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FACULDADE TECNOLOGIA COMUNICAÇÃO E TURISMO DE

OLINDA – FACOTTUR

Maria Cícera Alves dos Santos


Maria Daniely Cabral de Oliveira
Luciana Chagas de Lira

A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR ESPECIALISTA EM


PSICOPEDAGOGIA NAS SÉRIES INICIAIS

União dos Palmares - AL


2016/2018
FACULDADE TECNOLOGIA COMUNICAÇÃO E TURISMO DE
OLINDA – FACOTTUR

Maria Cícera Alves dos Santos


Maria Daniely Cabral de Oliveira
Luciana Chagas de Lira

A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR ESPECIALISTA EM


PSICOPEDAGOGIA NAS SÉRIES INICIAIS

ARTIGO apresentado como exigência parcial


para obtenção do título de Psicopedagogia
clínica institucional à Banca Examinadora da
FACOTTUR.
ORIENTADORA: Josenilda Paulino
Sarmento

União dos Palmares - AL


2016/2018
AGRADECIMENTOS
Ao nosso Deus e Pai, em primeiro lugar.
Aos nossos esposos e filhos;
Aos familiares e amigos, colegas de curso que contribuíram direta e/ou
indiretamente para que este trabalho fosse desenvolvido;
A nossa Professora e orientadora Josenilda Paulino Sarmento pelo apoio.
SUMÁRIO

Dedicatória ....................................................................................................... 02

Resumo ............................................................................................................ 04

Introdução ......................................................................................................... 05

Justificativa ....................................................................................................... 06

Objetivo ............................................................................................................ 06

Metodologia ...................................................................................................... 06

1 – A aprendizagem e a questão estrutural ...................................................... 07

1.1 – A aprendizagem como processo ............................................................. 07

1.2 – A percepção de mundo e a avaliação no processo de aprendizagem .... 08

1.3 – O âmbito escolar no processo educacional ............................................ 10


2 – A psicopedagogia como ciência e a sua utilidade ativa ............................. 12
2.1 – A psicopedagogia no Brasil e as teorias de aprendizagem .................... 12
2.2 – A interação como eixo central na aprendizagem .................................... 14
3 – A importância do profissional em psicopedagogia ..................................... 16
3.1 – No desenvolvimento sócioeducacional ................................................... 16
3.2 – No âmbito sócioambiental ....................................................................... 17
4 – Considerações finais e recomendações .................................................... 19
5 – Referências ................................................................................................ 20
A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR ESPECIALISTA EM
PSICOPEDAGOGIA NAS SÉRIES INICIAIS

Maria Cícera Alves dos Santos


Maria Daniely Cabral de Oliveira
Luciana Chagas de Lira

Resumo

O principal objetivo deste artigo é abordar acerca das origens da Psicopedagogia, bem como sua
função de lidar a princípio com as dificuldades no processo de aprendizagem. Também, optou-se por
dissertar acerca do fenômeno de aprendizagem e algumas correntes de pensamento que discutem a
formação do indivíduo, nas esferas biológica, psicológica e social. Para que a tarefa fosse possível, a
pesquisa fundamenta-se numa revisão bibliográfica, na qual utilizou-se os seguintes teóricos:
Chavellard (2013), Ivic (2010), Hoffmann (2012), Libâneo (2012), Araújo (2014), Locke ([1632 – 1704]
1999), Vygotsky ([1896 – 1934] 1991), dentre outros. Optamos por bem, enfatizarmos o viés sócio
interacionista, tendo consciência de que trata-se do caminho mais adequado para o aprimoramento
dos fatores educacionais no âmbito escolar.
Palavras-chave: Psicopedagogia, aprendizagem e interação.

THE IMPORTANCE OF THE SPECIALIST TEACHER IN


PSYCHOPEDAGOGY IN THE INITIAL SERIES

Abstract
The main objective of this article is to discuss the origins of Psychopedagogy, as well as its function of
dealing in principle with the difficulties in the learning process. Also, it was decided to lecture on the
phenomenon of learning and some currents of thought that discuss the formation of the individual, in
the biological, psychological and social spheres. In order to make the task possible, the research is
based on a bibliographic review, in which the following theorists were used: Chavellard (2013), Ivic
(2010), Hoffmann (2012), Libâneo (2012), Araújo (2014), Locke ([1632-1704] 1999), Vygotsky ] 1991),
among others. We have chosen to emphasize the interactionist bias, being aware that this is the most
appropriate way to improve educational factors in the school context.
Keywords: Psychopedagogy, learning and interaction.
5

INTRODUÇÃO

A Psicopedagogia teve como primeiro objeto de análise as dificuldades no


processo de aprendizagem, e surgiu como um mecanismo auxiliar que atendesse de
fato a esta demanda. Aliada a medicina, possuindo um caráter mais clínico.

Em primeiro lugar, o presente artigo busca discutir sobre o fenômeno de


aprendizagem e a escola, abarcando neste ponto as correntes de pensamento acerca
do processo, desde o Inatismo ao Interacionismo, tendo como principais pensadores
Locke e Vygotsky (ambos mencionados mais a frente).

Devemos entender que o ser humano não tem uma mente vazia e que será
preenchida com o passar do tempo, de forma mágica ou transcendente, nem é uma
página em branco (LOCKE [1632 – 1704], 1999). Tal teoria fora derrubada pelo
ambientalismo, cujo pensamento central era a influência do meio sobre o humano. O
que também não é uma total verdade.

Adotamos aqui, o sóciointeracionismo (VYGOTSKY [1896 – 1934], 1991) como


chave para a questão da aprendizagem, tendo em vista que consideramos a interação
do humano com o meio, um fator fundamental para que o indivíduo chegue ao
conhecimento. Sendo que, o conhecimento é mutável, pois a aprendizagem é um
processo contínuo, no qual o simbólico alavanca a criança a compreensão do mundo
real.

Em seguida, discorre-se acerca da chegada da Psicopedagogia ao Brasil, bem


como a importante contribuição para as áreas Clínica, Institucional e de Pesquisa.
Convém lembrar que o Profissional especializado em Psicopedagogia é responsável
pelo diagnóstico das crianças (PICETTI & MARQUES, 2016), contudo, este trata-se
de uma análise prévia dos momentos em que se encontraram, podendo encaminhar
a mesma a um determinado profissional.
6

JUSTIFICATIVA

O sistema educacional nos dias atuais sofreu alterações com a democratização


do ensino, contudo, as propostas que visam integrar e incluir diversas classes de
alunos têm falhado em outros pontos. Com as dificuldade de aspectos psíquicos e
neurológicos, a necessidade de se discutir acerca da importância da Psicopedagogia
tem aumentado, tanto na escala local quanto global.

OBJETIVO

O objetivo é lançar bases/alicerces para a construção de método eficaz de


aprendizagem, visando o acompanhamento dos alunos que carecem do auxílio da
Psicopedagogia. Pretendemos resgatar parte da gênese histórica desta ciência, bem
como sua utilidade na educação, tendo em vista que trata-se de uma poderosa arma
para alavancar os alunos rumo ao conhecimento, bem como capacitar-nos nesta
situação delicada vivenciada por todos nós, como educadores.

METODOLOGIA

Partindo de uma revisão bibliográfica, buscamos realizar uma análise sintética


acerca da condição estrutural da educação brasileira, bem como o surgimento da
Psicopedagogia como um elemento necessário no âmbito institucional, como método
de inclusão social nas políticas educacionais. Fundamentado na teoria interacionista,
o presente artigo aborda a temática da Psicopedagogia desde o processo de
aprendizagem ao profissional da área e sua atuação.
7

1 – A APRENDIZAGEM E A QUESTÃO ESTRUTURAL

1.1 – A APRENDIZAGEM COMO PROCESSO

A aprendizagem é um processo humano dotado de complexidade, no qual as


crianças carecem de um acompanhamento adequado, seja nos lares ou nas escolas.
Quando enfatizamos a aprendizagem como processo estamos de maneira clarividente
afirmando que há um processo global de crescimento, tanto individual como coletivo.

No início, a criança aprende através da imitação, seja dos pais, de animais, ou


das pessoas em volta, no ato de caminhar, comer, sorrir, falar e até mesmo gesticular,
mesmo não tendo tanta eficácia, acontece sem que a mesma tenha noção de valores
morais como certo ou errado. Este espaço seria o mundo mágico, cheio de felicidade,
do qual os adultos foram expulsos.

O ser humano anseia atingir a maioridade, quando consegue, anseia ser


independente; depois, sonha em ser pai/mãe; em seguida, deseja que o (s) filhos
cresçam e saiam de casa. Todavia, no fim de suas vidas, lamentam e desejam voltar
ao início de tudo: ao paraíso da infância1.

Outrora, isto era associado com ter ou não ter cultura2, sendo o corpo o elo que
liga a natureza humana com o meio, transformando-o constantemente. Contudo, o ser
humano precisa ser “domesticado”, e desde cedo, a criança é ensinada a obedecer
para que seja aceita e respeitada na sociedade.

A aprendizagem não deve ser confundida com o conhecimento. Enquanto a


aprendizagem está vinculada a elaboração e modificação do comportamento humano,
o conhecimento está ligado a assimilação/reconhecimento de um determinado lugar
ou objeto, dando pontapé inicial ao exercício da aprendizagem, que é um processo
contínuo, conduzindo ao conhecimento3.

1
Tuan, 2005, p. 19.
2
Tuan, 2005, p. 45.
3
Baseado nas informações do dicionário da língua portuguesa Larousse Ática, 2004, pp. 60, 228.
8

Ora, o processo depende da memorização e da atenção, contudo, para que


haja sucesso na transposição didática 4 , a linguagem e a comunicação são
ferramentas essenciais. Pois, sabemos que

A compreensão da linguagem consiste em uma cadeia


de associações, que surgem na mente sob a influência
das imagens semióticas das palavras. A expressão do
pensamento na palavra é um dos movimentos inverso,
pelas mesmas vias associativas, dos objetos
representados no pensamento às designações verbais
desses mesmos objetos5.

Quando tratamos acerca de cadeias de associações, incluímos todo processo


que envolve tanto a fusão como a dialética subjetividade e materialidade. Sendo a
subjetividade e o simbólico ferramentas para se conectar o aluno ao conhecimento da
concretude, seja através de imagens, vídeos ou até mesmo palavras.

1.2 – A PERCEPÇÃO DE MUNDO E A AVALIAÇAO NO PROCESSO DE


APRENDIZAGEM

Os seres humanos apreendem a realidade através da percepção e das atitudes


ambientais. A interação no espaço vivenciado traz a mescla da cultura com o meio,
através de um processo dinâmico de aprendizagem, dia após dia. Lembrando que as
crianças vivem um mundo simbólico, e ainda não têm uma percepção de mundo
(tendo em vista que este é um termo conceitual avançado demais para os anos
iniciais). Este processo e sua complexa dinâmica é chamado de Topofilia6.

A visão tem um papel fundamental no processo de aprendizagem; é através


deste sentido que o ser humano memoriza o que se passa diante de si, embora haja
variação em amplitude emocional e intensidade. É importante frisar que a

4
Termo de Yves Chavellard, 2013. Diz respeito ao conjunto de mecanismos utilizados para
transmissão do conhecimento.
5
Ivic, 2010, p. 74.
6
Termo de Tuan (1980) para designar a interação do humano com o meio ambiente em volta, bem
como a dinâmica deste processo.
9

aprendizagem está ligada a relação humano-meio. O que inicia-se através da visão,


é consumado graças aos demais sentidos.

A criança apreende a realidade através de mecanismos lúdicos. Uma bola


jogada na rua derrubando uma pilha de cacos de telha, ou até mesmo uma tampa de
depósito lançada ao ar, possibilitam o desenvolvimento corporal da criança.

Durante o processo de aprendizagem, é necessário que haja um


acompanhamento contínuo, que proporcione para a criança um aconchego, e um
senso de familiaridade, tendo em vista que ela busca na escola mais do que uma
instituição formal, ela busca a extensão de seu lar.

Dentro desse viés, propomos a avaliação como mediação no processo de


aprendizagem, tendo em vista que deve haver um acompanhamento profissional que
auxilie a criança e a conduza ao conhecimento.

Avaliar não é julgar, mas acompanhar um percurso de


vida da criança, durante o qual ocorrem mudanças em
múltiplas dimensões com a intenção de favorecer o
máximo possível seu desenvolvimento7.

Diferente do modelo de avaliação moderno, a proposta da avaliação como


processo de aprendizagem, visa despertar o aluno para que interaja com o meio,
influenciando e, sendo por ele influenciado. Tal influência deve ser detectada, pois o
futuro está em jogo, tendo em vista que

[...] interessa-lhe ter o diagnóstico (“o retrato”) do que o


estudante já aprendeu, mas também do que necessita
aprender ainda, assim como lhe interessa saber, caso os
resultados obtidos sejam insatisfatórios, quais os fatores
condicionantes desse nível de aprendizagem8.
O profissional atuante deve prestar atenção na capacidade intelectual,
diagnosticando até que ponto a criança aprendeu alguma coisa. Com base nesta
assimilação, constrói-se uma teia de projetos que serão desenvolvidos na formação
infantil, através dos mecanismos simbólicos que são úteis no processo, visando o
futuro da criança.

7
Hoffmann, 2012, p. 13.
8
Luckesi, 2011, 182.
10

1.3 – O ÂMBITO ESCOLAR NO PROCESSO EDUCACIONAL

A escola é considerada como centro que detém o conhecimento, sendo


atribuído à instituição a responsabilidade de formar todos os que a frequentam. A
educação de crianças até 6 anos é dever do Estado e responsabilidade municipal,
através de seus aparelhos, como creches, escolas infantis e de ensino fundamental,
tanto na zona rural como na zona urbana. Através de um setor administrativo,
contendo secretarias e núcleos que têm a responsabilidade de supervisionar o
processo educacional em uma determinada área9.

O modelo da instituição foi severamente criticado por Illich (1985), e segundo


ele, a escola aguça uma seletividade que segrega e exclui, mais do que integra e
inclui. Tal modelo educacional é pautado em formalismos, certificados e papéis (que
na maioria das vezes não denota capacidade alguma). Não comungamos com
extremismo nenhum, contudo, reconhecemos que há um lado do sistema escola que
é prejudicial, pautado em graus adquiridos através de obtenção de notas e uma
sistematização tosca, que não condiz com a realidade dos alunos.

Sabemos que nem sempre a escola garante a aprendizagem. O processo de


humanização é dependente da transposição didática, questão que tem estreita ligação
com a organização estrutural que proporcione uma melhor adaptação do ser no meio.

É impossível haver escola sem que haja caracterizações políticas envolvidas,


e tais fatores de cunho político podem fazer do âmbito escolar uma espécie de lócus
bancário10. Esta ação educativa deve ser condescendente ao povo, sintonizando a
comunidade ao conhecimento, os guiando e fazendo jus ao discurso, aplicando-o à
realidade social.

O mundo humano/social é processual, pois é um constructo na história, no


tempo e no espaço. A realidade social que mencionamos denota justamente o que há
de concreto na estrutura educacional. Há uma enorme necessidade de uma educação
comunitária11.

9
Libâneo, 2012, p. 337.
10
Freire, 1987, p. 55.
11
Termo usado por Martin Buber, 1987, p. 82.
11

Por educação comunitária entendemos, os mecanismos educacionais que


preparam o indivíduo para que se torne útil nas áreas social, política e/ou religiosa –
o que nos leva à crença de que a educação molda as engrenagens de acordo com a
demanda da máquina-mor, que é a sociedade.

A complexidade e dificuldade do ensino no Brasil tem se intensificado, até


mesmo nos dias atuais, onde os meio tecnológicos possibilitam mecanismos que
atraiam as crianças e auxiliem na transmissão do conhecimento. É graças a este
cenário que surge a Psicopedagogia no Brasil, questão que trataremos a seguir.
12

2 – PSICOPEDAGOGIA COMO CIÊNCIA E A SUA UTILIDADE ATIVA

2.1 – A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL E AS TEORIAS DE APRENDIZAGEM

A Psicopedagogia surge em primeiro plano na Europa, na década de 40, aliada


à medicina. A finalidade era reabilitar as crianças com distúrbios, tanto no âmbito
escolar como nós lares. A junção com os profissionais da saúde visava a eficácia
contra a resistência das famílias para com o novo método de tratamento, tendo em
vista que a maior parte dos engajados na questão eram médicos.

No Brasil, a questão era o fracasso no âmbito escolar 12. A Psicopedagogia


surge na década de 70, com o objetivo de lidar com as dificuldades das crianças
relacionadas ao fenômeno de aprendizagem, que eram múltiplas (desde os fatores
biológicos aos cognitivos). Ora, tendo em vista que os transtornos e distúrbios são
alterações apresentadas na aquisição de conhecimentos e habilidades motoras,
psicológicas e afetivas relacionadas a criança.

O pensamento tradicional adotava a concepção de que as crianças não


avançavam devido a própria natureza biológica. O contexto educacional, em síntese,
destacava três concepções divergentes que forneciam base para a análise do
processo do desenvolvimento na esfera de aprendizagem: o Inatismo, o
Ambientalismo, e o Interacionismo.

O Inatismo expunha que as potencialidades e deficiências humanas eram


naturais, e que a escola não poderia se responsabilizar por algo assim. Esse
extremismo excluía o sistema educacional da responsabilidade para com o
desenvolvimento da criança, afirmando que já estavam embutidos biologicamente os
dons do indivíduo, ligando o comportamento humano a uma espécie de determinismo
biológico.

Em contrapartida, o Ambientalismo confronta o Inatismo, resgatando as ideias


de John Locke (1632 – 1704), sobre a tábula rasa, que tinha a mente humana como

12
Araújo, 2014, pp. 13-24.
13

uma página em branco, preenchida cada dia, pela experiência13. É bem verdade que
o Ambientalismo praticamente derruba o Inatismo, contudo, é também um “tiro no
escuro”, insuficiente para tratar a realidade da aprendizagem.

Por último, o viés interacionista, defende a ideia da unidade dialética entre os


fatores biológicos e os fatores sociais, tendo o cérebro como base fundamental da
aprendizagem. O principal expoente desta teoria é Vygotsky (1896 – 1934), que
acreditava na aprendizagem mediada. Nas abordagens de Vygotsky, destacam-se a
fala e a ação, como principais elementos no desenvolvimento da criança, o que em
tese, segundo ele relata, refere-se a relação estrutural.

A relação estrutural pode mudar mesmo durante um


experimento. A mudança crucial ocorre da seguinte
maneira: num primeiro estágio, a fala acompanha as
ações da criança e reflete as vicissitudes do processo de
solução do problema de uma forma dispersa e caótica.
Num estágio posterior, a fala desloca-se cada vez mais
em direção ao início desse processo, de modo a, com o
tempo, preceder a ação. Ela funciona, então, como um
auxiliar de um plano já concebido mas não realizado,
ainda, a nível comportamental14

Fica claro que, o ser humano é um ente estrutural (biológico, psicológico e


social), e que a aprendizagem é um processo complexo e interativo. Quanto a
interação, as figuras representativas para a criança são os professores e a escola,
seguidas do ambiente do espaço vivenciado no cotidiano da mesma.

13 Locke [1632 – 1704], 1999, p. 57.


14
Vygotsky [1896 – 1934], 1991, p. 22.
14

2.2 – A INTERAÇÃO COMO EIXO CENTRAL NA APRENDIZAGEM

O elemento primordial para se compreender a aprendizagem é a análise do


comportamento, que a princípio, é mutável, considerado etiológico. O processo global
de crescimento, ou seja, a aprendizagem, tem conexão direta com tais relações, pois
todo ser humano traz consigo a característica relacional no processo de
desenvolvimento e construção do conhecimento.

Deve-se, portanto, diferenciar aqui, os termos conhecimento e aprendizagem.


Embora seja tratados como sinônimos, sabemos que a aprendizagem (que é
relacional) conduz ao conhecimento (resultante do processo de aprendizagem).

A aprendizagem é mutável, como já o dissemos anteriormente, pois trata-se de


mudança de comportamento relacionado aos processos neurais, e possui
característica contínua, envolvendo a memória e a construção/percepção de mundo
de cada indivíduo.

Os distúrbios, que dificultam o processo de crescimento podem ter estreita


relação (e, geralmente têm) com questões afetivas, mesmo o aluno possuindo
capacidade motora ou inteligência adequada, há uma espécie de bloqueio, vinculado
com problemas de transtornos.

O processo interacionista só é possível quando aplicado através da mediação.


A condução do indivíduo ao conhecimento é considerada como emancipação humana
nos processos interativos de aprendizagem 15 . Durante muito tempo, a
Psicopedagogia foi contestada arduamente, e a associação fundada em meados da
década de 80 prevaleceu, mostrando a importância da ciência e de seu objeto.

O objeto de estudo, então, da psicopedagogia, neste


momento era o ser cognoscente. Todo ser humano é um
ser cognoscente que constrói seu próprio conhecimento,
sendo um ser pluridimensional constituído por três
dimensões: dimensão racional, dimensão afetiva e
dimensão relacional16.

15
Beuclair, 2008, p. 2.
16
Almeida, 2010, p. 13.
15

O ser humano aprende de acordo com a sua interação com o meio, com os
demais e consigo mesmo. A interação gera a identidade rumo a autonomia, gerada
através do conhecimento alcançado. As dimensões que compõem um ser cognoscível
possuem a razão como fundamento, pois o cérebro é responsável pelo comando do
corpo, contudo, não se pode restringir o mental ao físico nem o físico ao mental.

A interação nos leva ao fato de que os professores precisam despertar com


relação ao que realmente procede na escola, pois as condições estruturais devem ser
levadas em conta antes que haja um discurso belo e que não condiz com o que de
fato está acontecendo na sociedade.

Eis a importância da obra de Freire (1987), ao defender uma educação


libertadora, que arranque todo e qualquer aluno das amarras da ignorância e da
obscuridade, através do que ele mesmo chamou de Pedagogia do oprimido.
16

3 – A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL EM PSICOPEDAGOGIA

3.1 – NO DESENVOLVIMENTO SÓCIOEDUCACIONAL

A Psicopedagogia está extremamente ligada ao processo de aprendizagem e


aos padrões de desenvolvimento, enxergando a totalidade do indivíduo. A ação
interventora para a melhoria das relações voltadas para o âmbito metodológico e
didático, requer que se forneça suporte à estrutura escolar.

Outrora o objeto de estudo da Psicopedagogia era a dificuldade de


aprendizagem que o indivíduo tinha, mas passou a focar o ser cognoscente, devido
ao avanço de dificuldades oriundas de fatores tanto internos como externos do ser
humano.

O profissional especializado em Psicopedagogia é responsável em auxiliar o


docente em sala de aula, utilizando técnicas e recursos didáticos para tornar as ideias
concretas, dotadas de vida/dinâmica diante dos alunos. Sua função baseia-se no
exercício de detectar os problemas e acompanhar o desenvolvimento individual de
cada aluno na sala de aula, fazendo recomendações, sempre em diálogo com as
demais áreas do conhecimento.

Sabe-se que o ser cognoscente é o indivíduo que conhece e produz, sempre


em interação constante com o meio, vivenciando e construindo, através de elementos
que já reconhece e assimila. Desta maneira, o Psicopedagogo deve estar atento a
dinâmica do processo de formação do ser.

A Epistemologia da Psicopedagogia, considerando-se a


complexidade da vida, do ambiente e do ser
cognoscente, pode estar na relação dos opostos que
compõem um todo coeso e que produzem, nesse todo, a
contradição17.
Como na afirmação anterior, as partes que formam o todo, o fazem de maneira
dialética. O conhecimento (o todo) ligado as percepções (construções mentais
codificadas pelos sentidos) não é um espelho do mundo externo18. Então, percebe-se

17
Barbosa, 2007, p. 95.
18
Morin, 2000, p. 20.
17

que a complexidade mencionada nos remete a tese Cassireriana das formas19, que
considera “conteúdo” e “forma” como indissociáveis e simultâneos no processo de
formação do ser.

FILOSOFIA CIÊNCIA PRÁTICA


CONCEPÇÃO DO EXPLORAÇÃO DO INSTRUMENTOS/MECANISMOS
SER SER PARA LIDAR COM O SER

COMPLEXIDADE DO PRODUÇÃO DO MATERIAL AUXILIAR


SER CONHECIMENTO
Baseado em Barbosa, 2007, p. 96.

Como expresso na tabela acima, o Psicopedagogo deve-se pautar de maneira


eficaz, baseando-se num diagnóstico carregado de seriedade e fundamentado
cientificamente. A concepção do ser cognoscente traz consigo a complexidade e
indissociabilidade entre forma e conteúdo. O que nos dizeres de Schopenhauer, seria
a vontade e a representação20, e a linguagem seria o primeiro produto e instrumento
da razão.

3.2 – NO ÂMBITO SÓCIOAMBIENTAL

O psicopedagogo deve estar ciente de que o corpo é o objeto imediato de


conexão entre a subjetividade e a materialidade21, e que é condição de conhecimento
da vontade, considerada como totalidade do ser. Deve-se tomar muito cuidado no
início do diagnóstico, pois a ciência tende a realizar pesquisa de forma ingênua, na
maioria das vezes, ao realizar um primeiro levantamento e uma primeira fixação em
recortes, desconsiderando o todo.

19
Cassirer, 2001, p. 50.
20
Schopenhauer, 2015, p. 43.
21
Ibid, 2015, p. 117.
18

Enxergar a totalidade do ser faz parte da busca do Psicopedagogo em construir


novos caminhos para uma melhor aprendizagem. Através dos mecanismos ou como
sugerimos na tabela, material auxiliar, o Psicopedagogo lida com a criança,
conectando a mesma ao mundo real através do simbólico, seja de maneira lúdica ou
através da linguagem.

O que chamamos símbolo é um termo, um nome


ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar
na vida diária, embora possua conotações
especiais além do seu significado evidente e
convencional22.

O que fica claro é que a atenção recai no simples fato do que é assimilado ou
não pelo aluno. É com base na assimilação da criança, que a escola deve trabalhar,
e não o oposto. O simbólico passa a ser mola que alavanca a criança para melhor
absorver o conteúdo transmitido.

A Psicopedagogia subdivide-se em três campos de atuação: Clínica,


Institucional e de Pesquisa. Contudo, abordamos aqui o campo tanto de pesquisa
como institucional, pois na escola, o profissional especializado em Psicopedagogia
não trabalha sozinho. Os pais, bem como a direção e coordenação escolar têm papel
fundamental, ao auxiliar o Psicopedagogo, e também receber deste auxílio. Tendo em
vista que as relações no ambiente são de suma importância para que o diagnóstico
seja feito de maneira precisa e eficaz.

O Psicopedagogo busca conduzir o sujeito ao protagonismo de seus próprios


processos de aprendizagem 23 , ao habilita-lo para que possa se conceber e agir
livremente, interagindo com os demais no ambiente que lhe seja agradável e coerente.

O diagnóstico não é um parecer absoluto do especialista em Psicopedagogia,


mas apenas um parecer inicial dos primeiros encontros, podendo necessitar do
encaminhamento para um profissional específico, seja na área de Neurociência,
Psicologia ou outras.

22
Jung, 1964, p. 20.
23
Picetti & Marques, 2016, p. 266.
19

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Cabe ao Especialista em Psicopedagogia o saber lidar com as necessidades


das crianças no âmbito escolar, sejam elas didáticas ou voltadas a questões
estruturais, buscando conciliar cada parte e unificar socialmente todos.

A intervenção deve ser útil ao iluminar as questões de dificuldades como déficit


no processo de aprendizagem e problemas relacionados as questões
afetivas/emocionais. A função do Psicopedagogo culmina na condução da criança ao
conhecimento, seja na estrutura escolar, ou na reinserção ao mundo real, tendo em
vista que muitas crianças se isolam das demais.

Vale lembrar que o Psicopedagogo serve como apoio a classe docente, e


também aos profissionais da direção e coordenação da escola, nos planos de aula e
na metodologia de ensino que possibilite avanço no raciocínio lógico e também nas
diversas matérias de ensino.

É bem verdade que na maioria das vezes não possibilidade de prevenção, e


que o Psicopedagogo precisa ir para o confronto, diagnosticando e orientando os pais
das crianças. Muitas das vezes, não há tratamentos definitivos, mas há métodos que
amenizam os problemas e resgatam o melhor que há nas crianças.

Por fim, recomenda-se que o leitor interessado na temática, se aprofunde


pesquisando teóricos como Vygotsky, Piaget, Wallon, Locke, Freud, Freire, etc. e que
se conscientize de que esta pesquisa é apenas de teor introdutório, fornecendo uma
base das origens e relevância da Psicopedagogia Institucional no âmbito escolar.
20

5 – REFERÊNCIAS

ALMEIDA, I. S. de. A importância do Psicopedagogo em uma instituição escolar. –


UCAM: Rio de Janeiro, 2010.

ARAÚJO, Paula Fernandes Corrêa de. A Psicopedagogia seria uma possibilidade


para o enfrentamento das dificuldades de aprendizagem? – Faculdade de
Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do
Campo, 2014.

BARBOSA, L.M.S. A epistemologia da Psicopedagogia: reconhecendo seu


fundamento, seu valor social e seu campo de ação. IN: Revista Psicopedagogia, 24
(73), pp. 90-100: Paraná, 2007.

BEAUCLAIR, J. Aprendizagem ao longo da vida, inteligência e gestão de pessoas nos


espaços institucionais: pressupostos básicos a partir da Psicopedagogia. UCAM: Rio
de Janeiro, 2008.

BUBER, Martin. Sobre comunidade. – Tradução: Newton Aquiles von Zuben. Editora
Perspectiva: São Paulo, 1987.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas: a linguagem. Tradução Marion


Fleischer. – São Paulo: Martins Fontes, 2001.

CHAVELLARD, Y. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações


introdutórias. – Traduzido por Cleonice Puggian com permissão do autor. IN: Revista
de educação, ciências e matemática; v. 3, n° 2. maio/ago: 2013.

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