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POSSE

Há várias formas de se exercer a posse, sendo, assim, há uma classificação, que as diferencia em
posse direta e indireta, posse justa e injusta e posse de boa ou de má- fé.

A posse direta pode ser explicada como a posse daquele que a exerce diretamente sobre a coisa,
exercendo os poderes do proprietário, sem nenhum obstáculo, tendo, pois, o contato físico com a
coisa. Já a posse indireta é a do possuidor que entrega a coisa a outrem, em virtude de uma relação
jurídica existente entre eles, como no caso de contrato de locação, deposito, comodato e tutela,
quando couber ao tutor guardar os bens do tutelado. Nesta, portanto, não há contato físico do
possuidor com a coisa.

Vale dizer que as relações jurídicas que ensejam esse tipo de posse podem ser, além das
obrigacionais ou reais, as decorrentes das relações familiares e sucessórias.

Um exemplo da adoção dessa classificação de posse está na destinação imediata da herança no


momento da morte.

Sabe-se que o inventariante é o representante do espólio, e por isso teria a posse da herança no
momento da morte.

Contudo, o art. 1784 do CC, que traz o princípio da saisine, explicita que a herança do espólio passa-
se imediatamente aos herdeiros legítimos e testamentários no momento da morte do de cujus.

Assim haveria uma evidente contradição, pois, afinal de quem seria a posse? Mas com a adoção
dessa classificação não resta nenhuma dúvida, pois caberá ao inventariante a posse direta,
enquanto que os herdeiros legítimos e testamentários terão a posse indireta.

Acrescenta-se que estará nos contratos ou na própria lei a maneira em que a posse direta será
exercida, bem como o período em que se dará.

A posse do possuidor direto não exclui a do indireto, pois ambas deverão coexistir harmonicamente.
Dessa forma o possuidor direto nunca poderá reivindicar a sua posse excluindo a do possuidor
indireto, mas no caso do possuidor indireto ameaçar a posse do direto, esse contará com as
alternativas legais para que sua posse seja preservada, enquanto perdurar a relação que originou a
posse.Nesse sentido reza o art. 1197 do CC:

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de
direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto
defender a sua posse contra o indireto.

É importante mencionar que tanto o possuidor direto quanto o indireto poderão se valer das ações
possessórias para protegerem a sua posse de quem quer que a ameace.

A palavra justiça é um conceito indeterminado, pois o que é justo para um pode não ser para outro.
Assim, a distinção entre a classificação de posse justa e injusta não pretende analisar tal fenômeno
por uma ótica subjetiva, relacionado à vontade do agente, mas estabelece um exame de critérios
objetivos, elencados na lei.

Assim, posse justa é aquela que não apresenta nenhum dos vícios citados na lei, sendo, pois, um
conceito negativo.

A lei fala que justa é a posse que não for violenta, clandestina e precária, e dessa forma, a contrario
sensu, deverá ser mansa, pacífica e notória. Nesse sentido define o art. 1200 do CC:

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
Já a posse injusta seria aquela que decorre de atos de violência, clandestinidade ou se perfaz de
forma precária.

Para explicar os conceitos que tornam a posse injusta tem-se que posse violenta é aquela que será
exercida somente mediante o emprego da força (coação física ou moral) mesmo que não diretamente
contra o possuidor, mas seja ofensivo o bastante para viciar a posse sem a permissão do mesmo e
contra a sua vontade.

A violência também será configurada caso a pessoa tomar para si uma coisa que aparentemente não
tenha um dono, e mais tarde quando o dono for reavê-la, a pessoa não deixar ele o faça, pelo
emprego da força.

Outro aspecto é que a violência poderá ser dirigida contra o real possuidor ou contra terceiros, que
atuam em nome deste. Ainda, a violência será dirigida contra pessoas, e não contra a coisa.

Já a posse clandestina é aquela que se dá às ocultas, sem que o possuidor ou o proprietário da coisa
tenha conhecimento. Ressalta-se que a clandestinidade é vício de origem por excelência, e assim,
caso a posse seja pública no início e ocultada posteriormente, não configura posse injusta por
clandestinidade.

Não se examina aqui o animus do agente de ocultar a realidade, mas tão somente a constatação de
que o real possuidor não tinha ciência da situação concreta.

A posse precária, por sua vez, é aquela que decorre de uma relação de confiança, em que a pessoa
tem a obrigação de restituir a coisa, mas se nega a fazê-lo. Sempre dependerá de uma relação
jurídica pré-existente, em que o real possuidor entrega a coisa a outrem em confiança, num prazo
determinado, podendo a qualquer momento pedir que seja restituído. É o caso do contrato de
depósito, de locação, de comodato, dentre outros.

Importante lembrar que nesses casos, a cláusula de restituição da coisa tem que ser aceita pela
outra parte, sendo que esta estará ciente de sua obrigação quando for solicitado.

Não se confunde a posse precária com os atos de mera permissão ou tolerância, uma vez que na
primeira há uma relação jurídica anterior que vincula as partes, e no segundo caso não há qualquer
relação entre eles.

Em relação a tais vícios, pode-se dizer que entre eles há algumas diferenças fundamentais.

A violência e a clandestinidade surgem no momento inicial do exercício da posse. Já a precariedade


não é um vício que surge na origem da posse, mas no decorrer dela, a partir do momento que a
pessoa teria a obrigação de restituir a coisa, e não o faz. Em conseqüência, pode-se dizer que a
posse violenta ou clandestina pode se tornar justa uma vez que cessar a violência ou a
clandestinidade; o que não ocorre, por sua vez, na posse precária, que nunca será justa, por se tratar
de um vício que não se convalida.

Importante mencionar, ainda, que a violência e clandestinidade são vícios que maculam a posse
apenas em relação ao real possuidor, vítima destes atos, sendo este o único legitimado a alegar esse
vício. Dessa forma, embora violenta ou clandestina, tal posse poderá ser oponível a terceiros, tendo,
pois proteção legal.

Registra-se que a posse é repassada aos sucessores nas mesmas condições que se encontrava,
conforme dispõe o art. 1206 do CC:

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Posse de boa-fé ou de má-fé, ao contrário da posse justa ou injusta, depende da analise do aspecto
subjetivo, relativo à vontade do agente.

Assim, posse de boa-fé é aquela em que o possuidor a exerce na crença, e na certeza de que é o
proprietário da coisa, uma vez que desconhece qualquer vício ou impedimento para a sua aquisição.
Nesse sentido, define o art. 1201 do CC:

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição
da coisa.

Importante dizer que a lei apresenta uma ressalva, pois a posse deixará de ser de boa-fé quando a
situação indicar que o possuidor tinha ciência de algum vício. Nesse sentido dispõe o art. 1202 do
CC:

Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as
circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.

Para que se presuma se o indivíduo teria (ou não) consciência dos vícios de sua posse o referencial
utilizado é discernimento do homem médio. Essa noção determina que a pessoa tenha o necessário
discernimento no exercício da posse, de forma que não seja tão somente uma atitude passiva e
alienada. O homem médio age sem culpa e utiliza de todas as maneiras possíveis a busca da
realidade, e dele, então, não seria exigida outra conduta além das que já haviam sido executadas.

Acrescenta-se que a citação do possuidor (ato processual que dá notícia ao réu de que há contra ele
uma demanda, concedendo ao mesmo a possibilidade se manifestar) por si só, não faz cessar a boa-
fé uma vez que, mesmo ciente da demanda, este pode ainda mantenha a convicção de que sua posse
é legítima.

Vale dizer que embora a posse boa-fé não seja convertida em má-fé no momento da citação, caso a
ação seja julgada procedente, haverá essa conversão, de modo que a sentença retroagirá à data da
citação, e vencido responderá pela coisa e seus frutos, desde a data da citação.

Já a posse de má-fé é aquela em que o possuidor tem ciência de que a sua posse possui os vícios e
impedimentos que se põem no caminho para aquisição da coisa.

Vale dizer que a pessoa que possuir o justo título tem a seu favor a presunção que sua posse é de
boa-fé.

Por justo título entende-se existência de uma causa, ou um fato que o possuidor acredita ser hábil
para comprovar a sua posse. É um estado de aparência que induz o possuidor a acreditar que possui
a coisa de maneira legítima.

Pode ser apontado como exemplo de justo título o contrato de locação, contrato de depósito,
comodato, compra e venda, mas que apresentam um vício que impedem a posse da coisa, sendo
estes nulos ou anuláveis.

Vale dizer que o conceito de justo título, nesse dispositivo, é amplo, vez que não precisa de ser,
necessariamente, um documento, mas a existência de uma causa ou um fato gerador, ao qual o
possuidor não desconfie da sua veracidade.

O que a lei defende é que, caso o possuidor tenha um justo título, vigora a seu favor a presunção de
que o mesmo possui a coisa de boa-fé, ignorando os vícios e impedimentos para a aquisição da coisa.

Vale dizer que a presunção mencionada pela lei é a chamada presunção iures tantun, ou seja,
aquela que admite prova em contrário, e não iure et de iure, hipótese em que a presunção é absoluta,
não admitindo qualquer prova em contrário.

Mas ressalta-se que, em alguns casos, a lei não vai admitir essa presunção, sendo a lei expressa
nessas oportunidades. Nesse sentido, dispõe o art. 1201, parágrafo único, do CC:

Art. 1.201. (...)

Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em
contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

Alguns doutrinadores fazem uma distinção entre posse boa-fé presumida e posse de boa-fé real. A
primeira consiste na posse do possuidor que têm a seu favor o justo título, e a segunda prende-se
exclusivamente na crença do possuidor de que possui a coisa na convicção de ser legítima.

É importante ressaltar que a posse pode ser ao mesmo tempo de boa-fé, contudo injusta, ou de má-fé
mas justa, conforme os conceitos estudados.

Assim, a posse de uma pessoa que tem a convicção de que é sua a coisa, mas que no momento da
aquisição agiu mediante violência, clandestinidade ou forma precária constitui-se, simultaneamente,
numa posse de boa-fé e injusta. Da mesma forma, se uma pessoa tem a consciência a sua posse é
viciada, mas não houve violência, clandestinidade ou precariedade na aquisição da coisa, está-se
diante de uma posse de má-fé e justa.

A posse ainda poderá adquirir outras denominações, que serão abordadas nesse momento.

*Posse ad usucapionem: Posse na qual o possuidor poderá adquirir a propriedade da coisa por meio
de usucapião, ou seja, pelo decurso de tempo e mediante alguns requisitos, analisados caso a caso.

Posse ad interdicta: Para entender essa nomenclatura, primeiramente deve-se ter em mente que toda
e qualquer posse que enseja algum tipo de proteção, independente da sua qualidade. Isso significa
que mesmo que a posse seja injusta ou de má-fé em relação ao real possuidor, ela poderá ser
defendida da ação de terceiros por meio de ações judiciais denominadas possessórias. Assim a
posse ad interdicta é aquela que enseja proteção por meio dos interditos possessórios, ou seja, ações
judiciais que visam proteger a posse.

*Posse Nova: aquela exercida por menos de ano e dia. Essa conceituação se fará importante dentro
no aspecto processual.

*Posse Velha: Por conseqüência, seria aquela exercida por mais de ano e dia, e que, conforme
observações acima, será relevante no plano processual.

Dicas Processuais: Uma conseqüência prática da conceituação de posse nova e posse velha está
presente no art. 924 do CPC, que confere a possibilidade da concessão de medida liminar nas ações
possessórias quando as mesmas forem intentadas num prazo de menos de ano e dia do fato que
ensejou a demanda. Caso já tenha transcorrido o presente prazo, a ação seguirá o rito ordinário,
embora não deixe de ser uma ação de cunho possessório. Nesse sentido dispõe o art. supra
mencionado:

Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção


seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será
ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
Há, ainda, algumas expressões relativas ao assunto que devem ser esclarecidas, sendo elas, jus
possidendi e jus possessionis. A primeira será utilizada quando se tratar da posse exercida pelo real
proprietário; já a segunda se refere à posse exercida pelo possuidor.

É importante anotar que as características de uma determinada posse perseguem a coisa, ou seja,
se uma pessoa adquire uma posse justa ou injusta, de boa ou de má-fé, essa qualidade é mantida.
Assim, o novo adquirente adquire a coisa no mesmo título que possuía. Nesse sentido dispõe o art.
1.203 do CC:

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi
adquirida.

COMPOSSE

Vale dizer que a simples mudança na vontade do novo possuidor não é capaz de alterar as
características repassadas na coisa.

Sabe-se que quando várias pessoas são proprietárias, ao mesmo tempo, de uma coisa, tem-se um
condomínio. Já, quando se está diante da posse em comum de duas ou mais pessoas sobre
determinada coisa, verifica-se a composse.

Em outras palavras, pode-se dizer que o condomínio está para a propriedade, assim como a
composse está para a posse.

A respeito desse assunto pode-se vislumbrar dois tipos de composse: a simples ou a de mão comum.
Na composse simples, cada um dos compossuidores exerce seu poder independente um dos outros;
já na composse de mão comum, um compossuidor não poderá exercer suas prerrogativas em
detrimento dos demais, pois um dependerá do outro.

Dessa forma, é exemplo de composse simples a de dois locatários de uma determinada coisa comum,
e de composse de mão comum, a dos herdeiros em relação aos bens do de cujos, que é repassado
para estes desde o momento da morte.

Em relação a terceiros não importa a quota parte que cada um possui, pois independente disso,
qualquer um dos compossuidores é parte legítima para defender a sua posse de terceiros, alheios à
relação.

Vale dizer que os compossuidores poderão acordar sobre delimitações no objeto da posse em comum,
podendo, nesse caso ajuizar ação declaratória com esse fim. Dessa forma, não haverá mais
composse, embora a situação se assemelhe a tal.

Assim, caso a posse dos compossuidores seja delimitada, está-se diante da posse pro diviso. Já em
sentido contrário, caso não exista uma delimitação do exercício da posse sobre uma quota da coisa,
está-se diante da posse pro-indiviso.

Acrescenta-se que a composse poderá se extinguir caso cesse a causa que deu origem a mesma, ou
mediante comum acordo entre os compossuidores.

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