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PROCESSO CIVIL

JUSTIÇA
Recursos: entenda os caminhos
do processo de uma vez por
todas
Confira um infográfico mostrando os recursos
que existem no Processo Civil e entenda o
sentido de cada um deles

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Beta

Renan Barbosa
[22/08/2017] [17:24] 5

É raro quem nunca tenha se perdido nos
meandros do processo judicial. O assunto é
difícil até para quem estudou direito. Um juiz
concede ou nega uma liminar: cabe recurso?
Para quem? Por que se apela da sentença, mas
não se a apela do acórdão? Quem é esse tal de
relator do processo? O que há de tão
excepcional nos Recursos Especial e
Extraordinário? Não passa muito tempo antes
de alguém logo dizer que a Justiça brasileira é
lenta porque há muitos recursos. 

Antes de avaliar se isso é verdade ou não, é
preciso conhecer os recursos possíveis, a razão
de cada um existir e onde é possível encontrá­
los nos caminhos do processo. Teresa Arruda
Alvim, advogada e professora de Processo Civil
na PUC­SP, colabora para ser o fio de Ariadne
nesse labirinto. Ela foi relatora da comissão que
elaborou o novo Código de Processo Civil, em
vigor desde 2015. 

O caminho de um processo
O que pode acontecer a um processo desde
a primeira instância até aos tribunais
superiores:

OS JUÍZES

Instâncias
1ª 2ª tribunais superiores

Juiz Relator presidente STJ STF


ou vice

Desembargadores Ministros

Glossário

Clique aqui para entender o que
significam os termos usados no processo
Fonte: Redação. Infografia: Gazeta do Povo.

Mais infográficos

Todo processo surge no Judiciário devido a uma
controvérsia jurídica. Alguém alega um direito
ou pede alguma coisa à Justiça, a outra parte
contesta o pleito. A regra geral é que um juiz de
primeiro grau cuide da disputa, ouvindo todas as
partes do processo, colhendo as provas e
tocando os procedimentos em direção
à sentença, que deve colocar fim à primeira
fase do processo, resolvendo o mérito da
questão. Você confere essa etapa em verde no
esquema acima. 

Mas nem só de sentença vive um processo no
primeiro grau: no meio do caminho, antes de
proferir a sentença, o juiz pode tomar outras
decisões, que são chamadas decisões
interlocutórias – por exemplo, deferir ou não
um pedido liminar. 

Agravo de instrumento 

“O agravo de instrumento é um recurso
manejado que pode ser interposto contra certas
decisões interlocutórias, independentemente do
andamento do processo. É como se ele virasse
um ‘processinho’ que corre separadamente. No
meu instrumento, eu vou juntar a decisão
interlocutória da qual estou recorrendo e a
minha irresignação – o meu recurso, o porquê
de eu querer ver a decisão reformada –, e com
isso eu formo meu instrumento, só com as
peças necessárias para o tribunal julgar o
agravo”, explica Teresa. As decisões
interlocutórias das quais se pode recorrer estão
listadas no artigo 1015 do CPC. Há algumas
outras hipóteses espalhadas pela lei. 
No esquema acima, a barrinha em verde mostra
uma decisão interlocutória do juiz da qual se
possa recorrer e, a partir daí, abre­se um ramo
do processo que pode chegar até os tribunais
superiores, se for o caso, seguindo os caminhos
de qualquer processo. “O agravo de instrumento
sobe para o tribunal e o processo continua
correndo no primeiro grau. Se o tribunal decidir
de forma contrária, isso volta e substitui a
decisão original do juiz de primeiro grau”, afirma
Teresa. Nada impede que o Supremo Tribunal
Federal (STF) precise decidir sobre uma liminar
que chegue até a corte antes mesmo que o juiz
de primeiro grau profira sua sentença. 

Nem toda decisão interlocutória pode ser
questionada por agravo de instrumento. “As
decisões interlocutórias que não são agraváveis
de instrumentos são impugnáveis na própria
apelação. Por exemplo, eu peço a produção de
uma prova e o juiz nega: eu apelo e, na minha
preliminar de apelação, eu peço a impugnação
dessa decisão”, explica Teresa. “Eu digo ‘Olha,
eu pedi a produção de uma prova e o juiz negou
e por isso eu perdi o processo’. Se o segundo
grau entender que a prova tem de ser
produzida, nem se examina o resto. O processo
volta para o primeiro grau, a prova será
produzida e o juiz vai dar uma nova sentença da
qual caberá uma nova apelação”, diz. 

Apelação 

Falando nela, a apelação é o recurso que cabe
contra a sentença. “A apelação é o recurso por
excelência. Todas as regras que dizem respeito
à apelação dizem respeito a todo o sistema
recursal. Ela não tem nenhum tipo de restrição
[no mérito], como no caso de outros recursos,
que só podem ser manejados em determinadas
circunstâncias. Na apelação a parte pode alegar
tudo”, diz Teresa. 

A apelação é colhida pelo juiz de primeiro grau,
que pede para a outra parte se manifestar
também – apresentar as contrarrazões –,
organiza tudo e manda o processo para o
segundo grau. São, via de regra, os Tribunais de
Justiça dos estados ou os Tribunais Regionais
Federais. É o relator do processo nesses
tribunais – o desembargador marcado em azul
escuro no esquema – que vai fazer o juízo de
admissibilidade do recurso, conduzi­lo no
tribunal e decidir o mérito da apelação, em
conjunto com mais dois colegas
desembargadores, marcados em azul claro no
esquema. A decisão colegiada do segundo grau
chama­se acórdão. 

A rigor, a garantia do duplo grau de jurisdição se
cumpre com o acórdão, no segundo grau.
Quando uma apelação é julgada, a controvérsia
jurídica inicial terá sido analisada pelo juiz de
primeiro grau e não por um, mas três
desembargadores. Pode ser até analisada por
ainda mais gente, caso um dos
desembargadores divirja dos colegas de turma e
o placar fique 2x1. Nesse caso, o artigo 942 do
Código de Processo Civil prevê que, de
acordo com o procedimento determinado no
regimento interno do tribunal, outros julgadores
devem ser chamados a decidir. É o
chamado incidente de ampliação da
colegialidade. Com dois novos
desembargadores convocados a decidir, o
placar da apelação, que estava 2x1, pode virar
para 3x2. 

Agravo interno 

Assim como cabe agravo de instrumento contra
certas decisões do juiz na condução do
processo no primeiro grau, cabe agravo interno
contra as decisões do desembargador relator no
curso do segundo grau ou contra decisões dos
ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e
do STF que sejam relatores dos processos
nesses tribunais. 

Nos tribunais superiores, esses recursos às
vezes são chamados de agravos regimentais
ou, simplesmente, de agravos. “O agravo
interno é o recurso que cabe contra as decisões
dos relatores. Por exemplo, se o relator de um
processo no segundo grau não admite um
recurso, dessa decisão cabe um agravo interno,
que leva a discussão para o órgão colegiado”,
explica Teresa. 

Recurso Especial e Recurso
Extraordinário 

O Recurso Especial, dirigido ao STJ, e o
Recurso Extraordinário, dirigido ao STF, têm
esses nomes porque, em tese, devem ser
excepcionais mesmo. Eles não servem para
continuar discutindo o caso depois do
julgamento da apelação, mas para evitar
eventuais ofensas à lei federal ou à
Constituição. Afinal, até os tribunais podem
errar. E se dois tribunais estão divergindo na
interpretação da lei ou da Constituição, um
deles têm que estar errado. Caberá ao STJ e ao
STF resolver o impasse. 

“Os tribunais superiores, nos recursos especiais
e extraordinários, só examinam matéria de
direito, e não matéria de fato. Os tribunais
superiores não reexaminam a matéria conforme
constantes dos autos. Eles reexaminam o
quadro fático conforme descrito na decisão e só
examinam questões jurídicas. As questões de
fato morrem no segundo grau”, resume Teresa. 

Esses recursos devem ser manejados
simultaneamente e quem faz seu juízo de
admissibilidade é o desembargador presidente
ou vice­presidente do tribunal onde a apelação
foi julgada. Você pode encontrá­lo de chapéu na
parte azul clara do esquema. Há uma série de
requisitos para que os recursos subam para os
tribunais superiores. Só para ficar em um
exemplo, desde 2004, o STF julga recursos
extraordinários apenas se houver, além de
ofensa à Constituição, repercussão geral na
matéria. 

“Uma diferença entre o cabimento do Recurso
Especial e do Recurso Extraordinário é que este
precisa ter repercussão geral. Isso é um filtro
que foi criado em 2004 basicamente para
diminuir o trabalho do STF, que tinha um
número absurdo de recursos para julgar. A
compreensão, hoje, é que o Supremo deve
julgar questões que sejam relevantes para o
país, cuja importância ultrapasse o interesse
das partes A e B”, explica Teresa. 

Se tanto o Recurso Especial quanto o Recurso
Extraordinário forem admitidos, os autos sobem
primeiro para o STJ julgar e depois, se for o
caso, para o STF se pronunciar sobre a questão
constitucional. Nesses tribunais, a tramitação
dos recursos ocorre como no segundo grau: um
ministro relator, destacado no esquema, conduz
o processo e toma decisões sozinho se
necessário. As partes podem recorrer da
decisão do ministro relator por agravo e, de
acordo com o regimento do STJ e do STF, a
decisão final caberá a uma turma, seção ou ao
plenário. No esquema, são os ministros em
conjunto – a ilustração não representa o número
exato de ministros que varia conforme o âmbito
em que a decisão for tomada. No STJ, pode ser
em uma turma, seção ou no plenário. No STF,
há as turmas e o plenário. 

Embargos de Declaração 

No esquema acima, dá para notar que cabem
embargos de declaração (“ED”) em face de toda
decisão judicial, seja do juiz de primeiro grau, do
desembargador relator, do colegiado do
segundo grau ou das decisões dos tribunais
superiores, marcados em vermelho. É isso
mesmo. “Os embargos de declaração cabem de
todo e qualquer pronunciamento judicial. Quem
julga os embargos de declaração é o próprio juiz
que proferiu a decisão que está sendo
questionada”, diz Teresa. 

O objetivo desses recursos é esclarecer
eventuais obscuridades, corrigir contradições,
suprir omissões ou corrigir algum erro material
de qualquer pronunciamento judicial. “Na
verdade, os embargos de declaração garantem
aquilo a que as partes têm direito desde o início
do processo: as partes não têm direito a
qualquer decisão, mas a uma decisão correta,
isenta de contradições”, explica Teresa. 

A ideia dos embargos de declaração não é
recorrer, dizendo que o juiz aplicou a lei de
maneira errada, mas pedir que o magistrado ou
o colegiado explique com clareza e de forma
racional o que talvez não tenha ficado assim na
primeira versão da decisão. Isso pode ser
importante, inclusive, para a parte decidir se
recorre, e com base em quais fundamentos vai
recorrer de determinada decisão. Afinal, como
recorrer de uma decisão confusa ou
contraditória?

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