzir a emoção. O que seria, mais ou menos, como quer que o rabo abanasse o
cachorro.
Não. No máximo, a emoção serve como indício de direção metodológico. A emoção não
tem um valor pragmático. Erro grave, entender que tenha.
Já o surgimento da emoção é próprio da atualidade existencial do cliente, e do terapeuta,
ao longo da dialógica poiética da terapia, ou trabalho psicológico.
Mal entendida, no meio pragmático norte americano, tentou-se se ver de um modo
pragmático a emoção. Certos de que este seria o caminho para o método. Esforço vão,
conducente esterilidade e a histeria.
Alguns esforços francamente histéricos. Tanto no campo da arte expressionaista, como do
método psicológico.
Se foi, assim, é importante que entendarmos a emoção, e o seu efetivo valor
metodológico.
Existência é moção, ação; e ação é emoção. São conditio sine qua non uma das outras.
De modo que, quando uma há, as outras estão presentes. E presente está o modo
ontológico de sermos. Modo de sermos da existência e da ação. E o que nos interessa é
trabalharmos na vigência deste modo de sermos, no episódio da ação. No episódio
existencial.
O episódio existencial está matizado pela emoção. Expressivo de sua dialógica.
Não se trata, pois, de utilizar a emoção, como recurso metodológico, mas de aceita-la,
afirmar, e permitir a sua expressão plena. Recordando, sempre, que o episódio existencial,
o episódio existencial da ação, direciona-se à ação, mas é desproposital. Desprositativo.
Este caráter desproposital da ação, do episódio existencial, é da maior importância. E, da
maior importância, saber manter o respeito por, e lidar comr ele. A força da ação é a
dialógica da possibilidade, e não qualquer propósito, conceitual, ou não. Deliberado, ou
não.
É importante estar consciente de que nunca é em vão lidar com a emoção. Fenomeno-
lógica, a emoção tem a sua lógica. Mesmo que estritamente seja a lógica de seu sentido.
Como a ação, a emoção não é uma hemorragia, sangria desatada. A emoção é natural e
saudável.
A emoção tem os seus limites. Que são os limites intrínsecos à possibilidade. E, tudo que
a emoção pede, é expressão e atenção. Recebidas, a oportunidade da dialógica da
expressão e da consideração, ela se esvai, como uma chama, satisfeita.
Na consideração, e lida com a emoção, reside muito da substância da arte gestaltificativa.
A emoção é uma dimensão do episódio da ação. Que, em sendo moção é emoção. A
ação, é cognição pré-conceitual, é compreensão. A ação é motivação; é criação
gestaltificativa; é superação; e regeneração. Todas estas dimensões gestaltificativamente

371
integradas, que constituem a totalidade significativa do ato., do episódio existencial.
Eminentemente gestaltificativo..
È necessário um senso gestaltificativo, que pode apreender o sentido destes elementos, e
outros, como totalidade significativa, que são, diferentes da soma das partes.

372
ESTÉTICA DA EMOÇÃO
EMOÇÃO DA ESTÉTICA
E o trabalho em psicologia fenomenológico existencial dialógica

373
ESTÉTICA DA EMOÇÃO
EMOÇÃO DA ESTÉTICA
E o trabalho em psicologia fenomenológico existencial dialógica
Afonso Fonseca

A emoção é eminentemente estética.


A estética, propriamente dita, é emocionada.
Isto é uma tautologia, e uma obviedade.
A estética é a abertura à emoção.
A moção, a emoção da atualização de possibilidades, do episódio da ação, o episódio existencial,
move-se esteticamente, pela estesia, a atualização de possibilidades. A ação. O episódio existencial.
Sem estética não existe emoção. Sem emoção não existe a moção, a estesia, e sua emoção intrínseca.
Que nos oferecem a opção da estética... A ética da estesia.
O estesio é o vento de moções que sopra numa determinada época do ano, na Grécia. E que
impulsionava as velas dos navios, a fazerem-se ao mar, para as navegações.
Com o tempo, os gregos começaram a entender o impulsionamento do estesio como similar a força
da vivência das possibilidades.
Vivência esta que eles designaram como estesia.
Ficando, como estética, o modo de sermos da estesia. O modo de sermos do episódio existencial, da
existência, da ação. o modo de sermos do desdobramento de possibilidades. As forças foças plásticas
da ação. O modo pré-conceitual de sermos do episódio existencial da ação.
A ação é eminentemente atualização de possibilidades.
A ação é, portanto, especificamente, estética.
A emoção é um dos componentes da ação, e dá-se ao modo de seremos da ação. De modo que a
emoção é especificamente estética. E a estética, especificamente ação, emocionada.
Especificamente, o episódio existencial da ação, o episódio estético da ação, é um fazer. E um fazer
que, partindo da vivência de uma projetação fenomenológica, prima por vir a ser. Na duração do
episódio, refluindo quando concluso.
Ora, em sua temporalidade própria, a ação, e sua moção, emoção, percorrem um percurso formativo,
um fazer, da vivência da projetação à vivência de sua conclusão.
A vivência deste percurso, que é um fazer, concluído, é um perfazer. E o feito, um perfeito. Na
perfeição feito.
Efetivamente, o modo de fazermos estético é este.
Ainda que isto nada tenha a ver com o aspecto moral, atribuído normalmente ao termo perfeição.
Nem à comparação de seus resultados com um modelo abstrato.
Estética, a emoção é feita similarmente. A emoção é perfeita em sua estética. E é necessário que se
dê tempo ao seu fazer.
A feição da emoção não tem a temporalidade cronológica. Mas a temporalidade dialogicamente
poiética de Kairós. Da oportunidade que Kairós oferece com a dádiva de sua possibilidade, e do vir a
ser da dialógica poiética de sua atualização. E perfeição.
De modo que, o caráter estético da vivência da emoção, coloca-nos os desafios de uma arte, no
âmbito da metodologia dos trabalhos com a psicologia fenomenológico existencial dialógica. E não
de técnicas. De metodologias do acontecer, da ação; e não do acontecido.

374
PRÁTICA E FENOMENÁTICA
Afonso Fonseca, psicólogo.

Existe uma fenomenática.


Toda ação que se preze é, por definição, fenomênica, fenomenológica: fenomenática. Por
definição. O vir a ser da dramática da vivência do desdobramento de possibilidades.
Já a ‘ação prática’, mal revela o seu caráter fraudulento, no seu próprio conceito e sentido. A ação
não pode evitar de comprometer a sua forma, o seu sentido, quando se define enquanto ‘prática’.
Porque o prático é o útil. E o útil, é o existente. O acontecido, o dejeto. O afastamento do jeto.
Objeto, e não transjeto; durador na tranjeticidade da momentanei instantânea da ação.
Eliminando o caráter de novidade da ação. O seu vir a ser...
È necessário fazer uma distinção, e mesmo uma análise diferencial.
Do ponto de vista ontológico, ação prática é, apenas, uma contradição em termos. Não existe ação
prática. Não existe a ação destinada a uma utilidade. E a praticidade se define pela utilidade. O
prático é o útil. E, para tal, é o objeto. A ação, em sua fenomenática performativa, carece de ser
eminentemente inútil, definindo-se desta maneira. Para abrigando a constituição da forma original,
que a novidade da possibilidade enseja.
O pragma, de onde deriva a noção de prática, designa, eminentemente, a utilidade.
Impõe-se, então, a questão: existe uma ação não prática?
Existe!
A ação propriamente dita?
A ação, propriamente dita não é imediatamente útil. Não é prática.
Em sua performática, performativa, a ação, propriamente dita, carece de sua inutilidade. E aproveita
assim otimamente do mergulho na implicação das possibilidades, na criatividade e na superação de
seu devir.
De modo que, a inutilidade da ação não é uma característica circunstancial da ação, mas uma
conditio sine qua non da performática de sua constituição.
A implicação compreensiva, constituinte do episódio existencial da ação, constitui-se na vivência da
vagância performativa pelas intensidades das possibilidades do episódio da ação. A partir da
intensidade operativa das possibilidades.
E não a partir de nenhum objetivo extrínseco, como o seria o de suas utilidades.
Os produtos da ação derivam, intrinsecamente, da vivência formativa, performativa, da dialógica
poiética da ação de seu ator.
Os produtos práticos, úteis, atendem a suas especificações abstratas. Comparáveis a um modelo
teórico ideal.
Os produtos da ação, além de não serem úteis, não se constituem nem subjetiva nem objetivamente.
Não são da ordem da causalidade, mas da dialógica da poiética da estética da atualização de
possibilidades. São transjetivos. Os produtos ação/ prática, acontecidos, são dejetos.

375
DESPRETENSÃO

376
DESPRETENSÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Que palavra maravilhosa.


'Tensão', 'pre-tensão', 'des-pre-tensão'..
Como a Humanidade deposita nas palavras a sua sabedoria,.ao longo da História.
Pois 'despretensão' é uma dessas palavras; que guarda em si alguns dos segredos fundamentais da
ação.
A arte da dramática da ação é, eminentemente, 'despretensiosa'.
A arte da dramática da ação, de dela retirar o ótimo de sua possibilidade, é, eminentemente,
despretensiosa... A ação é leve e despretensiosa.
A pretensão, pré-tensão, da ação é o malogro da ação, em suas possibilidades.
A necessária dialógica poiética das posssibilidades; demanda a sincronia entre a iniciativa e o
desdobramento das possibilidades.
Como Buber diz, não sou eu que crio a possibilidade, mas a possibilidade não acontece sem mim...
'Da mesma forma, a sutileza, a arte da sincronia, e da efetividade, da estética beleza da ação. Em seu
devir, compreensão, muscularidade...
Além do mais, a ação é eminentemente não causal, está fora das relações de causa e efeito. Não é
objetiva, nem subjetiva. Não é teórica, ato de um espectador. Mas inspectativa. Pré-reflexiiva e pré-
conceitual.
Na despretensão, a ação acontece como a arte dramática da vagância, e da extra-vagância -- muto ao
modo do 'caminho do meio' do tao, e do zen..
De modo que a arte dramática da ação, na sua efetividade e delicadeza estética, carece de ser não
pretensiosa.
Despretensiosa. Tensiosa, sim.
Não pré-tensiosa,
Des-pré-tensiosa.

377
TRANSJETIVIDADE. PROJETIVIDADE

378
TRANSJETIVIDADE. PROJETIVIDADE
Afonso Fonseca, psicólogo.

Definitivamente, não é suficiente, nem adequado, falar de subjetividade, objetividade, nem


de sujeito, ou de objeto, para designar e descrever os modos de sermos, em relação à
ação.
Em relação à ação, todos estes termos, bastante usados, referem-se ao modo de sermos do pós-ação,
ao modo acontecido de sermos da ação, ao modo, não 'jeto', mas 'dejeto' de sermos.
De modo que são absolutamente inadequados, para designarmos o modo de sermos da duração da
vivência da ação. A que designamos por 'transjetividade'.
A ação se caracteriza pelo desdobramento de possibilidades. Desdobramento este que se constitui em
'jeto', em jato, enquanto desdobramento de forças.
A posteriori da ação, temos o 'afastamento da ação'. Que é o 'ob-jeto', e o 'sub-jeto'. Especificamente,
enquanto 'acontecidos' da ação.
À Fenomenologia existencial da ação, em particular, a fenomenologia existencial, e a fenomenologia
gestaltificativa da ação, interessam, sobretudo, o modo de sermos durante a duração da própria ação.
Na duração com o jeto da ação.
A que chamamos de transjetividade.
Porque, em particular, a momentaneidade instantânea interina da vivência da ação é o modo de
sermos da ação. Da implicação. Da compreensão e da musculação implicativas. Da ação. Do vir a
ser da duração da ação. Da vivência de sua presença e atualidade.
Que se dão como o 'jato', o 'jeto' do desdobramento de possibibilidades, do desdobramento da
compreensão e da musculação.E nunca poderia ser um 'afastamento do jeto', objeto, ou subjeto. Uma
vez que 'projeto', 'projetividade', em específico, são o próprio jeto, transjetividade. Não
desjetividade, mas projetividade.
A projetividade é um crucial e definidor aspecto da ação. A ação é um modo de sermos, projeto, Na
medida em que favorece o jeto da ação. Tanto na antecipação de sua formação, de sua
gestaltificação, como enquanto jorro den compreensão e de musculação, desdobramento de
possibilidades. Projeto que guia, e se conclui, com o desdobramento de possibilidades da ação.
Assim, a transjetividade é projeto, na medida em antecipação da forma do objeto, em devir na ação.
E é 'projeto' na medida em que este vivência de jorro da compreensão e da musculação. Na medida
em jorro da ação.

379
CONSIDERAÇÕES SOBRE TRANSJETIVIDADE

380
CONSIDERAÇÕES SOBRE TRANSJETIVIDADE
Afonso Fonseca, psicólogo.

A categoria de 'transjetividade' atende à lacuna deixada pelas idéias de 'objetividade' e de '


subjetividade'.
Os conceitos de objetividade referem-se á condição de dejetos. Á condição do acontecido.
Sempre precisamos em Fenomenologia, em abordagem fenomenológico existencial, caracterizar e
definir o modo de sermos da ação. Que não é nem a objetividade nem a subjetividade. Na medida em
que a ação, própria e especificamente, não é a experiência do acontecido, como em subjetividade e
em objetividade, mas a própria vivência da eventualidade do acontecer. Da eventualidade da ação.
Mas, perguntar-se-ia,: o acontecer, a ação, são dotados de consciência?
Sim.
Mas não é nem a condição objetiva, nem a subjetiva.
Que são formas acontecidas, desesjetativas, reflexivas e conceituais, da consciência. Mas a
consciência pré-reflexiva, e pré-conceitual.
A transjetividade é, pois, pré-reflexiva e pré-conceitual.
E, se a objetividade e a subjetividade são modo de sermos do acontecido, desjetivas -- projetativa, a
transjetividade é a consciência, em seu acontecer. A consciência especifiamente no modo de sermos
da ação. Em que vivenciamos o jorro da compreensão, e da musculação, como desdobramento de
possibilidades.
Ora, em sendo a vivência que perdura na duração da instantaneidade momentânea do episódio
fenomenológico existencial -- do episódio fenomenológico, do episódio existencial, da ação --, a
transjetividade contém as características da ação.
Basicamente, como dizíamos, que a transjetividade não é reflexiva, nem conceitual.
E isto não é pouco, enquanto característica.
.
Mas mais, neste sentido.
Atualização de possibilidades, a vivência da transjetividade não é, assim, nem objetiva, nem
subjetiva. É pré-reflexiva.
Atualização de possibilidades, a vivência da transjetividade é especificamente desproposital. É um
despropósito.
Esta fora das relações de causa e efeito. Não é causal.
Atualização de possibilidades, a vivência da transjetividade é formativa, criativa, gestaltificativa.
É o modo de sermos da superação. O presente de nosso salto para o futuro.
É o modo de sermos da regeneração.
Todas estas são características, em específico, da transjetividade.
Enquanto características do desdobramento de possibilidades.
Da ação, em seu acontecer.

381
INTUIÇÃO DA INTENSIONALIDADE DA AÇÃO, E O CÁLCULO.

382
INTUIÇÃO DA INTENSIONALIDADE DA AÇÃO, E O CÁLCULO.
Afonso Fonseca, psicólogo.
CASA DE GESTALT

Duas formas de avaliação são o cálculo e a dialógica da intuição da intensionalidade da


ação. Qualitativamente diferentes, são formas que correspondem aos modos ôntico, e
ontológico de sermos.
Metodologicamente -- na medida em que privilegiamos o modo ontológico de sermos --, a
dialógica da intuição da intensionalidade da ação é o nosso recurso fundamental. De
conhecimento, e de atuação.
Na intuição -- a imediaticidade da vivência pré-conceitual e pré-reflexiva da implicação --, a
intensionalidade da ação, além de constituir-se em musculação, especificamente se
constitui como compreensão.
A ação é vivência do desdobramento de forças.As possibilidades.
Forças plásticas, indicaria Nietzsche. Estéticas, poiéticas.
E, o episódio da ação acontece, desdobra-se, na vivência do modo ontológico de sermos.
Vivência especificamente do desdobramento de forças, o episódio da ação é, assim,
experimentado intuitivamente, como uma tensão -- tensão de mobilização. É tensional,
intensional.
Sua vivência é, pois, a intensionalidade. Sua vivência é intensional.
Uma tensionalidade, intensionalidade, que é vivida como intuição.
Imediata. Já que desprovida da mediação da inércia do conceito-- na medida em que se
dá, e se desdobra, na vivência episódica do modo pré-reflexivo, e pré-conceitual de
sermos.
Cessando -- instalando-se coisificativamente --, ao desguar no modo propriamente
reflexivo e conceitual de sermos, modo ôntico de sermos da instalação da coisa.
Na sua duração, todavia, a ação é imediatamente consciente, cognição, o conhecer,
propriamente dito, pré-reflexiva e pré-conceitualmente – intuitivamente,
compreensivamente --, como intuição de sua intensionalidade. A intuição, compreensiva,
da intensionalidade da ação.
Para nós, que adotamos uma metodologia fenomenológico existencial, é a vivência da
intuição da dialógica da intensionalidade da ação que se constitui como o elemento básico.
Elemento básico, de conhecimento, e de atuação. Sempre eminentemente compreensivos.
Na duração da instantaneidade momentânea de sua pontualidade improvisativa, a
compreensão -- constituída nos fluxos intuitivos da intensionalidade da implicação da ação
--, é a intrínseca fonte orientação e atuação, na dialógica do episódio da ação. A cuja
efeméride corresponde, e pertence.
Implicativa, e compreensiva -- imediata e improvisativa, pré-conceitual e pré-reflexiva --, a
compreensão nada tem do cálculo. Característico do modo ôntico de sermos.
Temos assim
1. a intuição da intensionalidade da ação, ontológica. Na compreensão;
2. E o cálculo, eminentemente ôntico. Explicativo.
Característico do modo ôntico de sermos, o cálculo, é, portanto, explicativo -- e não
implicativo. Reflexivo, e conceitual. Mediatizado pelo conceito.
Não é intuitivamente imediato, mas mediatizado pelo conceitual, pelo conceito.
Pelo conceito do dígito, pelo conceito dos dígitos.
Explicativo, o cálculo é reflexivo, e conceitual.
De modo que são duas formas de avaliarmos. Cada uma com suas funções,
circunstâncias, características, e condições próprias.
A dialógica da intuição da intensionalidade da ação. E o Cálculo.
383
Quando começamos a perder a noção da oportunidade, e da pertinência, de cada uma
destas formas de avaliarmos?
A verdade é que a noção da oportunidade da pertinência de cada uma delas é intuitiva.
Tão grande a distinção entre a pertinência e as qualidades de cada uma delas, que
naturalmente intuitiva, sensível, é a escolha da oportunidade de cada uma delas.
Mas, como a oportunidade da pertinência do ôntico e do ontológico, a confusão, ou uma
rígida e não intuitiva escolha é cada vez mais comum?
Não há como confundir. E não como deixar de compreender a sensibilidade e o valor
ontológico da intuição da intensionalidade da ação.
Se quisermos sumariar:
A intuição da intensionalidade da ação é para a duração dos momentos quando estamos --
e o parceiro da dialógica --, estamos vivos e ativos. Quando somos ação.
O cálculo é para quando estamos mortos.
Exagero dizermos mortos.
Porque, efetivamente, estamos encistados na instalação como coisa.
Que não é ação -- mas que pode voltar a sê-lo. Desinstalada a instabilidade da instalação
coisific(in)ativa...
A intuição existencial, não há como confundir...
Dá-se a dialógica da intuição da intensionalidade da ação quando vigora o episódio da
ação. Quando vigora, não reprimido, o modo ontológico de sermos.
De modo que a ação toda está impregnada pelas condições e características deste modo
ontológico de sermos.
A ação, e a intuição da dialógica da intensionalidade da ação, estão marcadas pela
radicalidade de um modo de sermos que é atualidade e presença, presente e atual, e não
passado...
Que não é reflexivo, não é dicotomia sujeito-objeto.
Modo de sermos da ação, é o modo de sermos do ator – e não o modo de sermos do
sujeito.
O modo pré-conceitual de sermos.
Modo não pragmático de sermos, no qual não vigora a utilidade.
Um modo de sermos no qual não vigora a causalidade.
Modo de sermos no qual não vigora a realidade, mas a vivência da possibilidade. A
atualidade, a presença. A ação. Modo estético e poiético de sermos.
O modo de sermos da ação, da intuição da dialógica da intensionalidade da ação, é o
modo de sermos da moção, do movimento, existencial. É o modo de
sermos da emoção, do pathos da sensibilidade emocionada.
É o modo de sermos da cognição efetiva, a compreensão.
É o modo de sermos da criação.
Da superação.
E da regeneração.
Exagerando na metáfora, mas só didaticamente, poderíamos dizer que o cálculo é modo
de lidarmos com coisas mortas. Em estando morto.
Não! É o modo de lidarmos com o que se instalou, ou com o que instalamos, como coisa.
O Cálculo, naturalmente, não tem as propriedades ontológicas do modo de sermos da
ação. Porque o Cálculo não é ontológico. Não é pré-reflexivo, nem pré-conceitual.
Ou seja:
É inércia, não é moção, como movimento da atualização de possibilidades. Ação.
Atualidade e presença.
384
Não é moção, e não é emoção, não é motivação. Não é o pathos da sensibilidade
emocionada.
Constitui-se o objeto, e o sujeito, e o cálculo em específico, é reflexivo.
Não é cognição efetiva, compreensão, como conhecer.
Não é motivação.
Não é criação.
Nem superação.
Nem regeneração.
Sobretudo, o cáculo não é sentido, é conceito. O cálculo não é a vivência da constituição e
desdobramento do sentido. O cálculo é conceitual. E perde a densidade da multiplicidade
do sentido, para se constituir na esfera do conceito.
Como é que os humanos vieram a confundir, ou a priorizar, a oportunidade do cálculo, em
detrimento da dialógica da intuição da intensionalidade da ação, do sentido?
Independente disto, para os que adotam competentemente uma metodologia
fenomenológico existencial, não há como confundir.
O cálculo, naturalmente, tem assegurado o seu lugar próprio.
Mas a proficiência na metodologia fenomenológica demanda uma familiaridade com a
oportunidade da dialógica da intuição da intensionalidade da ação -- como elemento
metodológico central.
Perguntado acerca do como se instrumentalizava uma metodologia gestaltificativa, Fritz
Perls simplesmente teria respondido: 'não atrapalhando...'
Hoje poderíamos dizer: porque a ação é o desdobramento de uma força. Se não
atrapalharmos, esta força impor-se-á como como experimentação. Como compreensão e
como musculação. Como hermenêutica.
Mas tem mais.
Hoje poderíamos dizer: não atrapalhar, e intuitivamente seguir os refluxos e fluxos da
dialógica da intensionalidade da ação.
E isso é especificamente arte. Arte à qual se liga o labor com uma metodologia
fenomenológico existencial e dialógica.
Buber já diria: a possibilidade não acontece sem nós, mas não somos nós que a criamos...
A possibilidade que nos move na dialógica da ação, e que move a ação em específico, é
um tu. Interagir com seus fluxos, a eles vincularmo-nos é dialógica.
O episódio da existência, episódio da ação, tem seus grandes movimentos, o que incita
uma dialógica. E, a cada momento, é dialógica, a interação intuitiva com as
intensionalidades da ação.

385
IMPLICAÇÃO. SIMPLIFICAR O COMPLEXO. COMPLEXIFICAR O SIMPLES.

386
IMPLICAÇÃO. SIMPLIFICAR O COMPLEXO. COMPLEXIFICAR O SIMPLES.
Afonso Fonseca, psicólogo.

A implicação, que é a vivência do desdobramento de posssiblidades, na vivência do


desdobramento da ação, contém este paradoxo.È um processo de siPLificar o comPLexo,
e comPLexificar o simpePLes.
Não é à toa que os termos têm todos o radical PL, de 'plic', 'plexo', em grego.
Porque a vivência do desdobramento de possibilidades é a vivência do desdobramento de PLexos.
De gestals.
Ora, as possibilidades são múltiplas.E a ação e o seu sentido são constituídos a partir dessa
multiplicidade e dela extraem suas características. Sendo especificamente, 'não purificáveis,
'inimputáveis, na constituição de seu sentido.
A vivência do sentido, na vivência do episódio da ação, é, assim, múltipla. E algo de errôneo
interfere quando ela se simplifica em demasia, ou em demasia se complexifica. Algo está sendo
excluído, ou obscurecido.
Metodologicamente, Rogers e Perls sempre entenderam, e o formularam na ''teoria da mudança
paradoxal' que o caminho nessas situações, é restituir a vivência ontológica da implicação, da qual
há nelas um afastamento.
Porque o fluxo das intensidades do desdobramento das possibilidades, em sua errância peculiar, é
que confere a complexidade da implicação.
A entrega à errância do fluxo das intensidades da implicação significa a vivência compreensiva da
simplicidade ou simplificação da vivência que é desnecessariamente complexa,; ou ums
complexificação da que é simples em demasia.

387
TRANSJETIVIDADE, O INSPECTADOR.

388
TRANSJETIVIDADE, O INSPECTADOR.
Afonso Fonseca, psicólogo.

Costuma-se dizer que o sujeito é o agente da ação.


Nada mais errôneo. Duplamennte.
Porque o sujeito não é o sujeito da ação. E porque a ação não tem sujeito.
Quando o sujeito se constitui, assim como o objeto, a ação já se concluiu.
A subjetividade e a objetividade são próprias do acontecido da ação. E não de seu acontecer.
Na ação em seu acontecer a condição não é a da subjetividade, ou da objetividade, mas a da
transjetividade.
E o agente da transjetividade, o ator, é o inspectador.
Explico-me. A objetividade é reflexiva.Comporta a contemplação ndo objeto pelo subjeto, pelo
sujeito.
De modo que sujeito e objeto constituem-se, cindidamente. E o sujeito contempla o objeto. O que se
constitui teoréticamente. Constituem o que chamamos de 'teoria'.
O sujeito constitui-se, assim, como um contemplador, um espectador, do objeto.
Passada a ação.
Sujeito e objeto, e sua relação teoretica são dejetos.
Acontecidos.
A posteriori da eventualidade da vivvência do desdobrramento de possibilidades, que é a ação.
Pré-reflexiva e pré teórica, a ação, nem o objeto, nem o sujeeito estão constituídos na
instantaneidade momentânea de sua duração. De modo que não pode haver espectação do objeto
pelo sujeito. O sujeito não pode contemplar o objeto.
No decurso da duração da ação o transjeito, a transjetividade, enquanto agente do decurso da ação,
em não sendo um espectador, é um inspectador.
Uma vez que não só não é um espectador, mas é intrínseco partícipe da perspectiva, perspectivação,
da ação, Por isso inspectador.
Que participa da dialógica com o possível, que é a ação.
Mas, em sendo o eu de uma dialógica eu-tu, em momento algum é um sujeito,
Ou o tu um objeto.
Trasjeitos, transjetos inspectadores.
É esta a nossa condiçãao no transcurso da duração da vivência da atualização de possibilidades, que
é a ação.
Na transjetividade da ação.

389
JETO, DEJETOS E TRANSJETIVIDADE

390
JETO, DEJETOS E TRANSJETIVIDADE
Afonso Fonseca, psi cólogo.

A designação e o conceito de ob/jeto (afastamento do jeto), e de sub/jeto --


um objeto, também -- pressupõem o modo ontológico de sermos,
especificamente, como jeto. No modo projeto de sermos.
Na medida que o vigor do modo ontológico de sermos precede a vigência do
ente. O presente precede o ente.
A ação, o modo ontológico de sermos, fenomenológico, e existencial, é assim
desdobramento de forças, as possibilidades. E, por isso, jeto. Jato.
Jeto o modo ontológico de sermos, o modo coisa de sermos, do acontecido, o
modo ôntico, em específico, é dejeto. Já não é mais jeto.
Objetividade, e subjetividade são, portanto, dejetos. Já que o sujeito, e objeto,
só se constituem em sequência ao episódio do modo ontológico,
fenomenológico existensial de sermos. Que não comporta sujeito e objeto,
subjetividade e objetividade.
A ação, que constitui o modo ontológico de sermos, é jeto.
O acontecer, o fenomenal, e existensial ,o modo ontológico, fenomenológico
existensial, o presente, é jeto. O modo ôntico de sermos, o passado, o ente, a
coisa, não fenomenológica, nem existensial, a coisa, é dejeto.
Dejetos, a subjetividade e a objetividade, o objeto e o subjeto, contrapõe-se a
transjetividade. Caracterizada como a vivência, cognitiva -- compreensiva --, e
muscular, do desdobramento de possibilidades, a ação. Que, ação, é drama,
dramática.
Dejeto, o modo ôntico de sermos, diferentemente do modo ontológico de
sermos, estrutura-se na polarização sujeito/objeto.
Na qual, cognitivamente, caracteristicamente, o sujeito contempla o objeto.
Mais, especificamente, objeto contempla objeto.
O sujeito, objeto, é expectador, espectador --, na medida em que é dejeto --,
contempla o objeto, dejeto, no modo reflexivo de sermos.
Na medida em que dobra-se, flete-se sobre o objeto. No modo acontecido de
sermos. No qual só há repetição. Reflexão.
É o que se chama de teórico, teoria.
A dicotomia sujeito/objeto implica, assim, uma forma de cognição particular.
Desjetiva. A forma teórica, reflexiva. A subjetividade, e a objetividade,
desjetividade não poiética, é reflexiva, conceitual, teórica, reflexiva.
Repetitiva.
Já a cognição fenomenológica, e existencial, eminentemente poiética, não se
funda numa dicotomia, não é objetiva, nem subjetiva, desjetiva, já que, em sua

391
poiética, desdobramento de possibilidades, ação, é jetiva, Anterior ao modo de
sermos em que se constituem o sujeito e o objeto.
O ator é inspectador, na medida em que íntegro, é parte da perspectiva
fenomenológico existensial da ação. Ontológico. Se o sujeito é expextador.
O ator é inspectador. Da perspectiva fenomenológico existensial da ação.
E -- se a subjetividade e a objetividade, expectativas que são, são dejetivas --,
a transjetividade é especificamente jetiva, Na duração da vivência, poiética, a
poiética dramática da ação, fenomenológico existensial.
A ação não é subjetiva nem objetiva, mas, em
específico transjetiva. Especificamente, Inspectativa, antes que espectativa.
Nem objetividade nem subjetividade.
Mas transjetividade. Inspectativa. Na duração da dialógica poiética do
episódio do desdobramento de possibilidades, da ação.
O ator é inspectador, na medida em que vivencia, transjetivamente, na
duração da momentaneidade instantânea do episódio da dramática da ação,
a própria perspectiva poética da ação.
Na duração do episódio fenomenológico existensial da ação --, a
duração da dramática da ação é transjeto, transjetiva, transjetividade. Ao
invés de objetiva/subjetiva; objetividade/subjetividade.

A transjetividade do modo ontológico de sermos é, especificamente,


preconceitual. A subjetividade e objetividade, o modo ôntico de sermos, em
específico, é conceitual.
Cada episódio ontológico da vivência do desdobramento de possibilidades --
episódio da fenomenológica existensial da ação --, desenvolve-se
intensionalmente, a partir da vivência de uma multiplicidade de forças, as
possibilidades. Que se organizam em plexos -- plics. Na intensionalidade do
processo da implicação. Que constitui a ação.

O modo ôntico de sermos é explicação.

Cognitivamente, o sentido se constitui como compreensão. Na vivência da


duração do episódio da ação, da implicação.
Na vivência da duração do episódio fenomenológico existensial da
implicação, o sentidoque se dá como compreensão, aufere a sua especificidade
e riqueza da força e da multiplicidade de possibilidades, organizadas
nos plexos paroxísticos da ação. Os plexos -- plic -- são multiplicidades
organizadas.
Essa multiplicidade de possibilidades no processo intensional do episódio da
implicação da ação decai ao longo de sua duração específica. No ponto mais
baixo do decaimento das forças multiplicidade de possibilidades, a dramática
da ação se coisifica, e se extingue, constituindo o modo ôntico, explicativo,
coisificado, de sermos. Que é este empobrecimento e extinção da força e
riqueza das possibilidades.
392
Este processo de reificação, coisificação, da ação é o que entendemos
como conceituação.
O modo ôntico de sermos é, em específico, conceitual. O modo ontológico de
sermos, fenomenológico existensial, da duração da vivência da ação, é, em
específico, pré-conceitual.

393
O CONHECER DO CLIENTE EM PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO
EXISTENSIAL

394
O CONHECER DO CLIENTE EM PSICOTERAPIA
FENOMENOLÓGICO EXISTENSIAL
Afonso Fonseca, psicólogo.

Conhecemos a piada de que um jovem incomodava-se porque fazia xixi na


cama. Um amigo lhe indica um psicoterapeuta. Passa-se dez anos até que eles
se encontrem novamente. E o amigo pergunta:
- E aí, você foi àqule psicoterapeuta?
E ele:
- Fui, sim ainda hoje estoun fazendo terapia.
- E resolveu o seu problema? Quis saber o amigo.
- Eu continuo fazendo xixi na cama. Mas agora eu explico todos os meus
complexos...

Pano rápido...

Naturalmente não é este o resultado que se espera em psicoterapia.

Especificamente como compreensão, o conhecimento efetivo, diríamos


melhor, o conhecer compreensivo, em psicoterapia é imanente a um modo
específico de sermos, que o método pode incrementar, O modo ontológico de
sermos.

A compreensão é ontológica. Não a percepção. Que é ôntica.

A compreensão é o aspecto cognitivo imanente ao episódio do desdobramento


fenomenológico existensial de possibilidades, o episódio fenomenológico
existensial da ação. O modo ontológico, fenomenológico existensial de
sermos.
Na ação, compreensão e musculação são aspectos gestaltificativos.

Enquanto episódio de vivência da atualização de possibilidades, a ação é a


originalidade do movimento, é poiética. Estética. A ação, portanto, é moção.
Movimento.

E, em sendo especificamente moção, propriamente é emoção.

O que confere ao modo fenomenológico de sermos a condição de modo de


sermos da emoção (do pathos, no sentido grego do termo, não no latino), o
modo de sermos da sensibilidade emocionda. Pathológico, patético,
peripatético.

395
Sendo o modo de sermos da moção e emoção, é o modo de sermos
da motivação. O modo motivado de sermos.

Especificamente poiético, o modo de sermos da emergência e da atualização


de possibilidades, é o modo de sermos da criação, através da poiética
dialógica da dramática da ação.

Precedendo -- enquanto episódio, especificamente poiético, do modo


ontológico, fenomenológico existensial de sermos --, precedendo à instalação
do modo ôntico de sermos, o passado, o modo de sermos do ente --
prexistindo e precedendo à instalação do modo coisa de sermos, o modo
fenomenológico existencial de sermos da ação, é o modo de sermos
do presente. Da superação, portanto.

Modo de sermos, da vivência do desdobramento, e da finitude, e do


sofrimento implícito na finitude da atualização, das possibilidades, o modo
ontológico, fenomenológico existensial de sermos, modo de sermos da ação, é
o modo de sermos do retorno, do eterno retorno, da alegria de uma
superabundância de forças de vida.
É, por isso, o modo de sermos da regeneração existensial da vida.

Assim, o modo ontológico de sermos, fenomenológico existensial, a dramática


da ação, é especificamente moção, emoção, cognitivamente compreensão,
motivação, criação, superação, regeneração; ou seja: é motivo, emotivo,
compreensivo, motivativo, criativo, superação.

De modo que o aspecto cognitivo da compreensão -- o conhecer, como ação,


do modo ontológico, fenomenológico existensial de sermos -- é, apenas, o o
aspectoaspecto cognitivo de um todo, em processo, que é diferente de suas
partes, e da soma de suas partes. Totalidade esta que envolve movimento,
emoção, cognição compreensiva, motivação, criação, superaçaão,
regeneração.

Diferentemente da abstração da reificação que é a explicação -- que é,


apenas, a abstração explicativa da dicotomia sujeito-objeto, da subjetividade
ou da objetividade, sem maiores nexos, que se chama teoria --, a compreensão
é o aspecto cognitivo de uma totalidade -- que é diferente de suas partes e da
soma delas -- que na vigência da duração de sua momentaneidade instantânea,
envolve movimento, emoção, cognição, motivação, criação, superação, e
regeneração. Efetivamente pregnante, e promotora de criação, alegria,
superação, e mudança.

O modo ontológico de sermos, fenomenológico existensial e dialógico, da


dramática da ação, tem suas condições próprias -- diferentes das condições do
396
modo ôntico, modo da instalação da coisa, de sermos. A instalação das
condições do modo ôntico de sermos na vigência do modo ontológico de
sermos, destrói as condições do episódio do modo ontológico de sermos, as
condições do modo fenomenológico existensial da ação, e determina o retorno
ao modo ôntico de sermos da instalação da coisa.

As condições da vigência do episódio do modo ontológico de sermos, da


dramática da ação, envolvem as características do modo ontológico de sermos.
Que é pré-reflexivo (nem objetivo nem subjetivo), desproposital, não causal,
não útil (não pragmático); realização, atualização, mas não realidade.
A habilidade de vivenciar naturalmente os episódios fenomenológico
existenciais, ontológicos, da ação, preservando lidando, e transitando, por suas
características intrínsecas, constituem a efetividade da competência
metodológica do psicólogo fenomenológico existensial.
E estas características constituem as características, compreensivas, do
conhecer do cliente, que ele leva em sua vida, na vivência dos episódios
fenomenológico existensias, durante o trabalho psicológico.

Perguntava-se a Fritz Perls como ele implementava o seu método.


Simploriamente, ele respondia:
- Não atrapalhando.

Atrapalhar é trazer características do modo ôntico de sermos -- como a


reflexão, a subjetividade, ou a objetividade, a teoria; a causalidade; o
propósito; a utilidade, o pragmático; a realidade... -- para a vigência dos
episódios ontológicos, fenomenológico e existenciais, da ação, ao longo do
desenvolvimento metódico do trabalho psicológico.

397
A AÇÃO NÃO É SÓ AÇÃO MUSCULAR.
COMPPREENSÃO TAMBÉM É LEGITIMAMENTE AÇÃO
NA MUSCULAÇÃO, A COMPREENSÃO TAMBÉM É MUSCULAR

398
399
Suicídio de jovens no Nordeste 1/9.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO E INTERVENÇÃO NA QUESTÃO DO
SUICÍDIO DE JOVENS NO NORDESTE DO BRASIL

400
Suicídio de jovens no Nordeste 1/9.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO E INTERVENÇÃO NA QUESTÃO
DO SUICÍDIO DE JOVENS NO NORDESTE DO BRASIL

Afonso Fonseca, psicólogo.

São cada vez mais preocupantes as informações sobre o suicídio de


jovens no Nordeste.
As estatísticas, mesmo para profissionais, são como pés de cobra...
Ninguém vê.
Por tabu? Ou seriam mal feitas. Seria o fenôemeno sub notificado?
Um caso a pesquisar. Liminarmente. Uma questão de respeito social.
O fato é que nos chegam, e constatamos notícias cada vez mais
alarmantes.
Especulativamente, podemos pensar que o problema tem múltiplas
causas.
Abordamos aqui alguns dos possíveis determinantes.

Estes múltiplos fatores não devem nos desviar das causas econômicas, como
determinantes mais abrangentes.
Que estressam todos os demais. Geográficos, étnicos, culturais,
familiares, existenciais.

Na verdade, os determinantes econômicos particularizam-se até os


determinantes culturais e existenciais. Agravando-os.
Não podemos esquecer que somos uma sociedade rebelada contra os
poderes coloniais. Indesejada. Indesejada Cidadania... E nada se coaduna tanto
com os poderes coloniais como o suicídio massivo, na população jovem de
cidadãos “espúrios”.
Seria interessante traçar relações entre a teratologia do fenômeno
carcerário brasileiro e a onda de suicídios de jovens, no Brasil.

401
Sobretudo, não podemos reificar os determinantes, individuais e existenciais,
como certas formas de moralismo, e de orientação religiosa, gostariam de
fazê-lo, com fins políticos.

Sem dúvidas que a trincheira existencial é uma trincheira fundamental


da resiliência.
Mas, o que, e como, se fragiliza esta fronteira, ou o que a faz
inoperante?

Argumentar-se-á que não só jovens de classes pobres se matam -- ainda que


eu ache que jovens pobres, estatisticamente, se matem muito mais.

Não se trata disso...

Sabemos que, por motivos diversos, a alienação capitalista destrói o humano


em ambos os pólos do espectro econômico.

Primeiro, perguntar, onde falha a resiliência?


Porque alguns se matam, mas muitos, com difíceis, dificilimas
situações de vida, não o fazem?
Niilismo, e impotência existencial. Com a resultante incapacitação para
a produção de sentido, para a criação, superação, e regeneração...
Não haveria surpresa nisso.
É preocupante. Mas não há novidade em constatar que, cultivando a
impotência existencial em suas diversas vertentes -- o niiilismo, e o
ressentimento, como cultiva -- nossa civilização é, existencialmente, uma
civilização suicida.
Produz sistemática e meticulosamente os fatores do niilismo, e da
impotência existensial. Os fatores condicionantes do suicídio.
No modo de lidar com o ambiente, no modo de lidar com
individualidade, com a criação e a superação; no modo de lidar com o corpo,
no modo de lidar com a Educação, na Religião, na Cultura, no esporte, na
política...
Todos estes aspectos da cultura podem ser pesadamente
responsabilizados, como cúmplices, da pesada produção da impotência
existencial em massa. E, com isso, de minar a constituição das capacidades de

402
criatividade e de superação, a regeneração existenciais, e a resiliência nas
pessoas.
Se isso ocorre nos grandes centros, imagine nos pequenos e
interioranos...
Como dizia Darcy, precisamos entender que isto é projeto. E não
consequência...
A impotência existencial, o niilismo, têm outras alternativas que não
sejam, simplesmente, o suicídio...
Mas a impotência existencial, e o niilismo, vulnerabilizam o indivíduo,
na trincheira existencial da resiliência. Em suas capacidades de ser criativo, e
de superação, necessidades que são colocadas à pessoa, por motivos
culturais,econômicos, e existensiais.
Sobretudo, o acesso à potência existencial, à vivência e atualização de
possibilidades, a ação, no modo ontológico de sermos, se liga à capacidade de
produção de sentido na existência. Condiçãoes existenciais cuja carência
vinculam-se às condições de possibilidade do suicídio.
Sentido não é algo que se produz, e que permanece como uma estrela
guia da existência.
Sentido, logos -- do ponto de vista fenomenológico existencial-- se
produz como dimensão de cada ato, de cada episódio existensial.

Única forma em que é possível elaborar criar, conhecer, e superar-se,


atualizar, expressar, interpretar um sofrimento: atualmente. Sofrendo.
O que permite a atualização de finitudes, e o retorno de forças, da
potência de vida. Permite a consistência e a vitalidade da atualização da
potência existencial.
A constituição do sentido é pois intrínseca à ação, ao episódio
existensial.
Que, igualmente, se constitui como emoção e conhecer.

Não obstante, não existe existensia sem sofrimento. Em primeiro lugar. Sem a
interpretação da finitude e do sofrimento.
Em segundo lugar, além dos naturais sofrimentos e finitudes, a
incompetência eventual dos pais para suas funções leva-os a produzirem
grandes sofrimentos para seus filhos.
São pais imaturos, pais autoritários, e frequentemente sádicos; pais
competitivos e vingativos. pais invejosos; pais egoístas; abusivos;
pesadamente negligentes, maus, etc...
403
Que, frequentemente, causam graves sofrimentos, episódicos ou
crônicos -- a filhos indefesos. E que deveriam -- não só não ser por eles
ofendidos e injuriados, mas por eles, em vão, defendidos e protegidos...
Em muitos casos, o sofrimento infligido vem com a marca do abuso de
poder espuriamente exercido.
Cria-se uma situação danadamente paradoxal, entre a autoridade
abusadora e o abusado...
Reconhecer o sofrimento, atualizá-lo, interpretá-lo, meramente senti-lo,
já significa capitular diante dele, reconhecê-lo, e reconhecer a própria
impotência, diante do sofrimento, e do poder, da autoridade sádica...
Sofrer significa reconhecer a sofrimento a submissão à imposição do
sofrimento, a submissão a uma autoridade injusta, significa humilhar-se,
vulnerabilizar-se, fragilizar-se, em difíceis relações de poder.
Sobretudo, quando o poder de infringir sofrimento é utilizado como
instrumento de autoritarismo, de submissão, de humilhação, de poder...
O jovem, a criança, se enrijece para resistir.
E, resistir, em um certo nível, significa não se permitir o
reconhecimento do sofrimento, não se permitir o reconhecimento e a
afirmação do sofrimento, negando o modo ontológico de ser. Não se permitir
o fenomenológico existencial, a ação, a interpretação da finitude e do
sofrimento. Meramente, sofrer.

Com isso, todo âmbito da vivência do ontológico permanece como um


âmbito interditado e evitado. Vivido apenas de modo distorcido, e
clandestinamente.
Da mesma forma que -- consequência específica --, inevitavelmente se
interdita, simultaneamente, o retorno das forças plásticas de vida, – interdita-
se o retorno da potência criativa existensial.
Que exangue, na crescente birra, e impotência.

É preciso enfatizar esta reação, diante de sofrimento intenso, difícil de


manejar.
A negação.
A negação permite um certo manejo do sofrimento. Mas traz as suas
consequências. Em particular, a redução proporcional da potênsia existencial.

A potênsia existensial é uma força de tal natureza que, afirmada -- na

404
performance da existensia -- em particular, do sofrimento e da finitude --,
retorna, e potencializa-se.

Negada, enfraquece e se fragiliza, cada vez mais.

Frequentemente, assim, a pessoa, a criança, o jovem, não pode


interpretar o sofrimento livremente, não pode sofrer. Passa a negar o
sofrimento. E abstém-se de interpretá-lo, "abstém-se" de sofrer...

E habilita-se às implicações que disso derivam.


A impotensia existensial. Constituinte precípuo das condições que
podem levar ao suicídio.

Florestan Fernandes (Revolução Burguesa no Brasil) usava


esclarecedora metáfora.
O Brasil, a sociedade brasileira, é como um quadrúpede, com as patas
dianteiras plantadas no Capitalismo, e as patas traseiras no mundo sócio
econômico feudal. Com uma "elite" que sabota o desenvolvimento do
Capitalismo, buscando perpetuar a formação sócio econômica "Feudal"...
De modo que, ora tendemos para o Capitalismo, ora para
o Feudalismo...
Com as implicações culturais que disto derivam...

A matáfora é de riqueza ímpar.

E corresponde a uma realidade cultural, que nos interessa. Porque esta


condição contém importantes dimensões e determinações psico-sociais.

Frequentemente, os pais têm a cultura feudal. Frequentemente, até por uma


questão de conservadorismo, se solidarizam com os poderes feudais.
Ao sabor dos influxos, econômicos, e políticos, a cultura, ora fortalece-
se enquanto proto Capitalista. Libertando-se dos padrões "feudais".
Ora tende para o feudalismo, enfraquecendo suas características proto
Capitalistas.

É importante que entendermos que a cultura feudal é uma cultura dita


'comunitária’. Em específico, no sentido que valoriza o grupo social sobre o

405
indivíduo, e a individualidade. A família, no caso. A cultura burguesa,
capitalista, urbana é, assim, uma cultura que valoriza o indivíduo, e a
individualidade, em detrimento do grupo.

Os filhos crcescem nas cultura proto capitalistas. Até porque para elas se
projetam, e os projetam os pais.

E frustam-se tremendamente...

Porque estas culturas proto-capitalistas são só uma promessa


inconsistente, ou um engôdo, que logo se revela como tal.
A nível da frustração do estudo, ou do trabalho, por exemplo...

Frequentemente, a oscilação em direção ao Feudalismo significa um


fortalecimento de elementos culturais, anacrônicos, e autoritários, dos pais,
em seu conflito, em sua dinâmica de poder com os filhos Às vezes
gravemente inflamada.
Um fortalecimento de padrões culturais conservadores, de critérios, de
valores, de opiniões.
E o concomitante desmanche impiedoso de sonhos, esperanças, e do
mundo respirável pelos filhos. Sobretudo, um pesado confisco das aspirações
à individualidade...

A situação corresponde à profética sacação de Conselheiro, secundada pela


sacação de Sá, Rodrix, e Guarabira: o sertão vai virar mar... !

E dá, no coração, o medo que algum dia o mar também vire sertão...

As capitais no Brasil, tendentes ao Capitalismpo, sempre arranharam as


areias do mar, como caranguejos, sempre foram litorâneas.
O Agreste e o Sertão conservaram, sempre, a cultura e a subjetividade
feudal.
A partir do século XX, os dois sistemas entram mais em contato.
Começam a interagir, e a conflitar... De modo que o mar foi ao encontro do
Sertão, e do Agreste. E estes ao encontro do mar.
Para o jovem a conquista da individualidade está sempre pautada por
este encontro. Hora a individualização é favorecida. O Sertão virando

406
mar... Hora é vilipendiada, ou brutalmente massacrada... Refluindo, o mar
virando Sertão...

A perda da aspiração à individualidade, então, o refluxo dos sonhos e


aspirações proto capitalistas, o retorno forçado à perspectiva anacrônica e
autoritária dos pais, o ter que seguir os passos, repetitiva e
anacronicamente. A repetição estéril e inglória do script de vida, as
submissões, as humilhações...
São, frequentemente, um golpe duro demais, para jovens debilitados no
processo de acesso à potência existensial, à recriação de si e de suas
condições, e de produção de sentido em suas vidas.
Interditados dos poderes de se criar e de criar o seu mundo; de se
superar e superar os seus mundo; de amarem o seu corpo, o mundo, e a vida.
Uma armadilha mortal.
Por isso que tão bonita e importante:

É bonita, é bonita, é bonita...

Constrangido no seu acesso à potensia existencial, submetido à


contragosto, pesadamente boicotado, incapacitado para criar, para se superar.
Para criar-se e criar o seu mundo.
Acossado em sua individualidade, o jovem resiste na fronteira que lhe
resta. A fronteira da negação.
A negação do mundo que lhe é imposto. A negação de si. A negação do
sofrimento.
Inevitavelmente, cresce, aos poucos, obstinada, e de modo cada vez
mais consistente, a negação da própria vida, a negação de si, a negação do
próprio corpo.
Em particular, quando o estereótipo caricato de si é muito prezado
pelos poderosos algozes. Destruir-se é, frequentemente, um ato de raiva, de
ódio, de vingança. Como única forma de destruir efetivamente um bem
amado. E destruir os algozes. Esta é uma das condições mais perigosas para a
pessoa que abriga idéias suicidas. Destruir os algozes.

A individualidade interditada vinga-se, na radicalidade de seu último ato.

Confrontar a onda de suicídio de jovens é pensar e criticar, séria e


profundamente a Educação, doméstica, e escolar. É criticar o poder e o
407
potencial abusivo do poder dos pais. É questionar as relações ambientais. É
questionar, e inquirir, pesadamente, como cúmplices, as Religiões, a moral, a
cultura, a política...
Só assim podemos superar o imenso dano e sofrimento da perda
prematura de jovens por suicídio.
E, desenvolver as formas e os meios do incremento, e
desenvolvimento, da potência existensial, e da produção de sentido, e de
aprendizagem. Das capacidades para a criação do mundo, e de si próprio. De
superação, e de regeneração.

Quando a Psicologia, antropologia psicológica, a Educação, as


Religiões, a Política, a cultura, se dedicarem a questões que efetivamente
façam sentido...

408
409
Suicídio de jovens no Nordeste 2/9.
ABUSO SEXUAL

410
Suicídio de jovens no Nordeste 2/9.
ABUSO SEXUAL
Afonso Fonseca, psicólogo.

São necessários mais estudos psicológicos, e psicossocias, sobre os


abusos sexuais, e as consequências dos abusos em crianças, adolescentes e
jovens, por parte de adultos. E, sobretudo, uma intervenção, preventiva e
repressora, mais agressiva e decida das autoridades, e dos meios de
comunicação de massa.

Sabemos que as consequências existenciais dos abusos podem ser


devastadores. Resultando, não raro, na constituição de uma
personalidade suicida.

É importante notar que o fator autoridade -- relação de autoridade --,


sempre está presente na relação agressor vítima. E a presença de um agressor
como mediação com o sistema institucional da vítima.

O que não quer dizer que não haja relações abusivas, entre menores e
pessoas desprovidas do papel de autoridade. Marginais.

Mas estas são eventuais e episódicas, diversas das relações abusivas


quando a autoridade agressora priva da convivência íntima e duradoura com a
vítima.

É o caso das relações abusivas de cunho sexual perpetradas por


eclesiásticos doentios, e doentiamente egoístas, e doentiamente hipócritas,
agindo delinquentemente sob as prerrogativas de sua autoridade institucional,
cotra indefesos auxiliares infantis, ou jovens.

E os casos, já clássicos, de abuso perpetrados por pais, vizinhos, e


outros adultos parentes, ou não...

411
Em que a convivência íntima, e cotidiana, favorece as relações
abusivas.

Primeiro, é preciso que se diga, que existem abusos dos mais variados
tipos.

Desde os de agressões e danos físicos, sem o componente sexual; até os


especificamente sexuais, passando por várias formas de violência psicológica.

É muito importante na evolução psicológica do agredido, inclusive no


desenvolvimento de uma personalidade suicida, a decepção do agredido com
o agressor, que, em geral lança a mão de múltiplos ardis, e engôdos.
Astuciosos ou violentos.

Um elemento grandemente determinante das consequências negativas é


a cumplicidade ou a conivência criminosa dos pais -- no caso do abuso
eclesiástico --, ou a cumplicidade e conivência de um ou de ambos os pais,
nos casos de abuso parental, por vizinhos, parentes, etc.

É muito comum o abuso sexual. O eclesiástico, pareental, por amigos,


parentes, ou vizinhos dos pais.

Haverá nesses casos, o momento em que o agredido buscará um dos


pais, em busca de auxílio. Encontrará um pai, ou mãe, descrentes, ou,
pasmem, frequentemente culpando a vítima.

Na verdade cúmplice, ou conivente. Efetivamente cúmplice, e


conivente, desde o início.

Ocorre que, frequentemente, os pais, ou um dos pais, são cúmplices e


coniventes, na medida em que mantêm relações de interesse, ou de autoridade
com o agressor. E, mais ou menos literalmente, oferecem-lhe o filho, ou a
filha, como brinde.

Cedo, ou tarde, o agredido tomará consciência de toda a armação. Sua


decepção, desproteção, e isolamento, serão imensos, imensuráveis. Só
tolerável a custa do desenvolvimento de pesado cinismo. A ingenuidade pode
412
custar uma pesada tristeza, decepção, depressão, suicídio, ou desequilíbrio
psicológico...

Este componente também está presente no interior das relações


parentais.

Por motivos diversos, a mãe pode ser conivente ou cúmplice, com um


pai abusivo. Às vezes durante toda uma vida. E reagir com surpresa e
indignação mentirosas, quando vem a ser informada pelo agredido, ou por
outro, quando não culpam o, ou a, agredida (o).

Quanto temos que evoluir no estudo de Psicologia da Família, enquanto


estudaos modelos da cultura Européia...

413
Suicídio de Jovens no Nordeste 3/9.
ABUSO PSICOLÓGICO

414
Suicídio de Jovens no Nordeste 3/9.
ABUSO PSICOLÓGICO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Além do abuso físico, especificamente sexual, existe várias formas de


abuso físico não sexual, que mais caem na condição de agressão, com lesão
corporal. Nesta categoria, caem os pais espancadores -- não se trata da
palmada eventual, mas de espancamentos.

Em Maceió, recentemente, foram resgatadas crianças que eram


torturadas pela mãe, com uma colher quente na mão fechada. Sofriam, além
da violência de abusos físicos, outros -- inclusive sexual, perpetrado pelo
próprio pai.

Há algum tempo, no interior da Bahia, foi regatada criança pequena, em


cujo corpo um tio introduzia agulhas. Radiografias revelaram várias, pelo
corpo do menor...

Tais process podem ser seguidos até relações doentias entre os pais,
entre parentes, ou pais e parentes, ou vizinhos doentes.

Não podem ser entendidos como 'doença', apenas no sentido


metafórico, e o agressor deve ser responsbilizado judicialmente, pelas lesões
causadas às vítimas.

Desnecessário dizer os danos psicológicos, e psicossociais produzidos


na vítima, por parte de seus próprios esteios de vida.

O abuso psicológico, não sexual, com ou sem os componentes físicos


de abuso, é lamentavelmente comuns, no seio das famílias.

É importante considerar que estes abusos estão encobertos pelo manto


da privacidade familiar.

415
Subjaz à vida familiar, um dogma clandestino, frequentemente
dissimulado, de que os filhos são propriedades dos pais...

Alguns pais, e mães, consolidam isto como um direito inquestionável,


defendido raivosamente, com frequência, quando julgam necessário. E,
julgam-se no direito de impor, de um modo mais ou menos dissimulado, em
geral profunda e radicalmente egoísta.

Não é raro, nos consultórios psicológicos, entendermos a mensagem


sub-reptícia de alguns pais, de filhos em crise: prefiro ele morto, a que seja
diferente o que eu quero...

Covardemente têm, aliada a esta postura, toda uma condição de influir


íntima, e de modo, relativamente, poderoso, na vida do(a) filho(a), na direção
que, de modo egoísticamente, querem.

As demandas sobre a vida de um terceiro são diversas.

Profissionais, de gênero, de que seja o seu cuidador, quando ele estiver


velho, que cuide do patrimônio da família, que tenha a mesma profissão dos
pais, que não adira a uma etnia em que vive...

O mais bizarro, é que, das várias possibilidades disponibilizadas pela


efetiva vida do(a) filho(a) ele(a), abstratamente, elege uma. Abstrata... E
destrói as efetivamente vividas... Resultando em tremenda confusão e
impotência efetiva, na vida do filho(a). Paradoxalmente, em uma grande
dependência dos pais...

O que significa uma brutal mutilação de sua vida, e uma modelagem


desta numa direção abstrata, de modo alienígena, de acordo com abstração e
objetivos egoístas dos pais.

Talvez o caso mais clássico de abuso psicológico, sem o componente


sexual, nem o de violência física, seja o antigo costume em nossa sociedade
de escolher um dos filhos para fazer companhia aos pais na velhice. Sob um
pressuposto de direito.

416
Estas providências dos pais são, em geral, estrategicamente muito
precoces.

E duram parte da vida, que corresponde ao crescimento, e formação,


do filho. Envolvem um procedimento metódico, e sistemático. Cujo
denominador comum é o de evitar o desenvolvimento do filho em qualquer
aspecto principal de seu interesse.

Tal filho não pode ter amigos.

Porque os amigos podem levá-lo em outras direções, que não o


interesse dos pais... As suas amizades são, portanto, sistematicamente
sabotadas...

Os outros filhos podem, e devem estudar. Ele não... Caso ele estude e
se desenvolva educacionalmente vai se desenvolver, e não vai cuidar dos pais
na velhice.. Sua vida escolar é dissimuladamente perturbada.

O escoljido não pode se desenvolver profissionalmente... Sua


vida profissional é boicotada...

Não pode namorar, senão vai ser pai, ou mãe, vai constituir família, e
não vai cuidar dos pais na velhice. Se for homossexual, é uma mão na roda,
neste sentido... E por aí vai...

Astuciosamente, as dificuldades de desenvolvimento do filho são


atribuídas a sua própria culpa. Além do mais, ele é culpado de suas
dificuldades, num eterno, e auto-regenerável relação de duplo vínculo.

Sob conjecturas, e com fins radicalmente egoístas, os pais interferem,


manipulam, e destroem as possibilidades da vida e das capacidades do filho,
as potencialidades, inviabilizando-as ao máximo, dissimuladamente,
sistemática e metodicamente...

Este tipo de comportamento já foi, histórica e culturalmente, mais


explícito, e assumido. Com base legal, inclusive.

417
Hoje não pode ser tão explícito. E vigora, dissimulada e sub-
repticiamente.

O que aumenta a confusão da vítima, que tem a sua vida metódica e


sistematicamente prejudicada, e destruída. Dem entender muito bem do que se
trata. E, ainda tendo que incorporar a culpa por sua situação de vida...

O resultado é uma vida danificada, e desprovida de seu acesso à


potência existencial. E das capacidades de crescimento, de superação, e de
regeneração.

Os padrões operam a partir de tanta precocidade, que, eventualmente,


as situações mudam.

Os outros filhos se desenvolvem, profissional e pessoalmente, e têm


melhores condições de cuidar dos pais. O escolhido está incapacitado para
isso. E é desprezado pelos pais, e pela família. Ou é o pária da família. O
alcoolatra, o psicótico, o toxicômano, o desajustado (sistematicamente
produzido) da família.

A povoar as clínicas, os consultórios dos psicólogos e psiquiatras. E,


eventualmente, os contingentes de suicidas, ou quase...

418
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 4/9.
SUICÍDIO E GÊNERO

419
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 4/9.
SUICÍDIO E GÊNERO
Afonso Fonseca, psicólogo.

As questões de definição de gênero, e as questões do suicídio


frequentemente se entrelaçam.

Nem sempre, mas, frequentemente.

E, frequentemente, quando assim ocorre, de um modo catastrófico.

Naturalmente, não se pode sempre atribuir somente a abuso as


particularidades da definição de gênero.

Apenas --além de naturais dificuldades e características sócio culturais


e históricas, existenciais, e familiares --, as questões relativas ao abuso,
sexual, ou não, lamentavelmente, e as questões relativas a definição de sexo,
frequentemente se entrelaçam.

A definição de gênero é uma questão pessoal de direito, uma questão


pessoal de direito humano.

E, evidentemente, não é uma questão de doença.

Não tendo o mínimo fundamento a ideia oportunista de tratamento do


homossexual, por ser homossexual. A questão, assim formulada, radica em
profunda ignorância, culpa, e preconceito.

O que não quer dizer que a pessoa do homossexual não possa,


eventualmente, precisar, ou querer, terapia, como qualquer pessoa. E que sua
condição de definição de gênero não comporte questões existenciais. Com
suas características próprias. Como com qualquer pessoa.
420
Mas o fato é que as questões do abuso, e as questões da definição de
gênero, frequentemente se entrelaçam profundamente.

Isso, porque muitos processos de definição sexual passam por


processos de violência e abuso, sexual, ou psicológico; ou outros. Outros não.

Frequentemente, há pais e mães, que, por razões de conflito marital


agudo, ou outro, não querem que o filho tenha o sexo que têm.

Às vezes, a insatisfação tem a ver com história de vida...

As vezes o equilíbrio nas relações masculino/feminino, no contexto das


relações familiares, às vezes um predomínio abusivo do poder masculino; às
vezes posse; não querer que o filho se liberte das relações familiares, para
construir família própria, e autônoma....

Enfim, uma multiplicidade de razões. Em geral egoístas, e parasitárias.

O fato é que a subtração, ou a inversão, da sexualidade biológica e


cultural de um filho pode atuar estrategicamente para se obter vantagens
políticas nas relações maritais, e familiares.

Eventualmente com o preço da paz, e dos naturais poderes existenciais,


de aprendizagem, afetivos, de criação, superação, e regeneração do(a) filho(a).

Tal pai, ou mãe, atuará de modo bastante precoce, às vezes


anteriormente ao nascimento da criança, para modelar o comportamento, o
psiquismo, a identidade, de gênero, segundo seu desejo.

Entenda-se que isto significará um esforço sistemático para a anulação


da contingência em sua existência, da qual ela se faz, para uma detrminação
artificial de uma submissão às determinações preconcebidas de um plano
preoncebido, à revelia das contingências das atualidades do filho(a).

421
As dificuldades não surgem, em específico, simplesmente, da condição
homossexual, mas da impotência existensial, decorrente de um prejuízo
construção do ser a partir das contingências da atualidade existensial. Pela
expropriação e predeterminação, arbitrárias, da existência.

Dessas condições do abuso, psicológico, existensial, sistemático,


precoce, diacrônico, surge a impotência existensial. Que pode ser o substrato
da impotência existencial, onde pode medrar imotência para a criatividade na
modificação e criação, de si mesmo e do undo, a culpa, o pessimismo, que
ancoram as idéias suicidas

422
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 5/9.
INDUÇÃO AO SUICÍDIO

423
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 5/9.
INDUÇÃO AO SUICÍDIO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Acaba com a ingenuidade de qualquer observador da existência


humana, e da vida social, perceber que as pessoas podem induzir os menores a
estados mórbidos ou problemáticos.

Assim, podemos ver adultos induzindo menores ao alcoolismo, à


psicose, à drogadicção, etc.

E, creio que a personalidade suicida parece ser uma dessas condições...

As causas de tal comportamento podem ser diversas. Inclusive


decorrentes de sofrimento. Mas, sempre injustificáveis, para tal. E covardes.

Percebemos uma grande demonstração de generosidade, em Vidas


Secas, de Graciliano Ramos, quando percebemos um sentido da epopéia da
retirada da família de Fabiano e Sinhá Vitória: entregar seus filhos à cidade.
Ao meio urbano. Que eles não conheciam, nem queriam...

Antes Fabiano ruminara, reveladoramente:

...O ódio que eu sentia das cidades grandes. Porque eu não era delas
produzido...

Mas, não tem jeito. E, resignada e estoicamente, eles vêm entregar seus
filhos à vaca colorida, como dizia Nietzsche.

Sem ressentimento. Não pensam neles próprios...

Que generosidade humilde e pura...


424
Não é essa a atitude de alguns pais...

Que, ao desconfiarem que os filhos, sob algum aspecto, não são de sua
cepa, seja ele qual for, preferem vingar-se dos filhos -- como se estes fossem
culpados --, e militar para destruí-los. Normalmente, com intensos níveis de
vingatividade.

A indução a comportamentos mórbidos é um caminho.

Assim é que, por motivos diversos -- pode ser por motivo étnico ou
cultural, um filho ou filha ambiguamente adotivo(a), um filho(a) de sexo
indesejado, um filho(a) cuja paternidade desconfia... -- vamos encontrar o
rastro de pais nos mecanismos de destruição dos filhos...

E um desses mecanismos é a indução a uma personalidade suicida.

A indução pode dar-se por várias vias.

Sempre, o condicionamento operante. De modo que, astuciosamente,


atua sobre contingências do comportamento do filho em questão. Adquirindo
formas específicas em cada caso.

Mas, sempre, é um comportamento diacronicamente persistente, ao


longo do desenvolvimento do filho(a). Sempre com o mais ou menos
dissimulado objetivo, sob os mais diversos pretextos, de destruição ou de
impedimento, da identidade, do desenvolvimento da capacidade para a ação,
do acesso à potensia existensial.

Uma contínua militância, no âmbito de seus poderes, pela impotensia,


pela tristeza, e pela depressão.

425
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 6/9.
A PRODUÇÃO DA TRISTEZA COMO ESTRATÉGIA

426
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 6/9.
A PRODUÇÃO DA TRISTEZA COMO ESTRATÉGIA
Afonso Fonseca, psicólogo.

O nascimento, e o desenvolvimento, de um novo ser humano é um


evento significativo, e potencialmente conflituoso. Do ponto de vista político,
do ponto de vista do poder, numa comunidade, na família, e nos seus grupos.

Evento mais ou menos conflituoso, sobre a ocorrência do qual têm a


responsabilidade os adultos que dele participam.

Têm a responsabilidade, e um poder diferenciado particular, sobre o


nascimento, e sobre o desenvolvimento do novo ser. E, naturalmente, sobre o
próprio novo ser.

Poder que utilizam de modo mais ou menos ético.

No sentido do desenvolvimento e saúde do novo ser. Por mais que sua


presença implique em dificuldades, e conflitos. Irresponsável. Ou
abusivamente...

Dificuldades e conflitos podem ocorrer, decorrentws de questões sócio


culturais, e econômicas.

Este modelo é funcional com pais normalmente sábios, esforçados,


responsáveis, e éticos.

Existe um natural hiato entre o cotidiano de uma família, e as instâncias


reguladoras do estado, e da sociedade civil. Historicamente, os pais játiveram,
legalmente sancionado, direito de vida e morte sobre a vida dos filhos e
esposas. Em Recife, se relata o encontro de esqueletos emparedados,
resultantes do enterro de filhos rebeldes por pais autoritários, e criminosos.

427
Não se chega a tanto, facilmente, hoje em dia. E o processo civilizatório
baniu a sua possibilidade das leis. Das leis.

Nem sempre, não obstante, os pais, de qualquer classe social, e cultura,


são sábios, esforçados, responsáveis, e éticos. Guardadas as características de
classe, e culturais.

Muitos são essencial e superlativamente pouco sábios, irresponsáveis, e


anti-éticos. Alguns, eventualmente, autoritários, e criminosos. Condição que
pode estender-se a alguns parentes.

Em particular com relação aos filhos, vulneráveis, que têm a


responsabilidade de ter o trazido ao mundo, de prover o sustento, e as
possibilidades de crescimento, e de desenvolvimento.

E, com relação aos quais têm enorme poder diferenciado, como


genitores.

Estes optam, covardemente, por utilizar suas condições e poderes


próprios de modo egoísta e destrutivo para o novo ser.

Daí, muito do abuso sistemático, e contínuo, que podem desenvolver


com relação aos filhos. A quem, eventualmente, consideram devedores natos,
e perenes, como justificativa e pretexto para o comportamento abusivo,
egoísta, e covarde.

Tal comportamento pode lançar mão de sofisticadas, ainda que brutas,


estratégias.

Podemos surpreender espúria remanescência de métodos de "educar"


escravos. Para a escravidão.

Ou métodos pesadamente espúrios, e de graves consequências


potenciais, de manipular a afetividade do(a) filho(a). Partindo da natural
afetividade com relação a si próprio. Espalhando-se pela manipulação de tudo
que tiver valor afetivo para o filho.

428
Produzindo depressão e tristeza, em termos finais, como forma de
controle e de subordinação do filho(a).

Trata-se de uma manipulação metódica, e sistemática, ao longo da


diacrônica do desenvolvimento.

O comportamento é operante.

E selecionará elementos interessantes e importantes para o(a) filho(a),


cuja frustração provocará tristeza.

A partir daí, refinar a seleção dos comportamentos, de acordo com o


poder particular deste de produzir tristeza e depressão, em especial. Como
sádica estratégia de aquisição de influência, de poder, de controle sobre a vida
do filho. Auferindo, não raro, o que considera vantagens com a usurpação da
vida do(a) filho(a)

Pode começar com pequenas frustrações, ligadas a comida, a presentes,


a diversões, a amigos. E vai, cada vez mais se complexificando, até se tornar
um mecanismo sistemático, e de sistemáticamente atingir os seus maiores
interesses existenciais.

À medida que se desenvolve o mecanismo, desenvolve-se a


subordinação, e o controle, sobre a vida da pessoa.

Até por causa da insegurança, da impotência e da confusão, da tristeza,


do ódio, e da culpa; da tristeza e da depressão, em função da impotência, e da
alienação.

Mistura explosiva, azeitada pela impotência, retroalimentada, num


mecanismo diabólico, e, facilmente, fatal.

Depois, quando o(a) filho(a) desenvolve idéias suicidas, as concretiza,


ou desenvolve outros corolários da tristeza e da depressão, da impotência
existensial, cinicamente afetam uma surpresa
429
430
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 6/9.
A PRODUÇÃO DA TRISTEZA COMO ESTRATÉGIA

Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 6/9.


A PRODUÇÃO DA TRISTEZA COMO ESTRATÉGIA
Afonso Fonseca, psicólogo.

O nascimento, e o desenvolvimento, de um novo ser humano é um


evento significativo, e potencialmente conflituoso. Do ponto de vista político,
do ponto de vista do poder, numa comunidade, na família, e nos seus grupos.

Evento mais ou menos conflituoso, sobre a ocorrência do qual têm a


responsabilidade os adultos que dele participam.

Têm a responsabilidade, e um poder diferenciado particular, sobre o


nascimento, e sobre o desenvolvimento do novo ser. E, naturalmente, sobre o
próprio novo ser.

Poder que utilizam de modo mais ou menos ético.

No sentido do desenvolvimento e saúde do novo ser. Por mais que sua


presença implique em dificuldades, e conflitos. Irresponsável. Ou
abusivamente...

Dificuldades e conflitos podem ocorrer, decorrentws de questões sócio


culturais, e econômicas.

Este modelo é funcional com pais normalmente sábios, esforçados,


responsáveis, e éticos.

Existe um natural hiato entre o cotidiano de uma família, e as instâncias


reguladoras do estado, e da sociedade civil. Historicamente, os pais játiveram,
431
legalmente sancionado, direito de vida e morte sobre a vida dos filhos e
esposas. Em Recife, se relata o encontro de esqueletos emparedados,
resultantes do enterro de filhos rebeldes por pais autoritários, e criminosos.

Não se chega a tanto, facilmente, hoje em dia. E o processo civilizatório


baniu a sua possibilidade das leis. Das leis.

Nem sempre, não obstante, os pais, de qualquer classe social, e cultura,


são sábios, esforçados, responsáveis, e éticos. Guardadas as características de
classe, e culturais.

Muitos são essencial e superlativamente pouco sábios, irresponsáveis, e


anti-éticos. Alguns, eventualmente, autoritários, e criminosos. Condição que
pode estender-se a alguns parentes.

Em particular com relação aos filhos, vulneráveis, que têm a


responsabilidade de ter o trazido ao mundo, de prover o sustento, e as
possibilidades de crescimento, e de desenvolvimento.

E, com relação aos quais têm enorme poder diferenciado, como


genitores.

Estes optam, covardemente, por utilizar suas condições e poderes


próprios de modo egoísta e destrutivo para o novo ser.

Daí, muito do abuso sistemático, e contínuo, que podem desenvolver


com relação aos filhos. A quem, eventualmente, consideram devedores natos,
e perenes, como justificativa e pretexto para o comportamento abusivo,
egoísta, e covarde.

Tal comportamento pode lançar mão de sofisticadas, ainda que brutas,


estratégias.

Podemos surpreender espúria remanescência de métodos de "educar"


escravos. Para a escravidão.

432
Ou métodos pesadamente espúrios, e de graves consequências
potenciais, de manipular a afetividade do(a) filho(a). Partindo da natural
afetividade com relação a si próprio. Espalhando-se pela manipulação de tudo
que tiver valor afetivo para o filho.

Produzindo depressão e tristeza, em termos finais, como forma de


controle e de subordinação do filho(a).

Trata-se de uma manipulação metódica, e sistemática, ao longo da


diacrônica do desenvolvimento.

O comportamento é operante.

E selecionará elementos interessantes e importantes para o(a) filho(a),


cuja frustração provocará tristeza.

A partir daí, refinar a seleção dos comportamentos, de acordo com o


poder particular deste de produzir tristeza e depressão, em especial. Como
sádica estratégia de aquisição de influência, de poder, de controle sobre a vida
do filho. Auferindo, não raro, o que considera vantagens com a usurpação da
vida do(a) filho(a)

Pode começar com pequenas frustrações, ligadas a comida, a presentes,


a diversões, a amigos. E vai, cada vez mais se complexificando, até se tornar
um mecanismo sistemático, e de sistemáticamente atingir os seus maiores
interesses existenciais.

À medida que se desenvolve o mecanismo, desenvolve-se a


subordinação, e o controle, sobre a vida da pessoa.

Até por causa da insegurança, da impotência e da confusão, da tristeza,


do ódio, e da culpa; da tristeza e da depressão, em função da impotência, e da
alienação.

Mistura explosiva, azeitada pela impotência, retroalimentada, num


mecanismo diabólico, e. facilmente, fatal.

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Depois, quando o(a) filho(a) desenvolve idéias suicidas, as concretiza,
ou desenvolve outros corolários da tristeza e da depressão, da impotência
existensial, cinicamente afetam uma surpresa

434
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 7/9.
HISTERIA E SUICÍDIO

435
Suicídio de jovens no Nordeste do Brasil 7/9.
HISTERIA E SUICÍDIO
Afonso Fonseca, psicólogo.

Histeria e suicídio são duas condições que andam, frequentemente,


juntas. Mas de um modo paradoxal.

Qual o motivo de andarem juntas? E do paradoxo?

O paradoxo é que normalmente se entende que são condições


antagônicas. Apesar de andarem, frequentemente, juntas.

'A pessoa histérica não se suicida...' 'A expressão histérica de suicídio é


simulada...' É, mais ou menos esse o lugar comum, entre profissionais. E
não...

Ainda que seja, às vezes, difícil distinguir quando a condição é


histérica, ou potencialmente suicida, efetivamente... E ainda que, com as
dificuldades da histeria, ignore-se que ela é um problema real. Que se origina,
complexamente, em sofrimentos reais, apesar de todos os seus aspectos de
simulação. Desenvolve-se de causas culturais concretas. E que envolve e
produz sofrimentos.

Um percentual de simuladores histéricos de suicídio terminam por se


matar. Acidentalmente. Uma queda acidental, uma dosagem acidental... E o
simulador histérico, involuntariamente atinge os objetivos da tentativa...

Simulação, em grande parte dos casos, mas de sofisticados mecanismos


psicológicos, e psicossociais, a histeria envolve um afetação do vínculo social,
que se encontra estressado. Aliciado de modo não consensual, apelativamente,
e com grande força de coação.

O fato é que o desenvolvimento de uma personalidade suicida, e o


desenvolvimento da histeria, têm um denominador comum.
436
A impotência existensial.

Ainda que seus sentidos sejam diversos, em cada um dos processos.

O suicida é um desistente. O histérico é um sobrevivente. E aferra-se à


vida. Exacerba a pragmática e a estratégia de sua vinculação.

Em suas formas, ambas as condições são reações diferentes à mesma


impotência existensial.

Primeiro, é necessário desmistificar a histeria, depois de décadas de


distorção médica, e psicanalítica.

A histeria não tem a ver com útero histeros. Nem é, como tal, uma
condição feminina. Desenvolvida por intercorrências do desenvolvimento
psicosexual... Ocorre, frequentemente, em homens... E das mais diversas
formas. Estando presente em várias personalidades problemáticas, e em vários
distúrbios.

Tem determinações mais profundas, arraigadas, e complexas. De difícil


trato. E não, simploriamente, 'o querer aparecer'.

Mais estudos são necessários, para esclarecer os aspectos efetivos da


histeria. Inclusive sua presença, e importância em outros distúrbios...

A condição parece ligar-se ao desenvolvimento da impotência


existensial, por questões sócio culturais... Sendo, portanto, do âmbito da
cultura, e não do âmbito da Clínica Médica... Por mais que, aspectos
subsidiários demandem a atenção da Clínica Médica...

Quanto à condição suicida, também.

Por motivos diversos, a impotência existensial, pode levar à condição


suicida.

437
O fatalismo, a impotência para criar e superar, para criar-se e superar-
se, criar e superar o seu meio. O déficit de agressividade, a impotência de
regenerar-se, a culpa, o ideal ascético, o tédio e a impossibilidade de sua
superação...

As características da impotensia existensial conduzem à desesperança,


ao fatalismo, e ao pessimismo radical, característicos da condição suicida.

Ontologicamente, a capacidade para a ação, é o corolário intrínseco à


disposição da potênsia existensial. A potênsia existencial é a vivência de
possibilidades, no modo ontológico de sermos.
A vivência das possibilidades é a vivência de forças. Forças
existenciais, forças da ação, forças do conhecer, forças da emoção, da criação,
da superação, da regeneração. Porque existência significa isso.

Agir, em específico, é uma questão de poder. É político. É


inevitavelmente provocativo do status quo.

Porque agir é a criação, e a introdução do novo. É a superação. E a


afirmação de um agente.

Não poderia ser agradável ao status quo.

Na medida em que é a sua negação. A natureza do status quo se define


com relação à ação.

Ontologicamente, todo ser que nasce é um agente potencial. A quem


corresponde, por isso, a uma fração de poder.

Em sistemas menos tolerantes, e conciliadores, trata-se de expropriar


esta capacidade de ação, e este poder. A ação é perseguida, às vezes
brutalmente. É reprimida, e desprezada.

438
A ação é de tal modo reprimida, que torna-se desvantajoso, e perigoso,
agir.

A histeria constitiu-se à custa da impotênsia existensial, da impotênsia


para a ação.

A desistênsia da ação. Em privilégio da simulação.

Simulação da ação. O Histérico simula para não agir. Foi convencido,


às vezes pelo medo, pelo terror, a não agir.

Mas, agir é a capacidade humana fundamental. O que colocar no lugar


da ação?

A simulação. De modo aparentemente astucioso, o histérico refina a


simulação...

A mais funcional possível, e inócua, simulação.

O seu segredo está em seu poder funcional, enquanto tal. Em sua


inefetividade, como ação. Em sua esterilidade.

Por outro lado, existem vantagens vicárias na simulação.

Elementos culturais levam a uma seleção de padrões de simulação


fortes. Que são cada vez mais refinados, e funcionais. E potentes, como
modos não consensuais, coercitivos, de acionamento do ambiente. Modelados
por forças, e fatores, culturais.

Pragmaticamente, esses comportamentos podem ser muito úteis,


enquanto estratégias de poder. Eventualmente podem ser muito bem
sucedidos, numa certa perspectiva. Ou malograrem tremendamente, levando
seu sujeito à ruína.
439
Não são ação.

E não guardam as funções existenciais da ação;

Na histeria, a alegação de idéias suicidas, eventualmente; a tentativa


simulada, ainda que potencialmente convincente, pode configurar estes
comportamentos simulados. Que conferem um grande poder de manipulação,
de controle, e de ganhos vicários.

Só não são hábeis, como simulação que são, para prover a vivência do
modo pré-reflexivo e pré-conceitual de sermos; o conhecer, compreensivo; o
criar, o superar(-se), o regenerar-se existencialmente, próprios a ação.
Prerrogativas do agente.

A simulação da histeria traz vantagens práticas, mas condena a uma


impotência crescentes...

Nas condições do suicídio, a impotensia existensial leva ao tédio, à


culpa, ao ideal ascético, à incapacidade existensial de aprender, à
incapacidade de criar, de superar-se, de regenerar-se, a condenação à
desesperança, e a um pessimismo radical....

Nas condições da histeria, a impotênsia existensial leva às mesmas


incapacidades.

Com as vantagens pragmáticas e vicárias dos sofisticados mecanismos


da manipulação, pela simulação. E com a característica de que o histérico é
um sobrevivente, que aferra-se tenazmente à vida. Ainda que seja do modo
improdutivo, e trabalhoso, que lhe é possível.

Sem que isso leve à aprendizagem efetiva, à criação, à superação e à


regeneração, próprias à ontológica da atualização de possibilidades, à

440
ontológica da ação. Mas conferindo um variável valor de adaptação, segundo
o princípio de sobrevivência.

Nas condições de suicídio falecem o interesse pela adaptação, e pelo


princípio de sobrevivência. Falece o conhecimento das próprias capacidades
produtivas pela incerteza da ação. Para a criação, a superação -- de si mesmo e
do mundo. Falece o otimismo. A intuição do mistério, e da maravilha de si. E,
numa crise de pessimismo, desinformado(a), ele,ela resolve não mais dar uma
chance a si.

441
Suicídio no Nordeste 8/9.
O PAPEL DA TERAPIA

442
443
444
Suicídio no Nordeste 8/9.
O PAPEL DA TERAPIA

Afonso Fonseca, psicólogo.

A terapia, existencial, para a pessoa que sobreviveu, ou desenvolveu


idéias suicidas, guarda as carActerísticas da terapia fenomenológico
existencial.

Acredito que radicalizadas em suas bases filosóficas, éticas


e metodológicas, explicitadas por Rogers, Perls, Laing...

Interessa, sobretudo, entender a terapia não como uma clínica, mas


como uma atividade existensial, da esfera da produção cultural. E não tratar o
cliente como objeto. Nem converter sua questão existensial numa questão
médica, de cuidado clínico. Ainda que ele possa ser alvo destes cuidados, por
outras determinações.

Primeiro, os profundos sentidos terapeuticos contidos na frase atribuída


a Espinosa:

Sou humano, e nada do que humano me é estranho...

Ou seja a premissa de consideração positiva incondicional pela pessoa,


e por sua experiência é -- mais que um mero recurso metodológico, que é --
, uma consideração de respeito devida a todo ser humano pelo profissional.

Da mesma forma, a dialógica da compreensão empática, a genuinidade.


São fundamentais.

Como recursos metodológicos, mas, de modo algum, como recursos


técnicos.

445
Em especial, como elementos de filosofia de vida. De ética, de
ontologia, e de epistemologia.

Que, sobretudo, não se trate o cliente como objeto.

E que se permita ao cliente, e ao terapeuta, desenvolver a dialógica


efetiva de uma interação interhumana.

Desde que as dimensões do passado, e da família do cliente -- a não ser


no que concerne à própria interpretação fenomenológica deste --, estão fora do
âmbito da terapia, resta a própria resiliência existencial do cliente.

Esta resiliência existensial é muito necessária ao cliente nessas


condições.

E justo esta resiliência encontra-se espoliada na condição da pessoa que


desenvolve ideações suicidas.

Esta resilência funda-se no acesso da pessoa à potência existensial, e ao


desenvolvimento de sua consistênsia existencial.

Assim, a condição do cliente pede uma radicalização dos elementos


filosóficos, éticos, e da metodologia de uma terapia fenomenológico
existencial. Metodologia expressiva, que transcende os limites do consultório.
E que, emienentemente, trabalha a ação, a atualização do episódio existensial,
e o desenvolvimento do acesso à potência existensial.

O caráter existencial da psicologia e da psicoterapia fenomenológico


existencial, fez compreender a importância existensial da arte, não só como
método, mas como recurso existensial expressivo.

Assim, o recurso à arte é extremamente importante, como elemento


metodológico, e como recurso expressivo.

446
O valor terapêutico do elemento metodológico é, justamente, o seu
poder expressivo, existencialmente expressivo.

E, metodologicamente, é preciso entender que a expressão existensial


não tem simplesmente um caráter catártico.

Expressão é o próprio sentido da existência.

Em essência -- que é existência --, o sentido da existência, que é


expressão, o sentido da expressão, é a criação, e a superação.

Mas é, também o conhecer. Que dá-se, pré-compreensiva, pré-reflexiva,


e pré-conceitualmente, como compreensão.

E não como percepção. Conceitual, e reflexivamente.

A expressão, liga-se, também, a emoção.

A dinâmica da expresssão, dinâmica da existência, é a dinâmica da


emoção.

E a exaustão da expressão, do episódio existensial,


episódio fenomenológico existensial da ação, abre o ciclo yin, da regeneração.
Não há regeneração sem expressão. Sem existenciação.

De modo que as artes expressivas podem ser muito efetivas ao trabalho


psicológico e ao processo psicoterapêutico.

Na situação da pessoa que sobreviveu a uma tentativa suicida, ou com


ideação suicida as artes expressivas são um recurso importante. Dado o seu
caráter existencial e expressivo, diretamente conectado às necessidades e
recursos existenciais dos clientes. Ao desenvolvimento de sua resiliência
existensial, e o seu acesso à potensia existensial.

447
Não há necessidade de que o psicólogo, ou o terapeuta seja um
especialista na arte em questão. Precisa entender e ter familiaridade com sua
abordagem de psicologia e psicoterapia, entender a dinâmica existensial da
arte, em geral, e na Psicologia e Psicoterapia. E a dinâmica da arte em
questão. Não precisamos de um especialista.

Também, digamos que o uso fenomenológico existensial da arte como


recurso, em psicologia e psicoterapia fenomenológico existensial dialógica,
não segue os passos metodológicos do Psicodrama, ou da Biodança, por
exemplo.

Está mais próximo de um Psicodrama, ou Biodança, especificamente


Centrados na Pessoa. E não com as características objetivistas do Psicodrama,
ou da Biodança tradicionais.

Mas é absolutamente essencial que o terapeuta, e o cliente, tenham


afinidade, com a arte em questão, e como recurso expressivo, ao longo da
terapia expressiva fenomenológico existensial.

448
Suicídio de Jovens no Nordeste 9/9.
ADOÇÃO E SUICÍDIO

449
Suicídio de Jovens no Nordeste 9/9.
ADOÇÃO E SUICÍDIO

Afonso Fonseca, psicólogo.

Com as condições que temos, e a quantidade de menores abandonados,


a adoção, efetivamente, é uma das práticas mais meritórias. E é muito
especial, quando o processo da adoção e do desenvolvimento das relações
entre pais e filhos dá-se de modo relativamente harmônico.

Com vários níveis de conflito, não obstante, quando as relações se


desenvolvem de um modo significativamente problemático.

E, frequentemente, esta problemática deriva de idéias, atitudes, e


expectativas, pré-concebidas dos pais adotivos, às vezes francamente
indevidas, e espúrias, com relação aos filhos adotivos. Que podem denunciar
uma atiatude parasitária, com relação a eles.

É importante ressaltar o caráter pré-concebido dessas idéias, atitudes


expectativas. O seu caráter eminentemente egoísta, e o desejo de fazer a vida
efetiva dos filhos adotivos a elas se adequar. Diga-se que muitos desses pais
dispõem-se ressentida e vingativamente, quando os filhos adotivos não se
adequam a suas idéias pré-concebidas. Em geral, sob a acusação de ingratidão,
do filho. Sempre, 'terrível', .

Naturalmente, ainda que obstinadamente efetivas, e decisivas,


essas idéias atitudes e expectativas
são cuidadosamente escondidas, camufladas, não se revelam,
naturalmente, nos inquéritos e entrevistas seletivos.

O que indica, ou alto grau de alienação, ou alto grau de assumido


cinismo, já então.

Pais há que vêm na adoção uma forma, de liberar os demais filhos, e


reservar o(a) adotivo(a) para cuidar deles na velhice, em particular para
realizar as tarefas práticas.
450
Para tal, tratarão este filho de modo estrategicamente diferenciado,
mutilando sistematicamente sua vida, seus objetivos, seus destinos. Com
relação a estudo, relações de amizade, relações afetivas, profissão... Para que
se especializem na vida prática.

De modo que, em particular aos demais irmãos, este filho adotivo tem
sua vida e suas possibilidades danificadas e destruídas. Gerando inevitavel
tristeza, depressão, impotência, pessimismo, incapacidade de criação,
superação, e de regeneração...

Eventualmente, os pais não têm filhos. E agem da mesma forma.

Pais há, que, tendo duas filhas, resolvem adotar um filho homem para
garantir o que seria a 'segurança' de um homem, como filho, na família. Para
tal, têm todo um projeto preconcebido para o(a) filho(a) adotivo(a), a sua
revelia . Especializando-o nas funções que almeja. Resultando em idênticos
efeitos..

Subjaz a atitude desses pais uma crença secreta de que o(a) filho(a) tem
um enorme e insanável débito, ao ser adotado pela família. Ele é, na
perspectiva desses pais, e, mais grave, da família, um pesado devedor.
Pairando-lhe sempre o estigma da ingratidão, se não for obediente...

Estando, por isso, obrigado a aceitar os abusos.

Uma grande armadilha. Qualquer resistência do filho adotivo é


entendida como ingratidão. Resultando, inclusive, eventualmente, num
ressentido, em solertes, e espúrias, vinganças.

O segredo acerca da condição adotiva é, frequentemente, manipulado


de forma estratégica.

Para gerar pânico e insegurança, docilidade, vulnerabilidade, no filho(a)


adotivo(a)

451
Há pais que optam empedernidamente por não revelar ao filho a
realidade da adoção.

Não porque têm receio, ou qualquer dos despudorados pretextos que


alegam. Mas para não perder o importante instrumento de manipulação,
docilização, controle, e poder.

Enquanto, ao máximo, usam esta realidade de forma


manipulativamente tácita.

Frequentemente, cúmulo do sadismo, constroem, deliberadamente, uma


vida de mimos, paralelamente ao crescimento, e iminência de revelação.

Mantendo o filho adotivo numa ameça contínua. Fadada a romper-se a


qualquer momento que o(a) filho(a) revele alguma resistência.

No crescente paradoxo, e ansiedade, de um acentuado duplo vínculo..

Assim, ainda que meritória a prática da adoção pode envolver um


parasitismo por parte de pais adotivos obtusos, que pode ser muito grave. E
que precisa ser enfrentado, e confrontado pelos especialistas e autoridades.

452
CORPO 1/2.
A CRONIFICAÇÃO DO CORPO COMO OBJETO

453
CORPO 1/2.
A CRONIFICAÇÃO DO CORPO COMO OBJETO

454
CORPO 1/2.
A CRONIFICAÇÃO DO CORPO COMO OBJETO

Para um psicólogo existensial, a mera idéia de um corpo


cronificado; de um corpo cronidficado como objeto, soa alarnante.
Da mesmo modo que soa, e o é, a existência hiperreal, reificada,
cronificada como objeto. Motivo de justo interêsse, e preocupação.

Por que a saúde do corpo, como da existência, analogamente, está,


entre Cronos e Kairós, na sua não cronificação.

Em sua capacidade de dar-se a Kairós. Ao tempo da oportunidade do


possível, de criar, de conhecer, de emocionar-se, de criar, de suprarar-se, de se
regenerar... Sem do tempo de Kairós alternativamente ao tempo de Cronos, a
existência cronifica-se crônicamente. Torna-se presa da fatalidade, como diria
Buber, e da causalidade e, cada vez mais, à medida de sua fatalidade,
causalidade, e cronicidade, vai tornando-se, real, reificada, hiper realizada,
hiper realidade.

A existência não está destinada não real, mas ao possível.

O real é, apenas, a marca da criação e da superação.

Por isso, a preocupação com a reificação, a cronificação da existência.


Cronificada, ela abdica da emoção, é avessa à criação, e à superação. Perde a
capacidade de conceituar, e adota o preconceito; e, onde havia criação,
superação e alegria, floresce o niilismo, o ressentimento, e a culpa...

Isomórfico, com o corpo algo de similar acontece.


Em particular, a muscularidade do corpo, na ação. O corpo jeto, e
projeto, cede lugar ao corpo subjeto, e objeto. Na cronificação do corpo, na
perda de sua fisiologia e gestualidade de jeto, em dejeto, objeton ou sub-jeto.

O corpo jeto, transjeto, ator, é o corpo da oportunidade, Kairós,.Da


ação, do jeto do desdobramento de possibilidades. Que só depois de sua
dramática descansará como coisa, como impossível, saciado do possível.
455
Que vigore Cronos, até. Mas só até... Outro episódio da possibilidade.

Mas, o corpo ontológico, o corpo ativo, o corpo da oportunidade de


Kairós, rigorosamente atende a hierarquia da finitude e do sofrimento.

Não há como escamotear, não há como jogar a dor para debaixo do


tapete.

Se há dor, se há sofrimento, para ser vivido como ação, o sofrimento


pede passagem, e a ação é colocada a serviço de sua inarredável dramática..As
forças do corpo, as forças da existência estão a serviço da expressão do
sofrimento.
A questão é que, como o homem moderno acha que pode viver sem o
mundo natural, acha que, cada vez mais pode viver sem o sofrimento. E toma
toda as providências para isso. Torna-se incapaz, ou não tem força, ou pensa
que não tem força, para interpretar o sofrimento. E cada vez mais aliena-se do
modo de ser em em que ele pode vivenciar o sofrimento. Seu modo ontológico
de ser, seu modo de sermos da ação. Seu modo Kairós de sermos.

O resultado é que se instala, de forma cada vez mais crônica, o modo


crônico de sermos, a cronificção do modo ôntico, do modo coisa de sermos.

Com o afastamento da possibilidade do modo ontológico.

Isso -- a cronificação do corpo como objeto --, significa que ele perde
a possibilidade da vivencia, da vivência existensial, da vivência do corpo
como ação, como ator. Vivenciando-o meramente como dejeto, como sujeito,
ou como objeto.

Ora, não só a interpretação do sofrimento, mas todo o exercício do


corpo ´só se dá pelo desfrute do corpo como ator, como ação. O corpo erótico,
inclusive, só se dá como ação.

Quanta infelicidade, e quantos das questões existenciais que


conhecemos não vêm da tentativa recorrente frustada de vivenciar o corpo
como objeto, ou como sujeito... O ser humano troca, a vivênccia do corpo, o
456
desfrute do orpo, o exercício do orpo alegre, criativo, superativo; pela
obsessão do corpo; pelo corpo obsessivo-compulsivo do sujeito-objeto,
objeto-sujeito, que nçao nse liberta para a ação.

457
CORPO 2/2
Fenomenologia do corpo.

458
CORPO 2/2
Fenomenologia do corpo.

Afonso Fonseca, psicólogo.

Distorcidamente, pensa-se a fenomenologia como passando-se numa


existência, frequentemente abstrata.

Se, por um lado, não podemos negar o tempo próprio, e o não espaço,
da existência; não podemos negar que a existência não se pode dar sem o
corpo. E o corpo tem a sua espacialidade própria na ação, na sua
fenomenologia.

Na medida em que a existência é implicação e compreensão, o corpo


existencial, e fenomenológico,é todo o complexo que envolve a musculação
voluntária. Que dá-se, em última instância, como ação, e como compreensão.

Não há que pensar, pois, numa dicotomia entre o corpo e compreensão.

Em última instância, tudo que é fenomenológico passa pelo funil da


implicação, e da compreensão. O fenomenológico, que é existencial, dá-se,
intrinsecamente, como compreensão, e musculação.

Pode tender mais, ora para a compreensão, ora para a musculação. De


modo que a ação pode ser predominantemente compreensiva; ou,
predominantemente, muscular.

Mas, sempre, compreensão e musculação. Sempre, na vivência da


implicação, turbinada pela intensionalidade. A tensão, a tensionalidade da
ação, como desdobramento de possibilidades, em seu episódio ontológico.

Sim, porque, na medida em que é compreensão, o corpo é sentido. É


prazer, ou desprazer; é força, é alegria, é regeneração; é finitude, e sofrimento.

459
O corpo é, assim, não coisa, presente e atual. Quando é, com a
existência, intensidade, do desdobramento de possibilidades, da ação,
intensionalidade. Ação e compreensão transtensional, no episódio ontológico,
fenomenológico existensial da ação.

E, extensional, extensionalidade, o corpo também é coisa, passado,


inatual. Quando, passada a ação, repousa do episódio desta, a gestar um novo
ciclo, do eterno retorno das forças de vida.

Alternância existenciativa, de intensionalidade e extensão, de presença


e de sua vida ôntica; atual e inatualidade; passado e presença... O corpo aufere
a sua saúde de seus ciclos existenciais.

É imóvel, para os efeitos comocionais da ação. Inafetivo, explicativo,


causal e causativo, pragmático e útil. Mecânico e não criativo, não
regenerativo, em sua inatualidade extensional.

Dramático, ativo, é moção, co-moção, emocionado, é a profundização


da compreensão e do conhecer. A si próprio, a maravilha de si, e a maravilha
do mundo. Esquece-se, então, da causalidade, na onda da poiese; não é
pragmático, negligencia a utilidade, em privilégio da alegria do experimento,
e da experiência. É criativo, se supera, e se regenera, existensial, e
fisicamente.

Intensionalidade e extensão; presença, atualidade, e passado, o corpo-


existência vive de seus ciclos.

Nos quais é o jeto, de atualização de possibilidades, intensionalidade,


ação. E é dejeto, sujeito e objeto, extensionalidade.

Ator, ação; e sujeito, e objeto.

Cumpre diferenciar.

Na ação, o corpo não é sujeito, nem objeto.


460
Mas, sempre, eu e tu, na poiética e dialógica da ação. Na sua atualidade
e presença, o corpo é dialógica. Diapoiética. Tudo que a interação eu-tu não é
é dicotomia sujeito objeto.

Intensionalidade do jeto, relação eu-tu é ação, é ator.

461
DEPENDÊNCIA DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 3/4.
A alienação e negação da finitude, e do sofrimento. A negação da
existência. Impotência.

462
DEPENDÊNCIA DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
3/4.
A alienação e negação da finitude, e do sofrimento. A negação da
existência. Impotência.

463
DEPENDÊNCIA DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 1/4.
A reificação das drogas nas sociedade contemporâneas

Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

Contextualizar. É um procedimento fundamental, suspeitosamente


negligenciado e esquecido, para compreender e operar com relação ao
problema da dependência das drogas na sociedade contemporânea.

Primeiro, criticar a reificação do problema. Em segundo lugar, contextualizar


o problema, em seus vários níveis.

Entendemos, então, que o problema das drogas é, pesadamente, reificado.

Quando não politizado, ou seria despolitizado? E usada politicamente, ou


despoliticamente -- a sua reificação, e politização, ou despolitização. Como
estratégia política. Ou despolítica... O resultado é o que conhecemos.

Analisado o problema, e criticada a sua reificação, contextualizando-o,


considerando seus efetivos determinantes, entendemos que não estamos,
simplesmente, diante de uma questão social, ou de um problema médico,
simplesmente... Apesar das graves implicações médicas eventuais. Mas de um
problema mais amplo e mais sério. Uma questão cultural, ainda que com
particularizções fortemente existenciais, e familiares. Que é a
problematicidade da produção da impotência existencial na cultura da
sociedade contemporânea. O problema da dependência de drogas nas
sociedades contemporâneas apenas acompanha o problema da impotência
existencial. Que grassa pandemicamente...

Como uma sombra probemática, a dependência de drogas nas sociedade


contemporâneas é produzida, indissociavelmente, pela produção das culturas
modernas.

Suas raízes desbordam os limites da família. Efetivamente, adentram a


educação, a religião, a cultura, a política, a Economia. Para produzir enormes
gastos sociais, e, em especial, particularizando-se com pesados danos
familiares e individuais..

464
Mas, trata-se de um sintoma das sociedades contemporâneas. Não de uma
causa.

As causas estão na produção da impotência existencial, à medida que se


produzem as culturas das sociedades contemporânas. Seja por determinantes,
econômicos, seja por determinantes ambientológicos, religiosos, ou outros...

A reificação da dependência de drogas, consiste em não considerar a sua


gênese, e isolá-la como um processo em si.

Ato contínuo, conferir-lhe determinações alienígenas, e estereotípicas;


estigmatizantes em sua natureza. Oriundos, quando menos, da ignorância, ou
do ressentimento. Voltados, frequentemente, ao acumpliciamento com o
obscurecimento das causas efetivas... Voluntária, ou involuntariamente.

A verdade é que são ignoradas e desconcertantes as causas da dependência do


uso de substâncias e suas implicações. Elas são travestidas como um problema
médico, moral, individual, existencial; ou familiar, ou de rebeldia...

Na verdade, quando seguimos p fio de seus indícios, percebemos que as


causas vão muito mais longe. E a questão tem mais amplas e, possivelmente,
mais graves, determinações.

Aparentemente, o problema tem causas na produção massiva da impotência


existencial no âmbito das culturas das sociedades modernas. Por razões
ambientológicas, educacionais, políticas, econômicas, religiosas...

Isto quer dizer, em específico, que fatores ambientológicos, educacionais,


políticos, econômicos, religiosos, produzem massivamente a impotência
existencial, que leva à dependência de drogas. Consideremo-los.

Criticar a reificação
Contextualizar
Politizar, ou despolitizar

465
TAO E AÇÃO

466
TAO E AÇÃO
Afonso Fonseca, psicólogo.

E lá vou eu,
Gesto no movimento
Leminsky

Sublime, a concisão do Haicai de Leminsky capta essências da ação.


Indica, sobretudo, em sua concisão, a natural e inexorável convergência
entre a ação e o movimento do tao. O Tao da ação. O Caminho da Ação.
Dá-se o tao na vivência da ação. Na vivência da condição do ator. Dá-
se a ação na vivência do Tao.

Na vivência da condição de ator, no modo de sermos da ação, a


consciência não se cinde numa dicotomia sujeito-objeto. E não é a consciência
de um sujeito que contempla objetos. O sujeito é um espectador. De objetos.
No modo de sermos da ação não há objetos, nem sujeitos.
Apenas projeto. Projetação. O possível, potente, a ação.
O ator não é sujeito. Nem objetos.
O ator não é um espectador de objetos.
O ator não é espectador. Mas inspectador. Inspectativo, inspectação.
Na inspectação somos atores. Somos o tao na ação, a ação no tao. Na
inspectação.

Na ação, na inspectação, no tao, não somos ociosos.


Seguindo Buber, entendemos que toda a vivência ontológica é
desdobramento de possibilidades. É ação.
E compreendemos o crucial de que, parafraseando: não somos nós que
criamos a ação, mas ela não acontece sem nós...
O possível, potente, que é força da ação, dá-se como uma diferença.
Como um tu. Com o qual dialogamos, somos diálogo, dialógica. Como tu o
possível se atualiza, no diálogo. No diálogo o tu é ação. Que não se atualizaria
se eu não me abrisse, esteticamente, na atualidade e na presença. Na atividade
possível, potente, de uma disposição estética.
467
Na sua execução, perpetramos a ação.
A vivência do possível, assim, a força que se configura em ação, a ação,
é relação com uma diferença, um tu. Um tu possível, que se nos dá em
dialógica.
Em sua efetividade, o tao é o tu, o tu é o tao.
A dialógica é a inexorável e intrínseca convergência entre eu e o tu, a
convergência do eu com o tao. Em sua recíproca ambiguidade. Em sua
ambiguidade recíproca.

Ocorre que, departidos, deportados, desportados -- do modo de sermos


dos objetos, e do sujeito --, atualidade e presença, em ação, somos, cada vez
mais, possibilidade. Enquanto eu, possível, da dialógica eu-tu; eu, possível, da
dialógica eu-tao; eu da dialógica eu-possibilidade.
De modo que a dialógica eu-tu, a dialógica eu tao, no episódio da ação,
é, e cada vez mais, a dialógica eu/possibilidade com o tu/possibilidade. Ou
seja, a dialógica do eu/tao com o tu/tao. O tao/tu com o tao/eu. O tao com tao.
Tao/tao com o tao/tao.
Ainda que, inexoravelmente, sempre, a dialógica com a diferença, a
dialógica da outridade.
Eu e tu.
Equacionados no presente da dialógica do possível -- o eu possível, e o
tu possível --, interativos, na dança do possível, são o possível. O tao, na
dramática de sua dialógica. O tao na dialógica de sua dramática, na formativa
de suas possibilidades. O tao na possibilidade dialógica de sua dramaticidade.
A ação viva, em sua momentaneidade instantânea. Devir, toda ela,
movimento... De yin e de yang. De yin que se sabe, yang; de yang que se sabe
yin.
Muito longe do modo de sermos de sujeito e objeto... Antes inspectação
-- sem possibilidade de confrontação de objetos e sujeitos --, o eu e o tu
interagem.
Animada de possibilidade, sua dialógica é o seu movimento. Na qual a
própria ação gesta um eu cada vez mais movimento, moção, emoção; um eu
cada vez mais cognição, cada vez mais criação e superação, na moção, na
emoção; um eu cada vez mais, possível, um eu cada vez mais tao.
Submergido, cada vez mais inteiramente, na possibilidade de sua dialógica.
Submergido e difundido na possibilidade de sua taoística, submergido e
difundido no tao, o eu dialógico, o eu tao, tao, o eu-eu/tu, o eu-tu/tu, o eu-tu,
gesta no movimento, e enquanto movimento, o movimento do tao.

468
E lá vou eu,
Gesto no movimento...
Assim é a ação. Assim é a inspectação...
Movimento da dialógica de eu e de tu, que se equaciona no possível de
eu e de tu, no possível de tao eu, no possível de tao tu. No possível de eu-tu.
De tal modo que já não existem dentro nem fora, já não subsistem
sujeito, o subjeito, e objeto,objeito; nem sujeitado e objetivado. Enquanto dura
a instantaneidade momentânea da ação. Mas o projeto, a projetação da
expressividade expulsiva da ação.

Agir é estar inspectativamente submergido, zen, na dialógica do


possível, na dialógica do tao, na dialógica do caminho.
Pela linha de menor resistência.
Na incontornável dialógica de sua presença e atualidade...

Sobretudo, não é inação. Possível, não poderia...


Mas ao ritmo da prosódia do possível, ao ritmo do tao, zen, a ação é,
não só episódio do movimento pela linha de menor resistência, mas
a ação sem alvoroço... Em que damos e recebemos e somos, ao ritmo do tao.
Na dialógica do movimento de sua/nossa possibilidade.

Alvoroçar-se é perder a sua tartaruga mágica. É perder a docilidade


das vacas. E das éguas.
Porque o tao do céu dialogicamente copula com a magia das tartarugas,
e com a ruminante docilidade das vacas, e das éguas.
Na ação, descendido à terra, o tao do céu, bufão, ator, de ser outro, é a
magia da tartaruga, e a docilidade das vacas, e das éguas.
Ainda que, de tanto tao, o tao do céu continue sendo o tao do céu.
E, o tao da terra, o tao da terra. A docilidade das vacas e das éguas...
Por isso – pessoanamente – que se lhes chama de tartaruga mágica;
de vacas, e de éguas. E de tao do céu, ao céu do tao.
Mas, na instantaneidade momentânea de sua dialógica -- quando o céu
está na terra --, o céu pode ser a magia da tartaruga; e a docilidade ruminante
das vacas e das éguas...
Assim, ação não é alvoroçada.

469
É a ação que perfeitamente casa oportunidade e ação. Como o atleta
que, esteticamente, mergulha verticalmente, da altura do trampolim, na água
profunda da piscina.
É isto que é o zen (K. Sato).
E o seu movimento é o movimento pela linha de menor resistência. A
ação que não desgasta, e atinge o máximo de sua efetividade. Tanto que, pela
linha de menor resistência, parece inação. Mas, em sua efetividade de menor
resistência, de oportunidade do encontro de oportunidade e ação, em
específico é ação sem alvoroço.

Como ensina Takuan – sublime e resplandecente lua, num regato de


tantas centenas de anos já --, como ensina Takuan, a epistemológica do zen, a
epistemológica do tao, é a epistemológica da mente imóvel.
Terá sido Takuan o primeiro a nos ensinar que não existe explicação
que nos leve à compreensão, e à implicação? Apenas a imersão na dialógica
do tao é implicação e compreensão.
A epistemológica do zen, como observa Takuan, é a epistemológica
da mente imóvel, a mente liberta, libertada, resplandecente lua; no torvelinho
do regato.
Fugidio regato.
Que se conjuga com a resplandecência imóvel da lua.
Que, paradoxalmente única, se reflete em toda a miríade de pequenas, e
grandes, coleções de água da terra.
Lua, serena lua resplandecente. Que, única, se reflete multiplamente.
Imóvel, no regato fugidio.
Única, e multitudinária mente -- que se reflete em todas as coleções de
água --, a mente imóvel da ação, ativamente, dá conta, da inerte e paralítica
procissão das coisas objetivadas. E subjetivadas.
Como se, em sua inércia, em seu paralítico movimento inercial, as
coisas se movessem para ela ao ritmo de câmera lenta.
Precisa e alerta, arguta e sagaz, na sua condição, a mente imóvel da
ação pode com cada uma delas, e no seu movimento, intervir.
Como a deusa indiana, chinesa, e japonesa, de mil olhos, mil braços, e
mãos.
Em sua resplandecente possibilidade, a mente imóvel vê a cada um dos
aspectos de suas realidades objetivas de coisa. A cada um deles a mente
imóvel pode endereçar-se.

470
Consciência do ator, ação, resguarda do movimento letárgico e inerte
da multidão de objetos, na sua inspectativa dramática.
Projeto que não se subjeta. Ator, ação.
Clareza imóvel da imóvel mente zen da mobilidade da ação. Imóvel
mente zen da mobilidade do ator.
Móvel, mas sem alvoroço. E, sem alvoroço, inexorável.
Sem alvoroço, pode imiscuir-se nos interstícios não coisa das coisas.
Quanto menos alvoroçada na dialógica da oportunidade da ação, mais imóvel,
e mais perfeita na ação. A ponto de falsamente parecer-se inação.
Visão, de mil olhos, mil braços e mil mãos, apenas ela possível,
improvisativa, improvisação, como possível, para o imprevisto.

UMA NOTA DE ZEN


Depois de sua entrevista com o imperador, Kakua desapareceu e ninguém
voltou a saber nada dele. Foi o primeiro japonês que estudou zen na China, mas como
não ensinou nada dele à sua volta, exceto uma nota, não passou à história como o
homem que introduziu o Zen em seu país.
Kakua havia, na realidade, vivido na China, onde recebeu o verdadeiro
ensinamento. Não viajou a parte alguma enquanto ali esteve. Dedicava todo o seu
tempo à meditação em um rincão remoto da montanha. Se acontecia de alguém ir lhe
visitar para colocar alguma questão sobre o Zen, ele limitava-se a responder com uma
poucas palavras, e corria a refugiar-se em outro lugar das montanhas, onde não
pudesse ser encontrado com tanta facilidade.
Quando voltou ao Japão, o imperador, que havia ouvido falar dele, pediu-lhe
que pregasse o Zen para a sua própria iluminação e de seus súditos.
Kakua ficou em pé, em silêncio, diante do imperador. Improvisou então uma
flauta com as dobras de sua túnica e sibilou uma breve nota. Fez uma reverência
cortês, e desapareceu.

BIBLIOGRAFIA
BUBER, Martin Eu e Tu.
I CHING
LENINSKY, Paulo Catatau.
TAKUAN SOHO A Mente Libertada.
WEISS, Paul Carne de Zen, ossos de zen. Antologia de Histórias
Antigas do Budismo Zen.
471
472
NARRATIVA. IMPLICAÇÃO OU EXPLICAÇÃO?
Pedagogia ou Propaganda

473
NARRATIVA. IMPLICAÇÃO OU EXPLICAÇÃO?
Pedagogia ou Propaganda
Afonso Fonseca, psicólogo.

Supostamente, a narrativa descreve uma eventualidade. Em sua objetividade,


ou com as cores da subjetividade.

Mas, em sua efetividade, a narrativa é uma interpretação, pré-conceitual


e pré-reflexiva -- compreensiva.

Em sua fidedignidade, a narrativa, demanda a compreensão. Em sua


recepção, e em sua operacionalização. Como critérios de fidedignidade.

Isto significa que, em sua fidedignidade, a narrativa é ontológica.


Requer a riqueza pré-conceitual.

Não tem objetividade. Nem subjetividade. É dialógica. Tanto em sua


recepção, como em sua operação.

A eventualidade narrada, é, em si, um evento. De modo que a


eventualidade narrada não é um objeto, mas o tu de uma dialógica. Tanto na
recepção, como na operacionalização da narrativa.

Assim, diferentemente da foto, a narrativa, definitivamente, demanda a


dramática da atuação de um ator. Tanto na sua captação, na sua
operacionalização, como na sua recepção.

Assim, tanto a captação como a operacionalização, e a recepção, da


narrativa demandam a vivência do modo ontológico de sermos, da
interpretação compreensiva. Ontológica, fenomenológico existencial e
dialógica.

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A narrativa fundada na interpretação explicativa carece da
intensionalidade da implicação -- constituinte da compreensão, da
musculação, e da emoção.

A narrativa fundada na interpretação explicativa é carente da


motivação, da formação, da criação, da superação, da regeneração.

No máximo, a interpretação explicativa é teorética, conceitual. E carece


da riqueza do sentido.

Conceitual, ela apenas caricaturiza, esquematiza, e super simplifica as


formas engendradas na performance da ação.

A interpretação explicativa transmite à narrativa explicativa,reflexiva, o


seu empobrecimento em relação ao caráter pré-conceitual, e pré-reflexivo da
interpretação compreensiva

A narrativa fundada na interpretação explicativa carece de ação.


Elemento central da narrativa compreensiva.

Ou seja, não é ação. Não é interpretação. Não é narrativa.

Coaduna-se com o modo de ser do propagandista -- que Buber


descreve.

O propagandista que nem mesmo acredita na sua verdade, e que busca


impingi-la.

Diferentemente do pedagogo. Que -- ciente do valor de sua verdade, e


de que a força dela faz com que ela possa ser descoberta -- contenta-se em
explicitá-la.

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