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ERICSON M.

SCORSIM

DIREITO DAS
COMUNICAÇÕES
REGIME JURÍDICO
Telecomunicações • Internet
TV por radiodifusão • TV por assinatura
ERICSON M. SCORSIM

DIREITO DAS
COMUNICAÇÕES
REGIME JURÍDICO
Telecomunicações • Internet
TV por radiodifusão • TV por assinatura

Curitiba • Edição do autor • 2016


CONTATOS
R. Francisco Juglair, 628 - Ecoville
CEP 81200-230
CURITIBA - PR
fone/fax: 41 3285.4312
E-mail: contato@meisterscorsim.com
Site: www.meisterscorsim.com

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Marcela Grassi Mendes de Faria
Johann Matheus Carnasciali Rocha
Studio Bild Design & Fotografia
www.studiobild.com.br

Direito das Comunicações: regime jurídico dos serviços de


telecomunicações (móvel pessoal e telefonia fixa), acesso à internet,
TV por radiodifusão e TV por assinatura

SCORSIM, Ericson Meister. 1. ed. Curitiba, edição do autor. 2016, p.1561

1 Todos os direitos reservados. O autor solicita que se citados os trechos do Ebook ou reprodu-
zidos parcialmente em outras publicações, mencionar a autoria do presente texto. Convido ao
leitor a apresentar, críticas ou sugestões ao texto que podem ser encaminhadas ao email pessoal
do autor: ericsonscorsim@gmail.com.
ERICSON
SCORSIM
Advogado e Consultor em Direito Público,
especializado em Direito das Comunica-
ções. Doutor em Direito pela USP. Mestre
em Direito pela UFPR. Sócio fundador do
Escritório Meister Scorsim Advocacia.

Site: http://www.meisterscorsim.com/
Blog jurídico: http://www.meisterscorsim.com/blog
Email: ericsonscorsim@gmail.com
O agradecimento especial à minha esposa
Cleide Kazmierski que colaborou de modo
tão significativo na pesquisa, revisão e
organização dos textos, no debate de
ideias, bem como na criação e organização
de facilidades para do cotidiano. Minha
gratidão! Namastê!
PALAVRAS DO AUTOR

“Comunicar-se é natureza;
aprender o comunicado tal
como ele foi dado é cultura”.

Goethe

A inspiração para escrever sobre Direito das Comunicações vem da percepção


da necessidade e do valor do conhecimento desta especialidade, tanto para
os profissionais do direito quanto de outras áreas. Os capítulos que seguem
pretendem contribuir para uma nova visão, organização e alinhamento
de temas essenciais da legislação sobre comunicação social, internet,
telecomunicações e televisão por radiodifusão e por assinatura.

A criação desta Coletânea sobre Direito das Comunicações em três E-books


é motivada ainda pelo propósito de compartilhar os estudos e as pesquisas
com as pessoas interessadas no aprofundamento dos referidos temas sobre
comunicações que tem intensa repercussão na vida de milhões de brasileiros,
bem como sobre a atuação das empresas dos referidos setores econômicos,
em todo território nacional.

O ambiente das organizações empresariais que atuam nos segmentos de


internet, telecomunicações e televisão é marcado pela volatilidade, incerteza,
complexidade e ambiguidade. Daí a fundamental necessidade de lançar
luzes, a partir da racionalidade, sobre os caminhos regulatórios adotados
nas leis setoriais bem como sobre a aplicação prática pelos tribunais e pelos
advogados.
O E-book 1 Direito das Comunicações: regime jurídico de telecomunicações,
internet, TV por radiodifusão, TV por assinatura, é o primeiro desta Coleção.

O E-book 2 é dedicado aos Temas de Direito das Comunicações na


Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

O E-book 3 é a Coletânea da Legislação do Direito das Comunicações.

Os três E-books estão disponíveis para download gratuito no site: www.


meisterscorsim.com. A finalidade da divulgação gratuita dos Ebooks, na
plataforma da internet, é facilitar o acesso ao conhecimento jurídico, com
o seu compartilhamento na prática da advocacia e das demais funções
essenciais à Justiça; nas pesquisas realizadas nas faculdades de direito, bem
como contribuir com o acervo das respectivas bibliotecas digitais.

Destaque-se que o Direito das Comunicações está baseado nas linhas


clássicas do Direito constitucional e Direito administrativo-regulatório. Em
especial, seu fundamento maior está no especial capítulo da Constituição
Federal sobre Comunicação Social que trata das regras sobre os veículos de
de comunicação social, e nos capítulos referentes aos direitos fundamentais
impactados pelos serviços de comunicação social e comunicação pessoal.
Também, outros fundamentos constitucionais está assentados no quadro de
competências legislativas e materiais para normatização e organização dos
setores de telecomunicações e radiodifusão sonora e radiodifusão de sons e
imagens.

O Direito das Comunicações dialoga também com os demais ramos jurídicos.


O seu âmbito de aplicação é amplo, pois tem como foco questões regulatórias,
legais e contratuais essenciais às estruturas de mercado, à organização do
setor público e à vida das pessoas, na condição de consumidores e cidadãos.
Ele absorve as lições clássicas do Direito do Estado e do moderno Direito
privado. Trata-se de visão jurídica de integração entre o Direito clássico e
Direito contemporâneo, mas que deve escutar as vozes e as expectativas dos
destinatários da aplicação das regras do Direito.

As atividades econômicas ligadas à internet, telecomunicações e televisão,


juntamente com as novas tecnologias e as infraestruturas de redes de
comunicação, são essenciais à economia do Brasil, aos setores da indústria,
comércio e prestação de serviços, à geração de trabalho e renda, à comunicação
pessoal, à comunicação empresarial e à comunicação dos setores públicos.
Também, estas atividades econômicas são de vital importância à informação,
à educação, ao comércio e à indústria, ao entretenimento e à difusão da
cultura brasileira. O Brasil tem gigantescos desafios para fazer crescer sua
economia e garantir o bem estar para os brasileiros. Daí a necessidade urgente
de realização de investimentos substanciais em redes de comunicação digital.

A percepção da relevância da presença da Internet no cotidiano das pessoas é


fato. A Internet é novo paradigma que rompe com os modelos tradicionais de
comunicação, especialmente por garantir a universalidade, instantaneidade,
imaterialidade, bilateralidade e a interação entre as pessoas. Daí a intensa
repercussão na organização social, nos mercados e na vida das pessoas,
no aspecto pessoal ou empresarial ou de consumo digital. A Internet cria
forte tendência no sentido de demandar mudanças profundas no sistema
econômico, social, político e jurídico. Aqui, o destaque à criação de novos
modelos de negócios, algo protegido inclusive pelo Marco Civil da Internet.
A título ilustrativo, sobre estas consequências, o fenômeno das redes sociais,
na plataforma da internet, e o seu impacto na vida de milhões de pessoas,
inclusive com efeitos sobre o comércio eletrônico e consumo e cultura digital.

Neste século, houve radical mudança do sistema de comunicação social,


com a ampliação do acesso individual dos usuários às redes e aos serviços
de comunicação pessoal. Há, evidentemente, muito a ser feito em termos
de universalização do acesso e a qualificação dos serviços de comunicação
para os consumidores e cidadãos brasileiros. Atualmente, portanto, a
efetivação da liberdade de informação e de comunicação individual, com a
configuração de verdadeiro poder de comunicação pessoal. Evidentemente
que a percepção da realidade há de considerar a presença de gigantescas
corporações econômicas e financeiras, em atuação no território nacional e
global, que devem se submeter à legislação nacional.

Novas oportunidades e desafios aparecem nestes relevantes setores


econômicos das comunicações, com agentes econômicos que se submetem
à competição internacional. Dentre eles, a garantia de substanciais
investimentos na construção e ampliação das redes de comunicação digital,
bem como na adoção das novas tecnologias. Daí os desafios para o Direito
em acompanhar este cenário de intensas e velozes mudanças. É necessária
nova visão para evolução do Direito, em direção do seu futuro, atualizado
aos novos tempos e tecnologias de comunicação. Aqui, a visão sistêmica
contribui para a aproximação entre o Direito e a nova realidade do ambiente
digital criada pelos novos meios de comunicação e os serviços de comunicação
social e comunicação pessoal. Com esta visão compartilhada destas bases
estruturais de conhecimento jurídico proporcionadas aos leitores, é possível
iniciar e alinhar os primeiros passos em direção comum ao propósito de
estimular o estudo dos temas ligados ao Direito das Comunicações, em
sintonia e harmonia com o ritmo exigidos pelas mudanças.

Convido você à boa leitura do texto!

“Não basta dar passos que devem, um dia, conduzir ao objetivo: cada passo,
em si mesmo, deve ser um objetivo, ao mesmo tempo, em que nos leva
adiante”.

Goethe

Ericson M. Scorsim
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DO DIREITO DAS COMUNICAÇÕES...............19

I. SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES......................................... 29

1. Serviço Móvel Pessoal.............................................................................. 29

1.1 Lei Geral de Telecomunicações ........................................................ 29

1.2 Regime de Outorga por Autorização da Anatel ............................... 30

1.3 Direito de Uso das Radiofrequências do Espectro .......................... 32

1.4 Lei da Infraestrutura de Redes de Telecomunicações: licenciamento,


instalação e compartilhamento obrigatório da capacidade excedente de
rede ......................................................................................................... 33

1.5 Regulamento do Serviço Móvel Pessoal: Resolução n. 477/2007, da


Anatel...................................................................................................... 34

1.6 Ações judiciais sobre a suspensão da internet móvel pré-paga e redução


da velocidade de acesso, após o consumo da franquia de dados ............ .35

2. Serviço de telefonia fixa .......................................................................... 37

2.1 Lei Geral de Telecomunicações......................................................... 38

2.2 Regime de outorga por Concessão ................................................... 38

2.3 Regime de autorização no serviço de telefonia fixa......................... 40

2.4 Regulamento da Telefonia Fixa: Resolução nº 426/2005, da


Anatel ..................................................................................................... 41

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

3. Agência Nacional de Telecomunicações: Anatel..................................... 42

3.1 Natureza jurídica da agência reguladora das telecomunicações ..... 42

3.2 Competências de outorga, edição de normas e fiscalização dos serviços


de telecomunicações .............................................................................. 43

3.3 Regulamento dos Direitos dos Consumidores nos Serviços de


Telecomunicações, na forma da Resolução n. 632/2014 da Anatel ..... 45

4. Inconstitucionalidades de leis estaduais e distrital que tratem dos serviços


de telecomunicações.................................................................................... 46

II. INTERNET........................................................................................... 50

1. Marco Civil da Internet: Lei nº 12.965/2014 ......................................... 50

2. Serviço de conexão à internet ................................................................. 52

2.1 Regime legal dos provedores de serviços de acesso à internet ........ 53

3. Aplicações de internet............................................................................. 54

3.1 Regime legal dos provedores de aplicações para internet................ 55

3.2 Bloqueio Judicial do Whatsapp........................................................ 56

4. Princípio da neutralidade da rede: questões polêmicas ........................ 60

4.1 Perspectivas para interpretação do princípio da neutralidade da


internet ................................................................................................... 62

4.2 Competência da Anatel quanto à regulação dos serviços de conexão à


internet ................................................................................................... 64

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4.3 Questão da Competência da Anatel para fiscalizar o cumprimento do


princípio da neutralidade: possibilidades e limites............................... 65

4.3.1 Tese da competência fiscalizatória da Anatel sobre o cum-


primento do princípio da neutralidade da Internet........................ 65

4.3.2 Tese da incompetência da Anatel para fiscalizar o princípio da


neutralidade na Internet ................................................................. 67

5. Direito comparado: regulação da internet nos EUA e direito europeu.. 67

6. Incompetência da Anatel para outorgar e regular aplicações de internet


(aplicativos): o caso do WhatsApp e Netflix............................................... 70

III. TELEVISÃO E RÁDIO POR RADIODIFUSÃO COMERCIAL.. 74

1. Noção ....................................................................................................... 74

2. Regime jurídico da TV privada na Lei n. 4.117/1962.............................. 75

3. TV Digital................................................................................................. 76

4. Outorga do serviço de radiodifusão de sons e imagens por concessão pelo


Poder Executivo, em conjunto com o Congresso Nacional........................ 77

5. Princípio da complementaridade dos sistemas de radiodifusão privado,


público e estatal........................................................................................... 79

6. Responsabilidade pela Gestão e Conteúdo Editorial das Empresas privadas


de TV e Rádio .............................................................................................. 79

7. Propriedade das Emissoras de TV e Rádio por Radiodifusão ............... 81

7.1 Limites à Propriedade Privada nas empresas de radiodifusão........ 81

7.2 Participação do capital estrangeiro nas empresas de radiodifusão. 82

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

7.3 Propriedade de empresas de rádio e televisão por radiodifusão por


senadores e deputados............................................................................ 82

7.4 Propriedade de empresas de radiodifusão por entidades


religiosas ................................................................................................ 85

8. Transferência da Concessão de Televisão e Rádio.................................. 86

9. Direito de uso das frequências pelas emissoras de TV e rádio............... 88

10. Licitação para outorga dos serviços de radiodifusão de sons e imagens e


radiodifusão sonora..................................................................................... 89

11. Princípios constitucionais da produção e programação das emissoras de


tv e rádio...................................................................................................... 89

12. Classificação indicativa da programação de televisão........................... 90

13. Publicidade Comercial........................................................................... 92

13.1 Papel do Conselho de Autorregulamentação Publicitária: Conar.. 93

14. Publicidade institucional ...................................................................... 94

15. Publicidade Política/Propaganda eleitoral ........................................... 94

15.1 Abusos na utilização dos meios de comunicação social: risco de perda


de mandato dos agentes políticos .......................................................... 95

16. Direito à remuneração pela cessão de programação da TV por radiodifusão


para veiculação nos serviços de TV por assinatura: Joint Venture sob análise
no CADE ..................................................................................................... 96

17. Direitos Autorais sobre a Programação de Televisão............................ 97

17.1 Cobrança de Direitos Autorais pelo ECAD sobre Programação de


Televisão e Rádio.................................................................................... 97

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

18. Transmissão de Eventos Esportivos pela Televisão: o caso do


futebol.......................................................................................................... 98

19. Legislação especial de repercussão nos Serviços de TV por


radiodifusão................................................................................................. 99

20. Programas de Televisão na Internet ....................................................101

21. Rádio Comercial.................................................................................... 102

21.1 Mudança do padrão AM para FM.................................................. 102

21.2 Preço das outorgas do serviço FM nas novas licitações................ 103

21.3 Rádio Digital: definição do padrão tecnológico............................. 103

21.3.1 Rádios Digitais na internet fixa e internet móvel ................ 104

22. Competência do Ministério das Comunicações para fiscalizar os serviços


de radiodifusão sonora e radiodifusão de sons e imagens ...................... 105

23. Anatel: competência para fiscalizar questões técnicas dos serviços de


televisão e rádio por radiodifusão.............................................................. 106

24. Conselho de Comunicação Social......................................................... 107

IV. TELEVISÕES PÚBLICAS E ESTATAIS E RÁDIOS


COMUNITÁRIAS.................................................................................. 110

1. Serviço de radiodifusão pública, na forma da Lei n. 11.652/2008........ 110

2. TVs estatais............................................................................................. 111

2.1 Regime jurídico................................................................................ 111

2.2 TV do Poder Executivo - TV NBR.................................................... 111

2.3 TV do poder judiciário - TV Justiça................................................. 113

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2.4. TV Câmara...................................................................................... 114

2.5. TV Senado....................................................................................... 115

2.6 TV das Assembleias e Câmara de Vereadores................................. 116

3. Rádios comunitárias ............................................................................... 117

V. TELEVISÃO POR ASSINATURA.................................................... 120

1. Noção ...................................................................................................... 120

2. Lei da Comunicação Audiovisual de Acesso Condicionado: Lei n.


12.485/2011................................................................................................. 121

3. Regras e limites à propriedade cruzada entre empresas de tv por


radiodifusão e empresas de telecomunicações.......................................... 123

4. Regime de Outorga dos serviços de comunicação audiovisual de acesso


condicionado (SeAC) por Autorização Administrativa da Anatel ........... 124

5. Distribuição de canais de programação de televisão............................. 125

6. Produção de Programas de Televisão para distribuição na TV por


assinatura.................................................................................................... 125

7. Empacotamento e Programação de Canais de TV................................. 126

8. Cotas de conteúdo brasileiro na programação de TV por assinatura....127

9. Publicidade Comercial: limite de 25% do tempo total de


programação .............................................................................................. 128

10. Direito dos Assinantes.......................................................................... 128

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

11. Competência da Anatel para outorgar, normatizar e fiscalizar os Serviços


de Acesso Condicionado (SeAC)................................................................ 129

11.1. Regulamento do Serviço de Acesso Condicionado: Resolução n.


581/2012, da Anatel .............................................................................. 130

12. Competência da Ancine para fiscalizar os serviços de empacotamento e


programação dos canais de TV por assinatura...........................................131

CONCLUSÕES....................................................................................... 132

1. Direito das Comunicações.......................................................................132

2. Telecomunicações : serviço de telefonia fixa e móvel pessoal................132

3. Internet: serviços de conexão e aplicações de internet ..........................133

3.1 Regime Legal dos Provedores de Aplicações para Internet.............133

3.2 Bloqueio Judicial do WhatsApp.......................................................134

4. Televisão por Radiodifusão.....................................................................134

4.1 TV comercial......................................................................................134

4.2 TV pública ....................................................................................... 136

4.3 TV estatal......................................................................................... 136

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

REFERÊNCIAS NORMATIVAS.......................................................... 139

REFERÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS DO STF............................... 145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 146

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

APRESENTAÇÃO DO DIREITO DAS


COMUNICAÇÕES

O Direito das Comunicações é especialidade do conhecimento da legislação


aplicável aos serviços de telecomunicações, internet e televisão1. Este ramo
do direito trata da análise das leis incidentes sobre os diferentes serviços
de telecomunicação (telefonia fixa e móvel pessoal), acesso à internet e
aplicações de internet, TV e rádio por radiodifusão e TV por assinatura.2

O objetivo do presente livro, no formato de Ebook3 , é apresentar algumas


linhas iniciais para sistematização do Direito das Comunicações, com foco
na análise da legislação dos serviços de telecomunicações (Lei n. 9.472/97),
serviços de televisão e rádio por radiodifusão (Lei n. 4.117/62), serviços de TV
por assinatura (Lei n. 12.485/2011, que trata da comunicação audiovisual de

1 Aqui, o registro do agradecimento à colaboração do advogado Marcel Scorsim Fracaro nas pesquisas e
revisão do texto, bem como da bacharel em Direito Alessandra Schuster que colaborou nas pesquisas.
2 A título ilustrativo, segundo informações da Anatel, atualizadas até 2015, os números de acessos aos
serviços de comunicações são os seguintes:
a) telefonia móvel (281,7 milhões de acessos);
b) internet banda larga móvel (162,9 milhões);
c) telefonia fixa (45,1 milhões de acessos);
d) internet banda larga fixa (24,3 milhões de acessos);
e) TV por assinatura (19,7 milhões de acessos).
Conforme Relatório Anatel sobre os dados dos mercados, disponibilizados em 31.03.2015. Ver: www.
anatel.gov.br. Também, relatório da Telecom, realizado em dezembro de 2014. Ver: www.telecom.com.
br/3G_brasil.asp
Segundo dados públicos do IBGE, em 2013 o País possuía 65,1 milhões de domicílios particulares per-
manentes, dentre os quais a televisão aberta estava presente em 63,3 milhões. O sinal digital da televisão
aberta estava disponível para 19,7 milhões de domicílios.
Segundo dados divulgados por Jan Koum, cofundador e executivo-geral do WhatsApp, em 2014 o apli-
cativo possuía 45 milhões de usuários no Brasil. Em 2015, conforme estimativas de sites especializados,
o aplicativo já possuía 100 milhões de usuários no Brasil.
3 A escolha do formato de Ebook deve-se à simplificação do acesso para o leitor, o qual pode mediante
download no site http://meisterscorsim.com/ e no blog http://meisterscorsim.com/blog/ visualizar o
arquivo aonde e quando preferir. A concepção foi moldada para facilitar as pesquisas internas dentro do
próprio Ebook.

19
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

acesso condicionado), serviços de acesso à internet e aplicações de internet


(Marco Civil da Internet, Lei n. 12.965/2014).

Cada uma destas referidas leis contém especificidades, relacionadas ao


regime jurídico do serviço de telecomunicações, internet ou televisão. A
título ilustrativo, os serviços de TV e rádio por radiodifusão do setor privado
submetem-se a regime especialíssimo de concessão, com obrigações
específicas para as concessionárias dos serviços de radiodifusão sonora e os
serviços de radiodifusão de sons e imagens. 4

Diferentemente, o novo modelo regulatório dos serviços de TV por assinatura


(serviços de comunicação audiovisual de acesso condicionado) submete-se ao
regime de outorga por autorização administrativa da Anatel. Na lei setorial,
há regras específicas para os prestadores do serviço de acesso condicionado,
os distribuidores dos canais de programação, os empacotadores dos canais,
e os produtores de obras audiovisuais.

No âmbito das telecomunicações, a Lei Geral de Telecomunicações contém


regimes jurídicos distintos para os provedores de serviços de telecomunicações
e os provedores de serviços de valor adicionado às redes de telecomunicações,
como é o caso do WhatsApp, Google, Facebook, Netflix, entre outros.

Por sua vez, o Marco Civil da Internet contém regras, princípios e direitos,
que interessam diretamente os seus usuários, bem com os provedores de
acesso à internet e os provedores de aplicações. Um dos pontos principais
da lei é o princípio da neutralidade da internet, para garantir o acesso à
rede de modo público e universal com o tratamento isonômico para agentes

4 Sobre o tema, consultar SCORSIM, Ericson Meister e CLÈVE, Clèmerson Merlim. Concessão de ser-
viço por radiodifusão, liberdade de expressão e produção de conteúdos por terceiros ou em regime de
coprodução. Artigo publicado na Revista Brasileira de Direito Público (RBDP – nº 50, ano 13 – julho/
setembro 2015) e também disponível no site Jus Navigandi - www.jusnavigandi.com.br

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

econômicos e usuários dos serviços prestados online. O Marco Civil da


Internet distingue, claramente, os regimes dos provedores de serviços de
acesso à internet e o regime dos provedores de aplicativos de internet. Daí
o cuidado na interpretação jurídica dos regimes jurídicos para a adequada
aplicação ao caso concreto.

Destaque-se que a Internet tem o poder de criar novos modelos de negócios,


causando a ruptura diante dos modelos tradicionais. Daí as consequências
das novas tecnologias de informação e comunicações sobre a economia, os
mercados, a cultura brasileira e o direito. Por exemplo, com a internet o
modelo tradicional de negócios da publicidade, baseado em anúncios em
jornais, revistas, televisão e rádio foi modificado. Com a entrada do Google
no mercado da publicidade digital, o qual disputa a escassa atenção das
pessoas, houve a modificação das regras do jogo. Outro exemplo é o mercado
do entretenimento, aonde surgiram novos modelos de oferta de vídeos
gratuitos e vídeos ondemand (exemplo: Netflix). Também, o surgimento
das redes sociais mudou a cultura brasileira, com a sua presença intensa no
cotidiano das pessoas, no caso do Facebook. Também, um novo aplicativo
como o Uber causa ruptura no modelo tradicional regulatório dos serviços
de táxi, definido pelos municípios. E, as bases da economia tradicional são
modificadas com o surgimento do comércio eletrônico (E-Commerce).

Sobre a repercussão no âmbito do direito, basta lembrar do caso da suspensão


judicial do aplicativo WhatsApp por determinação da Justiça. A decisão
liminar causou impacto sobre a vida de milhões de pessoas usuárias do
aplicativo. Mas, o Tribunal de Justiça de São Paulo reformou esta decisão,
para garantir o pleno acesso aos serviços do WhatsApp, sob o fundamento
do princípio da constitucional da razoabilidade. Da interpretação do Marco
Civil da Internet, não é possível extrair a hipótese do descumprimento de
ordem judicial como causa para a suspensão, ainda que temporária, das
atividades da empresa provedora de aplicações de internet.5

5 Sobre o tema, consultar SCORSIM, Ericson Meister. Bloqueio judicial do WhatsApp no Brasil. Artigo
publicado no site especializado Jusbrasil, disponível em http://ericsonscorsim.jusbrasil.com.br/arti-
gos/269940617/bloqueio-judicial-do-whatsapp-no-brasil 21
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Enfim, a interpretação das regras jurídicas não pode desconhecer as


mudanças na realidade causadas pela internet.

O livro resulta de intensa pesquisa jurídica, ao longo de décadas, com a visão


sistemática da legislação, doutrina e jurisprudência em temas de Direito das
Comunicações.6 Aqui, a interseção entre o Direito e as novas tecnologias
nos serviços de comunicação pessoal (telefonia, móvel pessoal e internet)
e serviços ligados à Comunicação Social, como é o caso dos serviços de
radiodifusão sonora e radiodifusão de sons e imagens e dos serviços de TV
por assinatura.

Destaque-se que a Constituição Federal de 1988 contém capítulo específico


sobre a Comunicação Social. Este capítulo constitucional contém regras,
princípios e garantias aplicáveis à tradicional imprensa, aos serviços de TV
e rádio por radiodifusão e aos serviços de TV por assinatura. Há garantia da
ampla liberdade de expressão, de comunicação e de informação jornalística.
Há princípios específicos sobre a produção e programação das emissoras de
televisão e rádio por radiodifusão e TV por assinatura.7 Há normas sobre a
presença do capital estrangeiro nas empresas de comunicação social, como
empresas jornalísticas, de radiodifusão e de TV por assinatura.8 Existem
regras específicas para outorga da concessão dos serviços radiodifusão
sonora e radiodifusão de sons e imagens. 9

6 O autor do presente Ebook tem as seguintes obras de doutrina: TV Digital e Comunicação Social: aspec-
tos regulatórios – TVs pública, estatal e privada. Belo Horizonte: Ed. Fórum, 2008 e Direito a Informa-
ção e Serviços de Televisão. Direito Constitucional Brasileiro. Coordenação Clèmerson Merlin Cléve, 1ª
ed, vol.I, São Paulo/SP: Ed. Revista dos Tribunais, 2014, p. 450. Também, o autor tem diversos artigos
relacionados a temas específicos sobre questões regulatórias das telecomunicações, internet e televisão,
publicados em revistas especialistas em direito.
7 Art. 221, incs. I a IV, da Constituição Federal.
8 Art. 222 da Constituição Federal.
9 Art. 223 da Constituição Federal.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Um dos pilares para a organização da Comunicação Social é o princípio da


complementaridade dos três sistemas de radiodifusão privado, público
e estatal. Em razão deste princípio constitucional há a configuração de
emissoras de TV e rádio privadas, públicas e estatais. 10
Daí a existência de
regimes jurídicos específicos, como o do setor privado (Lei n. 4.117/1962), do
setor público (Lei 11.652/2008, que cria a Empresa Brasil de Comunicação11 ),
bem como da Lei das Rádios Comunitárias, e do setor estatal, tais como a TV
Justiça, TV Senado, TV NBR e TVs legislativas.

O regime das telecomunicações é outro, diferente da Comunicação Social. O


serviço de telecomunicações abrange a espécie da comunicação pessoal, o qual
conta com legislação específica. Nos serviços de telecomunicações (telefonia
fixa e móvel pessoal), não há restrições a priori sobre o impacto da comunicação
em relação ao público. Diversamente, nos serviços relacionados à Comunicação
Social, principalmente os serviços de TV aberta e TV por assinatura há esta
preocupação em relação ao público. Daí a configuração de regras especiais
como a classificação indicativa dos programas de TV, publicidade comercial e
princípios sobre a produção e programação das emissoras de TV e rádio.

Registre-se apenas que, tecnicamente, os serviços de TV e rádio por


radiodifusão e os serviços de TV por assinatura são espécies de serviços de
telecomunicações. Mas, aqui, na presente obra são tratados de modo separado
devido às singularidades do regime jurídico de radiodifusão e o regime da TV
por assinatura que contam com legislação específica.

10 Sobre o tema, consultar: Scorsim, Ericson. TV Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios – TVs
pública, estatal e privada. Belo Horizonte: Ed. Fórum, 2008.
11 Ressalte-se que o termo radiodifusão pública segue a literalidade da Lei n. 11.652/2008. Mas, no enten-
dimento do autor, a atribuição do serviço de radiodifusão à Empresa Brasil de Comunicação seria uma
espécie de radiodifusão do setor estatal. Isto porque o autor distingue o setor público do setor estatal. A
Empresa Brasil de Comunicação é uma empresa criada pela União, daí ser uma empresa estatal. Sabe-se
que é uma empresa pública, mas no sentido de empresa estatal. Um setor de radiodifusão público em
sentido estrito deve ser independente do Estado, algo que não acontece com a EBC, eis que, diretamente
ou indiretamente, dependente de fontes orçamentárias da União.

23
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

O estudo abrange o regime de outorga por concessão e autorização,


regulação e fiscalização dos serviços de telecomunicações, acesso à internet,
e televisão e rádio por radiodifusão e a TV por assinatura. Também,
destina-se à interpretação da legislação aplicável ao licenciamento,
implantação e compartilhamento obrigatório das infraestruturas das redes
de telecomunicações.12

São analisadas as competências normativas e regulatórias das agências


reguladoras sobre os serviços de telecomunicações, internet e comunicação
audiovisual de acesso condicionado, no caso, a Anatel e a Ancine.
Especialmente, no caso da Anatel apresenta-se a sua competência para
outorgar e regular os serviços de conexão à internet. 13 Portanto, os provedores
de acesso à internet, em sua maioria empresas de telecomunicações, estão
submetidos à jurisdição da Anatel.

A Internet e suas diversas aplicações, tais como WhatsApp e Netflix (redes


Over-The-Top - OTT) cria novos desafios regulatórios quanto à interpretação
da legislação. Os serviços prestados online denominados OTT são
classificados como serviços de valor adicionado à rede de telecomunicações,
sob o fundamento da Lei Geral de Telecomunicações. Estes serviços de valor
adicionado não são classificados como serviços de telecomunicações. Neste
contexto, aborda-se a incompetência da Anatel para regular as aplicações de
internet e, assim, impor regras sobre os provedores de aplicações.

Por outro lado, há diversos conflitos em relação a interpretação das regras


da Comunicação Social presentes na Constituição, bem como sobre a

12 Para aprofundamento do tema, ver SCORSIM, Ericson. Lei Federal das Normas Gerais para Licencia-
mento e Compartilhamento de Infraestrutura de Rede de Telecomunicações. Artigo publicado na Revis-
ta do Instituto dos Advogados de São Paulo. Ano 18. Ed. 35. Janeiro-Junho de 2015
13 Para detalhamento do tema, ver SCORSIM, Ericson. Competência da Anatel para outorgar e fiscalizar
os serviços de acesso à internet: limites e possibilidade. Artigo publicado na Revista de Direito Contem-
porâneo Administrativo (ReDAC). Ano 3. nº 21. Novembro-Dezembro de 2015.

24
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

interpretação da legislação dos serviços de telecomunicação. A título ilustra-


tivo, analisa-se na jurisprudência do STF a incompetência legislativa de estados
e distrito federal para regular temas relacionados às telecomunicações.14

O STF tem relevantes julgamentos em temas relacionados ao Direito


das Comunicações.15 A título ilustrativo, há os casos dos julgamentos da
constitucionalidade do Decreto que aprovou o padrão de TV Digital16 , da
recepção da Lei n. 4.117/196217 , aplicável às concessionárias do serviço de TV
e rádio por radiodifusão, a constitucionalidade de Lei da TV por assinatura18 ,
da Lei Geral de Telecomunicações 19, entre outros20.

14 Sobre o tema, SCORSIM, Ericson. Temas de Direito das Comunicações na Jurisprudência do STF, ebook
disponível para download gratuito em http://meisterscorsim.com/blog/
15 Sobre o tema, ver SCORSIM, Ericson. Temas de Direito das Comunicações na Jurisprudência do STF,
ebook disponível para download gratuito em http://meisterscorsim.com/blog/
16 Na ADI 3.944/DF, Min. Rel. Ayres Britto, o STF decidiu sobre a constitucionalidade do Decreto n.
5.820/2006 que impôs para as concessionárias do serviço público de televisão por radiodifusão a mu-
dança do padrão analógico para o digital sob os argumentos da necessidade de atualização e eficiência dos
serviços públicos.
17 O STF, na ADI 561/DF, Min. Rel. Celso de Mello, deliberou acerca da recepção e compatibilidade da Lei
n. 4.117/1962 com a Constituição de 1988. Esta lei é denominada Código Brasileiro de Telecomunicações,
porém os dispositivos relacionados às telecomunicações foram revogados pela nova Lei Geral das Teleco-
municações (Lei n. 9.472/1997), permanecendo em vigor os dispositivos pertinentes à radiodifusão.
18 O STF, nas ADIs 4.679, 4.747, 4.756 e 4.923, Min. Rel. Luiz Fux, proferiu voto no sentido da constituciona-
lidade das regras da Lei da TV por assinatura: Lei n. 12.485/2011, que dispõe sobre o serviço de comunica-
ção audiovisual de acesso condicionado (SeAC). Nas ADIs foram impugnados 23 (vinte três) artigos da Lei
n. 12.485/2011. Diversas questões da lei foram debatidas: inconstitucionalidade da regra da lei da tevê por
assinatura que estabelece restrições à participação e controle societário por empresas de telecomunicações
de interesse coletivo nas empresas de radiodifusão; inconstitucionalidade da regra que trata da distribui-
ção obrigatória, pelas prestadoras do serviço de lei da tevê por assinatura, dos canais de televisão por ra-
diodifusão (regras must-carry); inconstitucionalidade da norma legal que determina as cotas de conteúdo
brasileiro na programação dos serviços de TV por assinatura; questionamento da constitucionalidade das
regras de transição do regime antigo, referente aos atos de concessão e respectivos contratos das atuais
prestadoras de tevê a cabo, para o regime novo de outorga por autorização administrativa dos serviços de
comunicação audiovisual de acesso condicionado, etc.
19 O STF, na ADI 1.668/DF, Min. Rel. originário Marco Aurélio, julgou constitucional a Lei Geral de Te-
lecomunicações, especialmente os artigos que preveem a competência do Poder Executivo, por meio de
decreto, alterar, impor ou suprimir a modalidade de serviço no regime público, bem como da coexistência
do regime público com o regime privado. Também, respaldou a adoção do regime de autorização adminis-
trativa para a prestação dos serviços de telecomunicações.
20 Sobre o tema, SCORSIM, Ericson. Temas de Direito das Comunicações na Jurisprudência do STF, ebook
disponível para download gratuito em http://meisterscorsim.com/blog/

25
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

O Direito das Comunicações dialoga com os ramos clássicos dos Direitos


Constitucional, Administrativo, Concorrencial, Eleitoral, Societário,
Tributário, Civil, Penal, Relações de Consumo, entre outros. A especialidade
dos temas é que justifica o seu tratamento em profundidade, com a análise
da legislação incidente sobre telecomunicações, internet e radiodifusão.

A título ilustrativo, uma questão relacionada aos contratos das empresas de


radiodifusão, telecomunicações, internet ou TV por assinatura, envolve a
aplicação do Direito Societário, juntamente com a legislação setorial, objeto
de estudo do Direito das Comunicações. Outro exemplo, a questão tributária
sobre a incidência ou não de um determinado tributo sobre um novo serviço
por provedor de serviços de valor adicionado à rede de telecomunicações
(um serviço Over-The-Top, como é o do vídeo sob demanda do Netflix, ou
de troca de mensagens entre os usuários, como é o caso do WhatsApp),
demanda o conhecimento da legislação setorial. Outro exemplo: a cobrança
da Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria
Cinematográfica Nacional), efetuada pela Ancine sobre as empresas de
telecomunicações, com base na Lei da TV por assinatura. Ou seja, uma regra
da Lei da TV por assinatura tem repercussão tributária sobre as empresas de
telecomunicações. 21

No âmbito eleitoral, existem diversos casos de aplicação do Direito


Eleitoral, diante dos meios de comunicação social (emissoras de TV, rádio
e provedores de internet). Também, em questões sobre inelegibilidades
dos candidatos surgem problemas sobre a interpretação de contratos com

21 Até o momento da conclusão do presente texto, na ação judicial proposta pelas prestadoras dos serviços
de telefonia fixa e celular, representadas pelo SindiTelebrasil, houve o deferimento de liminar para afas-
tar a incidência da Condecine. Segundo a decisão liminar: “somente deve suportar o tributo quem for
integrante do setor que demanda uma atuação efetiva no segmento sujeito à intervenção”. Fonte: www.
converge.com.br/teletime, acessado em 03.02.2016. Destaque-se que a Condecine foi instituída como
medida de fomento à produção audiovisual brasileira, na forma da Lei 12.485/2011.

26
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

cláusulas uniformes perante a Administração Pública. E, para além do


campo eleitoral, no campo político, existem as hipóteses de restrições, na
Constituição e na legislação, à propriedade de emissoras de televisão e rádio
por radiodifusão por deputados e senadores.

Enfim, o presente Ebook Direito das Comunicações trata de relevantes


temas que repercutem sobre a vida de milhões de pessoas consumidores
e usuárias de serviços ligados à internet, telecomunicações e televisão, e
centenas de empresas. Daí o incentivo à leitura e ao estudo, principalmente,
aos profissionais do Direito.

27
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES

28
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

I. SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES

1. SERVIÇO MÓVEL PESSOAL


O serviço de telefonia móvel é, tecnicamente, classificado como serviço
móvel pessoal (SMP). A denominação técnica “móvel pessoal” designa o
serviço de voz (telefonia celular) e o serviço de conexão à internet (dados),
por banda larga móvel. É classificado como serviço de telecomunicação de
interesse coletivo.22 Trata-se de modalidade de comunicação entre estações
de radiocomunicação.

1.1 LEI GERAL DE TELECOMUNICAÇÕES


A Lei Geral de Telecomunicações – LGT - Lei n. 9.472/97 – trata da organização
dos serviços de telecomunicações bem como a criação e funcionamento do
órgão regulador: a Anatel, fundamentada a partir da Constituição Federal
de 1988.23 Ao serviço móvel pessoal (SMP) é aplicável a LGT. Neste aspecto,
tal lei regulamenta o regime de direitos e obrigações das prestadoras dos
serviços de telefonia móvel pessoal, define os deveres do Poder Público (art.
2º), bem como direitos e deveres dos usuários (arts. 3º e 4º).24 Também,

22 Aplicam-se aos serviços de telefonia móvel pessoal (SMP) a Lei n.º 9.472/97 e Resolução n. 477/2007,
da Anatel.
23 Cf. Constituição, Art. 21, inc. XI.
24 A título explicativo, os usuários de serviços de telecomunicações têm direito: (i) de acesso aos serviços
de telecomunicações, com padrões de qualidade e regularidade adequados à sua natureza, em qualquer
ponto do território nacional; (ii) de não ser discriminado quanto às condições de acesso e fruição do
serviço; (iii) à inviolabilidade e ao segredo de sua comunicação, salvo nas hipóteses e condições consti-
tucional e legalmente previstas; (iv) à não suspensão de serviço prestado em regime público, salvo por
débito diretamente decorrente de sua utilização ou por descumprimento de condições contratuais; (v) à
reparação dos danos causados pela violação de seus direitos, etc. Sobre o tema, ver SCORSIM, Ericson

29
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

a Lei Geral de Telecomunicações estabelece as condições de prestação dos


serviços de telecomunicações no regime público (concessão) e no regime
privado (autorização). Estabelece as competências de outorga, regulação e
fiscalização dos serviços de telecomunicações pela Anatel.

1.2 REGIME DE OUTORGA POR AUTORIZAÇÃO DA ANATEL


O serviço móvel pessoal submete-se ao regime de autorização administrativa,
outorgada pela Anatel, após o necessário procedimento licitatório, este
definido nos termos da Lei Geral de Telecomunicações, não se aplicando à
Lei de Licitações, nem a Lei de Concessões de Serviços Públicos.25

Aqui, destaque-se que a autorização é ato administrativo vinculado


que assegura o direito à prestação do serviço de telecomunicações, na
modalidade serviço móvel pessoal, uma vez preenchidas pelas empresas
as condições objetivas e subjetivas necessárias.26 Mas, a prestadora do
serviço de telecomunicações no regime privado não tem direito adquirido
à permanência das condições vigentes quando da expedição da autorização
ou início das atividades, devendo observar os novos condicionamentos
impostos pela lei e pela regulamentação.27 Os condicionamentos à atividade
econômica no regime privado impostos pela Agência devem observar que a
liberdade é a regra, sendo excepcionais as proibições, interferências do Poder
Público, e nenhuma autorização será negada, salvo por motivo relevante. Os

Meister, artigo Direito dos consumidores nos serviços de telefonia fixa, móvel pessoal, conexão à inter-
net e TV por assinatura: aproximação entre o Direito do Consumidor e o Direitos das Comunicações,
publicado na Coletânea Repensando o Direito do Consumidor III. Coleção Comissões OAB/PR. Vol.
XIX. 2015. E-book disponível para download em http://www.oabpr.com.br/Noticias.aspx?id=22349
25 Cf. art. 210, da Lei Geral de Telecomunicações.
26 Cf. art. 131, da Lei n. 9.472/1997.
27 Cf. art. 130 da LGT. Diferentemente, no regime de concessão há a garantia do equilíbrio econômico-fi-
nanceiro do contrato entre as partes.

30
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

condicionamentos devem ter vínculos de necessidade como de adequação à


finalidade pública.28

O objeto, área e prazo de autorização dos serviços de telefonia móvel,


bem como condições de prorrogação e demais informações são descritas
nos termos de autorização firmados.29 A princípio, no regime privado
não há obrigações de universalização e continuidade, mas é possível o
estabelecimento pela Anatel nos editais de licitação de compromissos de
abrangência na prestação do serviço móvel pessoal, especialmente nas
autorizações para uso de radiofrequências.30

Nos termos da Lei Geral de Telecomunicações, a autorização do serviço de


telecomunicações não tem sua vigência sujeita a termo final, sendo que a
extinção somente por cassação31, caducidade32, decaimento33, renúncia34 ou
anulação.35

28 Cf. art. 18, incs. I, II, III, IV e V.


29 Cf. art. 93, da Lei n. 9.472/1997.
30 Ver: Quinalia, Cristiana Leão. Regimes público e privado no setor de telecomunicações: análise de uma
diferença e de uma semelhança. Revista de Direito, Estado, e Telecomunicações. Brasília, v. 7, n. 1. p.
73-116, maio 2015.
31 De acordo com o art. 139, da Lei n. 9.472/1997, a cassação ocorre “quando houver perda das condições
indispensáveis à expedição ou manutenção da autorização”.
32 Conforme o art. 140, da Lei n. 9.472/1997, a caducidade ocorre “em caso de prática de infrações graves,
de transferência irregular da autorização ou de descumprimento reiterado de compromissos assumi-
dos.”
33 Segundo o art. 141, da Lei n. 9.472/1997, “o decaimento será decretado pela Agência, por ato adminis-
trativo, se, em face de razões de excepcional relevância pública, as normas vierem a vedar o tipo de ati-
vidade objeto da autorização ou a suprimir a exploração no regime privado.”
34 De acordo com o art. 142, da Lei n. 9.472/1997, “a renúncia é o ato formal unilateral, irrevogável e irre-
tratável, pelo qual a prestadora manifesta seu desinteresse pela autorização.”
35 Conforme o art. 143, da Lei n. 9.472/1997, “a anulação da autorização será decretada, judicial ou admi-
nistrativamente, em caso de irregularidade insanável do ato que a expediu.”

31
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

1.3 DIREITO DE USO DAS RADIOFREQUÊNCIAS DO ESPECTRO


A execução do serviço móvel pessoal necessita do uso das frequências do
espectro eletromagnético. As frequências representam bem público, sob a
administração da Anatel, cujo direito de uso está condicionado à observância
dos requisitos legais.36 Daí a garantia da lei de acesso pelas empresas às
frequências, para a prestação do serviço móvel pessoal. O direito de uso
das frequências é outorgado mediante licitação, e pagamento de preço
à agência reguladora. A Lei Geral de Telecomunicações trata em artigo
específico da autorização do uso de radiofrequência, mediante a autorização
administrativa, sob a análise da Anatel.37

No Edital de Licitação n. 02/2014 da Anatel, que trata do leilão das


radiofrequências na faixa de 700 Mhz (4G), foi leiloado o direito ao uso
(autorização) de frequências, em caráter primário, na faixa dos 700 Mhz
(faixa de frequência utilizada tradicionalmente pelas empresas de TV por
radiodifusão), pelo prazo de 15 anos, prorrogável uma única vez a título
oneroso, por igual período. As prestadoras do serviço móvel pessoal
assumiram a obrigação de ressarcir os custos decorrentes da redistribuição
de canais de TV, RTV, Serviço Especial de Televisão por Assinatura – TVA
– e das soluções para os problemas de interferência prejudicial nos sistemas
de radiocomunicação, nos termos do artigo 16 da Resolução nº 625/2013
da Anatel.38 Ou seja, a adoção da tecnologia 4G no serviço móvel pessoal
(acesso à telefonia móvel e à internet móvel), em benefício dos consumidores,

36 Cf. Art. 157 da Lei n. 9.472/1997.


37 Cf. Art. 163 da LGT.
38 Destaque-se que a Resolução n. 640/2014 aprova o Regulamento sobre condições de convivência entre
os serviços de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão do SBTVD e os serviços de
radiocomunicação que operam na fixa de 698 Mhz a 806 Mhz.

32
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

ocasionou a realocação da faixa de frequência39 com o dever das prestadoras


do serviço móvel pessoal em indenizar às empresas de TV por radiodifusão,
em relação à liberação da faixa de frequências dos 700 Mhz.40

1.4 LEI DA INFRAESTRUTURA DE REDES DE TELECOMUNICA-


ÇÕES: LICENCIAMENTO, INSTALAÇÃO E COMPARTILHAMEN-
TO OBRIGATÓRIO DA CAPACIDADE EXCEDENTE DE REDE
O adequado funcionamento dos serviços de telecomunicações depende de
expressivos investimentos em infraestrutura de redes. As infraestruturas das
redes de telecomunicações, compostas por estações de radiocomunicação,
antenas, postes, torres, armários, estruturas de superfície e estruturas
suspensas, são indispensáveis à prestação dos serviços de telefonia móvel e
acesso à internet.

A Lei Federal n.º 13.116/2015, conhecida como Lei Geral das


Antenas, estabelece Normas Gerais para Licenciamento, Instalação e
Compartilhamento de Redes de Telecomunicações. Um dos objetivos dessa
Lei é promover e facilitar investimentos em infraestruturas de redes de
telecomunicações, através da uniformização, simplificação e aceleramento
dos procedimentos e critérios para a outorga de licenças perante os órgãos
competentes. Tal lei estabelece procedimento simplificado para a instalação
de infraestrutura de suporte em área urbana, fixando prazo máximo de 60

39 No âmbito da agência reguladora, estuda-se a adoção de medidas para o compartilhamento das frequên-
cias entre as empresas prestadoras dos serviços de comunicação pessoal.
40 O adiamento do cronograma de desligamento do sinal de transmissão analógica dos serviços de radio-
difusão de sons e imagens e retransmissão da TV aberta (switch off) pode gerar prejuízos as operadoras
de telecomunicações, pois interfere na disponibilização de serviços de 4G na faixa de 700 MHz. A título
ilustrativo, o desligamento do sinal analógico no Município de Rio Verde, Estado de Goiás, escolhido
para ser o primeiro a ter o sinal de transmissão analógica encerrada, estava prevista para ocorrer em dia
29 de novembro de 2015. Com o adiamento, deverá ser realizado apenas em 15 de fevereiro de 2016.

33
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

(sessenta) dias para o licenciamento das estações de radiocomunicação


pelos municípios (art. 7º caput e §1º).41 Segundo a referida lei, é obrigatório
o compartilhamento da capacidade excedente da infraestrutura de suporte,
excetuada a hipótese de justificado motivo técnico.42 E, ainda, a lei dispõe
que a instalação das estações transmissoras de radiocomunicação deve
ocorrer com o mínimo de impacto paisagístico, com vistas à harmonização
estética da edificação e dos equipamentos à paisagem urbana.43 Destaque-
se a regulamentação específica por Resolução Conjunta das Agências
Reguladoras do Setor de Telecomunicações, Petróleo e Energia Elétrica, a
respeito do compartilhamento de postes e dutos.44

1.5 REGULAMENTO DO SERVIÇO MÓVEL PESSOAL: RESO-


LUÇÃO N. 477/2007, DA ANATEL
O Regulamento do Serviço Móvel Pessoal contém regras sobre as definições
relevantes sobre os direitos e deveres dos usuários e das prestadoras de
serviços, regras de prestação dos serviços, dos preços cobrados dos usuários,
dos prazos de permanência, dos planos pós-pagos e pré-pagos, da contestação
dos débitos, das redes de telecomunicações, do sigilo das comunicações,
da instalação e do licenciamento das estações de telecomunicações, código
de acesso da estação móvel do usuário etc. Este é o Regulamento básico
do serviço, mas nos aspectos de direitos e deveres deve ser interpretado
conforme o Regulamento Geral dos Direitos dos Consumidores nos Serviços
de Telecomunicações, aprovado na forma da Resolução 632/2014 da Anatel,

41 Sobre a análise da Lei do Licenciamento, Implantação e Compartilhamento de Redes de Telecomu-


nicações, ver SCORSIM, Ericson Meister, Lei Federal das Normas Gerais para Licenciamento e Com-
partilhamento de Infraestrutura de Rede de Telecomunicações, publicado na Revista do Instituto dos
Advogados de São Paulo. Ano 18 • ed. 35 • Janeiro - Junho 2015.
42 Cf. Art. 14 da Lei 13.116/2015.
43 Cf. Art. 17 da Lei 13.116/2015.
44 Resolução Conjunta n. 2, de 27 de março de 2001 (Aneel, Anatel e ANP), que Aprova o Regulamento
Conjunto de Resolução de Conflitos das Agências Reguladores dos Setores de Energia Elétrica, Teleco-
municações e Petróleo.
34
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

nas regras sobre atendimento, cobrança, contratação, formas de pagamento,


suspensão dos serviços e rescisão contratual, etc.45

1.6 AÇÕES JUDICIAIS SOBRE A SUSPENSÃO DA INTERNET


MÓVEL PRÉ-PAGA E REDUÇÃO DA VELOCIDADE DE ACESSO,
APÓS O CONSUMO DA FRANQUIA DE DADOS 46

Em 7 de março de 2014, a Anatel editou o Regulamento Geral de Direitos


do Consumidor de Serviços de Telecomunicações, na forma da Resolução
632/2014. Esse Regulamento estabelece, no artigo 52, que as prestadoras de
serviços de telecomunicações e internet devem comunicar aos consumidores,
com antecedência mínima de 30 dias, de preferência por mensagem de texto

45
Sobre o tema, ver SCORSIM, Ericson Meister, artigo Direito dos consumidores nos serviços de telefonia
fixa, móvel pessoal, conexão à internet e TV por assinatura: aproximação entre o Direito do Consumidor
e o Direitos das Comunicações, publicado na Coletânea Repensando o Direito do Consumidor III. Cole-
ção Comissões OAB/PR. Vol. XIX. 2015. E-book disponível para download em http://www.oabpr.com.
br/Noticias.aspx?id=22349
46 Em ações judiciais, os representantes dos consumidores (Procons, Defensorias Públicas e Ministério
Público) alegam violação do Código de Defesa do Consumidor, especialmente em relação às cláusulas
abusivas dos contratos que autorizam o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qua-
lidade do contrato após a sua formalização. Eles também fundamentam os pedidos nas ações judiciais
com base nas regras do CDC que tratam da publicidade enganosa e abusiva e a vinculação à oferta publi-
citária. Daí a alegação quanto à ilegalidade da oferta publicitária de franquia ilimitada de dados.
Por sua vez, as empresas prestadoras de serviços de acesso à internet alegam a legalidade do bloqueio
dos serviços, após o consumo da franquia, com fundamento na resolução da Anatel citada. Argumentam
que a oferta da navegação na internet móvel, além da franquia, se tratava de uma promoção e/ou corte-
sia, daí a possibilidade de sua extinção por se tratar de liberalidade. Em razão deste entendimento, para
a continuidade do acesso à internet é necessária a recontratação do plano de dados ou contratação de
plano adicional avulso.
O Superior Tribunal de Justiça realizou audiência pública, em 9/11/2015, sobre a competência para
o julgamento das ações coletivas que tratam da continuidade do serviço de acesso à internet na mo-
dalidade pré-pago, após o término da franquia de dados. Trata-se de incidente processual no Conflito
de Competência ns. 141.322/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, proposto pela Oi Móvel S.A, e o Conflito de
Competência n. 142.731/RJ, proposto pela Telefônica Brasil S.A. Em 25 de novembro de 2015, os Mi-
nistros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiram em conhecer do
conflito para declarar competente o Juízo de Direito da 5ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro/RJ para
processar e julgar todas as causas que envolvam o direito das operadoras de reduzirem a velocidade de
navegação na internet móvel após o esgotamento da franquia de dados nos sistemas pré e pós-pago, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator Moura Ribeiro.
Ver: SCORSIM, Ericson Meister. O Corte do acesso à internet pelo celular é legal? Comentário publicado
na versão digital do jornal gazeta do povo, edição de 30.10.2015, disponível em http://www.gazetadopovo.
com.br/opiniao/artigos/ocorte-do-acesso-a-internet-pelo-celular-e-legal-er97bw8gez4y237immkx40b05.

35
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

ou eletrônica, a alteração ou extinção de planos de serviços, ofertas conjuntas


e promoções.47

O  mesmo regulamento trata da redução da velocidade contratada como


hipótese que autoriza a suspensão parcial do serviço de conexão de dados48
no serviço móvel pessoal por falta de pagamento ou inserção de crédito. O
regulamento destaca o direito do consumidor à não suspensão do serviço sem
sua solicitação, mas ressalva a hipótese da suspensão parcial do serviço por
falta de inserção de crédito. Quando da contratação dos planos de serviços,
segundo orientação da própria Anatel, é dever da prestadora do serviço de
acesso à internet móvel informar o consumidor sobre a franquia de dados, o
preço após o consumo da franquia e a hipótese de bloqueio após o consumo
da franquia.

Nas ações judiciais os representantes dos consumidores alegam violação do


Código de Defesa do Consumidor, especialmente em relação às cláusulas
abusivas dos contratos que autorizam o fornecedor a modificar unilateral-
mente o conteúdo ou a qualidade do contato após a sua formalização. Eles
também fundamentam os pedidos nas ações judiciais com base nas regras
do CDC que tratam da publicidade enganosa e abusiva e a vinculação à
oferta publicitária. Daí o debate quanto à ilegalidade da oferta publicitária
de franquia ilimitada de dados.49

47 Ver: SCORSIM, Ericson Meister. O Corte do acesso à internet pelo celular é legal? Comentário publicado
na versão digital do jornal gazeta do povo, edição de 30.10.2015, disponível em http://www.gazetadopovo.
com.br/opiniao/artigos/ocorte-do-acesso-a-internet-pelo-celular-e-legal-er97bw8gez4y237immkx40b05
48 Sobre o tema, ver SCORSIM. Ericson Meister. O corte do acesso à internet pelo celular é legal? Publicado
na versão digital no jornal Gazeta do Povo em 30.10.2015. (http:// www.gazetadopovo.com.br/opiniao/
artigos/ocorte-do-acesso-a-internet-pelocelular-e-legal-er97bw8gez4y237immkx40b05)
49 A título ilustrativo, os autos de Ação Civil Pública n. 1016930-92.2015.8.26.0053, em trâmite na 3ª
Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de São Paulo. Figuram no polo passivo as opera-
doras OI Móvel S/A, Telefônica Brasil S.A, Claro S/A e Tim Celular S/A. Também, autos n. 1006465-
83.2015.8.26.0001, em trâmite na 1ª vara Cível de SP – Foro Regional de Santana. Figura no polo pas-
sivo a operadora Tim Celular S/A.

36
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Por sua vez, as empresas prestadoras de serviços de acesso à internet


defendem a legalidade do bloqueio dos serviços, após o consumo da franquia,
com fundamento na resolução da Anatel citada. Argumentam que a oferta da
navegação na internet móvel, além da franquia, se tratava de uma promoção
e/ou cortesia, daí a possibilidade de sua extinção por se tratar de uma
liberalidade. Em razão deste entendimento, para a continuidade do acesso
à internet é necessária a recontratação do plano de dados ou contratação de
plano adicional avulso.

Aqui há duas situações diferentes que merecem atenção. Os contratos


antigos de planos de acesso à internet móvel pré-pagos, antes da vigência da
referida resolução da Anatel, devem, a princípio, ser cumpridos. Nesse caso,
é aplicável o Código de Defesa de Consumidor, especialmente das regras
que vedam a alteração unilateral de contratos e proíbem a oferta publicitária
enganosa. Se as empresas descumprirem estes contratos antigos de acesso
à internet móvel, com a recusa à continuidade dos serviços, então são
responsáveis pelos danos à coletividade de consumidores. A segunda situação
é a dos contratos formalizados após a vigência da Resolução 632/2014. A
esses novos contratos é aplicável a suspensão parcial dos serviços, após o
consumo do pacote de dados, conforme previsão da resolução da Anatel.
Esta conclusão decorre da aplicação da Resolução 632/2014 da Anatel, o
qual incide nas relações entre os consumidores e as prestadoras dos serviço
móvel pessoal.

2. SERVIÇO DE TELEFONIA FIXA


O serviço de telecomunicações, na modalidade telefonia fixa comutada
(STFC), oferece para os respectivos usuários a transmissão de voz e outros
sinais entre pontos fixos determinados. Destina-se ao uso do público
em geral. Tecnicamente, utiliza processos de telefonia, por meios de

37
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletro-


magnético.50

2.1 LEI GERAL DE TELECOMUNICAÇÕES


É aplicável aos serviços de telefonia fixa a Lei Geral de Telecomunicações51.
Segundo esta Lei, as prestadoras do serviço de telefonia fixa podem estar
vinculadas ao regime público (concessão) e outras ao regime privado
(autorização), dependendo das obrigações a que estejam submetidas.52

2.2 REGIME DE OUTORGA POR CONCESSÃO


O regime público de concessão de telefonia fixa está submetido às obrigações
de universalização e continuidade.53 Os bens públicos utilizados na

50 Cf. art. 60, §1º, da Lei n. 9.472/97.


51 À época da promulgação da Lei Geral de Telecomunicações (1997) o principal serviço de telecomuni-
cações era a telefonia fixa (STFC). Atualmente, assume grande relevância no segmento os serviços de
acesso à banda larga. Diante da nova realidade, o Ministério das Comunicações lançou consulta pública
visando receber sugestões para possível alteração do marco legal de telecomunicações, principalmente
em questões relacionadas ao regime de prestação de serviços (público e privado), os contratos de con-
cessão e a política de universalização no setor. O prazo para participação na consulta foi estabelecido
no período de 23/11/2015 a 23/12/2015. Posteriormente, o Ministério das Comunicações prorrogou o
prazo até 15 de janeiro de 2016.
52 O serviço de telecomunicações em regime público é prestado mediante concessão ou permissão e tem
obrigações de universalização e continuidade. O serviço de telecomunicações em regime privado é pres-
tado mediante autorização e não tem, a princípio, as obrigações de universalização e continuidade.
Exemplos: OI: regime público da concessão. GVT: regime privado da autorização.
53 Segundo a lei, obrigações de universalização são as que objetivam possibilitar o acesso de qualquer pes-
soa ou instituição de interesse público a serviço de telecomunicações, independentemente de sua locali-
zação e condição socioeconômica, bem como destinadas a permitir a utilização das telecomunicações em
serviços essenciais de interesse público (art. 79, 1, LGT). Por sua vez, obrigações de continuidade são as
que objetivam possibilitar aos usuários dos serviços sua fruição de forma ininterrupta, sem paralisações
injustificadas, devendo os serviços estar à disposição dos usuários, em condições adequadas de uso (art.
79, 2, LGT).
Sobre o tema das concessões no setor de telecomunicações, consultar: MARQUES NETO, Floriano de
Azevedo. Concessões. Editora Fórum. 2015.

38
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

concessão do serviço de telefonia fixa são, a princípio, objeto de reversão ao


poder público ao final da concessão. O contrato de concessão de telefonia
fixa estabelece a área, prazo de concessão, condições de prorrogação, as
obrigações entre a União e a concessionária, bem como a tarifa aplicável
aos serviços, as cláusulas do equilíbrio econômico-financeiro do contrato,
dentre outras avenças.54 O prazo máximo da concessão é de 20 (vinte)
anos, podendo ser prorrogado, uma única vez, por igual período, desde que
cumpridos os requisitos legais.55

54 Cf. art. 93, da Lei n. 9.472/1997. Sobre a legalidade da inclusão entre as metas de universalização do
serviço de telefonia fixa, a expansão da capacidade de rede (backhaul internet), nas concessões, ver
SUNDFELD, Carlos Ari. É possível incluir na concessão de telefonia metas de universalização úteis a
outros serviços de telecomunicações? Pareceres, vol. I, Direito Administrativo Econômico. São Paulo:
Thomson Reuters, Revista dos Tribunais, 319-336.
55 Cf. art. 99, da Lei n. 9.472/1997. Em debate entre os agentes econômicos, o termo final do prazo das
concessões de telefonia fixa no ano de 2025 e as opções pelo fim do atual modelo de concessão de tele-
fonia fixa ou a sua prorrogação com as adaptações necessárias às novas exigências do interesse público,
ou, a realização de novas licitações para outorgar os serviços de telefonia fixa. Também, debate-se o
afastamento da cobrança de multas concessionárias de telefonia fixa por investimentos na melhoria da
infraestrutura de rede, bem como na prestação de serviços para os usuários. Em debate entre os agentes
econômicos, a eliminação da aplicação do regime de concessão ao serviço de telefonia fixa, com a sua
substituição pelo regime de autorização administrativa. E, também, o afastamento das obrigações de
instalação e manutenção de terminais públicos (“orelhões”), e a substituição por investimentos na rede
de banda larga fixa. Igualmente, diante do cenário de competição das empresas de telecomunicações e
as empresas de tecnologia, as receitas do serviço de voz das concessionárias de telefonia fixa estão em
declínio, e, a utilização da infraestrutura de rede fixa para a distribuição de conteúdos audiovisuais, daí
a discussão para revisão do modelo de concessão de telefonia fixa, bem como da revisão da Lei Geral de
Telecomunicações para fins de adaptação ao novo ambiente imposto pela Internet. A título ilustrativo,
o projeto de lei n. 3453/2015, da Câmara dos Deputados, possibilita à Anatel a substituição do regime
de concessão pelo de autorização. A substituição de regime está condicionada a investimentos na
implantacão da infraestrutura de rede de alta capacidade de comunicação de dados. Cabe ao poder
público determinar o valor econômico da mudança do regime, para finalizar a concessão em mercados
mais competitivos, porém mantê-la em regiões de menor interesse econômico.
Segundo Floriano de Azevedo Marques Neto: “Ocorre que a prestação dos serviços concedidos não cap-
tura o valor agregado pela indústria de conteúdo audiovisual na rede, uma vez que o modelo de remune-
ração dos serviços de telecomunicações se baseia em disponibilidade ou prestação do serviço de trans-
missão de sinais, sem valorar ou qualificar o conteúdo que transmitido. Daí que há um grande desafio
regulatório hoje no setor, consistente em equilibrar a pressão por investimentos das concessionárias
sem que elas estejam incrementando suas receitas na mesma proporção”, Concessões, obra citada aci-
ma, p. 247.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Conforme a Lei Geral de Telecomunicações é possível que, mediante


Decreto56, ocorra a definição do regime aplicável ao serviço de telefonia
fixa, se público ou privado.57 Compete à Anatel, mediante atos normativos
específicos (regulamentos/resoluções), o detalhamento das regras aplicáveis
ao regime público e ao regime privado58.

2.3 REGIME DE AUTORIZAÇÃO NO SERVIÇO DE TELEFONIA


FIXA
É possível a aplicação do regime de autorização ao serviço de telefonia fixa.
Compete ao Poder Executivo, mediante decreto, instituir ou eliminar a
prestação de modalidade de serviço de telecomunicação no regime público,
concomitantemente ou não com a sua prestação no regime privado.59 No
regime privado não há as obrigações de universalização e continuidade,
típicas do regime da concessão de serviço público. Porém, excepcionalmente,
por razões de interesse coletivo, poderá a Anatel condicionar a expedição
da autorização à aceitação pela empresa interessada de compromissos de

56 A título ilustrativo, o Decreto n. 6.654/2008, que trata do Plano Geral de Outorgas do Serviços de Tele-
comunicações, dispõe que o serviço telefônico fixo comutado é o prestado nos regimes público e priva-
do.
57 Segundo Dinorá Museti Groti: “Quanto ao regime jurídico de sua prestação, a Lei Geral de Telecomu-
nicações contemplou os regimes público e privado (art. 63 da L.G.T.), submetidos a níveis de regulação
distintos. Não se trata de reservar algumas atividades ao Estado. A lei prevê claramente que o serviço
coletivo pode ser prestado exclusivamente no regime público, exclusivamente no regime privado ou con-
comitantemente nos regimes públicos e privado (art. 65), cabendo ao Presidente da República definir
as modalidades de serviço que serão exploradas no regime público, concomitantemente ou não com sua
prestação no regime privado (art. 18, I e 11 da L.G. T.), definindo de antemão que o serviço de telefonia
fixa comutada (L.G.T., art. 64, parágrafo único) seria, desde logo, explorado por alguma prestadora em
regime público, o que daria uma certa maleabilidade ao modelo.” Artigo REGIME JURÍDICO DAS TE-
LECOMUNICAÇÕES: autorização, permissão e concessão. Disponível em file:///C:/Users/Adv03/Downlo-
ads/47764-93876-1-PB.pdf
58 Vide nota n. 30.
59 Cf. Art. 18, caput e inc. I, da Lei n. 9.472/1997.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

interesse da coletividade.60 Este princípio deve observar os princípios da


razoabilidade, proporcionalidade e igualdade.61

2.4 REGULAMENTO DA TELEFONIA FIXA: RESOLUÇÃO Nº


426/2005, DA ANATEL
O Regulamento do serviço de telefonia fixa contém diversas definições
relevantes sobre portabilidade, tarifas, compartilhamento obrigatório
da infraestrutura entre as prestadoras, direitos e deveres dos usuários e
prestadoras, do sigilo das comunicações, da interrupção do serviço, do
atendimento aos usuários, da oferta e comercialização dos serviços, dos
planos de serviços, das formas de pagamento, das receitas alternativas na
prestação dos serviços, das instalações da rede interna de telecomunicação
no domicílio dos assinantes, do contrato de prestação de serviços, da
cobrança dos serviços, da suspensão dos serviços por falta de pagamento, etc.
Este Regulamento básico do serviço de telefonia fixa deve ser interpretado
juntamente com o Regulamento dos Direitos dos Consumidores nos Serviços
de Telecomunicações, aprovado pela Resolução n. 632/2014, especialmente
nas questões sobre as regras de atendimento, contratação, cobrança etc.62

60 Cf. Art. 135, da Lei n. 9.472/1997.


61 Cf. parágrafo único do art. 135 da Lei n. 9.472/1997.
62 Sobre o tema, ver SCORSIM, Ericson Meister, artigo Direito dos consumidores nos serviços de telefonia
fixa, móvel pessoal, conexão à internet e TV por assinatura: aproximação entre o Direito do Consumidor
e o Direitos das Comunicações, publicado na Coletânea Repensando o Direito do Consumidor III. Cole-
ção Comissões OAB/PR. Vol. XIX. 2015. E-book disponível para download em http://www.oabpr.com.
br/Noticias.aspx?id=22349

41
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

3. AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES: ANATEL

3.1 NATUREZA JURÍDICA DA AGÊNCIA REGULADORA DAS


TELECOMUNICAÇÕES
A Constituição atribui a competência legislativa privativa à União para
organizar os serviços de telecomunicações, inclusive para criar um órgão
regulador.63 Daí a partir deste fundamento constitucional é que foi editada a
Lei Geral de Telecomunicações e criada a Anatel.

A Agência Nacional de Telecomunicações é autarquia federal de natureza


especial, caracterizada por sua independência administrativa, ausência de
subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes e
autonomia financeira.64

Os Conselheiros da Anatel detêm mandato com prazo certo, nomeados


pelo Presidente da República. A nomeação dos dirigentes com prazo certo e
mediante procedimento especial, ato de conjugação da vontade do Presidente
da República e a aprovação do Senado Federal, com a vedação da exoneração
ad nutum, é característica central do modelo de estruturação das agências
reguladoras. O objetivo é garantir o gestor público da autarquia contra
ingerências políticas e manter a continuidade das políticas públicas. A Anatel
e os membros do Conselho Diretor, bem como os demais agentes públicos,
são responsáveis pelo cumprimento da legislação aplicável aos serviços de
telecomunicações.65

63 Cf. Constituição, art. 21, inc. XI.


64 Sobre o tema, consultar: JUSTEN FILHO, Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São
Paulo: Ed. Dialética, 1ª ed. 2002, p. 462.
65 SCORSIM, Ericson Meister. Regime de responsabilidade administrativa do Presidente do Conselho Dire-
tor da Anatel: exame das conclusões da CPI da Assembleia Legislativa do Paraná sobre falhas na fiscaliza-
ção dos serviços de comunicação móvel. Revista de Direito Administrativo Contemporâneo, v. 2, p. 63-82,
2014.

42
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Destaque-se que a elaboração das políticas públicas de telecomunicação


fica sob o encargo dos Poderes Executivo e Legislativo, enquanto que a
implementação destas políticas públicas, bem como a fiscalização dos
serviços ficam sob a responsabilidade da Anatel.66

3.2 COMPETÊNCIAS DE OUTORGA, EDIÇÃO DE NORMAS E


FISCALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES
A Lei Geral de Telecomunicações atribui à ANATEL as seguintes
com-petências: i) a outorga dos serviços de telecomunicações67; ii) a
competência normativa para editar atos regulatórios para os serviços
de telecomunicações68, especialmente as modalidades de serviços69; iii)
fiscalizar o cumprimento das obrigações pelas prestadoras de serviços de
telecomunicações; e iv) solucionar conflitos entre usuários e consumidores
e entre empresas que atuam no mercado.70

66 Cf. Arts. 18 e 19 da LGT.


67 Destaque-se que no caso dos serviços de televisão e rádio por radiodifusão, a outorga é da competência
do Poder Executivo, juntamente com o Congresso Nacional, conforme análise à frente.
68 Registre-se que o STF na Adi 1.668-5, ao apreciar a constitucionalidade do art. 19, incs. IV e X, da LGT,
que atribui a competência normativa à Anatel, ressaltou a necessidade de interpretação conforme à
Constituição dos referidos artigos legais. Assim, a competência da Anatel para expedir normas subordi-
na-se aos preceitos legais e regulamentares que disciplinam a outorga, prestação e fruição dos serviços
de telecomunicações no regime público e no regime privado.
69 Cf. Art. 69 da LGT.
70 Sobre o tema, ver SCORSIM, Ericson Meister, artigo Direito dos consumidores nos serviços de telefonia
fixa, móvel pessoal, conexão à internet e TV por assinatura: aproximação entre o Direito do Consumidor
e o Direitos das Comunicações, publicado na Coletânea Repensando o Direito do Consumidor III. Cole-
ção Comissões OAB/PR. Vol. XIX. 2015. E-book disponível para download em http://www.oabpr.com.
br/Noticias.aspx?id=22349
Os usuários dos serviços de telecomunicações podem ingressar com pedidos de informação, reclamação
e denúncia perante a Anatel. A reclamação é utilizada para os casos em que o consumidor considera
que a operadora de telecomunicações não está respeitando seus direitos. Na denúncia, o consumidor
informa à Anatel sobre a violação de regras ou leis pelas empresas do setor. Já o pedido de informação é
utilizado para esclarecer ao consumidor sobre seus direitos e as obrigações das empresas de telecomu-
nicações. A título de exemplo: Autos de Reclamação n. 53532.003744/2015-29, visando a resolução de
conflitos entre prestadoras e usuário de serviços de TV a cabo.

43
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Na hipótese de omissão da agência reguladora no cumprimento de suas


funções legais, cabe o ajuizamento das medidas judiciais adequadas para a
proteção dos interesses do consumidor na adequada prestação dos serviços
de telecomunicações.71 Também, na hipótese de abusos no exercício da
competência normativa pela Anatel, a Constituição assegura o direito à
tutela jurisdicional efetiva (art. 5, inc. XXXV), para a proteção dos interesses
lesados.72

Disponível para consulta em http://sistemas.anatel.gov.br/sicap/web/displayWeb.asp?id=5220823


Também, autos n. 53532.003717/2015-56, conflito de interesse entre prestadores/operadores e/ou en-
tre estes. Disponível para consulta em http://sistemas.anatel.gov.br/sicap/web/displayWeb.asp?id=5219974
71 Nos autos de Ação Civil Pública n. 0003367 52.2015.4.01.4200, em trâmite na 4ª Vara Federal da Seção
Judiciária do Estado de Roraima, o MPF/RR requer que a operadora Telemar Norte Leste S/A preste,
de maneira adequada, eficiente e regular, em padrões mínimos de qualidade, os serviços de conexão à
internet no Estado de Roraima. Em sede de liminar, solicita a redução dos valores cobrados em 70% do
contratado, independentemente do tipo de plano de serviços contratado, até que seja ofertado o serviço
de internet banda larga em padrões mínimos de qualidade estabelecidos pela ANATEL na Resolução
n. 574/2011. Também, requer que a Anatel seja ordenada a exercer com plenitude seu poder de polícia
dentro do Estado, intensificando os trabalhos de fiscalização. A liminar foi parcialmente deferida, para
determinar que a empresa Telemar Norte Leste SA apresentasse, no prazo de 30 trinta dias, plano de
melhorias com vistas a atender os padrões mínimos com medidas concretas e efetivas para alcançar as
metas estabelecidas pela ANATEL. Também foi determinado, em liminar, que a ANATEL instaurasse
procedimento administrativo visando à apuração da responsabilidade da operadora, a fim de, se fosse o
caso, aplicar-lhe as penalidades previstas em lei. A análise do pedido de redução dos valores foi poster-
gada e somente será realizada após a entrega do plano de melhoria. Até a finalização do presente artigo,
o pedido de liminar de redução do preço cobrado pelo serviço de conexão à internet não havia sido ana-
lisado pelo Judiciário.
72 Sobre o conflito entre a lei municipal que trata dos requisitos para o licenciamento das estações de
radiocomunicação (antenas) e o ato regulatório da Anatel, que permitia o funcionamento das estações
de radiocomunicação, veja: STJ, REsp n. 883196-RS, Rel. Min. Luiz Fux. Trata-se de Recurso Especial
manejado pela empresa Brasil Telecom Celular S/A, proposta contra acórdão proferido pelo Tribunal
de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. O acordão que negou provimento ao agravo de instrumento
ao declarar constitucional lei municipal que dispõe sobre o licenciamento de Estações de Rádio-base e
equipamentos autorizados pela ANATEL, observadas as normas de saúde, ambientais e urbanísticas.
Assim, definiu que a concessionária do serviço de telecomunicação deve cumprir as normas de engenha-
ria, as leis municipais relativas à construção civil e as instalações de cabos e equipamentos em logradou-
ros públicos (art. 74 da Lei n.º 9.472/97).

44
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

3.3 REGULAMENTO DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES


NOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES, NA FORMA DA
RESOLUÇÃO N. 632/2014 DA ANATEL
A Anatel no exercício da competência normativa sobre os serviços de
telecomunicações editou o Regulamento dos Direitos dos Consumidores nos
serviços de telecomunicações.73 De fato, a Resolução n. 634/2014 da Anatel,
que aprova o Regulamento dos direitos dos consumidores nos serviços de
telecomunicações é aplicável aos serviços de telefonia fixa, móvel pessoal,
televisão por assinatura e acesso à internet. Tal Regulamento define regras
gerais sobre os serviços de telecomunicações, tais como espaço reservado na
internet para que o consumidor acesse cópia do contrato do plano de serviço
e informações de interesse pessoal (arts. 21 a 22 do RGC), a obrigação da
gravação das ligações entre consumidor e prestadora (art. 26 RGC), meca-
nismo de comparação dos planos de serviços e ofertas promocionais (art.
44 do RGC), relatório detalhado dos serviços (art. 62 do RGC), entre outras
regras relevantes.74 A interpretação do Regulamento Geral deve ser realizada

73 Sobre o tema, ver SCORSIM, Ericson Meister, artigo Direito dos consumidores nos serviços de telefonia
fixa, móvel pessoal, conexão à internet e TV por assinatura: aproximação entre o Direito do Consumidor
e o Direitos da Comunicações, publicado na Coletânea Repensando o Direito do Consumidor III. Cole-
ção Comissões OAB/PR. Vol. XIX. 2015. E-book disponível para download em http:www.oabpr.com.br/
Noticias.aspx?id=22349
74 A aplicabilidade das regras do Regulamento Geral dos Direitos dos Consumidores, aprovado pela Reso-
lução nº 632/2014 da Anatel, está sendo analisada pelo Poder Judiciário. Em ação judicial movida pela
Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TELCOMP), que
representa empresas como Algar Telecom, Claro, Embratel, GVT, Net, Nextel, Sky, TIM Celular, Oi Mó-
vel e Vivo, em face da Anatel (réu), foi obtida liminar para suspender o cumprimento de determinadas
regras do RGC: Retorno imediato (art. 28, parágrafo único); Promoções válidas a todos os consumidores
(art. 46); Reajuste combo (art. 55); Cobrança antecipada (art. 61, § 1º), Responsabilidade sobre a contes-
tação do consumidor (art. 84); Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD – art. 89). Entretanto, após a
interposição de Agravo de Instrumento, a liminar foi revogada, em sede de retratação, determinando-se
o cumprimento integral de todas as normas do RGC. Autos nº 00476109020144013400, em trâmite na
21ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal. Desde 26 de agosto de 2015 o processo encon-
tra-se concluso para decisão.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

com a consideração adequada dos Regulamentos especiais para cada serviço


de telecomunicações. Deve-se buscar a coerência de sentido entre as normas
do Regulamento Geral com aquelas outras dos regulamentos especiais
de cada serviço de telecomunicações e Código de Defesa do Consumidor.
Registre-se que esta Resolução n. 634/2014 modifica dispositivos dos
Regulamentos do serviço móvel pessoal e o serviço de telefonia fixa. Daí o
cuidado na interpretação destes referidos regulamentos.

4. INCONSTITUCIONALIDADES DE LEIS ESTADUAIS E DIS-


TRITAL QUE TRATEM DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES
A União tem competência para explorar, de modo direto, os serviços de
telecomunicações. Também, a União pode decidir por delegar a prestação
dos serviços de telecomunicações à iniciativa privada, mediante a outorga
por concessão, permissão ou autorização, conforme preceitua o art. 21, inc.
XI. No mesmo artigo da Constituição há previsão de criação de lei sobre
a organização dos serviços de telecomunicações, a criação de um órgão
regulador e respectivos aspectos institucionais.75 Além disto, o art. 175 da
Constituição garante ao poder público, na forma da lei, diretamente ou por
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.

Em outra perspectiva, há a competência legislativa concorrente da União,


Estados, Distrito Federal para legislar sobre produção e consumo (art. 24,
inc. V) e responsabilidade por dano ao consumidor (art. 24, inc. VIII). Assim,

75 Aqui, lembre-se que a competência da União quanto à outorga dos serviços de telecomunicações foi
delegada à Agência Nacional de Telecomunicações. Reprise-se que a livre iniciativa no segmento dos
serviços de telecomunicações é condicionada pela autorização, permissão ou concessão, outorgadas pela
Anatel. Daí porque se uma empresa resolver atuar no mercado de telecomunicações sem o necessário
ato de outorga da Anatel do serviço de telefonia fixa, móvel pessoal, TV por assinatura e conexão à inter-
net, comete ilegalidade.

46
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

o exercício destas competências por Estados e Distrito Federal pode ensejar


a produção de normas em conflito com a regra da competência privativa
da União para legislar sobre os serviços de telecomunicações. Estas leis
estaduais e distrital têm repercussão direta no mercado, com reflexos tanto
sobre os consumidores quanto em relação aos agentes econômicos. Daí a
importância da análise da constitucionalidade destas leis estaduais e distrital.

A título ilustrativo, em 2012, a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná


promulgou lei sobre o direito ao atendimento presencial nos serviços de
televisão por assinatura, com base na competência concorrente do Estado pa-
ra legislar sobre produção e consumo e responsabilidade ao consumidor.76 O
Governador do Paraná vetou o projeto de lei sob o argumento de competência
privativa da União para legislar sobre serviços de telecomunicações. Porém,
a Assembleia Legislativa derrubou o veto e a lei entrou em vigor. Neste caso, a
lei do Paraná trata de matéria objeto de regulação federal, eis que o serviço de
televisão por assinatura é espécie de serviço de telecomunicações77. Ademais,

76 Trata-se da Lei n. 17.663/2013, que trata do atendimento presencial nos serviços de TV por assinatura.
Sobre o assunto, ver: SCORSIM. Ericson Meister. Lei do Paraná estabelece o direito ao atendimento
pessoal nos serviços de TV por assinatura: análise de sua constitucionalidade sob a perspectiva das com-
petências federativas. Revista dos Tribunais: RT SUL, novembro-dezembro, 2013, p. 43-51.
77 O STF declarou a inconstitucionalidade de algumas leis estaduais que tratam de matérias relacionadas
aos serviços de telecomunicações nos seguintes casos: a vedação da cobrança assinatura básica nos con-
tratos de telefonia fixa (ADI 4.369, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 15-10-2014), a comercializa-
ção e revenda de celulares usados (ADI 3.846, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 25-11-2010), a
instalação de contador de pulso no serviço de telefonia fixa (ADI 3.533, rel. min. Eros Grau, julgamento
em 2-8-2006), a obrigação de o fornecedor informar ao consumidor a quitação de débitos no instrumen-
to de cobrança (ADI 4533 MC, rel. min. Ricardo Lewandowski , julgamento em 25-08-2011), ponto de
acesso à internet e cobrança do ponto extra (Adin n. 4083), etc.
Em sentido diverso, o julgamento pelo STF da ADI 5356 MC/MS, que apresenta pedido de medida
cautelar visando suspender os efeitos da Lei n. 4.650/2015, do Estado do Mato Grosso do Sul, que
determina que as empresas operadoras do Serviço Móvel Pessoal (celular) instalem equipamentos ou
solução tecnológica hábil a identificar e bloquear sinais de telecomunicações e radiocomunicações nos
estabelecimentos penais e centros de sócioeducação do Estado. No voto que indefere a medida cautelar,
o Min. Relator Edson Fachin entende que se trata de competência concorrente dos Estados-membros
para legislarem sobre direito penitenciário, relações de consumo e segurança pública, visto que à União
cabe editar apenas normas gerais na espécie.

47
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

a questão do atendimento ao consumidor no serviço de TV por assinatura


é objeto de resolução da Anatel.78 Este tipo de matéria, a princípio, exige
tratamento regulatório uniforme para todo o território nacional, razão para
a regulação federal sobre os serviços de telecomunicações, com a restrição à
atuação de regulação estadual neste campo.79

78 Ver: Resolução Anatel n. 632/2014, que aprova o Regulamento do Direito dos Consumidores nos Servi-
ços de Telecomunicações.
79 Ressalte-se que a Constituição contém os parâmetros para o exercício da competência legislativa con-
corrente sobre produção e consumo e responsabilidade por dano ao consumidor. Conforme a regra
constitucional prevista no art. 24 e parágrafos seguintes, a competência da União limita-se à edição
de normas gerais no âmbito da legislação concorrente. O exercício desta competência da União para
legislar sobre as normas gerais não exclui a competência suplementar dos estados. Se inexistir lei fede-
ral sobre normas gerais, os Estados podem exercer a competência legislativa plena, para atender suas
peculiaridades. A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que lhe for contrário.

48
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

INTERNET

49
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

II. INTERNET

1. MARCO CIVIL DA INTERNET: LEI Nº 12.965/2014


O Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014) estabelece os princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Entre os princí-
pios: (i) garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento; (ii) proteção da privacidade e dados pessoais; (iii) preservação
e garantia da neutralidade de rede; (iv) liberdade dos modelos de negócios
promovidos na internet, dentre outros. Como direitos dos usuários dos
serviços de conexão à internet, a Lei n. 12.965/2014 garante a inviolabilidade
e sigilo do fluxo das comunicações, salvo por ordem judicial, na forma da lei.80
Igualmente, a mesma lei garante a inviolabilidade e sigilo das comunicações
privadas armazenadas.81 A lei em análise estabelece o direito a não suspensão
da conexão à internet, salvo por débito diretamente de sua utilização.82
Reconhece o direito à manutenção da qualidade contratada do serviço de
conexão à internet.83 Exige a apresentação de informações claras e precisas
nos contratos de prestação de serviços, com o detalhamento sobre o regime
de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplicações
de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam
afetar sua qualidade.84 Proíbe o fornecimento a terceiros de dados pessoais,
inclusive os registros de conexão e de acesso às aplicações de internet,

80 Cf. art. 7 º, II, da Lei n. 12.965/2014.


81 Cf. art. 7 º, III, da Lei n. 12.965/2014.
82 Cf. art. 7 º, IV, da Lei n. 12.965/2014.
83 Cf. art. 7 º, V, da Lei n. 12.965/2014.
84 Cf. art. 7 º, VI, da Lei n. 12.965/2014.

50
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

salvo mediante consentimento livre e informado.85 Exige a apresentação


de informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento,
tratamento e proteção de dados pessoais.86 Garante ao usuário o direito à
exclusão definitiva dos dados pessoais entregue em determinada aplicação
de internet, quando do encerramento da relação entre as partes, excetuadas
as hipóteses de guarda obrigatória dos registros previstas em lei87, bem como
prevê a aplicação das normas de proteção do consumidor nas relações de
consumo realizadas na internet.88

Segundo o Marco Civil da Internet, a finalidade do uso da internet é a


promoção do direito de acesso à internet a todos, para difundir informação,
conhecimento e permitir a participação na vida cultural e na condução
de assuntos públicos, através da adesão a padrões tecnológicos abertos
que permitam a comunicação, acessibilidade e interoperabilidade entre
aplicações e bases de dados.89 E a lei reconhece que o acesso à internet é
essencial ao exercício da cidadania.90 Também, a lei assegura que a garantia
do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas comunicações é
condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet.91 Aqui,
portanto, a ligação entre o direito de acesso à internet, reconhecido na lei,
e os direitos constitucionais à cidadania, à privacidade e à liberdade de
expressão, e do direito à informação.

85 Cf. art. 7 º, VII, da Lei n. 12.965/2014.


86 Cf. art. 7 º, VIII, da Lei n. 12.965/2014.
87 Cf. art. 7 º, X, da Lei n. 12.965/2014.
88 Cf. art. 7 º, XIII, da Lei n. 12.965/2014.
89 Cf. art. 4 º, inc. II, da Lei n. 12.965/2014.
90 Cf. art. 7 º, da Lei n. 12.965/2014.
91 Cf. art. 8 º, da Lei n. 12.965/2014.

51
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

2. SERVIÇO DE CONEXÃO À INTERNET


O serviço de conexão à internet não é rigorosamente espécie de serviço de
telecomunicações, conforme determinação do art. 61, §1 º, da Lei Geral
de Telecomunicações.92 O serviço de conexão à internet é classificado
pela Agência Nacional de Telecomunicações como espécie de serviço de
comunicação multimídia (SCM), o qual é considerado como serviço de valor
adicionado.93 Assim, é garantido ao provedor do serviço de acesso à internet
o direito de acesso às infraestruturas de redes de telecomunicações.94

A Lei nº 12.695/14 (Marco Civil da Internet) adota a seguinte definição para


o serviço de conexão à internet: “habilitação de um terminal para envio e
recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou
autenticação de um endereço IP”.95 As características relevantes do serviço de
conexão à internet são: i) habilitação de um terminal; ii) encaminhamento e
recebimento de pacotes de dados; iii) autenticação de endereço IP (internet
protocol). Aqui, registre-se que há uma empresa gestora autônoma que
administra os blocos de endereço IP e os distribui para os usuários.96

92 Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de telecomunicações que lhe dá
suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apre-
sentação, movimentação ou recuperação de informação, conforme art. 61 da LGT. Sobre o tema, SCOR-
SIM, Ericson Meister. Marco Civil da Internet: questões centrais da regulação dos serviços e aplicações
de internet. Artigo publicado no site AcademiaEdu.
93 Segundo o STF na Adi 1491 MC/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. para Acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, j. 08/05.2014: “O serviço de valor adicionado - SVA, previsto no art. 10 da Lei n.
9.295/1996, não se identifica, em termos ontológicos, com o serviço de telecomunicações. O SVA é,
na verdade, mera adição de valor a serviço de telecomunicações já existente, uma vez que a disposição
legislativa ora sob exame propicia a possibilidade de competividade e, assim, a prestação de melhores
serviços à coletividade”.
94 Cf. §2 º, do art. 61 da LGT.
95 Cf. Art. 5 º, V, da Lei 12.965/2014.
96 Cf. art. 5 º, IV, da Lei 12.965/2014.

52
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

2.1 REGIME LEGAL DOS PROVEDORES DE SERVIÇOS DE


ACESSO À INTERNET
O serviço de conexão à internet é atividade econômica privada, porém
submetida à regulação federal. Os provedores de serviços de acesso à internet
são, geralmente, empresas privadas que podem cobrar remuneração pelos
serviços ofertados aos consumidores.97 Os provedores de serviços de acesso
à internet não respondem pelos conteúdos divulgados pela internet.98 Sua
responsabilidade limita-se à garantia do acesso à internet pelo usuário.
Mas, o provedor de acesso é obrigado a identificar os registros de acesso
dos usuários ou terminal na hipótese de requisição judicial dos registros de
conexão, conforme autoriza o art. 22 do Marco Civil da Internet.

Os provedores de serviços de acesso à internet submetem-se à legislação em


dois aspectos.

De um lado, a Lei Geral de Telecomunicações é aplicável aos provedores


dos serviços de acesso à internet por se tratar de serviço adicionado à rede
de telecomunicações, sob a outorga da Anatel. De outro lado, o Marco Civil
da internet é aplicável aos provedores de acesso à internet, principalmente
no que refere as garantias de neutralidade da rede, bem como do regime de
proteção aos dados pessoais dos usuários, bem como dos procedimentos
para apresentação de dados cadastrais às autoridades competentes.

Diferentemente, é outro o regime aplicável aos provedores de aplicações de


internet, como a seguir será analisado.

97 Um dos temas polêmicos é a continuidade dos serviços de acesso à internet móvel, após o consumo das
franquia de dados, tema abordado anteriormente.
98 Cf. Art. 18 da Lei n. 12.965/2014.

53
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

3. APLICAÇÕES DE INTERNET
O Marco Civil da Internet descreve as aplicações de internet como: “o
conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de terminal
conectado à internet”.99 As funcionalidades são as utilidades ofertadas aos
usuários em relação à transmissão de textos, voz, imagens, dados, etc.

As aplicações de internet são ofertadas por empresas de busca, de produção,


provimento de conteúdos e compartilhamento de conteúdos digitais: voz,
dados, imagens, textos, músicas, vídeos, filmes, etc. Exemplos: Google,
Facebook, Youtube, Facetime, WhatsApp, Skype, Instagram, Uber100, etc.

O Marco Civil da Internet garante a liberdade do modelo de negócios das


aplicações de internet. Cada aplicação de internet tem sua funcionalidade na
transmissão dos pacotes de dados dos usuários. Destaque-se que o ambiente
da Internet desperta novas questões jurídicas em diversos segmentos:
proteção à privacidade dos dados pessoais, a proteção dos consumidores nas
relações de consumo, a adoção de inovações tecnológicas pela administração
pública, violação de direitos autorais, disputa entre provedores de acesso à
internet e aplicações de internet, aplicativos para transmissão de conteúdos
audiovisuais e a concorrência com os serviços de TV por assinatura, etc.101

99 Cf. art. 5 º, VII, da Lei n. 12.485/2014.


100 Para análise mais aprofundada, ver SCORSIM, Ericson Meister. Regulação por Municípios do aplicativo
Uber adotado no serviço de transporte individual de passageiros. Artigo publicado no site Jus Navigandi
- www.jusnavigandi.com.br, out. 2015. Também, parecer do Prof. José Joaquim Gomes Canotilho que,
em síntese, sustenta a inconstitucionalidade material dos diplomas municipais, estaduais ou distritais
que visam proibir o Uber, ante a violação das normas de competência da Constituição Federal, previstas
no artigo 22. Disponível em http://s.conjur.com.br/dl/parecer-canotilho-uber.pdf .
101 Sobre este caso de disputa judicial entre provedores de conteúdo na internet, veja: Processo 1006564-
47.2015.8.26.0100 – Requerente: Psafe Tecnologia S.A, Requerido: Baidul Brasil Internet Ltda, 11 Vara
Cível da Comarca de São Paulo, 28 de janeiro de 2015. O conflito é entre uma empresa brasileira (Psafe)
que produz software de antivírus e uma empresa chinesa (Baidul) de serviços de pesquisa na internet,
concorrente do Google.

54
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Por exemplo, este ambiente de internet cria novas oportunidades em termos


de produção, distribuição e consumo de produtos audiovisuais (filmes,
documentários, séries de TV, etc.), o que enseja novos acordos comerciais
entre os produtores de conteúdo e as plataformas de distribuição destes
conteúdos, como é o caso de acordos entre emissoras de televisão nos EUA
e a empresa Netflix.

É importante destacar que existem diferenças entre os provedores de


aplicações de internet e os provedores de conteúdos e serviços online. Estas
diferenças são significativas na aplicação da legislação. A título ilustrativo,
uma empresa como o Google presta serviços aos usuários de modo diferente
da empresa Netflix (vídeo sob demanda). Estas diferenças repercutem
na interpretação das regras sobre direitos autorais, Código de Defesa do
Consumidor, legislação tributária, dentre outras.

3.1 REGIME LEGAL DOS PROVEDORES DE APLICAÇÕES PARA


INTERNET
Os provedores de aplicativos de internet são responsáveis pelos conteúdos
difundidos por terceiros na internet, somente quando após ordem judicial
específica, não adotarem providências para afastar o conteúdo apontado
como ilícito.102 Daí a obrigação legal do provedor de aplicação de internet
em promover a retirada de conteúdos ilícitos em sites, mediante notificação
judicial da pessoa interessada. O Marco Civil da Internet estabelece o regime

Em litígios entre empresas de televisão e rádio por radiodifusão e o ECAD, pela cobrança de direitos
autorais pela exibição da programação das emissoras em seus próprios sites na internet (simulcasting),
o Poder Judiciário já se manifestou favorável a tese apresentada pelas empresas de radiodifusão (im-
possibilidade de cobrança – bis in idem) em diversas ações que tramitam nos Estados do Paraná e São
Paulo: Agravo nº 1.336.400-0/01/TJ-PR; Apelação nº 0173652-06.2010.8.26.0100 TJ-SP; Agravo Ins-
trumento nº 1.0024.10.287440-1/001 TJ-SP; Apelação nº 1.0024.10287440-1/005 TJ-SP.
102 Cf. Art. 19, da Lei n. 12.965/2014.

55
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

de guarda do registro de conexão e de acesso a aplicações de internet, com


a proteção aos dados pessoais dos usuários, os quais somente podem ser
acessados mediante autorização judicial.103

3.2 BLOQUEIO JUDICIAL DO WHATSAPP


Em dezembro de 2015, em razão de requerimento do Ministério Público
de São Paulo, a autoridade judicial da Vara Criminal de São Bernardo do
Campo determinou, no âmbito de processo de investigação criminal, a
suspensão do aplicativo WhatsApp (sob o controle da empresa Facebook,
sediada nos EUA), pelo prazo de 48 h (quarenta e oito horas), por todo o
território brasileiro.

Em Mandado de Segurança104 o Tribunal de Justiça do Estado de São


Paulo deferiu liminar requerida pela empresa WhatsApp para suspender os
efeitos da decisão judicial que suspendia temporariamente as atividades do
aplicativo.

O processo judicial tramita em segredo de justiça e, segundo informações


disponibilizadas em diversos sites, o pedido do Ministério Público foi
fundamentado no Marco Civil da Internet.

O Marco Civil da Internet, aprovado pela Lei n. 12.965/2014, estabelece os


princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.
Esta lei é aplicável aos provedores de acesso à internet (empresas de
telecomunicações) e os provedores de aplicativos de internet, como é o caso
do WhatsApp, que oferece um serviço de troca de mensagens conhecido
como OTT - Over the Top.

103 Cf. Art. 15, da Lei n. 12.965/2014.


104 Autos n. 2271462-77.2015.8.26.0000, Rel. Xavier de Souza, Décima Primeira Câmara de Direito Crimi-
nal.

56
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Pois bem, a Lei n. 12.965/2014 trata da proteção aos registros, aos dados
pessoais e comunicações privadas. Assim, o provedor responsável pela
guarda de dados pessoais e comunicações pode ser obrigado a disponibilizar
os registros de conexão e de acesso a aplicações de internet para identificação
do usuário ou terminal, mediante ordem judicial, conforme dispõe o art. 10, §
1º. O conteúdo das comunicações privadas somente pode ser disponibilizado
mediante ordem judicial nas hipóteses legais. Ou seja, são garantidas a
inviolabilidade e o sigilo do fluxo das comunicações pela internet, bem como
a inviolabilidade e sigilo das comunicações privadas armazenadas, excetuada
a hipótese do afastamento da inviolabilidade por ordem judicial, conforme
determina o art. 7º, incs. II e III, da referida lei n.12.965/2014.

O art. 11 do Marco Civil da Internet prevê que em qualquer operação de


coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais
ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet
em que, pelo menos, um desses atos ocorra em território nacional, deverão
ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à
privacidade, a proteção dos dados pessoais e o sigilo das comunicações
privadas e dos registros. Esta regra legal aplica-se aos dados coletados em
território nacional e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos
um dos terminais esteja localizado no Brasil.105 Também, a regra aplica-se
as atividades realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que
oferte serviço ao público brasileiro ou pelo menos um integrante do mesmo
grupo econômico possua estabelecimento no Brasil. 106

O Marco Civil da Internet, no art. 12, ao tratar da proteção aos registros, aos
dados pessoais e às comunicações privadas, estabelece que, sem prejuízo

105 Cf. art. 11, § 1º, da Lei n. 12.965/2014.


106 Cf. Art. 11, § 2º, da Lei n. 12.965/2014.

57
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

das demais sanções cíveis, criminais ou administrativas, as infrações


às normas previstas nos arts. 10 e 11 ficam sujeitas, conforme o caso, às
seguintes sanções aplicadas de forma isolada ou cumulativa: advertência,
com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas, multa de até
10% (dez por cento) do faturamento do grupo econômico no Brasil no seu
último exercício, suspensão temporária das atividades que envolvam os atos
previstos no art. 11 ou proibição de exercício das atividades que envolvam
os atos previstos no art. 11. Além disto, caso se trate de empresa estrangeira,
responde solidariamente pelo pagamento de multa a sua filial, sucursal,
escritório ou estabelecimento situado no País. 107

Aqui, o ponto central da questão jurídica. O Marco Civil da Internet em


seu art. 12, incs. III e IV, admite como sanções a suspensão temporária das
atividades das empresas que ofertam aplicações de internet e a proibição
de exercício das atividades destas empresas. Mas, estas sanções de
suspensão temporária e proibições previstas no Marco Civil da Internet são
aplicáveis somente na hipótese das operações de coleta, armazenamento,
guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações
por provedores de conexão e de aplicações de internet. Ou seja, somente
na hipótese de grave descumprimento de legislação brasileira de proteção
aos direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das
comunicações privadas e dos registros é que seria possível a aplicação das
sanções de suspensão temporária e proibição das atividades em território
nacional. A finalidade da norma legal é - registre-se - evidentemente a
proteção dos direitos fundamentais à privacidade, proteção dados pessoais
e sigilo das comunicações.

107 Cf. Art. 12, parágrafo único, da Lei n. 12.965/2014.

58
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Para aplicar estas sanções gravíssimas do Marco Civil da Internet em relação


às empresas privadas, é necessário que a infração esteja devidamente
caracterizada. Daí porque, ao que parece, o descumprimento de ordem
judicial no processo criminal pela empresa WhatsApp não é por si só
fundamento suficiente para aplicar a sanção da suspensão temporária das
atividades conforme prevê o inc. III, do art. 12, do Marco Civil da Internet.
Além deste dispositivo legal, não há nenhum outro fundamento que autorize
a prática da suspensão temporária dos aplicativos de internet.

Com o devido respeito, a medida judicial de suspensão temporária das


atividades do WhatsApp quebra o princípio da proporcionalidade e
razoabilidade. A decisão judicial ainda causa lesão a milhões de consumido-
res brasileiros, prejudicando o direito fundamental à comunicação das
pessoas.

Em síntese, com base no Marco Civil da Internet, não é possível aplicar a


gravíssima sanção da suspensão temporária da atividade da empresa que
fornece o aplicativo WhatsApp, eis que não razoável e proporcional à conduta
de descumprimento à ordem judicial. A medida judicial imposta causa lesão
ao direito fundamental à comunicação de milhões de brasileiros. Não é
admissível que um caso individual, que relevante sob a ótica da investigação
criminal, prejudique milhões de pessoas. Daí o acerto da decisão do TJ/SP
no mandado de segurança acima referido em afastar os efeitos da decisão
de suspensão do aplicativo WhatsApp. Enfim, a jurisdição brasileira
agiu prontamente para restaurar e adequada interpretação do princípio
constitucional da razoabilidade e da legislação aplicável ao caso. Ao final,
espera-se o julgamento do mérito do caso com análise atenta e profunda do
Marco Civil da Internet.

59
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4. PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE DA REDE: QUESTÕES


POLÊMICAS
Uma das questões centrais e polêmicas da Lei do Marco Civil da Internet é
a interpretação do princípio da neutralidade da rede.108 Este princípio tem
repercussão sobre o interesse dos consumidores, dos provedores de acesso
à internet e dos provedores de conteúdos. A norma aplica-se em relação ao
acesso à Internet e ao acesso aos conteúdos nela trafegados.109 O princípio
da neutralidade da internet é garantia da ampla liberdade de expressão para
difusão de conteúdos plurais e diversos.110 Veda-se a censura à difusão dos
conteúdos dos usuários. Daí porque são excepcionais as regras de restrições
à difusão de conteúdos, salvo para a proteção de direitos da personalidade e
outros direitos fundamentais.

Conforme o art. 9º da Lei n. 12.965/2014: “O responsável pela transmissão,


comutação, ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica
quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino,

108 Para análise mais completa do tema, Scorsim, Ericson. Marco Civil da Internet: regimes dos provedores
de acesso e aplicações de internet, publicado no AcademiaEdu.
Segundo ainda Márcio Aranha sobre o histórico do debate brasileiro sobre a interpretação do princípio
da neutralidade da internet limitou-se ao controle dos eventuais abusos dos contratos de priorização de
tráfego entre as empresas de proprietárias de infraestrutura de banda larga e as demais empresas de
aplicações de internet. Ver: Aranha, Márcio. Direito das comunicações: histórico normativo e conceitos
fundamentais, 3 edição, 2015, London: Laccademia Publishing, 2015, p. 175-176.
109 Segundo Márcio Aranha, as discussões no Brasil sobre a neutralidade da rede limitaram-se ao debate
sobre a autorização de contratos de priorização de tráfego na Internet. In Direito das Telecomunicações.
Histórico normativo e conceitos fundamentais. 3, 2015, p. 175.
110 Sobre o tema, Machado, Jónatas. Liberdade de expressão: Dimensões constitucionais da esfera pública
no sistema social. Coimbra: Coimbra Editora, 2002. O autor aborda o tema da liberdade de expressão e
a internet, as restrições possíveis, bem como as técnicas que podem ser utilizadas para a harmonização
dos diferentes direitos em conflito, por exemplo: liberdade de expressão e a proteção da infância e juven-
tude e direitos de personalidade. E, também, o regime de responsabilidade dos provedores de acesso,
bem como de responsabilidade dos fornecedores de conteúdo. O Marco Civil da Internet, na forma da
Lei n. 12.965/2014, aborda o regime de responsabilidade dos provedores de acesso (isenção de respon-
sabilidade pelos conteúdos), e o regime de responsabilidade dos provedores de conteúdos.

60
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

serviço, terminal ou aplicação”.111 O princípio da neutralidade assegura o


tratamento isonômico entre quaisquer pacotes de dados. Portanto, trata-
se de garantia de aplicação do princípio da igualdade no funcionamento da
transmissão, comutação ou roteamento do pacote de dados.112

Em razão do princípio da neutralidade, um provedor de serviços de conexão


à internet não pode discriminar um provedor de serviços de vídeo online
de uma empresa concorrente. Também, uma empresa de telecomunicações,
que preste o serviço de conexão à internet, não pode tratar diferentemente

111 Para entendimento dos elementos da internet previstos na Lei do Marco Civil da Internet, transmissão,
comutação e roteamento são termos que provém do âmbito da computação. A evolução tecnológica é
que permitiu a comunicação na rede mundial de computadores.
Segundo Walter Isaacson: “Um método mais eficiente é a comutação de pacote, na qual as mensagens
são reduzidas a unidades pequenas, do mesmo tamanho, chamadas pacotes, que recebem cabeçalho
com endereço descrevendo para onde devem ir. Esses pacotes são enviados pela rede para seu destino,
retransmitidos de nodo a nodo, usando as conexões mais disponíveis naquele instante. Se as conexões
começam a ficar entupidas, com excessos de dados, alguns pacotes são roteados para caminhos alterna-
tivos”. Ver: Os inovadores. Uma biografia da revolução digital. São Paulo: Companhia das Letras, 2014,
p. 252. O roteamento tem a função de estabelecer o direcionamento do tráfego dos pacotes de dados, da
rede mundial de computadores. Em síntese, a rede mundial de computadores é uma rede de dados de
pacotes comutados entre milhões de usuários espalhados em diversos pontos geográficos do planeta. A
título ilustrativo, os roteadores IP da empresa Alcatel-Lucent prometem quadruplicar o tráfego de dados
e vídeos nas redes. O produto tem a função de aumentar o ganho de eficiência da comunicação entre
datacenters, por intermédio do roteamento do IP. Ver: www.convergenciadigital.uol.com.br, acesso em
23.02.2015.
A título de curiosidade para quem quiser aprofundar o tema das inovações tecnológicas e o surgimen-
to da computação, especificamente sobre a formação da internet e constituição da rede de pacotes de
dados, com o desenvolvimento das funções de comutação e roteamento, veja: ISAACSON, Walter. Os
inovadores. Uma biografia da revolução digital. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
112 Sobre o assunto, HOBAIKA, Marcelo Bechara de Souza e BORGES, Luana Chystyna Carneiro. Respon-
sabilidade jurídica pela transmissão, comutação ou roteamento e dever de igualdade relativo a pacote
de dados. In Marco Civil da Internet (George Salomão Leite, Ronaldo Lemos, coordenadores, São Paulo:
Atlas, 2014, p. 651).
Também, segundo Pedro Henrique Soares Ramos: “... a neutralidade da rede é um princípio de arquite-
tura de rede que endereça aos provedores de acesso o dever de tratar os pacotes de dados que trafegam
em suas redes de forma isonômica, não os discriminando em razão de seu conteúdo ou origem”. In Neu-
tralidade da Rede e o Marco Civil da Internet: um guia para interpretação. In Marco Civil da Internet
(George Salomão Leite, Ronaldo Lemos, coordenadores, São Paulo: Atlas, 2014, p. 165.

61
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

as aplicações de voz dos usuários na rede.113 Exemplo, a empresa de telecom


não pode reduzir a velocidade de transmissão de voz/dados do Skype. Além
disso, pelo princípio da neutralidade não é possível favorecer a transmissão
de pacotes de dados dos usuários de uma cidade x ou bairro y, em detrimento
da cidade w e bairro z. Também, nos serviços de internet não pode ocorrer
a discriminação entre os serviços prestados em terminais fixos e os serviços
em terminais móveis. Exemplos: um serviço para a internet banda larga fixa,
outro serviço para internet banda larga móvel.

O princípio da neutralidade tem a função de evitar o risco da promoção


da discriminação de aplicativos ou conteúdos, na denominada última
milha da Internet114, pelas empresas de telecomunicações em relação ao
conteúdo concorrente com os serviços de telecomunicações ou com seu
grupo econômico, conteúdo de parceiros comerciais (priorização paga) ou
conteúdo que consome grande largura de banda.115

4.1 PERSPECTIVAS PARA INTERPRETAÇÃO DO PRINCÍPIO DA


NEUTRALIDADE DA INTERNET
A interpretação do princípio da neutralidade da internet tem duas
perspectivas de análise.116

113 Exemplos constantes do Relatório Final do Projeto de Lei da Internet, aprovado no Plenário da Câmara
dos Deputados, citado por MELCHIOR, Silvia Regina. Neutralidade no direito brasileiro. In Marco civil
internet: lei n. 12.965/2014. São Paulo: Thomson Reuters, Revista dos Tribunais, p. 133.
114 Ponto de conexão entre o domicílio do usuário final do serviço de acesso à internet e a rede de infraes-
trutura de telecomunicações.
115 Ver WIMMER, Miriam. Seminário Marco Civil da Internet: neutralidade e Proteção de Dados Pesso-
ais, 17.03.2015. Sobre as questões subjacentes à neutralidade da rede (tarifa zero para os serviços de
acesso à internet e a autorização da cobrança de preços diferenciados conforme pacote de serviços), ver
SCORSIM, Ericson Meister. Marco Civil da Internet: análise do regime jurídico dos serviços de acesso e
aplicações de internet: direitos e deveres dos provedores, artigo publicado no site AcademiaEdu.
116 A interpretação do princípio da neutralidade é polêmica. Trata-se de uma garantia de tratamento igua-
litário pelos responsáveis pelas atividades de transmissão, comutação ou roteamento, em relação aos

62
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

De um lado, cabe verificar se é compatível com o princípio da neutralidade a


oferta de serviços de conexão à internet, com preços diferenciados conforme
o volume de tráfego de dados, pelas prestadoras de serviços de conexão à
internet.117

De outro lado, cumpre saber se são compatíveis com o princípio da legalidade


os acordos comerciais entre as empresas de telecomunicações que prestam
serviços de conexão à internet e as empresas de provimento de serviços de
conteúdo pela internet118. Por exemplo, analisar a legalidade de acordos/
contratos entre empresa de telefonia ou de televisão a cabo com o Google
ou Facebook para o favorecimento do tráfego de dados destas empresas de
aplicações de internet.119

pacotes de dados, proibindo-se distinções de conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.
A aplicação prática do princípio da neutralidade envolve interesses dos usuários/consumidores, das
empresas provedoras dos serviços de conexão à internet, provedores de serviços na internet, produtores
de conteúdo com distribuição pela internet, entre outros. Exemplos: uma empresa de telecomunicações
não pode favorecer os serviços de vídeo de uma empresa parceira, em detrimento dos demais concor-
rentes no mercado. Destaque-se que algumas empresas de telecomunicações têm interesse em firmar
parcerias com as empresas de provimento de conteúdo pela internet, enquanto outras empresas líderes
de mercado não têm este interesse. A título ilustrativo, há vários episódios sobre o tema, nos EUA, como
é o caso das práticas da Comcast, provedor de rede de telecomunicações, de limitar a velocidade do pro-
vedor de conteúdo Netflix. Sobre o tema, Cintra, Maria Eduarda. Neutralidade de rede: o caso Comcast
v. Netflix e o Marco Civil da Internet. Revista de Direito, Estado e Telecomunicações. Brasília, v. 7. n. 1,
p. 145-170, maio 2015.
117 Na perspectiva do direito norte-americano, o autor Ashley Packard explica:
“Internamente, o termo neutralidade da rede refere-se à noção de alta velocidade da Internet, ou banda
larga, os provedores de acesso não podem dar preferência a determinados provedores de conteúdo ou
tipos de conteúdo com o fornecimento em alta velocidade. Os defensores da neutralidade como acesso
do ponto terminal a terminal preferem que os norte-americanos não utilizem o termo neutralidade da
rede em relação à gestão da banda larga. Desta perspectiva, banaliza uma questão bem maior, ligada ao
acesso universal à Internet e mais especificamente ao acesso aos seus conteúdos”, obra citada, p. 67-68.
118 Sobre o tema, consultar SCORSIM. Ericson Meister. 3 Questões da Regulamentação do Marco Civil da
Internet, por Decreto Presidencial. Disponível em http://meisterscorsim.com/blog/3-questoes-da-re-
gulamentacao-do-marco-civil-da-internet-por-decreto-presidencial/
119 Ou saber, da possibilidade do estabelecimento de regime de acesso facilitado no serviço de internet mó-
vel às aplicações do Wikipedia, para favorecer a inclusão social.

63
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4.2 COMPETÊNCIA DA ANATEL QUANTO À REGULAÇÃO DOS


SERVIÇOS DE CONEXÃO À INTERNET
Como já referido, o serviço de provimento de conexão à internet é classificado
como serviço de valor adicionado à rede de telecomunicações (serviço de
comunicação multimídia), mas não é serviço próprio de telecomunicações,
conforme dispõe a Lei Geral de Telecomunicações e a Resolução n. 614/2013
da Anatel. A Anatel tem competência legal para regular os serviços de valor
adicionado, sob o aspecto das regras de acesso às infraestruturas de redes
de telecomunicações e as regras de interconexão e compartilhamento dessas
mesmas redes.120 Neste contexto, a Anatel tem competência para regular os
serviços de valor adicionado à rede de telecomunicações121, como é o caso do
serviço de conexão à internet.122

120 Sobre o tema, ver SCORSIM. Ericson Meister. Lei Federal das Normas Gerais para Licenciamento e
Compartilhamento de Infraestrutura de Rede de Telecomunicações, publicado na Revista do Instituto
dos Advogados de São Paulo. Ano 18. ed. 35. Janeiro - Junho 2015.
A competência da Anatel decorre dos artigos 61, § 2º, da Lei Geral de Telecomunicações.
A título ilustrativo, no exercício de sua competência para garantir o acesso às redes de telecomunicações,
a Anatel multou empresas de telecomunicações, mediante a repressão de condutas anticompetitivas
como é o caso da degradação do tráfego do VoiP ou de SMS de banda larga.
Diversamente, é o entendimento de Floriano de Azevedo Marques Neto e Milene Louise Renée Coscione
sobre a regulação dos serviços de valor adicionado pela Anatel:
“Destaque-se que a competência regulatória da Anatel está adstrita aos serviços de telecomunicações e,
portanto, a Agência não regula os serviços de valor adicionado. É dizer, em outras palavras, que a Anatel
não regula o provimento de acesso à internet aos consumidores e não regula o conteúdo multimídia”. Cf.
Telecomunicações. Doutrina, jurisprudência, legislação, e regulação setorial. (Coleção Direito Econômi-
co, Coordenador Fernando Herren Aguilar, São Paulo: Ed. Saraiva, p. 50.
121 Vide nota n. 13.
122 O Decreto Nacional da Banda Larga formulou diretriz para Anatel atuar na ampliação da oferta de ser-
viço de conexão à internet em banda larga na instalação de infraestrutura de telecomunicações. Este
decreto dispôs que a Anatel deve observar as políticas públicas estabelecidas pelo Ministério das Comu-
nicações sobre internet banda larga.

64
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4.3 QUESTÃO DA COMPETÊNCIA DA ANATEL PARA FISCALI-


ZAR O CUMPRIMENTO DO PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE:
POSSIBILIDADES E LIMITES
Com o Marco Civil da Internet surge a questão sobre a fiscalização do
princípio da neutralidade da rede. Assim, como justificar a competência
da Anatel para fiscalizar o cumprimento do princípio da neutralidade da
rede? Esta recente questão jurídica decorre do Marco Civil da Internet que,
em caráter incidental, apenas referiu-se à oitiva da Anatel nas hipóteses
de regulamentação pela Presidente da República das exceções ao princípio
da neutralidade da internet.123 Conforme já mencionado, a regulação do
princípio da neutralidade da rede consta no Marco Civil da Internet, e a sua
regulamentação está sob a competência da Presidente da República.124

Duas interpretações sobre o tema da competência da Anatel para fiscalizar


o atendimento ao princípio da neutralidade da rede pelas empresas que
prestam os serviços de acesso à Internet, a seguir analisados.

4.3.1 TESE DA COMPETÊNCIA FISCALIZATÓRIA DA ANATEL


SOBRE O CUMPRIMENTO DO PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE
DA INTERNET
A interpretação mais adequada da legislação é no sentido de se reconhecer a
competência fiscalizatória da Anatel sobre o princípio da neutralidade da re-

123 Cf. art. 9 º, §1 º, da Lei n. 12.965/2014.


124 O Ministério da Justiça abriu consulta pública sobre a minuta de Decreto Presidencial para regulamen-
tar o Marco Civil da Internet. Segundo a minuta do Decreto, a Anatel é a agência reguladora responsável
pela fiscalização e apuração das infrações quanto aos requisitos técnicos que autorizam as exceções ao
princípio da neutralidade, considerando-se as diretrizes estabelecidas pelo Comitê Gestor da Internet.
Outro ponto importante consiste na atribuição da competência para Anatel regular as condições im-
postas às empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, provedoras dos serviços de conexão
à internet, bem como as relações entre estas empresas e as empresas prestadoras de serviços de valor
adicionado. Até o momento da conclusão deste ebook, o Decreto de regulamentação do princípio da
neutralidade da internet ainda não havia sido publicado.

65
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

de, com fundamento no próprio dispositivo da Lei Geral de Telecomunicações,


que trata dos serviços de valor adicionado.125 Neste sentido, uma vez que
a Anatel detém competência para tratar dos serviços de valor adicionado,
a agência reguladora também teria poderes para tratar da fiscalização do
princípio da neutralidade, tema que envolve os serviços de telecomunicações
e os serviços de valor adicionado à rede de telecomunicações.126 A Anatel tem
o dever de garantir o direito de acesso pelas OTT’s (serviços over the top:
Netflix, WhatsApp, Youtube, Facebook etc.) às redes de telecomunicações,
conforme determina o art. 61, § 2º, da Lei Geral de Telecomunicações.
Além disto, compete à Anatel controlar, prevenir e reprimir infrações à
ordem econômica, conforme preceitua o art. 19, inc. XIX, da Lei Geral de
Telecomunicações, bem como nos respectivos arts. 5º e 6º.127

Por outro lado, registre-se que, formalmente, o Comitê Gestor da Internet


não tem competência legal para tratar deste assunto, pois não há lei que
lhe atribua tal competência. O Marco Civil da Internet apenas confere a
tal comitê o caráter opinativo quanto à regulamentação do princípio da
neutralidade da rede.

125 Lei Geral de Telecomunicações (art. 60, §1 e §2).


126 Sobre o assunto da garantia do acesso às redes de telecomunicações, especialmente da garantia de aces-
so pela Anatel ao acesso das OTTs às redes de telecomunicações, com fundamento no art. 61, §2, bem
como no art. 19, XIX, da Lei Geral de Telecomunicações, ver: BECHARA, Marcelo. O Marco Civil da
Internet e o setor de telecomunicações. Artigo publicado no livro: O Marco Civil da Internet - Análise
Jurídica sob uma Perspectiva Empresarial, abril de 2015.
127 Sobre o tema, Bechara, Marcelo e Luana Borges. O Marco Civil da Internet e o setor de telecomunica-
ções. Artigo publicado no livro: O Marco Civil da Internet - Análise Jurídica sob uma Perspectiva Em-
presarial, abril de 2015.

66
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4.3.2 TESE DA INCOMPETÊNCIA DA ANATEL PARA FISCALIZAR


O PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE NA INTERNET
Cumpre salientar que alguns sustentam a incompetência da Anatel para
fiscalizar o cumprimento do princípio da neutralidade da rede. Isto porque
o Marco Civil da Internet não lhe conferiu esta competência e, também, não
há previsão desta específica competência na Lei Geral de Telecomunicações.
Portanto, somente mediante alteração nas citadas leis a Anatel passaria
a ter competência expressa para fiscalizar o cumprimento do princípio
neutralidade da rede.128

Apesar deste entendimento, reafirma-se, aqui, o entendimento do autor no


sentido da competência regulatória da Anatel para fiscalizar o cumprimento
do princípio da neutralidade da internet.

5. DIREITO COMPARADO: REGULAÇÃO DA INTERNET NOS EUA


E DIREITO EUROPEU
No âmbito do direito comparado, nos EUA, a Federal Communications
Comission (FCC) adotou regras para garantir a neutralidade da rede129
e, decidiu por sua competência para regular e fiscalizar o princípio da
neutralidade da internet.130 De fato, recentemente, a FCC, com fundamento

128 A internet é tema complexo e de natureza internacional, pois afeta diversos países, inclusive repercute
sobre a soberania nacional. Por exemplo, o modelo regulatório da internet afeta o comércio mundial
eletrônico de bens e serviços. A internet enseja discussões sobre a aplicação e a jurisdição das leis na-
cionais. Por isso, o enquadramento do tema como de governança mundial. Daí também porque alguns
defendem a incompetência das agências reguladoras para regular a internet.
129 FCC, Open Internet Order, adopted in December 2010, com a aprovação das regras para a internet:
transparency, no blocking and no unreasonable discrimination e reasonable network management.
130 Federal Communications Commission, Report and Order remand, declaratory ruling, and order, adop-
ted 26, 2015, Release: March 12, 2015, na qual classifica a internet como public utility sob o Título II,
Section 706, do Telecommunications Act, em votação por maioria de 3, sendo dois votos divergentes.

67
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

no Telecommunications Act, reclassificou a banda larga, tanto fixa quanto


móvel, como public utility, um serviço de telecomunicações (ao invés de
serviço de informação), baseados em common carrier. Como consequência,
os provedores de acesso à internet, como common carrier, não podem
bloquear ou discriminar conteúdos transportados.131 Com tal modificação na
classificação regulatória do serviço de acesso à internet, fixa-se a competência
da FCC para regular os serviços de acesso à internet.132

Por outro lado, no direito europeu, há proposta de regulação pelo Parlamento


Europeu e Conselho da União Europeia, para a adoção de medidas sobre o
mercado único de comunicações eletrônicas com o objetivo de conectar o
continente.133 Segundo a proposta, o serviço de acesso à internet é a oferta
pública do serviço de comunicação eletrônica de provimento de acesso à
internet. De acordo com a proposta, as autoridades reguladoras nacionais

131 Diversamente, os provedores de serviços de informação podem bloquear ou discriminar os conteúdos


transportados. Daí a distinção regulatória entre information service e common carrier.
132 Registre-se que esta nova classificação regulatória da internet como common carrier, pela FCC, é im-
pugnada judicialmente por diversas empresas. A título ilustrativo, entraram com ações judiciais contra
a decisão da FCC: CTIA mobile trade association, National Cable & Telecommunications Association
(NCTA) e American Cable Association. O argumento das empresas é no sentido de que somente a lei
poderia ter efetuado esta interpretação no sentido de classificar a internet como common carrier e não
a agência reguladora FCC. Para as empresas, a decisão da FCC é arbitrary and capricious, and violates
federal law. Além disto, alguns projetos de lei em trâmite no Congresso norte-americano pretendem até
afastar a competência da FCC para regular os serviços de acesso à internet, e, assim, assegurar a liberda-
de plena na internet.
Para uma visão geral do tema da regulação da Internet nos EUA, Rustad. Michael. Internet Law. Saint
Paul, MN, Thomson Reuters, 2009. E, Packard Ashley. Digital media law. Wiley-Blackwell. E para uma
visão completa do impacto da internet no âmbito da produção econômica, redes sociais e formação
cultural e política, ver Benkler, Yoachai. The wealth of networks. How social production transforms
markets and freedom. Yale University press e New Haven and London, 2006.
133 Council of the European Union: Brussels, 8 july 2015, Proposal for a Regulation of the European Par-
liament and of the Council laying down measure concerning the European single market for electro-
nic communications and to achieve a Connected Continent, and amending Directives 2002/20/EC,
2002/21/EC and 2002/22/EC and Regulations (EC) No 1211/2009 and (EU) No 531/2012.
A proposta de regulação da internet pela União Europeia ainda encontra-se em trâmite, conforme infor-
mações disponíveis em http://eur-lex.europa.eu/procedure/EN/1041202

68
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

devem ter competência para interferir contra acordos ou práticas comerciais


que por razões de escala, conduzem à redução da liberdade de escolha
dos usuários finais. Conforme a proposta, no serviço de provimento do
acesso à internet todo o tráfego de dados deve ser tratado igualmente sem
discriminação, restrição ou interferência, independentemente do emissor,
destinatário, aplicativo ou serviço. Também, na proposta, a gestão razoável
do tráfego de dados deve contribuir para o uso eficiente da rede e otimização
da oferta de qualidade da transmissão, segundo critérios que observem as
diferenças técnicas e a qualidade dos serviços. De outro lado, no direito
europeu, o Body of European Regulators for Electronic Comunications
elaborou as diretrizes para a garantia da neutralidade e transparência da
internet, com a recomendação das melhores práticas. Especialmente,
sugere regras em relação aos serviços de provimento de acesso à internet,
com o detalhamento do conteúdo da oferta e as limitações às ofertas aos
consumidores.134 Registre-se que, para além do debate da proposta da
regulação da internet no âmbito do direito comunitário europeu, alguns
países adotam práticas de auto-regulação da internet, enquanto outros
possuem leis específicas sobre a regulação da internet.135

134 BEREC (Body of European Regulators for Electronic Communications) Guidelines on Net Neutrality
and Transparency Best practices and recommended approaches, 2011.
135 Ver: Relatório sobre o quadro regulatório da União Europeia para as comunicações eletrônicas, no site:
ec.europa.eu/digitalagenda.
Para análise do direito francês, consultar: Huet, Jérôme e Dreyer. Emmanuel. Droit de la comunication
numérique. Paris: LGDJ, 2011.
A título ilustrativo, Dinamarca, Hungria, Suécia e Reino Unido sustentam iniciativas de auto regulação
para garantir a neutralidade da internet.

69
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

6. INCOMPETÊNCIA DA ANATEL PARA OUTORGAR E REGULAR


APLICAÇÕES DE INTERNET (APLICATIVOS): O CASO DO
WHATSAPP E NETFLIX
Os serviços de aplicações de internet, definidos na forma do Marco Civil da
Internet136, não são serviços de valor adicionado à rede de telecomunicações,
muito menos serviços de telecomunicações, razão pela qual não incide a Lei
Geral de Telecomunicações. Também, em razão deste fundamento a Anatel
não tem competência para outorgar e fiscalizar as aplicações de internet.

Discute-se a respeito da atribuição da competência da Anatel para outorgar


e regular os serviços de aplicações de Internet, como o caso do WhatsApp,
Netflix, Facebook entre outros. Por isso, há conflito entre algumas empresas
de telecomunicações e a empresa WhatsApp. Pelo mesmo motivo, também
há conflito entre as empresas de TV por Assinatura e a empresa Netflix,
prestadora de serviços de aplicações de Internet.

As empresas de telecomunicações defendem a aplicação da Lei Geral


de Telecomunicações sobre as atividades da empresa WhatsApp. E,
respectivamente, a fiscalização pela Anatel e a incidência da tributação dos
serviços de voz realizados pelo WhatsApp. Todavia, o WhatsApp sustenta
que é uma empresa de provimento de conteúdo da internet. A Lei Geral das
Telecomunicações não se aplica aos serviços de provimento de conteúdo,
tampouco, a Anatel tem competência para fiscalizar os serviços de voz
prestados mediante aplicativo da Internet.

Enfim, o tema é polêmico na medida em que a legislação atual não atribui


expressamente competência à Anatel para regular aplicativos da internet,
como referido acima. Também, eventual atualização da legislação para

136 Cf. Lei n. 12.965/2014.

70
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

condicionar os aplicativos da Internet sob a jurisdição da Anatel pode ser


inconstitucional. Ou seja, a equiparação do serviço de aplicação de internet ao
regime das telecomunicações seja por ato legislativo ou outro ato normativo
pode ser considerado inconstitucional pelo Poder Judiciário, diante da
natureza diversa das duas modalidades de serviços, sendo que as bases do
regime jurídico das telecomunicações estão definidas na Constituição.

A mesma lógica jurídica pode ser adotada em relação à regulação das aplica-
ções de internet, como é o caso do Netflix. Também, considerado um serviço
OTT (over-the-top). Pela lei geral de telecomunicações o serviço OTT
(exemplo: Netflix) é espécie de serviço de valor adicionado. Há assimetria
regulatória entre os serviços de TV por assinatura e os serviços do Netflix.
Assim, a solução do conflito entre as empresas de telecomunicações e a
empresa WhatsApp, bem como das empresas de TV por Assinatura e empresa
Netflix, depende da interpretação adequada da legislação em vigor aplicável
aos serviços de telecomunicações, serviços de TV por Assinatura e serviços
de aplicações da Internet, todas objeto de estudo no âmbito do Direito das
Comunicações. Na visão do autor, não há fundamento na legislação do setor
de telecomunicações para regular os serviços do WhatsApp e do Netflix.

71
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Daí porque a solução passa para o debate e atualização da legislação no


âmbito do Congresso Nacional. No momento, a regulação dos serviços do
WhatsApp e Netflix limita-se ao Marco Civil da Internet. No mais, incidem
as regras da concorrência no setor. 137

137 Registre-se a existência do projeto de lei do senado nº 386, de 2012, que altera a Lei Complementar nº
116, de 31 de julho de 2003, que dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS, de
competência dos Municípios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Dentre outros objetivos,
o citado projeto de lei visa, em sua versão original, a inclusão de diversos novos serviços tributáveis,
tais como elaboração de programas de computador, computação em nuvem, provimento de acesso à
internet, processamento, armazenamento ou hospedagem de dados, textos, imagens, vídeos, páginas
eletrônicas, aplicativos, sistemas de informação, disponibilização de conteúdos de áudio, vídeo, imagem
e texto em páginas eletrônicas, dentre outros.
Nos termos da redação original do projeto, a lista de serviços anexa à Lei Complementar nº 116/2003
incluiria os serviços Whatsapp, Itunes, Netflix, etc.
Ao tramitar na Câmara dos Deputados, no entanto, o texto original foi alterado antes de aprovado, isen-
tando da tributação do imposto municipal, por enquanto, os serviços multiplataformas de mensagens
instantâneas (Whatsapp, Facebook), serviços de armazenamento de dados (Icloud, Dropbox, Google
Drive) e as lojas virtuais de hospedagem de aplicativos (ex.: App Store, Google Play, etc.)
Atualmente, o citado Projeto de Lei aguarda aprovação do Senado em relação as alterações propostas
pela Câmara.

72
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

TELEVISÃO E RÁDIO
POR RADIODIFUSÃO
COMERCIAL

73
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

III. TELEVISÃO E RÁDIO POR


RADIODIFUSÃO COMERCIAL

1. NOÇÃO
Os serviços de televisão e rádio por radiodifusão destinam-se à transmissão
gratuita de programação ao público em geral. Os programas de televisão
e rádio servem à difusão de conteúdos jornalísticos, informativos,
educativos, culturais, de entretenimento e publicitário. A execução do
serviço de radiodifusão de sons e imagens depende da utilização de canal de
frequências138, sob a outorga da União.139 Há diversos direitos fundamentais
impactados pelos serviços de televisão e rádio, entre os quais: a liberdade de
expressão, liberdade de comunicação, liberdade artística, direito à imagem,
direitos autorais, direito à cultura, direito à honra, direito à educação, entre
outros.140

A Constituição de 1988 adota o princípio da complementaridade dos três


sistemas de radiodifusão: privado, público e estatal. Daí a configuração das
TVs privadas, públicas e estatais.141 Registre-se que cada espécie de televisão

138 O ato de outorga da concessão das estações geradoras de televisão confere o direito ao uso de um canal
de frequências da largura de 6 (seis) MHz de faixa. A faixa dos 700 Mhz é tradicionalmente utilizada pe-
las empresas de TV por radiodifusão. No caso dos serviços de radiodifusão sonora, a faixa de frequências
modulada possui 20 MHz de largura e está situada entre 87,7 e 108 MHz.
139 Sobre o tema, SCORSIM, Ericson Meister. TV Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios - TVs
pública, estatal e privada. Editora Fórum, 2008.
140 Para uma referência sobre o tema dos direitos fundamentais e a atividade de radiodifusão, consultar as
obras: MACHADO, Jonatas Eduardo Mendes. Liberdade de Expressão: Dimensões Constitucionais da
Esfera Pública no Sistema Social. Coimbra: Coimbra Editora, 2002; ALEXANDRINO, José Alberto de
Melo. Estatuto Constitucional da atividade de televisão. Coimbra: Coimbra Editora, 1998.
141 SCORSIM, Ericson Meister. Capítulo Direito a Informação e Serviços de Televisão. Obra - Direito Cons-
titucional Brasileiro. 1. ed. São Paulo/SP: Editora Revista dos Tribunais Ltda., 2014. v. I. p.450.

74
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

está submetida a regime jurídico distinto, razão para a interpretação com


atenção da legislação aplicável às diferentes categorias. A Constituição
adota capítulo especial sobre a Comunicação Social, com garantias à
liberdade de expressão e informação, proibição de formação de monopólios
e oligopólios dos meios de comunicação social, princípios da produção e
programação das emissoras de televisão e rádio, regras de propriedade das
empresas jornalísticas e empresas de radiodifusão, e regras sobre a outorga
da concessão dos serviços de radiodifusão.142

2. REGIME JURÍDICO DA TV PRIVADA NA LEI N. 4.117/1962


Os serviços de televisão e rádio por radiodifusão estão sob o regime da Lei
n. 4.117/1962.143 Esta Lei define as regras para a outorga e prestação dos
serviços de radiodifusão de sons e imagens. Estabelece as condições para
geradoras de radiodifusão. Por sua vez, as condições de prestação dos serviços
de repetição de televisão e retransmissão de televisão estão previstas no
Decreto n. 5.371/2005.144

142 Cf. Arts. 220 a 224 da Constituição.


143 Na ADIN n. 561-8, o STF deliberou pela recepção da Lei 4.117/1962 pela Constituição de 1988. Esta lei
é denominada Código de Telecomunicações, porém os dispositivos relacionados às telecomunicações
foram revogados pela nova Lei Geral das Telecomunicações, permanecendo em vigor os dispositivos
pertinentes à radiodifusão.
Sobre o tema, SCORSIM, Ericson Meister. Capítulo Comunicação Social e Democracia: regime jurídico
dos servidores de televisão aberta. Obra - Direito Constitucional Brasileiro. 1. ed. São Paulo/SP: Editora
Revista dos Tribunais Ltda., 2014. v. III. 619p.
144 O serviço de retransmissão de televisão (RTV) possibilita retransmitir, de forma simultânea ou não
simultânea, os sinais de estação geradora de televisão para a recepção livre e gratuita pelo público em
geral, conforme Decreto 5.371/2005 (art. 1). Diversamente, o serviço de repetição de televisão (RPTV)
destina-se ao transporte de sinais de sons e imagens oriundos de uma estação geradora de televisão
para estações repetidoras ou retransmissoras ou, ainda, para outra estação geradora de televisão, cuja
programação pertença à mesma rede, conforme Decreto 5.371/2005 (art. 2). O regime de prestação dos
serviços de retransmissão de televisão e repetição de televisão é sob a forma de autorização adminis-
trativa, em caráter precário e por prazo indeterminado. As entidades autorizadas a executar o Serviço
de RTV deverão veicular somente programação oriunda da geradora cedente dos sinais, sendo vedadas
inserções de qualquer tipo de programação ou de publicidade, inclusive as relativas a apoio institucio-

75
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Destaque-se a necessidade de edição de nova lei, em substituição à Lei n.


4.117, de 1962, que estabeleça o marco regulatório dos serviços de televisão
e rádio por radiodifusão do setor privado, de acordo com as normas e
princípios da Constituição Federal, bem como à evolução das tecnologias.
Evidentemente que esta nova lei do setor de radiodifusão há de respeitar o
núcleo fundamental da liberdade de radiodifusão, o qual garante liberdades
de produção e programação às empresas de televisão e rádio por radiodifusão.
Eventuais limites legislativos à liberdade de radiodifusão somente podem ser
aprovados se conforme à Constituição e ao regime de direitos fundamentais
nela previstos.

3. TV DIGITAL 145

Por sua vez, o Decreto n. 5.820/2006, que trata do Sistema Brasileiro de


TV Digital, contém regras para a transição do padrão analógico para o
digital, estabelecendo a transmissão simultânea do sinal analógico e digital
durante o período de transição. Ao final deste período, previsto para ocorrer
em 31 de dezembro de 2018 (art. 10), as transmissões analógicas devem
ser encerradas146. Com o encerramento da transmissão da TV analógica, as

nal de qualquer natureza, à exceção das previstas nos arts. 32 e 33 deste Regulamento. (art. 31 Decreto
5.371/2005, com redação dada pelo Decreto nº 5.413, de 2005).
145 Sobre as características do padrão de TV digital: alta definição (HDTV), definição padrão (STV), multi-
programação ou monoprogramação, transmissão móvel, etc, conferir: SCORSIM, Ericson Meister. TV
Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios - TVs pública, estatal e privada. Editora Fórum,
2008.
146 A título de conhecimento, o Município de Rio Verde, Estado de Goiás foi escolhido para ser o primeiro a
ter o sinal de transmissão analógica dos serviços de radiodifusão de sons e imagens e retransmissão de
televisão desligado. Embora esse desligamento (switch off) estivesse previsto para ocorrer no dia 29 de
novembro de 2015, conforme cronograma definido pelo Decreto n. 5.820/2006, houve necessidade de
prorrogação do prazo, com previsão para ocorrer em 15 de fevereiro de 2016. De acordo com a Portaria
n. 841/2014, que regulamenta o Decreto n. 5.820/2006, é condição para o desligamento da transmissão
analógica dos serviços de radiodifusão de sons e imagens e retransmissão de televisão que pelo menos
93% dos domicílios que acessem o serviço livre, aberto e gratuito por transmissão terrestre estejam ap-

76
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

pessoas somente poderão acessar à programação da TV digital, mediante


um televisor digital ou a adoção de conversor digital, adaptado ao televisor
analógico.

O STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.944/DF julgou a


constitucionalidade do Decreto que institui o padrão de TV Digital. O referido
Decreto foi declarado constitucional. Conforme voto do Ministro Carlos
Ayres Britto: “A televisão digital, comparativamente com a TV analógica,
não consiste em novo serviço público. Cuida-se da mesma transmissão de
sons e imagens por meio de ondas radioelétricas. Transmissão que passa
a ser digitalizada e a comportar avanços tecnológicos, mas sem perda da
identidade jurídica”.147

A seguir a análise da outorga dos serviços de televisão e rádio por radiodifusão.

4. OUTORGA DO SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO DE SONS E


IMAGENS POR CONCESSÃO PELO PODER EXECUTIVO, EM
CONJUNTO COM O CONGRESSO NACIONAL
A Constituição determina que compete ao Poder Executivo, juntamente
com o Congresso Nacional, a outorga dos serviços de radiodifusão de sons
e imagens e radiodifusão sonora, por dez anos para as emissoras de rádio
e de quinze anos para as de televisão, com possibilidade de renovação.

tos à recepção da televisão digital terrestre. Todavia, após pesquisa encomendada pela GIRED (Grupo
de Implantação do Processo de Redistribuição e Digitalização) e realizada pelo IBOPE no Município de
Rio Verde/GO, durante os dias 19 a 22 de novembro, foi constatado que caso o cronograma inicial fosse
cumprido 38% das famílias de Rio Verde ficariam sem sinal de TV. A prorrogação do prazo de desliga-
mento do sinal analógico no Município teste pode se tornar tendência e se aplicar sobre todo o cronogra-
ma em relação aos demais municípios brasileiros previsto pelo Decreto n. 5.820/2006. Cumpre destacar
que o adiamento do cronograma de desligamento do sinal de transmissão analógica dos serviços de
radiodifusão de sons e imagens e retransmissão da TV aberta (switch off) pode gerar prejuízos as opera-
doras de telecomunicações, pois interfere na disponibilização de serviços de 4G na faixa de 700 MHz.
147 Na visão do autor, a matéria da adoção da tecnologia digital no âmbito do sistema de radiodifusão pri-
vado deveria ter sido debatida e aprovada por lei no Congresso Nacional, e não por mero decreto.

77
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Compete ao Presidente da República a outorga dos serviços de televisão


por radiodifusão, enquanto que compete ao Ministério das Comunicações a
outorga dos serviços de radiodifusão sonora.148

A Constituição autoriza a lei a adotar o regime de delegação estatal dos


serviços de televisão à iniciativa privada, mediante concessão de serviço
público. A concessão é utilizada para outorga das estações geradoras de
radiodifusão comercial.

A autorização é adotada na hipótese dos serviços de retransmissão e de


repetição de sons e imagens, atividades secundárias em relação aos serviços
de radiodifusão de sons e imagens.149

A concessão dos serviços de radiodifusão não está sujeita às disposições da


Lei n. 8.987/95, que trata do regime de concessão e permissão da prestação
de serviços públicos.150

Os contratos para exploração de serviços de radiodifusão, por sua


especialidade, são regidos pelos preceitos previstos no Decreto n. 52.795/63,
com aplicação subsidiária da Lei Federal n. 8.666/93 (Lei Geral de Licitações
e Contratos Administrativos).

148 Cf. art. 223, da Constituição Federal. No mesmo sentido, as disposições do art. 6º do Decreto n.º
52.795/1963:
Art. 6º À União compete, privativamente, autorizar, em todo território nacional, inclusive águas territo-
riais e espaço aéreo, a execução de serviços de radiodifusão.
§ 1o  Compete ao Presidente da República outorgar, por meio de concessão, a exploração dos serviços de
radiodifusão de sons e imagens.   (Redação dada pelo Decreto nº 7.670, de 2012) 
§ 2o  Compete ao Ministro de Estado das Comunicações outorgar, por meio de concessão, permissão ou
autorização, a exploração dos serviços de radiodifusão sonora.   (Redação dada pelo Decreto nº 7.670, de
2012) 
149 Cf. art. 4º, inc. II, do Decreto n. 5.371/2005.
150 Cf. art. 41, da Lei n. 8.987/95.

78
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

5. PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIDADE DOS SISTEMAS DE


RADIODIFUSÃO PRIVADO, PÚBLICO E ESTATAL
A Constituição, em seu art. 223, reconhece o princípio da complementaridade
dos sistemas de radiodifusão privado, público e estatal, quando trata das
outorgas e renovações de concessão, permissão e autorização do serviço
de radiodifusão sonora e de sons e imagens. Este princípio constitucional
dispõe que na organização dos serviços de radiodifusão de sons e imagens
e radiodifusão sonora, seja pelo legislativo, seja pelo executivo, deve ser
observada a distinção entre os regimes jurídicos dos setores privado, público
e estatal. Daí porque configura-se o setor privado com a participação das
empresas privadas de TV e rádio por radiodifusão, com finalidade lucrativa,
autonomia na produção e programação, liberdade contratual, entre outras
características relevantes.

Também, em razão do princípio constitucional da complementaridade dos


sistemas de radiodifusão, a necessidade de o legislador organizar o setor
privado, público e estatal. No âmbito infraconstitucional, relembre-se a
configuração da Lei 4.117/1962, aplicável às concessionárias dos serviços
de TV e rádio por radiodifusão, a Lei da Radiodifusão Pública (Lei n.
11.652/2008, aplicável à Empresa Brasil de Comunicação), Lei das Rádios
Comunitárias (Lei n. 9.612/1998).

6. RESPONSABILIDADE PELA GESTÃO E CONTEÚDO EDITORIAL


DAS EMPRESAS PRIVADAS DE TV E RÁDIO
A Constituição dispõe que a gestão das empresas de radiodifusão é
obrigatoriamente privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais
de 10 (dez anos), inclusive a responsabilidade editorial e as atividades

79
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

de seleção e direção da programação.151 A empresa privada de TV por


radiodifusão detém a liberdade de programação e responsabilidade quanto
aos conteúdos difundidos para o público. Aqui, é importante diferenciar o
direito à informação da publicidade. A publicidade é a principal fonte de
financiamento dos serviços de televisão.152 Daí a necessidade de se preservar
a independência do meio de comunicação diante do mercado publicitário,
principalmente para fins de garantia do direito do público à informação
verdadeira e objetiva. A título ilustrativo, existem diversos casos de aberturas
de inquéritos civis e ações judiciais contra emissoras de televisão para apurar
a responsabilidade diante de ofensas a direitos fundamentais.153

151 Por exemplo, na hipótese de patrocínio por instituição financeira de programa de notícias (telejornal),
há potencial risco do patrocinador influenciar o conteúdo editorial deste programa informativo. Há,
portanto, conflito de interesses entre o direito do público à informação e a publicidade comercial. Ao
invés de informar, no telejornal, em reportagens ou entrevistas, o veículo pode se predispor a vender,
direta ou indiretamente, algum produto, serviço ou divulgar a marca comercial para os consumidores.
Por outro lado, a título ilustrativo, no âmbito esportivo, a Lei Pelé inclusive proíbe as concessionárias,
permissionárias ou autorizatárias dos serviços de radiodifusão e, também, as empresas de televisão por
assinatura, de patrocinar ou veicular sua marca, seus canais ou títulos de seus programas, nos uniformes
de competições das entidades desportivas.
152 O formato tradicional da publicidade está baseado nos anúncios de poucos segundos veiculados nos
intervalos da programação. Porém, desenvolveu-se técnicas de marketing para a inserção de marcas e
produtos dentro dos próprios programas televisivos.
153 Destaque-se que o Ministério Público tem relevante papel quanto à fiscalização das outorgas dos ser-
viços de televisão por radiodifusão, bem como para fiscalizar eventuais ilegalidades praticadas na pro-
gramação e na publicidade comercial veiculada pelas concessionárias. Daí o cabimento de ações civis
públicas para apurar infrações contra a legislação dos serviços de radiodifusão e pleitear a aplicação
de penalidades em relação às concessionárias dos serviços de televisão por radiodifusão. Existem inú-
meros exemplos de ações propostas pelo Ministério Público para a defesa dos direitos das crianças e
adolescentes em relação à classificação indicativa da programação televisiva, a proteção dos direitos
dos idosos, dos consumidores em relação à publicidade comercial na televisão, respeito à direito à li-
berdade religiosa, direito à informação atualizada em programa jornalístico, etc. Ver: www.prsp.mpf.
mp.br, item Comunicação. A título ilustrativo, a rede de televisão SBT (Sistema Brasileiro de Televisão)
foi condenada, em Ação Civil Pública proposta pelo PROCON/SP (autos 0014146-33.2013.8.26.0053
– 5ª Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo), a pagar indenização de setecentos mil reais por
danos morais coletivos, em decorrência da promoção de merchandising direcionado ao público infantil
na novela Carrossel. De acordo com a sentença, (...) “houve o atingimento de um valor essencial a toda
a classe de consumidores, qual seja, o sadio e respeitoso desenvolvimento das crianças. Isso porque a
Emissora valeu-se da ingenuidade, da falta de perspicácia e da imaturidade do público infantil para dele
se aproveitar economicamente, incutindo-lhes a necessidade de aquisição dos produtos veiculados.”

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

7. PROPRIEDADE DAS EMISSORAS DE TV E RÁDIO POR


RADIODIFUSÃO
A Constituição permite a propriedade das empresas de radiodifusão para
pessoas jurídicas estabelecidas e constituídas sob as leis brasileiras e com
sede no Brasil.154

7.1 LIMITES À PROPRIEDADE PRIVADA NAS EMPRESAS DE


RADIODIFUSÃO
A Lei 4.117/62, alterada pelo Decreto-Lei 236/67, estabelece os limites à
propriedade privada das emissoras de televisão155. A regra impõe como
critério o número de estações de radiodifusão geradora no âmbito nacional
(máximo dez) e regional (duas por estado), de propriedade de uma mesma
entidade.156 Não são consideradas neste limite as propriedades sobre as
estações repetidoras e retransmissoras. Trata-se de medida de controle
prévio das estruturas de comunicação social. Sobre o tema, registre-se que
a Lei de Comunicação Audiovisual de Acesso Condicionado contém regra
que restringe a propriedade cruzada entre empresas de radiodifusão e
as empresas de telecomunicações, sendo que o controle e titularidade de
participação superior a 50% do capital total e votante de empresas prestadoras
de serviços de telecomunicações de interesse coletivo não poderá ser
detido, direta, indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum,

154 Constituição, Art. 222, caput.


155 Merecem destaque as ações civis públicas propostas, em novembro de 2015, pelo Ministério Público
Federal de São Paulo com pedido de cancelamento da outorga do serviço de radiodifusão sonora atribu-
ída a empresas que possuem deputado e (ou) senador em seu quadro societário. Pretende-se cancelar a
outorga do serviço de radiodifusão tanto em relação ao parlamentar quanto à empresa de radiodifusão,
com base nas disposições do art. 54, inc. I, letra “a”, e inc. II, letra “a”, da Constituição Federal. O tema
será analisado de maneira mais aprofundada no tópico 7.3 do presente capítulo.
156 Cf. Art. 12, item 2, do Decreto-Lei n. 236/1967.

81
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

por concessionárias e permissionárias de radiodifusão sonora e de sons e


imagens.157

7.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO NAS EMPRESAS


DE RADIODIFUSÃO
A Constituição restringe a participação do capital estrangeiro nas empresas
de radiodifusão e garante aos brasileiros 70% (setenta por cento) do capital
total e do capital votante destas empresas e responsabilidade pela gestão
das atividades e o conteúdo da programação.158 A Lei n. 4.117/62, alterada
pela Lei n. 10.610/2002, dispõe sobre participação de capital estrangeiro
nas empresas de radiodifusão.159

7.3 PROPRIEDADE DE EMPRESAS DE RÁDIO E TELEVISÃO POR


RADIODIFUSÃO POR SENADORES E DEPUTADOS
A Constituição preceitua que os Deputados e Senadores, desde a posse,
não podem ser proprietários, controladores ou diretores de empresas que
desfrutem de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público, ou nela exercer função remunerada (art. 54, inc. II, “a”). Também,

157 Cf. art. 5º, da Lei n. 12.485/2011.


158 Constituição, Art. 222, caput.
159 Cf. artigo 38, alínea “a”, da Lei n. 4.117/62:
Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para explorar serviços de radiodifusão, serão obser-
vados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas:
a) os administradores ou gerentes que detenham poder de gestão e de representação civil e judicial serão
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. Os técnicos encarregados da operação dos equi-
pamentos transmissores serão brasileiros ou estrangeiros com residência exclusiva no País, permitida,
porém, em caráter excepcional e com autorização expressa do órgão competente do Poder Executivo, a
admissão de especialistas estrangeiros, mediante contrato;

82
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

a Constituição impede que Deputados e Senadores, desde a expedição


do diploma, firmem ou mantenham “contrato com pessoa jurídica de
direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista
ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes” (art. 54, inc. I, “a”). Como consequência
para a infração ao dispositivo constitucional sanciona-se com a perda do
mandato.160

Na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 246/DF161 , Rel.


Ministro Gilmar Mendes, o STF julgará os requerimentos para que o Poder
Executivo não mais outorgue, nem renove, nem que o Poder Legislativo
aprove, concessões, permissões e autorizações de radiodifusão a pessoas
jurídicas que possuam em seu quadro de sócios ou associados políticos
titulares de mandato eletivo. Também, analisará pedido de impedimento de
diplomação de políticos eleitos que sejam, direta ou indiretamente, sócios
ou associados à pessoas jurídicas concessionárias, permissionárias ou
autorizatárias de radiodifusão. E, também, julgará a aplicação da vedação
do art. 54, I, “a”, e 54, II, “a”, da Constituição para fins de declaração da
inconstitucionalidade do controle de concessões, permissão e autorizações
de radiodifusão por pessoas jurídicas das quais deputados ou senadores
sejam sócios ou associados.

160 Constituição: art. 54, II, letra “a”. A União, no âmbito das outorgas das concessões dos serviços de ra-
diodifusão, tem adotado interpretação restrita do referido artigo, ao entender que há somente proibição
para os agentes políticos quanto à participação na gestão da empresa. Ou seja, conforme esta interpre-
tação administrativa, se o político for apenas sócio da empresa de radiodifusão não há violação à proibi-
ção constitucional. Ver LIMA, Venício Artur de. Regulação das comunicações. História, poder e direitos.
São Paulo: Paulus, 2011, p. 116-117.
161 Até a conclusão deste livro, a ADPF 246/DF aguarda julgamento no STF.

83
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

No âmbito da Lei n. 4.117/62162, o art. 38, parágrafo único, na forma da


redação da Lei n. 10.610/2002, que disciplina o regime da concessão dos
serviços de TV e Rádio por radiodifusão, dispõe que não poderá exercer a
função de diretor ou gerente de concessionária ou autorizada de serviço de
radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade parlamentar ou de foro
especial163. Ou seja, a própria lei especial do setor de radiodifusão não proíbe
a propriedade de empresa de TV e Rádio por parlamentares ou sequer proíbe
que seja outorgado o serviço de radiodifusão. A Lei n. 4.117/1962 veda que o
parlamentar desempenhe a função de diretor ou gerente da concessionária
ou autorizada do serviço de radiodifusão164, conforme redação conferida
pela Lei n. 10.610/2002, que ampliou a proibição para alcançar também
a permissionária e autorizada do serviço de radiodifusão. Assim, uma lei
editada após a Constituição de 1988 (Lei n. 10.610/2002), delimitou a
proibição ao parlamentar quanto ao exercício da função de direção ou gerência
de concessionária, permissionária ou autorizada do serviço de radiodifusão.
Porém, não proibiu a propriedade das empresas de radiodifusão pelos
parlamentares. Portanto, como a princípio presume-se constitucional a Lei

162 Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para explorar serviços de radiodifusão, serão obser-
vados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas: (Redação dada pela Lei nº 10.610,
de 20.12.2002).
Parágrafo único. Não poderá exercer a função de diretor ou gerente de concessionária, permissionária
ou autorizada de serviço de radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade parlamentar ou de foro es-
pecial. (Redação dada pela Lei nº 10.610, de 20.12.2002).
163 Cf. Lei 4.117/1962, Art. 38 parágrafo único.
164 Lei n. 4.117/1962:
“Art. 38. (...)
Parágrafo unico. Não poderá exercer a função de diretor ou gerente de concessionária, permissionária
ou autorizada de serviço de radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade parlamentar ou de foro es-
pecial”.

84
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

n. 4.117/1962, não é possível desconsiderar a normatividade do parágrafo


único do art. 38, da Lei n. 4.117/1962. O afastamento eventual da eficácia
do art. 38, parágrafo único, da Lei n. 4.117/1962 depende do exercício do
controle jurisdicional, mediante a declaração de sua inconstitucionalidade,
se for o caso165.

7.4 PROPRIEDADE DE EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO POR


ENTIDADES RELIGIOSAS
A Constituição protege a liberdade de expressão e comunicação religiosa.
Porém, a Constituição Federal não adota o direito de acesso das igrejas aos
serviços televisão por radiodifusão, tal como o faz expressamente para os
partidos políticos. Daí a abertura do texto para que o legislador discipline
esta questão, principalmente no âmbito do setor privado de radiodifusão.166
Entretanto, não há regra legal específica sobre esta questão.167 O legislador
pode garantir o acesso ao tempo de televisão às associações religiosas, porém
desde que estabeleça o condicionamento deste acesso. A lei não pode proibir
o acesso das entidades religiosas, mas pode estabelecer restrições.168 Além
disto, a disciplina faz-se necessária porque a radiodifusão é qualificada como
serviço público, então a programação deve ser destinada ao público em geral,
e não para uma audiência particular. Deve ser garantida a isonomia entre

165 Vide nota n. 160.


166 A Empresa Brasil de Comunicação regulamentou esta questão em resolução para garantir a isonomia
entre as entidades religiosas, mediante faixas de programação.
167 Existem projetos de lei que tratam da proibição arrendamento, da subconcessão e cessão dos canais de
televisão, com propostas de modificações da Lei 4.117/1962. Tais medidas são motivadas para restringir
o acesso das entidades religiosas à programação das emissoras de televisão aberta.
168 Segundo Jonatas Machado: “As confissões religiosas pretendem comunicar a sua mensagem. (…) Como
vimos anteriormente, tal pretensão encontra-se cabalmente protegida pelo direito à liberdade religiosa,
abarcando a utilização de todos os meios constitucionalmente legítimos”. In Liberdade religiosa numa
comunidade constitucional inclusiva. Dos direitos da verdade aos direitos dos cidadãos. Coimbra: Edi-
tora Coimbra, 1996, p. 391.

85
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

as diversas religiões. Em lei, deve-se distinguir o acesso à programação,


o qual pode ocorrer mediante a compra de espaço na programação, da
obtenção de outorga de canal de televisão.169 O tratamento normativo da
questão deve justamente considerar a natureza escassa das frequências
do espectro, utilizada nos serviços de televisão aberta. Diferentemente, no
âmbito da televisão por assinatura, por existir uma multiplicidade de canais
de programação, há plena liberdade de acesso das entidades religiosas.

8. TRANSFERÊNCIA DA CONCESSÃO DE TELEVISÃO E RÁDIO


A Lei n. 4.117/1962 estabelece os requisitos para a transferência da concessão
do serviço de televisão e rádio por radiodifusão. A transferência da concessão
é possível, desde que haja a aprovação do poder concedente, no caso a União,
mediante declaração de vontade do Presidente da República, na hipótese dos
serviços de televisão por radiodifusão, e declaração de vontade do Ministro
das Comunicações, na hipótese dos serviços de rádio por radiodifusão.170
A título ilustrativo, há ação judicial171 proposta pelo Ministério Público

169 Uma alternativa regulatória, de lege ferenda, ao invés de se garantir outorga de canal de televisão para
uma única igreja, a lei poderia estabelecer obrigações de compartilhamento de um canal de frequências
entre diversas associações religiosas.
170 Cf. art. 38, alínea “c”, da Lei n. 4.177/62.
171 139 Em Ação Cautelar (processo n.º 0006235-69.2015.4.03.6100, em trâmite na 6ª Vara Federal Cível
da 1ª Subseção Judiciária do Estado de São Paulo), o Ministério Público Federal pleiteia liminarmente:
(i) a suspensão da execução do serviço de radiodifusão conferido a Abril Radiodifusão S.A. e transferida
a Spring Televisão S.A (rés); (ii) determinação para que as empresas rés apresentem toda a documenta-
ção que instrumentalizou a venda da licença de utilização de radiofrequência e seus ativos operacionais,
inclusive quanto aos aspectos comerciais financeiros da transação; (iii) determinação pra que a União se
abstenha de conceder às rés novas outorgas para execução dos serviços de radiodifusão e de autorizar a
transferência de outorga às réus. Em data de 23 de julho de 2015, a medida cautelar requerida foi apre-
ciada, sendo o pedido julgado improcedente, ante a ausência de elementos suficientes ao reconhecimen-
to de qualquer infração à legislação sobre a exploração de serviços de radiodifusão, especialmente tendo
o órgão competente da Administração (ANATEL) se pronunciado quanto a aparente ausência de vícios
no contrato de transferência da concessão, bem como que eventual infringência à ordem legal praticada
pela Abril Radiodifusão S.A. ou pela Spring Televisão S.A. decorreria da efetiva constatação da transfe-
rência direta da execução dos serviços de radiodifusão.

86
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Federal questionando a legalidade da transferência do canal de televisão


MTV, televisão brasileira pertencente a Abril Radiodifusão S/A, para a
empresa Viacom, detentora mundial da marca “MTV”, na TV paga. Alega-
se ilegalidade da transferência da concessão, com violação ao artigo 223,
caput, da Constituição Federal172, artigo 38, alínea “c”, da Lei n.º 4.117/62173,
e artigos 90, 94 e 122 do Decreto n. 52.795/63174.

Em dezembro de 2015, o Ministério Público Federal propôs Ação Civil Pública contra as empresas Abril
Radiodifusão S.A. e Spring Televisão S.A. (processo
0026301-70.2015.4.03.6100 – 6ª Vara Federal Cível da 1ª Subseção Judiciária do Estado de São Paulo),
requerendo a concessão de tutela antecipada para suspender os efeitos do negócio jurídico estabelecido
entres as rés, inclusive com a suspensão da exploração do serviço público de radiodifusão. Alternativa-
mente, requereu a concessão de tutela antecipada de evidencia, com obrigação de fazer, para que as rés
comprovem, através da documentação pertinente, que o negócio jurídico celebrado entre as mesmas
atende aos requisitos legais e constitucionais do art. 175, com relação à exploração do serviço público de
radiodifusão por particular. Em 08 de janeiro de 2016 a tutela antecipada foi indeferida.
172 Constituição Federal:
Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o
serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos
sistemas privado, público e estatal.
173 Lei nº 4.117/62: Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para explorar serviços de radiodi-
fusão, serão observados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas:
(...)
c) a alteração dos objetivos sociais, a modificação do quadro diretivo, a alteração do controle societário
das empresas e a transferência da concessão, da permissão ou da autorização dependem, para sua vali-
dade, de prévia anuência do órgão competente do Poder Executivo;
174 Decreto nº 52.795/63:
Art. 90. Nenhuma transferência, direta ou indireta de concessão ou permissão, poderá se efetivar sem
prévia autorização do Govêrno Federal, sendo nula, de pleno direito, qualquer transferência efetivada
sem observância dêsse requisito.
Art. 94. O requerimento de transferência direta de concessão e permissão será apresentado ao Minis-
tério das Comunicações. § 1o O pedido de que trata o caput será formulado em conjunto pela entidade
detentora da concessão ou permissão e por aquela para a qual a outorga será transferida, e será instruído
com os formulários e documentos estabelecidos em ato do Ministro de Estado das Comunicações. (...) §
4o Compete ao Presidente da República a decisão sobre os pedidos de transferência direta de concessão
de serviços de radiodifusão de sons e imagens, que serão previamente instruídos pelo Ministério das
Comunicações.
Art. 122. Para os efeitos deste Regulamento são consideradas infrações na execução dos serviços de
radiodifusão os seguintes atos praticados pelas concessionárias ou permissionárias: (…) 16. Efetuar a
transferência direta ou indireta da concessão ou permissão, sem prévia autorização do Govêrno Federal;
(...) 34. Executar os serviços de radiodifusão em desacordo com os termos da licença ou não atender às
normas e condições estabelecidas para essa execução;

87
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Segundo o Ministério Público Federal, a Lei nº 4.117/62 e o Decreto


nº 52.795/63 permitem é que a emissora comprometa-se a veicular a
programação indicada pelo terceiro, o que não se confunde com a cessão
(total ou parcial) do direito de uso e gozo sobre o bem público concedido
ao delegatário (o canal no espectro de radiofrequências). Em sua defesa,
a empresa Abril Radiodifusão S/A argumenta, em suma, a ausência de
interesse de agir por parte do MPF, a ausência dos requisitos para concessão
da medida cautelar, bem como a regularidade da contratação e inexistência de
ofensa à legislação. Enfim, caberá ao Poder Judiciário aplicar corretamente
a legislação federal ao caso concreto e decidir sobre a transferência da
concessão do serviço de TV por radiodifusão.

9. DIREITO DE USO DAS FREQUÊNCIAS PELAS EMISSORAS DE


TV E RÁDIO
O ato de outorga da concessão das estações geradoras de televisão confere
o direito ao uso de um canal de frequências da largura de 6 (seis) MHz de
faixa, com objetivo de emitir e transmitir programação de televisão para ser
recebida direta e livremente pelo público em geral em determinada área de
cobertura geográfica. Diferentemente, no caso dos serviços de radiodifusão
sonora a faixa de frequências é outra, geralmente a faixa de radiodifusão
sonora em frequência modulada possui 20 MHz de largura e está situada
entre 87,7 e 108 MHz.175

175 Informações disponíveis em no site Wikipédia. Acesso realizado em 09 de novembro de 2015. https://
pt.wikipedia.org/wiki/Modula%C3%A7%C3%A3o_em_frequ%C3%AAncia

88
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

10. LICITAÇÃO PARA OUTORGA DOS SERVIÇOS DE


RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS E RADIODIFUSÃO
SONORA
Para obtenção de frequências do espectro radioelétrico e execução dos
serviços de radiodifusão exige-se a realização de licitações públicas, regidas
pelo Decreto nº 52.795/1963, que trata do Regulamento dos serviços de
radiodifusão. O direito à prestação do serviço de radiodifusão somente
é reconhecido, após a realização da licitação e a celebração do contrato
de concessão com a União. Os Editais de Licitação fixam as regras para
a competição entre os interessados quanto à outorga dos serviços de
radiodifusão. Há Editais para os serviços de televisão por radiodifusão, e
editais para os serviços por radiodifusão sonora. Portanto, as regras dos
editais são diferentes, conforme a natureza do serviço, se televisão ou
rádio, diferindo em relação às condições de participação, contatos, preço da
outorga, garantias, obrigação quanto à programação, etc.

11. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PRODUÇÃO E


PROGRAMAÇÃO DAS EMISSORAS DE TV E RÁDIO
A Constituição, em seu art. 221, contempla os princípios da produção e
programação das emissoras de rádio e televisão176. Assim, as empresas de
TV e rádio por radiodifusão devem dar preferência a finalidades educativas,
artísticas, culturais e informativas177. Outro princípio é a promoção por estas

176 Registre-se que no âmbito doutrinário há controvérsia sobre a aplicabilidade e eficácia dos referidos
princípios constitucionais. Para uns doutrinadores, os princípios são autoaplicáveis, independentemen-
te da edição da lei que regulamente a sua incidência sobre as emissoras de TV e rádio. Para outros, os
princípios da produção e programação de TV e rádio para irradiar sua eficácia dependem da interme-
diação legislativa. Destaque-se que estes princípios constitucionais sobre produção e programação são
aplicáveis aos serviços de TV por assinatura, conforme determina o art. 222, §3º, da Constituição. Sobre
o tema, consultar, SCORSIM, Ericson Meister. Comunicação Social e Democracia: regime jurídico dos
servidores de televisão aberta. Direito Constitucional Brasileiro, Coordenação Clèmerson Merlin Cléve,
1ª ed, v.III, São Paulo/SP: Ed. Revista dos Tribunais, 2014, p. 619.
177 Cf. Art. 221, inc. I.

89
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

empresas de radiodifusão da cultura nacional e regional e estímulo à produção


independente que objetiva sua divulgação178. Também, há o reconhecimento
do princípio da regionalização da produção cultural, artística e jornalística,
conforme percentuais estabelecidos em lei179. E, finalmente, o princípio do
respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família180.

A produção de conteúdos audiovisuais para as emissoras de TV e rádio, sejam


as da TV aberta ou da TV por assinatura, é relevante mercado. Há legislação
específica sobre este setor de produção de entretenimento e cultural, a ser
seguida pelos agentes econômicos.

12. CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DA PROGRAMAÇÃO DE


TELEVISÃO
A Constituição assegura a competência da União para exercer a classificação
indicativa sobre a programação de televisão.181 Por sua vez, o Supremo
Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 2.404, o Ministro Rel. Dias Toffoli
proferiu voto referente às normas sobre classificação indicativa da progra-
mação de televisão no seguinte sentido de declarar a inconstitucionalidade
da expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 da Lei
nº 8.069/90.182 Em seu voto, Dias Toffoli argumenta: “O que se faz, nesse

178 Cf. Art. 221, inc. II.


179 Cf. Art. 221, inc. III.
180 Cf. Art. 221, inc. IV.
181 Cf. Art. 21, inc. XVI. O tema da classificação indicativa é regulado na Portaria n. 368/2014 do Ministério
da Justiça.
182 O voto do Min. Rel. Dias Toffoli no sentido da inconstitucionalidade da regra da Lei do Estatuto da
Criança e do Adolescente, não sendo as emissoras de televisão obrigadas a seguir os horários da classi-
ficação indicativa, apenas podendo ser multadas se não informarem a faixa etária indicada, foi acompa-
nhado pelos votos dos Ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia e Carlos Ayres Britto. Em data de 05.11.2015 o
Julgamento da ADI 2.404 foi retomado pelo STF. O Ministro Edson Fachin votou no sentido da consti-
tucionalidade da regra do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pediu vista o Min. Teori Zavascki.

90
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

caso, não é classificação indicativa, mas restrição prévia à liberdade de


conformação das emissoras de rádio e de televisão, inclusive acompanhada
de elemento repressor, de punição. (...) Esse caráter autorizativo, vinculativo
e compulsório conferido pela norma questionada ao sistema de classificação,
data venia, não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, inciso XVI; e 220, § 3º,
I, da Constituição da República.” E conclui: “Não deve o Estado substituir
os pais na decisão sobre o que podem ou não os filhos assistir na televisão
ou ouvir no rádio. Deve, sim, o Estado dotar os pais, as famílias, a sociedade
como um todo, dos meios eficazes para o exercício desse controle (...)”.

O ministro Luiz Fachin votou pela inconstitucionalidade sem redução de


texto, à expressão “em horário diverso do autorizado”, de modo a reconhecer
a nulidade de qualquer interpretação que condicione a veiculação de
espetáculos públicos por radiodifusão ao juízo censório da Administração,
admitindo apenas, como juízo indicativo, a classificação de programas para
sua exibição nos horários recomendados ao público infantil183.

Na Adi 869-2/DF, o STF, Rel. Ilmar Galvão, também, afirmou a liberdade de


informação do veículo de comunicação ao determinar a inconstitucionalidade
da sanção administrativa de suspensão da programação da emissora por até
dois dias, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente na hipótese de
divulgação de nome, ato, documento referente procedimento administrativo
ou judicial relativo à imputação de ato infracional à criança e adolescente.
A ação direta de inconstitucionalidade foi julgada procedente porque o
dispositivo legal ofenderia a liberdade de manifestação do pensamento,
criação, expressão e informação, prevista no art. 220, da Constituição.

183 Até o momento da conclusão deste livro o julgamento no STF da ADI 2.404 não havia sido concluído.

91
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

13. PUBLICIDADE COMERCIAL


A Lei n. 4.117/1962 assegura à concessionária dos serviços de televisão e
rádio por radiodifusão o direito à veiculação de publicidade comercial.
Esta lei estabelece que o tempo destinado na programação das estações de
radiodifusão destinado à publicidade comercial não poderá exceder 25%
(vinte e cinco por cento) do total da programação da emissora de televisão.
Destaque-se que a veiculação de publicidade comercial pelas emissoras de
televisão por radiodifusão é protegida no âmbito da liberdade de expressão
comercial, na forma da Constituição de 1988184. Daí porque se garante
a plena liberdade de expressão, com a vedação à censura dos conteúdos,
excetuadas as hipóteses especialíssimas previstas no texto constitucional e
legal, como é o caso das restrições à publicidade de tabaco, bebidas alcoólicas,
medicamentos185 e agrotóxicos.186

184 Sobre o tema SCORSIM, Ericson Meister e CLÈVE, Clèmerson Merlim. Concessão de serviço por radio-
difusão, liberdade de expressão e produção de conteúdos por terceiros ou em regime de coprodução.
Artigo publicado na Revista Brasileira de Direito Público (RBDP – nº 50, ano 13 – julho/setembro 2015)
e com versão disponível no site Jus Navigandi - www.jusnavigandi.com.br, out. 2015.
185 A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), através Ação Direta de Inconstitu-
cionalidade (ADI 5424), questiona no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade da Lei
16.751/2015, do Estado de Santa Catarina, que proíbe a propaganda de medicamentos e similares nos
meios de comunicação sonoros, audiovisuais e escritos daquele estado da federação. No mesmo senti-
do a ADI 5432, proposta pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão – ABRATEL. A
ABERT sustenta que compete privativamente a União legislar sobre propaganda comercial de medica-
mentos, conforme artigos 22, inciso XXIX e 220, parágrafos 3º e 4º, da Constituição Federal. Também,
alega que a Constituição estabeleceu expressamente que a propaganda de medicamentos estará sujei-
ta apenas a restrições legais, mas “jamais ao banimento”. Em sentido semelhante, são os argumentos
apresentados pela ABRATEL. Na decisão da preliminar das referidas ADIs, realizado pelo STF em 14 de
dezembro de 2015, o Min. Relator Dias Toffoli determinou a suspenção da eficácia da Lei n. 16.751/2015
de Santa Catarina. Segundo o Min. Rel.: “... o Estado de Santa Catarina não apenas legislou em matéria
que não é da sua competência, como também o fez contrariando a lei federal que disciplina a matéria,
o que reforça a inconstitucionalidade da norma”. O mérito das Ações Diretas de Inconstitucionalidade
relativas à Lei n. 16751/2015, que proíbe a propaganda de medicamentos e similares nos meios de co-
municação sonoros, audiovisuais e escritos no Estado de Santa Catarina (ADI 5424 e 5432), aguarda
julgamento pelo Plenário do STF.
186 Outro tema sensível é a publicidade de produtos e serviços dirigida às crianças. A Resolução n. 163/2014,
do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), dispõe sobre a abusivida-
de do direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança e ao adolescente.

92
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

Neste aspecto, a liberdade de expressão protege as emissoras de televisão e


rádio por radiodifusão, a agência de publicidade e a empresa que promover
o anúncio do seu produto/serviços e(ou) marca na programação da televisão
e rádio. 187

13.1 PAPEL DO CONSELHO DE AUTORREGULAMENTAÇÃO


PUBLICITÁRIA: CONAR
Destaque-se, aqui, o papel do Conar188, Conselho de Autorregulamentação
publicitária, o qual julga representações formuladas por cidadãos ou pelas
próprias empresas concorrentes contra publicidades contrárias ao Código de
Ética da Publicidade. A responsabilidade pelo cumprimento das normas do
Código é do anunciante e de sua agência publicitária. Há princípios gerais a
serem seguidos na realização da atividade publicitária definidos no referido
ato do Conar. Nas infrações ao Código são as seguintes: a advertência,
recomendação de alteração ou correção do anúncio, recomendação aos
veículos de comunicação para que suspendam a divulgação do anúncio.
É prerrogativa do veículo de comunicação social recusar anúncio que seja
contrário aos princípios estabelecidos no Código de Autorregulamentação

187 A liberdade de expressão na promoção de anúncios em programas de televisão e rádio está submetida
ao Código de Defesa do Consumidor, especialmente as disposições do art. 37, que veda a publicidade
enganosa ou abusiva. A título ilustrativo, a rede de televisão SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) foi
condenado, em Ação Civil Pública proposta pelo PROCON/SP (autos n. 0014146-33.2013.8.26.0053 –
5ª Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo), a pagar indenização de setecentos mil reais por
danos morais coletivos, em decorrência da promoção de merchandising direcionado ao público infantil
na novela Carrossel. De acordo com a sentença, (...) “houve o atingimento de um valor essencial a toda
a classe de consumidores, qual seja, o sadio e respeitoso desenvolvimento das crianças. Isso porque a
Emissora valeu-se da ingenuidade, da falta de perspicácia e da imaturidade do público infantil para dele
se aproveitar economicamente, incultindo-lhes a necessidade de aquisição dos produtos veiculados.”
188 O CONAR é uma organização não-governamental (ONG), fundada e mantida pela propaganda brasilei-
ra, ou seja, pelas agências de publicidade, por empresas anunciantes e veículos de comunicação. Tem
como objetivo fiscalizar a ética da propaganda comercial veiculada no Brasil, norteando-se pelas dispo-
sições contidas no Código Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária.

93
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

publicitária ou que seja ofensivo à sua linha editorial, jornalística ou de


programação.189

14. PUBLICIDADE INSTITUCIONAL


Frequentemente, as emissoras de televisão e rádio veiculam a publicidade
institucional dos governos federal, estaduais e municipais. A publicidade
institucional é regulada pela Constituição, a qual proíbe a promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos, bem como exige que a mesma seja
de caráter educativo, informativo ou de orientação social.190 Neste aspecto,
as emissoras de televisão e rádio não podem ser responsabilizadas pela
veiculação de publicidade institucional, ainda que a mesma seja julgada
como ilícita pelo Judiciário. Os responsáveis pela publicidade institucional
são, geralmente, os agentes políticos, os quais podem ser aplicadas as sanções
cabíveis, quando violada a legislação e a Constituição.

15. PUBLICIDADE POLÍTICA/PROPAGANDA ELEITORAL


O tempo de televisão e rádio é bem valioso objeto de negociações partidárias
nas disputas eleitorais e, consequentemente, formação de coligações
partidárias. A Lei 4.117/1962 obriga as emissoras de televisão e de rádio por
radiodifusão a veicular a propaganda partidária. Esta lei há de ser interpretada
no contexto da legislação eleitoral que disciplina as regras de realização da
propaganda política, e combate o uso indevido dos meios de comunicação
social no período eleitoral.191 Registre-se que a Constituição garante o direito
de acesso gratuito dos partidos políticos ao tempo de televisão (direito de

189 Ver: www.conar.org.br


190 Cf. Art. 37, §1 º.
191 A título ilustrativo, o abuso na utilização de meios de comunicação por candidatos, agentes públicos e
(ou) partidos políticos pode gerar a aplicação da cassação do mandato dos agentes públicos eleitos.

94
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

antena).192 Daí a intermediação legislativa para assegurar a concretização do


direito de antena dos partidos políticos.193

15.1 ABUSOS NA UTILIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


SOCIAL: RISCO DE PERDA DE MANDATO DOS AGENTES
POLÍTICOS
A título ilustrativo, o abuso na utilização de meios de comunicação por
candidatos, agentes públicos e (ou) partidos políticos pode gerar a aplicação da
cassação do mandato dos agentes públicos eleitos. Neste aspecto, é aplicável
a legislação eleitoral que tipifica as hipóteses de infrações cometidas pelos
candidatos a cargos eletivos e (ou) ocupantes da Chefia do Poder Executivo,
nos âmbitos federal, estadual e municipal.

No que concerne ao uso indevido dos meios de comunicação, o entendimento


jurisprudencial do TSE preconiza que a caracterização do ilícito decorre
da exposição massiva de um candidato nos meios de comunicação em
detrimento de outros, afetando a legitimidade e a normalidade das eleições
e podendo culminar na cassação do mandato.194 

192 CF, art. 14, §3 º.


193 Na ADI 4.430, Rel. Dias Toffoli, o STF, ao julgar o art. 47, §2 º da Lei 9.504/1997, garantiu aos novos
partidos políticos o direito de acesso proporcional aos dois terços do tempo destinado à propaganda elei-
toral gratuita no rádio e na televisão, e considera a “representação dos deputados federais que migrarem
diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos para a nova legenda na sua criação. Curiosamente,
aos partidos políticos é facultada na lei a possibilidade de receberem outorga de canais de televisão. Po-
rém, ao que consta, nenhum deles valeu-se desta prerrogativa legal. Todos valem-se do direito de antena
exercido mediante os canais de televisão privados e sobre os canais estatais distribuídos nos serviços de
televisão por assinatura.
194 Precedentes no TSE sobre uso indevido dos meios de comunicação social. Uso indevido dos meios de
comunicação: Ac. de 27.5.2014 no REsp nº 328108, rel. Min. Dias Toffoli; Ac. de 2.6.2009 no RO nº
2.346, rel. Min. Felix Fischer e Ac. de 24.6.2010 no RCED nº 672, rel. Min. Felix Fischer, red. designado
Min. Marcelo Ribeiro.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

16. DIREITO À REMUNERAÇÃO PELA CESSÃO DE


PROGRAMAÇÃO DA TV POR RADIODIFUSÃO PARA
VEICULAÇÃO NOS SERVIÇOS DE TV POR ASSINATURA:JOINT
VENTURE SOB ANÁLISE NO CADE
Três grupos de televisão por radiodifusão (SBT, Record e Rede TV)
promoveram a união de esforços, sob a forma de empresa joint-venture
para o licenciamento de sua programação, mediante pagamento, para
as prestadoras dos serviços de TV por assinatura.195 Com base na Lei da
Comunicação Audiovisual de Acesso condicionado, estas empresas de
radiodifusão sustentam o direito à remuneração pelas emissoras de televisão
por radiodifusão pela cessão de programação para transmissão em padrão
digital às prestadoras do serviço de TV por assinatura (art.32, §12). A
legalidade da criação da operação de joint venture das empresas no setor de
radiodifusão referida está sob a apreciação do Conselho Administrativo de
Defesa Econoômica - CADE, sob a perspectiva da Lei da Concorrência (Lei
n. 12.529/2011).

195 Sobre o assunto, ver SCORSIM. Ericson Meister. Criação de joint venture por empresas de TV por radio-
difusão para licenciamento de programação televisiva às prestadoras do serviço de TV por assinatura.
Disponível em http://meisterscorsim.com/criacao-de-joint-venture-por-empresas-de-tv-radiodifusao-para-licen-
ciamento-de-programacao-televisiva-as-prestadoras-do-servico-de-tv-por-assinatura/
A legalidade da criação da operação de joint venture das empresas de TV por radiodifusão está sob a apre-
ciação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE – no processo n. 08700.006723/2015-
21. Em 22 de dezembro de 2015, a Procuradoria Federal Especializada (PFE) junto ao CADE emitiu
parecer pela legalidade da criação da joint venture, bem como “pela legitimidade da cobrança pelas Re-
querentes (SBT, Record e Rede TV) dos seus sinais de TV Aberta diante do arcabouço lega existente (Lei
nº 12.85/2011), bem como pela possibilidade jurídica da existência de um mercado de licenciamento de
canais de TV aberta para SeAC”. Até o momento da conclusão deste artigo o julgamento não havia sido
concluído.

96
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

17. DIREITOS AUTORAIS SOBRE A PROGRAMAÇÃO DE


TELEVISÃO
Destaque-se que pertence, a princípio, à empresa de televisão por radiodifu-
são o direito autoral e a propriedade intelectual sobre os programas de
televisão veiculados ao público196. O formato do programa de televisão é
inclusive objeto de proteção pela legislação. Daí porque qualquer utilização
indevida da programação de televisão, sem a autorização do titular dos
direitos autorais e propriedade intelectual, enseja a adoção das ações
judiciais cabíveis, com pedido de suspensão da prática do ilícito, bem como
de reparação por danos.

17.1 COBRANÇA DE DIREITOS AUTORAIS PELO ECAD SOBRE


PROGRAMAÇÃO DE TELEVISÃO E RÁDIO 197

As emissoras de televisão e rádio por radiodifusão veiculam sua programa-


ção em sites na internet. Em razão disto, o Escritório Central de Arrecadação
e Distribuição de Direitos Autorais (ECAD) tem promovido ações de
cobrança de direitos autorais em relação às emissoras de rádio comercial por
transmitirem a mesma programação na internet (tecnologia de streaming
de áudio). A tendência jurisprudencial é no sentido de acolher a tese da
invalidade da cobrança em duplicidade de direitos autorais, no âmbito da
radiodifusão e na internet (simulcasting e webcasting).198 Destaque-se no

196 Excetuados os casos de licenciamento de programas de televisão de titularidade de terceiros.


197 O Superior Tribunal de Justiça (STJ) realizou audiência pública, em data de 14 de dezembro de 2015, às
9h, para discutir o emprego da tecnologia streaming na transmissão ou execução de músicas via inter-
net e sua relação com a geração de direitos autorais. Esta audiência pública é instalada para embasar o
julgamento do REsp 1.559.264, de relatoria do ministro Villas Bôas Cueva.
198 A título de complementação, ver SCORSIM. Ericson Meister. Empresas de TV e rádio por radiodifusão
x ECAD. Disponível em http://meisterscorsim.com/empresas-de-tv-e-radio-por-radiodifusao-x-ecad/

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

STF está pendente o julgamento as ADIs 5062/DF199 e 5065200. Nas ações,


são questionados dispositivos alterados e acrescentados à Lei 9.610/98 (Lei
de Direitos Autorais) pela Lei 12.853/13 e que dizem respeito ao modo de
aproveitamento econômico dos direitos autorais incidentes na execução
pública de obras musicais e à organização das associações e do ECAD.

18. TRANSMISSÃO DE EVENTOS ESPORTIVOS PELA TELEVISÃO:


O CASO DO FUTEBOL
As empresas de TV por radiodifusão são livres para, a partir de sua
autonomia privada, celebrar acordos comerciais para transmissão de
eventos esportivos, como é o caso das partidas dos campeonatos de futebol
brasileiro e estaduais.201 Assim, os contratos firmados entre as emissoras
de televisão e os clubes de futebol, aonde são fixadas as obrigações entre as
partes e a remuneração respectiva, são os instrumentos jurídicos adequados
à normatização da relação entre ambos. Estes contratos podem prever
cláusulas de exclusividade nos direitos de transmissão das partidas de
futebol ou, alternativamente, prever a hipótese de compartilhamento destes

199 Fundamentação Constitucional: Art. 5°, XXII, XV, XVII, XXVIII, XX; Art. 170, IV. Dispositivo
Legal Questionado: Lei Federal n° 12853, 14 de agosto de 2013, e arts. 5°; 68; 097; 98; 98-A; 98-B;
98-C, 99, 99-A; 99-B; 100; 100-A; 100-B e 109-A, da Lei Federal n° 9610, de 19 de fevereiro de 1998.
Ministro Relator: Luiz Fux. Requerente: ABRAMUS - Associação Brasileira de Música e Artes As-
sim - Associação De Intérpretes e Músicos Associação de Músicos, Arranjadores e Regente Amar - SOM-
BRÁS - Sociedade Musical Brasileira Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – ECAD Socie-
dade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música - SBACEM Sociedade Independente
de Compositores e Autores Musicais - SICAM SOCINPRO - Sociedade Brasileira de Administração e
Proteção de Direitos Intelectuais. Julgamento: Até o momento de conclusão desse texto, tanto o re-
querimento liminar quanto o de mérito ainda não havia sido apreciados pelo STF.
200 Fundamentação Constitucional: Art. 5°, caput, X, XII, XVIII, XXII, XXVII, XX; Art. 173. Disposi-
tivo Legal Questionado: Lei Federal n° 12.853, 14 de agosto de 2013. Ministro Relator: Luiz Fux.
Requerente: União Brasileira de Compositores – UBC. Julgamento: Até o momento de conclusão
desse texto, tanto o requerimento liminar quanto o de mérito ainda não havia sido apreciados pelo STF.
201 Também, é significativa a transmissão dos Jogos Olímpicos e da Copa Mundial de Futebol.

98
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

direitos de transmissão entre duas ou mais emissoras de televisão, inclusive


para transmissões via internet.202

Em hipóteses de concorrência desleal ou abusos de posição dominante


quanto aos direitos sobre conteúdos audiovisuais ligados à transmissão dos
eventos esportivos, incidirão os dispositivos da Lei de Defesa da Ordem
Econômica.203

19. LEGISLAÇÃO ESPECIAL DE REPERCUSSÃO NOS SERVIÇOS


DE TV POR RADIODIFUSÃO
Destaque-se o regime jurídico dos serviços de TV por radiodifusão é definido,
principalmente, pela Lei n. 4.117/1962. Porém, existem outras leis especiais
que repercutem sobre os serviços de radiodifusão. A título ilustrativo, há
leis sobre o direito de resposta204, sobre conteúdo ambiental educativo na

202 A título de conhecimento, a Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf) ingressou, em 2015,
com ação judicial na 19ª Vara Cível de Pernambuco para impedir que a Rede Globo exiba a imagem dos
juízes durante os jogos de futebol no Brasil ou efetue o pagamento dos direitos de imagem/arena.
A Associação dos Árbitros sustenta o seu pedido de pagamento do direito de imagem com fundamento
no art. 5º, inc. XXVIII, alínea “a”, da Constituição Federal, que contempla a proteção às participações
individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades des-
portivas.
Por sua vez, as emissoras de televisão podem justificar o não pagamento do direito de imagem aos árbi-
tros com base na Lei n.º 13.155/2015, que assegura o pagamento de direitos de imagem/arena apenas
aos atletas em decorrência das transmissões televisivas, sem mencionar direito de imagem aos árbitros
e auxiliares (bandeirinhas).
203 O Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência tem analisado diversas questões sobre os direi-
tos de exclusividade nas transmissões dos jogos dos campeonatos do futebol brasileiro. No Processo
Administrativo n. 08012.006504/97-11, a Secretaria de Defesa Econômica (SDE) concluiu que o Clube
dos Treze praticou infração à ordem econômica ao vender os direitos de transmissão do Campeonato
Brasileiro de Futebol de forma agrupada, independentemente da mídia, nas temporadas de 1997 a 1999
e com cláusulas de exclusividade e de preferência na renovação dos contratos. Também, considerou que
TV Globo prejudicou a concorrência ao exercer influência direta sobre o formato de venda dos direitos
de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol, abusando de seu poder de mercado.
204 A lei 13.188/2015 dispõe sobre o direito de resposta ou retificação do ofendido em matéria divulgada,
publicada ou transmitida em veículo de comunicação social.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

programação de televisão205, cotas de negros na contratação pelas emissoras


de televisão e agências de publicidade206, limite de aumento do áudio nos

A título ilustrativo, duas ações diretas de inconstitucionalidade em trâmite no STF questionam a Lei n.
13.188/2015. Na ADI n. 5418/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, argumenta-se que a referida lei, especialmente
ao estabelecer o prazos exíguos para cumprimento do direito de resposta pelos veículos de imprensa,
atenta contra a liberdade de imprensa e de expressão e ofende os princípios da ampla defesa, do con-
traditório, da igualdade das partes, do devido processo legal e do juiz natural. Há comparação entre a
nova legislação com a antiga Lei de Imprensa (Lei 5.250/1967), declarada incompatível com a Consti-
tuição Federal pelo Supremo no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) 130. Daí o pedido de decretação da inconstitucionalidade da Lei Federal n. 13.188/2015 em sua
totalidade ou no art. 2, parágrafo terceiro, parágrafo 1, incisos I e II do art. 6 e art. 10. Por sua vez, na
ADI 5415/DF, Min. Rel. Dias Toffoli, alega-se ofensa ao direito à efetiva tutela jurisdicional, o princípio
do juiz natural e o princípio da separação de poderes.
Em decisão liminar, o Min. Rel. Dias Toffoli entendeu que o art. 10 da Lei Federal n. 13.188/2015, em
leitura literal, “incorre em patente vício de inconstitucionalidade.”
Segundo o Min. Relator: “Admitir que um juiz integrante de um Tribunal não possa, ao menos, conceder
efeito suspensivo a recurso dirigido contra decisão de juiz de 1º grau é subverter a lógica hierárquica
estabelecida pela Constituição, pois é o mesmo que atribuir ao juízo de primeira instância mais poderes
que ao magistrado de segundo grau de jurisdição.”
205 Lei n. 9.795/1999 - Política Nacional de Educação Ambiental (art. 3º, inc. IV):
Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incum-
bindo:
IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação
de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua
programação.
206 Lei n. 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial - (arts. 43 a 46):
Art. 43.  A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a herança cultural e a participa-
ção da população negra na história do País.
Art. 44.  Na produção de filmes e programas destinados à veiculação pelas emissoras de televisão e em
salas cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores,
figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológi-
ca, étnica ou artística.
Parágrafo único.  A exigência disposta no caput não se aplica aos filmes e programas que abordem espe-
cificidades de grupos étnicos determinados.
Art. 45.  Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão
e em salas cinematográficas o disposto no art. 44.
Art. 46.  Os órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica ou fundacional, as
empresas públicas e as sociedades de economia mista federais deverão incluir cláusulas de participação
de artistas negros nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças de caráter
publicitário.

100
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

intervalos para publicidade comercial na programação207 e Plano Nacional


de Cultura.208

20. PROGRAMAS DE TELEVISÃO NA INTERNET


O tema televisão na internet pode ser abordado em diferentes perspectivas.
Uma, a situação da transmissão da programação de TV da empresa
concessionária tradicional de radiodifusão pela internet. Neste aspecto, a
programação de televisão tradicional é protegida pela legislação dos direitos
autorais. Assim, a empresa de radiodifusão, titular dos direitos sobre a
programação, detém as prerrogativas para proteção de sua programação,
inclusive diante da exploração ilícita do conteúdo por terceiros que, por
exemplo, associem publicidade e (ou) marcas comerciais à programação
de consentimento do titular dos direitos patrimoniais e morais. Também,
a empresa de televisão por radiodifusão pode adotar uma estratégia de
licenciamento de sua programação e ou conteúdos audiovisuais (programas),
para difusão pela internet.

Outra situação diferente é das empresas que ofertam produtos assemelhados


à programação de televisão, mas que não são estritamente programação de
televisão, transmitidos pela tecnologia streaming na internet. É o caso das
empresas Netflix, Apple TV e Youtube que prestam serviços denominados
Over The Top (OTT). Estas empresas fornecem conteúdo audiovisual,
na modalidade vídeo (filmes, seriados, vídeos etc.), os quais não são

207 Lei n. 10.222/2001, que padroniza o volume de áudio das transmissões de rádio e televisão nos espaços
dedicados à propaganda.
208 Lei n. 12.343/2010.
Art. 2o  São objetivos do Plano Nacional de Cultura: 
I - reconhecer e valorizar a diversidade cultural, étnica e regional brasileira; 
II - proteger e promover o patrimônio histórico e artístico, material e imaterial; 
III - valorizar e difundir as criações artísticas e os bens culturais; 

101
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

propriamente programação de televisão. Assim, essas espécies de serviços


audiovisuais não estão submetidos à Lei n. 4.117/1962, eis que não se trata
de serviço de radiodifusão. Também, estas espécies de serviços audiovisuais
não são objeto da Lei da TV por assinatura porque não são propriamente
canais de programação ofertados aos consumidores. E, finalmente, estas
espécies de serviços audiovisuais não são objeto de outorga pelo Poder
Executivo ou fiscalizados pela Anatel.209

21. RÁDIO COMERCIAL

21.1 MUDANÇA DO PADRÃO AM PARA FM


O Decreto n. 8.139/2013 autoriza a migração das emissoras de rádio
comercial que operam na faixa de frequência AM para FM. As regras foram
definidas pelo Ministério das Comunicações na Portaria n. 127/2014. Tal
ato normativo define como os radiodifusores devem proceder para pedir a
mudança da frequência e a forma como os processos vão ser analisados pelo
Ministério das Comunicações e pela Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel). Na prática, a emissora de rádio comercial que optar pela migração
do AM para FM, de um lado, perde área de cobertura do sinal de frequência,
mas ganha na qualidade da transmissão do serviço de radiodifusão sonora,
bem como crescimento em audiência. A emissora de rádio comercial que
não optar pela migração do AM para FM permanece com sua concessão/
autorização/permissão durante o prazo de vigência da outorga. Apenas as
emissoras de ondas médias locais, que não se interessarem na adaptação

209 Sobre o conceito de televisão e o enquadramento normativo das respectivas espécies de serviços de
comunicação audiovisual ofertados aos consumidores, ver: SCORSIM, Ericson Meister. TV Digital e
Comunicação Social, obra citada, p. 95.

102
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

de outorga para FM, deverão fazer um requerimento ao Ministério das


Comunicações para o reenquadramento para caráter regional.210

21.2 PREÇO DAS OUTORGAS DO SERVIÇO FM NAS NOVAS


LICITAÇÕES
Outro tema relevante é a estipulação do preço das novas outorgas dos serviços
de radiodifusão sonora, na modalidade FM211, ora objeto de debate preliminar
no âmbito do Tribunal de Contas da União212. A título de conhecimento, no
processo n. 031.964/2014-1 a Corte de Contas acompanha o procedimento
de outorga, pelo Ministério das Comunicações, de permissão para execução
de serviço de radiodifusão sonora de frequência modulada (FM), pelo prazo
de 10 anos, no Município de Anápolis (GO), objeto do Edital de Concorrência
n.º 1/2014.

21.3 RÁDIO DIGITAL213: DEFINIÇÃO DO PADRÃO TECNOLÓGICO


A Portaria n. 290/2010, do Ministério das Comunicações, institui o Sistema
Brasileiro de Rádio Digital – SBRD e fixa os objetivos a serem alcançados pelas
rádios digitais, como: incentivar a indústria regional e local na produção de

210 Cf. art. 4º, do Decreto n. 8.139/2013.


211 A título de conhecimento, o Ministério das Comunicações definiu, através da Portaria n. 6.467/2015, os
procedimentos e valores para a migração das rádios que operaram em ondas médias (AM) para frequência
modulada (FM). Os valores vão de R$ 8 mil, para emissoras com mais de 100kw de potência e que atuam
em cidades com até 10 mil habitantes, até R$ 4,4 milhões, para emissoras com a mesma potência e que
atuam em cidades com mais de 7 milhões de habitantes.
212 A competência do TCU pra fiscalizar os preços das frequências deve-se ao fato do espectro de radiofre-
quências ser considerado bem público.
213 Segundo o jurista Manoel J. Pereira dos Santos: “Determinados provedores oferecem ainda ao inter-
nauta canais de música em seus portais para que o usuário possa ouvir obras musicais disponibilizadas
pelo provedor mediante o processo de streaming. Trata-se de espaço, geralmente denominado “rádio
virtual”, oferecido pela modalidade “ponto a ponto” (ou seja, on demand) ou em formato de webcast, ou
seja, mediante transmissão em tempo real de programas com conteúdo predefinido, sem interatividade.
SANTOS, Manoel J. Pereira dos. Parecer: Execução Pública Musical na Internet: Rádios E TVs Virtuais.
Revista da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual, Rio de Janeiro, ed. n. 103. Nov/Dez de
2009. p. 52.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

instrumentos e serviços digitais; permitir a transmissão de dados auxiliares;


possibilitar a emissão de simulcasting, com boa qualidade de áudio e com
mínimas interferências em outras estações; propiciar a expansão do setor,
possibilitando o desenvolvimento de serviços decorrentes da tecnologia
digital como forma de estimular a evolução das atuais exploradoras do
serviço, etc.
Desde a edição da referida Portaria vários testes vêm sendo conduzidos pelo
Ministério das Comunicações para determinar qual sistema tecnológico
melhor se adaptará no Brasil214.

21.3.1 RÁDIOS DIGITAIS NA INTERNET FIXA E INTERNET MÓVEL


Existem duas espécies de rádios na internet, as on line e as off line. De acordo
com Trigo-De-Souza215 a web rádio on line é a que exibe “programações
radiofônicas na internet. Incluem rádios que transplantam seus sinais do
dial para a web e as que desenvolvem programações específicas para a rede”.
Por sua vez, a web rádio off line é aquela que migrou “para a rede com o
objetivo de marcar uma presença institucional, divulgando suas atividades
e propostas. Tem, necessariamente, existência fora da internet (no dial), já
que não poderíamos considerar como rádio se não há som (na rede ou no
dial).”

As rádios puramente digitais (on line), como Rádio Oi FM Web, Rádio


Líder Musical FM e Rádio Coca Cola FM, que transmitem sua programação
exclusivamente pela internet (webcast)216 não estão submetidas à Lei n.

214 Os padrões Tell HD (de uma empresa brasileira, com base no sistema americano,) e o DRM (de um
consórcio internacional, com base no sistema europeu) foram testados em várias oportunidades, com
emissoras de rádio de várias classes e potência e em de diferentes estados da federação.
215 TRIGO-DE-SOUZA, Lígia Maria. Rádios@Internet: O desafio do áudio na rede. Dissertação de mestra-
do. São Paulo: USP, 2002. p. 173. Disponível em http://www.cencib.org/simposioabciber/PDFs/CC/Johan%20
Cavalcanti%20van%20Haandel%20e%20Fabiana%20Patricio%20Vieira%20van%20Haandel.pdf
216 Webcast é a transmissão de áudio e vídeo utilizando a tecnologia streaming media. Pode ser utilizada por
meio da internet ou redes corporativas ou intranet para distribuição deste tipo de conteúdo.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4.117/1962, pois não são empresas de radiodifusão sonora. Daí porque não
podem ser fiscalizadas pelo Ministério das Comunicações, nem mesmo pela
Anatel. Por sua vez, as rádios off line que transmitem sua programação tanto
via radiodivusão quanto pela internet (simulcasting)217, estão sujeitas as
normas aplicáveis ao setor de radiodifusão. Também, é preciso diferenciar a
situação das empresas que fornecem sites de compartilhamento de músicas
(transmissão de arquivos de áudios), que também não configuram serviços
de radiodifusão sonora.

22. COMPETÊNCIA DO MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES


PARA FISCALIZAR OS SERVIÇOS DE RADIODIFUSÃO SONORA
E RADIODIFUSÃO DE SONS E IMAGENS
De acordo com a Lei nº 4.117/1962 (Código Brasileiro de Telecomunicações),
os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens (Rádios e TV’s
Abertas) são fiscalizados pelo Ministério das Comunicações.218 Compete ao
Ministério das Comunicações tratar de assuntos relacionados às políticas
nacionais de radiodifusão, telecomunicações e inclusão digital, conforme
Decreto 7.462/2011. O Ministério das Comunicações detém competência

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Webcast Acesso realizado em 10 de novembro de 2015.


217 De acordo com Rodrigo Azevedo: “Simulcasting é o termo comumente utilizado para designar a trans-
missão simultânea de conteúdos por mais de um meio. Por não permitir a interatividade e a escolha do
conteúdo a ser executado pelo internauta, o simulcasting é muito utilizado por empresas de radiodifu-
são, eis que, por exemplo, permite a recepção da programação normalmente sintonizada pelos ouvintes
através dos tradicionais aparelhos de rádio, também através de computadores ou de dispositivos simila-
res com acesso à Internet.” Disponível em http://propriedade.digital/blog/quando-a-internet-barrou-
-o-ecad/# Acesso realizado em 10 de novembro de 2015.
218 Em termos de regulação, na visão do autor desse artigo as competências de outorga e fiscalização dos
serviços de televisão e rádio deveriam ser atribuídos a uma agência reguladora, com autonomia diante
do poder político. Entretanto, em razão da determinação da Constituição (art. 223), a competência de
outorga dos serviços de televisão e rádio por radiodifusão encontra-se sob o Poder Executivo, juntamen-
te com o Congresso Nacional.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

para autorizar os serviços de retransmissão e repetição dos sinais de televisão


e permitir a execução de serviços de radiodifusão de âmbito local.219

A partir da Portaria nº 958/2014, editada pela ANATEL com base em


Convênios firmados com o Ministério das Comunicações (nº 001/2007 e
nº 001/2011), a competência fiscalizatória do Ministério das Comunicações
passa a ser exercida pela Anatel. Assim, a Agência fiscaliza o conteúdo
veiculado ou transmitido por emissoras, retransmissoras e repetidoras de
serviços de radiodifusão, nos aspectos de verificação do atendimento da
legislação no que diz respeito aos limites para veiculação da publicidade
comercial, da propaganda política, etc.

Há fiscalização sobre TV’s Comerciais (Abertas), empresas prestadoras de


serviços de TV por assinatura (Serviços de Acesso Condicionado), dentre
outras. A Portaria da Anatel é aplicável também às emissoras de Rádios AM
e FM Comerciais.220

23. ANATEL: COMPETÊNCIA PARA FISCALIZAR QUESTÕES


TÉCNICAS DOS SERVIÇOS DE TELEVISÃO E RÁDIO POR
RADIODIFUSÃO
Nos termos da Lei Geral de Telecomunicações, a outorga dos serviços
de radiodifusão de sons e imagens e radiodifusão sonora é excluída da
jurisdição da Anatel. Por essa lei, a competência para outorgar os serviços de
radiodifusão pertence ao Poder Executivo. Compete à Anatel a elaboração

219 Cf. art. 4º, do Decreto n. 5.371/2005.


220 Sobre a análise da Portaria n. 958/2014 ver SCORSIM, Ericson Meister. Portaria da Anatel sobre fiscali-
zação do cumprimento de obrigações na programação veiculada por TV’s e rádios. Disponível em http://
meisterscorsim.com/portaria-da-anatel-sobre-fiscalizacao-do-cumprimento-de-obrigacoes-na-programacao-vei-
culada-por-tvs-e-radios/

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

do plano de distribuição dos canais de frequências, bem como a fiscalização


sobre aspectos técnicos das estações de radiodifusão221. A título ilustrativo,
a agência reguladora fiscaliza a potência das estações de rádio, para verificar
se o limite legal222 está sendo observado, a fim de evitar interferências entre
as frequências de outras estações de rádio.

24. CONSELHO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL


A Constituição, no capítulo da Comunicação Social, instituiu o Conselho de
Comunicação Social (art. 224), na qualidade de órgão auxiliar do Congresso
Nacional nos temas relacionados à Comunicação Social223. Trata-se, portanto,
de órgão integrante do Poder Legislativo, com funções de aconselhamen-
to em matérias da Comunicação Social. Nos termos da Lei n. 8.389/1991,
o Conselho de Comunicação Social tem competências para realizar
estudos, pareceres, recomendações e outras solicitações encaminhadas
pelo Congresso Nacional, relacionadas ao capítulo da Comunicação
Social224. Possui como missão constitucional contribuir para a efetivação da
democracia comunicativa no País, com as garantias de acesso à pluralidade

221 Cf. art. 211, da Lei n. 9.472/1997.


222 A Resolução n. 67/1998, da Anatel (Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em
Freqüência Modulada), define os limites de potência e a altura de referência de cada antena utilizada por
cada classe emissora. A título exemplificativo, uma emissora da classe E1,categoria regional, deve operar
com potência máxima de 100kw e 20dBk.
223 Sobre o tema SCORSIM, Ericson Meister e CLÈVE, Clèmerson Merlim. Concessão de serviço por radio-
difusão, liberdade de expressão e produção de conteúdos por terceiros ou em regime de coprodução.
Artigo publicado na Revista Brasileira de Direito Público (RBDP – nº 50, ano 13 – julho/setembro 2015)
e com versão disponível no site Jus Navigandi - www.jusnavigandi.com.br, out. 2015.
224 Cf. Lei n. 8.389/1991, em seu art. 2º. 84 O Conselho de Comunicação Social também pode se manifes-
tar sobre temas ligados à internet. Esta conclusão decorre em razão de interpretação evolutiva do texto
constitucional, e da menção aos meios de comunicação social eletrônica, por força da Emenda Cons-
titucional n. 36/2002, razão pela qual se pode incluir os temas relacionados à Internet, no âmbito do
Conselho de Comunicação Social, especialmente das conexões com os serviços de televisão e rádio por
radiodifusão, bem como TV por assinatura, e imprensa (sites das empresas jornalísticas).

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

e à diversidade dos meios de comunicação social, e da concretização dos


direitos à liberdade de expressão, informação e comunicação social, e direito
à cultura brasileira225. Sua atuação incide sobre temas relacionados aos
meios de comunicação social: serviços de televisão e rádio por radiodifusão,
serviços de TV por assinatura, imprensa, diversões e espetáculos públicos.

Embora os pareceres do Conselho de Comunicação Social não vinculem o


Congresso Nacional, esses possuem valor jurídico na medida em que servem
como diretriz à atuação parlamentar, seja no processo legislativo, seja nos
procedimentos de outorga, renovação ou não renovação das concessões de
radiodifusão.

225 A título ilustrativo, o Conselho de Comunicação Social apresentou pareceres sobre os seguintes temas
tratados em projetos de lei: direito de resposta, classificação indicativa da programação de televisão,
flexibilização do horário do programa a Voz do Brasil, inclusão de legenda oculta na programação das
emissoras de televisão, liberdade de expressão no período eleitoral, etc. Também, o Conselho de Comu-
nicação Social apreciou a proposta de Emenda à Constituição sobre a obrigatoriedade da exigência de
formação de nível superior em jornalismo para o exercício da profissão. E, apresentou Relatório sobre
as atividades da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

TELEVISÕES PÚBLICAS
E ESTATAIS E RÁDIOS
COMUNITÁRIAS

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

IV. TELEVISÕES PÚBLICAS E ESTATAIS


E RÁDIOS COMUNITÁRIAS

1. SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO PÚBLICA, NA FORMA DA LEI N.


11.652/2008
A Lei n. 11.652/2008 estabelece o regime do serviço de radiodifusão
pública.226 O setor público da radiodifusão é integrado por uma empresa
pública de comunicação: a Empresa Brasil de Comunicação, sem finalidade
lucrativa. A TV pública, portanto, submete-se a regime jurídico diferente
daquele aplicável à TV privada. Esta distinção entre os dois regimes de TV
privada e TV pública decorre necessariamente da concretização em âmbito
legislativo do princípio constitucional da complementaridade dos sistemas
de radiodifusão privado, público e estatal. Conforme a referida lei da
radiodifusão pública, a prestação dos serviços de radiodifusão pública deve
servir: i) à promoção do acesso à informação; ii) produção e programação
com finalidades educativas, artísticas, culturais, científicas e informativas,
promoção da cultura nacional, estímulo à produção regional e à produção
independente, iii) autonomia em relação ao governo para definir produção,
programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão.227

226 O autor deste artigo adota uma concepção de televisão pública, diferente daquela adotada na Lei n.
11.652/2008. A TV pública é aquela, cuja produção, gestão e difusão de programação está sob a res-
ponsabilidade da sociedade (comunidade). Assim, a Empresa Brasil de Comunicação é uma espécie de
TV estatal, embora o legislador tenha decidido adotar a nomenclatura de radiodifusão pública. Sobre o
tema, SCORSIM, Ericson Meister. TV Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios - TVs pública,
estatal e privada. Editora Fórum, 2008.
227 Sobre o tema, SCORSIM, Ericson Meister. TV Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios - TVs
pública, estatal e privada. Editora Fórum, 2008.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

2. TVS ESTATAIS

2.1 REGIME JURÍDICO


As TVs estatais servem à realização da comunicação institucional dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os canais de televisão estatal
estão submetidos a regime jurídico específico. Cada poder da República
(Judiciário, Executivo ou Legislativo) estabelece as regras para organização
e funcionamento dos seus canais de televisão por radiodifusão. Trata-se de
concretização do princípio da harmonia e colaboração entre os três poderes
da República. A TV estatal é decorrência do princípio constitucional da
complementaridade dos três sistemas de radiodifusão: privado, público e
estatal228. Daí a necessidade de distinção entre os diferentes regimes jurídicos
das televisões. É instrumento de afirmação dos direitos à informação e à
comunicação dos cidadãos brasileiros sobre assuntos de interesse públicos
relacionados à administração pública, ao legislativo e ao judiciário. Registre-
se que as televisões estatais devem ser, obrigatoriamente, distribuídas pelos
serviços de TV por assinatura, por determinação da lei dos serviços de
comunicação audiovisual de acesso condicionado.229

2.2 TV DO PODER EXECUTIVO - TV NBR


Um dos canais de comunicação do Poder Executivo Federal é a TV NBR.
Trata-se de canal que realiza a cobertura e a transmissão ao vivo das
solenidades da Presidência da República e atos do governo federal. A União
contratou a Empresa Brasil de Comunicação para prestação de serviços de

228 SCORSIM, Ericson Meister . TV Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios - TVs pública, esta-
tal e privada. Editora Fórum, 2008.
229 Cf. art. 32, da Lei n. 12.485/2011.

111
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

televisão, mediante a operação da TV NBR230. O Decreto Federal apresenta os


parâmetros da comunicação do poder executivo. Neste contexto normativo,
a TV NBR deve seguir os seguintes objetivos da comunicação do poder
executivo: i) disseminar informações sobre assuntos de interesse dos mais
diferentes segmentos sociais; ii) estimular a sociedade a participar do debate
e definição de políticas públicas essenciais para o desenvolvimento do País;
iii) explicar os projetos e políticas de governo propostas pelo Poder Executivo
Federal nas principais áreas de interesse da sociedade; iv) promover o Brasil
no exterior; v) atender às necessidades de informação de clientes e usuários
das entidades integrantes do Poder Executivo Federal. No referido decreto
veda-se a publicidade que, direta ou indiretamente, caracterize promoção
pessoal da autoridade ou de servidor público231. Pela normativa acima
referida, a comunicação a ser seguida pela TV NBR abrange atos (fatos) do
governo e atos (fatos) da administração pública federal. Esta comunicação

230 Existem dois contratos de prestação de serviços entre a União, por intermédio da Secretaria de Comuni-
cação Social da Presidência da República, e a Empresa Brasil de Comunicação. Documentos acessíveis
no site www.ebc.com.br.
O contrato 1/2012, cujo objeto é a prestação de serviços de captação, gravação, transmissão, distribuição
de sinal de TV por satélite e internet e outros serviços de comunicação audiovisual, tais como locução,
transmissão de atos, solenidades e eventos que envolvam a presença da Presidenta da República, seu
substituto delegado ou eventos e atos de interesses da CONTRATANTE ...”.
No outro contrato n. 2/2012 há o seguinte detalhamento dos serviços:
“2.1.1.1 São considerados serviços de TV: produção de conteúdo, transmissão, veiculação e gestão do ca-
nal de TV NBR, transmitido em sinal de satélite analógico e digital para captação por antena parabólica
e por meio de serviços de televisão por assinatura e por sinal aberto quando disponível”.
Aqui, cabe lembrar que a Lei 11.652/2008 prevê o seguinte: “Art. 8º. Compete à EBC: (…) VI – prestar
serviços no campo da radiodifusão, comunicação e serviços conexos, inclusive transmissão de atos e ma-
térias do Governo Federal”. E, a Lei 12.485/2001, ao tratar da distribuição obrigatória nos serviços de te-
levisão por assinatura, faz referência apenas à distribuição do canal reservado para a emissora oficial do
Poder Executivo. Na visão pessoal do autor do presente artigo, ainda falta normatização adequada para
a gestão da TV NBR, omissão esta que pode comprometer a função informativa do meio de comunicação
e o direito do público à informação. Os limites normativos são necessários para garantir a impessoalida-
de e a objetividade em seu funcionamento, evitando-se o caráter propagandístico na utilização do canal
de comunicação.
231 Cf. Decreto 4.799/2002 que trata da comunicação do Poder Executivo Federal.

112
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

deve ser pautada por critérios objetivos nela previstos, de modo a atender o
princípio da impessoalidade que vincula a administração pública. Eventuais
utilizações pessoais ou eleitorais deste canal de televisão poderão ensejar
responsabilização das autoridades.

2.3 TV DO PODER JUDICIÁRIO - TV JUSTIÇA


A TV Justiça é um dos instrumentos de viabilização do direito à informação
no âmbito judiciário232. E, também, de publicidade dos atos do poder
judiciário. A TV Justiça encontra-se sob responsabilidade do Supremo
Tribunal Federal. Mas, a programação da TV Justiça não é exclusivamente
produzida pelo STF. Este meio de comunicação social serve, também, à
comunicação do Ministério Público, OAB, Tribunal Superior Eleitoral entre
outros. Por outro lado, é importante conhecer as regras que delimitam o
funcionamento da TV Justiça nos casos de transmissão das sessões do STF233.
Segundo a Constituição “todos os julgamentos do Poder Judiciário serão
públicos”, porém admite-se que a lei limite a ”presença em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados”, ou somente a estes” nas

232 A TV Justiça foi originariamente disciplinada pela Lei 10.461/2002. Segundo o Min. Celso de Mello, do
STF, em discurso em homenagem à criação da TV Justiça em seu 10º aniversário:
“Essa medida legislativa revestiu-se de enorme significado, pois conferiu transparência ainda maior
à atuação do Poder Judiciário em nosso País, viabilizando, aos cidadãos da República, pleno acesso
ao próprio funcionamento do Poder Judiciário nacional e, em particular, aos processos e mecanismos
decisórios do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais judiciários, além de propiciar, em benefício
da coletividade, a transmissão dos cursos, painéis de discussão e informações relevantes em matéria
judicial”. Documento disponível no site do STF. E, ainda, na ADPF 130, julgada pelo STF, o Min. Carlos
Ayres Britto destacou a relevância da TV Justiça para a história do STF.
233 A transmissão ao vivo das sessões do STF pela TV Justiça (e também pelo Youtube) representa um
marco histórico na cultura jurídica nacional. O televisionamento demanda medidas adequadas para a
realização concreta do direito à informação, de modo a facilitar a compreensão pelo público. Algo que
tem sido efetivado na cobertura dos julgamentos pelo noticiário da TV Justiça. Por outro lado, aqui, não
há espaço para abordar o problema da repercussão da cobertura midiática dos julgamentos e a eventual
quebra da imparcialidade processual, fica a obra de referência: ADBO, Helena. Mídia e Processo. São
Paulo: Ed. Saraiva, 2011.

113
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

hipóteses de “preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo


não prejudique o interesse público à informação”. 234 O Regimento Interno
do STF dispõe que são públicas as audiências para instrução de processos,
salvo motivo relevante que imponha o regime de segredo de justiça.235
Também, o Regimento Interno estabelece que as audiências públicas para
ouvir especialistas em matérias com repercussão geral ou de interesse público
relevante serão transmitidas pela TV Justiça.236 No âmbito legal, a nova Lei
dos Serviços de TV por assinatura, ao tratar da distribuição de conteúdo de
canais obrigatórios, impôs para prestadora dos serviços de comunicação de
acesso condicionado o dever de distribuir um “canal reservado ao Supremo
Tribunal Federal para divulgação dos atos do Poder Judiciário e dos serviços
essenciais à Justiça”. 237

2.4. TV CÂMARA
A TV Câmara tem como objetivo efetuar a cobertura das sessões plenárias da
Câmara dos Deputados, comissões legislativas e comissões parlamentares
de inquérito.238

Nos termos da Lei da TV por assinatura, a prestadora do serviço de acesso


condicionado deverá assegurar um canal reservado para a Câmara dos
Deputados, para a documentação dos seus trabalhos, especialmente a

234 Cf. Art. 93, inc. IX, CF.


235 Cf. RI do STF: arts. 124, 151, inc, I, 154, inc. II. CF/1988, art. 5º, LV (contraditório) e LX (publicidade
dos atos), art. 93, IX (sessões públicas ou reservadas). CPC: Art. 155 (publicidade dos atos: restrições),
CPP: Art. 792, §1º, §2º do art. 792 (sessões reservadas).
236 Cf. RI do STF: art. 154. Em 2013, a TV Justiça transmitiu a audiência pública realizada pelo STF de oi-
tiva de especialistas referente ao julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade pertinentes ao
questionamento da nova lei sobre os serviços de televisão por assinatura.
237 Lei 12.485/2011, Art. 32, IV.
238 Ato de criação da TV Câmara Resolução da Câmara dos Deputados n. 21/1997. O sinal da TV Câmara é
disponibilizado nas redes abertas de televisão, nos serviços de televisão por assinatura e na internet.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

transmissão ao vivo das sessões.239 Trata-se de instrumento de concretização


do direito à informação sobre as atividades do parlamento: o que inclui a
cobertura dos processos legislativos, informações sobre leis e direitos e a
fiscalização do governo. Daí porque a organização deste canal da TV Câmara
deve ser feita a partir do direito do público à informação, com o estabeleci-
mento de limites à comunicação institucional. A Câmara de Deputados tem
o dever de informar e, para tanto, possui um veículo de comunicação. No
entanto, a gestão deste canal de comunicação está a serviço do direito à
informação e não meramente à disposição do poder político.240

2.5. TV SENADO
A TV Senado é um meio de comunicação social voltado a cobertura das sessões
de seu plenário e comissões legislativas.241 É instrumento para concretização
do direito à informação sobre o funcionamento do Senado Federal, do
processo legislativo e o conhecimento das leis. Em ato interno da Comissão
Diretora do Senado há o regramento da ordem de prioridade de cobertura
das sessões do plenário e de sua transmissão ao vivo.242 São estabelecidos
critérios para a definição da atividade parlamentar a ser mostrada, evitando-
se influências editoriais ou políticas.243 Um dos seus maiores desafios é a

239 Cf. Lei 12.485/2001, art. 32, II.


240 Dentre os desafios da TV Câmara: i) a clareza e acessibilidade da informação para o cidadão comum;
ii) a garantia da imparcialidade no tratamento informativo das notícias de repercussão no legislativo e
iii) universalização dos serviços. Alguns autores questionam a função informativa da TV Câmara, ar-
gumentando que não há a separação necessária entre fonte de informação e emissor. Esta questão será
analisada à frente no tópico pertinente à TV Senado.
241 Segundo a Lei 12.485/2011, a prestadora do serviço de acesso condicionado deve assegurar a distribui-
ção de um canal reservado ao Senado Federal para documentação dos seus trabalhos, especialmente a
transmissão ao vivo das sessões.
242 Senado Federal, Ato da Comissão Diretora n. 15, 2002.
243 O sinal da TV Senado é transmitido para o território nacional, mediante os serviços de televisão por
assinatura (cabo, satélite) e serviços de televisão por radiodifusão aberta (antenas parabólicas). A pro-
gramação pode ser acessada pela internet: www.senado.gov.br/tv.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

preservação do jornalismo independente dentro da gestão da TV Senado.


Para alguns, o canal da TV Senado não é jornalístico. Isto porque um dos
elementos essenciais da atividade jornalística é a separação entre a fonte de
informação e o difusor desta informação. Daí o problema do jornalismo da
TV Senado devido à sua proximidade com o poder: as fontes de informação.
Uma das alternativas para garantia da utilização democrática do meio
consiste em assegurar maior participação da cidadania na programação da
TV Senado. Afinal, o eixo central de organização deste meio de comunicação
social é o direito público à informação e não pode se limitar apenas à vontade
política dos ocupantes do poder legislativo.

2.6 TV DAS ASSEMBLEIAS E CÂMARA DE VEREADORES


O Poder Legislativo estadual dispõe da autonomia para a criação e
manutenção de TVs Legislativas. Esta autonomia também pertence às
Câmaras de Vereadores no que tange aos canais municipais. Portanto,
muito embora a União possua a competência para legislar sobre os serviços
de radiodifusão, isto não exclui a autonomia comunicativa dos poderes
legislativos. A lei federal pode disciplinar aspectos técnicos e formais
relacionados aos serviços de radiodifusão, porém não pode tratar da gestão
e do conteúdo da programação das TVs legislativas, sob pena de invasão da
competência do legislativo estadual (TV Assembleia) e da competência do
legislativo municipal (TV Câmara de vereadores). 244

244 A lei federal dos serviços de televisão por assinatura limita-se a tratar dos aspectos da distribuição de
canais ao estabelecer o dever da prestadora do serviço de acesso condicionado de distribuir: “um canal
legislativo municipal/estadual, reservado para o uso compartilhado entre as Câmaras de Vereadores
localizadas nos Municípios da área de prestação do serviço e a Assembleia Legislativa do respectivo Es-
tado ou para uso da Câmara Legislativa do Distrito Federal, destinado para a divulgação dos trabalhos
parlamentares, especialmente a transmissão ao vivo das sessões”.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

O poder legislativo tem direito de acesso às frequências do espectro, para


fins de prestação de serviços de comunicação legislativa na modalidade
radiodifusão. Se negado este direito, cabe o ajuizamento da ação para
adequada tutela à prerrogativa institucional. Com efeito, as frequências
constituem bem público, porém não há regime de exclusividade da União
quanto à sua utilização. Trata-se de bem de uso compartilhado entre os
entes federativos. Uma das funções dos canais legislativos é assegurar a
comunicação institucional do poder legislativo, mediante a divulgação das
atividades parlamentares no que tange à produção de leis e a fiscalização
do poder executivo. Outra função é garantir a concretização do direito dos
cidadãos à informação sobre temas relacionados ao governo e à execução
de leis estaduais.245 Ao órgão gestor da TV legislativa deve ser assegurada
autonomia editorial para preservar o necessário pluralismo político e
equilíbrio entre as maiorias e minorias parlamentares. O canal de televisão
legislativa deve servir ao direito à informação dos cidadãos, razão pela
qual não pode se limitar à realização de publicidade ou autopromoção dos
parlamentares.

3. RÁDIOS COMUNITÁRIAS
O serviço de radiodifusão comunitária é definido pela Lei n. 9.612/1998. Este
serviço é outorgado pelo Poder Executivo (Ministério das Comunicações)246
a fundações e associações comunitárias sem fins lucrativos. O objetivo é

245 O Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Paraná (art. 13, V) prevê a competência da Mesa
Diretora para: “promover a realização de campanhas educativas e divulgações permanentes, bem como
adotar as medidas adequadas para a promoção e valorização do Poder Legislativo, com o objetivo de for-
talecimento das instituições democráticas”. Daí a possibilidade da TV Assembleia realizar campanhas
educativas de valorização do Poder Legislativo. Mas, sem desconsiderar que a programação deve estar
voltada para o direito à informação dos cidadãos paranaenses.
246 Cf. art. 2º da Lei n. 9.612/1998.

117
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

garantir que a comunidade tenha acesso à difusão de ideias, cultura, serviços


de utilidade pública e a liberdade de expressão dos cidadãos. O regime de
outorga é definido pela autorização administrativa. Veda-se que as rádios
comunitárias façam publicidade comercial, excetuada a possibilidade de
patrocínio sob a forma de apoio cultural. A Lei proíbe a formação de vínculos
entre as rádios comunitárias e entidades religiosas e político-partidárias.247

247 A Portaria n. 462/2011, do Ministério das Comunicações, estabelece os procedimentos administrativos


para seleção das entidades interessadas na execução do Serviço de Radiodifusão Comunitária.
Em 2014, a ABERT promoveu em face da União ação judicial (autos n. 0005107-54.2014.4.01.3400 – 2ª
Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal) pleiteando, em caráter liminar, a suspensão da aplicabi-
lidade dos itens 3.1.1 e 5.2 da Norma 1/2011, aprovada pela Portaria n. 462/2011. O pedido liminar foi
concedido, sendo determinada a suspensão da garantia de patrocínio as rádios comunitárias por meio
de recursos públicos (item 3.1.1) e a atribuição de canal exclusivo na faixa de frequência utilizada pelas
rádios comunitárias (item 5.2). A decisão sustenta a suspensão da aplicabilidade dos itens 3.1.1 e 5.2
da Norma 1/2001 com base, respectivamente, na afronta aos arts. 18 e 5º da Lei 9.612/98. O mérito da
demanda ainda não foi julgado, estando os autos conclusos para sentença desde 22 de outubro de 2014.

118
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

TELEVISÃO POR
ASSINATURA

119
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

V. TELEVISÃO POR ASSINATURA

1. NOÇÃO
A TV por assinatura classificada como Serviço de Comunicação Audiovisual
de Acesso Condicionado, conhecido como SeAC, é espécie de serviço
de telecomunicações. O acesso é condicionado ao pagamento do preço,
regime diferente do serviço de televisão por radiodifusão, o qual é acessado
gratuitamente pelas pessoas.

Trata-se de espécie de serviço de telecomunicações de interesse coletivo, sob


o regime da Lei n. 12.485/2011. O serviço de TV por assinatura destina-se
a distribuição de conteúdos audiovisuais na forma de pacotes, de canais nas
modalidades avulsa de programação e avulsa de conteúdo programado e de
canais de distribuição obrigatória. Tais serviços de comunicação audiovisual
são prestados aos assinantes por meio de diversas tecnologias, processos,
meios eletrônicos e protocolos de comunicação.248

O Serviço de Comunicação Audiovisual de Acesso Condicionado, conhecido


como SeAC, é espécie de serviço de telecomunicações. O modelo da regulação
da TV por assinatura classifica como atividades da comunicação audiovisual
de acesso condicionado: a produção, a programação, o empacotamento
e a distribuição.249 A título ilustrativo, atuam no segmento de produção

248 SCORSIM, Ericson Meister. TV por assinatura - Serviço de Acesso Condicionado. Lei da Comunicação
audiovisual: análise dos serviços de distribuição dos canais de programação obrigatórios e as implica-
ções no setor de radiodifusão. Revista de Direito das Comunicações, v. 5, p. 65-96, 2012.
249 Cf. art. 2o, da Lei n. 12.485/2011, considera-se: 
XI - Empacotamento: atividade de organização, em última instância, de canais de programação, inclusi-
ve nas modalidades avulsa de programação e avulsa de conteúdo programado, a serem distribuídos para
o assinante; 
XVII - Produção: atividade de elaboração, composição, constituição ou criação de conteúdos audiovisu-
ais em qualquer meio de suporte; 

120
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

as empresas O2 Filmes, Mixer, Conspiração, Bossa Nova Films, GW


Comunicação, Softcine Produções, Finaliza Films. Na programação, as
empresas Turner, HBO, GloboSat e Telecine, e no empacotamento a empresa
NET Brasil, e na distribuição as empresas Sky Brasil e NET Serviços, Claro
TV.

2. LEI DA COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL DE ACESSO


CONDICIONADO: LEI N. 12.485/2011
A Lei nº 12.485/2011 disciplina os serviços de comunicação audiovisual de
acesso condicionado e disciplina o conjunto de atividades que permite a
emissão, a transmissão e a recepção de imagens acompanhadas ou não de
sons que resulta na entrega de conteúdo audiovisual exclusivamente para os
assinantes. A partir de tal lei, conhecida como Lei da TV por assinatura, os
serviços de TV a Cabo (TVC), Distribuição de Sinais Multiponto Multicanal
(MMDS) e TV por satélite (DTH), anteriormente regidos por normas
específicas, conforme a tecnologia utilizada na disponibilização do conteúdo,
passaram a ser regidos pelo novo marco regulatório, sob a denominação de
Serviços de Acesso Condicionado (SeAC). A Lei da TV por assinatura é clara
quanto à sua não aplicação aos serviços de televisão por radiodifusão, eis
que os modelos regulatórios das duas espécies de serviços de televisão são
diferentes. Mas, ressalte-se a existência de algumas regras da Lei da TV por
assinatura aplicáveis aos serviços de televisão por radiodifusão, como é o
caso da regra sobre o controle do limite da propriedade cruzada entre as
empresas de radiodifusão e as empresas de telecomunicações.250

XX - Programação: atividade de seleção, organização ou formatação de conteúdos audiovisuais apresen-


tados na forma de canais de programação, inclusive nas modalidades avulsa de programação e avulsa de
conteúdo programado; 
250 Cf. art. 5º, da Lei 12.485/2011.

121
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

A Lei da Comunicação Audiovisual de Acesso Condicionado estabelece


restrições à propriedade cruzada e propriedade vertical entre empresas
de telecomunicações e concessionárias e permissionárias dos serviços de
radiodifusão, o regime de cotas de conteúdo brasileiro na programação251,
a distribuição de canais de televisão comercial, públicos e estatais por
radiodifusão obrigatórios, regras de transição do regime de outorgas por
concessão para o regime de autorização, produtoras independentes252, entre
outras.253

Destaque-se que a constitucionalidade da Lei nº 12.485/2011 está


sendo analisada pelo STF em julgamento conjunto das Ações Diretas de
Inconstitucionalidade ns. 4.679, 4.747, 4.756 e 4.923. O Min. Relator Luiz
Fux votou pela constitucionalidade de todos os artigos questionados254, à
exceção da declaração de inconstitucionalidade do art. 25.255

251 Cf. art. 16, da Lei 12.485/2011, que prevê:


Art. 16.  Nos canais de espaço qualificado, no mínimo 3h30 (três horas e trinta minutos) semanais dos
conteúdos veiculados no horário nobre deverão ser brasileiros e integrar espaço qualificado, e metade
deverá ser produzida por produtora brasileira independente.
252 Cf. Art. 2 º, inc. XIX, da Lei n. 12.485/2011.
253 SCORSIM, Ericson Meister. TV por assinatura - Serviço de Acesso Condicionado. Lei da Comunicação
audiovisual: análise dos serviços de distribuição dos canais de programação obrigatórios e as implica-
ções no setor de radiodifusão. Revista de Direito das Comunicações, v. 5, p. 65-96, 2012.
254 Votaram com Relator, até o momento, os Ministros Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki e Rosa Weber.
Luiz Edson Fachin considerou a lei totalmente constitucional – inclusive o artigo 25. Ainda aguardam-se
os votos de mais seis Ministros.
255 Art. 25, da Lei n. 12.485/2011:
Art. 25.  Os programadores não poderão ofertar canais que contenham publicidade de serviços e produ-
tos em língua portuguesa, legendada em português ou de qualquer forma direcionada ao público brasi-
leiro, com veiculação contratada no exterior, senão por meio de agência de publicidade nacional. 
§ 1.º  A Ancine fiscalizará o disposto no caput e oficiará à Anatel e à Secretaria da Receita Federal do
Brasil em caso de seu descumprimento. 
§ 2.º  A Anatel oficiará às distribuidoras sobre os canais de programação em desacordo com o disposto
no § 1.º, cabendo a elas a cessação da distribuição desses canais após o recebimento da comunicação. 

122
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

3. REGRAS E LIMITES À PROPRIEDADE CRUZADA ENTRE


EMPRESAS DE TV POR RADIODIFUSÃO E EMPRESAS DE
TELECOMUNICAÇÕES
A Lei n. 12.485/2011 impede que os meios de comunicação social sejam objeto
de monopólio e oligopólio, mediante regras que vedam a propriedade cruzada
entre empresas de TV por radiodifusão e empresas de telecomunicações.

Essa lei determina que o capital total e votante de concessionárias e


permissionárias de radiodifusão sonora e de sons e imagens e de produtoras
e programadoras com sede no Brasil não pode ser controlado ou pertencer
a empresas prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse
coletivo em patamar superior a 50% (art. 5º, caput, da Lei nº 12.485/2011).
A recíproca também se aplica, sendo vedado que o capital das empresas de
telecomunicação seja controlado ou pertença a empresas de radiodifusão
em patamar superior a 30% (art. 5º, § 1º da Lei nº 12.485/2011).

Assim, fusões e demais incorporações entre empresas de telecomunicações


e radiodifusão devem ser realizadas dentro de tais parâmetros legais.

Também, é vedado às prestadoras de serviços de telecomunicações de


interesse coletivo contratar artistas nacionais de qualquer natureza com
a finalidade de produzir conteúdo audiovisual para veiculação no serviço
de acesso condicionado ou no serviço de radiodifusão sonora e de sons e
imagens, salvo para conteúdos destinados a produção de peças publicitárias.
256

256 Cf. art. 6º, inc. II e parágrafo único, da Lei n. 12.485/2011.

123
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4. REGIME DE OUTORGA DOS SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO


AUDIOVISUAL DE ACESSO CONDICIONADO (SEAC) POR
AUTORIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA ANATEL
Os serviços de TV por assinatura, classificados como de interesse coletivo,
são prestados sob o regime privado de outorga , mediante prévio processo
licitatório instaurado pela Anatel, na forma da autorização administrativa
expedia pela agência. Com a autorização, há o direito à prestação do
serviço de acesso condicionado por prazo indeterminado, conforme termos
estabelecidos em Ato específico.257 A extinção da autorização, prevista pela
Resolução n. 581/2012 da Anatel258, pode ocorrer por cassação, caducidade,
decaimento, renúncia ou anulação, desde que observado o disposto nos
artigos 138 a 144 da Lei Geral de Telecomunicações.259

257 Cf. art. 10, da Resolução n. 581/2012, da Anatel.


258 Cf. art. 46, da Resolução n. 581/2012, da Anatel:
Art. 46. A autorização para prestação do serviço não terá sua vigência sujeita a termo final, extinguindo-
-se por cassação, caducidade, decaimento, renúncia ou anulação, observando-se o disposto no sartigos
138 a 144 da LGT.
259 Segundo a própria Lei n. 12.485/2011 são aplicáveis às prestadoras do serviço de acesso condicionado as
sanções da Lei Geral de Telecomunicações (art. 35).
Lei n. 9.472/1997:
Art. 138. A autorização de serviço de telecomunicações não terá sua vigência sujeita a termo final, extin-
guindo-se somente por cassação, caducidade, decaimento, renúncia ou anulação.
Art. 139. Quando houver perda das condições indispensáveis à expedição ou manutenção da autoriza-
ção, a Agência poderá extingui-la mediante ato de cassação.
Parágrafo único. Importará em cassação da autorização do serviço a extinção da autorização de uso da
radiofreqüência respectiva.
Art. 140. Em caso de prática de infrações graves, de transferência irregular da autorização ou de descum-
primento reiterado de compromissos assumidos, a Agência poderá extinguir a autorização decretando-
-lhe a caducidade.
Art. 141. O decaimento será decretado pela Agência, por ato administrativo, se, em face de razões de
excepcional relevância pública, as normas vierem a vedar o tipo de atividade objeto da autorização ou a
suprimir a exploração no regime privado.
§ 1° A edição das normas de que trata o caput não justificará o decaimento senão quando a preservação
das autorizações já expedidas for efetivamente incompatível com o interesse público.
§ 2° Decretado o decaimento, a prestadora terá o direito de manter suas próprias atividades regulares
por prazo mínimo de cinco anos, salvo desapropriação.

124
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

5. DISTRIBUIÇÃO DE CANAIS DE PROGRAMAÇÃO DE TELE-


VISÃO
A Lei da TV por assinatura aprovou a regra de distribuição obrigatória
dos canais de televisão, por radiodifusão comercial, e canais públicos. Tal
Lei estabelece também tratamento normativo diferente para a entrega
obrigatória da programação audiovisual no formato analógico ou digital.260
Na prática, isto significa que a lei obriga a distribuição dos canais de televisão
comerciais e canais de televisão públicos apenas no formato analógico. Com
a finalização da transição do padrão analógico para o digital, ao que parece, a
lei desobriga a distribuição obrigatória destes canais de televisão comerciais
e públicos. Daí ao assinante o serviço de acesso condicionado restará a opção
de assistir aos canais de televisão digital ofertados pelas empresas de TV
por radiodifusão. 261

6. PRODUÇÃO DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO PARA


DISTRIBUIÇÃO NA TV POR ASSINATURA
A produção de programas para veiculação na TV por assinatura é protegida
pelo princípio constitucional da livre inciativa. Compete à produtora de
TV escolher os conteúdos e formatos dos programas audiovisuais. Aqui, a

Art. 142. Renúncia é o ato formal unilateral, irrevogável e irretratável, pelo qual a prestadora manifesta
seu desinteresse pela autorização.
Parágrafo único. A renúncia não será causa para punição do autorizado, nem o desonerará de suas obri-
gações com terceiros.
Art. 143. A anulação da autorização será decretada, judicial ou administrativamente, em caso de irregu-
laridade insanável do ato que a expediu.
Art. 144. A extinção da autorização mediante ato administrativo dependerá de procedimento prévio,
garantidos o contraditório e a ampla defesa do interessado.
260 Cf. art. 32, caput e § 12, da Lei n. 12.485/2011.
261 Exemplos: Globo, SBT, Record, Bandeirantes, etc.

125
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

proteção à plena liberdade de criação e expressão de conteúdos em programas


de televisão. Destaque-se a atividade de fomento ao setor de produção
audiovisual, com base em legislação de incentivos fiscais.262 Daí a relevância
dos contratos de produção e distribuição dos conteúdos audiovisuais, para
fixar os direitos e obrigações entre as partes. A título ilustrativo, com o
regime de cotas de conteúdo brasileiro na programação, houve o incentivo à
produção de séries de Televisão e filmes nacionais para serem veiculados na
TV por assinatura. 263

7. EMPACOTAMENTO E PROGRAMAÇÃO DE CANAIS DE TV


A Lei da TV por assinatura proíbe às prestadoras dos serviços de
telecomunicações de interesse coletivo a produção de conteúdo audiovisual
para veiculação no serviço de acesso condicionado ou no serviço de
radiodifusão sonora e de sons e imagens.264 Em razão deste dispositivo legal,
a Ancine multou empresa de telecomunicações, que havia incorporado
empresa de TV por assinatura, pelo fato de explorar comercialmente os
serviços de programação e empacotamento.265

Há o regime do credenciamento administrativo perante a Ancine para a


exploração das atividades de programação e empacotamento.266

262 A título ilustrativo, há o Fundo Setorial do Audiovisual (Lei n. 11.437/2006), Lei do Audiovisual e Lei
Rouanet (Lei 8.313/91).
263 Registre-se que são aplicáveis aos serviços de TV por assinatura os princípios constitucionais da produ-
ção e programação de televisão, conforme detemina o art. 222, §3º.
264 Cf. art. 6º, da Lei n. 12.485/2011.
265 Sobre o tema: SCORSIM, Ericson Meister. Ministério Público Federal recomenda que empresa de te-
lecomunicações deixe de ofertar serviços de programação e empacotamento de conteúdo audiovisual.
Disponível em: http://meisterscorsim.com/ministerio-publico-federal-recomenda-que-empresa-de-
-telecomunicacoes-deixe-de-ofertar-servicos-de-programacao-e-empacotamento-de-conteudo-audio-
visual/
266 Cf. art. 12, da Lei n. 12.485/2011.

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DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

De acordo com a Lei da TV por assinatura, as atividades de empacotamento


consistem na organização, em última instância, de canais de programação,
inclusive nas modalidades avulsa de programação e avulsa de conteúdo
programado, a serem distribuídos para o assinante.267 

Tal Lei exige que as produtoras brasileiras sejam independentes. Para tanto,
não devem ser controladoras, controladas ou coligadas a programadoras,
empacotadoras, distribuidoras ou concessionárias de serviço de radiodifusão
de sons e imagens. Também não podem manter vínculo de exclusividade
que impeça de produzir ou comercializar para terceiros os conteúdos
audiovisuais por elas produzidos.268 

8. COTAS DE CONTEÚDO BRASILEIRO NA PROGRAMAÇÃO DE


TV POR ASSINATURA
A Lei 12.485/2011 cria obrigação de veiculação, pelos canais de espaço
qualificado, de no mínimo 3h30 (três horas e trinta minutos) semanais
dos conteúdos brasileiros, sendo que a metade deverá ser produzida por
produtora brasileira independente.269 Também, tal lei prevê que nos pacotes
ofertados aos assinantes contenha ao menos 1 (um) canal brasileiro a cada 3
(três) canais de espaço qualificado existentes no pacote.270

267 Segundo Vinícius Alves Portela Martins: “Na maior parte dos casos, o distribuidor é o responsável pelas
atividades de empacotamento, que é a organização dos canais em pacotes para venda ao assinante”. In
Agência Nacional do Cinema - Ancine. Comentários à Medida Provisória n. 2.228/1-01 ao Decreto n.
4.121/02 e à Lei n. 12.485/11. São Paulo: Atlas, 2015, p. 324.
Modalidade avulsa de programação é a modalidade de canais de programação organizados para aqui-
sição avulsa por parte do assinante (art. 2º, inc. XV, da Lei n. 12.485/2011). Já a Modalidade Avulsa de
Conteúdo Programado ou Modalidade de Vídeo por Demanda Programado é a modalidade de conteúdos
audiovisuais organizados em canais de programação e em horário previamente definido pela programa-
dora para aquisição avulsa por parte do assinante (art. 2º, inc. XIV, da Lei n. 12.485/2011).
268 Cf. art. 2º, III, alínea “c”, da Lei n. 12.485/2011.
269 Cf. art. 16, da Lei n. 12.485/2011.
270 Cf. art. 17, da Lei n. 12.485/2011.

127
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

As regras que criam cotas de conteúdo nacional e exigência de número mínimo


de canais brasileiros de televisão nos pacotes ofertados pelas empresas de
TV por assinatura visam estimular a demanda por produtos da indústria
audiovisual nacional. Esse incentivo vigorará durante o prazo de 12 (doze)
anos, contados da promulgação da Lei da TV por assinatura.271

9. PUBLICIDADE COMERCIAL: LIMITE DE 25% DO TEMPO TOTAL


DE PROGRAMAÇÃO
A Lei n. 12.485/2011 estabelece como regra para veiculação de publicidade
comercial nos serviços de televisão por assinatura a observância do limite
aplicável aos serviços de televisão por radiodifusão. Ou seja, 25% (vinte e
cinco por cento) do tempo total de programação na TV por assinatura pode
ser destinado à publicidade comercial. Exceção a este limite legal, são os
canais exclusivos de publicidade comercial, de vendas e de infocomerciais.272

10. DIREITO DOS ASSINANTES


A Lei da TV por assinatura estabelece os seguintes direitos dos assinantes: i)
conhecer, previamente, o tipo de programação a ser exibida; ii) contratar com
a distribuidora do serviço de acesso condicionado os serviços de instalação
e manutenção dos equipamentos necessários à recepção dos sinais; iii)
relacionar-se apenas com a prestadora do serviço de acesso condicionado
da qual é assinante; iv) receber cópia impressa ou em meio eletrônico dos
contratos formalizados; v) ter a opção de contratar exclusivamente, de forma
onerosa, os canais de televisão por radiodifusão de distribuição obrigatória.273

271 Cf. art. 41, da Lei n. 12.485/2011.


272 Cf. art. 24, Parágrafo único, da Lei n. 12.485/2011.
273 Cf. art. 33, da Lei n. 12.485/2011.

128
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

São aplicáveis aos serviços de TV por assinatura os direitos previstos no


Código de Defesa do Consumidor e aqueles previstos no Regulamento dos
Direitos dos Consumidores nos serviços de telecomunicações, na forma da
Resolução n. 632/2014 da Anatel.

11. COMPETÊNCIA DA ANATEL PARA OUTORGAR, NORMATIZAR


E FISCALIZAR OS SERVIÇOS DE ACESSO CONDICIONADO
(SEAC)
A Anatel tem competência para outorgar, regular e fiscalizar os serviços de
distribuição dos canais de programação audiovisual. A empresa interessada
na obtenção da autorização do SeAC deve encaminhar solicitação à ANATEL,
através de formulário próprio, acompanhada dos documentos relativos à
habilitação jurídica, qualificação técnica, qualificação econômico-financeira
e de regularidade fiscal, conforme o disposto no Anexo II do Regulamento
do Serviço de Acesso Condicionado (Resolução n. 581/2012). Também, deve
apresentar Projeto Técnico, elaborado nos termos do Anexo I do mesmo
regulamento. A autorização para a exploração do SeAC se dará sempre a
título oneroso, sendo devido o Preço Público pelo Direito de Exploração
de Serviços de Telecomunicações e pelo Direito de Exploração de Satélite
– PPDESS. O prazo para o início da prestação comercial do serviço é de
até 18 (dezoito) meses, contado a partir da data de publicação do Ato de
Outorga para prestação do serviço no Diário Oficial da União.274 As empresas
prestadoras dos serviços de acesso condicionado, além da vinculação à
Lei da Comunicação Audiovisual de Acesso Condicionado, também estão
sujeitas às penalidades previstas na Lei n. 9.472/97.275 Essa lei prevê que
a autorização para execução de serviços de telecomunicações não tem sua

274 Cf. art. 22, da Resolução n. 581/2012, da Anatel.


275 Cf. art. 79, da Resolução n. 581/2012, da Anatel.

129
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

vigência sujeita a termo final.276 Todavia, a autorização poderá extinguir-se


por cassação, caducidade, decaimento, renúncia ou anulação.277 A anulação
da autorização poderá ser decretada, judicial ou administrativamente, em
caso de irregularidade do ato que a expediu278, mediante ato administrativo
precedido de processo que garanta contraditório e ampla defesa.279

Na hipótese de infração à Lei do SeAC, compete à Anatel promover a abertura


de processos administrativos e aplicar as respectivas sanções em relação
à prestadoras do serviço de acesso condicionado. Sobre o tema, a Anatel
editou a Resolução n. 581/2012, que trata do Regulamento do SeAC. Neste
aspecto, a lei menciona que a sua regulamentação pela Anatel, depende de
parecer do Conselho de Comunicação Social.280

11.1. REGULAMENTO DO SERVIÇO DE ACESSO CONDI-


CIONADO: RESOLUÇÃO N. 581/2012, DA ANATEL
A Anatel editou a Resolução n. 581/2012 que trata do regulamento do serviço
de acesso condicionado. Esta Resolução contém definições, características
dos serviços, utilização das redes de telecomunicações, autorização
para a prestação do serviço, área de prestação do serviço, da instalação e
licenciamento do serviço, transferências da outorga, autorização do uso
de radiofrequências, extinção da autorização, canais de programação de
distribuição obrigatória, canais de programação das geradoras locais, direitos
e obrigações das prestadoras, das infrações, das sanções, da adaptação das
autorizações e contratos das prestadoras dos serviços de TV a cabo, MMDS,

276 Cf. art. 138, da Lei n. 9.472/1997.


277 Cf. art. 138, da Lei n. 9.472/1997.
278 Cf. art. 143, da Lei n. 9.472/1997.
279 Cf. art. 144, da Lei n. 9.472/1997.
280 Cf. art. 42, da Lei 12.485/2011.

130
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

DTH (TV por satélite) e TVA (TV especial por assinatura), para autorização
dos serviços de acesso condicionado.281

12. COMPETÊNCIA DA ANCINE PARA FISCALIZAR OS SERVIÇOS


DE EMPACOTAMENTO E PROGRAMAÇÃO DOS CANAIS DE TV
POR ASSINATURA
A Ancine é agência reguladora com competência para regular e fiscalizar as
atividades de programação e empacotamento dos canais de televisão por
assinatura.282 Neste aspecto, compete-lhe verificar o cumprimento da Lei
n. 12.485/2014, com abertura de processos administrativos e aplicações
de sanções às empresas de programação e empacotamento dos canais. As
empresas que oferecem serviços de programação e empacotamento estão
submetidas ao regime de credenciamento perante Ancine, conforme Art. 12,
da Lei n. 12.485/2011.283

281 SCORSIM, Ericson Meister. Direito dos consumidores nos serviços de telefonia fixa, móvel pessoal,
conexão à internet e TV por assinatura: aproximação entre o Direito do Consumidor e o Direitos das
Comunicações, artigo publicado na Coletânea Repensando o Direito do Consumidor III. Coleção Comis-
sões OAB/PR. Vol. XIX. 2015. E-book disponível para download em http://www.oabpr.com.
br/Noticias.aspx?id=22349
282 A Ancine, Agência Nacional do Cinema, é autarquia em regime especial, criada na forma da MP 2.2228-
1, de 06 de setembro de 2001. Tem competências sobre os segmentos de cinema, vídeo doméstico, publi-
cidade, e TV por assinatura. A Ancine não tem competência regulatória sobre os serviços de televisão e
rádio por radiodifusão, excetuadas a competência para fiscalizar o dever de informar sobre contratação
de direitos de exploração comercial, licenciamento, produção, coprodução, exibição, distribuição, co-
mercialização de obras cinematográficas e videofonográfivas em qualquer suporte ou veículo no mer-
cado brasileiro. Sobre o tema, Martins. Vinícius Alves Portela. Agência Nacional do Cinema - Ancine.
Comentários à Medida Provisória n. 2.228/1-01 ao Decreto n. 4.121/02 e à Lei n. 12.485/11. São Paulo:
Atlas, 2015, p. 324.
283 A título ilustrativo, a Ancine multou a empresa Sky, com fundamento no art. 5 º da Lei 12.485/2011, pelo
fato de explorar o canal de programação canal Sports+, sendo uma empresa distribuidora de canais de
programação. Também, em outro exemplo, a TV Meteorológica Ltda ingressou com ação judicial contra
ato da Ancine, para fins de reconhecimento da validade jurídica de sua autodeclaração de classificação
como canal brasileiro de espaço qualificado independente, para fins de enquadramento no regime de
cotas do art. 17 da Lei 12.485/2011.

131
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

CONCLUSÕES

1. DIREITO DAS COMUNICAÇÕES


O Direito das Comunicações é a especialidade do conhecimento jurídico da
legislação aplicável aos serviços de telecomunicações, internet e televisão.
Este ramo do direito trata da análise das leis aplicáveis sobre os diferentes
serviços de comunicação: telefonia fixa, móvel pessoal, acesso à internet
e aplicações de internet, TV e rádio por radiodifusão e TV por assinatura.
O objetivo é apresentar algumas linhas iniciais para sistematização do
Direito das Comunicações, com foco na análise da legislação dos serviços
de telecomunicações (Lei n. 9.472/1997), serviços de televisão e rádio por
radiodifusão (Lei n. 4.117/1962), serviços de TV por assinatura (Lei n.
12.485/2011), serviços de acesso à internet e aplicações (Lei n. 12.965/2014).

2. TELECOMUNICAÇÕES: SERVIÇO DE TELEFONIA FIXA E


MÓVEL PESSOAL
É aplicável a Lei Geral de Telecomunicações aos serviços de telefonia fixa e
serviço móvel pessoal. O regime de outorga do serviço de telefonia fixa pode
ser sob a forma de concessão ou de autorização administrativa, precedido de
processo licitatório. A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) é
a agência reguladora com competência para outorgar e fiscalizar os serviços
de telecomunicações. Esta agência reguladora, com fundamento em sua
competência normativa sobre os serviços de telecomunicações, editou o
Regulamento do Serviço de Telefonia Fixa, o Regulamento do Serviço Móvel
Pessoal e o Regulamento dos Direitos dos Consumidores nos Serviços de
Telecomunicações. A Lei n. 13.116/2015 contém as normas gerais para o

132
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

licenciamento, instalação e o compartilhamento da infraestrutura de redes


de telecomunicações.284

3. INTERNET: SERVIÇOS DE CONEXÃO E APLICAÇÕES DE


INTERNET
O Marco Civil da Internet, aprovado pela Lei n. 12.965/2014, contém os
princípios, direitos e deveres dos usuários e provedores de conexão e
aplicações de internet.

Esta lei diferencia os serviços de conexão à internet dos serviços de aplicações


de internet.

3.1 REGIME LEGAL DOS PROVEDORES DE APLICAÇÕES PARA


INTERNET
O provedor de serviços de internet está submetido ao regime de autorização
administrativa da Anatel. O serviço de conexão à internet é classificado
como espécie de serviço de valor adicionado à rede de telecomunicações,
daí o fundamento da competência da Anatel para regular e garantir o
direito de acesso dos provedores de internet às redes de telecomunicações.
Diferentemente, os serviços de aplicações de internet, como WhatsApp,
Facebook, Google, Netflix, Youtube, não dependem de outorga do poder
público como é caso de autorização administrativa. A Anatel não tem
competência para regular os serviços de aplicações de internet; estes estão

284 Sobre a análise da Lei do Licenciamento, Implantação e Compartilhamento de Redes de Telecomuni-


cações, ver SCORSIM, Ericson Meister, artigo Lei Federal das Normas Gerais para Licenciamento e
Compartilhamento de Infraestrutura de Rede de Telecomunicações, publicado na Revista do Instituto
dos Advogados de São Paulo. Ano 18 • ed. 35 • Janeiro - Junho 2015.

133
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

protegidos pela garantia constitucional da livre iniciativa.285 Aqui, prevalece


o regime da concorrência entre os agentes econômicos.

3.2 BLOQUEIO JUDICIAL DO WHATSAPP


O Marco Civil da Internet em seu art. 12, incs. III e IV, admite como sanções
a suspensão temporária das atividades das empresas que ofertam aplicações
de internet e a proibição de exercício das atividades destas empresas. Mas,
estas sanções de suspensão temporária e proibições previstas no Marco Civil
da Internet são aplicáveis somente na hipótese das operações de coleta,
armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou
de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet.
Ou seja, somente na hipótese de grave descumprimento de legislação
brasileira de proteção aos direitos à privacidade, à proteção dos dados
pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros é que seria
possível a aplicação das sanções de suspensão temporária e proibição das
atividades em território nacional. A finalidade da norma legal é - registre-
se - evidentemente a proteção dos direitos fundamentais à privacidade,
proteção dos dados pessoais e sigilo das comunicações.

4. TELEVISÃO POR RADIODIFUSÃO

4.1 TV COMERCIAL
A Constituição, no capítulo da Comunicação Social, contém diversas regras e
princípios aplicáveis às emissoras de televisão comercial. Há as garantias da
liberdade de expressão e informação jornalística, com a vedação à censura,

285 SCORSIM, Ericson Meister. Competência da Anatel para outorgar e fiscalizar os serviços de acesso à
Internet: limites e possibilidades. Artigo em vias de publicação.

134
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

os princípios da produção e programação de rádios e TVs, as regras sobre a


propriedade das empresas de radiodifusão, bem como sobre a participação
de capital estrangeiro, as regras para outorga, concessão, renovação e
cancelamento e prazo dos serviços de radiodifusão.

Os serviços de televisão por radiodifusão comercial são disciplinados pela


Lei n. 4.117/1962. O regime de outorga é na forma da concessão, realizada
mediante prévio processo licitatório conduzido pelo Ministério das
Comunicações. Por sua vez, a autorização é utilizada nos serviços de repetição
de televisão e retransmissão de televisão. O ato de outorga é de competência
da Presidência da República, juntamente com o Congresso Nacional. A
referida lei estabelece as condições técnicas para a prestação dos serviços de
radiodifusão, bem como a organização da programação, com as obrigações
das concessionárias de televisão. O prazo da concessão e autorização é de 10
(dez) anos para o serviço de radiodifusão sonora e de 15 (quinze) anos para
o de televisão, podendo ser renovados por períodos sucessivos e iguais.286
Destaque-se a necessidade de edição de nova lei, em substituição à Lei n.
4.117, de 1962, que estabeleça o marco regulatório dos serviços de televisão
e rádio por radiodifusão do setor privado, atualizado à Constituição, bem
como à evolução das tecnologias. Evidentemente que esta nova lei há de
respeitar o núcleo fundamental da liberdade de radiodifusão, o qual garante
liberdades de produção e programação às empresas de televisão e rádio
por radiodifusão. Eventuais limites legislativos à liberdade de radiodifusão
somente podem ser aprovados se conforme à Constituição e ao regime de
direitos fundamentais nela previstos.

286 Cf. art. 33, §3º, da Lei n. 4.117/1962.

135
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

4.2 TV PÚBLICA
A TV pública é regulada Lei n. 11.652/2008. A Empresa Brasil de
Comunicação é a empresa pública responsável pela gestão da TV pública
no âmbito federal. Entre os objetivos dos serviços de radiodifusão pública:
i) oferecer mecanismos para debate público acerca de temas de relevância
nacional e internacional; ii) desenvolver consciência crítica do cidadão; iii)
fomentar a construção da cidadania; iv) fomentar a produção audiovisual
nacional, entre outros.287

4.3 TV ESTATAL
A TV estatal destina-se à comunicação institucional dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário. O sistema de TV estatal é integrado por diversas
emissoras, como por exemplo: TV Justiça288, TV Câmara, TV Senado, TVs
das Assembleias Legislativas, TV NBR, TV das Câmaras de Vereadores. Não
há legislação específica para estas espécies de canais estatais de televisão.
Há tão-somente uma referência na legislação da Lei da TV por assinatura,
quando se refere à distribuição obrigatória dos canais estatais para as
prestadoras do serviço de acesso condicionado.289

287 Cf. art. 3 da Lei n. 11.652/2008.


288 Na ADPF n. 130, o voto do Min. Carlos Ayres Britto sobre a TV Justiça destaca: É da lógica encampada
pela nossa Constituição de 1988 a autorregulação da imprensa como mecanismo de permanente ajuste
de limites de sua liberdade ao sentir-pensar da sociedade civil. Os padrões de seletividade do próprio
corpo social operam como antídoto que o tempo não cessa de aprimorar contra os abusos e desvios jor-
nalísticos. Do dever de irrestrito apego à completude e fidedignidade das informações comunicadas ao
público decorre a permanente conciliação entre liberdade e responsabilidade da imprensa. Repita-se:
não é jamais pelo temor do abuso que se vai proibir o uso de uma liberdade de informação a que o pró-
prio Texto Magno do País o rótulo de “plena”(§1º, do art. 220).
289 Sobre o tema, SCORSIM, Ericson Meister. TV Digital e Comunicação Social: aspectos regulatórios - TVs
pública, estatal e privada. Editora Fórum, 2008.

136
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

5. TELEVISÃO POR ASSINATURA


A Lei n. 12.485/2011 aprova o regime dos serviços de comunicação audiovisual
de acesso condicionado. A prestação dos serviços de TV por assinatura está sob
o regime de autorização administrativa pela Anatel. A Lei regula as atividades
econômicas de produção, empacotamento, programação, distribuição. A
Anatel tem competência para outorgar, regular e fiscalizar os serviços de
distribuição de canais de programação. A Ancine tem competência para
credenciar as empresas de empacotamento e programação dos canais de TV
por assinatura. A Anatel e Ancine tem competência normativa para editar
regulamentos sobre a prestação dos serviços de comunicação audiovisual
de acesso condicionado. Mas, os serviços de aplicações de internet estão
excluídos da competência regulatória da Anatel, como é o caso do WhatsApp
e Netflix.290

A constitucionalidade da Lei da TV por Assinatura (Lei n. 12.485/2011) está


sendo debatida no STF através nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade
4.679, 4.759, 4.747 e 4.923, de relatoria do ministro Luiz Fux. Nas ADIs são
discutidas diversas questões constitucionais, tais como: regra da lei da tevê
por assinatura que estabelece restrições à participação e controle societário
por empresas de telecomunicações de interesse coletivo nas empresas de
radiodifusão; regra que trata da distribuição obrigatória, pelas prestadoras do
serviço de lei da tevê por assinatura, dos canais de televisão por radiodifusão
(regras must-carry); norma legal que determina as cotas de conteúdo brasi-
leiro na programação dos serviços de tevê por assinatura; questionamento
da constitucionalidade das regras de transição do regime antigo, referente
aos atos de concessão e respectivos contratos das atuais prestadoras de

290 Para detalhamento do tema, ver SCORSIM, Ericson. Competência da Anatel para outorgar e fiscalizar os
serviços de acesso à internet: limites e possibilidade. Artigo publicado na Revista de Direito Administra-
tivo Contemporâneo(ReDAC). Ano 3. nº 21. Novembro-Dezembro de 2015.

137
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

tevê a cabo, para o regime novo de outorga por autorização administrativa


dos serviços de comunicação audiovisual de acesso condicionado, etc. O
Min. Relator Luiz Fux votou pela constitucionalidade de todos os artigos
questionados291, à exceção da declaração de inconstitucionalidade do art.
25. 292
A fixação da constitucionalidade da moderna Lei da Comunicação
Audiovisual de Acesso Condicionado pelo STF tem forte repercussão sobre os
prestadores dos serviços do SeAC, distribuidoras de canais de programação,
programadoras, empacotadoras e produtoras de obras audiovisuais.

291 Votaram com Relator, até o momento, os Ministros Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki e Rosa Weber.
Luiz Edson Fachin considerou a lei totalmente constitucional – inclusive o artigo 25. Ainda aguardam-se
os votos de mais seis Ministros.
292 Vide nota anterior

138
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

REFERÊNCIAS NORMATIVAS

• Lei Geral de Telecomunicações: Lei n. 9.472/1997;

• Televisão e Rádio por Radiodifusão do setor comercial: Lei n. 4.117/62;

• Serviços de Radiodifusão Pública: Lei n. 11.652/2008;

• Serviços de TV por Assinatura (Comunicação Audiovisual de Acesso

Condicionado): Lei n. 12.485/2011;

• Rádios Comunitárias: Lei n. 9.612/1998;

• Marco Civil da Internet: Lei n. 12.965/2014.

ANATEL. Resolução nº 426, de 9 de dezembro de 2005. Aprova o


Regulamento do Serviço Telefônico Fixo Comutado – STFC.

ANATEL. Resolução nº 477, de 7 de agosto de 2007. Aprova o


Regulamento do Serviço Móvel Pessoal SMP.

ANATEL. Resolução nº 574, de 28 de outubro de 2011. Aprova o


Regulamento de Gestão da Qualidade do Serviço de Comunicação Multimídia
(RGQ-SCM).

ANATEL. Resolução nº 581, de 26 de março de 2012. Aprova o


Regulamento do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) bem como a
prestação do Serviço de TV a Cabo (TVC), do Serviço de Distribuição de
Sinais Multiponto Multicanal (MMDS), do Serviço de Distribuição de Sinais

139
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

de Televisão e de Áudio por Assinatura via Satélite (DTH) e do Serviço


Especial de Televisão por Assinatura (TVA).

ANATEL. Resolução nº 614, de 28 de maio de 2013.Aprova o


Regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia e altera os Anexos I e
III do Regulamento de Cobrança de Preço Público pelo Direito de Exploração
de Serviços de Telecomunicações e pelo Direito de Exploração de Satélite.

ANATEL. Resolução nº 625, de 11 de novembro de 2013. Aprova


a Atribuição, a Destinação e o Regulamento sobre Condições de Uso de
Radiofrequências na Faixa de 698 MHz a 806 MHz.

ANATEL. Resolução nº 632, de 7 de março de 2014. Aprova o Regulamento


Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações – RGC.

ANATEL. Resolução nº 634, de 28 de março de 2014. Aprova a alteração


da Cláusula 3.2, § 1, inciso I, do Contrato de Concessão para a exploração
do Serviço Telefônico Fixo Comutado – STFC, nas modalidades de serviço
Local, Longa Distância Nacional – LDN e Longa Distância Internacional –
LDI, para ampliar prazo para submissão a Consulta Pública de propostas de
alterações para o pedido de 2016 a 2020.

ANATEL. Resolução nº 640, de 11 de julho de 2014. Aprova o


Regulamento sobre Condições de Convivência entre os Serviços de
Radiodifusão de Sons e Imagens e de Retransmissão de Televisão do SBTVD
e os Serviços de Radiocomunicação Operando na Faixa de 698 MHz a 806
MHz.

140
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

BRASIL. Decreto nº 5.371, de 17 de fevereiro de 2005. Aprova o


Regulamento do Serviço de Retransmissão de Televisão e do Serviço de
Repetição de Televisão, ancilares ao Serviço de Radiodifusão de Sons e
Imagens. DOU de 17.fev.2005.

BRASIL. Decreto nº 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a


implantação do SBTVD-T, estabelece diretrizes para a transição do sistema
de transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de
radiodifusão de sons e imagens e do serviço de retransmissão de televisão, e
dá outras providências. DOU de 30.jun.2006.

BRASIL. Decreto nº 52.795, de 31 de outubro de 1963. Aprova o


Regulamento dos Serviços de Radiodifusão. DOU de 12.nov.1963.

BRASIL. Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967. Complementa


e modifica a Lei número 4.117 de 27 de agosto de 1962. DOU de 28.fev.1967
e retificado em 9.mar.1967.

BRASIL. Justiça Federal de São Paulo. Seção Judiciária de São Paulo.

BRASIL. Lei 13.188, de 11 de novembro de 2015, que dispõe sobre


o direito de resposta ou retificação do ofendido em matéria divulgada,
publicada ou transmitida por veículo de comunicação social.

BRASIL. Lei 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios,


garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. DOU de 24.
Abr. 2014.

141
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

BRASIL. Lei 9.472, de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização


dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um
órgão regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda
Constitucional nº 8, de 1995. DOU de 17.jul.1997.

BRASIL. Lei nº 11.652, de 7 de abril de 2008. Institui os princípios


e objetivos dos serviços de radiodifusão pública explorados pelo Poder
Executivo ou outorgados a entidades de sua administração indireta; autoriza
o poder Executivo a constituir a Empresa Brasil de Comunicação – EBC;
altera a Lei nº 5.070, de 7 de julho de 1996, e dá outras providências. DOU
de 8.abr.2008.

BRASIL. Lei nº 12.485, de 12 de setembro de 2011. Dispõe sobre a


comunicação audiovisual de acesso condicionado; altera a Medida Provisória
nº 2.228-1, de 6 de setembro de 2001, e as Leis nº 11.437, de 28 de dezembro
de 2006, 5.070, de 7 de julho de 1966, 8.977, de 6 de janeiro de 1995, e 9.472,
de 16 de julho de 1997; e dá outras providências. DOU de 13.set.2011.

BRASIL. Lei nº 13.116, de 20 de abril de 2015. Estabelece normas gerais


para implantação e compartilhamento da infraestrutura de telecomunicações
e altera as Leis nº 9.472, de 16 de julho de 1997, 11.934 de 5 de maio de 2009,
e 10.247, de julho de 2001. DOU de 22.abr.2015.

142
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

BRASIL. Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962. Institui o Código


Brasileiro de Telecomunicações. DOU de 17.dez.1962.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto


da Criança e do Adolescente e dá outras providências. DOU de 16.jul.1990 e
retificado em 27.set.1990.

BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art.


37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e
contratos da ADMINISTRAÇÃO Pública e dá outras providências. DOU de
22.jun.1993, republicado em 6.jul.1994 e retificado em 6.jul.1994.

BRASIL. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime


de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art.
175 da Constituição Federal, e dá outras providências. DOU de 14.fev.1995 e

republicado em 28.set.1998.

BRASIL. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas


para as eleições. DOU de 01.out.1997.

BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e


consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. DOU
de 20.fev.1998.

BRASIL. Ministério das Comunicações. Portaria nº 462, de 14 de


outubro de 2011. Aprova a Norma nº 1/2011, sobre o serviço de radiodifusão
comunitária e revoga a Portaria nº 448, de 13/10/2005 (DOU de 14/10/2005),

143
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

a Portaria nº 103, de 23 de janeiro de 2004 (DOU de 26/11/2004) e a norma


por ela aprovada. DOU de 20.out.2011.

CONANDA. Resolução nº 163, de 13 de março de 2014. Dispõe


sobre a abusividade do direcionamento de publicidade e de comunicação
mercadológica à criança e ao adolescente.

144
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

REFERÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS
DO STF

• Lei Geral de Telecomunicações: ADI 561-8;

• Lei da TV e Rádio por Radiodifusão comercial (Lei n. 4.117/1962): ADI


561-8;

• TV Digital: ADI 3.944;

• Classificação Indicativa da Programação de Televisão por Radiodifusão:


ADI 2404.

• Lei da TV por assinatura: ADI’s 4679, 4747, 4756 e 4923.

145
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRINO. José Alberto de Melo. Estatuto Constitucional da


atividade de televisão. Coimbra: Ed. Coimbra, 1998.

ARANHA, Márcio Iorio. Direito das Telecomunicações: Histórico


Normativo e Conceitos Fundamentais. 3. ed., London: Laccademia
Publishing, 2015.

BECHARA. Marcelo e BORGES. Luana. O Marco Civil da Internet e o


setor de telecomunicações. O Marco Civil da Internet – Análise Jurídica
sob uma Perspectiva Empresarial. Coordenador; Gustavo Artese. 1ªed.
Quartier Latin. 2015.

BENKLER. Yochai. The wealth of networks: How social production


transforms markets and freedom. Yale University press e New Haven
and London. 2006.

BRASIL. Justiça Federal de São Paulo. Seção Judiciária de São Paulo.


6ª Vara/SP-Capital-Cível. Ação Civil Pública proposta pelo Ministério
Público Federal contra Abril Radiodifusão S.A., Spring Televisão S.A.
e União Federal objetivando:(i) a suspensão da execução do serviço de
radiodifusão conferido a a Abril Radiodifusão S.A. e transferida a Spring
Televisão S.A;(ii) a determinação para que as rés Abril Radiodifusão S.A.
e Spring Televisão S.A. apresentem toda a documentação que embasou e
instrumentalizou a venda da “licença de utilização de radiofrequência e seus

146
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

ativos operacionais”, inclusive quanto aos aspectos comerciais financeiros


da transação;(iii) a determinação para que a União se abstenha de conceder
às co-rés novas outorgas para execução de serviços de radiodifusão e de
autorizar a transferência de outorga às co-rés e a seus representantes legais.
Julgo Improcedente a medida cautelar requerida”. Processo nº 0006235-
69.2015.4.03.6100. 23.jul.2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº


141.322-RJ. Julgado 01.out.2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº


142.731-RJ. Julgado 10.set.2015.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 1.559.264-RJ. Sem


julgamento.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 883196-RS. Julgado


26.ago.2008.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cautelar 3420/RJ. Julgado


05.ago.2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 2.404-DF. Julgado


05.nov.2015.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 3.533-DF. Julgado


02.ago.2006.

147
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 3.846- PE. Julgado


25.nov.2010.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 3.944-DF. Julgado


05.ago.2010.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 4.083-DF. Julgado


25.nov.2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 4.369-SP. Julgado


15.out.2014.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 4.430-DF. Julgado


29.jun.2012.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 4.533-MG. Julgado


25.ago.2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 5.062- DF. Sem julgamento.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 5.065-DF. Sem julgamento.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 561-8-DF. Julgado


23.ago.1995.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn nº 869-2-AP. Julgado


09.ago.2010.

148
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF nº 130-DF. Julgado


25.mar.2009.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF nº 246-DF. Sem julgamento.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário com


Agravo 764.029. Julgado 05.ago.2013.

BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 11ª Vara Cível da Comarca de São
Paulo. – Procedimento Ordinário – Responsabilidade Civil. Partes: Psafe
Tecnologia S.A. e Baidu Brasil Internet Ltda. Processo em trâmite.

BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 4ª Câmara de Direito Privado,


Cobrança de direitos autorais de emissoras de radiodifusão em decorrência
de transmissão “simulcasting” e “webcasting” “internet”. Inadmissibilidade.
A utilização de dois veículos de transmissão não descaracteriza o fato de
se tratar de uma única modalidade para a execução pública. Pretensão do
ECAD se apresenta como “bis in idem”. Procedência da ação deve prevalecer.
Apelo provido. Apelação Cível nº: 0173652-06.2010.8.26.0100, Relator:
Natan Zelinschi de Arruda, 24/04/2014, DJ nº 1640 de 25. Abr.2014.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná. 17ª Câmara Cível. “AGRAVO –


Decisão Monocrática – Desprovimento do recurso – Tutela antecipada
concedida para impedir eventual cobrança e taxação dúplice de direitos
autorais pela transmissão de programas de rádio e televisão, via simulcasting
– comprovação da verossimilhança das alegações e da existência do dano
irreparável de difícil ou incerta reparação – eventual cobrança ilegal pela

149
DIREITO DAS COMUNICAÇÕES • ERICSON M. SCORSIM

reprodução simultânea de programa no próprio site de das emissoras de


rádio e de televisão, decorrente da mesma transmissão pública já taxada
– natureza precária da medida que pode ser revogada a qualquer tempo –
decisão mantida – Agravo desprovido. Agravo de Instrumento nº 1.336.400-
0/01. Des. Relator: Luis Sérgio Swiech, 22.04.2015. DJ nº 1555 de 30. Abr.
2014.

CONANDA. Resolução nº 163, de 13 de março de 2014. Dispõe


sobre a abusividade do direcionamento de publicidade e de comunicação
mercadológica à criança e ao adolescente.

HOBAIKA. Marcelo Bechara de Souza e BORGES. Luana Chystyna


Carneiro. Responsabilidade jurídica pela transmissão, comutação
ou roteamento e dever de igualdade relativo a pacote de dados.
Coordenação de George Salomão Leite e Ronaldo Lemos. Marco Civil da
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