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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA INDÚSTRIA


4.0 EM SERVIÇOS: UM ESTUDO DE CASO
NO SETOR FINANCEIRO

CESAR CARDOSO DA SILVEIRA

MARA TELLES SALLES


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

CESAR CARDOSO DA SILVEIRA

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA INDÚSTRIA 4.0 EM SERVIÇOS: UM ESTUDO


DE CASO NO SETOR FINANCEIRO

ORIENTADORA: MARA TELLES SALLES, D.Sc.

NITERÓI

2018
CESAR CARDOSO DA SILVEIRA

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA INDÚSTRIA 4.0 EM SERVIÇOS: UM ESTUDO


DE CASO NO SETOR FINANCEIRO

Projeto Final apresentado ao curso de gradu-


ação em Engenharia de Produção da Univer-
sidade Federal Fluminense, como requisito
parcial para aquisição do Grau de Engenheiro
de Produção.

ORIENTADORA: MARA TELLES SALLES, D.Sc.

NITERÓI

2018
CESAR CARDOSO DA SILVEIRA

fcha catalográfica automática - SDC/BEE

S587a Silveira, Cesar Cardoso da


Aplicação de conceitos da Indústria 4.0 em serviços: Um
estudo de caso no setor financeiro / Cesar Cardoso da Silveira
; Mara Telles Salles, orientadora. Niterói, 2018.
59 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia


de Produção)-Universidade Federal Fluminense, Escola de
Engenharia, Niterói, 2018.

1. Indústria 4.0. 2. 4ª Revolução Industrial. 3. Futuro


mercado de trabalho. 4. Inteligência Artificial. 5.
Produção intelectual. I. Título II. Salles,Mara Telles,
orientadora. III. Universidade Federal Fluminense. Escola de
Engenharia. Departamento de Engenharia de Produção.

CDD -

Bibliotecária responsável: Fabiana Menezes Santos da Silva - CRB7/5274


APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA INDÚSTRIA 4.0 EM SERVIÇOS: UM ESTUDO
DE CASO NO SETOR FINANCEIRO

Projeto Final apresentado ao curso de gradu-


ação em Engenharia de Produção da Univer-
sidade Federal Fluminense, como requisito
parcial para aquisição do Grau de Engenheiro
de Produção.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. MARA TELLES SALLES, D.Sc.

Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________

Prof. MARCELO MACIEL MONTEIRO, D.Sc.

Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________

Prof. OSVALDO LUIS GONÇALVES QUELHAS, D.Sc.

Universidade Federal Fluminense

NITERÓI

2018
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ericsson e Fátima, que sempre me apoiaram em todos os mo-
mentos e me guiaram na construção do homem que sou hoje.

Aos meus irmãos, Caio e Ciro, que estão ao meu lado desde o início da minha
vida e que são meus maiores companheiros.

À minha avó e madrinha Auricea, que é figura importantíssima na minha vida.

Aos meus avôs, Agostinho e Judith, que foram fundamentais para minha cria-
ção.

À minha namorada Tatiana, que foi muito paciente para a conclusão deste tra-
balho, sempre me incentivando a dar o meu melhor e que sempre tinha uma palavra
de conforto nos momentos mais difíceis.

Aos meus fiéis amigos do Boteco F.C., que são parte do meu dia a dia e estão
presentes nos bons e maus momentos.

Aos meus amigos da Universidade Federal Fluminense, em especial Bruno


Arouca, Luis Felipe Santos e Gabriela Naccache, que viveram comigo essa jornada e
que levarei para vida.

Aos meus amigos da Austrália, que compartilharam comigo a maior e melhor


experiência da minha vida.

Aos meus professores da Universidade Federal Fluminense, que me tornaram


engenheiro de produção.

À minha orientadora, Mara, que iluminou minha mente cheia de dúvidas para a
conclusão deste trabalho

A todos os colaboradores que de alguma forma contribuíram para a conclusão


deste trabalho.

César Cardoso da Silveira


RESUMO

Os avanços tecnológicos ao longo dos séculos foi mudando o mundo através


das Revoluções Industriais. A Indústria 4.0 ainda está no início, porém já provocou
transformações na maneira como o homem se relaciona com as máquinas e no am-
biente de trabalho. Ainda é cedo para determinar se a 4ª Revolução Industrial será
destruidora ou produtora de empregos, porém é necessário que o homem se adapte
a esse novo cenário que se apresenta. O presente trabalho busca analisar, através
de um estudo de caso no setor financeiro, os benefícios, impactos e desafios gerados
para as pessoas após implementação de novas tecnologias no ambiente de trabalho
e se as suas atuais habilidades e conhecimentos são suficientes para a sua introdução
nesse novo panorama. Quanto aos fins, trata-se de um estudo exploratório, descritivo
e aplicado e/ou intervencionista. Quanto aos meios, é classificada como documental,
bibliográfico e participante. A partir dos dados obtidos e das respectivas análises, foi
possível verificar os impactos gerados pela mudança no ambiente de trabalho. Os
resultados mostram que a mudança na rotina dos trabalhadores foi intensa, porém
bem recebida e sem a necessidade de demissões. Entretanto, algumas pessoas te-
mem pelo o que acontecerá com suas funções no futuro.

Palavras-chave: Indústria 4.0, 4ª Revolução Industrial, futuro mercado de trabalho,


Inteligência Artificial
ABSTRACT

The technological advances have been changing the world over the centuries
through Industrial Revolutions. Industry 4.0 is still in its beginning but has already
brought about transformations in the way man relates with machines and the work
environment. It is too early to determine whether the 4th Industrial Revolution will be
destructive or job-producing, but it is imperative for people to adapt to this new sce-
nario. The present work seeks to analyze, through a case study in the financial sector,
the benefits, impacts and challenges generated for people after the implementation of
new technologies in the work environment and if their current skills and knowledge are
sufficient to their introduction into this new landscape. As for the ends, it is an explor-
atory, descriptive and applied and / or interventionist study. As for the means, it is
classified as documentary, bibliographical and participant. From the data obtained and
the respective analysis, it was possible to verify the impacts generated by the change
in the work environment. The results show that the change in the routine of the workers
was intense, but well received and without the need for layoffs. However, some people
fear for what will happen to their roles in the future.

Key-words: Industry 4.0, 4th Industrial Revolution, future labor market, Artificial Intelli-
gence
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS .............................................................. 16

FIGURA 2 - ARQUITETURA DO CPS ...................................................................... 23

FIGURA 3 - ESTRUTURA DE UMA FÁBRICA INTELIGENTE ................................ 24

FIGURA 4 - "MINHA EDUCAÇÃO FORMAL É MUITO ÚTIL NO MEU TRABALHO


ATUAL" (% QUE CONCORDA FORTEMENTE OU CONCORDA) .................. 32

FIGURA 5 - "COMO VOCÊ SE SENTE SOBRE SUAS FUTURAS PERSPECTIVAS


DE EMPREGO?" (% DE PESSOAS QUE ESCOLHEM CADA PERSPECTIVA)
........................................................................................................................... 33

FIGURA 6 - LINHA DO TEMPO ............................................................................... 35

FIGURA 7 - ESTRUTURA METODOLÓGICA DA PESQUISA ................................ 39

FIGURA 8 - FLUXOGRAMA DO PROCESSO ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA


FERRAMENTA .................................................................................................. 45

FIGURA 9 - FLUXOGRAMA DO PROCESSO APÓS A IMPLEMENTAÇÃO DA


FERRAMENTA .................................................................................................. 49

QUADRO 1 - PERFIS DE CLIENTES ....................................................................... 43


SUMÁRIO

1. Introdução......................................................................................................... 12

1.1. Contexto .......................................................................................... 12

1.2. Problema ......................................................................................... 13

1.3. Objetivos ......................................................................................... 14

1.3.1. Geral .................................................................................................... 14

1.3.2. Específicos........................................................................................... 14

1.4. Delimitações ................................................................................... 14

1.5. Relevância do estudo .................................................................... 14

1.6. Organização do Trabalho .............................................................. 15

2. Fundamentação Teórica .................................................................................. 16

2.1. A Evolução da Indústria................................................................. 16

2.2. Indústria 4.0 .................................................................................... 19

2.2.1. Internet das Coisas .............................................................................. 20

2.2.2. Internet dos Serviços (IoS) .................................................................. 21

2.2.3. Sistemas Físico-Cibernéticos (CPS) .................................................... 22

2.2.4. Fábricas Inteligentes ............................................................................ 23

2.2.5. Inteligência Artificial (IA) e Computação Cognitiva .............................. 25

2.2.6. Advanced Analytics.............................................................................. 26

2.3. Mudanças decorrentes da introdução de novas tecnologias .... 26

2.4. O Futuro Mercado de Trabalho ..................................................... 28

2.5. Jovens Entrantes ........................................................................... 30

2.5.1. Percepções e Expectativas .................................................................. 31

2.5.2. Trabalho e Carreiras ............................................................................ 32

3. Metodologia ...................................................................................................... 34

3.1. Estudo bibliométrico ...................................................................... 34


3.2. Classificação da Pesquisa............................................................. 36

3.3. Estrutura da Pesquisa ................................................................... 37

4. Estudo de caso................................................................................................. 41

4.1. Descrição da Empresa ................................................................... 41

4.2. Setor Estudado ............................................................................... 41

4.3. Descrição da atividade antes da implementação da ferramenta43

4.4. motivação para a implementação da ferramenta ........................ 46

4.5. Objetivo a ser alcançado com a implementação da ferramenta 46

4.6. Capacidades da Ferramenta.......................................................... 47

4.7. Planejamento e implementação da ferramenta ........................... 48

4.8. descrição da atividade após a implementação da ferramenta ... 48

4.9. Benefícios da implementação da ferramenta .............................. 49

4.10. Impactos da implementação da ferramenta ................................. 50

4.11. Análise dos resultados .................................................................. 50

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 52

5.1. Conclusão ....................................................................................... 52

5.2. Sugestões para Trabalhos Futuros .............................................. 53

Bibliografia .............................................................................................................. 54
12

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTO

Mudanças disruptivas nos modelos de negócios terão um impacto profundo na


forma em que trabalhamos nos próximos anos. Espera-se que muitos dos principais
impulsionadores de transformação que afetam atualmente as indústrias globais te-
nham um impacto significativo nos empregos.

Em muitas indústrias e países, as funções ou especialidades mais demandadas


não existiam há dez ou mesmo cinco anos, e o ritmo de mudança está previsto para
acelerar. Segundo de um estudo do Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças
que entram na escola primária hoje acabarão trabalhando em tipos de trabalho com-
pletamente novos que ainda não existem (FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL, 2016).
Há evidências de que a maior parte dessas novas profissões estarão relacionadas às
áreas tecnológica e de ciências exatas. Por outro lado, as profissões que demandam
trabalhos repetitivos e com processos bem estruturados serão as primeiras a serem
extintas, já que serão facilmente substituídas por máquinas e sistemas cognitivos. Isso
gera um grande aviso: as funções que desaparecerão em um primeiro momento exi-
gem um grau de educação menor do que as que serão geradas por essa revolução.

Avanços tecnológicos e mudanças demográficas levaram a uma maior prospe-


ridade, produtividade e criação de emprego. Isso não significa, no entanto, que essas
transições foram livres de risco ou dificuldades. Em um cenário de emprego de tão
rápida evolução, a capacidade de antecipar e se preparar para as futuras exigências
de habilidades, conteúdo do trabalho e o efeito agregado sobre o emprego são cada
vez mais críticos para empresas, governos e indivíduos, a fim de aproveitar plena-
mente as oportunidades apresentadas por essas tendências e mitigar os resultados
indesejáveis.

Novas tecnologias estarão presentes em diversas áreas da economia, desen-


cadeando diversas mudanças econômicas e sociais nos próximos anos. Um elevado
número de dispositivos capazes de se comunicarem uns com os outros e coletar da-
dos do ambiente e dos usuários, tais como smartphones, veículos, eletrodomésticos,
sistemas de iluminação, associado às tecnologias de big data, computação em nuvem
e novas tecnologias de tratamento de dados, certamente abrirão espaço para a cria-
ção de novos modelos de negócios e poderá alterar a forma como as empresas se
13

relacionam com clientes e fornecedores. As tradicionais divisões entre indústria e ser-


viços e as delimitações dos setores industriais serão alteradas.

A introdução da digitalização à atividade industrial resultou na concepção da


Indústria 4.0, em referência ao que seria a 4ª Revolução Industrial, que consiste na
integração e controle da produção a partir de sensores e equipamentos conectados
em rede e da combinação do mundo real com o virtual, criando os chamados Sistemas
Físico-Cibernéticos (CPS) e viabilizando o emprego da Inteligência Artificial (IA)
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2016). Além do setor industrial, esse
conceito também pode ser aplicado na área dos serviços (LEE; KAO; YANG, 2014).

1.2. PROBLEMA

O ritmo acelerado da disruptura tecnológica, demográfica e socioeconômica


está transformando indústrias e modelos de negócios, alterando as habilidades que
os empregadores precisam e reduzindo a vida útil dos conjuntos de habilidades exis-
tentes dos funcionários no processo. Exemplos para ilustrar essa situação são a ro-
bótica e a aprendizagem de máquinas, que, em vez de substituir completamente as
profissões existentes e as categorias de trabalho, provavelmente substituirão tarefas
específicas realizadas anteriormente como parte desses trabalhos, liberando os tra-
balhadores para se concentrar em novas tarefas e levando a mudanças rápidas nos
conjuntos de habilidades principais nessas ocupações. Mesmo as funções que são
menos afetados pela mudança tecnológica e têm uma perspectiva de emprego am-
plamente estável – profissionais de marketing ou de cadeia de suprimentos voltados
para um novo grupo demográfico em um mercado emergente – podem exigir conjun-
tos de habilidades muito diferentes em um curto espaço de tempo, caso os ecossiste-
mas dentro dos quais eles operam mudem. A futura força de trabalho terá de alinhar
as suas qualificações para acompanhar o ritmo.

É importante ter em mente que essas mudanças vão exigir dos líderes empre-
sariais, os educadores e os Governos uma proatividade na melhoria das qualificações
e na reciclagem/formação das pessoas, para que todos possam se beneficiar com a
4ª Revolução Industrial.
14

O problema que esse trabalho aborda são as mudanças na interação homem-


máquina geradas por esse novo panorama de introdução de tecnologias digitais pos-
sibilitadas, principalmente, pela internet.

1.3. OBJETIVOS

1.3.1. Geral

O objetivo geral deste trabalho é apresentar um panorama geral da Indústria


4.0; mostrando seus principais componentes; identificando quais são os conceitos
chave para o entendimento do tema, mostrando sua aplicação ao setor financeiro.

1.3.2. Específicos

1. Promover uma discussão acerca das mudanças, impactos e oportunidades que


surgirão a partir desse novo contexto;
2. Entender os benefícios e desafios que a implementação de uma ferramenta base-
ada em Inteligência Artificial e computação cognitiva causou nas atividades diárias
de um setor de contas a receber de um banco de financiamentos.

1.4. DELIMITAÇÕES

Apesar desse estudo abordar o contexto da 4ª Revolução Industrial de uma


maneira mais abrangente e geral, considerando as diferentes tecnologias que supor-
tam a Indústria 4.0, o estudo de caso apresentado refere-se especificamente às tec-
nologias de Inteligência Artificial e computação cognitiva. Esse trabalho não tem como
objetivo avaliar os aspectos técnicos das implementações das tecnologias, mas sim
as questões sociais, como o incentivo da implementação, impactos e dificuldades que
foram gerados para a sociedade. Análises financeiras e de custos de implementação
também não estão no escopo do projeto.

1.5. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Entre os motivos que justificam a relevância deste presente estudo, está o fato
de que o assunto Indústria 4.0 ainda é pouco debatido no Brasil e, portanto, há pouca
literatura que aborde o desenvolvimento das pesquisas. Se faz necessário identificar
15

o início do movimento; os impulsos e desdobramentos do tema; os conceitos mais


importantes e as possíveis mudanças que surgirão no ambiente de trabalho e social
de pessoas no mundo todo. Além disso, espera-se que essa transformação no mer-
cado de trabalho exija profissionais com conhecimentos, habilidades e atitudes distin-
tas das exigidas atualmente. A pesquisa de campo visam identificar resultados que
corroborem ou descartem essa teoria.

Outro ponto importante é em relação à academia. A partir das informações ge-


radas por esse estudo será possível reavaliar, se necessário, as diretrizes atuais das
universidades para uma orientação mais focada no mercado de trabalho e suas exi-
gências. Além disso, poderá servir de guia para os próprios alunos de começo ou meio
de curso a buscarem outras formas de aprimoramento de suas competências, para
que possam chegar mais preparados ao mercado.

1.6. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O capítulo 2 apresenta a revisão da literatura, na qual serão abordadas diversas


definições e conceitos que ajudam a construir o referencial teórico do trabalho.

Logo após, no terceiro capítulo, é feita a definição da metodologia, com uma


breve explicação do desenho geral do estudo e o porquê da escolha do método para
a pesquisa de campo, revelando também a estratégia adotada.

Por fim, no quarto capítulo, haverá a análise do material coletado nas pesquisas
relativas ao caso estudado e alguns dados importantes serão apresentados para, pos-
teriormente, chegarmos às considerações finais que formam o quinto capítulo.
16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA

A 4ª Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0, foi antecedido


por outras três revoluções industriais na história, que causaram diferentes impactos
na dinâmica da economia mundial, na relação de trabalho e na utilização de tecnologia
para a fabricação de novos produtos.

A 1ª Revolução Industrial ocorreu durante o século XVIII, sendo mais impulsio-


nada no século XIX e surgiu com a com a invenção do primeiro tear mecânico a vapor
na Inglaterra. A partir de 1870, a adoção da eletricidade e da divisão do trabalho na
indústria deu início à 2ª Revolução Industrial, que também apresentou ao mundo a
produção em massa através das linhas de montagem, idealizadas e implementadas
por Henry Ford. A 3ª Revolução Industrial, também chamada de “Revolução Digital”,
foi impulsionada pela Segunda Guerra Mundial quando se desenvolveram avançadas
técnicas de eletrônica para automação dos processos de produção através da intro-
dução dos controladores lógico programáveis (PLC) e da tecnologia da informação
(TI) no chão de fábrica (RODRIGUES; JESUS; SCHÜTZER, 2016).

FIGURA 1 - REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS

Fonte: Adaptado de Kagermann et al. (2013)


17

A 1ª Revolução Industrial gerou uma intensa migração da população campe-


sina para as cidades, culminando em um aumento significativo da população urbana,
que por consequência acelerou o desenvolvimento e a urbanização, mesmo que de-
sordenados. A expansão da população gerou problemas de moradia, o que intensifi-
cou a poluição e a proliferação de doenças nos centros urbanos. Esse deslocamento
de grandes massas de trabalhadores rurais e sem qualificação profissional fez com
que muitos ficassem em condições miseráveis de trabalho e submetendo-se a gran-
des jornadas trabalhistas. O ritmo de trabalho, que anteriormente era ditado pelos
artesãos, passou a ser regulado pelos donos faz fábricas (IGLÉSIAS, 1986).

Mulheres e crianças passaram a fazer parte da mão-de-obra. Na indústria têxtil


do algodão, a classe feminina formava mais da metade da massa trabalhadora. Não
haviam garantias contra acidentes e nem indenizações, o que acabou fortalecendo o
poder econômico, social e político dos grandes empresários.

A mecanização tornou os métodos de produção mais eficientes. Isso só foi pos-


sível através da aplicação inovações técnicas no campo da indústria e com o desco-
brimento de uma inovadora fonte de energia produzida pelo vapor (SPARTA, 2003).
Os produtos passaram a ser produzidos em maior escala, diminuindo os preços e
estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempre-
gados. As máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. O co-
mércio também foi favorecido pela evolução nos meios de transporte terrestres e ma-
rítimos, proporcionando o acesso a mercados cada vez mais distantes.

A energia elétrica está para a 2ª Revolução Industrial assim como a máquina à


vapor esteve para a primeira e com a luz elétrica as taxas de lucratividade foram ele-
vadas, permitindo o acelerado crescimento industrial. Novas tecnologias advindas do
uso da eletricidade permitem o desenvolvimento de um grande número de utilidades
domésticas, que seriam os bens de consumo duráveis que, juntamente com o auto-
móvel, constituem os maiores símbolos da sociedade moderna (LANDES, 2003).

Impulsionados pelas ideias de Frederick W. Taylor e Henry Ford, surge a pro-


dução em massa e a especialização do trabalhador. No ambiente de industrial, fica
clara a separação entre quem pensa de qual maneira uma atividade deve ser feita e
quem de fato a executa, criando a distinção entre trabalho intelectual e manual
(PINTO, 2007).
18

A 3ª Revolução Industrial é caracterizada pelas melhorias nos sistemas de te-


lecomunicações e transportes, pelo advento e rápido crescimento da informática e da
automação, além do desenvolvimento da engenharia robótica. Esse panorama esta-
beleceu intensas transformações no mundo do trabalho.

Nas revoluções industriais anteriores, ocorreu uma grande substituição do ho-


mem pela máquina no processo produtivo, tornando o indivíduo apenas um apêndice
de um maquinário cada vez mais amplo e complexo. A partir da “revolução Digital”,
esse contexto ganhou novas e maiores proporções, pelo fato de que, junto ao maqui-
nário e às novas tecnologias, a informática passou também a atuar. O trabalhador
passou a ser substituído não apenas pela mecânica, mas também por softwares, que,
em muitos casos, passaram a gerir a produção fabril (RIFKIN, 2012).

Além disso, Rifkin (2012) afirma que se verificou um crescimento do setor ter-
ciário da economia, em que a maior parte dos empregos estão concentrados no co-
mércio e serviços. Tal movimento, aliado à uma maior flexibilização do trabalho, cola-
borou para a precarização das condições do trabalho, para a crise das representações
sindicais e para a perda de direitos trabalhistas.

Outra mudança significativa que ocorreu no âmbito do trabalho nessa revolução


está associada à questão espacial entre campo e cidade. Os meios de produção rurais
passaram por um processo de mecanização e foram desenvolvidos mecanismos e
técnicas agrícolas que propiciaram um grande desemprego nesse meio, o que inten-
sificou do êxodo rural, isto é, uma migração em massa da população do campo para
a cidade (PENA, 2013).

Mais qualificação técnica passou a ser exigida, tanto no trabalho urbano quanto
no rural, já que a operação das novas tecnologias exige determinados conhecimentos
específicos que não podem ser realizados por um profissional que não possui uma
determinada formação. Tal contexto contribuiu para o surgimento de um contras-
senso: aumento tanto no número de empregos quanto no número de desempregados,
uma vez que a massa de trabalhadores que não consegue se adequar às novas con-
dições de trabalho não alcança oportunidades.

Como consequência há um aumento no surgimento de empregos informais,


nos quais leis e direitos trabalhistas não são respeitados, uma vez que esse setor se
19

caracteriza pela sua falta de regulamentação e pela ausência de uma hierarquia or-
ganizada de trabalho. O resultado é a caracterização de diversos problemas, dentre
eles, a pirataria, bastante comum nos países subdesenvolvidos ao final do século XX
e início do século XXI (PENA, 2017).

O desenvolvimento proporcionado pela industrialização possibilitou a produção


em larga escala. Para facilitar esse aumento da produtividade foi necessária a divisão
da produção em etapas e processos bem definidos. Portanto, ao longo das revoluções
industriais, ocorreram mudanças drásticas na distribuição do trabalho, que passou dos
artesãos, que eram extremamente especializados e realizavam as atividades do pro-
cesso produtivo, para os trabalhadores que se especializaram em realizar apenas uma
parte do processo de produção, parte essa que muitas vezes era demasiadamente
simples. Essas transformações foram originadas a partir da introdução de novas tec-
nologias que impactaram o ambiente de trabalho e a forma de consumo. Há uma forte
relação entre o tamanho da demanda por bens e a adoção de tecnologia na produção
e na determinação da natureza evolutiva do trabalho (WEINBERG, 2004).

2.2. INDÚSTRIA 4.0

Com base em uma digitalização avançada dentro das fábricas, a combinação


de tecnologias da Internet e tecnologias orientadas para o futuro no campo de objetos
"inteligentes" (máquinas e produtos) parece resultar em uma nova mudança de para-
digma fundamental na produção industrial. O Programa Industrie 4.0 surgiu na Ale-
manha em 2011 em resposta à competitividade global e foi proposto por uma associ-
ação de representantes de negócios, políticos e acadêmicos (KAGERMANN et al.,
2013). Hermann, Pentek e Otto (2015) afirmam que o governo federal alemão respal-
dou a ideia, anunciando que a iniciativa Industrie 4.0 é parte integrante de uma estra-
tégia de alta tecnologia para a Alemanha 2020, visando à liderança da disrupção tec-
nológica. Isso deixa claro a necessidade das empresas pela adequação e o conside-
rável investimento que será́ feito na tentativa de alcançar os objetivos do programa.

A internet é a ferramenta que possibilita a comunicação entre pessoas no


mundo e através dela produtos, máquinas e sistemas ainda mais complexos também
podem ter essa capacidade de troca de informações. O intuito principal dessa revolu-
ção tecnológica é equipar novos produtos e sistemas de produção com sensores e
20

atuadores inteligentes, possibilitando uma comunicação ainda mais eficaz entre esses
dispositivos, criando um Sistema Físico-Cibernético, ou seja, uma fusão do mundo
físico e virtual (BRETTEL et al., 2014).

De acordo com Kagermann et al. (2013), no futuro, as empresas estabelecerão


redes globais que incorporarão suas máquinas, sistemas de armazenagem e instala-
ções de produção sob a forma de Sistemas Físico-Cibernéticos. No ambiente de fa-
bricação, esses sistemas são compostos por máquinas inteligentes, sistemas de ar-
mazenamento e instalações de produção capazes de trocar informações de forma
autônoma, desencadear ações e controlar-se independentemente. Isso facilitará me-
lhorias fundamentais nos processos industriais envolvidos na fabricação, engenharia,
uso de materiais e gerenciamento da cadeia de suprimentos e do ciclo de vida. As
fábricas inteligentes empregarão uma abordagem completamente nova para a produ-
ção. Os produtos inteligentes são identificáveis de forma única, podem ser localizados
em todos os momentos e conhecer sua própria história, status atual e rotas alternati-
vas para atingir seu estado alvo. Os sistemas de fabricação incorporados são vertical-
mente conectados em rede com processos de negócios dentro de fábricas e empresas
e conectados horizontalmente a redes de valores dispersas que podem ser gerencia-
dos em tempo real – desde o momento em que um pedido é colocado até a logística
de saída. Além disso, eles habilitam e exigem engenharia de ponta a ponta em toda
a cadeia de valor.

A escassez e, por consequência, o aumento dos preços dos recursos, bem


como a mudança social no contexto dos aspectos ecológicos, exigem um foco mais
intensivo na sustentabilidade na produção industrial. O objetivo é um aumento econô-
mico e ecológico da eficiência (LASI et al., 2014).

Segundo Hermann, Pentek e Otto (2015) existem quatro elementos que são
fundamentais para a realização da 4ª Revolução Industrial: Internet das Coisas, Inter-
net dos Serviços, Sistemas Físico-Cibernéticos e Fábricas Inteligentes.

2.2.1. Internet das Coisas

Atualmente, existem diferentes opiniões sobre o que é a Internet das Coisas


(IoT), que vão desde o conceito original proposto por Kevin Ashton, co-fundador do
Auto-ID Center, que se trata de uma rede informações que permite a pesquisa sobre
21

objetos do mundo real por meio de um ID único chamado Código de Produto Eletrô-
nico (EPC) e um mecanismo de resolução (ONS), a uma rede de sensores, atuadores
e objetos autônomos que interagem uns com os outros diretamente. A comunicação
machine-to-machine (M2M) é outro termo às vezes associado ao assunto.

Para Lee e Lee (2015), a Internet das Coisas (IoT) é um novo paradigma tec-
nológico concebido como uma rede global de máquinas e dispositivos capazes de
interagir uns com os outros. A IoT é reconhecida como uma das áreas mais importan-
tes da tecnologia futura e está ganhando grande atenção de uma ampla gama de
indústrias. O verdadeiro valor da IoT para empresas pode ser plenamente compreen-
dido quando os dispositivos conectados são capazes de se comunicar entre si e se
integram com sistemas de estoque gerenciados por fornecedores, sistemas de su-
porte ao cliente, aplicativos de business intelligence e análises de negócios. Porém,
segundo Haller (2010), mais importante do que concordar com uma definição do termo
geral, é ter uma compreensão comum dos componentes e conceitos que constituem
a Internet das Coisas.

Todas as diferentes definições do termo "Internet das Coisas" têm em comum


o fato de estarem relacionadas à integração do mundo físico com o mundo virtual da
Internet. A IoT é como um mundo em que objetos físicos estão integrados em redes
de informação e onde os objetos físicos podem tornar-se participantes ativos nos pro-
cessos de negócio. Os serviços estão disponíveis para interagir com esses “objetos
inteligentes” através da internet, consultar e alterar seu estado e qualquer informação
que lhes estejam associadas, levando em conta questões de segurança e privacidade
(HALLER, 2010).

No ambiente industrial, através da tecnologia RFID (radio frequency identifica-


tion), um dos principais componentes da IoT, produtos receberão identificações que
serão capazes de informar ao sistema produtivo suas especificações, os processos
pelos quais ele deve passar e também os processos que ele sofreu. Essa tecnologia
é composta por leitores e etiquetas que possuem maior capacidade de armazena-
mento de informações que códigos de barra.

2.2.2. Internet dos Serviços (IoS)

A ideia básica da Internet dos Serviços é usar sistematicamente a Internet para


gerar novas formas de criação de valor no setor de serviços (TERZIDIS et al., 2012).
22

Levando isso em consideração, a visão da "Internet dos Serviços" é permitir que os


fornecedores administrem seus serviços através da internet. Dependendo do possível
grau de digitalização, os serviços podem demandados e ofertados em qualquer lugar
do mundo. A Internet dos Serviços consiste em participantes, uma infraestrutura para
serviços e modelos de negócios. Esses serviços são oferecidos e combinados por
diversos fornecedores para de tenham um maior valor agregado; eles são comunica-
dos aos usuários, bem como aos consumidores e são acessados por eles através de
vários canais (BUXMANN; HESS; RUGGABER, 2009).

Um exemplo da aplicação desse conceito é o sistema da empresa varejista


americana Kroger chamado Retail Site Intelligence. Trata-se de uma plataforma de
varejo composta por dispositivos de análise de vídeo, dispositivos sem fio, dispositivos
POS (point of sale), sensores portáteis, câmeras IP e software de gerenciamento de
vídeo que foi projetado para ajudar os clientes a ter uma melhor experiência de com-
pra, encontrando mais facilmente os produtos que desejam e economizando tempo
na hora de pagar suas compras (LEE; LEE, 2015). Esses sistemas de inteligência no
setor de varejo permitem o gerenciamento eficiente de lojas e melhoram a experiência
do cliente. É um setor que está sendo transformado à medida que as tecnologias dis-
ruptivas em redes são integradas com sistemas de negócios para pontos de venda,
programas de fidelidade, alocação de pessoal, gerenciamento de estoque e distribui-
ção.

2.2.3. Sistemas Físico-Cibernéticos (CPS)

Para Lee (2008), sistemas físico-cibernéticos (CPS) são integrações de com-


putação com processos físicos. Computadores e redes integrados monitoram e con-
trolam os processos físicos, geralmente com loops de feedback onde os processos
físicos afetam os cálculos e vice-versa. No mundo físico, a passagem do tempo é
inexorável e a concorrência é intrínseca. Nenhuma dessas propriedades está pre-
sente nas abstrações de computação e rede.

Trate-se da próxima geração de sistemas de engenharia que exigem uma es-


treita integração de tecnologias de computação, comunicação e controle para alcan-
çar estabilidade, desempenho, confiabilidade, robustez e eficiência em lidar com sis-
temas físicos de diferentes domínios de aplicação (KIM; KUMAR, 2012), e através
dessa sinergia dos componentes computacionais e físicos, ocorreu o avanço das im-
plementações da IoT.
23

No setor de transportes, veículos e a infraestrutura mantêm uma comunicação


entre si através de sistemas físico-cibernéticos, compartilhando informações em
tempo real sobre tráfego, localização ou problemas para prevenir acidentes ou con-
gestionamentos, aumentar a segurança e, por fim, economizar tempo e dinheiro (IBM,
2017).

FIGURA 2 - ARQUITETURA DO CPS

Fonte: Adaptado de IBM (2015)

2.2.4. Fábricas Inteligentes

A Fábrica Inteligente é definida como uma fábrica que é consciente do contexto,


auxilia pessoas e máquinas na execução de suas tarefas. Isso é conseguido por sis-
temas que trabalham em segundo plano, os chamados Sistemas Calm, e que permite
que as máquinas levem em consideração informações de ambiente em que se encon-
tram como a posição e status de um objeto. Esses sistemas realizam suas tarefas
com base em informações provenientes do mundo físico e virtual. Essas informações
do mundo físico podem ser, por exemplo, posição ou condição de uma ferramenta,
em contraste com a informação do mundo virtual, como documentos eletrônicos, de-
senhos e modelos de simulação. Os Sistemas Calm estão se referindo neste contexto
ao hardware de uma Fábrica Inteligente. A principal diferença entre o Calm e outros
24

tipos de sistemas é a capacidade de se comunicar e interagir com seu ambiente


(LUCKE; CONSTANTINESCU; WESTKÄMPER, 2008).

Esse conceito também pode ser entendido também como uma fábrica onde o
sistema físico-cibernético se comunica através da Internet das Coisas e auxilia pes-
soas e máquinas na execução de suas tarefas (HERMANN; PENTEK; OTTO, 2015).

Processos realizados em Fábricas Inteligentes podem ser alimentados por da-


dos enviados por fornecedores, clientes e pela própria empresa, os quais podem ser
avaliados para em seguida serem integrados à produção de fato. Nesse ambiente, a
cadeia de suprimentos é toda integrada. A utilização de novas tecnologias, como ro-
bôs, impressoras 3D e sensores, resulta em processos de produção mais ajustados,
com tempo de resposta muito menor. Além disso, esse sistema permite a redução de
perda de materiais por meio da utilização da manufatura aditiva, e a robotização pos-
sibilita alta produtividade a custos baixos, uma vez que estará́ substituindo a força
humana (BLANCHET et al., 2014).

FIGURA 3 - ESTRUTURA DE UMA FÁBRICA INTELIGENTE

Fonte: Adaptado de Blanchet et al. (2014)


25

2.2.5. Inteligência Artificial (IA) e Computação Cognitiva

De acordo com Kelly (2015), como muitas tecnologias avançadas que foram
concebidas antes do seu tempo, a Inteligência Artificial passou a ser amplamente in-
compreendida - distorcida por Hollywood, caracterizada pelas mídias, retratada como
tudo, desde o salvador até o flagelo da humanidade. As pessoas envolvidas em ciên-
cia da informação e em sua aplicação na realidade atual dos negócios e da sociedade
entendem o enorme potencial de sistemas inteligentes. O futuro dessa tecnologia –
que acredita-se ser cognitivo, não "artificial" – tem características muito diferentes das
que geralmente são atribuídas à IA, gerando diferentes tipos de desafios e oportuni-
dades tecnológicas, científicas e sociais, com diferentes requisitos de governança,
política e gestão.

A computação cognitiva refere-se a sistemas que aprendem em escala, razão


com propósito e interagem com humanos naturalmente. Em vez de serem explicita-
mente programados, eles aprendem e “raciocinam” através de suas interações com
pessoas e de suas experiências com o ambiente. Isso é possível a partir de avanços
em vários campos científicos, como por exemplo machine learning, ao longo do último
meio século, e são diferentes dos sistemas de informação que os precederam.

Os sistemas programáveis são baseados em regras que direcionam dados


através de uma série de processos predeterminados para chegar aos resultados. Em-
bora sejam poderosos e complexos, são deterministas – sendo efetivos em dados
estruturados, mas incapazes de processar entradas qualitativas ou imprevisíveis.
Essa rigidez limita sua utilidade ao abordar muitos aspectos de um mundo complexo
e emergente, onde a ambiguidade e a incerteza abundam (KELLY; HAMM, 2013).

Os sistemas cognitivos são probabilísticos, o que significa que eles são proje-
tados para se adaptar e dar sentido à complexidade e imprevisibilidade das informa-
ções não estruturadas (NOOR, 2014). Eles podem "ler" textos, "ver" imagens e "ouvir"
a fala natural, e eles interpretam essa informação, organizam e oferecem explicações
sobre o que isso significa, juntamente com o raciocínio feito para chegar às conclu-
sões. Eles não oferecem respostas definitivas. Na verdade, eles não "conhecem" a
resposta. Em vez disso, eles são projetados para pesar informações e ideias de múl-
tiplas fontes, para argumentar e, em seguida, oferecer hipóteses para consideração.
Um sistema cognitivo atribui um nível de confiança a cada visão ou resposta potencial.
26

Esses sistemas cognitivos não são destinados a substituir o pensamento ou as


ações humanas, mas sim aumentá-los. Um exemplo disso é o de Garry Kasparov,
campeão mundial de xadrez que perdeu para o computador IBM Deep Blue em 1997.
Depois de perder para Deep Blue, Kasparov passou a participar de ligas de xadrez
"freestyle", nas quais jogadores podiam utilizar assistência de computadores. Alguns
jogadores jogaram sem ajuda, outros dependiam inteiramente de computadores, po-
rém os mais bem-sucedidos foram aqueles que combinaram a entrada de computa-
dores com seus próprios instintos e estratégia. (KELLY, 2015).

2.2.6. Advanced Analytics

De acordo com um estudo feito pela consultoria Gartner em 2016 o Advanced


Analytics, também conhecido como Monitoramento Preditivo, 40% dos novos investi-
mentos das empresas será em analytics e inteligência de negócios. As ferramentas
capazes de entregar soluções com potencial de utilizar dados e algorítimos para rea-
lizar previsões, otimizar e simular ambientes de negócio terão maior importância nos
próximos anos (PARENTEAU, 2016). Essas ferramentas, através de análises de da-
dos, permitem simulações e previsões de cenários futuros, facilitando o processo de
tomada de decisão e proporcionando uma otimização na utilização de recursos (OP
SERVICES, 2016).

Além disso, de acordo com Baur e Wee (2015) essa capacidade de análise
avançada melhora de maneira drástica o desenvolvimento de novos produtos, redu-
zindo custos e tempo gastos.

2.3. MUDANÇAS DECORRENTES DA INTRODUÇÃO DE NOVAS TECNOLO-


GIAS

Como foi mostrado anteriormente, as revoluções industriais demandaram dife-


rentes tipos de profissionais, mais ou menos capacitados, a partir das novas tecnolo-
gias que foram surgindo. Estudos comprovam que existe uma forte relação entre nível
de capacitação com salários: profissionais mais capacitados tem maiores salários.
Estudos como esse comprovam como as novas tecnologias que surgem no mercado
impactam a sociedade de maneira geral e com a 4ª Revolução Industrial não será
diferente. O contínuo aperfeiçoamento durante a carreira profissional será essencial,
27

aumentando o dinamismo do mercado de trabalho e o reposicionamento dos traba-


lhadores nesse novo contexto. Essas mudanças desafiarão os atuais modelos de trei-
namento educacional e de mão-de-obra, bem como abordagens de negócios para o
desenvolvimento de habilidades. Outra prioridade é repensar e fortalecer o apoio à
transição e renda para os trabalhadores apanhados nas contracorrentes da automa-
ção (MCKINSEY GLOBAL INSTITUTE, 2017).

Uma quantidade significativa de evidências quantitativas e de estudos de caso


demonstram uma forte correlação entre a adoção de tecnologias baseadas em com-
putadores e o aumento do uso de mão-de-obra com formação universitária em indús-
trias e empresas. Esta correlação robusta é frequentemente interpretada como evi-
dência de mudança técnica baseada em um conjunto de habilidades específicas. (AU-
TOR; LEVY; MURNANE, 2003). De acordo com Acemoglu e Autor (2011) as mudan-
ças na distribuição de rendimentos e o retorno à universidade nas últimas décadas no
mercado de trabalho dos EUA motivaram uma grande literatura que investiga a rela-
ção entre a mudança técnica e os salários. O ponto de partida desta literatura é a
observação de que o retorno às habilidades, medido pelos salários relativos de gra-
duados universitários a graduados do ensino médio por exemplo, tem mostrado uma
tendência a aumentar ao longo de várias décadas, apesar do grande aumento na
oferta relativa de trabalhadores com formação universitária. Isso sugere que, conco-
mitantemente ao aumento da oferta de habilidades, houve um aumento na demanda
(relativa) de habilidades.

A mudança das habilidades exigidas pelo mercado de trabalho compõe uma


série de fatores que devem ser analisados, a fim de entender melhor os impactos
causados pela introdução de novas tecnologias. É possível notar que essa modifica-
ção vem ocorrendo desde as primeiras revoluções industriais, em diferentes propor-
ções. Uma questão a ser discutida é até que ponto as tecnologias serão capazes de
substituir totalmente a mão-de-obra humana em certas atividades. Já é possível ob-
servar isso em funções como trocadores de ônibus, vendedores de bilhetes de entrada
de cinema e até mesmo profissionais de telemarketing.

Uma vasta literatura documenta um aumento pronunciado na desigualdade sa-


larial nos Estados Unidos e em numerosas outras nações avançadas com início na
década de 1980 devido à discrepância no grau de capacitação dos trabalhadores (AU-
TOR; DORN, 2013). O fundamento intelectual dessa literatura é o que Acemoglu e
28

Autor (2011) chamam de modelo canônico, que apresenta dois grupos de habilidades
distintos - tipicamente, pessoas com ensino superior completo e pessoas com o en-
sino médio completo - realizando duas ocupações distintas e imperfeitamente substi-
tuíveis ou produzindo dois produtos substituíveis de maneira imperfeita. Supõe-se que
a tecnologia no modelo canônico assume uma forma de aumento de fator, o que sig-
nifica que ela complementa trabalhadores de alta ou baixa qualificação e, portanto,
induz um aumento ou diminuição monótona na desigualdade salarial entre grupos de
habilidades. O modelo canônico não é apenas tratável e conceitualmente atrativo, mas
também provou empiricamente bastante bem-sucedido ao explicar a evolução dos
conjutos de habilidade nos Estados Unidos ao longo do século XX, bem como capturar
as principais diferenças entre países nos conjuntos de habilidade entre nações avan-
çadas.

2.4. O FUTURO MERCADO DE TRABALHO

Levando em consideração o cenário apresentado anteriormente, surgem os


questionamentos de como será o novo relacionamento homem-máquina e se a força
de trabalho estará preparada para esses novos desafios. De acordo com Lasi et al.
(2014) disciplinas como engenharia serão precursoras na formação de agentes capa-
zes de atuar nesse novo contexto, entretanto ainda falta muito para alcançar resulta-
dos palpáveis. Faltam investimentos para um melhor desenvolvimento de equipes
multidisciplinares, a valorização profissional com ênfase no futuro e a visão crítica e
ampliada da dinâmica social (PEREIRA; HAYASHI; FERRARI JUNIOR, 2016). Cruz
(2015) afirma que é necessário incorporar novos componentes na formação em en-
genharia que passam pela ampliação da reflexão histórica, sociológica e filosófica, já
que no ensino atual pouca ênfase é dada à sensibilidade aos valores sociais

Ao passo que as novas tecnologias permitirão uma redução no tempo de pro-


dução e lançamento de novos produtos em tempos cada vez mais curtos, a demanda
por novas criações irá aumentar, retroalimentando um ciclo de consumo e produção.
Portanto, se faz presente a reflexão se o homem será capaz de acompanhar essas
mudanças no âmbito do trabalho.

Ao longo das últimas duas décadas, a inovação se tornou imperativa na indús-


tria e na academia. Em pesquisa apresentada por Carlomagno e Scherer (2012), 80%
29

dos executivos consideram inovação como prioridade, mesmo que essas prioridades
não sejam convertidas em ações concretas. A partir dessa informação é possível con-
cluir que há intenção em inovar e muito se comenta sobre o tema. Entretanto, essa
vontade não é refletida em uma ação concreta.

De acordo com Weber (2016) as circunstâncias em que a Indústria 4.0 se apre-


senta motivam duas posições acerca do futuro mercado de trabalho e essas opiniões
não poderiam ser mais conflitantes: de um lado, temor de perdas maciças de empre-
gos, causadas pela a utilização de robôs interconectados; do outro lado, imagens bri-
lhantes de enormes ganhos de emprego e inovação e de alívio do estresse para os
funcionários. Ele pontua que o desenvolvimento tecnológico é tão antigo quanto a
humanidade e que, nem por isso, houve falta de emprego. As profissões foram mu-
dando ao longo do tempo e, muito provavelmente, a 4ª Revolução Industrial apenas
exija adaptações da força de trabalho.

Para que seja possível realizar uma análise consistente dos impactos econô-
micos e sociais consequentes da Indústria 4.0, se torna necessário considerar vários
fatores, como extinção de profissões e postos de trabalho, como também o surgimento
de novos; as novas demandas dos consumidores; desenvolvimento de novos produ-
tos; maior eficiência dos processos; variação nos preços, ofertas e compras. Em pes-
quisa realizada na Alemanha pelo Institute for Employment Research (IAB), foi con-
cluído que o aumento da produtividade e das exigências de qualificação dos trabalha-
dores, resultará em um aumento nos salários (WOLTER et al., 2015).

Parece não haver dúvidas quanto ao fato de que um dos desafios a serem
enfrentados será́ a transformação na oferta de profissões: enquanto algumas irão dei-
xar de existir, outras irão surgir. Weber (2016) menciona que haverá uma redução de
vagas de emprego da área de manufatura, como por exemplo, controle de fábricas e
profissões relacionadas a manutenção de máquinas. Por outro lado, haverá um au-
mento em vários campos ocupacionais e, em particular, nas profissões de serviços,
mais significativamente nas áreas de tecnologia da informação e ciências exatas.
Também a demanda por trabalhos de baixa qualificação diminuirá.

Em pesquisa realizada pelo McKinsey Global Institute (2017), foi concluído que,
aproximadamente, 50% das atividades realizadas por humanos são tecnologicamente
automatizáveis e que 60% das ocupações atuais tem mais de 30% de atividades que
são tecnologicamente automatizáveis.
30

2.5. JOVENS ENTRANTES

Jovens prestes a se formar ou entrando no mercado de trabalho nos dias atuais


enfrentam um cenário mais turbulento e em rápida evolução visto por qualquer gera-
ção. A economia global está se aproximando da 4ª Revolução Industrial, impulsionada
pelo aumento da automação do mercado de trabalho – habilitado por inovações rápi-
das em robótica, Inteligência Artificial e tecnologias inteligentes. Essas forças trans-
formadoras causarão uma ruptura sem precedentes das vidas dos cidadãos globais
nas próximas décadas, devido à:

• Velocidade de mudança: ao contrário das revoluções industriais ante-


riores, o mercado de trabalho e a sociedade terão um tempo insuficiente para se adap-
tar ao ritmo de mudança esperado.
• Onipresença da mudança: os avanços alcançados através da 4ª Re-
volução Industrial – impressão 3D, ciências dos materiais, sistemas inteligentes auto-
matizados – afetarão quase todos os setores e níveis de empregos e qualificações.

O início da 4ª Revolução Industrial está criando uma paisagem dinâmica para


os jovens navegarem. Consequentemente, entender suas percepções e prontidão
para os desafios futuros é primordial (INFOSYS, 2016).

De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial (2016), embora ape-


nas uma minoria da força de trabalho mundial de mais de três bilhões de pessoas seja
diretamente empregada por grandes e emergentes empresas multinacionais, essas
companhias possuem grande influência em pequenas empresas e ecossistemas lo-
cais de empreendedorismo. Portanto, além de sua própria parcela significativa de em-
prego, as decisões de planejamento de força de trabalho dessas empresas têm o po-
tencial de transformar os mercados de trabalho locais através do emprego indireto e
estabelecendo o ritmo de mudança de habilidades e requisitos ocupacionais.

Embora as implicações das atuais rupturas nos modelos de negócios para o


emprego sejam de grande alcance, um ajuste rápido para a nova realidade e suas
oportunidades é possível, desde que haja um esforço feito por todas as partes inte-
ressadas. Ao avaliar o mercado de trabalho futuro, espera-se melhorar o estoque atual
de conhecimento em torno de necessidades de habilidades de maneira antecipada,
padrões de recrutamento e requisitos ocupacionais. Além disso, espera-se que este
31

conhecimento possa incentivar e melhorar as parcerias entre governos, educadores,


provedores de treinamento, trabalhadores e empregadores, a fim de gerenciar melhor
o impacto transformador da 4ª Revolução Industrial sobre o emprego, habilidades e
educação.

2.5.1. Percepções e Expectativas

Em um estudo feito pela consultoria Infosys (2016), com jovens entre 16 e 25


anos de países desenvolvidos e emergentes, a grande maioria acredita que enfrentam
uma concorrência mais competitiva no mercado de trabalho do que gerações anterio-
res devido ao aumento da globalização. A noção de ter que competir por emprego
com colegas nacionais e internacionais também é um fator a ser levado em conside-
ração.

Apesar disso, esse mesmo estudo constatou que, no geral, os jovens são muito
positivos sobre suas experiências educacionais e acadêmicas atuais ou passadas. A
grande maioria – 72% – achou suas experiências inspiradoras. Em todos os merca-
dos, menos de metade disse que sua educação era chata ou antiquada, embora essa
visão seja duas vezes mais provável entre os jovens em mercados avançados do que
em mercados emergentes.

Considerando a relevância da educação para futuras carreiras, as percepções


são mais variadas. No Brasil e na Alemanha, 70% concordam que sua educação for-
mal é útil para seu trabalho atual, mas isso cai para 50% nos EUA, Reino Unido e
Austrália (Figura 4):
32

FIGURA 4 - "MINHA EDUCAÇÃO FORMAL É MUITO ÚTIL NO MEU TRABALHO ATUAL" (% QUE
CONCORDA FORTEMENTE OU CONCORDA)

Fonte: Adaptado de Infosys (2016)

2.5.2. Trabalho e Carreiras

Em geral, os jovens são otimistas sobre suas futuras carreiras (Figura 5). Em
média, quase dois terços dos entrevistados pela empresa de consultoria se sentem
positivos sobre suas perspectivas de emprego. No entanto, o otimismo é mais gene-
ralizado nos mercados emergentes, especialmente quando se considera aqueles que
são "muito otimistas". No Brasil, três quartos são positivos em relação ao seu futuro.
Na Índia e na China é mais de 60%, com um terço desses sentindo-se "muito otimis-
tas". Nos mercados desenvolvidos - particularmente a Austrália – menos da metade
sentem o mesmo.

Esse otimismo é surpreendente, dada a gama de desafios que os jovens devem


enfrentar. Jovens que entram em emprego já relatam ter que se capacitar para atender
às demandas do local de trabalho atual, e ainda assim os empregadores não estão
cumprindo as expectativas no suporte que proporcionam para o desenvolvimento pes-
soal. Mais de dois terços em todos os mercados afirmam ter tido que aprender novas
habilidades para seu emprego atual, chegando a quase 80% no Reino Unido, EUA e
Austrália (INFOSYS, 2016).
33

FIGURA 5 - "COMO VOCÊ SE SENTE SOBRE SUAS FUTURAS PERSPECTIVAS DE EM-


PREGO?" (% DE PESSOAS QUE ESCOLHEM CADA PERSPECTIVA)

Fonte: Adaptado de Infosys (2016)


34

3. METODOLOGIA

3.1. ESTUDO BIBLIOMÉTRICO

Na primeira etapa da elaboração do projeto, foi feito um estudo bibliométrico


com o intuito de fazer um levantamento dos elementos analíticos para melhor com-
preensão do fenômeno que se pretendia investigar. Para isso, a revisão da literatura
foi encabeçada pela pesquisa de materiais teóricos e empíricos relevantes e atuais
acerca do tema Indústria 4.0 nas bases de dados. Inicialmente, procurou-se o termo
“Industry 4.0” nas plataformas Scopus, ResearchGate, Google Acadêmico e Periódi-
cos Capes e os vinte e cinco resultados mais relevantes de cada plataforma foram
revisados. O mesmo ocorreu com o termo “4th Industrial Revolution”. O intuito dessa
busca inicial era encontrar outras palavras-chave que também fossem relevantes para
o entendimento da temática.

A partir dos duzentos artigos listados, uma seleção foi realizada tomando por
base o título, o resumo e as palavras-chaves do artigo. Além disso, foi levado em
consideração também os autores citados na bibliografia do material encontrado. Ficou
evidenciado que, por se tratar de um tema recente, os mesmos autores eram citados
na maioria das vezes.

Através dessa primeira etapa foi possível determinar um conjunto de palavras-chaves


recorrentes que passaram a incorporar o quadro de referência, dentre as quais “inter-
net of things”, “IoT”, “internet of service”, “IoS”, “smart factory”, “cyberphysical systems”
e “artificial intelligence”. No primeiro momento, a leitura do material encontrado tinha
por objetivo identificar diferentes definições para os termos citados, para que posteri-
ormente uma combinação desses conceitos fossem oferecidos ao leitor, mostrando
um panorama geral da Indústria 4.0.

Para exemplificar como esse tema tem ganhado relevância nos últimos anos,
a linha do tempo a seguir (Figura 6) mostra como cresceu o número de resultados
utilizando a palavra-chave “industry 4.0” na base de dados Scopus.
35

FIGURA 6 - LINHA DO TEMPO

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Em um segundo momento, foi feita uma pesquisa com a combinação dos ter-
mos “industry 4.0” e “4th Industrial Revolution” com os termos “skills”, “future jobs”,
“workforce” e “labor market”. Isso foi feito porque o intuito do trabalho é entender como
esse novo cenário mundial vai impactar o mercado de trabalho e obter respostas para
algumas perguntas como: “o que se espera dos profissionais nesse novo cenário?”,
“como será o mercado de trabalho nesse futuro próximo?”, “como será a interação do
homem com a Inteligência Artificial?”. Tais indagações geraram a necessidade de se
aprofundar na compreensão de aspectos dos estudos de inovação e as exigências do
mercado no contexto da Indústria 4.0.

A finalidade era entender a dinâmica das transformações das atividades de tra-


balho. A partir de uma breve leitura sobre o tema, já se pode inferir que muitos postos
de trabalho irão desaparecer enquanto novos serão criados. Dessa forma, a revisão
da literatura serviu como base para o desenvolvimento dos estudos de campo, que
foram realizados posteriormente para continuação do desenvolvimento deste traba-
lho.
36

3.2. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Há diferentes classificações para pesquisas, que variam de acordo com critérios


utilizados por cada autor. Vergara (2016) classifica as pesquisas quanto aos:

• Fins: podendo ser exploratória, descritiva, explicativa, metodológica, aplicada


e/ou intervencionista.

• Meios: podendo ser pesquisa de campo, pesquisa de laboratório, documental,


bibliográfica, experimental, ex post facto, participante, pesquisa-ação e/ou es-
tudo de caso.

Por sua vez, Gil (2002) conceitua as pesquisas com base em seus objetivos
gerais, podendo dividi-las em três grandes grupos:

• Pesquisas Exploratórias: Tais pesquisas tem o objetivo de proporcionar maior


familiaridade com o problema, a fim de torná-lo mais explícito ou de constituir
hipóteses, além de aprimorar de ideias ou fazer a descoberta de intuições.

• Pesquisas Descritivas: Possuem como objetivo maior a descrição de das ca-


racterísticas de determinado fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis. Uma característica significativa é a utilização de técnicas padroniza-
das de coleta de dados (ex: questionário e observação sistemática).

• Pesquisas Explicativas: Têm como preocupação central identificar fatores que


determinam ou contribuem para a ocorrência de fenômeno, sendo o tipo de
pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade.

A metodologia utilizada nessa pesquisa consiste em um estudo de caso. Para


a realização desse estudo, foi seguido o modelo proposto por Miguel et al (2010).
Segundo os autores o estudo de caso é um trabalho de caráter empírico que investiga
um dado fenômeno dentro de um contexto real contemporâneo por meio de análise
aprofundada de um ou mais objetos de análise, nos quais essa análise permite um
37

amplo e detalhado conhecimento sobre o fenômeno, possibilitando inclusive a gera-


ção de uma teoria. Além disso, o estudo de caso favorece uma visão holística sobre
os acontecimentos cotidianos, destacando-se seu caráter de investigação empírica de
fenômenos contemporâneos e tem como propósito de promover uma base para dis-
cussão e debate do tema, não necessariamente devendo conter uma interpretação
completa dos eventos reais (YIN, 2001).

Miguel et. al (2010) fazem uma proposta de conteúdo e sequência para condu-
ção de um estudo de caso.

1. Definição da estrutura conceitual/teórica;


2. Planejamento do caso;
3. Condução de Teste-Piloto;
4. Coleta dos dados;
5. Análise dos dados;
6. Geração de relatório.

Baseado no que foi dito sobre a metodologia da pesquisa, o atual trabalho pode
ser classificado quanto aos fins como exploratória, descritiva e aplicada e/ou interven-
cionista. Quanto aos meios, ela é classificada como documental, bibliográfica e parti-
cipante. A partir dos dados obtidos e das respectivas análises, será possível avaliar e
mensurar os impactos gerados pela mudança no ambiente de trabalho.

3.3. ESTRUTURA DA PESQUISA

A pesquisa feita neste estudo é constituída por uma estrutura que leva
em consideração duas abordagens, teórica e empírica, que funcionam de forma con-
junta com o intuito de gerar as conclusões do presente trabalho:

• Abordagem Teórica: Levantamento de literatura referente a temas que


sejam pertinentes à compreensão pesquisa, como Indústria 4.0, Internet das Coisas,
Sistema Físico-Cibernéticos, Inteligência Artificial, futuro mercado de trabalho e jo-
vens entrantes.
• Abordagem Empírica: Será realizada através do Estudo de Caso, que
por sua vez pode ser dividido em nas seguintes partes:
o Análise descritiva da empresa;
o Análise descritiva do processo a ser estudado;
38

o Observação dos dados de desempenho;


o Comparação de resultados pré e pós implementação da nova ferra-
menta.

Com o objetivo de entender na prática os impactos que aplicação de um dos


conceitos da Indústria 4.0. podem gerar na dinâmica do trabalho, a pesquisa propõe
realizar uma comparação de desempenho após implementação de uma ferramenta
baseada em Inteligência Artificial em um banco especializado em financiamento de
soluções tecnológicas para empresas, especificamente no setor de contas a receber
de clientes de toda a América Latina, mostrando na prática os benefícios que os con-
ceitos da Indústria 4.0 pode gerar.

A figura 7 mostra o fluxo da pesquisa do presente trabalho:


39

FIGURA 7 - ESTRUTURA METODOLÓGICA DA PESQUISA

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Para criar a perspectiva teórica, foi feito o estudo bibliométrico citado no item
3.1, enriquecendo o conhecimento sobre o tema abordado através da literatura dispo-
nível. A perspectiva empírica foi resultado de um estudo de caso realizado em um
banco especializado em financiamento de soluções tecnológicas para empresas, es-
pecificamente no setor de contas a receber de clientes de toda a América Latina, onde
foi implementada uma ferramenta, baseada em Inteligência Artificial, para diminuir o
tempo em que estados de conta são elaborados e envio para os clientes.

Para avaliar e mensurar a melhora dessa implementação, foi enviado aos 15


analistas de contas a receber uma planilha para preenchimento, que gerou dados
40

acerca do processo exercido antes da utilização de Inteligência Artificial. Essa coleta


foi essencial para efeito de comparação com os resultados pós-implementação. Tam-
bém foram feitas observações de campo onde se registrou as principais rotinas que
seriam impactadas pela execução da solução.

Marconi e Lakatos (2002) afirmam que a entrevista é um encontro dentre duas


pessoas, com o objetivo de que umas delas obtenha informação acerca de determi-
nado assunto por meio de conversação de natureza profissional e que se trata de um
instrumento de excelência da investigação social. Portanto, foram feitas entrevistas
com 10 funcionários, compostas por 12 perguntas abertas, com o intuito de coletar
informações acerca dos benefícios gerados por essa nova ferramenta.
41

4. ESTUDO DE CASO

A empresa na qual foi realizado o estudo de caso será tratada de forma anô-
nima em relação ao seu nome e a outras informações que possam identificá-la e será
referenciada como “BDF” – Banco de Financiamento. A descrição da companhia será
sucinta, com o objetivo de apenas dar ao leitor um panorama geral sobre a empresa
e o mercado onde atua. É importante pontuar que as informações foram retiradas do
site da própria empresa, além de notícias, relatórios e entrevistas com colaboradores.

O estudo é focado em apresentar os benefícios e impactos da implementação


de uma ferramenta baseada em Inteligência Artificial e computação cognitiva em um
setor específico da empresa.

4.1. DESCRIÇÃO DA EMPRESA

O BDF, divisão de financiamento de uma empresa multinacional de tecnologia


da informação (TI), tem como missão disponibilizar soluções financeiras para seus
clientes, oferecendo ao mercado um portfólio vasto de serviços financeiros, totalmente
customizados para financiamento de TI. O BDF chegou ao posto de maior financiador
de TI no Brasil, com uma carteira de ativos de R$3,6 bilhões de reais.

O banco se destaca no mercado por fazer parte de um grupo multinacional


mundialmente reconhecido por sua expertise em soluções tecnológicas inovadoras
para empresas de diversos setores como transporte, varejo, saúde e comunicações.
Além de fornecer financiamentos para tecnologias do grupo do qual faz parte, o BDF
também financia soluções de parceiros comerciais.

4.2. SETOR ESTUDADO

O presente estudo de caso foi realizado no setor de contas a receber de clientes


latino-americanos, localizados especificamente nos seguintes países: Argentina, Bra-
sil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai. O setor é composto por um
gerente sênior e três gerentes que são responsáveis por determinados países: um
responsável por Brasil e México; outro responsável por Chile e Peru; e um terceiro a
cargo de Argentina, Colômbia, Equador e Uruguai. Cada país possui cinco analistas
de contas a receber, que tem como atividades principais o contato com clientes, envio
42

de estados de conta, identificação de pagamentos, esclarecimento de dúvidas e co-


brança de faturas vencidas.

Como clientes internos, o setor tem contato direto com os times de emissão de
faturas, crédito, jurídico, término de contratos e, principalmente, com o time de vendas.
Com exceção do último, que se encontra nos países focais, todas as equipes se en-
contram no mesmo prédio, o que facilita a comunicação e a tomada de decisões.

Essa atividade era desempenhada no México por uma empresa terceirizada,


porém, por uma estratégia definida pela matriz, foi transferida para a sede no Rio de
Janeiro em 2017. Portanto, todos os funcionários passaram a desempenhar as mes-
mas atividades no mesmo período de tempo, apesar do fato de que alguns já eram
funcionários da empresa e foram deslocados para esse setor.

O time de América Latina tem metas mensais determinadas pela matriz, locali-
zada em Nova Iorque. A partir desse número, o gerente sênior distribui metas indivi-
duais para cada país, levando em consideração clientes e especificidades de cada
nação.

Os clientes são classificados de acordo com sua complexidade e tamanho. A


complexidade é medida pelo número de itens (faturas, pagamentos, notas de crédito
e notas de débito) em seu estado de conta e o tamanho é mensurado pelo valor em
dólares de faturas emitidas mensalmente:

• Complexidade baixa: 10 itens ou menos no estado de conta


• Complexidade média: entre 11 e 49 itens no estado de conta
• Complexidade alta: 50 itens ou mais no estado de conta
• Tamanho pequeno: até US$ 100.000,00 em faturas emitidas mensalmente
• Tamanho médio: entre US$ 100.000,00 e US$ 1.000.000,00 em faturas emiti-
das mensalmente
• Tamanho grande: mais de US$ 1.000.000,00 em faturas emitidas mensalmente

Portanto, os clientes podem se enquadrar em nove perfis distintos como mostra o


quadro a seguir:
43

QUADRO 1 - PERFIS DE CLIENTES

TAMANHO

Pequeno Médio Grande

Cliente
Cliente médio Cliente grande
Baixa

pequeno de
de baixa de baixa
baixa
complexidade complexidade
COMPLEXIDADE

complexidade
Cliente
Cliente médio Cliente grande
Média

pequeno de
de média de média
média
complexidade complexidade
complexidade
Cliente
Cliente médio Cliente grande
pequeno de
Alta

de alta de alta
alta
complexidade complexidade
complexidade

Fonte: elaborado pelo próprio autor

Cabe aos analistas determinar quais clientes devem ser priorizados, estabele-
cendo um contato frequente nesses casos. Essa priorização se faz necessária, pois,
em média, cada funcionário possui em média 130 clientes em seu portfólio, impossi-
bilitando um atendimento personalizado a cada um dos clientes.

4.3. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA FERRA-


MENTA

Esse estudo está focado na atividade de elaboração e envio de estados de


conta para clientes. Estados de conta são compostos por faturas em aberto, paga-
mentos, notas de crédito e notas de débito. Como essa atividade é feita de forma
44

diferente para clientes localizados no Brasil, o processo realizado para essa localidade
não foi levado em consideração.

Para gerar estados de conta, os analistas devem acessar o banco de dados


online localizado na intranet da empresa e partir daí baixar quatro relatórios distintos,
um para cada item, em formato de planilhas de Excel. Esse processo leva alguns
minutos, já que são arquivos bem grandes. Nesses relatórios estão informações sobre
todos os clientes dos países citados, portanto, é necessário filtrar as planilhas para
visualizar o cliente específico desejado. Feito isso, os funcionários devem avaliar se
todas as faturas e/ou pagamentos são válidos ou não, já que são emitidas faturas em
moeda local e em dólares e muitas vezes “sobram” saldos desses itens, devido à
flutuação do câmbio, que não devem ser enviados aos clientes. Em seguida, é baixado
pelo mesmo banco de dados uma planilha com os números de contratos ativos de
cada cliente. Utilizando a fórmula PROCV do Excel é possível associar cada fatura a
um número de contrato. Todos esses dados são consolidados em um template e re-
visados. Após essas etapas o estado de conta está finalizado. Esse processo é des-
crito pelo fluxograma a seguir (figura 8):
45

FIGURA 8 - FLUXOGRAMA DO PROCESSO ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA FERRAMENTA

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


46

Esse processo tem como principais problemas o elevado tempo para prepara-
ção de estado de conta e constantes erros humanos mesmo após as revisões, já que
clientes com alta complexidade possuem muitos itens a serem avaliados.

4.4. MOTIVAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA FERRAMENTA

O setor de contas a receber da América Latina é o que apresenta os relatórios


mais inconsistentes em relação a outras geografias e vem obtendo os piores resulta-
dos, em termos de valor em dólares recolhidos proporcional ao valor em dólares de
faturas emitidas, ao longo dos últimos quatro trimestres. Isso alertou a gerência global
da empresa para um maior investimento no setor, visando mudar esse cenário

A companhia tem como meta enviar para todos os clientes um estado de contas
semanal, sem levar em consideração pedidos específicos de cada cliente. Para que
esse objetivo seja cumprido, é necessária uma força-tarefa realizada todas as segun-
das-feiras, na qual analistas ficam 100% do tempo focados na elaboração e envio de
estados de conta, sem a possibilidade de realizar as outras atividades inerentes à
função. A gerência pôde perceber que a necessidade de dedicação de um dia inteiro
somente para essa atividade estava afetando os resultados e isso despertou interesse
na busca por uma mudança. Além disso, vinham ocorrendo muitos erros humanos, o
que estava afetando o relacionamento com os clientes, pois informações erradas es-
tavam sendo enviadas.

Uma outra motivação para implementação dessa ferramenta, é o fato de ser


um braço financeiro de uma grande empresa de tecnologia da informação, o que lhe
dá a oportunidade de ser pioneira nesse tipo de transformação, tornando-se mais di-
gital, automatizada e inovadora.

4.5. OBJETIVO A SER ALCANÇADO COM A IMPLEMENTAÇÃO DA FERRA-


MENTA

O objetivo principal da empresa era aumentar a eficácia e eficiência do pro-


cesso de elaboração e envio de estados de conta. Foi identificado pelos responsáveis
pelo setor que muito tempo era gasto nessa atividade e o tempo de resposta da equipe
47

para outras demandas dos clientes estava muito alto. Portanto, através dessa mu-
dança, se buscava distribuir melhor o tempo dos analistas para uma prestação de
serviços mais focada nas necessidades dos clientes e diminuir o tempo gasto nessa
atividade operacional.

Além disso, devido à grande complexidade de alguns clientes, estavam ocor-


rendo muitos erros humanos, o que também estava afetando a qualidade do processo
e o relacionamento com os clientes.

4.6. CAPACIDADES DA FERRAMENTA

O software é capaz de gerar e enviar para correios eletrônicos previamente


cadastrados os estados de conta contendo números contratos, pagamentos, faturas,
notas de crédito e débito em segundos e fazer a análise de quais faturas possuem
saldos devido à taxa de câmbio e que não devem estar presentes nos relatórios.

Diferentemente da computação convencional, que só consegue processar ba-


ses de dados estruturadas, a ferramenta é capaz de entender dados não estruturados,
através da Inteligência Artificial e computação cognitiva. Portanto, a ferramenta tem a
“habilidade” de responder a solicitações mais comuns de clientes como: data e valor
do último pagamento, número de parcelas restantes até o término do contrato e arqui-
vos de imagem de faturas e contratos. Como mencionado anteriormente, aos clientes
foi enviado instruções de como esses pedidos devem ser feitos para que a ferramenta
possa compreender e processar as respostas.

Além disso, a partir da capacidade analítica proporcionada pela computação


cognitiva, a ferramenta é capaz de gerar uma probabilidade de pagamento para cada
uma das faturas geradas para todos seus clientes através da análise de um imenso
número de variáveis como, por exemplo, notícias em sites e redes sociais, valor de
ações, histórico de pagamentos e setor de atuação de cada empresa.

A atividade realizada pela ferramenta apresenta confiabilidade de 96%, o que


é satisfatório para a gerência.
48

4.7. PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DA FERRAMENTA

A princípio, foi decidido implementar a ferramenta baseada em Inteligência Ar-


tificial e computação cognitiva apenas nos times que atendem Colômbia e México.
Apesar de todos os times terem uma quantidade aproximada de clientes, os de maior
complexidade se encontram nessas duas localidades. Portanto, dos 1.253 clientes
localizados na América Latina, 264 (aproximadamente 21%) seriam afetados pela mu-
dança.

Todos os analistas que atendem Colômbia e México receberam dois dias de


treinamento de como utilizar o novo software, informações sobre a ferramenta e nova
rotina de atividades semanais. Além disso, foi enviado a todos os clientes instruções
de como fazer solicitações, já que em alguns casos esses pedidos seriam feitos dire-
tamente à própria ferramenta e os analistas teriam que somente revisar o que foi pro-
cessado de maneira automática pelo software.

A implementação foi realizada através de uma parceria entre os setores de


Contas a Receber, Tecnologia da Informação e Melhoria de Processos e Desenvolvi-
mento. Não foi necessária a contratação de qualquer tipo de consultoria ou empresa
terceirizada, já que os dois últimos setores mencionados desempenham suas funções
tanto na matriz multinacional como no BDF.

4.8. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE APÓS A IMPLEMENTAÇÃO DA FERRA-


MENTA

Após a implementação da tecnologia, a geração e envio dos estados de conta


passaram a ser feitos em sua totalidade pela ferramenta através da Inteligência Artifi-
cial. Coube aos analistas manter atualizados os cadastros dos e-mails dos clientes;
informações, datas e valores de novos pagamentos; e responderem às solicitações
que a máquina ainda não tem a capacidade de responder. Todos os relatórios gerados
pelo software foram revisados antes de serem enviados para assegurar a qualidade
da informação compartilhada, porém já na segunda semana, essa etapa foi descar-
tada devido ao alto nível de acerto dos estados de conta. A figura 9 mostra como ficou
o processo após a implementação da ferramenta:
49

FIGURA 9 - FLUXOGRAMA DO PROCESSO APÓS A IMPLEMENTAÇÃO DA FERRAMENTA

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

4.9. BENEFÍCIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA FERRAMENTA

A implementação da ferramenta baseada em Inteligência Artificial e computa-


ção foi bem-sucedida e os objetivos almejados foram alcançados. Não foram mais
necessárias as forças-tarefas realizadas anteriormente para geração e envio dos es-
tados de conta e o tempo de resposta para as solicitações que o software é capaz de
responder reduziu drasticamente.
50

Para os funcionários foi uma mudança muito bem-vinda, já que era uma recla-
mação quase que unânime sobre a atividade, extremamente repetitiva e sujeita a er-
ros, que era realizada anteriormente. Isso permitiu a eles focarem em outras ativida-
des como refaturamento, envio de notificações de término de contrato, cobrança de
faturas vencidas e, principalmente, na resolução de problemas mais complexos. Atra-
vés das probabilidades geradas pelo software, os analistas puderam ter uma melhor
visão do perfil de cada cliente, possibilitando a priorização em direção aos casos mais
problemáticos. Isso facilitou a tomada de decisão.

Além disso, através das capacidades analíticas da ferramenta, foi possível me-
lhorar atividades de planejamento financeiro, o entendimento sobre a performance da
equipe e a capacidade de previsão de receita. O software foi capaz de fornecer in-
sights sobre possíveis causas para atrasos em pagamentos, o que permitiu às equipes
ajustar expectativas e focar em clientes mais problemáticos.

4.10. IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA FERRAMENTA

Após o sucesso nos times de Colômbia e México, a ferramenta foi também


adotada pelas equipes de Argentina, Chile, Equador e Peru.

As análises feitas pelo software passaram a ser levadas em consideração na


elaboração das metas das equipes e clientes focais indicados por essas análises pas-
saram a ter um atendimento mais personalizado. Para isso, um analista de cada time
passou a lidar somente com as carteiras desses clientes mais problemáticos.

Além disso, o caso ficou conhecido em outros setores da empresa, o que des-
pertou um maior interesse na utilização da ferramenta em outros ambientes. A área
de Contas a Receber responsável por clientes da América Central e do Norte já iniciou
o projeto de implementação do software atendendo às necessidades específicas da
área.

4.11. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Através do estudo de caso foi possível identificar uma melhora significativa no


tempo de resposta das solicitações dos clientes, na qualidade e na eficiência do ser-
51

viço prestado. A implementação da ferramenta, especificamente nesse caso, não ge-


rou demissões ou ociosidade dos funcionários, o que se opõe ao que foi proposto por
Rotman (2013), que afirmou que pelo fato das tecnologias executarem trabalhos de
maneira mais segura e produtiva, a demanda por trabalhadores é reduzida.

Outra análise a ser feita é que nenhuma empresa de consultoria ou terceirizada


foi necessária para implementação da ferramenta. A parceira entre as áreas de Con-
tas a Receber, Tecnologia da Informação e Melhoria de Processos e Desenvolvimento
foi suficiente para que o projeto seguisse conforme o planejado. Porém, de acordo
com os próprios funcionários, o treinamento realizado foi fundamental, já que nenhum
deles possuía qualquer familiaridade com softwares baseados em Inteligência Artifi-
cial e computação cognitiva. Isso confirma o que foi constatado pelo estudo feito pela
IBM (2015), que afirma que o principal obstáculo para o avanço dessas tecnologias é
a disponibilidade de pessoas capazes de desenvolvê-las e utilizá-las.

Os gerentes ficaram muito satisfeitos com a melhora do desempenho proporci-


onado pela implementação da nova ferramenta e, segundo eles mesmos, está em
pauta a adoção do mesmo software para desempenhar outras atividades, aprovei-
tando ainda mais as capacidades cognitivas da tecnologia. Como foi citado anterior-
mente, setores com atividades semelhantes já estão em processo de adoção, devido
à repercussão que o projeto teve no ambiente de trabalho.

A recepção pelos funcionários foi positiva, pois além de facilitar uma atividade
demasiadamente operacional, foi relatado por eles que trabalhar em um ambiente
aberto à introdução de novas tecnologias e pioneiro nesse tipo operação gera grande
satisfação. Esse sentimento positivado é impulsionado ainda mais pelo fato do BDF
fazer parte de um grande grupo multinacional do setor de tecnologia, o que agrega
valor à cultura da empresa. Entretanto, vale salientar que, apesar da boa aderência
da ferramenta nesse momento, alguns funcionários relataram um certo receio em re-
lação a futuras demissões devidas às novas utilidades que a ferramenta pode apre-
sentar.
52

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. CONCLUSÃO

As novas tecnologias advindas da 4ª Revolução Industrial são adotadas cada


vez mais por empresas e fábricas, alterando não somente os ambientes produtivos
como também a forma de como os serviços são prestados. Os impactos dessas ino-
vações também sentidos pela sociedade, que tem novas demandas e um novo perfil
de consumo. O conceito “Indústria 4.0” que, primeiramente. foi cunhado na Alemanha,
como estratégia para atingir metas de desenvolvimento acadêmico e econômico, se
expandiu rapidamente para outras nações, principalmente as desenvolvidas, e hoje é
um tema que desperta motivações para novos estudos. No Brasil, a literatura ainda
carece de conteúdo, porém foi verificado que o material produzido acerca desse tema
vem crescendo.

O cenário mostra uma crescente criação de valor, que, com o aumento da pro-
dutividade e maiores exigências em relação às capacidades dos empregados, resulta
especialmente em salários crescentes. Na empresa estudada nesse trabalho o nível
de emprego não mostrou mudanças significativas até o momento; portanto, especifi-
camente nesse caso, a Indústria 4.0 não se tornou nem produtora de empregos nem
destruidora de empregos. Por trás disso, no entanto, há mudanças consideráveis:
muitos empregos atuais serão extintos e novas atividades serão criadas. Funções que
não exigem um alto grau de capacitação serão as que desaparecerão primeiro.

Maior fluidez será necessária no mercado de trabalho para gerenciar as difíceis


transições que puderam ser antecipadas através da revisão da literatura. Isso realocar
mão-de-obra ociosa nas economias avançadas. As plataformas de capacitação digi-
tais podem fomentar a fluidez, combinando trabalhadores e empresas que buscam
suas habilidades e oferecendo uma infinidade de novas oportunidades de trabalho
para aqueles que estão abertos a recebê-las. Os formuladores de políticas em países
com mercados de trabalho inflexíveis podem aprender com outros que desregulamen-
taram, como a Alemanha, que transformou sua agência federal de desemprego em
uma poderosa entidade de correspondência de empregos.

Através do estudo de caso, pode-se verificar que a implementação de uma fer-


ramenta de Inteligência Artificial e computação trouxe benefícios nos resultados e na
53

satisfação dos próprios funcionários. Trabalhar em ambientes inovadores e tecnológi-


cos influencia na percepção da força de trabalho. Porém, nenhum dos funcionários
tinha familiaridade com os conceitos em que a ferramenta é baseada, o que comprova
que a mão-de-obra exigida pela Indústria 4.0 ainda é escassa. No caso estudado fo-
ram necessários diversos treinamentos para que a implementação fosse possível.

Apesar de em um primeiro momento ninguém ter perdido seu posto de trabalho,


é importante salientar que alguns funcionários demonstraram receio em relação ao
futuro de suas posições. A revisão da literatura corrobora com essa preocupação, já
que em um futuro próximo as oportunidades de trabalho irão exigir uma maior capa-
citação das pessoas e que os trabalhos mais repetitivos serão completamente substi-
tuídos por soluções tecnológicas. É preciso que a sociedade se atente a essas trans-
formações e se prepare para as possíveis consequências.

A partir do presente trabalho, pode-se concluir que o cenário “homem versus


máquina”, como opostos conflitantes e muitas vezes retrato em livros e filmes não é
necessariamente uma verdade. A criação de novas tecnologias proporciona uma re-
lação ainda maior entre as partes e cabe à sociedade se aproveitar ao máximo dos
impactos positivos e mitigar os negativos.

5.2. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

No caso estudado não houve criação ou destruição de empregos, porém esse


trabalho foi feito de maneira muito específica em um setor de contas a receber de um
banco de financiamentos. Como sugestão, novos estudos em diferentes setores da
indústria e serviços com aplicações de outros conceitos da Indústria 4.0 podem ser
feitos com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre como essas novas tecnolo-
gias impactam o ambiente de trabalho e podem gerar demissões e admissões.

Além disso, é necessário fazer um levantamento de competências e habilida-


des necessárias para o desenvolvimento da Indústria 4.0 e para atuação nesse novo
contexto. Trabalhos com esse escopo ajudariam a melhor preparação de profissionais
que tem interesse em se destacar nessa área.
54

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