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TERMINA
Gelson Saldanha Junior1
RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Arquiteto e Urbanista - Mestrando em Planejamento Urbano e Regional
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional - PROPUR
gelson.jr@hotmail.com
Porto Alegre, assim como boa parte das metrópoles brasileiras, apresenta zonas
onde outrora estavam localizadas atividades industriais. A área denominada de Quarto
Distrito é um desses casos. O objetivo desse trabalho é atrair o olhar para a formação e
estruturação do território que atende pelo nome de Quarto Distrito. A partir de uma
análise histórica, é esperado encontrar argumentos que estabeleçam uma relação entre o
território, seus limites e sua identidade dentro de um imaginário coletivo presente até os
dias atuais.
A cidade não é um objeto estático. Tal qual um organismo vivo, ela está em
contínua modificação, seja em sua estrutura interna ou nas suas relações com as demais.
Como obra arquitetônica, a cidade é uma construção no espaço. Como espaço social, ela
é um cenário para a vida cotidiana da sociedade. Como diria Paulo Mendes da Rocha, a
cidade “é o ponto de encontro” das pessoas.
Em seu livro “A Imagem da Cidade”, Kevin Lynch defende que “devemos levar
em consideração não apenas a cidade como uma coisa em si, mas a cidade como a
percebem seus habitantes” (LYNCH, 2010, p. 03). A percepção do território, e de seus
limites, segundo o autor é resultado da soma de uma série de critérios de percepção que
agregam identidade, semelhança e limites a uma determinada área. Dessa forma, a
Figura 1 – Delimitação IV Distrito, conforme Nygaard. (Fonte: TITTON, pg. 208) Nota: Desenho sobre mapa PMPA.
Figura 2 – Delimitação IV Distrito, conforme Fortes. (Fonte: TITTON, pg. 208) Nota: Desenho sobre mapa PMPA.
Figura 3 – Delimitação IV Distrito, conforme PMPA. (Fonte: TITTON, pg. 208) Nota: Desenho sobre mapa PMPA.
Porto Alegre teve seu crescimento estagnado durante vários anos, especialmente
devido à Revolução Farroupilha (1835-1845). Além disso, desde 1820 o pólo de atração
no estado havia se deslocado para as cidades de Pelotas e Rio Grande, em função da
Outro ponto que também pode ser apontado como um elemento fundador do
bairro Navegantes foi o loteamento da gleba que deu origem aos bairros São Geraldo,
parte do São João e parte do próprio Navegantes. Esses loteamentos, realizados entre
1894 e a virada do século, configuraram boa parte do tecido atualmente compreendido
por Quarto Distrito.
Após essa delimitação inicial, são realizadas diversas outras em 1927, 1957,
1959 e nos dias atuais. Em virtude das fortes alterações morfológicas da área (aterros,
construção da ponte e rodovias) é muito difícil estabelecer um limite fixo e único para o
Quarto Distrito. Cada época, com suas características peculiares, possui uma
compreensão de extensão e abrangência distinta. O que se pode afirmar, tal qual faz
MATTAR, é que a noção de Quarto Distrito está vinculada à área do bairro Navegantes,
Avenida Presidente Roosevelt, Rua Voluntários da Pátria e adjacências.
A ocorrência das inundações no bairro Navegantes não era novidade, antes pelo
contrário, a periodicidade as tornava quase que rotineiras, sendo que em 1924, 1926,
1928 e 1936, elas já tinham atingido grandes proporções, mas a de 1941 superou todas
elas: “tapou quase a casa, foi aonde nós paramos no sótão da [...] Dona Elza.”
(FORTES, 2004, p. 100).
Como defende FORTES (2004, p. 109), “essa solidariedade mútua local era o
primeiro elo de uma cadeia que viria a situar os moradores do Quarto Distrito, enquanto
vítimas da enchente, com destaque no processo de fortalecimento da ideia de
comunidade.”
Em síntese, o que esse trabalho permite concluir é que o Quarto Distrito foi uma
área localizada junto ao Lago Guaíba, próximo ao Centro Histórico, onde se
desenvolveram boa parte das atividades industriais de Porto Alegre. Nessa área,
ocupada em boa parte por imigrantes, houve a constituição de uma comunidade baseada
tanto nas similaridades da cultura quanto na necessidade de enfrentamento das
constantes calamidades climáticas (enchentes), onde dizer “nós do Quarto Distrito” se
tornou uma forma de identificação da população local.
A partir desse ponto de vista, pode-se dizer que, o Quarto Distrito tal qual um
território, não existe mais. Os aterros e a construção do conjunto Ponte do Guaíba /
Avenida Castelo Branco afastaram o bairro do contato com o Lago Guaíba. As
atividades industriais foram abandonadas. O Quarto Distrito existe agora, apenas na
memória coletiva dos cidadãos porto-alegrenses. Ele não é um bairro específico e nem
uma área específica atualmente. No passado, ele foi. O que presenciamos é a
identificação de uma paisagem característica que por um período de tempo constituiu
uma referência na identidade da população daquela época. É essa referência que é
REFERÊNCIAS
CASTELLO, Lineu (org.). Análise Ambiental dos Navegantes. Porto Alegre, 1988.
Relatório de Pesquisa, PROPUR/UFRGS – Projeto MAB II/UNESCO.
LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. 2ª Edição. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2010.