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O Cachorro e o Lobo

Às vezes a natureza é mais bela do que a


própria fantasia.
Por: José Hidasi Neto

2019
Um cachorro se perdeu uma vez. Não me pergunte por onde, mas foi
uma noite estranha. Estava frio, passou por um grande matagal, até se
esbarrar em um animal. Para a sua surpresa, era um grande lobo-cinzento.

– Desculpe-me! Eu acabei me perdendo por aqui. Por favor, não me


machuque.

– Não se preocupe, jovem. Venha comigo. Faz tempo que não vejo um
de vocês. Somos tão parecidos, porém tão diferentes.

O lobo caminhou com o cachorro até onde estava sua alcateia. O


cachorro estava com medo, mas era a única esperança que tinha. Ele pensou
por um momento e disse:

– Sabe... não somos mesmo tão diferentes. Nós podemos até ser
parentes!

– Não diga besteiras. Você deve estar com muito frio. Fique mais perto
de nós para se aquecer.

– Não, é sério. Olha só. De onde eu vim, existe uma antiga tradição
canina que conta sobre nossa origem, de quando caímos e ficamos distantes
do divino. Dizem que sou de uma raça chamada Border Collie. Meus pais
também eram da mesma raça, assim como meus avós. Mas, em algum ponto
da minha ancestralidade, algum grande avô meu não era da minha raça. Esse
grande avô foi também avô de alguns primos que uma vez conheci. São os
Greyhounds. Chamamos isso na minha matilha de grande fissura.

– Você diz que é primo de vários graus de outros seres? E o que isso
tem a ver conosco?

Os outros lobos descansavam, mas prestavam atenção na interessante


história do jovem cão. Ele continuou:
– Sim, foi uma época difícil, quando ocorreram sacrifícios caninos em
prol de um grande Deus. Sacrifícios que criaram a mim, meus irmãos e meus
primos distantes. Entretanto, não acaba aí. Você verá onde vocês se encaixam
na nossa história. Alguns Border Collies e Greyhounds anciãos dizem ainda
que existia mais além dessa época, quando havia um grande avô entre nós e
outros, como aqueles que se chamam Bulldogs. Nunca conheci um, mas dizem
que são bem estranhos.

– E como quer que eu acredite no restante?

– Uma vez conheci dois cães: uma bela Cocker Spaniel e um Doberman
valentão. Esses eram cachorros bem diferentes de mim, mas possuíam uma
velha tradição que dizia que possuíam um grande avô, pai de todos os cães.
Sabe quem era esse?

– Nós?

– Exatamente. Claro que vocês não são exatamente os grandes avós,


que nos originaram, mas são aqueles que mais se parecem com o que éramos
na época em que caímos.

– Como foi essa queda?

– Foi a chegada da sabedoria aos cães. Quando tivemos o potencial de


aparecermos e gerarmos nossas raças. Foi um caminho doloroso, cheio de
sacrifícios, mas bem ou mal, foi o que nos criou. Sabe, tenho orgulho de saber
que estou perto de um primo tão parecido com nosso grande avô.

Lágrimas escorreram pela face do lobo. Ele engoliu o choro:

– Veja bem, meu primo. Eu acredito em você.

– Não peço para acreditar em mim, mas para acreditar nos cachorros.
Não inventei isso tudo sozinho, sabe?
– Entendo, pois também temos uma velha tradição aqui. Ela pode lhe
interessar bastante. Um velho lobo uma vez me contou que tínhamos um
grande avô, pai de todos os nossos pais. Esse era o grande avô dos lobos...

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