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O julgamento de Capitu

Capitu traiu ou não Bentinho? Baseando-se nesta discussão histórica acerca da


obra de Machado de Assis, a Academia Goiana de Letras (AGL), em parceria com
o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), realizará no dia 23 de novembro (terça-
feira), às 16 horas, o “julgamento de Capitu”. Presidida pelo presidente do TJGO,
desembargador Paulo Teles, a sessão também contará com o advogado de defesa,
o escritor e atual presidente da AGL, Hélio Moreira, e a acusação será feita pelo
imortal da mesma Academia, Eurico Barbosa.

Dom Casmurro, uma das obras mais famosas de Machado de Assis foi publicada
em 1900 e tem como narrador Bento Santiago, o Bentinho. Órfão de pai, cresceu
sob os cuidados de sua mãe, Dona Glória, que desde seu nascimento o prometera
à vida sacerdotal em cumprimento de uma promessa, onde ela jurara a Deus que
se concebesse um novo herdeiro, após o primeiro filho morrer no parto, o
entregaria ao seminário, fato que anos mais tarde ocorrera.
Porém, o sacerdócio não atraia o jovem Bentinho, já que seu desejo era se casar
com sua vizinha Capitolina, a Capitu. No seminário, Bentinho conhece aquele que
se tornou seu melhor amigo, Escobar, e, após algum tempo, ambos abandonam os
estudos clericais. Bento estuda direito em São Paulo e se casa em 1825 com o
amor de infância, e seu companheiro, com a amiga de Capitu, Sancha.
Do matrimônio de Bentinho e Capitu nasce Ezequiel e do casamento de Sancha e
Escobar, nasce uma menina chamada Capitolina, em homenagem a Capitu. Pouco
tempo depois, Escobar morre afogado, e durante seu enterro, Bentinho julga
estranha a forma como a esposa contempla o cadáver.

A partir deste episódio, os ciúmes do narrador cresce e ele passa a perceber cada
vez mais características do filho semelhantes às do amigo falecido, levando-o a
ter certeza que sua mulher o traíra e que Ezequiel, na verdade, era fruto de uma
aventura de Capitu com Escobar. Bentinho chega a planejar o assassinato da
esposa e da criança, seguido pelo seu suicídio, mas não tem coragem.

O ciúme do narrador era tão intenso, que cumulou na separação do casal. Capitu
e Ezequiel viajam para a Europa, lugar onde anos depois ela falece. Ezequiel, já
moço, volta ao Brasil para visitar o pai, que constata a veemente semelhança
com seu antigo companheiro de seminário.
O rapaz volta para a Europa, onde logo falece e Bentinho, conhecido por
Casmurro pelos vizinhos, por consequência de seu fechamento, afoga-se cada vez
mais em dúvidas e amarguras, motivo que o levou a escrever sua biografia.
Dentro desta perspectiva literária, o assessor cultural do TJGO, Gabriel Nascente,
pontua que o julgamento da Capitu é mais que uma teatralização, dando
vivacidade a um debate de muitas décadas. “Quando um romance sai das páginas
de uma ficção para virar realidade, ele se transforma vivamente na vida do
Tribunal”, enfatiza.

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