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Relatório
ORIENTADORA:
BOLSISTA:
Niterói
2016
Sumário
1- FICHA DE IDENTIFICAÇÃO........................................................ 1
2- PROBLEMÁTICA DA PESQUISA.................................................1
5- EXIGÊNCIAS ESPECIAIS.............................................................7
6- REFERÊNCIAS...........................................................................16
ANEXOS
1
1. Ficha de Identificação
Nível: Doutorado
oratores em mostrar aos fiéis às ações em vida que trazem consequências benéficas ou
não às almas.
Portanto, a Visão de Túndalo, fonte central de estudo deste projeto, nos mostra o
imaginário da sociedade medieval sobre os espaços do Além onde são apresentados os
lugares destinados às almas e os caminhos que têm que percorrer na busca pela
salvação. Utilizamos duas versões portuguesas dessa fonte provenientes do Mosteiro de
Alcobaça, (hoje em grande parte guardadas na Torre do Tombo e na Biblioteca
Nacional). As versões são a do códice 244, traduzido por Frei Zacarias de Payopelle,
depositada na Biblioteca Nacional de Lisboa e a outra contida no códice 266, traduzido
por Frei Hilário de Lourinha, localizado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Ambos os tradutores são monges do mosteiro cisterciense do Real Mosteiro de
Alcobaça. Existem também duas versões que foram publicadas pela Revista Lusitana
pelos editores F.H Esteves Pereira (1895) (cód. 244) e Patrícia Villaverde Gonçalves
(1982-1983) (cód. 266), estas que utilizamos nesse trabalho.
A obra trata do cavaleiro Túndalo, personagem principal, nobre de boa linhagem
que vivia nas vaidades do mundo e não cuidava da sua alma, portanto tinha as
qualidades de um pecador, conforme o discurso cristão. Fica como se estivesse morto
por um espaço de três dias, enquanto seu espírito é conduzido por um ente celestial para
conhecer e vivenciar os tormentos do Inferno, Purgatório e as alegrias do Paraíso. (VT,
1895). Ao passar por essas experiências no Além o cavaleiro volta ao seu corpo
regenerado e torna-se um modelo de bom cristão, de acordo com os preceitos da Igreja.
Como Túndalo era pecador, o Inferno é o primeiro espaço que ele vai percorrer na
companhia do ente celestial que lhe mostrará os elementos que compõem esse mundo
das trevas destinadas às almas pecadoras. Na obra esse espaço é constituído de vários
lugares sugeridos pelos números de castigos infligidos às almas. Cada espaço se destina
a uma categoria de punição que está relacionado com os tipos de pecados cometidos
pelas almas (ladrões, fornicadores, assassinos, luxuriosos e outros), classificando assim,
as penas do Inferno segundo as categorias de pecados e pecadores, evidenciando as
divisões desse lugar em hierarquias.
Para além das informações dos cenários infernais, o manuscrito não deixa de
mencionar as ações dos diabos sobre as almas pecadoras. Esses seres aparecem dotados
de vários tipos de instrumentos (martelos, grelhas de ferro, foles, cutelos, gadanhos e
outros) com os quais aplicam as punições às almas que morreram em pecado. (VT,
1895). A identificação no manuscrito desses objetos que visam castigar e torturar as
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almas pecadoras são instrumentos palpáveis do mundo terreno que são transferidos para
o mundo transcendental. Observamos que fazem parte do cotidiano medieval e ao serem
transpostos para o Além ganham uma utilidade diferente nas mãos dos seres malignos.
O uso desses elementos faz parte da cultura material dos medievos e sua apropriação
nos relatos de viagens imaginária visa aproximar o mundo dos mortos do mundo
terreno, de forma a suscitar um desejo dos fiéis na sua salvação.
Quanto ao espaço do Purgatório na Visão de Túndalo, não se pode visualizar
claramente esse lugar, pois se confunde com as descrições do Inferno causando
confusões quanto as suas delimitações por não precisar as suas delimitações espaciais.
Se os discursos sobre os cenários do Inferno e Purgatório visavam causar nos
ouvintes um exame de consciência para evitar os atos pecaminosos, o cenário do Paraíso
é construído no sentido de despertar o desejo pela salvação. E assim a Visão de Túndalo
nos mostra a ambientação do caminho que eleva as almas aos deleites eternos,
apresentando a descrição do lugar das almas consideradas justas por levaram uma vida
terrena baseada nos dogmas da Igreja e nos ensinamentos de Deus: o Paraíso celestial.
O espaço paradisíaco é composto por elementos que transmitem claridade, luz e
odores, representados pelos campos verdes, as flores que exalam cheiros agradáveis,
sons e cantos de louvores ao Senhor, mostrando os contrastes com os lugares reservados
as punições e glórias do mundo dos mortos. Nesse lugar as almas justas sentem a
tranquilidade de desfrutarem dos bens e das glórias proporcionados pelos elementos que
constituem a divisão do Paraíso em três muros: Muro de Prata, de Ouro e de Pedra
Preciosas que se destinavam a alocação de cada alma eleita conforme o seu grau de
pureza e as obras de caridade que realizaram para merecer as glórias celestes.
O Paraíso na Visão de Túndalo compõe-se, também, de vários objetos sagrados
entre os quais se destacam: coroas e livros com escritas de ouro, instrumentos musicais
(violas, alaúde, cítaras e outros), tendas e pedras preciosas que cumprem uma função
pedagógica de grande alcance para a orientação de comportamento que permitem a
ascensão das almas a um bom lugar no Além.
Assim, os elementos que constituem a paisagem dos três espaços do Além não são
tão diferentes das características que vemos nesse mundo, portanto não eram estranhos
ao cotidiano dos medievos. Compreendemos, então, que essas descrições do Inferno,
Purgatório e Paraíso faziam parte de uma lógica pedagógica em que os teólogos
tentavam mostrar a realidade desse Além por meio da ambientação desses espaços em
conformidade com o mundo real, dando sentido a essa construção.
4
1
Alguns periódicos lidos e selecionados estão arrolados na referência bibliográfica.
6
Medieval, pois naquele lugar se encontram as almas pecadoras que sofrem inúmeros
castigos em conformidade com suas faltas no plano terreno.
Para a realização das atividades dessa pesquisa, o auxílio da bolsa da CAPES
tem dado condições para o desenvolvimento desse estudo que vem alcançando
resultados satisfatórios pelas exposições, como já mencionamos, em eventos científicos
e produções textuais. Para o próximo semestre, daremos prosseguimento ao cronograma
proposto, e com isso, pretendemos avançar e consolidar a pesquisa. Outras atividades
previstas são a continuação de estudos bibliográficos e confecção da escrita dos
capítulos para a qualificação, produções de textos para publicação e apresentação dos
resultados da pesquisa em eventos científicos.
5. Exigências especiais.
2
LE GOFF, Jacques. O imaginário Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.
3
SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade média. São
Paulo: Edusc, 2007, p.351.
4
LE GOFF, Jacques. O imaginário Medieval. Ibid., p.132-133.
10
5
SCHMITT, Jean-Claude. Os Vivos e os Mortos na Sociedade Medieval São Paulo: Companhia da
Letras, 1999.
6
ZUMTHOR, Paul. La medida del mundo: representación del espacio en la Edad Media. Madri:
Ediciones Cátedra, 1994.
7
DINZELBACHER, Peter. La littérature des Révélation au Moyen âge. In: Um document historique.
Revue Historique, T. 275, Fasc. 2 (558), Published by: Presses Universitaires de France, p.294.
Disponível em: http://www.jstor.org/stable/40954369. Acesso: 09/07/2016.
8
ROMANO, Ruggiero (dir.). Religião-Rito. Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da
Moeda, 1994, p. 275.
11
estados dos personagens, isto é, caracteriza-se como um sonho se dorme, uma aparição
se estão acordados, visão se a alma se separa do corpo para visitar algum lugar no outro
mundo. Diante desse critério de classificação Aubrun não deixa de salientar que aquelas
características dos personagens apresentados nessas narrativas nem sempre são
claramente definidas sendo mais importante pensar no que eles acreditavam ver ou ter
visto e como isso operava na consciência dos medievos. 9
Por sua vez, Jean Claude Schmitt10 utiliza um exemplo de fonte visionária para
explicar as modalidades e ambiguidades do termo visio que se opõem as diversas
maneiras de “ver” no campo antropológico da visão:
O emprego do termo Visão nas narrativas sobre o Além também foi objeto de
discussão de Matias Cavagna. Conforme esse autor, devemos distinguir ao menos de
três categorias: as visões místicas, os sonhos e as visões extáticas. Aponta que nas duas
primeiras a visão é um ato puramente pacífico e contemplativo, no último ele implica
um processo bastante concreto e dinâmico: a do êxtase, quer dizer, da separação da alma
do corpo.12 Mencionamos as contribuições de Pierre Adnés13 que pontua que falar de
visões é falar de um fato universal que se encontra em todas as culturas e em todas as
religiões. Para esse autor a visão na linguagem religiosa expressa a manifestação
sensível ou mental da realidade invisível e inacessível ao homem nas circunstâncias
dadas. Todas as discussões levantadas por esses autores sobre as visões nos fornecem
subsídios para esclarecer o que se entende por esta nos textos medievais e
9
Aubrun Michel. Caractères et portée religieuse et sociale des "Visiones" en Occident du VIe au XIe
siècle. In: Cahiers de civilisation médiévale. 23e année (n°90), Avril-juin 1980.p.109-130. Disponível em:
http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/ccmed_0007-9731_1980_num_23_90_2137.
Acesso em: 28/09/2016.
10
SCHMITT, Jean-Claude. SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual
na Idade média. São Paulo: Edusc, 2007.
11
Idem, p.333.
12
CAVAGNA, Matias. Les Visions de lau-déla et l’image de la mort, La mort écrite. In: Rites et
rhétoriques du trépas au Moyen Âge, éd. Estelle Doudet, Paris, Presses universitaires de Paris-Sorbonne
(Cultures et civilisations médiévales, 30), 2005, p. 51-70.
13
Adnés, Pierre. “Visions”. Dictionnaire de Spiritualité. Vol. 16. Paris: Beauchesne, 1995. Colonnes, p.
949-1002. Disponível em: http://www.dictionnairedespiritualite.com/. Acesso em: 10/12/2016.
12
14
BASCHET, Jérôme. A lógica da salvação. In: A civilização feudal: Do ano mil à colonização da
América. Tradução Marcelo rede; prefácio Jacques Le Goff. São Paulo: Globo, 2006, p. 374-408.
15
Baschet, Jérôme. « Les justices de l'au-delà. Les représentations de l'enfer en France et en Italie (XIIe-
xve siècles) »», Les Cahiers du Centre de Recherches Historiques [En ligne], 5 | 1990, mis en ligne le 20
mars 2009. Disponível em: http://ccrh.revues.org/2886. Acesso em: 11/07/2015.
16
LE GOFF, Jacques. “Além”. In: Dicionário Temático do Ocidente Medieval. São Paulo:
EDUSC/Imprensa Oficial do Estado, vol. I, 2002, p.28-29.
17
LE GOFF, Jacques. O nascimento do Purgatório. Editorial Estampa, 1995.
13
18
VOVELLE, Michel. As almas do Purgatório ou o trabalho de luto. São Paulo: Editora Unesp, 2010.
19
DELUMEAU, Jean. O que sobrou do Paraíso? São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
20
MATTOSO, José. Poderes invisíveis: O imaginário Medieval. Editora Temas e Debates – Círculo de
Leitores, 2013.
21
Lucas, M.C. de Almeida. A Literatura visionária na Idade Média Portuguesa. Biblioteca Breve, n° 105,
ICLP, Lisboa, 1986.
22
MATTOSO, José; SOUSA de, Armindo. História de Portugal: a monarquia feudal (1096-1480). V.II,
Editorial Estampa, 1997.
14
23
OLIVEIRA MARQUES. A.H. A sociedade Medieval Portuguesa: Aspectos da vida quotidiana.
Livraria Sá de Sousa, Editora: Lisboa, 1971.
24
OLIVEIRA MARQUES. A.H. Portugal na crise dos séculos XIV e XV. Vol. IV. Editorial Presença,
Lisboa, 1996.
25
GOMES, Saul António. As politicas culturais de tradução na corte portuguesa do século XV. In: Cahier
d’études hispaniques médiévales. N°33, 2010, p. 173-181. Disponível em:
http://www.persee.fr/doc/cehm_1779-4684_2010_num_33_1_2239. Acesso em: 02/06/2016.
26
SARAIVA, António José. O crepúsculo da Idade Média em Portugal. Gradiva – Publicações Lda. , 3.ª
edição, 1993.
15
27
AZEVEDO, Carlos Moreira (dir.). História Religiosa de Portugal: Formação e Limites da Cristandade.
Vol. 1. Coord. De Ana Maria Jorge e Ana Maria Rodrigues. Lisboa: Circulo de Leitores, 2000;
AZEVEDO, Carlos Moreira (dir.). . História Religiosa de Portugal: História Religiosa de Portugal:
Humanismo e Reformas, vol. 2. Coord. De Ana Maria Jorge e Ana Maria Rodrigues. Lisboa: Circulo de
Leitores, 2000.
28
SARAIVA, António José. O crepúsculo da Idade Média em Portugal. Gradiva – Publicações Lda, 3.ª
edição, 1993, p. 86.
29
OLIVEIRA MARQUES. A.H. Breve História de Portugal. Editorial Presença: Lisboa, 2009, p. 106.
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FONTES PRIMÁRIAS
Visão de Túndalo (VT). Ed. de F.H. Esteves Pereira. Revista Lusitana, 3, 1895, p.97-
120. (Códice 244).
ESTUDOS
ANEXOS