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Claudio Ulpiano
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chamada hesitação. Então, a hesitação não é uma falha - uma falha humana! A
hesitação é a essência da própria vida! A vida é essencialmente hesitante. E se ela é
essencialmente hesitante, a vida é essencialmente problemática. A vida é
problemática.
Então, o problema não é uma de ciência do vivo. O vivo se relaciona com o
mundo - problematizando. A partir disso, nós podemos dizer, à maneira do
Foucault, ontologia do problema - o vivo torna ontológico o problema. Vejam bem o
que eu estou dizendo: o vivo tem - como essência - a problematização: a questão
dele não é caminhar numa resposta; a questão dele é problematizar -
permanentemente!
Neste ponto, podem aparecer as grandes questões da subjetividade, que
estariam exatamente aqui, no que se chama subjetividade material e subjetividade
espiritual - cuja diferença estaria em que a subjetividade espiritual sempre se
expressaria pela problematização. Ou seja: subjetividade espiritual é o que
Espinosa chamaria de terceiro gênero do conhecimento, que teria como questão
permanente problematizar, entender - enquanto que a questão da subjetividade
material seria submeter-se ou obedecer. E toda essa questão, que eu estou
levantando, se daria exatamente nesse intervalo.
Então, essa categoria de problema começa a fazer uma deriva na tradição
epistemológica do ocidente. O problema não surge por de ciência do sujeito do
conhecimento; o problema é a essência do próprio pensamento. Ou seja, o
pensamento não tem como objetivo conhecer; tem como objetivo problematizar.
Então, essa categoria de problema já gera para nós a viabilidade de vários mundos
possíveis. (Certo? Muito bem!)
O Bergson, já agora com uma linha muito poderosa do Deleuze, vai falar de
uma passagem do mundo do movimento para o mundo do tempo. Ora, o que eu
mostrei para vocês foi que o esquema sensório-motor é governado pelos quatro
elementos que o movimento tem. Quais os elementos? a ação, a percepção, a
pulsão e a afecção - são os quatro elementos do movimento. Mas eu coloquei que
o tempo, quando sai do mundo supralunar, quando - segundo Hamlet - ele sai dos
seus gonzos, o movimento se torna aberrante, o tempo se separa do movimento e
aqui vai acontecer alguma coisa semelhante. Por exemplo, quando a percepção
recebe os movimentos que vêm de fora; e prolonga esses movimentos para o
sistema motor, passando antes pelo pequeno intervalo, esse "pequeno intervalo",
ao invés de jogar esse movimento para o sistema motor, devolve o movimento
para o sistema perceptivo. O sistema perceptivo manda o movimento, e ao invés
de prolongar, ele devolve o movimento.
Por exemplo: o cinema sueco, numa tentativa de construir um cinema fora
do esquema sensório-motor, fora do movimento, começou a trabalhar com o
moribundo. Por quê? Porque o moribundo seria exatamente aquele que, quando
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recebesse o movimento de fora, não teria forças para prolongar esse movimento
no esquema sensório-motor. Então, quando o movimento chegasse ao pequeno
intervalo, ele faria a devolução do movimento.
Essa devolução do movimento - esse bloqueio do movimento do sensório para
o motor - vai ser o início da imagem-tempo. Então, o tempo vai começar a surgir -
nós estamos começando a ter noção disso - pelo que se chama "a quebra" do
sistema sensório-motor. Essa quebra do sistema sensório-motor é inicialmente
muito simples. Essa quebra se dá quando o movimento recebido não se prolonga
em movimento devolvido. Isso seria a quebra desse esquema-sensório motor -
que o Bergson disse ter que se dar por dentro. (Eu vou encerrar essa parte!)
Quer dizer, o esquema sensório-motor tem que se quebrar por dentro para
que a subjetividade se libere do domínio do movimento e se constitua pelo tempo.
E a constituição da subjetividade pelo tempo seria a conquista da liberdade
humana.
Então, essa foi a apresentação desta aula, eu acho que foi su ciente. Eu,
agora, começo a trabalhar nessa exposição que eu z.
Muito bem!
Aluno: [inaudível] A quebra do esquema...
Claudio: O Bergson fala (eu vou falar muito sobre isso!) numa quebra do
esquema sensório-motor por dentro, ou seja: tem-se que quebrar o esquema
sensório-motor para se sair da dominação da imagem-movimento. Em termos de
cinema: sair do cinema realista - do cinema pulsional ou do sistema afetivo, ou
sair do cinema perceptivo - para entrar no cinema contemplativo. Quebrar por
dentro... mas, de uma forma difusa, usando o mesmo modelo do esquema sensório-
motor.
O Proust está muito envolvido com essa questão que eu coloquei. Toda a
questão dele é a conquista do tempo. Talvez Proust esteja à frente do próprio
Bergson. E ele levanta uma questão que, para nós, habituados com a formação do
pensamento platônico, nos assusta um pouco. O Proust vai fazer uma distinção
inteiramente original. Ele vai distinguir sujeito e essência.
Vejam bem! Nós estamos envolvidos nessas pesquisas teóricas, e nós
costumamos distinguir sujeito e objeto. Proust, não! Proust distingue entre
sujeito e essência. E diz - originalmente - que a subjetividade, ou o espírito ou o
nosso interior é constituído por dois componentes: de um lado, alguma coisa que
ele chama de sujeito; de outro, alguma coisa que ele chama de essência.
O sujeito - ou o sujeito humano - é constituído de pensamento. Ou seja: o
sujeito humano é constituído de pensamento; e o "pensamento" se distribui
numa série de faculdades - faculdade da imaginação, faculdade da memória,
faculdade da percepção, faculdade do intelecto, faculdade da razão, faculdade da
linguagem... Ou melhor: as faculdades não pré-existem. Mas as que existem não
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[virada de ta]
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sujeito pessoal - essa sordidez, não tenho outro nome para dizer!? - exerce sobre
a nossa vida.
Então, quebrar a história pessoal; quebrar o passado, com seus fantasmas,
que exercem um domínio sobre nós; e os objetivos do sujeito pessoal, que são
sempre os mesmos - a constituição de um conhecimento, do único mundo que ele
pensa que existe. Conhecimento que vai-lhe dar uma certa garantia, uma certa
tranquilidade, uma certa segurança. E nesse mundo ele constitui uma moral.
Então, Proust rompe com esse conhecimento, rompe com essa moral - que é
exatamente o o da Ariana, no Nietzsche, que é a combinação Ariana e Teseu:
rompe com esse conhecimento e com essa moral; rompe com as formas do amor; e
rompe com as formas da amizade - e produz o mundo da arte. É evidente que nesse
mundo da arte podem nascer novos tipos de amor e novos tipos de amizade.
Então, eu coloquei aqui essa posição do Proust, porque ela remete muito
claramente para a mesma posição do Bergson. Só que o Proust está muito na
frente. Então, faz-se confusão, quando se pensa que a obra do Proust está em
busca do passado. Isso é inteiramente falso, inteiramente falso! A questão do
Proust é uma só: a liberação do que se chama pensamento. Mas, não confundir... a
partir desta aula nós vamos começar a fazer a distinção entre pensamento e
intelecto. E eu vou colocar o intelecto como uma faculdade do sujeito, regulada
pelo sistema lógico do bom senso.
- O que se chama sistema lógico do bom senso? É um sistema que funciona
sempre da mesma maneira - indo do presente para o futuro. Ou seja: o bom senso
é um sistema subjetivo, um sistema intelectual e o seu funcionamento é partir do
presente para o futuro. E ele encontra o seu espelho, em termos objetivos, na
echa do tempo - que é aquilo que vai do presente para o futuro. Ou seja: echa
do tempo e bom senso - o primeiro, objetivo; o segundo, subjetivo - trabalhando
sempre da mesma maneira, partindo de uma maior diferença para uma menor
diferença.
Então, quando eu coloco a faculdade do pensamento puro e quando eu coloco
o intelecto - esses dois não têm o mesmo tipo de funcionamento. Por quê? (Na
segunda parte da aula eu vou melhorar isso, viu?) Porque esse intelecto é uma
estrutura lógica; e uma estrutura lógica do bom senso.
Vamos aplicar um silogismo: "Todo homem é mortal; Sócrates é homem;
logo, Sócrates é mortal". Ele funciona dessa maneira! Agora, o pensamento
enquanto tal - o pensamento que lida com o que eu chamei de mundos possíveis...
Bem, aqui a coisa vai começar a se complicar - porque esses mundos possíveis são
alógios ou supralógicos, ou seja: esses mundos possíveis não são regulados pelos
sistemas lógicos do bom senso. Então, o que eu estou dizendo para vocês, é que
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essa prática - chamada Arte - pressupõe a quebra do bom senso. Aí, compreende-
se perfeitamente um Gérard de Nerval, dentre outros, ou a experiência da arte ou a
experiência do pensamento que - simultaneamente - se aproxima da loucura.
Aproxima-se da loucura, no sentido em que rompe com as estruturas lógicas do
bom senso, para fazer um mergulho no que eu chamei de alógico ou de
supralógico, ou de diferencial - que, agora, necessariamente, nós vamos ter que
começar a entender.
Ou seja: vou repetir!
O que eu estou fazendo, eu estou criando, eu não estou criando, estou
reproduzindo em Proust, o que ele chama de faculdade do pensamento puro. Essa
"faculdade do pensamento puro", não é uma faculdade que pertença ao sujeito -
ao sujeito pessoal, ao sujeito humano enquanto tal; ou - numa linguagem mais
espinosista - não pertence à consciência. A faculdade do pensamento puro é uma
faculdade inconsciente. E a matéria, com que essa faculdade do pensamento puro
lida, são os afetos - que são alógicos e supralógicos.
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- O que é o contrassenso?
O contrassenso é a inversão que ele faz; é uma espécie de matemática
recreativa. Ele diz assim: no bom senso, nós sabemos, eu sinto dor, e dou um
grito. Lá na Alice, a gente, primeiro, dá um grito, e depois sente dor. Ou seja, ele
inverte: em vez de ir do presente para o futuro, ele vai do presente para o passado.
Há uma inversão do procedimento.
Então: o procedimento lógico chama-se bom senso; a prática do Lewis
Carroll chama-se contrassenso; e quando nós caímos na faculdade do pensamento
puro, nós entramos no que se chama não-senso. Ou seja: ao entrar no não-senso,
nós abandonamos o tempo chamado cronológico e vamos entrar no
tempo chamado aiônico. E a entrada nesse tempo aiônico, eu acredito que a gente
faça nesta aula de hoje.
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retoma a questão proustiana, mostrando que nós temos que sair dessa
contemplação platônica e dessa re exão alemã, para liberar as essências - que
estão dentro de nós.
- De que maneira as essências estariam dentro de nós?
Isso daí é um processo que, simpli cando, é de uma clareza muito grande na
obra do Leibniz. Porque, quando o Leibniz começa a pensar, ele se defronta com o
pensamento de Descartes - que é um pensamento que materializa inteiramente o
mundo. Descartes faz um pensamento materialista, mas não coloca força no
mundo. Ele não coloca forças. Ele faz do mundo uma estrutura geométrica - que
ele chama de extensão, mas esse mundo não teria força. Então, o movimento,
nesse mundo, necessitaria da presença de Deus - para introduzir a força.
- O que faz o Leibniz?
Leibniz introduz força dentro da natureza. Mas de uma maneira muito
original: força, para ele, é sinônimo de espiritualização do real. Ele começa a
espiritualizar o real - e essa espiritualização é exatamente o que ele chama de
força. E quando ele começa a dizer que essas forças são espirituais, em seguida, ele
vai fragmentar essas forças; ou melhor, vai fragmentar a espiritualização. O real é
constituído de forças espirituais, mas essas "forças espirituais" são fragmentárias:
são átomos, moléculas, ou, mais precisamente - mônadas.
Leibniz começa a criar a doutrina das mônadas. As mônadas são as forças
espirituais, que constituem toda a questão deste universo. Então, o espírito do
homem é um conjunto múltiplo de mônadas. E essas mônadas, ao invés de, como
em Platão, serem aquilo que deve ser visto, essas mônadas são pontos de vista.
Cada mônada dessas é uma perspectiva - mas não é uma perspectiva sobre o
mundo. Cada mônada dessas é um mundo. Cada mônada dessas gera um mundo.
Então, nós seríamos constituídos por essa multiplicidade de mônadas; e a
liberação do sujeito pessoal - que é o governo de uma mônada sobre nós - nos
conduz para o encontro com essa multiplicidade de mônadas.
O que eu dei para vocês, no princípio da aula e que eu chamei - em termos
proustianos - de mundos possíveis ou de essência; usando mundos possíveis - é
uma linguagem do Proust, e também do Wittgenstein. Usei a noção de essência -
que é uma linguagem platônica, mas também espinosista. Usei a palavra mônada
- que é uma linguagem do Leibniz, mas é exatamente isso que está acontecendo
com o Proust. O Proust está dizendo que se nós quebrarmos o sujeito pessoal -
que há dentro de nós - e liberarmos o nosso pensamento, nós vamos encontrar -
em nós - o que ele chama de micropercepções inconscientes. Essas micropercepções
inconscientes são as almas proustianas. E a função do pensamento é
expressar essas micropercepções inconscientes e, em termos proustianos, nesse
ato - gerar novos mundos.
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Isso aqui traz uma difícil complexidade, porque nós temos a impressão de
que o modelo do bom senso - que é exatamente o modelo aristotélico e o modelo
do movimento como determinante do tempo - é único e absoluto. E quando isso
começa a chegar para nós, um novo mundo - que quebra as efetuações intelectuais
da lógica - começa a entrar: um mundo supralógico e alógico.
Eu estou preparando vocês para, na próxima aula, nós podermos investir
nisso que eu chamei de supralógico e alógico. O que eu vou fazer agora - para que
vocês tomem pé exatamente do que eu estou dizendo - é precisar o que é a
personalidade, o que é o sujeito pessoal, o que é o sujeito humano. A m dar essa
explicação, sem me prender a uma linguagem psicológica ou a um psicologismo
mortal, de que, inclusive, quase todos os lósofos tentaram se libertar e não
conseguiram - eu vou usar um lósofo do século XVIII/XIX, ainda pouco
conhecido, chamado Maine de Biran. A partir de agora ele vai se tornar muito
conhecido.
Maine de Biran vai formar aquela tradição que eu falei para vocês que vem de
Plotino. Ele está dentro daquele stream, daquela corrente de amor, de gestus - que
vem de Plotino e vai dar em Deleuze. Então , esse pensador vai falar numa gura
chamada...
[virada de ta]
[...] Ele sempre implica dois - esforço e resistência. Você não pode pensar o Eu
como uma unidade isolada. Ele é sempre algo causal - que produz um efeito; ele é
sempre algo que, para agir, faz um esforço e encontra uma resistência. A
resistência é a matéria - pode ser a matéria sonora, pode ser a matéria escrita; mas
o Eu se daria por esse procedimento, que eu vou passar a chamar de binômio, isto
é: funcionando sempre através de uma relação. Uma relação entre o Eu - que é
uma causa; e a matéria - que é uma resistência. Exemplo, a volição; o ato de
levantar o braço - quem faz o meu braço levantar é uma determinação causal do
meu Eu. Mas, quando o meu braço vai levantar, há uma resistência muscular. Por
isso, o Eu não se explica por uma unidade, ele se explica por um binômio - ele é
sempre dual.
Terminando essa explicação para vocês... o Eu se exempli caria por um lme
do John Ford - um western - em que o mocinho vai pro meio da rua e começa a
procurar o bandido para fazer um duelo. O Eu - que é a exempli cação do
comportamento - é sempre duelo, dueto, binômio, contraponto. (Não sei se vocês
entenderam!..) Isso se chama comportamento, a imagem-ação; de outra maneira, o
cinema chamado imagem-ação, o cinema ação.
Eu tenho uma maneira mais fácil de explicar essa questão para vocês, através
do Lee Strasberg - do Actor's Studio, que produz o ator para esse tipo de cinema.
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Ele produz o ator para esse tipo de vida - a imagem-ação, tipo de procedimento
binomial entre a causa e o efeito. Isso se chama comportamento, ou seja: todo
comportamento se dá num meio. Esse meio pode ser hostil ou gentil. No western, o
meio é sempre hostil. E o Eu é uma causa que se defronta com aquele meio.
Agora, então, vamos colocar em termos do Peirce - chama-se segundidade.
- O que quer dizer segundidade? Quer dizer exatamente ou a imagem-
ação ou o mundo orgânico - que é um binômio, que é oposição, que é dialético...
Estas categorias - oposição, dialética, contradição, negação - só existem nesse
mundo. Se você produzir outro mundo, nesse outro mundo essas categorias não
entram - eu vou mostrar para vocês:
Então, a categoria de oposição. Existe oposição? Sim, existe oposição! Onde
existe oposição? Existe oposição no realismo, existe oposição na imagem-ação.
Agora: eu já vou mostrar para vocês outro tipo de mundo, e aí, nesse outro
tipo de mundo, não vai haver isso. Eu sei que, nesta aula, eu não vou dar conta
disso tudo. Aí, na próxima aula, vocês fecham esse conhecimento!
Agora, eu quero que vocês façam apenas uma coisa. Isso daí é o mundo da
imagem-ação, é o mundo do orgânico - do tempo orgânico. E, simultaneamente,
tudo aí tem que ser comportamento e meio. Ou seja: quando nós executamos uma
prática chamada comportamento, esse comportamento implica um Eu, que age -
e um mundo, que é agido. Existem, então, sempre dois. A segundidade se
constitui por dois!
O mesmo autor, Maine de Biran, vai falar sobre determinadas ocorrências na
vida da subjetividade, como a hipnagogia, por exemplo. A hipnagogia são
imagens utuantes - quando nós não estamos nem na vigília nem no sono. Elas
estão entre os dois - entre a vigília e o sono; e começam a aparecer imagens
utuantes, sobre as quais não conseguimos ter domínio. Elas têm um
procedimento autônomo - independem de nós. Essas imagens da hipnagogia não
pressupõem o ego. Não há ego, não há Eu: elas são inteiramente independentes de
um eu. Como, por exemplo, ele ainda vai falar nas visões da loucura, quando esse
Eu também não aparece. Ou no sono, no delírio, no desfalecimento, nas grandes
dores. Então ele começa a citar determinadas ocorrências que se dão em nós,
onde o ego não está presente:
Como exemplo, eu vou usar a hipnagogia. Eu mantenho a hipnagogia durante
umas duas aulas, para que depois vocês possam ter maior compreensão, porque é
nítido que na hipnagogia esse ego - que é tão presente na imagem-ação -
[desaparece, ou seja:] se encontra ausente. O que eu estou chamando de
hipnagogia são aquelas imagens que aparecem para nós entre o sonho e a vigília.
Ou - eu ainda vou citar uma coisa ainda mais poderosa - o sono. No sono, o ego se
dissolve completamente. No sono, há uma dissolução absoluta do ego. É nessa
dissolução do ego que aparece o que se chama primeiridade.
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O ritmo seria exatamente a fonte, a força que a vida tem para se envolver com
o caos. Ou seja: a vida projeta ritmo no caos, para emergir o que se
chama caosmos - e aí a vida poder se dar. Então, é esse ritmo, é essa primeiridade,
é esse lugar das afecções, é essa fragmentação espiritual, que não tem nada a ver
com as imagens-ações; logo, nós vamos sair daquela literatura pesada, daquela
maquinaria insuportável da dialética, das oposições, das contradições, da negação
- nós vamos abandonar tudo isso - e vamos entrar no universo do diferencial, do
alógico, do supralógico e do ritmo. E quem vai dirigir o nosso trabalho vai ser um
músico - Olivier Messiaen.
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10/07/2017 Aula 4 – 25/01/1995 – Movimento Aberrante
13 de janeiro de 2017
Antonin Artaud, Baruch Espinosa, Bertolt Brecht, Charles Lutwidge Dodgson, Charles
Sanders Peirce, Curso de Verão: Filoso a e Arte, Edward Fox, Friedrich Nietzsche, Gérard de
Nerval, Gottfried Leibniz, Henri Bergson, hipnagogia, John Ford, Joseph Losey, Lee
Strasberg, Lewis Carroll, Ludwig Wittgenstein, Maine de Biran, Marcel Proust, Michel
Foucault, Mikel Dufrenne, Olivier Messiaen, Platão, Plotino, Primeiridade, René Descartes,
Samuel Beckett, Segundidade, Stanley Kubrick, Walter Benjamin
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[Temas abordados nesta aula são aprofundados nos capítulos 1 (Implicar –...
Aula 5...
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