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sofrimento, saúde-doença de
trabalhadores no Pará
• Questão:
Como ocorre a gestão da segurança e saúde dos trabalhadores à luz
das transformações decorrentes da reestruturação produtiva em
uma empresa da cadeia produtiva do alumínio no Estado do Pará e
quais as possíveis consequências à saúde dos trabalhadores sob a
perspectiva dos processos de subjetivação dos mesmos.
• Método:
Mapa 02
Fotos: FUNDACENTRO/
2006
• A Reestruturação Produtiva
• A implantação do programa de qualidade utilizando a metodologia do TQC –
Total Quality Control (modelo japonês) / 1989;
• A implantação do programa CCQ – Círculos de Controle de Qualidade / 1996;
• Certificações ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e SA 8000 para os Sistemas de
Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental, Gestão da Segurança e Saúde
Ocupacional e Responsabilidade Social respectivamente;
• Recordes de Produção / 2003-2004;
• Diminuição do quadro direto de trabalhadores ao mesmo tempo que aumenta
o número de trabalhadores terceirizados;
• Da Greve de 1990 ao enfraquecimento da ação sindical;
• Discurso da gestão em prol da qualidade;
• Cooptação da subjetividade do trabalhador;
• Acidentes e adoecimento do trabalhador.
Foto: FUNDACENTRO/2011
• A Empresa: entre o sonho e a realidade
- Década de 70 : Projeto desenvolvimentista do Estado brasileiro para a região
amazônica / implantação de projetos mínero-metalúrgicos.
Quando eu estava fora da empresa, havia uma expectativa muito grande (...)
Porque o sonho nosso era entrar lá, que como se diz, a gente sonhava com algo
melhor. Graças a Deus, Deus me ajudou a conseguir entrar (...) Aí o que acontece,
na época eu estava namorando, eu queria casar e para mim valia tudo, arrumar
um emprego, construir uma família, estava valendo tudo (...) (Edvaldo, ex-
operador).
• Gestão da Segurança e Saúde Ocupacional
- O modelo de Gestão em Segurança e Saúde Ocupacional da empresa está
calcado nos mesmos critérios da gestão de qualidade, cujos pilares de
sustentação assumidos são: Liderança, Processos, Tecnologia e Pessoas.
O campo magnético. O campo magnético é muito prejudicial a saúde tanto pelo esforço físico
porque as ferramentas são todas de ferro e ela aumenta o esforço como também a atuação
do campo magnético no organismo do trabalhador também. (Fabrício, ex-operador,
sindicalista).
- Trabalhadores terceirizados
Diversidade de atividades, mas atuação no mesmo ambiente de trabalho. Tarefas de maior risco e
esforço físico. Ex: faxina. (Precarização do trabalho).
• Por uma “cultura de segurança”
• Segundo o olhar da gestão, há ausência de uma cultura de
segurança pela falta de tradição industrial na região, de modo que a
empresa é considerada pioneira no fortalecimento de uma cultura
de segurança.
Olha o último acidente que teve lá na minha área foi inclusive com um
colega nosso da empresa que as contratadas a gente está mais de
um ano lá no Carbono sem acidente, mas nós tivemos no mês de
março um acidente lá que faltou uma perícia a mais do
trabalhador. Ele se apoiou em cima de uma tubulação para fazer um corte
com o maçarico lá e essa tubulação estava melada de óleo, aí já viu. O
perigo tá lá ó ... o óleo, aí ele escorregou e bateu com a perna na cabeça
de um parafuso e feriu a perna. Foi um acidente leve, foi um corte bem
leve, mas foi um acidente, primeiros socorros.(...) (Ednaldo, téc. de
segurança)
• Organização do Trabalho, Prazer e Sofrimento
Redução do quadro de trabalhadores / sobrecarga de trabalho aliada ao aumento
da pressão por produtividade.
Isso porque em 98 foi desmembrada uma equipe e ficaram duas equipes em cada
chumbamento, aí isso daí sobrecarregou a gente demais. Quer dizer, na minha
equipe, quando eu entrei, éramos 26 pessoas, o gerente e o encarregado, né... líder
de equipe, eram 26 pessoas, mecânico e tudo o mais. Depois ficamos em torno de
12, no apoio e tudo o mais. Aí, quer dizer, que sobrecarregou muito. (Francisco,
operador).
Sim, teve uma redução de pessoas. Mudou o quê? A cobrança, muita cobrança.
(Sérgio, operador).
Porque era aquele “multioperador”, faz tudo! Então era eu. Era desentupir
britador, se tinha problema na área, grave, operação, verificação quando tinha
limpeza, recuperação de uma área que precisava de guardar... ai me chamavam.
Eu fazia tudo, tudo que você imagina dentro de uma área, pintar, recuperar,
projetar, mudava, melhorava ... (Francisco, operador).
Conteúdo das tarefas
Os gestores estão ... eu acho que não era para ser gerente de
indústria, era para ser gerente de banco que só pensa em
ganhar dinheiro. Estão passando por cima da nossa vida, do
trabalho, do lazer, não respeitam.(...) Esses gestores que
entraram, mudaram totalmente o foco, apesar deles
pensarem que vão conseguir, porque eles trataram as pessoas
como, digo como empregados, porque funcionário e auxiliar
são respeitados, empregado não é respeitado. E a gente passa
a ser tratado como empregado. A gente ouvir que tem mil na
frente querendo arrumar um emprego, eu já ouvi isso. Aí dá
uma certa insegurança. Pô, se eu reclamar esse cara me
manda embora. E se me mandar embora ninguém tá nem aí
para mim. ( Rodrigo, operador)
Relações entre os pares
Defesas Coletivas
Negação do risco
Idealização de que o cumprimento das regras resguarda o trabalhador / Mecanismos
de defesa geram alienação.
Fazendo a tarefa como ela tem que ser feita, direitinho. Se tiver que prestar atenção
no painel, eu fico ali ... às vezes até o cara que tem o mesmo tempo que eu ou às vezes
mais velho, com mais experiência, ele chega atentando... Ei, o painel ... Levo na
brincadeira ali, mas fico ali. Se eu estou levantando ali, eu certifico no painel se a
voltagem está correta, se não está subindo muito rápido ou não. A minha segurança é
essa ficar atento o tempo todo nisso, que é justamente para não dar errado. (Rodrigo,
operador)
Não tinha muito descanso nas minhas folgas. Às vezes estava me preparando
pra ir pra praia, a Kombi encostava: “Olha, problema no britador”, “É rápido”.
Quando chegava lá o problema era maior, aí passava o dia todinho. Aí já era (
...) (Francisco, operador).
O trabalho não só suscita uma experiência pática, o sofrimento pode ser o ponto de partida no
intuito da ação sobre o mundo. Segundo Dejours (2004) “(...) o sofrimento é ao mesmo tempo,
impressão subjetiva do mundo e origem do movimento de conquista do mundo.
Forjar espaços públicos de fala no interior da empresa seria o passo seguinte resultado da ação
coletiva dos trabalhadores, espaço este capaz de trazer a pauta de discussão, a organização do
trabalho e através da qual, mediações fossem construídas em prol de um trabalho prazeroso. O
momento de mudança vivido atualmente pela empresa a partir de sua compra pela Norsk Hydro
pode se configurar como um momento oportuno para que os trabalhadores possam ser ouvidos.