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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 1 – WAGNER BRITO

Recomendações bibliográficas:

1) Sergio Campinho: Direito de Empresa à luz do NCC – Ed. Renovar e A nova lei de
falências e recuperação de empresas – Ed. Renovar.
2) José Edwaldo Tavares Borba: Direito Societário – Ed. Renovar
3) Ricardo Negrão: Manual de direito comercial e de empresas – Ed. Saraiva – três volumes
4) Fábio Ulhôa Coelho: Curso de Direito Comercial – Ed. Saraiva
5) Revista Semestral de Direito Empresarial e do Trabalho – Ed. Renovar
6) Marcos Juruena: Direito Administrativo-Empresarial – Ed. Lumen Juris (questões
importantes envolvendo empresa pública e sociedade de economia mista)

Conteúdo:

Ponto 1 – Teoria da Empresa (denominada assim pela doutrina majoritária)

Em qualquer questão de direito empresarial você deve raciocinar de acordo com este modelo. Como
raciocina o seu examinador? Levando em consideração uma escolha política. O Brasil adotou uma
ordem econômica capitalista. O sistema econômico capitalista funciona da seguinte maneira: em
um sistema capitalista, que não começou em 1988, as estruturas, os meios de produção são
organizados pela iniciativa privada. Um determinado agente econômico buscando a satisfação dos
interesses públicos, você pode chamar esse grupamento aí de povo, consumidores, contribuintes.
Mas esse grupamento social dispõe de alguns interesses na obtenção de bens e serviços. Um agente
econômico exerce uma atividade voltada à satisfação dos interesses públicos, interesse público
primário, à satisfação do interesse social. Isso significa dizer que a atividade econômica,
inicialmente, numa ordem econômica capitalista é franqueada à iniciativa privada - isso é
premissa/postulado de uma ordem econômica capitalista, ou seja, são os particulares que devem
exercer uma atividade econômica para atender às necessidades de determinado grupamento
social.

Então essa é uma premissa fundamental. Isso acarreta que para atender as necessidades do
grupamento social, esse agente econômico realiza, se submete, contrata, diversas relações jurídicas
que proporcionam a criação de empregos - que é uma relação jurídica contratual -, a captação de
recursos – tomada de empréstimos -, a circulação da riqueza – compra e venda acarreta
transferência de riqueza. Essa circulação da riqueza é tida, pela doutrina econômica, como um dos
principais fatores de desenvolvimento sócio-econômico de um país. Repito, a velocidade com que
a riqueza circula e a dispersão da circulação da riqueza é fator predominante do
desenvolvimento sócio-econômico de um país. Então, na medida em que essas relações são
produzidas, isso proporciona circulação de riqueza, proporciona também a possibilidade de o poder
público definir determinados fatos geradores suscetíveis de cobrança de tributos. Uma vez que esses
fatos tenham ocorrido, proporcionada está a cobrança e recolhimento de tributos. A arrecadação de
tributos proporciona que o poder público forneça bens e serviços públicos de qualidade que serão
revertidos para a população . Daí por que nesse modelo econômico capitalista a mola propulsora de
toda essa cadeia de relações jurídicas é o agente econômico. Daí porque o agente econômico é tido
como um favorecido por este modelo. Esse modelo está previsto na Constituição, notadamente, no
seu artigo 170, CF (leitura) começa a organização desse modelo econômico.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o


impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;


IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 6, de 1995)

Dentro dessa estrutura, o modelo próprio adotado é que o agente econômico é agente catalisador
do desenvolvimento socioeconômico de um país, alguns autores dizem mola propulsora do
desenvolvimento sócio-econômico de um país. Para esses favorecidos foi criado um regime
jurídico especial em relação às demais pessoas. Isso implica dizer que sempre que possível a
atividade econômica lícita deve ser incentivada e mantida. Isso se reflete em várias questões
desde a celebração de contratos, desconsideração da personalidade jurídica, decretação da falência,
forma de cobrança e de incidência de execução fiscal. Esse modelo de organização de Estado tem
como premissa essa ordem econômica. O que isso tem a ver com a teoria da empresa? Uma coisa
é o modelo econômico outra é a organização jurídica desse modelo que a Constituição chama de
ordem econômica, outra é a adoção da teoria da empresa.

Esse sujeito aqui (agente econômico) já foi chamado de comerciante no seguinte sentido, antes da
nova Constituição, antes do NCC, vigorava a teoria dos atos de comércio centralizada no código
comercial de 1850 que também tinha essa mesma forma de raciocinar, o modelo não mudou o que
mudou foi a substituição de algumas premissas. O que foi mudando no decorrer da história foi
como a legislação começou a dar determinados privilégios a esses agentes econômicos, assim como
a denominação desses agentes.

No regime do Código Comercial de 1850, era considerado comerciante o sujeito que praticasse
atos de comércio, se ele praticasse atos de comércio exercendo sua atividade comercial ele
seria considerado comerciante e se submeteria a um regime jurídico especial, poderia ter acesso a
parcelamento de tributos, à concordata, a linhas de financiamento especiais para aquisição de bens.
Tinha acesso a determinados privilégios/ regimes jurídicos especiais através de diversas leis. O
ponto era apenas o fato de ser considerado comerciante = AQUELE QUE PRATICAVA ATOS DE
COMÉRCIO. O que significava comércio/ a prática de atos de comércio? Comércio envolvia
APENAS a circulação de bens móveis, transferência ou circulação de bens móveis, grosso
modo. Qualquer outra atividade econômica que não se enquadrasse nessa estrutura o sujeito era
considerado agente econômico, mas não era comerciante. O sujeito embora gerasse empregos,
circulasse riqueza, pagasse tributos, não tinha direito a determinados benefícios. Só, em regra, eram
considerados comerciantes se realizasse a prática de atos de comércio considerada, essencialmente,
circulação de bens móveis. Esse raciocínio no nosso ordenamento jurídico anterior estava
consagrado essencialmente no Código Comercial de 1850. O código comercial ainda está em
vigor? Sim, na sua parte especial, no que concerne ao direito marítimo. A parte geral fora
inteiramente revogada pelo Código Civil. Fala-se na ressurreição da primeira parte do código
comercial, retirando sua regulamentação do NCC numa tentativa de incluir as microempresas.

Esse Código Comercial não definia o que era ato de comércio. Essa definição veio com o
regulamento 737 de 1850, art. 19 e 20.

Esse modelo de atuação (benefício, privilégio) centrado na figura do comerciante não permitia a
identificação de algumas situações, quais sejam: um outro agente econômico que exercesse uma
atividade econômica que proporcionasse a geração de riquezas, pagamento de tributos, que não
envolvesse circulação de bens mas a manipulação de bens oriundos diretamente da natureza, ou
seja, não a circulação mas a produção de bens esse sujeito não era considerado comerciante, não
tinha acesso a determinados benefícios que só o comerciante dispunha. Por outro lado, um outro
agente econômico que exercesse atividade econômica de prestação de serviços em geral estava fora
do sistema protetivo, do sistema beneficiário. Esses outros agentes pleitearam o mesmo
reconhecimento do comerciante. Daí o início de conversa da teoria da empresa.

A teoria da empresa, no mundo, pretendia a ampliação do regime jurídico especial. A Teoria


da Empresa ao invés de considerar só o comerciante pretendia ampliar o regime jurídico
especial do comerciante para todos os agentes econômicos. O modelo não muda. O problema é
quem são os agentes econômicos? Antes somente o comerciante. Recentemente, no mundo, não só
o comerciante, mas também o produtor e o prestador de serviços. A nossa Constituição não fala
na figura específica do empresário, mas fala da atividade econômica, em gênero. A teoria da
empresa foi consagrada no Brasil com o NCC porque algumas leis anteriores já faziam alusão à
figura do empresário, à atividade econômica empresarial. O NCC encampa a teoria da empresa,
notadamente, a partir de seu art. 966. A dificuldade na definição de atos de comércio se manteve
com o NCC, muito em razão da própria legislação. A mesma dificuldade se tem hoje na definição
da teoria da empresa e também em qual o significado desse vocábulo empresa. Essa ideia se iniciou
tecnicamente a partir de alguns sistemas europeus. A teoria da empresa, quando chegou ao Brasil,
ainda estudada na Itália foi estudada pelo professor italiano chamado Alberto Asquini. Segundo
Asquini não há um único e especifico significado de empresa, esta deve ser estudada levando em
consideração aspectos patrimoniais, pessoais e temporais. Nessa organização a empresa possui
alguns perfis. A empresa deve ser estudada sob um aspecto subjetivo, objetivo ou patrimonial,
funcional e sob o aspecto corporativo.
Todo o nosso ordenamento jurídico está lastreado nessa doutrina. O Brasil, praticamente, copia o
modelo à italiana, e o modelo italiano está centrado nessa forma de identificação da teoria da
empresa.

Vamos lá passo a passo, todo o seu programa está simplificado e organizado nesse modelo aqui.
Isso facilita muito o estudo.

1) Perfil Subjetivo

Quando se faz alusão ao aspecto subjetivo da empresa diz-se respeito às pessoas que exercem uma
determinada atividade. Que atividade? A teoria da empresa na sua origem pretende (em alguns
países isso foi obtido) ampliar a definição de regime jurídico especial, benefícios específicos, da
figura do comerciante, sujeito que fazia, e faz ainda, circular bens móveis e imóveis, para a
atividade econômica que envolvesse a produção de bens, circulação de bens e prestação de
serviços. Essa é a atividade originariamente considerada empresária. Quem exerce essa
atividade?
Quais são as pessoas? Do ponto de vista jurídico quais são as pessoas? Pessoa física ou natural e
pessoa jurídica. Pessoa física ou natural que exerça uma atividade econômica considerada
empresária é conhecida como empresário. Abra aí, por favor, o artigo 966, caput, do CC-02.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Empresário é pessoa física!, pessoa natural. Empresário-individual.


Primeira observação: o Brasil não encampa, não importa a teoria da empresa de acordo no modelo
que implantado na Itália, Suíça e etc. Por quê? No Brasil nem todos os agentes econômicos são
considerados empresários. Começa aqui uma teoria da empresa a la brasileira. O novo CC, nesse
artigo 966, define a figura do empresário. Empresário é aquela pessoa que exerce atividade
econômica voltada para a circulação de bens, produção de bens ou prestação de serviços. Aí
vem o parágrafo único do art. 966. Esse dispositivo já traz um primeiro corte, por razões culturais e
históricas, diz lá o parágrafo único do art. 966, § único (leitura do artigo).
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual,


de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

O que é que o Brasil faz? Pessoa natural, pessoa física que exerce atividade econômica
predominantemente intelectual não é empresário. Esse, em princípio, não vai receber os
benefícios jurídicos de um regime jurídico especial que um empresário recebe. Está fora, é o sujeito
que exerce atividade intelectual, p. ex., escrever livro, poesia, médico, arquiteto, contador (é
controvertido, não é considerada atividade científica, é técnico). Esses profissionais não são
considerados empresários, pois exercem atividade econômica na qual a atividade intelectual é
predominante. Mesmo que elas gerem emprego? Mesmo que ela pague tributo? Mesmo que
ela proporcione circulação de riquezas? Sim. O Brasil faz um corte, tais sujeitos não são
considerados empresários. É uma teoria da empresa a la brasileira, ao nosso estilo. A Teoria da
Empresa não faz essa distinção, pelo contrário, a teoria da empresa foi inventada para trazer todo
mundo, todos os agentes econômicos. O sujeito exerce uma atividade econômica lícita, gera
emprego, paga tributo, proporciona a circulação da riqueza, merece um tratamento diferenciado,
merece estar sujeito a um regime jurídico especial, não interessa se a atividade é intelectual ou não,
o que interessa é promover o desenvolvimento sócio-econômico do país. No Brasil já não é bem
assim.
Quando se faz alusão, o artigo 966, parágrafo único, define a figura do sujeito que não é
considerado empresário, é chamado de profissional liberal. Alguns chamam de autônomo. Então, o
que está acontecendo aqui? Nós estamos falando essencialmente do empresário pessoa física e do
profissional liberal que não é, em regra, considerado empresário. Por conta do seguinte, pois quando
ainda sob o aspecto subjetivo se faz alusão às pessoas jurídicas, a organização do nosso direito
societário, o artigo 966, caput trata da figura do empresário, empresário individual. No seu
parágrafo único ele vai tratar do profissional liberal (sujeito que exerce atividade econômica
predominantemente intelectual). Essa é a distinção que faz o direito brasileiro. Quando isso é
projetado no direito societário, isso vira a primeira classificação das sociedades. Quando mais de
uma pessoa, e ai não estamos mais falando de empresário individual, juntas, resolvem exercer
uma atividade econômica, onde entre elas há reciprocidade, ou seja, não se pode falar em
subordinação hierárquica, essas pessoas celebram um contrato de sociedade, definido no
artigo 981, do CC. Tal artigo define contrato de sociedade. Diz lá o artigo 981, do CC

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se


obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

Esse contrato é o único capaz de gerar uma nova pessoa que é a pessoa jurídica. Existem outros
contratos que podem envolver mais de duas partes, mas o único capaz de gerar uma nova pessoa é o
contrato de sociedade. Contrato de sociedade gera uma nova pessoa, que é a pessoa jurídica. Essa
pessoa é a pessoa jurídica definida (mencionada) no artigo 44, II, CC.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


II - as sociedades;

A sociedade será considerada empresária se ela vier a exercer atividade econômica exercida
pelo empresário, se a atividade econômica exercida pela pessoa jurídica envolver produção,
circulação de bens ou prestação de serviços. Então, a estrutura do direito societário é extraída
desse modelo aqui, a base do direito empresarial começa no artigo 966, caput. Quando se projeta
essa estrutura no direito societário, se tem que a sociedade empresária, essa atividade empresária
exercida pela pessoa física é a mesma da sociedade empresária. Onde isso está consagrado? No art.
982, CC

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que


tem por objeto (ou seja, que tem por atividade econômica) o exercício de atividade
própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

A atividade própria de empresário definida em lei qual é? Prestação de serviços, circulação e


produção de bens.
Esse mesmo raciocínio vale para a figura do profissional liberal, a mesma coisa. Quando mais de
uma pessoa, um grupo de advogados, p. ex, resolvem, juntos, exercer atividade (celebram um
contrato social) eminentemente intelectual, uma sociedade de advogados p. ex., essas pessoas
celebram um contrato. Esse contrato gera uma nova pessoa jurídica, no caso, uma sociedade. Pessoa
jurídica que vai exercer atividade econômica, só que essa atividade econômica não é de circulação
ou produção de bens, nem de prestação de serviços em geral. É a prestação de um determinado
serviço que tem cunho natureza, predominantemente, intelectual. Esse modelo de sociedade, é
sociedade simples.
Reparem bem, o que fez nosso ordenamento jurídico? Ele importa a teoria da empresa no modelo
italiano, mas com pequeno reparo (a la brasileira). A justificativa que se dá para esse reparo é que a
atividade intelectual tem seu nascedouro na criação cerebral, logo isso não pode ser equiparado a
uma atividade econômica comercial. Há uma separação de atividades.
Existe mais uma que é atividade econômica rural. No Brasil a atividade economica rural não é
empresária. Mas por quê? Ainda mais agora com as comodities. Diz lá o artigo 971, CC.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis (pode se registrar
na Junta) da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado,
para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

Ele já começa chamando de empresário, diz que não é empresário, faculta o registro e após o
registro se transforma em empresário!
Só após o registro o sujeito se equipara a empresário. Diz a imensa maioria da doutrina, sujeito que
exerce atividade econômica rural não é empresário. É o quê? Depende da atividade econômica... é
agricultor, apicultor. Essa atividade rural, qualquer que seja, envolve e exige registro, registro no
Ministério da Agricultura e da Pesca. Se quiserem, opcional, eles podem requerer o registro na
Junta Comercial também, mas esse segundo não é obrigatório. Após esse segundo registro, na junta,
é que o sujeito se equipara a empresário. Entendimento dominante, ele não é empresário. Por quê?
Isso daí é uma atividade de produção ou circulação de entes que têm origem biologicamente viva.

A mesma coisa, atividade considerada rural, vai valer se a atividade for exercida no formato de
sociedade. O artigo 984, CC, que praticamente tem mesma redação do artigo 971, vai falar da
sociedade que tenha por objeto o exercício da atividade rural.

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de
empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos
de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que,
depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade
empresária.

Ou seja, sociedade empresária ela não é. O que diz a doutrina aqui no RJ. Que a sociedade que
tenha por objeto atividade rural é sociedade simples, não é empresária.
Por enquanto é o que nos interessa.
Para fechar aquele quadro de perfis da empresa

2) Perfil Objetivo

O segundo perfil da empresa, diz respeito ao perfil objetivo. O perfil objetivo leva em conta, já não
mais as pessoas. Leva em conta o conjunto de bens, complexo de bens. O perfil objetivo está
diretamente relacionado ao conjunto de bens que, tanto o empresário quanto o profissional liberal,
quanto a sociedade empresária, assim como também a sociedade simples, conjunto de bens que
essas pessoas utilizam como instrumento da sua atividade econômica. Esse conjunto de bens o
perfil objetivo da empresa está diretamente relacionado à definição de estabelecimento.
Artigo 1142, CC

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para


exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

Anotar no caderno, sociedade simples também, embora não esteja relacionado aqui.

Estabelecimento é o conjunto de bens que qualquer agente econômico utiliza como


instrumento de sua atividade. Empresário individual (pessoa física, pessoa natural) tem um
patrimônio. Dentro do patrimônio ele tem os bens particulares/pessoais, mas ele tem, também, um
conjunto de bens que ele usa como instrumento de sua atividade. Todo um aparato instrumental que
é destinado à atividade econômica dele.
Obs: No que concerne empresário individual? Esse empresário individual é pessoa física. Quando
uma pessoa natural adquire personalidade? Nascimento com vida. O que é personalidade?
Aquisição de aptidão para ser titular de direitos e obrigações. Esse sujeito agora se transformou em
empresário. E é inerente à qualidade empresarial esse sujeito se colocar na posição de devedor. Os
devedores, inclusive ele, para o cumprimento de suas obrigações respondem com quantos bens?
Um, alguns ou todos? Qual é o nível de responsabilidade dos devedores? Os devedores respondem
de forma ilimitada, em regra. Artigo 391, CC

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do


devedor.

Fazer remissão ao artigo 591, CPC, vai ter mais ou menos a mesma redação.

Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos
os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.

Projetando essa mesma particularidade para as sociedades, uma vez celebrado o contrato social,
esse contrato gera uma nova pessoa (perfil subjetivo). Pessoa jurídica. A que nos interessa são as
sociedades. Esse fenômeno acarreta uma dupla separação. Uma primeira separação, é a separação
patrimonial. O patrimônio da pessoa jurídica não se confunde com o patrimônio das pessoas que
compõem o quadro social, com o patrimônio dos seus sócios. São vários patrimônios. Uma coisa é
o patrimônio da pessoa jurídica sociedade, outra são os patrimônios dos seus sócios. Outra
separação é a separação pessoal, uma coisa é a pessoa jurídica e outra são seus sócios. A pessoa
jurídica não se confunde com as pessoas de seus sócios. Separação pessoal, conseqüentemente,
separação patrimonial. Nessa realidade quem vai exercer a atividade econômica é pessoa
jurídica, a própria sociedade, logo é ela quem vai exercer a conduta, eventualmente, é ela
quem vai ocasionar um dano, logo é a pessoa jurídica que será devedora. Qual o nível de
responsabilidade dos devedores? Responsabilidade ilimitada. Todas as sociedades, sem exceção,
respondem de forma ilimitada, com todos os seus bens disponíveis. As sociedades dispõem de
responsabilidade ilimitada. Isso vale para sociedade simples também. Logo, o patrimônio da
sociedade, todo o patrimônio disponível, inclusive o estabelecimento das sociedades responde. Ex:
Você tem lá um banco, uma instituição financeira, pessoa jurídica, sociedade anônima de capital
aberto. Cada agência do banco é um estabelecimento. O banco para o cumprimento de suas
obrigações responde com todos os seus bens, inclusive com os bens que compõem o
estabelecimento. O nível de responsabilidade dos devedores, inclusive das sociedades, é ilimitado.
Uma pequena observação: Uma parcela significativa da doutrina sustenta que a responsabilidade
dos devedores é ilimitada. No entanto, diz uma parcela da doutrina, o credor, inclusive a Fazenda
Pública, para satisfação do seu crédito deve, primeiro, fazer incidir sua pretensão sobre os bens que
componham o estabelecimento, depois os demais bens que envolvam o patrimônio do devedor. Essa
doutrina faz o seguinte...vou começar, aqui, por empresário individual - Fazenda Pública buscando
satisfação de seu crédito sobre o patrimônio do empresário. Diz a doutrina, a pretensão do credor
deve, primeiro, recair sobre os bens que compõem o estabelecimento e depois sobre os demais
bens, por assim dizer, do empresário individual. Essa doutrina se lastreia no princípio processual de
execução da menor onerosidade possível das execuções, artigo 620 CPC.

Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz
mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.

Isso não vai ser a postura que será adotada na sua prova. A postura a ser adotada é que os
devedores respondem com todos os seus bens disponíveis, o réu tem responsabilidade
ilimitada e a incidência da penhora deve obedecer à ordem fixada no próprio CPC artigo 655.
Independentemente se o dinheiro ou bens integrem ou não o estabelecimento. O entendimento é o
da idéia de que o credor tenha a melhor eficiência para a melhor satisfação do seu crédito

Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: (Redação


dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
II - veículos de via terrestre; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
III - bens móveis em geral; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
IV - bens imóveis; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
V - navios e aeronaves; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
VI - ações e quotas de sociedades empresárias; (Redação dada pela Lei nº 11.382,
de 2006).
VII - percentual do faturamento de empresa devedora; (Redação dada pela Lei nº
11.382, de 2006).
VIII - pedras e metais preciosos; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em
mercado; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; (Redação dada pela Lei
nº 11.382, de 2006).
XI - outros direitos. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).
Isso vai valer também para a sociedade, porque a sociedade também tem seu patrimônio. Dentre
esses bens, a execução do credor não necessariamente incidirá sobre os bens que compõem o
estabelecimento.

Ainda no que concerne ao estabelecimento. O nosso ordenamento jurídico estabeleceu uma


legislação específica relativa à falência e a recuperações. Lei 11.101/05, notadamente, o artigo 1º.

Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a


falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor.

O Brasil adotou um sistema restritivo. Não são todos os agentes econômicos que podem falir
nem têm direito ao benefício que é a recuperação judicial (só o empresário e a sociedade
empresária). Na definição da competência para o processo de recuperação e o processo de
falência, o critério na definição da competência diz respeito à identificação do principal
estabelecimento. Artigo 3º, da lei 11.101/05.

Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir


a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

O ponto aqui é o conceito de principal estabelecimento. A nossa legislação, atualmente, faz uma
distinção entres estabelecimento principal e secundário. Na referência a estabelecimento principal,
se faz alusão a esse artigo 3º. A jurisprudência ainda é extremamente controvertida. Se o sujeito só
tiver um estabelecimento é tranqüilo.

Conceitos de estabelecimento principal:

- Primeira corrente (minoritária): principal estabelecimento é o local identificado no contrato social


como sede.
- Segunda corrente: principal estabelecimento é o local onde se pode identificar o maior volume de
negócios, o maior volume de recursos ainda que não seja o local da sede.

- Terceira corrente (eu me arriscaria a dizer que vem se consolidando): principal estabelecimento é
o local de onde partem as principais decisões políticas, administrativas ou financeiras, de onde
partem essas principais decisões, acerca da atividade econômica exercida. Fábio Ulhôa: principal
estabelecimento é o centro gravitacional da atividade econômica, de onde tudo se irradia.

3) Perfil funcional

Terceiro perfil da empresa é o perfil funcional. A doutrina brasileira já teve muita controvérsia
sobre seu significado. A imensa maioria da doutrina identifica, nesse perfil funcional, a
identificação, no Brasil, do vocábulo empresa. Empresa no Brasil significa uma atividade
econômica organizada e exercida de forma profissional. Vamos aceitar essa convenção.
O ponto é o vocábulo empresa, a idéia de empresa não está associada à pessoa, empresa não é
pessoa. Empresa não tem dívida, empresa não contrata funcionário, empresa não exerce
atividade, empresa não promove ação, empresa não é ré nem autora. Empresa também não
está associada a conjunto de bens, então você não penhora empresa. É muito freqüente na hora
que você escreve uma resposta fazer alusão ao fato de empresa estar endividada e etc... isso está
errado. Pessoa é o empresário , o empresário tem bens, o empresário exerce uma atividade
econômica organizada, o empresário exerce a empresa. Empresa é considerada no Brasil
atividade econômica. Sociedade empresária exerce empresa.

Duas observações: Nas provas de direito do trabalho em razão da redação da CLT ainda se faz
alusão ao vocábulo empresa associada à pessoa, na doutrina inteira, para todos os examinadores
empresa não é pessoa. Agora, em razão da redação da CLT, artigo 2º, há a definição da figura de
empregador, se faz alusão ao vocábulo empresa associada à pessoa.

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,


assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação
pessoal de serviço.
Nesse dispositivo da CLT o vocábulo empresa individual está associada à figura do empresário
individual, empresa coletiva diz respeito à sociedade empresária. Em decisões do direito do trabalho
ainda é possível encontrar empresa relacionada à pessoa.
Embora tenha havido controvérsia inicial, hoje, o vocábulo empresa está relacionado ao conjunto de
operações, de relações jurídicas realizada pela pessoa. Daí vem uma atividade econômica. É o
funcionamento da atividade.
Segunda ponderação: Figura da empresa pública. Aí não tem jeito. A Constituição consagrou essa
terminologia, na figura da empresa pública o vocábulo empresa está associado à idéia de pessoa
jurídica de direito privado. Por que é pessoa jurídica de direito privado? Qual é a ordem econômica
adotada no Brasil? Capitalista. Nessa ordem a exploração da atividade econômica é franqueada a
quem? Iniciativa privada dentro de regime jurídico de direito de privado. O poder público pode
exercer atividade econômica? Sim, mas sob o regime jurídico de direito privado e somente em
caráter excepcional. De acordo com a doutrina administrativa, o Estado não se despe de sua
soberania, de seu poder de império quando da exploração de atividade econômica. No Brasil, na
nossa disciplina, nas questões de direito empresarial o vocábulo empresa não deve estar
associado à pessoa, esse vocábulo está vinculado ao perfil funcional, é uma atividade
econômica organizada exercida por pessoa. A sociedade tem por objeto social a empresa.
Normalmente o vocábulo empresa está relacionado ao objeto, objeto social de uma sociedade
empresária.

4) Perfil Corporativo

O último perfil da empresa diz respeito ao perfil corporativo. Quando o professor Asquini escreveu
o livro dele, ele escreveu em 1941. Contexto da segunda guerra mundial. A exploração da atividade
econômica deve ser feita em prol do interesse do Estado. Essa redação posteriormente foi ,
obviamente, modificada. Hoje se consagra que a atividade econômica é voltada à satisfação do
interesse público e não necessariamente do Estado. A atividade econômica é desenvolvida em prol
do interesse público primário, é o que hoje reflete a chamada função social da empresa consagrada
no artigo 170 da Constituição.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o


impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis


brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 6, de 1995)

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade


econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de


atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos
imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei
.
Esse artigo é o marco constitucional da finalidade da atividade econômica. Se algum dia você tiver
alguma dúvida do significado da função social da empresa o legislador te dá uma colinha. Artigo
47, da lei 11101/05, é claro que esse artigo faz alusão direta ao instituto da recuperação judicial
.
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação
de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à
atividade econômica.
A atividade econômica deixou de ser realizada voltada, exclusivamente, a trazer lucro ao
empresário.

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