Estado e sociedade são duas dimensões que coexistem numa mesma realidade, sendo tais conceitos sempre foram objetos de divergência entre os estudiosos do tema. Devido à natureza intrincada dos dois sistemas, visto que interagem continuamente entre si, é sempre dificultoso tentar demarcar os espaços ocupados por cada um. O Estado é uma complexa estrutura burocrática de cargos e órgãos dispostos hierarquicamente, organizados política, social e juridicamente, sob a direção de um governo, que utiliza o monopólio da violência legítima (força coativa) para promover a organização e o controle social. Já a sociedade é a arena dos conflitos econômicos, ideológicos, sociais e religiosos provindos das relações entre indivíduos, entre grupos, entre classes sociais que atuam à margem do poder estatal. Apesar de deter o poder legítimo de coagir e de determinar a vida de seus cidadãos, dispondo de todo o aparato necessário à efetivação dessa intenção, o Estado, ainda assim, não é mais extenso que sua sociedade. Esta, por sua condição colossal, ocupa mais espaços, possui mais material humano, maior verticalidade nas relações, mais margem de manobra, mais ideias e, portanto, apesar de não parecer, mais força para se fazer prevalecer. Em última análise, pode-se afirmar que a sociedade, uma vez surgida, sempre existirá. Já o Estado, este pode ser trocado por um novo quando a sociedade assim resolver. Evocando a conhecida distinção de Max Weber entre poder de fato e poder legítimo, pode-se também dizer que a sociedade é o espaço das relações do poder de fato e o Estado é o espaço das relações do poder legítimo.
D2) O que é Sociedade civil? Quais são as suas principais organizações?
Em sua acepção original, corrente na doutrina política tradicional e, em particular, na doutrina jusnaturalista, Sociedade civil (societas civilis) contrapõe-se a "sociedade natural" (societas naturalis), sendo sinônimo de "sociedade política" (em correspondência, respectivamente, com a derivação de "civitas" e de "pólis") e, portanto, de "Estado" (BOBBIO, 1998, p. 1206). Em uma definição contemporânea, a Sociedade civil é o conjunto organizações e instituições cívicas que servem como mecanismos de articulação da sociedade, por oposição às estruturas apoiadas pela força do Estado. São exemplos de organizações da Sociedade civil: sindicatos, agremiações estudantis, associações profissionais, instituições religiosas, instituições econômicas, movimentos sociais, ONG’s, etc.
D3) Na democracia, qual a relação entre Sociedade civil e Estado?
A Democracia é uma forma de governo historicamente caracterizada por estender a capacidade de ‘’tomada de decisão’’ à sociedade em geral. Os cidadãos a exercem tanto ao elegerem – direta ou indiretamente – seus representantes, como quando participam da discussão, elaboração e criação de leis e execução das políticas públicas (sociais, econômicas e culturais) vertidas do conjunto eleito (Estado). Um autêntico sistema democrático compreende os meios formais e materiais à prática da autodeterminação dos povos. Estado e sociedade surgiram no mesmo momento histórico e pela mesma necessidade, mas desempenham papéis diferentes e que se complementam. O Estado pode ser entendido como a sociedade ''politicamente organizada''. Já a sociedade é aquela para qual se destinam as ações realizadas pelo Estado. Este sempre será composto de indivíduos procedentes daquela. A razão última da existência do Estado é a sociedade sobre a qual recairá sua regulamentação e atuação. A razão da existência da sociedade não é o Estado, pois este é apenas um meio que a permite se manter integrada e ordenada, a fim de atingir seus propósitos. A democracia permite que surja uma ''sociedade civil'', diferente de ''sociedade''. Esta compreende a esfera privada de cada cidadão, enquanto aquela envolve os cidadãos atuando coletivamente em uma esfera pública. Com efeito, obtém-se um organismo localizado entre a vida íntima e o Estado, surgido voluntariamente, autogerido, autônomo e autorregulado. A ''função institucional'' desse organismo é a de buscar junto ao Estado concessões, benefícios, mudanças nas políticas, assistência, compensações ou compromissos, atuando por meio de uma cadeia de organizações representantes dos diversos segmentos da vida social, e colocando os fins públicos antes dos privados. Numa vivência democrática, o relacionamento entre sociedade civil e Estado é, portanto, de dependência. Porém, os dois não se equivalem, visto que Ele existe apenas em função dela. Em contraposição, a sociedade civil tem outros planos que não se encerram no Estado. Ambos se submetem um ao outro, mas a sociedade civil possui considerável ascendência sobre o Estado. D4) Quais são, para você, os principais modelos da relação entre Estado e sociedade ao longo da história? Podemos citar como os principais modelos de Sociedade civil e Estado os seguintes: a) Modelo jusnaturalista: Sociedade civil como sinônimo de sociedade política (Estado) nasce por contraste com um estado primitivo da humanidade em que o homem vivia sem outras leis senão as naturais; b) Modelo rousseauniano: Sociedade civil é a sociedade civilizada, mas não necessariamente ainda a sociedade política, que surgirá do contrato social e será uma recuperação do estado de natureza e uma superação da sociedade civil; c) Modelo hegeliano: Sociedade civil se localiza entre a sociedade natural (família) e a sociedade política (Estado), entre a forma primitiva e a forma definitiva do espírito objetivo. d) Modelo marxista: Sociedade civil com ''sociedade burguesa'', o espaço onde têm lugar as relações econômicas, ou seja, as relações que caracterizam a estrutura de cada sociedade, ou "a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política". e) Modelo gramsciano: Sociedade civil compreende todo o complexo de relações ideológico-culturais. É momento da hegemonia, que se distingue do momento do puro domínio como momento da direção espiritual e cultural que acompanha e integra de fato nas classes efetivamente dominantes, e que deve acompanhar e integrar nas classes que tendem ao domínio, o momento da pura força. D5) O Estado é a expressão do interesse geral? Explique. Segundo já mencionado, o modelo marxista compreende a Sociedade civil como ''sociedade burguesa''. Na origem de seu surgimento estão os conflitos entre os proprietários e os não proprietários. Aqueles, para proteger e desenvolver suas propriedades, abdicando de parte de seus direitos naturais, criam o Estado como poder separado da sociedade, portador do direito e das leis, e legitimado para o uso da violência, com vistas à manutenção da ordem econômica. Entretanto, o Estado se apresenta à coletividade como um ente impessoal, capacitado a exercer seu poder sobre qualquer membro dela pertencente. Estabelece sua relação com a comunidade de maneira tal que sua atividade pareça correta, legítima e válida a todos. Na acepção marxista, o Estado não expressa o interesse geral, ele é apenas “o comitê executivo da burguesia”, um órgão incumbido de preservar a propriedade privada e a sociedade de classes, ou seja, o poder de dominância dos burgueses.