A presente dissertação considera a criação de um modelo específico de leitura, investigação,
análise e interpretação crítica como caminho de abordagem dos textos ficcionais e narrativos da obra romântica de Machado de Assis. Observa a constante dos conflitos e a possibilidade de impor como pressupostos teóricos os estudos da psicanálise crítica. Constrói inicialmente como base da investigação e análise da narrativa machadiana um corpo de considerações e fundamentos para a argumentação da interpretação e desvelamento do conteúdo psicanalítico e estético; com isso, a busca do inconsciente dos estudos de Freud e Lacan, com as teorias da investigação psicológica e psicanalítica dão o campo de compreensão das dúvidas e incertezas, das espreitas, das fantasias e dos desvios, do visível e do invisível, nas condutas cotidianas das personagens e nas expressões textuais de Machado; e, a metáfora que percorre desde os silêncios ou expressões, como luzes ou como sombras, diminuídas ou plenas, aos conteúdos singulares observáveis com o estudo da psicanálise das personagens; e, o entendimento da dialética e dialógica como meio para o esclarecimento das ambiguidades, intrigas ou confrontos através das personagens ou nos contextos sociais e históricos em que as mesmas encontram-se inseridas. O segundo momento deste trabalho teórico e investigativo cria a oportunidade de compreender, desvinculado do freudismo ou do biografismo, a presença de aspectos da vida do autor, como intertextos nas narrativas das quatro obras românticas escolhidas como foco e objeto. O momento seguinte trata romance por romance, levando-se em conta as suas especificidades e as considerações teóricas de investigação e abordagem para compreender e explicar a fruição do conteúdo psicanalítico e estético, através do tema dos conflitos. Finalmente, as conclusões que oferecem caminhos e dimensionamento das obras literárias de Machado de Assis, com os parâmetros que depreendem das argumentações conferidas na narrativa da dissertação.
A experiência com os textos do discurso narrativo da obra literária, fase romântica, de
Machado de Assis é quase indescritível. Cada romance abre um universo de questionamentos e interpretações. Cada capítulo possibilita o percurso de um caminho único e singular, e, às vezes, cada cena no seu tratado micro composicional e literário torna-se insubstituível, observadas as suas magnitudes e completudes, diante do corpo estético da obra ou do romance como um todo, sem possibilidades de reparos. A fusão escritor, narrador e personagens é perceptível e este trabalho considera como básica a ocorrência desse fato. Além do que como leitores, na recepção, temos a oportunidade de investigar com o auxílio de conteúdos teóricos e compreendê-la. Teóricos como Paul Ricoeur, Freud, Lacan e o próprio Machado, dentre outros, serviram com motivos, detalhes e respostas para toda investigação e abordagem, tratamento e interpretação crítica dos romances românticos de Machado de Assis. A temática reúne dois aspectos essenciais que frequentam, de forma intensa, os romances de Machado: conflitos e psicanálise. A leitura individual de cada obra literária da fase romântica de Machado foi delineando-nos os aspectos comuns e os específicos e particulares em cada uma delas. Essas leituras deram-nos um norte de interesse e curiosidades que finalizariam num desejo providente de busca e investigação teórica das motivações do autor criador e de explicações de repetidos questionamentos sobre as singularidades evidentes nos modos de compor e no objeto estético que frui da construção das personagens, ambientes ou tramas ficcionais. O romantismo, movimento de expressão literária, é rico de paixões, conflitos, intrigas e contradições. O Machado romântico não é diferente. Assim, os conflitos, intrigas e paixões aparecem explícitos ou ocultos nos seus romances, na sua fase realista. Mas, tudo se torna profundo, quando buscamos nas sutilezas, nas inferências, nas imagens especulares de suas construções, os conteúdos similares dos mesmos contrastes, intrigas ou conflitos nos romances românticos. O seu texto narrativo romântico exige o apuro das técnicas de abordagem, da metodologia do tratamento investigativo, das análises ou das interpretações críticas. Quatro romances românticos, onde Machado oferece um tratamento composicional psicanalítico, que abrange as condutas mentais ou sociais das personagens através dos desvios de personalidade