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A influência do pensamento de John Rawls nos debates acerca da justiça com

equidade na Filosofia Política Contemporânea


Claudemir Carlos PEREIRA1

Resumo
Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre o conceito de justiça com equidade, desenvolvido por
John Rawls em sua obra Uma teoria da Justiça, de 1971. A teoria da justiça foi desenvolvida pelo
autor para se pensar em como se estabelecer arranjos sociais igualitários e justos em sociedades
complexas, plurais e tensionadas? A partir deste complexo problema o autor se preocupou ao longo de
sua vida em resolver as tensões existentes no que diz respeito às discussões sobre modelos normativos
de justiça que promovessem a justa distribuição de renda entre membros de uma determinada
comunidade política. John Rawls desenvolve sua tese partindo de sua crítica ao utilitarismo clássico
onde o autor estadunidense desenvolveu alguns conceitos básicos para estruturar suas ideias acerca da
justiça distributiva.
Palavras-chave: Sociedade; Princípios de Justiça Distributiva; Pensamento Político
Contemporâneo.

Abstract
This paper aims to discuss the concept of justice with equity developed by John Rawls in his book A
Theory of Justice, by 1971. The theory of justice was developed by the author to think about how to
establish egalitarian and just social arrangements in complex, plural and tensioned societies? From this
complex problem, the author has been concerned throughout his life to resolve existing tensions
regarding discussions of normative models of justice that promote the fair distribution of income
among members of a particular political community. John Rawls develops his thesis from his critique
of classical utilitarianism where the American author developed some basic concepts to structure his
ideas about distributive justice.
Keywords: Society; Principles of Distributive Justice; Contemporary Political Thought.

1
Mestrando em Ciências Sociais. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de
Ciências e Letras / Campus de Araraquara. Bolsista CAPES. E-mail: ccpereira75@hotmail.com
Introdução

O que consideramos uma sociedade justa em tempos tão confusos e inseguros,


algumas premissas, defendem a ideia de assegurar o pleno reconhecimento da dignidade da
pessoa. Em uma sociedade democrática e justa a concepção de justiça é baseada numa
concepção da percepção de igualdades de oportunidades e justa distribuição de bens entre
todos.
A justiça sempre foi vista como um valor social básico, e sendo “a justiça a base da
sociedade” (ARISTÓTELES, 2010, p. 13), esta supera todos os outros valores sociais básicos
dentro de uma comunidade política plural e livre. Sendo prioritário este valor, estabelecer
critérios específicos de distribuição equitativa é uma questão de profunda complexidade entre
os indivíduos.
Diante disso se colocam muitos desafios para se pensar as sociedades contemporâneas.
Como desenvolver arranjos sociais igualitários em sociedades complexas, plurais e
tensionadas?
As sociedades contemporâneas, principalmente as modernas e ocidentais, são
marcadas profundamente por desigualdades e injustiças em seus arranjos institucionais. A
questão da injustiça sempre foi pauta nas discussões no interior das comunidades políticas. O
problema da injustiça sempre afligiu o pensamento daqueles que desejam estabelecer o bem-
estar de um povo.
A injustiça perpassa tanto pelo campo da esfera individual, bem como, no da esfera
pública, e sendo assim, se infiltra nos modos de vida das pessoas causando-lhes sofrimentos
incalculáveis. Num contexto pluralista e livre em que a maioria das sociedades se encontram
atualmente, se torna prioritário pensar em modelos de organização social que visem
estabelecer os melhores arranjos societários na ordenação e distribuição justa dos bens.
Uma vez que os indivíduos têm diferentes interesses, paixões e vontades perpassando
pelos sistemas sociais e políticos, este fato levanta a necessidade de se pensar em como
estabelecer normativas que visem por uma distribuição justa dos bens entre todos os membros
políticos de uma sociedade pluralista e livre. A partir deste complexo problema, como elencar
um valor político ideal para estabelecer princípios de justiça distributiva para todos dentro de
uma comunidade política.
A sociedade sendo um sistema de cooperação (tudo o que nós somos não depende de
nós mesmos), todos os membros devem receber o mesmo valor moral e político durante a
divisão equitativa dos bens comuns disponíveis para todos os membros da comunidade
política.
Nesta situação os indivíduos deveriam estabelecer critérios comuns para se pensar o
melhor modelo de distribuição de bens num sistema de justiça. Os membros da comunidade
devem acordar bens comuns entre si assegurando que todos sejam contemplados com a justa
distribuição do bem social garantindo assim condições de vida digna entre todos os membros
da comunidade política.
Uma vez acordado qual o bem comum a ser levado em conta na balança de um arranjo
social justo e igualitário, tem-se como premissa estabelecer quais os princípios de justiça
determinariam as normativas para conduzir a sociedade a um processo justo de distribuição
dos bens entre todos dentro da comunidade política.
O principal desafio aos membros de uma comunidade política é se debruçar sobre o
seguinte problema: Como se arranja a sociedade, ou melhor, como desenvolver um desenho
institucional que desdobre os conflitos, os pluralismos e outros aspectos e, estabeleça um
sistema de justiça com equidade, na qual nenhum membro da comunidade política fique de
fora da justa distribuição dos bens comuns?
Um dos pilares do pensamento político contemporâneo, o estadunidense John Rawls
se debruçou ao longo da vida a dar respostas às questões sobre justiça social e distribuição de
renda, estabelecendo em sua teoria um método original para elencar princípios de justiça para
a resolução dos conflitos decorrentes das injustiças dentro das comunidades políticas.
John Rawls em sua obra Uma Teoria da Justiça (1971) discorre sobre a justiça como
equidade e estabelece princípios que visam uma justa distribuição dos bens sociais primários
de uma sociedade. Partindo de uma posição hipotética, o autor desenvolveu em sua teoria os
arranjos necessários para estabelecer princípios de justiça distributiva em sociedades plurais,
complexas e livres, de forma que nenhum membro da comunidade política fique de fora de
uma divisão justa de bens sociais primários. Rawls parte de uma posição hipotética, abstrata e
ahistórica.
John Rawls (2002) afirma que os princípios para determinar as instituições básicas de
uma sociedade que seriam escolhidos em uma situação processualmente justa (“a posição
original”) e que são endossadas por nossas mais firmes intuições reflexivas quanto àquilo que
é justo são:
1. Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema total de
liberdades básicas compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos
(RAWLS, 2002, p. 250); e
2. As desigualdades sociais e econômicas devem ser dispostas de tal forma que sejam
ao mesmo tempo (a) para o maior benefício dos menos privilegiados e (b) ligadas a
cargos e posições abertos a todos, sob condições de justa igualdade de
oportunidades (RAWLS, 2002, p. 83).
Na visão de Rawls, para que haja, ela precisa ser considerada justa de acordo com
alguns princípios de igualdade. Na sua teoria da justiça como equidade o filósofo apresenta
dois princípios de justiça fundamentais:
1) Princípio da liberdade – todas as pessoas têm as mesmas demandas para liberdades
básicas.
2) Princípio da igualdade – as desigualdades sociais e econômicas devem ser
ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo consideradas como vantajosas
para todos dentro dos limites do razoável (princípio da diferença), e vinculada a
posições e cargos acessíveis a todos (princípio da igualdade de oportunidades).
O primeiro princípio tem como função dentro do arranjo institucional estabelecer a
igualdade e desta forma assegurar aos indivíduos as liberdades básicas (política, de expressão,
de consciência, entre outras). O segundo princípio (princípio das desigualdades
socioeconômicas), a ordem lexical será direcionada para que as desigualdades sejam
ordenadas de modo que todos tenham vantagens dentro dos limites estabelecidos por todos e
que permitam aos menos favorecidos acessarem aos cargos públicos acessíveis a todos.
Rawls (2002) assenta a sua teoria sobre dois pressupostos básicos:
1) A escassez moderada dos recursos – a totalidade dos recursos a ser distribuída é
menor que a demanda;
2) Reconhecimento do fato do pluralismo – as sociedades modernas são
caracterizadas pelo que nós chamamos de pluralismos de vidas que não permite
pensar uma concepção de um bem supremo;
Por fim, os princípios de justiça estabelecem os contratos de ordem constitucional, ou
seja, se considera que todos os membros racionais e razoáveis em comum acordo cooperativo
em prol de um sistema de justiça com equidade permitem que todos os membros tenham o
mesmo valor político permitindo assim serem assistidos na justa medida da divisão dos bens
sociais básicos.
A Justiça com equidade, de John Rawls

Em John Rawls (2002) a sociedade só poderia estabelecer a justiça com equidade


partindo da concepção de que todos os indivíduos, racionais e razoáveis, numa situação
hipotética e sob um véu de ignorância estabeleceriam os princípios de justiça e quais bens
sociais primários entrariam na conta para que fossem distribuídos equitativamente para todos
os membros da sociedade.
O autor propõe uma ideia de justiça diferente dos modelos até então existentes no
campo da Filosofia Política e da Teoria Política Normativa. Para o Rawls (2002) é possível
compreender a teoria da justiça com equidade sobre alguns conceitos básicos: a posição
original, os princípios de justiça e o consenso sobreposto.
Para Rawls (2002) em sociedades plurais e livres é necessário tomar as decisões sob
um véu de ignorância, onde homens racionais e razoáveis se debruçariam sob um cenário ou
posição hipotética originária e, sem acesso a nenhuma vantagem ou desvantagem,
estabeleceriam princípios que visem a uma justa distribuição dos bens sociais primários entre
todos.
Os princípios da justiça são escolhidos sob um véu de ignorância. Isso
garante que ninguém é favorecido ou desfavorecido na escolha dos
princípios (...). Uma vez que todos estão numa situação semelhante e
ninguém pode designar princípios para favorecer sua condição particular, os
princípios da justiça são resultado de um consenso ou ajuste equitativo. Pois
dadas as circunstâncias da posição original, a simetria das relações mútuas,
essa situação original é equitativa entre os indivíduos tomados como pessoas
éticas, isto é, como seres racionais com objetivos próprios e capazes, na
minha hipótese, de um senso de justiça. A posição original é, poderíamos
dizer o status quo inicial apropriado, e assim os consensos fundamentais nela
alcançados são equitativos. (RAWLS, 2002, p. 13).

A situação hipotética permite ao indivíduo independente de suas condições naturais ou


de suas posições na estrutura social, que os princípios devem ser estabelecidos de forma que
nenhum membro venha a ter mais vantagens que outros, e que, caso ocorra injustiças, a
reparação ocorre em prol do menos favorecido (princípio da diferença) dentro da comunidade
política, durante a redistribuição dos bens sociais primários.
Em caso de desvantagens, os princípios regem que os mais favorecidos ajudem os
menos favorecidos na partilha dos bens sociais primários, e sendo assim, a justiça distributiva
seria uma forma desta comunidade política, ser justa e igualitária, com todos os seus membros
políticos.
A proposta do autor estadunidense foi focada em entender estes conflitos e
desenvolver um modelo teórico possível que venha a equilibrar estas tensões. A partir de
investigações filosóficas e políticas desenvolveu alguns conceitos fundamentais para
estabelecer princípios de justiça e resolver as tensões existentes entre distribuição de renda e
justiça com equidade. Rawls (2002) defende a ideia de que:
Melhor seria que a ideia principal fosse que os princípios de justiça para a
estrutura básica da sociedade são o objeto do acordo original. Estes
princípios são os que as pessoas livres e racionais, reunidas pelos mesmos
interesses, adotariam inicialmente quando todos estivessem numa posição de
igualdade, para definir os termos fundamentais da associação eu estariam
fazendo. Estes princípios irão regular todos os futuros entendimentos; iriam
especificar os gêneros de cooperação social que poderiam vir a ser incluídos
nos governos, assim como determinariam as formas de governo. A esta
maneira de ver os princípios de justiça chamaremos de justiça como
equidade (RAWLS, 2002, p. 33).

O recurso da “posição original” garante que as decisões de cada membro dentro da


comunidade política sejam realizadas de um modo que beneficiem a todos, desde que essa
decisão seja protegida sob o “véu da ignorância” – princípio baseado na simulação de uma
situação abstrata que consiste imaginar que cada indivíduo não sabe, no momento da divisão
dos bens sociais em disputa, qual a porção de bens primários que lhe cabe à respeito no pacto
social.
Os princípios de justiça são a chave para o bom ordenamento da sociedade. São estes
princípios que legitimam a sociedade democrática e garante a harmonia entre os membros
políticos, criando de forma equitativa, condições para o acesso aos bens sociais primários, a
igualdade de oportunidades e o pleno exercício da liberdade.
Para garantir a estabilidade e os princípios de justiça em contextos divergentes e
contraditórios, o autor propõe o conceito do “consenso sobreposto”, ou seja, perante os
pluralismos (conjunto de concepções de valores estéticos, morais, visões de mundo distintas)
e conflitos de interesses entre os indivíduos não pode haver uma única acepção prevalente.
A partir deste exercício do pensamento Rawls (2002) desenvolve a ideia do “princípio
da diferença”, ou seja, as desigualdades devem ser preservadas e não extintas desde que nas
sociedades políticas estas devem defender a ideia de que as desigualdades sejam ordenadas de
forma a trazer benefícios aos menos favorecidos. O autor trabalha para que os princípios de
justiça sejam válidos para todos e beneficiem todos os membros pelo efeito da ação
cooperativa.
Na acepção de John Rawls (2002) a justiça deve ser um valor político fundamental. A
justiça com equidade é vista como um ideal político baseada na melhor adequação das ideias
de liberdade, igualdade e equidade e, que se tornam as bases para o desenho institucional de
uma comunidade política. A justiça distributiva tem a ver com a ideia central de como nós
compartilhamos em vida societária as vantagens e desvantagens dos recursos disponíveis.
Uma teoria de justiça tem que levar em conta as oportunidades e recursos disponíveis em
causa.
O pensamento de John Rawls (2002) é baseado na formação teórica das matrizes das
concepções de liberalismo igualitário, do liberalismo político, da refutação dos princípios do
utilitarismo e do contrato social. John Rawls (2002) em sua obra desenvolveu uma tese
partindo de sua aversão à teoria do utilitarismo clássico.
A versão clássica de utilitarismo, tal como expostas em Jeremy Bentham (1748-1832)
e John Stuart Mill (1806-1873), era uma forma de utilitarismo do ato (act utilitarianism), de
acordo com a qual um ato é correto se produz as melhores consequências, ou seja,
consequências para o bem-estar humano que sejam, pelo menos, tão boas quanto às de
qualquer alternativa.
Na máxima utilitarista a felicidade é “prazer menos dor”, ou seja, o máximo de bem-
estar possível sem dor alguma. Para os utilitaristas clássicos, a justiça é entendida como a
maximização plena da felicidade. John Rawls (2002) rejeita a síntese do utilitarismo, pois não
é possível naturalizar a felicidade em sociedades livres e plurais.
Para Rawls (2002) os princípios de justiça equitativa são formas de estabelecer
normativas para a redistribuição dos bens comuns a todos integrantes de uma comunidade
política, independentemente de haver uma contrapartida ou prestação de contas, permitindo
assim, que todos possam usufruir de sua liberdade de escolha para o fim que melhor lhe
aprouver.
O autor afirma que os princípios para determinar a justiça distributiva em uma
sociedade deveriam ser escolhidos em uma situação processualmente justa (o que ele
considerou como “a posição original”) e que são endossados por nossas mais firmes intuições
reflexivas quanto àquilo que consideramos justo são em Rawls (2002, p.64):
3. Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema total de
liberdades básicas compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos
e;
4. As desigualdades sociais e econômicas devem ser dispostas de tal forma que sejam
ao mesmo tempo (a) para o maior benefício dos menos privilegiados e (b) ligadas a
cargos e posições abertos a todos, sob condições de justa igualdade de
oportunidades.
A ideia de justiça com equidade não trabalha com a ideia de estado de natureza e de
direitos naturais e, também não há uma condição histórica concreta. Rawls (2002) elenca três
premissas para estabelecer as bases dos princípios de justiça social em sociedades plurais e
livres:
1) Reconhecimento do multiculturalismo;
2) Raridade de recursos;
3) Membros racionais e razoáveis.
A justiça para Rawls (2002) tem como base a universalidade e os membros de uma
comunidade política devem acertar em comum acordo qual concepção de bem entrará na
conta da justa distribuição, por isso, para que este desenho seja o mais imparcial e justo e,
todos da comunidade devem estar sob o que o autor definiu como “véu da ignorância”, ou
seja, a abstração de todos os tipos de vantagens ou desvantagens que precedem a condição
inicial de qualquer membro dentro da comunidade política.
A obra de Rawls (2002) é baseada na ideia de eliminar as circunstâncias de ordens
naturais e sociais, que no geral dificultam aos indivíduos o acesso as oportunidades e à justa
distribuição dos bens sociais primários. O véu da ignorância pressupõe aos indivíduos uma
situação similar ao estado de natureza dos contratualistas clássicos, ou seja, os indivíduos
estariam sob a condição em que nenhum deles tivessem ou fossem beneficiados por condições
de sorte (natural ou social), ou que durante o processo fossem beneficiados por vantagens ou
desvantagens na partilha dos bens sociais primários.
Para Rawls (2002) os bens sociais primários são: bens indispensáveis para que todos
os membros possam exercer os exercícios livres da vida e da dignidade humana, e tais bens
são: liberdade, igualdade de oportunidades, renda, riqueza e bases de respeito mútuo. As
sociedades são entendidas como sistemas de cooperação e precisam ser bem-ordenadas e
reguladas por uma concepção política e pública de justiça universal.
Rawls (2002) considerou que em sociedades plurais e livres, na elaboração dos
princípios de justiça, os homens são racionais e razoáveis, ou seja, em teoria, sob o primado
do justo, ninguém seria prejudicado na distribuição dos bens sociais primários. Mesmo que o
indivíduo seja beneficiado na partilha por seus talentos, habilidades ou posição social em
destaque, ao recorrer em sua situação hipotética, em uma sociedade plural e livre, sob os
princípios de justiça estabelecidos, os menos favorecidos também seriam considerados e
colocados na conta da justa distribuição.
As desigualdades sociais e econômicas devem satisfazer duas condições: 1) por um
lado tem de estar associada a cargos e posições abertos a todos segundo as circunstâncias da
igualdade equitativa de oportunidades; 2) por outro lado tem de operar no sentido do maior
benefício possível dos membros menos favorecidos da sociedade” (RAWLS, 2002).
O primado do justo sobre o bem seria neste caso, considerando os homens como
racionais, razoáveis, iguais e livres e, com distintas concepções de bem, em um acordo justo,
só estabeleceriam os princípios de justiça em uma situação hipotética onde ninguém saberia a
sua sorte inicial e sob um véu de ignorância, na conta da distribuição dos bens sociais
primários, sempre o menos favorecido seria o pendor da balança.
Rawls (2002) defende a ideia de uma democracia constitucional. As instituições
devem ser justas, para o autor não existe a ideia de sociedade natural, nada precede o arranjo,
ou seja, não existe. Rawls (2002) parte de uma posição hipotética, abstrata e ahistórica. E para
que estes princípios fossem respeitados e não violados, as instituições do Estado seriam as
interventoras nos casos de injustiças e reparação.
Algumas críticas ao pensamento de John Rawls

Atualmente a questão da justiça com equidade é alvo de divergências envolvendo as


principais correntes teóricas do pensamento político contemporâneo gerando divergências nos
debates acadêmicos recentes que envolvem os liberais igualitários, os comunitaristas e os
libertários.
Os comunitaristas afirmam que os critérios de justiça dependem da “esfera” em que as
distribuições estão sendo consideradas, de forma que, por exemplo, a justiça econômica e a
justiça política são coisas distintas, e os padrões de justiça são sempre relativos às
compreensões e expectativas correntes em sociedades específicas.
Os comunitaristas acusam a teoria rawlsiana de operar com a concepção abstrata de
pessoa, que, utiliza princípios universais de base kantiana (deontológicos) e procedimentais
com a pretensão de se aplicar a qualquer sociedade e criando assim uma preponderância dos
direitos individuais em relação aos direitos coletivos.
Os comunitaristas apontam para o uso da ideia de Estado neutro na teoria de John
Rawls e dos valores liberais como acepção ao indivíduo, levando a sociedade a garantir a
autonomia privada e não a autonomia pública. A crítica comunitarista aponta a
impossibilidade de separação entre a esfera pública, que operaria com critérios unitários, e a
esfera privada.
Para os libertários, a questão da justiça se depara com a condição de estabelecer
condições que garantam aos membros da comunidade política os direitos e liberdades
individuais, ou seja, os libertários pensam a sociedade com o mínimo possível de intervenção
do Estado.
Na lógica dos libertários, o Estado deve apenas interceder nas questões de segurança,
fraude, roubo e a garantia do cumprimento dos contratos estabelecidos. No mais a sociedade e
o indivíduo é livre para estabelecer os seus projetos de vidas desde que os seus direitos e
liberdades individuais não violem os direitos e liberdades individuais de outrem.
Para os libertários, o Estado seria um violador dos direitos individuais, para estes, as
pessoas no imperativo categórico kantiano devem ser um fim em si mesmo, ou seja,
totalmente responsáveis pela sua vida e seus direitos individuais desde que não violem os
direitos de outrem.
Considerações Finais

O presente texto procurou discorrer sobre o pensamento de John Rawls desenvolvido


em sua obra mestra Uma Teoria da Justiça (1971) acerca da ideia de justiça com equidade. O
autor procurou ao longo de sua vida e isto refletiu em sua obra o exercício de se pensar
princípios de justiça que permitissem as comunidades políticas estabelecer arranjos
societários de forma em que todos os membros receberiam a porção justa na divisão dos bens
sociais primários.
John Rawls desenvolveu conceitos originais que reacendeu os debates sobre justiça
com equidade no pensamento político contemporâneo e da Filosofia Política. Os seus
princípios de justiça e seu método inovador do recurso da “posição original” e “véu da
ignorância” acalentou fervorosas críticas dos mais distintos pensadores políticos
contemporâneos.
Quer seus princípios sejam aceitos ou refutados, o pensamento político de John Rawls
fomenta inúmeras discussões nos mais variados campos do pensamento, pois sua teoria,
embora abstrata e deontológica, permite encontrar resquícios em realidades de muitas
comunidades políticas.
Em sua teoria John Rawls apresenta princípios de justiça como conceitos
fundamentais e básicos para se arranjar sociedades democráticas e bem-ordenadas permitindo
assim se criar um sistema de mútua cooperação entre os membros de uma comunidade
política.
A justiça com equidade é uma das teorias que mais se aproxima da construção de
arranjos societários igualitários e justos, de forma que mesmos que ocorra alguma injustiça ou
desvantagem de algum membro, é dever da comunidade e suas instituições garantirem a justa
distribuição dos bens para que todos possam usufruir das liberdades individuais que lhe são
atribuídas por direito.

Referências Bibliográficas
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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