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Cinema: o início

Oficina de Comunicação Audiovisual


Prof. Rodrigo Bomfim Oliveira
Cinema: o início
Entre os inventos precursores do cinema cabe
citar as sombras chinesas, silhuetas projetadas
sobre uma parede ou tela, surgidas na China
cinco mil anos antes de Cristo e difundidas em
Java e na Índia.

Outra antecessora foi a lanterna mágica,


caixa dotada de uma fonte de luz e lentes que
enviava a uma tela imagens ampliadas,
inventada pelo alemão Athanasius Kircher no
século XVII.
Cinema: o início
¨  A busca pela imagem em movimento tomou mais forma entre a
sociedade com a industrialização e a rapidez dos transportes.

¨  A invenção da fotografia no século XIX pelos franceses


Joseph-Nicéphore Niépce e Louis-Jacques Daguerre abriu
caminho para o espetáculo do cinema, que também deve sua
existência às pesquisas do inglês Peter Mark Roget e do belga
Joseph-Antoine Plateau sobre a persistência da imagem na
retina.
Cinema: o início

A persistência da retina:

¨  O movimento contínuo do cinema acontece graças a uma


particularidade do olho humano, chamada visão persistente. Um
fenômeno descrito desde o ano 65 a.C., pelo poeta romano Lucretius e
provado 200 anos mais tarde por Ptolomeu.

¨  Na visão persistente - nossos olhos vêem um objeto iluminado por uma
luz brilhante, que é retido em nossa retina por décimos de segundo
após a luz desaparecer.
Cinema: o início

A persistência da retina:

¨  Conseqüentemente, cada imagem do fotograma, no


cinema, permanece até que outra surja, assim há
continuidade e como elas estão diferentes na posição, há a
sensação de movimento.
Cinema: o início
¨  O inventor americano, Thomas Alva Edison, desenvolveu, com
o auxílio do escocês William Kennedy Dickson, o filme de
celulóide e um aparelho para a visão individual de filmes
chamado cinetoscópio.

¨  Foram os irmãos Louis e Auguste Lumière, franceses, que


conseguiram projetar imagens ampliadas numa tela graças ao
cinematógrafo, invento equipado com um mecanismo de
arrasto para a película.
Cinema: o início
¨  O Período mudo:
¤  Quando o 1º filme foi realizado, a montagem não existia
(nem a continuidade, o trabalho de direção e a ênfase
dramática em sua relação com a montagem eram
observados)
¤  As câmeras eram posicionadas sem qualquer relação com a
composição da imagem ou com a emoção.

¤  A iluminação não obedecia nenhuma intenção dramática.

¤  Ver a “A saída dos operários das Usinas Lumiére” (1895) -


The Lumiere Brothers' - First films (1895)
Cinema: o início
¨  A história do cinema e o surgimento de uma linguagem
cinematográfica foi processual

¨  Os primeiros filmes:


¤  A câmera sempre fixa, numa mesma altura e com um
ângulo de visão da objetiva próximo ao do olhar
humano.

¤  Filmes
sem cortes, de curta duração (dois minutos).
Câmera no tripé que registrava, sem interrupções, a
cena, até o filme chegar ao final. A câmera era como
um espectador imóvel registrando os eventos que
passavam diante dela.
Cinema: o início

Características dos filmes dos primeiros tempos. A não-


continuidade narrativa: a não-homogeneidade (os filmes
são construídos por quadros, separados por grandes
elipses narrativas que as legendas mal preenchem e
abundância em “falsas continuidades”) e a não-
linearização (encavalamentos temporais de uma cena a
outra, de um plano a outro) (VANOYE, 2009)
Arrival of a Train at La Ciotat (The Lumière Brothers, 1895)
George Meliès e o cinema crativo

¨  A partir de 1896, o francês Georges Méliès começou a


utilizar o cinema de forma criativa, pintando os
fotogramas, modificando a realidade, intervindo no
tempo e no espaço, criando, desta maneira, mágicas
visuais. Méliès criou o corte e a trucagem com o
desligamento da câmera.

¤  Ver Viagem a Lua – (George Meliès, 1902) e Um homme de


Têtes
George Meliès e o cinema crativo
¨  Viagem a lua: consiste em quadros filmados de uma
ação
¨  O ritmo dependia da atuação e não da montagem

¨  Os filmes eram montados na medida em que

consistiam em mais de um plano, mas não é nada


além de que uma série de planos divertidos.
George Meliès e o cinema crativo

¨  Méliès é considerado o criador do espetáculo


cinematográfico, porque foi o primeiro a encaminhar o
novo invento no rumo da fantasia, transformando a
fotografia animada em meio de expressão artística.

¨  Méliès (1861-1938) era diretor, ator, produtor, fotógrafo


e figurinista. Na juventude desenvolveu números de mágica
e truques de ilusionismo.
George Meliès e o cinema crativo
¨  Ao assistir a uma apresentação dos Lumière, decide-se
pelo cinema, mas buscou a ficção, através de obras
literárias: em 1900 ele fez Cendrilon (a gata borralheira)
Em 1902 - Voyage dans la Lune ( Viagem à Lua), baseado
em romance de Júlio Verne.

¨  Méliès desenvolveu diversas técnicas: fusão, exposição


múltipla, uso de maquetes e truques ópticos, precursores
dos efeitos especiais.
George Meliès e o cinema crativo
¨  Méliès - a perversidade satânica nas cenas, com
m utilações físicas e metamorfoses corporais,
decapitações, com pretexto cômico, mas que
incomodavam.

¨  Depois de Méliès, o que se vê, são pequenos filmes, com


erotismo, perversão, cenas do cotidiano, mas tudo muito
solto. O cinema não tinha dito ao que veio. E não
conseguia ganhar um público mais sério e sofisticado,
segundo Arlindo Machado.
George Meliès e o cinema crativo
¨  Era preciso perder a gratuidade. O cinema então
buscou o teatro e o romance.

¨  Mas mesmo trazendo a ficção para a tela, os filmes


eram peças de teatro filmadas. Tanto eram
confusos, que precisavam de um conferencista,
alguém que explicasse as cenas.

¨  Isso só mudou com uma narrativa mais trabalhada.


CINEMA: CONSTRUÇÃO DE
UMA LINGUAGEM
O surgimento da linguagem
¨  Edwin Porter: quando a montagem passou a ter uma
finalidade narrativa.

O cinema precisava contar histórias, armar conflitos, ter


acontecimentos lineares. Em 1903, um filme revolucionou a
indústria do cinema da época, porque quebrou a linguagem
teatral que os filmes possuíam. Foi o “Grande Roubo do Trem”
de Edwin Porter, que revelou, pela primeira vez, a função e o
poder da montagem em contar uma história para o cinema.
O surgimento da linguagem

The Great Train Robbery,


Edwin S. Porter
20 planos, 6 minutos
Po r t e r d e s c o b r i u a
possibilidade de conseguir
mais dinamismo em seus
filmes através da organização
de planos.

Plano-a-plano (alternância de planos) fez a história parecer


mais dinâmica. Detalhe: Porter não enfatizou o enquadramento.

“A câmera estava posicionada mais para registrar o plano do


que com a intenção de criar um sentido para ele dentro da
narrativa” (DANCYGER, p. 5)
O surgimento da linguagem

The Life of an American Fireman,


Edwin S. Porter, 1903

12 minutos, 14 planos, narrativa mais sofisticada. Em 14 planos, o filme inclui cenas


internas do roubo e externas da fuga e perseguição. O filme termina com um close
up do vilão, apontando a arma para a câmera. Detalhe: não há contigüidade entre
os planos, mas há mudanças de locações e de tempo. Cada plano apresenta uma
cena: o roubo, a fuga, a perseguição, a captura. Nenhum plano individual registra
uma ação do início ao fim.
O surgimento da linguagem
¨  Mas foi David Wark Griffith, quem experimentou as diversas
possibilidades do cinema, ele levou para telas grandes nomes
da literatura, como Shakespeare e Dikens, e usou a montagem
em suas mais diversas possibilidades.

¨  Ele era um ex-ator de teatro e percebeu que o cinema era o


olho do espectador (mudança na maquiagem, a aproximação
da câmera, o corte diferenciado).
O surgimento da linguagem
¨  Com Griffith a câmera passou a fazer o trabalho do
observador ativo. Ela registrava a cena e ainda
acompanhava os movimentos dos atores e de todos os
objetos em cena. As cenas ficaram mais claras e
expressivas.

¨  Depois de Griffith - um Cinema mais dinâmico, menos


linear. Com o corte seqüencial, os planos foram
compostos de modo a formar uma cena que não
poderia ser vista no mundo real: alguém pulando de
um prédio, o corpo caindo, a visão que a pessoa tem
caindo, a visão que quem está embaixo tem da queda.
O surgimento da linguagem
¨  Griffith também desenvolveu a montagem paralela
- duas ações que se desenvolvem ao mesmo tempo,
alternando-se na tela, num jogo de imagens.

Griffith trabalhava uma seqüência de ações que


justificavam o drama; também criou ações que se
desenvolvem conjuntamente, denominada de
montagem paralela. Estava criada a escola clássica
do cinema.
O surgimento da linguagem

As montagens emocional e paralela têm função narrativa.


O foco dos elementos da cena passou a ser determinada
pela seqüência na montagem. Com essa técnica a lente
substitui o olho do observador, que não precisa percorrer
a tela toda em busca do que acontece, mas o que
acontece lhe é apresentado, na ordem descrita no roteiro.
O surgimento da linguagem
¨  D.W.Griffith: uma nova sintaxe. A utilização da câmera
funcional, com método de montagem de seqüência do filme a
partir dos planos e ângulos. Foi o primeiro a utilizar o close up
e os ângulos de câmera, a montagem paralela e a emocional.
“ O Nascimento de uma Nação”, 1915.

¨  A câmera passou a fazer o trabalho do observador ativo. Ela


registrava a cena e ainda acompanhava os movimentos dos
atores e de todos os objetos em cena. As cenas ficaram mais
claras e expressivas: alguém pulando de um prédio, o corpo
caindo, a visão que a pessoa tem caindo, a visão que quem
está embaixo tem da queda.
O surgimento da linguagem

Depois de Grifith, o que se vê é um cinema de


continuidade narrativa, com a homogeneização do
significante visual (cenários, iluminação) e do significado
narrativo (relações legendas/imagens, desempenho dos
atores, unidade do roteiro: história, perfil dramático) e
principalmente a linearização, constituída pelos planos,
seqüências, montagem, inserts, close up) (VANOYE, 2009).
O surgimento da linguagem

¨  Enquanto isso, na União soviética...

Na União Soviética pós revolução de 1917, as montagens se


transformam. Ganham significação. Griffith evitou a monotonia do filme
com as ações e emoções e os soviéticos criaram a montagem racional,
com seqüência lógica que desencadeava a reflexão e justificavam as
cenas seguintes. Os nomes mais expressivos são Koulechov, Dziga
Vertov, Poudovkim e Sergei Einsentein.
O surgimento da linguagem

¨  Escola russa e uso do plano como componente ideológico:


Koulechov, Dziga Vertov, Poudovkim e Sergei Einsentein, com
‘Encouraçado Potemkin’, em 1925.

¨  Escola francesa: Man Ray, René Clair, Léger

¨  Expressionismo alemão :Lang , Murnau, Wiene

(VANOYE, 2009)
¨  Efeito Kuleshov (edição
relacional)

¨  Enquadramentos que por


si só não teriam nenhum
tipo de ligação, ganham
um novo sentido, quando
justapostas durante a
edição.
Arrival of a Train at La Ciotat (The Lumière Brothers, 1895)
¨  Outubro, 1927, Sergei
Einsenstein
¨  Entr’acte, 1924,
René Clair
¨  “O Retorno à
Razão”, Man Ray,
1923
¨  Um homem com
a Câmera,
Vertov, 1929

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