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RICHARD BAXTER E A PREGAÇÃO REFORMADA 11

RICHARD BAXTER
E A PREGAÇÃO REFORMADA
Edward Donnely

P or que Richard Baxter? A teo- gar a extremos; e sempre existe o


logia dele não era completamente sã. perigo de um homem, no primeiro
O desejo de Baxter promover a uni- ímpeto de entusiasmo em favor da-
dade da igreja às vezes o traía, ao quilo que descobriu, se tornar, em
ponto de tentar estabelecer consenso seus esforços para ser completamen-
com aqueles que se encontravam dis- te reformado, uma caricatura daquilo
tantes da fé bíblica. Embora Richard que ele admira. É exatamente nisso
Baxter tenha sido um controver- que Baxter pode ajudar-nos, pois,
sialista hábil, ele confessou: “Sin- naquilo em que ele foi vigoroso,
to-me bastante inclinado a dirigir muitos são fracos em nossos dias.
palavras de controvérsia em meus Consideraremos três características da
escritos e propenso a provocar a pes- pregação de Baxter que fala à nossa
soa contra a qual eu escrevo”. Na situação contemporânea.
“época clássica da literatura evangé-
lica”, não existem outros modelos ou 1. A PREGAÇÃO DE BAXTER ERA
exemplos mais seguros de pregação? CARACTERIZADA POR INSTRUÇÃO CLA-
A resposta se encontra no valor RA E NOTÁVEL .
especial de Richard Baxter para a Ele acreditava que um pregador
nossa necessidade atual. Na providên- deve argumentar com seus ouvintes.
cia de Deus, estamos vendo um reno- “Devemos estar munidos com todo
vado interesse pela fé reformada e um tipo de evidência, de modo que che-
conseqüente aumento do número de guemos com uma torrente ao en-
homens que têm sido impulsionados tendimento de nossos ouvintes; e
a pregar as doutrinas da graça. Mas munidos com todos os argumentos e
qualquer novo progresso pode che- postulações, para que envergonhe-

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mos as suas objeções vãs e vençamos da pregação que elabora um exame


todas elas, para que eles sejam força- superficial de algumas passagens
dos a renderem-se ao poder da ver- muito usadas ou, mais habitualmen-
dade.” Ainda que Baxter estava bem te, um exame de alguns versículos das
consciente das trevas da mente não- Escrituras e da pregação que descar-
regenerada, ele sempre se preocupou ta qualquer outra coisa como algo que
em esclarecer todos os mal-entendi- não “faz parte do evangelho”. Baxter
dos possíveis e em explicar aquilo que fazia uma abordagem profunda e ar-
dizia. Os sermões de Baxter tinham gumentava com um conhecimento
uma estrutura lógica: primeiro, a “in- íntimo do texto bíblico. Ele apresen-
trodução” do texto bíblico; em tava as verdades fundamentais em
seguida, a explicação das dificulda- toda a plenitude de seu inter-relacio-
des; depois, “as aplicações” e a namento, bem como em toda a ple-
exortação. Mesmo estando em meio nitude de sua aplicação. Todavia, ele
à mais comovente argumentação, acreditava que a pregação deve alcan-
Baxter recorreria ao auxílio da razão. çar as necessidades das pessoas; que
Após implorar com grande ternura e se comete um erro quando as gran-
poder, com o propósito de “fazer des necessidades delas deixam de ser
Cristo e a salvação resplandecerem”, alcançadas; e que a “questão das ne-
Baxter terminava enumerando nove cessidades” deveria estar sempre à
falsos fundamentos da certeza de sal- frente.
vação, seguidos pelos oito testes pelos As grandes verdades fundamen-
quais seus ouvintes poderiam com- tais eram ensinadas em linguagem
provar sua própria sinceridade. Um simples, pois “não existe maneira
orador erudito consideraria um des- melhor de fazermos uma boa causa
perdício o não utilizar esse “impacto prevalecer do que por meio de torná-
emocional”, mas Baxter se propunha la bastante clara”. Visto que o pro-
em deixar que a verdade causasse seu pósito do pregador é ensinar, ele tem
próprio impacto; e ele pregava não de falar de maneira que seja entendi-
primariamente para mover os ho- do. Naqueles dias em que havia os
mens, e sim para ensiná-los. provadores de sermões, Baxter era
As verdades que ele proclamava criticado pela clareza de sua lingua-
eram fundamentais. “Durante todo o gem e teve de lutar contra o orgulho
nosso ministério, temos de insistir de seu coração, que o pressionava a
principalmente sobre as verdades pri- utilizar um estilo mais polido de lin-
mordiais, as verdades mais seguras e guagem. “Deus nos mandou ser tão
as verdades mais necessárias; e temos claros quanto pudermos, a fim de que
de ser mais escassos e esparsos nas os ignorantes sejam instruídos... mas
demais verdades. Há muitas outras o orgulho permanece ao nosso lado e
coisas que são desejáveis de conhe- contradiz tudo, produzindo suas tri-
cermos; algumas, porém, têm de ser vialidades e suas brincadeiras. Ele
conhecidas, pois, de outro modo, o nos persuade a pintar a janela, para
nosso povo ficará despreparado para que a luz se torne menos brilhante.”
sempre.” Isto é muitíssimo diferente Isto certamente nos desafia, que-

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ridos irmãos. Nós temos como alvo verdade que muitos dos vocábulos
o oferecer exposição argumentada da poderosos das Escrituras nunca po-
verdade para o nosso povo. No en- dem ser omitidos de nosso vo-
tanto, em nossa preparação, pro- cabulário. Sem dúvida, eles têm de
curamos esclarecer qualquer dificul- ser explicados e, depois, incorpora-
dade possível e fornecer argumentos dos à mente e à conversa de nossos
que convencem as mentes de nossos ouvintes. Apesar disso, fazemos cons-
ouvintes? Ou temos nos tornado ne- cientemente todo o esforço necessário
gligentes por cau- para evitar os
sa de sua apro- chavões hipnóti-
g
vação sem críti- cos e paralisa-
cas? Nos senti- ...ele procurava “levar os dores do pensa-
mos tão receosos pecadores a perceberem mento, a fim de
de ser rotulados
como “funda-
que tinham de ser, inevi- apresentarmos verdade com
a

mentalistas”, que tavelmente, convertidos uma roupagem


gastamos maior ou condenados”. nova e contem-
parte de nosso porânea? Baxter
g
tempo nos canti- nos convida a
nhos menos co- realizarmos um
nhecidos das Escrituras? É possível ministério de pregação no qual os fun-
um homem adquirir a reputação de damentos da fé são apresentados com
administrador de um restaurante para atratividade e clareza.
gourmets reformados, produzindo ra-
ridades teológicas que são obtidas em 2. A P R E G A Ç Ã O D E R I CH ARD
algum lugar — enquanto muitas das BAXTER ERA CARACTERIZADA POR UM
ovelhas famintas de seu rebanho ARDENTE APELO EVANGELÍSTICO.
olham para elas e não são alimenta- A grande realidade que moldava
das. É um erro trágico concentrar-se seu ministério era o fato de que to-
naquilo que “desejamos conhecer” e dos comparecerão diante do tribunal
negligenciar aquilo que “temos de co- de Cristo. Sua extrema fraqueza fí-
nhecer”. O nosso povo realmente sica aumentava sua consciência de que
entende as verdades centrais a respei- havia apenas um passo entre ele mes-
to das alianças de Deus, da pessoa e mo e a morte, que Baxter chamava
obra de Cristo, do pecado, da rege- de sua “vizinha”. Todos os deveres
neração, do arrependimento e da fé? tinham de ser cumpridos, todos os
Até que os fundamentos da fé dos sermões deveriam ser pregados à luz
membros de nossa igreja não estejam daquele grande Dia. “Todos os dias,
firmemente estabelecidos, faremos eu sei e penso que está se aproximan-
bem se atribuirmos menos ênfase so- do a hora” — dizia Baxter. Sua
bre a imensa estrutura doutrinária das congregação foi descrita como “um
Escrituras. Pregamos em linguagem grupo de pecadores carnais, miserá-
simples? Sem dúvida, procuramos veis e ignorantes, que tinham de ser
evitar expressões superacadêmicas. É transformados ou condenados. Pare-

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ce que posso vê-los entrando na con- como um mendigo às portas das ca-
denação final! Parece que eu os escuto sas de vocês. Portanto, se vocês pre-
clamando por socorro, pelo socorro tendem me ouvir, ouçam-me agora.
mais urgente!” E, se vocês querem demonstrar pie-
Essa consciência da eternidade dade para comigo, suplico que nesse
tornou Baxter um pregador emocio- momento tenham piedade de vocês
nal. “Se você deseja conhecer a arte mesmos. Ó senhores, creiam: a mor-
de apelar, leia Richard Baxter”, te e o julgamento, o céu e o inferno
disse Charles se tornam outra
Spurgeon. En- coisa quando
g
tretanto, a emo- nos aproxima-
tividade de Bax- A tarefa do pastor é uma mos deles, dife-
ter não era indis- só — a mesma verdade rentes daquilo
ciplinada; era que pensávamos
motivada por
comunicada ao mesmo quando deles es-
uma compreen- povo, tendo o mesmo távamos dis-
são da verdade, propósito: a glória de tantes. Quando
pois ele não ti- Deus, por meio da salva- deles se aproxi-
nha tempo para
um “fervor si-
ção ou da condenação. marem, vocês
ouvirão a men-
mulado”.“Pri- g sagem que lhes
meiramente, a estou apresen-
luz; depois, o calor” — este era seu tando, com corações mais despertos
moto: em primeiro lugar, a exposi- e atenciosos.”
ção da verdade; em seguida, as O assunto central da pregação de
pungentes palavras de apelo, resul- Baxter era um urgente convite para
tantes da verdade. No final de seu que o ouvinte recebesse a Cristo.
livro “Uma Chamada ao Não-Con- Richard Baxter pregava esperando
vertido, Para que se Converta e Viva” um veredicto; ele procurava “levar
(Nota do Editor: Leia “Convite para os pecadores a perceberem que ti-
Viver”, resumido por John Blanchard nham de ser, inevitavelmente, con-
e publicado pela Editora Fiel), Baxter vertidos ou condenados”. As palavras
apelou aos seus ouvintes com uma se- finais de Baxter em seu livro “Des-
riedade tão amável que podemos prezando a Cristo e a Salvação” são
quase ver as lágrimas em sua face. poderosas e pungentes: “Quando
“Meu coração está perturbado em Deus remover de seus corpos aquelas
pensar como deixarei vocês, para que almas descuidadas, e você, leitor, ti-
eu não os deixe como os encontrei, ver de responder, em seu próprio
até que acordem no inferno.... Hoje, nome, por todos os seus pecados;
entre vocês sou um pedinte tão ardo- então, o que você não daria por um
roso, por causa da salvação da alma Salvador? Quando você perceber que
de vocês, como se estivesse pedindo o mundo o abandonou, que seus com-
algo para satisfazer minha própria ne- panheiros de pecado iludiram a si
cessidade e estivesse obrigado a vir mesmos e a você e que todos os seus

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dias de felicidade se acabaram; en- silenciasse. “Não posso acompanhá-


tão, o que você não daria por Cristo los até suas casas, para aplicar a
e pela salvação que você agora não Palavra às necessidades diárias de
considera ser uma coisa digna de se vocês. Oh! que eu possa transformar
esforçar por ela? Você que não me- a consciência de vocês em um prega-
nospreza uma pequena enfermidade, dor, e que ela pregue para vocês
uma necessidade ou a morte natural, mesmos, pois está sempre acompa-
não, nem mesmo uma dor de dente, nhando-os! Da próxima vez que
mas lamenta como se estivesse arrui- forem deitar-se ou dirigirem-se ao
nado; como você despreza a fúria do trabalho, sem haver orado, que a
Senhor, que arderá contra aqueles que consciência de vocês grite bem alto:
condenam a sua graça? Agora posso Você não se preocupa mais com Cris-
reconhecer qual será a sua determi- to e com a salvação de sua alma? Da
nação para os dias futuros. O que você próxima vez que se apressarem para
tem a dizer? Você pretende continu- a prática de um pecado conhecido,
ar desprezando a Cristo e a salvação, que a consciência de vocês clame: A
como o tem feito até agora, e, apesar salvação e Cristo não são mais dig-
disso, ser o mesmo homem? Espero nos, para que você os despreze ou os
que não.” arrisque por causa de suas concupis-
O gume afiado estava sempre cências? Da próxima vez que vocês
presente nas mensagens de Baxter — passarem o dia do Senhor em ociosi-
uma decisão tinha de ser tomada, um dade ou esportes vãos, que a cons-
veredicto precisava ser dado, e uma ciência lhes diga o que estão fazen-
oferta de misericórdia, aceitada ou do.” Baxter tomava cada um dos
rejeitada. aspectos da vida e os arregimentava
No entanto, isso está bem longe como um pregador, de modo que os
de corresponder ao decisionismo su- pecadores ficassem cercados por um
perficial. O pregador arminiano tem ambiente em que cada parte decla-
receio do que a mente pode dizer ao rasse as reivindicações divinas.
coração, depois que terminar o cul- Quer com justiça, quer não, em
to; por isso, ele tenta compelir os muitos lugares os pregadores refor-
ouvintes a uma decisão da vontade, mados têm uma reputação de serem
antes que pensamentos posteriores restritos e impessoais em suas men-
deles os afastem de Cristo. Baxter não sagens. Isso pode ser uma reação
somente se mostrava corajoso em li- contra os excessos de nossa época,
dar com os pensamentos posteriores, contra o zelo sem discernimento, o
mas também contava com tais pensa- calor sem a luz, a sã doutrina sem o
mentos, esperando que seus ouvintes bom senso. Não tem sido esta uma
refletiriam profundamente sobre reação excessiva? Nós, que vemos
aquilo que havia sido pregado. As- Deus em todos os aspectos de nossa
sim, vemos Baxter plantando vida, poderíamos ser mais profunda-
bombas-relógios nas mentes de seus mente impressionados pela realidade
ouvintes, aplicações que continuari- das coisas eternas. Compreendendo
am a falar, depois que a voz de Baxter a miséria da depravação humana e a

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maravilha da graça soberana, deve-


ríamos nos sentir profundamente 3. A PREGAÇÃO DE BAXTER ERA
comovidos, quando essa verdade nos ACOMPANHADA POR ACONSELHAMENTO
envolvesse. A evolução de nossa PASTORAL SISTEMÁTICO.
mente atrofiou de tal modo nosso Ele não fazia qualquer divisão,
coração, que nos leva a suspeitar das como a que existe hoje, entre prega-
emoções autênticas? Hesitamos em ção e trabalho pastoral, pois ele en-
pregar com insistência o evangelho tendeu o que Paulo quis dizer, quan-
aos homens, por medo de sermos do recordou aos crentes de Éfeso,
considerados arminianos? Um prega- que lhes havia ensinado “publicamen-
dor reformado pode considerar os te e de casa em casa”. A tarefa do
cinco pontos do calvinismo como um pastor é uma só — a mesma verdade
campo minado pelo qual ele anda na comunicada ao mesmo povo, tendo
ponta dos pés; e isto pode levá-lo a o mesmo propósito: a glória de Deus,
sentir-se tão temeroso de explodir em por meio da salvação ou da condena-
meio a uma expressão mal-utilizada, ção. Talvez nisto Baxter se mostre
que ele não chega a almejar a con- mais útil aos pastores de nossos dias
versão de seus ouvintes. O poder e o — em estabelecer uma forte ligação
impacto de um sermão se perdem no entre o púlpito e o pastorado.
emprego de milhares de termos qua- Baxter esperava que conversões
lificativos utilizados na mensagem. resultassem de sua pregação. Ele
Nossa pregação será uma caricatura, aconselhou seus colegas de ministé-
se faltar um apelo sincero para que rio: “Se vocês não desejam ar-
os homens recebam o Cristo todo- dentemente ver a conversão e a
suficiente, que se oferece livremente edificação de seus ouvintes, se não
a todos os que vierem a Ele. As ver- pregam nem estudam com esta espe-
dades do calvinismo não são barreiras rança, provavelmente vocês não
que têm de ser ultrapassadas, antes obterão muito sucesso”. Baxter de-
que o evangelho seja pregado; antes, pendia completamente do Senhor para
elas são uma plataforma da qual pre- obter sucesso em sua pregação; ele
gamos com mais poder. É exatamente atacava com todo o vigor a abominá-
porque a graça é soberana e livre, que vel atitude de um pregador utilizar a
podemos proclamá-la com mais pai- soberania de Deus, em conceder ou
xão; porque a redenção adquirida por não a salvação, como uma desculpa
Cristo é completa e certa, podemos para a negligência. O pregador tem
recomendá-la com muito brilho; por- de desejar muito a conversão de seus
que Deus, de acordo com sua própria ouvintes e encher-se de tristeza se eles
vontade, escolheu alguns homens não responderem ao convite do evan-
para a salvação, podemos pregar con- gelho. “Sei que um pastor fiel pode
fiantemente. Se os pastores consolar-se, quando lhe falta suces-
reformados têm de permanecer em so... mas o pastor que não empenha-
harmonia com as Escrituras, temos se por ser bem sucedido em seu tra-
de gravar esse elemento da pregação balho não pode ter qualquer consolo,
de Baxter. porque não é um trabalhador fiel.”

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Esse desejo intenso por resulta- fosse reforçada por uma abordagem
dos levou Baxter a visitar as casas de pessoal e achegada.
seus ouvintes e fazer a obra de Em uma passagem clássica de seu
catequização pessoal. Ele procurava livro O Pastor Aprovado, Baxter dis-
descobrir quanto os seus ouvintes se: “Os seus ouvintes lhe darão opor-
haviam entendido da pregação, que tunidade de pregar contra os pecados
efeito a pregação tivera sobre eles e que eles cometem, assim como cla-
se haviam ou não recebido a oferta mar do púlpito em favor da piedade,
de misericórdia por meio do evange- se você não os confrontar depois, ou
lho. A semente que ele havia plan- em contato pessoal posterior for fa-
tado precisava de cultivo posteri- vorável ou demasiadamente amigá-
or? As ervas daninhas precisavam vel com eles... Eles consideram o púl-
ser arrancadas pito como um
daquele solo? g
palco, um lugar
Essas perguntas onde os prega-
poderiam ser “Se vocês não desejam dores têm de
respondidas so-
mente através da
ardentemente ver a con- apresentar-se e
realizar o seu pa-
conversa pesso- versão e a edificação de pel; onde você
al. A princípio, seus ouvintes, se não tem a liberdade
Baxter esqui- pregam nem estudam de falar, duran-
vou-se da obra te quase uma
— “Muitos de
com esta esperança, hora, sobre o
nós temos uma provavelmente vocês não que você escre-
vergonha tola obterão muito sucesso.” veu em seu es-
que nos faz re- boço; e o que
g
cuar em come- você pregou eles
çar a obra com não levam em
os ouvintes e conversar claramente consideração, se não lhes mostrar, por
com eles”. Mas, à medida que ele falar-lhes face a face, que você esta-
ganhou experiência, esse acon- va pregando com seriedade e re-
selhamento pastoral se tornou “a obra almente pretendia dizer o que pregou
mais confortável, exceto a pregação em sua mensagem”. A obra pastoral
pública, na qual eu já coloquei mi- de Baxter não somente reforçava o
nhas mãos a realizarem”. Devemos que ele havia pregado, mas também
ressaltar que foi a seriedade de Baxter o ajudava a pregar com mais pun-
como pregador que o tornou um pas- gência e relevância no futuro. “Con-
tor tão diligente. Sua visitação aos versar uma hora ou mais com um
lares serviu-lhe de instrumento para pecador ignorante e obstinado lhe for-
explicar e aplicar posteriormente aqui- necerá, tão bem quanto uma hora de
lo que havia dito no púlpito. Na estudo no escritório, assuntos úteis a
verdade, ele descobriu que as pesso- serem apresentados em seus sermões;
as não receberiam a sua pregação com pois você saberá sobre que assunto
a devida seriedade, a menos que ela precisa insistir e quais objeções des-

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ses pecadores você terá de repelir.” de eles ficarem irados conosco.


Baxter conheceu o seu povo — a per- Na tentativa de ressaltarmos a
sonalidade, os problemas, as ten- importância da pregação, é possível
tações, a maneira de viver deles. Ele reagirmos de maneira errônea, por
se assentava onde eles se assentavam; minimizarmos a obra pessoal. O
assim foi capacitado a pregar sermões aconselhamento pessoal não pode ser
elaborados para as necessidades par- um substituto para a Palavra prega-
ticulares deles. Para um homem ser da, mas, como um instrumento de
um verdadeiro pregador, ele tem de reforçar e aplicar a Palavra à consci-
ser um verdadeiro pastor. Temos de ência do indivíduo, o aconselhamento
reconhecer a centralidade da prega- pastoral cumpre uma função singu-
ção, mas será que não utilizamos isso lar. Além disso, serve também para
como desculpa para a covardia e a nos tornar pregadores melhores, e não
indiferença pastoral? O fato de que piores. Quando visitamos de casa em
pregamos publicamente contra os casa, a neblina de nosso estudo será
pecados dos homens nos absolve da desfeita e voltaremos a fim de prepa-
responsabilidade de confrontá-los, rar sermões de acordo com a vida e
em seus lares, a respeito dos mesmos na linguagem do povo.
pecados? Somos chamados para ser Este foi Richard Bartex de
estudantes diligentes, para trabalhar Kidderminster, um pregador que tra-
na Palavra, para estar em nosso lu- balhou muito para tornar clara a
gar secreto. No entanto, o estudo pode verdade de Deus, que falava com um
se tornar um refúgio conveniente coração ardente, enquanto apelava ao
para fugirmos da realidade, e pode- seu povo que se aproximasse de Cris-
mos facilmente por meio da leitura to; um pastor que conhecia suas
de mais um livro tranqüilizar nossa ovelhas por nome, que falava com
consciência no que diz respeito a uma elas pessoalmente a respeito das gran-
visita não realizada. Muitos de nós des preocupações de sua alma.
temos descoberto, para nossa vergo- Richard Baxter não é simplesmente
nha, que a coragem com que temos uma curiosidade histórica, um fóssil
pregado pode evaporar-se durante o para ser admirado; ele é um estímu-
trajeto até à porta da casa da pessoa lo, uma reprovação, um encora-
para a qual estamos nos dirigindo, a jamento. Em suas Meditações Sobre
fim de visitá-la. Havendo trovejado, a Morte, Baxter revela o coração do
com ousadia, contra o pecado, nos pregador: “Meu Senhor, não tenho
encontramos procurando conciliar- nada a fazer neste mundo, exceto
nos, por meio de um sorriso e de um buscar-Te e servir-Te; não tenho
aperto de mãos, com aquelas mesmas nada a fazer com o coração e suas
pessoas cujas consciências estáva- afeições, exceto amar-Te intimamen-
mos procurando ferir; “estamos pro- te; não tenho nada a fazer com os
curando ser amigos e nos alegrarmos lábios e com a caneta, exceto falar
com eles”; estamos preferindo que sobre Ti, a favor de Ti, e publicar a
Deus fique irado com eles, ao invés tua glória e a tua vontade”.
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