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A percepção sobre a corrupção no País não corresponde integralmente à realidade vivida no dia a
dia pela população, revela a pesquisa “Barômetro Global da Corrupção: América Latina e
Caribe 2019”, feita pela Ipsos e coordenada pela entidade Transparência Internacional. Os
números indicam uma sobrevalorização do tema, especialmente quando comparados com os
dados de outros países da América Latina. Não é que o combate à corrupção não deva ser uma
prioridade ou que o assunto não mereça uma diligente atuação das autoridades. Precisamente
porque é fundamental combater as ações criminosas é que se deve ter um diagnóstico objetivo do
tema.
Outro ponto que chama a atenção na pesquisa é que, para a maioria dos brasileiros (54%), a
corrupção piorou nos últimos 12 meses. Ao mesmo tempo, segundo a avaliação da Transparência
Internacional, “nos últimos cinco anos, a luta contra a corrupção avançou na América Latina e no
Caribe. Políticos de alto escalão foram condenados por corrupção na Guatemala e no Brasil, e
uma onda de ações judiciais contra os corruptos alastrou-se por todo o continente, incluindo a
investigação realizada pela Operação Lava Jato no Brasil”.
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,pragmatismo-afinal,70003029415[30/09/2019 00:00:33]
Pragmatismo, afinal - Opinião - Estadão
Uma possível causa para esse descompasso entre percepção e realidade, segundo a pesquisa, é
que “o aumento da desconfança e decepção com o governo tem contribuído para um sentimento
anticorrupção maior em toda a região”. Na América Latina, apenas 21% confam no governo; 27%,
nos tribunais; e 33%, na polícia.
A polícia é o serviço público mais propenso a exigir e a receber propina na América Latina. Quase
um quarto das pessoas que tiveram algum contato com a polícia (24%) pagou algum tipo de
suborno. Na Venezuela, esse número chegou a 62% e no México, a 52%.
Segundo a pesquisa, a razão mais frequente para o pagamento de suborno na América Latina é
acelerar (37%) ou melhorar (21%) o procedimento público. Porcentual signifcativo de pessoas
(16%) paga valores adicionais ao funcionário público como forma de expressar gratidão pelo
atendimento.
Um terço dos que pagaram suborno (33%) relatou ter recebido expressamente um pedido de
propina. Em 20% dos casos, embora não tenha havido um pedido explícito de suborno, havia a
percepção de que o funcionário público esperava um pagamento informal.
O estudo também revela que a corrupção afeta mais as pessoas mais vulneráveis, muitas vezes
sem meios para resistir à pressão de agentes desonestos, denunciar ou buscar medidas
alternativas. Por exemplo, há mais relatos de mulheres sobre pagamento de propina para obter
assistência médica do que de homens. Essa relação entre vulnerabilidade e corrupção é nítida no
caso da Venezuela, com seus índices tão excepcionais de suborno.
O quadro apresentado pela pesquisa indica que há ainda muito a melhorar no combate à
corrupção e na prestação de serviços públicos. Nota-se em muitos lugares uma arraigada cultura
de pagamentos informais a funcionários públicos. Ao mesmo tempo, há uma grande disposição de
ajudar. Questionados se cidadãos comuns podem fazer a diferença na luta contra a corrupção,
82% dos brasileiros responderam afrmativamente. E a maioria (57%) entende que denunciar atos
de corrupção pode levar a mudanças. É preciso aproveitar essa boa disposição. O combate à
corrupção é um necessário serviço público, que, para ter frutos duradouros, deve ser realizado
sem demagogia e estritamente dentro da lei.
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