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RESUMO
A importância da pesquisa sobre o tema está em apresentar os pontos relevantes sobre o
assunto, dentro de uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico. O que se pretende com
este trabalho, em sentido amplo, é apresentar o enfoque constitucional de outros ramos do Direito,
sobretudo do Direito Administrativo. E, em sentido estrito, apresentar os reflexos da constitucionaliza-
ção no contexto da democracia sobre os contratos administrativos, para observar a mudança de posi-
cionamento da doutrina e da jurisprudência, expor as principais alterações ocorridas, e identificar os
ganhos ao longo do processamento desse fenômeno. Cumpre, então, verificar a pertinência do tema
abordado e observar as mudanças ocorridas no âmbito deste assunto, considerando que, apesar de ter
trazido uma grande evolução, trouxe também dúvidas, as quais se buscará dirimir através deste estudo.
ABSTRACT
The importance of research on the topic is to present the relevant points on the subject within
a systematic interpretation of the law. The aim of this work, in its broadest sense, is to present the
constitutional approach to other areas of law, especially of Administrative Law. And, strictly speaking,
present the reflections of constitutionalization in the context of democracy on government contracts,
to observe the change of position of the doctrine and jurisprudence, exposing major alterations, and
identify the gains throughout the process of this phenomenon. Complies then verify the relevance of
the subject and observe the changes in the scope of this issue considering that despite having brought
a great evolution, also brought questions, which we will try to resolve through this study.
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1. Introdução
A constitucionalização do Direito, muito embora não seja um assunto totalmente novo,
por vezes é revisitado, buscando-se estudar tal fenômeno sob diferentes óticas. Neste traba-
lho buscar-se-á associar a constitucionalização do direito à ideia de efeito expansivo das nor-
mas constitucionais, atentando-se para os valores, os fins públicos e os comportamentos que
passam a condicionar a validade e o sentido das normas infraconstitucionais.
A constitucionalização do direito veio a gerar reflexos nas mais variadas searas do Direito,
sobretudo no âmbito do Direito Administrativo. Pode-se dizer que o Direito Constitucional e o
Direito Administrativo tem origem e objetivos comuns: o advento do liberalismo e a necessi-
dade de limitação do poder do Estado.
Tais objetivos comuns podem ser explicados ao longo da evolução da atividade estatal
perante os principais paradigmas do Estado Moderno, quais sejam, o estado liberal, o estado
social, e o estado democrático de direito. No Estado Democrático de Direito, ao qual se dá maior
atenção no presente estudo, a Administração Pública tenciona abrir espaço ao cidadão, para
que esse exerça sua cidadania, essência da democracia, por meio da informação e participação.
Nesse contexto, interessa-nos, então, acompanhar como se deu a constitucionalização
do Direito Administrativo no cenário do Estado Democrático de Direito, bem como o reflexo
concreto na figura dos contratos administrativos, importantíssimo instrumento de atividade
da Administração Pública, seja direta ou indireta.
Dessa forma, no decorrer deste trabalho, procuramos responder determinados ques-
tionamentos, sobretudo, que mudanças, limites e possibilidades podem ser vislumbrados na
análise dos contratos administrativos à luz da constitucionalização do direito administrativo
sob influência do Estado Democrático de Direito?
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Nesse contexto, a Constituição passa a não ser tão somente um sistema em si, mas um
modo de olhar e interpretar os demais ramos do direito. Sobre o assunto, conclui Luís Roberto
Barroso (BARROSO, 2008: p. 43) que:
A Constituição figura hoje no centro do sistema jurídico, de onde irradia sua força
normativa, dotada de supremacia formal e material. Funciona, assim, não ape-
nas como parâmetro de validade para a ordem infraconstitucional, mas também
como vetor de interpretação de todas as normas do sistema.
A repercussão no âmbito do Direito Administrativo diz respeito à reinterpretação de
institutos do ramo do direito administrativo sob uma ótica constitucional, a fim de somar esfor-
ços para a superação do modelo atual, no qual diversos paradigmas estão sendo repensados.
A Administração autoritária e agressiva deu lugar à fase constitutiva de direitos, onde
é, nas palavras de Mário Nigro (NIGRO, 1980: p. 22), chamada “a desempenhar uma atividade
prestadora favorável aos particulares”, moldando-se ao atual cenário do Estado Democrático
de Direito.
Vários autores, como Gustavo Binembojn (BINEMBOJN, 2008: p. 03-37), falam na ju-
ridicidade como princípio que simboliza essa reinterpretação, a envolver legalidade e legiti-
midade, como nova leitura da legalidade em sentido amplo, e acoplada com a eficiência em
alguns casos.
Para Luís Roberto Barroso (BARROSO, 2008: p. 32-33), no tocante ao Poder Executivo,
cuja função típica é administrar, a constitucionalização, em suma, limita sua discricionarie-
dade; impõe-lhe deveres de atuação; e fornece fundamento de validade para a prática de
atos de aplicação direta e imediata da Constituição, independentemente da interposição do
legislador ordinário.
Ainda segundo o referido autor (BARROSO, 2008: p. 47), três conjuntos de circunstâncias
devem ser considerados no âmbito da constitucionalização do Direito Administrativo, a saber:
a) a existência de uma vasta quantidade de normas constitucionais voltadas para
a disciplina da Administração Pública; b) a sequência de transformações sofridas
pelo Estado brasileiro nos últimos anos; c) a influência dos princípios constitucio-
nais sobre as categorias desse ramo do direito.
Ao lado da constitucionalização do direito administrativo surge, ainda, o que pode
se chamar de judicialização das relações sociais, dando-se enfoque na relação entre a
Administração e os administrados. E isso se deve, principalmente, à redescoberta da cidadania
e a conscientização das pessoas quanto aos próprios direitos, causadas pela movimentação
dos efeitos trazidos pelo contexto histórico e social pós 1988.
Na prática, questões administrativas estão sendo mais frequentemente submetidas ao
crivo do Poder Judiciário, sobretudo do Supremo Tribunal Federal, exatamente para se averi-
guar se a atuação do administrador está em conformidade com as leis e com a Constituição.
Verifica-se, aqui, o crescimento do ativismo judicial, que consiste na possibilidade de o poder
judiciário regular determinada matéria temporariamente.
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Portanto, o advento da Constituição Federal de 1988 foi um grande marco para a evo-
lução da Administração Pública no Brasil. Porém, é imperioso salientar que a mera existência
de uma Constituição, muito embora dotada de suma importância no seio de uma democracia,
não pode resolver tudo, por si só, em um Estado democrático de direito.
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que se coaduna numa importante cláusula exorbitante afeta aos contratos administrativos.
Nos dizeres do autor acima mencionado, é a variação do interesse público que autoriza a al-
teração do contrato e até mesmo sua extinção, nos casos extremos, em que sua execução se
torna inútil ou prejudicial a comunidade, ainda que sem culpa do contratado.
Vê-se, pois, a mutação natural do que se entende por interesse público.
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Por conseguinte, os limites de ordem constitucional, tais como a oportunidade, a con-
veniência e o próprio mérito do ato administrativo discricionário, demarcam o campo de atu-
ação do administrador, conforme continua o autor (BARROSO, 2003: p. 263):
O poder discricionário, portanto, encontra limites, como já referido, na finalida-
de legal da norma que o instituiu, mas também, e primordialmente, nas normas
constitucionais. No normal das circunstâncias, como no caso examinado neste
estudo, a finalidade legal do ato a ser praticado e as normas constitucionais são
limites que convivem harmoniosamente para demarcar o espaço de atuação do
administrador, mas é importante registrar que, em caso de conflito insuperável
entre esses dois elementos, a supremacia será sempre das normas constitucio-
nais, admitindo-se até mesmo que o administrador deixe de dar cumprimento à
lei em reverência à Constituição.
Assim, percebe-se que é necessário a evolução doutrinária e o desapego da fase ar-
caica do Direito Administrativo, onde prevalecia a concepção de que um Poder não poderia
invadir a esfera de competência do outro, para se dar conta que o Poder Judiciário quando
invalida o ato público, discricionário ou não, não está cometendo uma intromissão indevida,
ao contrário, está protegendo os direitos e resguardando os preceitos apostos na Constituição.
Interessante notar que o crescimento das ações judiciais sobre assuntos ocorridos entre
a administração pública e o particular é notório, e tal fato se deve à judicialização das relações,
já anteriormente comentada, tendo em vista, dentre outros motivos, a deficiência de conhe-
cimento por parte dos administradores e a própria estrutura falha da máquina administrativa.
Com fundamento nos argumentos de impossibilidade de substituição do administrador
pelo juiz, de conveniência e oportunidade do poder Executivo, de harmonia e independência
dos poderes da República, afastando a ordem do Poder Judiciário, percebe-se que a consolida-
da jurisprudência dos tribunais superiores, a exemplo do Recurso Extraordinário nº 165.977/
STF, corroborando os ensinamentos da doutrina administrativista clássica, se manteve por lon-
go período, inclusive com fortes resquícios no presente, na crença pela impossibilidade de
exame de quaisquer atos englobados na competência da administração pública.
Ocorre, porém, conforme se verá adiante, que a mudança do olhar sobre a discricio-
nariedade acarreta significações cruciais para os contratos administrativos, uma vez que estes,
em seu maior espectro, se coadunam a partir das necessidades da administração, constatadas
por meio da gestão dos administradores, sobre os quais repousa a conveniência e a oportuni-
dade outrora intocáveis.
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Por sua vez, a Lei 12.846/2013 cuida da responsabilização administrativa e civil de pes-
soas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública. O objetivo da lei foi o de
punir as pessoas jurídicas envolvidas em casos de corrupção. Antes, se uma sociedade em-
presária participasse de atos de corrupção na administração pública apenas as pessoas físicas,
tais como empregados da empresa ou agentes públicos, seriam punidas. Com a nova lei, a
própria pessoa jurídica receberá sanções civis e administrativas, podendo ser determinada a
sua dissolução compulsória.
A nova lei, já apelidada de Lei Anticorrupção ou da Probidade Empresarial, também
trata especificamente sobre os atos lesivos contra a administração praticados em licitações
e contratos, o que interessa sobremaneira a este trabalho. Por oportuno, observa-se o que
dispõe seu artigo 5o, inciso IV:
Art. 5º. Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira,
para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencio-
nadas no parágrafo único do art. 1o, que atentem contra o patrimônio público
nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou contra os
compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos:
(…)
IV - no tocante a licitações e contratos:
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente,
o caráter competitivo de procedimento licitatório público;
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento
licitatório público;
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de
vantagem de qualquer tipo;
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente;
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licita-
ção pública ou celebrar contrato administrativo;
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações
ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem auto-
rização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instru-
mentos contratuais; ou
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebra-
dos com a administração pública;
Ainda sobre a responsabilização da pessoa jurídica nos ditames da referida lei, trata-se
de uma responsabilidade objetiva, enquanto a responsabilidade de pessoa física é apurada
na forma subjetiva. É interessante notar que o intuito da lei muito se aproxima do tratamento
expendido às pessoas jurídicas quando responsabilizadas na seara do Direito Ambiental.
Além disso, a Lei 12.846/2013 traz as possíveis sanções a que estão sujeitas as pessoas
jurídicas, tanto na esfera administrativa quanto na esfera judicial. Vale ressaltar que para a
aplicação de quaisquer penalidades é necessária a prévia instauração de processo administra-
tivo, bem como de parecer da área jurídica competente.
Outrossim, ressalte-se que a Controladoria-Geral da União, no âmbito do Poder
Executivo federal, terá competência concorrente para instaurar processos administrativos de
responsabilização de pessoas jurídicas ou para avocar os processos instaurados com funda-
mento nesta lei para exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o andamento.
A lei traz a possibilidade de celebração de acordo de leniência, uma espécie de delação
premiada, nos moldes da legislação de defesa da concorrência. Por fim, segundo a redação do
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artigo 30, a aplicação das sanções ali previstas não afeta os processos de responsabilização e
aplicação de penalidades decorrentes de ato de improbidade administrativa nos termos da Lei
8.429/92; e de atos ilícitos alcançados pela Lei 8.666/93, ou outras normas de licitações e con-
tratos da administração pública, inclusive no tocante ao Regime Diferenciado de Contratações
Públicas (RDC).
No entendimento de Rodrigo Gomes Monteiro (MONTEIRO, 2013), a maior novidade
da lei foi o estímulo à prática do “compliance”. Aquele que contar com mecanismos e procedi-
mentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplica-
ção efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica terá a pena reduzida.
5. Conclusão
Depreende-se que, no contexto atual, a Constituição passa a ser um parâmetro jurídico
essencial para se olhar e interpretar os demais ramos do direito, figurando no centro do siste-
ma jurídico, de onde irradia sua força normativa. Ao lado da Lei Maior, a principal lei a tratar
sobre os contratos é a Lei nº 8.666/1993, a qual passou por diversas alterações com o fito de
acompanhar a evolução do procedimento junto à Administração e à sociedade.
Com a solidificação do pensamento que prioriza a atenção de um direito primordialmen-
te constitucional, seja em que seara se esteja atuando, a doutrina moderna entendeu por ul-
trapassada a impossibilidade de exame do mérito administrativo por parte do Poder Judiciário.
Sendo assim, repise-se, não há intromissão indevida de um Poder sobre o outro quan-
do o Poder Judiciário intervém para assegurar os princípios constitucionais, mesmo que o ato
seja grafado como discricionário e que haja a necessidade de análise de mérito, pois o regime
democrático exige tal conduta. O ideal do Estado não é o extermínio da discricionariedade,
mas a sua juridicidade, entendida como modo de realização do Direito.
Nesse sentido, seria de grande valia investir na melhoria da fase pré-contrato, de modo
a homenagear os princípios da eficiência, da economicidade, da segurança jurídica, e, ainda,
evitar a judicialização de questões administrativas no âmbito da própria administração, sem a
necessidade de levar o impasse ao Poder Judiciário.
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Ademais, é importante que os processos administrativos sejam melhor instruídos, o
que exige o preparo adequado do profissional que lida com tais procedimentos, inclusive por
meio de sua qualificação profissional contínua.
Além disso, que a normatização interna do ente ou entidade da Administração Pública
venha a auxiliar os servidores e empregados públicos, de forma clara e precisa, a adotarem
os procedimentos corretos, não consistindo em mais um entrave ao bom desempenho do
processo administrativo.
Por fim, que tudo que fora acima explanado venha a otimizar o trabalho do órgão
jurídico no acompanhamento dos processos administrativos concernentes aos contratos ad-
ministrativos firmados, com o fim maior de atingir a eficiência plena em detrimento de falhas
desnecessárias.
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