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Compulsão: O que é?

De acordo com o dicionário: “Imposição interna irresistível que leva o indivíduo a


realizar determinado ato ou a comportar-se de determinada maneira”. De acordo com o texto
extraído do livro “Tempos Compulsivos”, de Sandra Elder: “A palavra compulsão sugere
coerção, estar compelido a repetir incessantemente, sem possibilidade de escolha e até
mesmo contra a vontade consciente. É uma condição de aprisionamento”.

Durante a parte inicial do texto a autora nos mostra que todas as pessoas podem sofrer
com a compulsão (que a autora compara a um parasita que entra e “toma" conta do homem),
porém com o passar dos anos essa busca do homem pelo prazer passou a ser mais incisiva,
a velocidade e a aceleração que o mundo pós-moderno impõe as pessoas só deixa isso mais
visível, tanto individualmente quanto socialmente.

Não existe uma resposta concreta para onde surgem as atividades compulsivas, elas
podem ser despertadas por tudo que está ao redor do ser humano. Roer unha, estalar os de-
dos, comer, praticar exercícios físicos, dormir e até mesmo viajar e tirar fotos. A sociedade
classifica as compulsões entre positivas e negativas mesmo que todas em excesso possam
causar danos físicos ou psicológicos. As compulsões positivas seriam, por exemplo, estudar,
trabalhar e praticar exercícios físicos; já as compulsões negativas: comer, dormir, sexo, usar
celular, etc.

A sociedade cobra de todos nós que sejamos iguais e que tenhamos um padrão para
nos enquadrarmos nos parâmetros preestabelecidos e aqueles que são mais sensíveis e não
conseguem atender essas expectativas da sociedade e principalmente dos familiares, experi -
mentam uma incompreensão enorme e precisam preencher este vazio, muitas das vezes pre-
senciamos a entrada das drogas. Não existe um sujeito propenso a ter essas atividades e
nem um objeto específico mais ou menos viciante do que outro, tudo depende da relação en-
tre sujeito e objeto. Está relacionado ao que o objeto desperta e proporciona, que no início se
mostra como prazer e satisfação ao indivíduo, porém ao longo do tempo torna-o escravo e
sem escolhas.

A cultura de trabalho em excesso é bem comum em países asiáticos, especificamente


no Japão, onde 35% da população não fazem uso das férias anuais. Existem diversos motivos
que contribuem para o japonês ter vício em trabalho. Após a segunda guerra mundial, o Japão
passou por um rápido crescimento econômico, graças a dedicação dos japoneses. Então virou
costume os japoneses terem um amor pelo trabalho. Em um escritório tradicional japonês, al-
guns funcionários seguem uma regra de “etiqueta”, onde “não se pode ir embora” antes do
chefe, mesmo que o seu trabalho já tenha sido concluído. Um dos principais fatores para o ja-
ponês trabalhar demais, é o dinheiro. Alguns acabam se esforçando pelo bem da família, mas
acabam esquecendo de passar o tempo com ela. Alguns costumam adiar as férias para traba-
lhar, outros trabalham tanto que acabam morrendo literalmente por excesso de trabalho.

Um estado crônico de infelicidade

A parte do livro “Um estado crônico de infelicidade” aborda aspectos da vida de uma
pessoa que, por mais imperceptíveis que sejam, influenciam no aparecimento de compulsões
e até mesmo de problemas mais graves de saúde, evidenciando a importância do
conhecimento desses aspectos não somente para ser possível identificar problemas na
própria pessoa como também nas pessoas com quem se convive ou trabalha.

A autora diz que dentro de todas as pessoas existe um vazio que pulsa, exige de ser
ocupado por algo que muitas vezes é um objeto o qual não é suficiente para preencher esse
espaço, gerando uma satisfação incompleta. Esse problema mostrado no texto pode facilmen-
te ser percebido em rotinas estressantes as quais fazem com que algumas pessoas sintam a
necessidade de buscar uma forma de satisfação(preenchimento do vazio) em meros objetos,
como comida, cigarro, bebidas, jogos; podendo acarretar em problemas graves os quais não
são facilmente combatidos por se tratar, na verdade, de uma compulsão e não de um proble -
ma de saúde comum ou de um hábito ruim.

Outro aspecto muito bem identificado pela autora mostra como pequenas característi-
cas da vida em sociedade podem levar a medidas compulsivas. Ao citar o texto “O mal-estar
da civilização”, de Freud, ela diz o significado por trás das palavras, trazendo um raciocínio de
que, para viver em sociedade, abre-se mão a todo instante da satisfação e das reais vontades
individuais(a pulsão é suprimida).

No que tange à pulsão, o livro aborda esse elemento como um impulso que busca a
satisfação e que não possui um objeto específico. Portanto, mesmo que se procure algum ob-
jeto para se satisfazer, essa satisfação será incompleta, levando assim à repetição, gerando
uma compulsão. Fatos como esse são observados inclusive em casos de pessoas que fazem
dieta, mas que não possuem êxito pois o verdadeiro problema é a compulsão; procurou-se sa-
tisfazer a pulsão com um objeto(comida) o qual foi insuficiente, gerando a repetição.

Do ponto de vista psicanalítico, é necessário a combinação de dois polos para que se


tenha a manifestação dos sintomas, o polo interno (pulsional) e o cultural. Pulsão é um impul-
so interno involuntário que leva o indivíduo a busca da satisfação, por isso o polo pulsional
pode ser visto como um caminho inerte, uma vez que sempre guia a pessoa para a busca do
prazer. A cultura é dinâmica, ela muda a todo momento, se moldando aos hábitos e modas
pela qual a sociedade atravessa, por isso ela oferece novas maneiras para o indivíduo encon-
trar o prazer. Tendo em vista o aspecto mutável da cultura, podemos perceber que a face com
a qual os sintomas se apresentam estão relacionados com a cultura na qual ele está inserido.

Hoje temos nos deparado com “novos sintomas”, que na verdade não passam dos ve -
lhos sintomas, porém com uma nova roupagem, uma vez que a face com a qual eles se apre -
sentam se relaciona com a cultura na qual ele está submetido. Antes, a sociedade exigia das
pessoas trabalho e contenção, por isso, os sintomas se manifestavam, em geral, na forma de
convulsões, cegueiras, desmaios… já hoje as sociedades vivem em um ritmo acelerado, a ve -
locidade tem sido sinônimo de qualidade e necessidade, assim podemos entender o contexto
dos novos sintomas.

Antigamente, os sintomas eram tratados pontualmente, porém Freud passa a associar


os sintomas físicos com conflitos psíquicos pelos quais os indivíduos poderiam estar atraves -
sando; surge então a definição de recalque, que seria uma tentativa de autopreservação, atra -
vés do recalque de sentimentos ou pensamentos nocivos à consciência.

O sofrimento humano

Relacionando a sociedade com as pulsões, a autora explicita que a civilização impõe


alguns sacrifícios a essas pulsões. Para se viver em sociedade, é necessário que haja limites,
uma renúncia por parte do sujeito em relação a essas pulsões. Por isso ela afirma também
que esses limites nos tornam angustiados e insatisfeitos, o que é uma visão bem realista ten-
do em vista a sociedade contemporânea.

A autora explica que existem, de forma geral, 3 formas de sofrimento humano: A Natu -
reza, pois não a dominamos, o corpo, que declina e o relacionamento com o outro, que a fonte
social do sofrimento. A Natureza é fonte de sofrimento constante porque ela deixa marcado a
passagem do homem sobre o planeta, assim como toda a destruição, desmatamento, polui -
ção, entre outros. O corpo causa sofrimento porque mesmo com os avanços atuais da medici-
na e aumento da expectativa de vida, o corpo acaba, mais cedo ou mais tarde, envelhecendo.
Já o relacionamento com o outro causa esse sofrimento porque é constante fonte de restrição,
porque os 2 ou mais sujeitos têm suas próprias pulsões, as próprias vontades de se satisfa -
zer, de buscar o prazer, e em uma relação em sociedade cada um deve restringir essas vonta-
des. Fica claro que dentre as 3 fontes de sofrimento, a que causa mais dor é a relação com
outros indivíduos, devido exatamente a essa necessidade de frear suas próprias pulsões.
Freud traz também a noção do narcisismo das pequenas diferenças, que possui o mes-
mo significado do horror à diferença, onde só a presença de outro no mesmo ambiente, por
ser simplesmente diferente, incomoda. Um exemplo bom para esse horror à diferença seria a
briga entre torcidas, onde uma torcida odeia a outra simplesmente por estarem usando cami -
sas de times diferentes, sem considerar que todos ali são humanos e não haveria necessida -
de para esse ódio. No entanto, esse narcisismo das pequenas diferenças é algo intrínseco ao
sujeito.

O sujeito está exposto, na sua vida cotidiana, a dificuldades externas e internas. A auto-
ra volta ao ponto do relacionamento com o outro ao falar das dificuldades externas, que seri -
am o confronto inevitável com o outro, no embate inevitável com a realidade, devido as pul -
sões que devem ser freadas, principalmente. As dificuldades internas seriam justamente es -
sas pulsões, que estão sempre tentando nos impelir a satisfazer-nos, buscar o prazer. Como
cada sujeito é único e lida diferente com essas dificuldades, cada um traçará um percurso úni-
co durante toda a vida.

A luta do homem contra a dor e o sofrimento é longa, sempre se buscou um antídoto


para isso. Freud afirma que o método mais grosseiro, no entanto o mais eficaz, seria o quími -
co, e ele chama esse método de amortecedores de preocupação, que são substâncias que
aliviam a dor de ter que lutar contra essas pulsões para viver em sociedade. Um bom exemplo
para esses amortecedores de preocupação é o jogo “We Happy Few”, que se passa em Lon-
dres em um cenário pós segunda guerra mundial, onde a Alemanha teria vencido o confronto,
e as pessoas da sociedade tomam pílulas para ver o mundo maravilhoso, colorido, para es-
conder a dor da derrota e fingir que está tudo bem, para fugir da pressão da realidade e en -
contrar refúgio em um mundo próprio. A sociedade atual está cada vez mais se apegando a
esse tipo de tratamento para esquecer, mesmo que temporariamente, as dores, com ansiolíti-
cos, por exemplo. Esse tipo de atitude pode causar vícios, um estado de dependência, para o
sujeito e até danos no organismo.

Há também outras formas para tentar satisfazer as pulsões ou mesmo adiá-las. A auto-
ra afirma que as principais são a ciência, a religião e a arte. A ciência e a religião pois buscam
refúgios para tentar satisfazer suas vontades, e a arte, que a autora considera a melhor dentre
as 3 para promover efeitos sublimatórios. A arte age de forma um pouco diferente, pois ela
provém uma satisfação indireta. Essa satisfação indireta se dá devido ao artista adiar a satis -
fação imediata ao realizar uma obra, seja uma pintura ou um livro, criando algo que pode ser
posteriormente compartilhado com outras pessoas. Isso seria uma forma de lidar com a insis -
tência pulsional sem reprimi-la.
Ao longo do texto, a autora conseguiu colocar de forma simples e clara todas as questões que
cercam o tema da compulsão, não foi difícil encontrar momentos em que os exemplos do texto
e a nossa realidade se misturavam. A leitura do capítulo permitiu que o grupo pudesse enten-
der como pequenos hábitos podem estar ligados a questões muito mais complexas, e que
elas precisam ser cada vez mais assimiladas e compreendidas.
MARINHA DO BRASIL
ESCOLA NAVAL

Compulsões na sociedade contemporânea na visão da Psicanálise

2º Quarto
2009 Hatherly
2024 Chambela
2059 Marino
2093 Ruiz
2110 Ricardo Maia
2205 Ragazzi

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