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JUAREZ CIRINO, CRIMINOLOGIA RADICAL

V. CRIMINOLOGIA RADICAL E A FORMA LEGAL DO CONTROLE SOCIAL (p. 87)

● Pashukanis: ideologia penal é “alegoria jurídica” de proteção da sociedade (objetivos


ideológicos), que mascara os objetivos reais, de proteção dos interesses das classes
dominantes, mantenedoras das dinâmicas sociais relevantes ao capitalismo;
garantia de domínio de classe pela repressão política legitimada pela aparência de
correção

● A noção de pena como “forma salário”, privação de liberdade medida pelo valor de
troca do tempo, aparece em Foucault, Rusche/Kirchheimer e em Pashukanis. A
pena como retribuição proporcional do crime é ligada ao critério de medida do valor
da mercadoria, fundado na quantidade de trabalho necessário para sua produção

● “Sujeito jurídico” da reparação equivalente ao crime. Forma mercantil de mediação


das relações sociais (vs. anterior “sujeito zoológico”, vinculado às noções de
reparação da vingança privada)

● Contribuição de Pashukanis para ideologia do controle social - construção da teoria


materialista do Direito, que não foi estudado de forma específica por Marx; Definir a
categoria sujeito jurídico como fundamento da forma jurídica; Relações de
circulação, como equivalente às relações legais, são entendidas como mediação de
troca de equivalentes, e são explicáveis pelas relações de produção

● o Direito não mero instrumento de controle e reprodução das relações sociais


mantenedoras dos modos de produção, mas um fenômeno trabalhado pela luta de
classes, com funções de instituição, mediação e de reprodução, com papel
ideológico ligado às noções de igualdade liberal, e papel prático de legitimação da
exploração, de garantidor do modo de produção;

● As contradições da superestrutura jurídica e política são explicadas pelas


contradições das estruturas econômicas das relações de produção; Em períodos de
crise econômica, a histeria da violência criminal legitimam o aumento da repressão e
reforço das ideologias de lei e ordem, para aumentar a eficácia do controle social e
restabelecer o “equilíbrio” das relações de produção (v. Estados intervencionistas na
transição de capitalismo liberal para o capitalismo monopolista; fascismo, etc);
Ineficácia do controle social, “crises do Direito” são relacionadas às crises do próprio
capitalismo;

● A Criminologia Radical entende que a crise do Direito é determinada pela crise do


capitalismo, com suas contradições internas do modo de produção tendo impacto
nas contradições das superestruturas jurídicas e políticas, exaurindo e fragilidade o
potencial de controle social;

● Criminologia Radical entende que a superação e ruptura das relações de produção


capitalista é condição necessária, mas insuficiente para superar as formas legais do
controle social
VI. CRIMINOLOGIA RADICAL E ALTERNATIVAS DO CONTROLE SOCIAL

● Para a Criminologia Radical, as instituições de controle social são acessórias da


formação social. A instituição principal de formação social é situada na esfera de
produção - a fábrica e o trabalhador;

● Contradição entre liberdade política (esfera de circulação) e escravidão social


(esfera de produção) é controlada e reproduzida pelas instituições acessórias de
formação social;

● A instituição penitenciária, principal instituição acessória, garante a extração da


mais-valia e a reprodução das condições de produção;

● Ligação oculta de cárcere x fábrica (Melossi e Pavarini) - a coação das instituições


de controle social objetivam a formação da massa de trabalhadores, e sua
adequação e disciplina como força de trabalho, garantindo as condições de
docilidade e utilidade; Táticas disciplinares aplicadas pelas instituições de controle
social para transformação do indivíduo em trabalhador;

● Instituições de controle social são estruturas de autoridade e disciplina, acessórias à


fábrica; Família, escola, etc;

● Crise do controle social no capitalismo monopolista revitaliza as instituições de


controle social, e cria novas instituições de controle social (vigilância, comunicação,
redes sociais, etc), e a reconstrução da cidade como fábrica, local de controle sob
hegemonia fabril;

● Transformações importantes do sistema punitivo do capitalismo monopolista:

○ introdução dos substitutivos penais (sursis, livramento condicional, prisões


abertas - reduzindo o cárcere mas ampliando o controle da população
criminalizada, que se estendeu da prisão para a comunidade;

○ a instituição carcerária, em razão das suas contradições incontornáveis,


evoluiu para alternativas excludentes, com diminuição do poder do “terror da
perda” e abandono da ideologia da ressocialização;

● Capitalismo monopolista implica na procura de novas formas alternativas de


subordinação e controle social;

● Políticas de desinstitucionalização refletem na expansão da esfera de vigilância, com


a ampliação da esfera de incidência do controle social pela via penal;

● Estratégia liberalizante de desinstitucionalização esconde uma política de reforço da


prisão; as discussões sobre a gestão diferencial da criminalidade e os objetivos reais
do aparato repressivo ampliam o arquipélago carcerário (Foucault) e são
minimizadas pela aparência liberal/humanitário das novas formas de controle;

● O capitalismo monopolista atual transformou a prisão de instituição principal de


controle social (como era no capitalismo competitivo) para ultima ratio; ampliação do
controle dos setores não produtivos para os setores produtivos (comunidade);

● Alternativa democrática da Criminologia Radical para o controle social:

○ explicação da criminalidade pela posição social do autor:

■ criminalidade das classes dominadas - resposta pessoal de sujeitos


em posição social desvantajosa
■ criminalidade das classes dominantes - articulação funcional da
estrutura econômica e as superestruturas jurídicas/políticas, mediante
controle dos processos de criminalização primária e secundária;

○ a separação estrutural do estudo da criminalidade pela lógica do autor


permite compreender as contradições programáticas da política criminal;

○ a política criminal radical transforma as estruturas econômicas e


superestruturas jurídicas e políticas pela redução das desigualdades sociais;
ampliação da democracia nas esferas de determinação de poder político -
contrapoder proletário; fortalecimento da consciência de classe;

○ Adoção de política de criminalização das ilegalidades das classes


dominantes e contração do sistema nos casos de lumpencriminalidade;

○ O fim último é abolição da prisão, mas as formas de desinstitucionalização


são meio tático para sua efetivação, assim como a abertura do cárcere para
a sociedade, para transferir a noção de ressocialização do cárcere para a
sociedade;

○ Ataque à construção da legitimação da política penal oficial pelas instituições


de controle formadoras da opinião pública; inversão das relações de
hegemonia ideológica e ampliar a disseminação de informação;

VII. CONCLUSÕES


VIII. AUTORES RADICAIS

● Juarez Cirino
● Rosa del Olmo
● Lola Aniyar
● Roberto Lyra Filho
● Dario Melossi
● Massimo Pavarini

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