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CONTEXTO HISTÓRICO DO REALISMO

Tendo sua origem nas últimas décadas do século XIX (19), na


Europa marcada pelo romance Madame Bovary, de Gustave
Flaubert, em 1857. O Realismo foi um movimento literário, histórico
e cultural com ideias opostos ao do Romantismo, escola anterior.
No Brasil, o movimento realista teve início em 1881 com a
publicação de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, do Machado
de Assis. Esse movimento estava inserido no contexto histórico da
segunda metade do século XIX (19), em que o país passava por
grandes mudanças, um momento bem conturbado. Como:
• A guerra do Paraguai: conflito que destruiu a nação
paraguaia e enfraqueceu a monarquia brasileira causando
crises econômicas.
• O abolicionismo: um movimento que tinha surgido na Europa
e promoveu o fim da escravidão brasileira em
1888.
• Proclamação da República: O Brasil passou, então, por um
processo de deslocamento do poder econômico e político
para o Sudeste, com o surgimento da oligarquia do café e de
uma burguesia industrial e comercial.
Os principais fatos históricos que permeiam o realismo são:
• Valorização das correntes filosóficas científicas que buscavam
compreender o indivíduo;
• Acelerado processo tecnológico;
• Revoltas Liberais;
• Evolucionismo (leis biológicas);
• Comunismo;
• Determinismo (instinto, raça, hereditariedade);
• Positivismo (o primado da ciência);
• Abolição da escravidão no Brasil, em 1888;
• Proclamação da República brasileira, em 1889;
A narrativa começa quando Brás Cubas, após a morte, decide
contar a história de sua vida. Por isso, a obra não possui linearidade
cronológica, já que o narrador-defunto apresenta os fatos
alternando os episódios que acha mais relevantes, sempre com
muita ironia, doses de humor ácido e uma visão de mundo
extremamente pessimista. Sendo assim, inicia a história a partir de
seus últimos instantes de vida, com os delírios que antecedem a
morte.
Então, volta no tempo e começa a falar sobre sua infância,
revelando que nasceu numa família rica e cheia de posses; por
isso, nunca precisou trabalhar para se sustentar. Também conta
que foi uma criança levada, que não respeitava os adultos,
maltratava os empregados e os escravos e aprontava horrores,
vivendo sempre sob a proteção paternal.

Durante a adolescência, apaixonou-se por Marcela, uma cortesã,


com quem teve um romance ao longo de 15 meses, mesmo
sabendo que ela apenas amava o seu dinheiro. Diante da situação,
seu pai decidiu enviá-lo à Europa para estudar. Brás Cubas,
porém, nunca se importou com sua instrução e, de volta ao seu
país, acabou não exercendo nenhuma atividade, levando a boa vida
proporcionada pelas riquezas da família.
Após a chegada ao Brasil, começou a flertar com Eugênia, uma
moça muito romântica e bonita, filha de uma amiga de sua mãe.
Contudo, lembrou-se de um episódio da infância no qual vira a mãe
de Eugênia beijar um homem casado em uma moita, durante uma
festa na casa de seu pai. Assim, ironicamente, mesmo cortejando a
moça, passou a chamá-la de “flor-da-moita”, referindo-se à sua
paternidade nunca revelada.

Brás Cubas sabia que seu pai jamais aceitaria que ele se casasse
com uma moça pobre e filha de mãe solteira. Entretanto, continuou
o cortejo, chegando até a roubar um beijo de Eugênia. O flerte
terminou quando descobriu que a moça era “coxa” de nascença,
fugindo horrorizado com a ideia de ser ridicularizado por estar
envolvido com uma menina com um problema nas pernas.
“O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma
compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a
natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que
coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao
voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor
que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi
o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta
preta, que me adejava no cérebro. Fiquei aliviado e fui dormir. Mas o
sonho, que é uma fresta do espírito, deixou novamente entrar o bichinho, e
aí fiquei eu a noite toda a cavar o mistério, sem explicá-lo.”
Com a intenção de torná-lo ministro, o pai de Brás Cubas arranjou para
ele um casamento com Virgília, filha de um político da alta sociedade.
Entretanto, o pretendente, com sua falta de vontade, antipatia e
incompetência, deixou a moça escapar, perdendo-a para um homem
chamado Lobo Neves.
Depois de um tempo, os antigos noivos se encontraram novamente e
passaram a viver como amantes. Virgília não queria abrir mão do
prestígio social e de todos os benefícios vindos do casamento com
Neves, agora na carreira política. Por isso, o relacionamento adúltero
dos dois ocorreu durante anos, sendo interrompido apenas
quando Lobo Neves foi nomeado governador de uma província e partiu
do Rio de Janeiro com a família.
Conforme os anos foram passando, Brás Cubas envelheceu sem ter feito
nada de relevante na vida, sobrevivendo das riquezas de seu finado pai.
Ele ainda tentou mais uma vez se casar e constituir uma família. Com a
ajuda e insistência da irmã, Brás Cubas ficou noivo de Eulália, uma
moça pobre, sobrinha de seu cunhado. No entanto, antes mesmo de se
casarem, ela ficou doente e acabou falecendo.
Brás Cubas chegou ao fim de sua vida sem ter constituído uma família,
sem ter se casado, sem ter sido pai, sem ter alcançado cargo algum de
prestígio e sem ter conseguido deixar seu nome na história. No final do
livro, ele ironiza tanto sua trajetória quanto os costumes sociais,
afirmando que a vida é uma miséria, cujo legado não deve ser
perpetuado por meio de filhos.

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