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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE

MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

DOPPLERFLUXOMETRIA RENAL EM MACACO-PREGO (Sapajus apella) DE


CATIVEIRO.

LUCIANA CARANDINA DA SILVA

Botucatu – SP

Julho/ 2013
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE

MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

DOPPLERFLUXOMETRIA RENAL EM MACACO-PREGO (Sapajus apella) DE


CATIVEIRO.

LUCIANA CARANDINA DA SILVA

Dissertação apresentada junto ao


Programa de Pós-Graduação em
Medicina Veterinária para obtenção
do título de Mestre.

Orientadora: Prof a Dra Vânia Maria


de Vasconcelos Machado.
ii

Nome do Autor: Luciana Carandina da Silva

Título: Dopplerfluxometria renal em macaco prego (Sapajus apella) de cativeiro.

COMISSÃO EXAMINADORA

ProfªDrª Vânia Maria de Vasconcelos Machado

Presidente e Orientadora

Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária

FMVZ – UNESP - Botucatu

Prof. Dr. Carlos Roberto Teixeira

Membro

Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária.

FMVZ – UNESP - Botucatu

Prof.Dr. Milton Kolber

Membro

Departamento de Radiologia Veterinária

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – São Bernardo do Campo.

Data da Defesa: 18 de julho de 2013.


iii

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

St. Exupery
iv

A Deus, pela vida e pela certeza de Sua constante presença ao meu lado.

A Nossa Senhora de Fátima, pela proteção a cada passo.

Aos meus pais Alexandre e Rení, pelo apoio e incentivo de cada dia, por serem meu
porto seguro e exemplo de caráter, amor e família.

À minha irmã Juliana, a melhor amiga que alguém pode sonhar em ter.
v

AGRADECIMENTOS

A professora Vânia, pela confiança, pela oportunidade de crescimento e amizade


diária.

Ao professor Luiz Vulcano pelo apoio.

Ao professor Carlos Teixeira por nos possibilitar a realização deste projeto.

A Roberta, Sharlenne e Ramiro pela ajuda neste trabalho e pela disponibilidade.

Aos amigos, pela paciência e compreensão da distância.

A Ivana (Xevs) pela sincera amizade nestes anos de Botucatu, e por ter me
acolhido tão bem quando cheguei. Meu presentinho 2011. Sem você as coisas seriam
bem mais difíceis.

A Adriana pelas correções de inglês.

A Luciana pelas correções das referências bibliográficas.

A CAPES pelo auxílio à pesquisa através da bolsa de mestrado.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho.


vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Atual classificação da família Cebidae................................................... 6

Tabela 2- Valores de referência de bioquímicos para Sapajus apella ................. 13

Tabela 3- Valores de referência de bioquímicos para Sapajus apella, de acordo


com diferentes autores. ........................................................................................ 14

Tabela 4- Resultados dos exames laboratoriais dos Sapajus apella ................... 31

Tabela 5- Média e desvio padrão dos exames laboratoriais dos Sapajus apella. 32

Tabela 6- Média e desvio padrão do IR das artérias arqueadas (arq) e renais ... 37

Tabela 7- Média e desvio padrão do IR das artérias interlobares (IL). ................ 38

Tabela 8- Média e desvio padrão da VPS das artérias arqueadas (ARQ) e renal.
............................................................................................................................. 40

Tabela 9- Média e desvio padrão da VPS das artérias interlobares (IL). ............. 40
vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Representação esquemática da antiga classificação taxonômica da


família Cebidae ...................................................................................................... 5

Figura 2- Representação esquemática da atual classificação taxonômica da


família Cebidae ...................................................................................................... 6

Figura 3- Diferenças anatômicas entre Cebus e Sapajus, onde A representa


Cebus e B representa Sapajus............................................................................... 7

Figura 4- Diferenças anatômicas entre Cebus e Sapajus, onde A representa


Cebus e B representa Sapajus............................................................................... 8

Figura 5- Ramificação da artéria renal de Sapajus apela em ramo dorsal e


ventral, antes de entrar no rim.............................................................................. 11

Figura 6- Desenho esquemático da arquitetura vascular renal ........................... 12

Figura 7- Mensuração IR da artéria renal, em região hilar renal. ........................ 28

Figura 8- Doppler colorido das artérias interlobares e arqueadas. ...................... 28

Figura 9- Gráfico demonstrando a média do comprimento, espessura e largura


renais dos Sapajus apella. ................................................................................... 32

Figura 10- Ultrassonografia renal de Sapajus apella, demonstrando a


mensuração do comprimento e espessura renal.................................................. 33

Figura 11- Gráfico demonstrando a média da espessura da região cortical renal


dos Sapajus apella ............................................................................................... 33

Figura 12- Gráfico demonstrando a média dos volumes renais .......................... 34

Figura 13- Ultrassonografia renal de Sapajus apella, demosntrando o cálculo do


índice de resistividade, velocidade de pico sistólico e velocidade diastólica final da
artéria renal .......................................................................................................... 35
viii

Figura 14- Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de


resistividade das artérias arqueadas (ARQ) em rim esquerdo (RE) e rim direito
(RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD). ....................................... 36

Figura 15- Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de


resistividade das artérias renais em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD). .......... 36

Figura 16- Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de


resistividade das artérias interlobares (IL) em rim esquerdo (RE) e rim direito
(RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD). ....................................... 37

Figura 17- Doppler espectral renal de Sapajus apella. Seta demonstrando local
onde se realiza a mensuração da VPS. ............................................................... 38

Figura 18- Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da VPS das
artérias arqueadas (ARQ) de rim esquerdo (RE) e rim direito (RD), em polo médio
(M), cranial (CR) e caudal (CD). ........................................................................... 39

Figura 19- Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade de


pico sistólico (VPS) da artéria renal em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD). .... 39

Figura 20- Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade de


pico sistólico (VPS) das artérias interlobares em rim esquerdo (RE) e rim direito
(RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD). ......................................... 40

Figura 21- Doppler espectral renal de Sapajus apella. Seta demonstrando local
onde se realiza a mensuração da VDF ................................................................ 40
ix

LISTA DE ABREVIAÇÕES

RE- rim esquerdo


RD – rim direito
Cm – centímetros

VDF – velocidade diastólica final


VPS – velocidade de pico sistólico
IR- índice de resistividade

IP – índice de pulsatlidade
MHz – megaheartz
Mg/dl- miligramas / decilitros
PRF – frequência de repetição de pulso
FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia.
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
CEMPAS – Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens

® - marca registrada
EDTA - ácido etilenodiamino tetra-acético
SISBIO - Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade

Comp – comprimento
Esp – espessura
Larg – largura

EC – espessura cortical
Vol – volume
AR – arqueada
IL- interlobar

Cr- cranial
M- médio
Cd – caudal

m.s - 1 ou m/s - metro por segundo


ml – mililitros
x

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 4

2.1 TAXONOMIA DA FAMÍLIA CEBIDAE. .............................................................................. 5

2.2 MACACO PREGO (Sapajus apella) ................................................................................. 8

2.3 ANATOMIA RENAL .............................................................................................................. 9

2.4 VASCULARIZAÇÃO RENAL ............................................................................................ 11

2.5 PARÂMETROS URINÁRIOS E PLASMÁTICOS PARA AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO


RENAL ........................................................................................................................................ 12

2.6 ULTRASSONOGRAFIA RENAL ...................................................................................... 15

2.6.1 Ultrassonografia Modo-B Para Avaliação Renal .................................................... 15

2.6.2 Ultrassonografia Doppler............................................................................................ 17

3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 24

4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 25

4.1 ANIMAIS............................................................................................................................... 26

4.2 PREPARO DOS ANIMAIS ................................................................................................ 26

4.3 HEMOGRAMA E ANÁLISE BIOQUÍMICA...................................................................... 27

4.4 URINÁLISE .......................................................................................................................... 27

4.5 ULTRASSONOGRAFIA RENAL ...................................................................................... 28

4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................... 30

5 RESULTADOS ................................................................................................................. 30

5.1 ANÁLISES LABORATORIAIS .......................................................................................... 31

5.2 ULTRASSONOGRAFIA MODO B ................................................................................... 32

5.3 ULTRASSONOGRAFIA DOPPLER................................................................................. 35

5.3.1 ÍNDICE DE RESISTIVIDADE .................................................................................... 35

5.3.2 VELOCIDADE DE PICO SISTÓLICO (VPS). ......................................................... 38


xi

5.3.3 VELOCIDADE DIASTÓLICA FINAL (VDF) ............................................................. 41

6 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 43

7 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 49

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 51

ARTIGO CIENTÍFICO ......................................................................................................... 56

ANEXOS.............................................................................................................................. 64
CARANDINA, L.S. Dopplerfluxometria renal em macaco prego (Sapajus apella) de
cativeiro. Botucatu, 2013. 94 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista.

RESUMO

O macaco prego se encontra amplamente distribuído no Brasil. Ainda são


poucos os estudos realizados nesta espécie, não obtendo um padrão de
normalidade para diversos parâmetros, entre eles a dopplerfluxometria renal.
Realizou-se um estudo ultrassonográfico em modo B e Doppler dos rins de 10
macacos- prego, com o objetivo de padronizar os valores ultrassonográficos modo
B e valores dopplervelocimétricos renais da espécie. Estes animais foram
anestesiados com Ketamina e Miadzolam como medicação pré anestésica e
Isoflurano para manutenção. Na análise Doppler, os valores obtidos do índice de
resistividade, apresentaram diferenças estatísticas entre rim esquerdo e rim
direito nas artérias arqueadas, renal e interlobares. A velocidade de pico sistólico
também mostrou diferença estatística entre as artérias interlobares e artérias
arqueadas. A velocidade diastólica final não apresentou diferença estatística entre
rim esquerdo e direito. A diferença destes valores foi atribuída ao tempo de
anestesia e ao estresse que os animais apresentavam logo após a captura. Desta
forma, conclui-se que o exame ultrassonográfico Doppler é útil para monitorar
alterações renais, porém quando submetidos à anestesia, o protocolo anestésico
e o grau de estresse do animal pode influenciar diretamente no cálculo do índice
de resistividade.

Palavras chave: macaco- prego; Sapajus apella; Doppler.


CARANDINA, L.S.. Renal dopplerfluxometry in capuchin monkey captive (Sapajus
apella). Botucatu, 2013. 94 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista.

ABSTRACT

The capuchin monkeys are widely distributed in Brazil. There are only few
studies on this species, that do not allow a normal range on various parameters,
including renal Doppler. This study evaluated ten capuchin monkeys on
ultrasound B-mode and Doppler, in order to standardize ultrasound B-mode and
Doppler renal values of this specie. The animals were anesthetized with Ketamine
and Miadzolam as premedication and Isoflurane for maintenance. On Doppler
analysis, resistivity index values presented statistical differences between the left
and right kidney on renal, inrterlobar and arcuate arteries. VPS also showed
statistical difference between the interlobar arteries and arcuate arteries. VDF
showed no statistical difference between left and right kidney. The difference
between these values was attributed to anesthesia time and capture related
stress. Thus, it is concluded that Doppler ultrasonography is useful in monitoring
renal diseases. However, when undergoing anesthesia, the anesthetic protocol
and the level of stress can directly influence the calculation of the resistivity index.

Key words: capuchin monkeys; Sapajus apella; Doppler.


INTRODUÇÃO
2

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, dentre os países, apresenta significativa biodiversidade de fauna e


flora. Atualmente existem diversas espécies sendo descobertas, enquanto outras
já são consideradas ameaçadas de extinção. Portanto, o médico veterinário
possui grande responsabilidade sobre o manejo e a preservação dos animais
silvestres.

Sabe-se que os macacos- pregos estão amplamente difundidos por toda a


Amazônia e no Cerrado, porém são raras as referências encontradas sobre
padrões de normalidade da espécie. Desta forma, aprimorar os conhecimentos
dos primatas em cativeiro pode ajudar a compreender os aspectos de
comportamento e bem estar destes animais.

Com a evolução da Medicina Veterinária, observa-se um aumento


significativo na expectativa de vida dos animais, e consequentemente o
diagnóstico de doenças senis têm se apresentado cada vez mais frequênte. As
doenças renais já são bem descritas, e quando diagnosticadas precocemente,
possuem tratamento efetivo, fornecendo ao paciente melhor sobrevida, e com
qualidade de vida.

Para concluir um diagnóstico de doença renal, faz-se o uso de diversos


exames, entre eles hemograma, bioquímicos como uréia e creatinina, urinálise e
recentemente, a ultrassonografia Doppler.

A ultrassonografia Doppler têm se mostrado útil para o fornecimento de


informações anatômicas e hemodinâmicas de diversos órgãos, entre eles o rim.
Este exame pode indicar alterações renais, mesmo quando os exames
bioquímicos ainda não apresentam alterações, fornecendo ao clínico um
diagnóstico precoce.

A obtenção de um padrão de normalidade dos aspectos normais da


ultrassonografia Doppler é fundamental para sua correta interpretação.
3

Não há na literatura nenhuma descrição sobre o mapeamento Doppler para


o estudo da vasculatura renal em macacos- prego, desta forma, este estudo visa
padronizar os valores normais do índice de resistividade (IR), velocidade de pico
sistôlico (VPS) e velocidade diastólica final (VDF) das artérias renais (AR),
interlobares (IL) e arqueadas (ARQ) desta espécie, visando uma melhor
manutenção destes animais, contribuindo para sua preservação.
REVISÃO DE LITERATURA
5

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 TAXONOMIA DA FAMÍLIA CEBIDAE.

Os macacos-prego e caiararas existem na América Central, na Amazônia


inteira, no cerrado, na caatinga e em toda a mata atlântica, chegando até a
Argentina. Nessa extensão variam muito em forma, cor, tamanho, preferências
alimentares e comportamento (GUIMARÃES, 2012).
Até as últimas décadas, todas as espécies de macacos-prego eram
consideradas do mesmo gênero, Cebus spp.(SILVA, 2001; GUIMARÃES, 2012;
ALFARO et al., 2012;) (figura 1). Silva (2001) foi o primeiro pesquisador a apontar
diferenças anatômicas entre as espécies desse gênero, onde macacos-pregos
(que colonizam a Mata Atlântica) eram distintos dos caiararas (que colonizam a
Mata Amazônica), tanto em aparência quanto em comportamento; os macacos-
prego são mais robustos e, em sua maioria, apresentam um topete na cabeça.

Figura 1. Representação esquemática da antiga classificação taxonômica da


família Cebidae (SILVA, 2001).

Atualmente, após um estudo de análises genéticas, houve uma reformulação


do gênero Cebus, onde algumas espécies foram reclassificadas como Sapajus
(SILVA, 2001; ALFARO et al., 2012; GUIMARÃES, 2012) (figura 2). O gênero
6

Cebus compreende quatro espécies e o gênero Sapajus compreende oito


espécies (tabela 1) (SILVA, 2001; ALFARO et al., 2012; GUIMARÃES, 2012).

Figura 2. Representação esquemática da atual classificação taxonômica da família


Cebidae (SILVA, 2001; ALFARO et al, 2012).

Tabela 1. Atual classificação da família Cebidae


Cebus Sapajus

Cebus albifrons Sapajus macrocephalus

Cebus capucinus Sapajus apella

Cebus olivaceus Sapajus libidinosus

Cebus kaapori Sapajus flavius

Sapajus xanthosternos

Sapajus robustus

Sapajus nigritus

Sapajus cay
Fonte: Adaptação de Alfaro et al (2012)
7

Diferenças anatômicas cranianas também possibilitaram a divisão dos


gêneros Sapajus e Cebus: a sutura zigomaticomaxilar em Cebus é encontrada no
centro da margem inferior da órbita, já em Sapajus, é lateral à margem inferior da
órbita; a abertura nasal dos Cebus é mais larga quando comparada com a
abertura nasal dos Sapajus; as aberturas para o meato auditivo nos Sapajus são
grandes e posicionadas mais para baixo quando comparadas com as aberturas
para o meato auditivo dos Cebus, as quais estão posicionadas lateralmente; os
caninos dos Cebus são longos e delgados, enquanto os caninos dos Sapajus são
curtos e robustos; a base da mandíbula dos Cebus é reta, enquanto a base da
mandíbula dos Sapajus é curva; os Cebus não apresentam crista sagital,
diferentemente dos Sapajus (figura 3 e 4) (ALFARO et al., 2012).

Figura 3. Diferenças anatômicas entre Cebus e Sapajus, onde A representa Cebus e B


representa Sapajus ( adaptação de ALFARO et al., 2012)
8

Figura 4. Diferenças anatômicas entre Cebus e Sapajus, onde A representa Cebus e B


representa Sapajus (adaptação de ALFARO et al., 2012).

2.2 MACACO PREGO (Sapajus apella)

Os macacos-prego são animais que apresentam porte médio (GUERIM,


2001). De acordo com Fragaszy et al. (2004), eles pesam entre 2,5 a 5,0
quilogramas, apresentam corpos robustos, exibem dimorfismo sexual, possuem
pêlos de cor e formas variadas em suas cabeças, e apresentam caudas longas e
preênsis, o que lhes proporciona grande agilidade nos movimentos e
deslocamentos. Silva, 2001 refere que são animais onívoros. A alimentação
destes é composta por sementes, folhas, frutos e pequenos insetos, de acordo
com Auricchio (1995). É uma espécie muito comum em cativeiros, parques,
zoológicos e centros de triagem no Brasil (LEVACOV; JERUSALMSKY, 2006).
Em cativeiro, podem viver até 40 anos, sendo que suas capacidades reprodutivas
iniciam-se aos quatro anos de idade quando passam a serem considerados
adultos (FRAGASZY et al., 2004).
Ferrari (2003) refere que estudar os primatas em cativeiro pode ajudar a
entender aspectos de comportamento, e fornecer subsídios para manutenção,
bem estar e manejo destes animais. A necessidade de preservação das espécies
silvestres traz consigo a exigência de um maior conhecimento anatômico e clínico
9

para estes animais (FERRARI, 2003). A criação em cativeiro já é uma realidade,


contudo, não é muito discutida a utilização de técnicas minimamente invasivas
para avaliação de órgãos e estruturas abdominais nestes animais (FERRARI,
2003). De acordo com Alves (2007), ao se realizar uma ultrassonografia
abdominal dos macacos-prego, é possível a caracterização da aparência
ultrassonográfica dos órgãos e estruturas abdominais, fornecendo ferramentas
mais precisas para o tratamento clínico e cirúrgico, sendo assim, contribuindo
diretamente para a conservação e manutenção desta espécie, visando o bem
estar animal.
As patologias renais são importantes causas de morbidade e mortalidade
em mamíferos, portanto a determinação da etiologia e da gravidade do processo
é fundamental para a aplicação do manejo adequado (RIVERS et al, 1996).

2.3 ANATOMIA RENAL

Os rins têm a manutenção do meio interno como sua principal atividade


(REECE, 2006; DYCE et al, 2010). Essa função é realizada por meio da filtração
do plasma, inicialmente extraindo enorme volume de fluido antes de submeter
esse ultrafiltrado a um processamento adicional, no qual as substâncias úteis são
seletivamente reabsorvidas, os catabólitos são concentrados para a eliminação e
o volume é ajustado pela conservação suficiente de água para manter a
composição do plasma dentro de valores apropriados. Como função endócrina, os
rins produzem e liberam dois hormônios: renina, a qual tem o papel importante na
regulação da pressão sanguínea sistêmica, e eritropoetina, a qual influencia na
eritropoiese (DYCE et al, 2010).
O rim dos primatas (incluindo os humanos) segue o mesmo padrão do rim
dos demais mamíferos, sendo um órgão par, localizado posteriormente ao
peritônio parietal, o que identifica-o como um órgão retroperitoneal,
topograficamente situados à direita e a esquerda da coluna vertebral (DANGELO;
FATTINI, 2005). Nos animais, são suspensos na parede abdominal dorsal por
uma prega peritoneal e vasos que os irrigam (REECE, 2008).
Uma importante diferença do rim dos primatas para o rim humano consiste-
se em o rim direito dos primatas ser posicionado mais cranialmente que o rim
10

esquerdo, mantendo contato com o processo caudado do fígado e o lobo lateral


direito, o que determina uma impressão renal nestes lobos hepáticos (REECE,
2008). As demais características seguem o padrão renal humano, sendo
circundados por tecido adiposo, apresentando forma semelhante ao formato de
um feijão, duas faces (anterior e posterior) e duas bordas (medial e lateral). Suas
extremidades são comumente denominadas de polos (DANGELO; FATTINI,
2005).

O rim direito relaciona-se medialmente com a glândula adrenal direita e a


veia cava caudal, lateralmente com a última costela e a parede abdominal, e
cranialmente com o fígado e o pâncreas. Por sua vez, o rim esquerdo relaciona-
se cranialmente com o baço, medialmente com a glândula adrenal esquerda e a
aorta, lateralmente com a parede abdominal e ventralmente com o cólon
descendente (DYCE et al, 2010). O ureter, artéria renal, veia renal, vasos
linfáticos e nervos estão localizados no hilo renal, o qual localiza-se no centro da
borda medial renal, e constituem, em conjunto, o pedículo renal (ELLENPORT;
GETTY, 1975; DANGELI; FATTINI, 2005).
Cada rim tem uma face anterior e posterior lisa, coberta por uma cápsula
fibrosa. São constituídos por um córtex renal exterior e uma medula renal interna.
O córtex renal é uma faixa contínua de tecido pálido que rodeia completamente a
medula renal. Extensões do córtex renal (colunas renais) projetam para a face
interna do rim, dividindo a medula renal em agregações descontínuas de tecido
em forma triangular, as pirâmides renais (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2012). As
bases das pirâmides renais são direcionadas para fora, em direção ao córtex
renal, enquanto o ápice de cada pirâmide renal projeta para o interior, em direção
ao seio renal (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2012).
As unidades funcionais dos rins são conhecidas como néfrons, constituídos
de glomérulos (agrupamento de capilares), que junto com a cobertura epitelial
formam os corpúsculos renais, túbulo contornado proximal, alça de Henle (com
ramo descendente e ascendente), túbulo contornado distal, túbulo coletor e ducto
papilar (DYCE et al, 2004; ELLENPORT; GETTY, 1975).
11

2.4 VASCULARIZAÇÃO RENAL

O suprimento vascular dos rins se faz através dos ramos da aorta abdominal,
as artérias renais esquerda e direita. As artérias renais originam-se da parede
lateral da aorta (DYCE et al, 2010).

Usualmente, a artéria renal se ramifica antes de entrar no rim, em ramo


dorsal e ventral (figura 5) (NYLAND et al, 2005; SPAULDING, 1997).

Figura 5. Ramificação da artéria renal de Sapajus apela em ramo


dorsal e ventral, antes de entrar no rim. CEMPAS – FMVZ – UNESP
Botucatu.

Já no rim, a artéria renal divide-se em diversas artérias interlobares, as quais


atravessam a região medular e seguem em direção à região cortical. Na região da
junção córtico medular, estes vasos curvam-se, dando origem às artérias
arqueadas (DYCE et al, 2010). As artérias arqueadas dividem-se em múltiplos
ramos, as artérias interlobulares (figura 6), em direção à periferia do córtex renal
(SPAULDING, 1997). Cada artéria interlobular dá origem a diversos ramos que
12

irrigam glomérulos individuais, dando origem às arteríolas aferentes (DYCE et al,


2004; SPAULDING, 1997).

As veias seguem paralelamente ventrais às suas artérias correspondentes,


recebendo desta forma a mesma denominação, porém o sangue é drenado
sempre no sentido oposto das artérias (DYCE et al, 2010).

Figura 6. Desenho esquemático da arquitetura vascular renal (DYCE et al, 2010).

2.5 PARÂMETROS URINÁRIOS E PLASMÁTICOS PARA AVALIAÇÃO DA


FUNÇÃO RENAL

2.5.1 Bioquímica Plasmática

As alterações patofisiológicas na doença renal crônica resultam da


incapacidade dos rins em realizar as funções excretora, reguladora e sintética
normais. A perda da função excretora causa retenção das substâncias
nitrogenadas como a uréia e creatinina, as quais são eliminadas por meio da
filtração glomerular. A incapacidade de realizar funções reguladoras leva a
alterações nos equilíbrios eletrolítico, ácido-base e hídrico (OSBOURNE; LOW;
FINCO, 1972).
13

Os exames bioquímicos têm sido extensivamente utilizados na medicina


veterinária na avaliação clínica de animais e, uma vez interpretados
adequadamente, representam uma importante ferramenta para o estabelecimento
do diagnóstico, prognóstico e na instituição de terapêuticas de enfermidades que
acometem os animais domésticos (FERREIRA, 2009).
Os exames laboratoriais na medicina de animais silvestres são considerados
como importantes ferramentas para diagnosticar, prevenir doenças e até mesmo
como biomarcadores de agressões ambientais. O conhecimento dos valores
hematológicos e bioquímicos é importante para determinar os limites entre a
saúde e a doença, e para a compreensão das alterações ocasionadas por
agentes patogênicos (MOORE, 2000).
Na clínica de animais silvestres ainda há uma escassez muito grande em
recursos laboratoriais devido à falta de informações na literatura sobre valores de
referência (FERREIRA, 2009).
De acordo com o estudo realizado por Ferreira (2009), os valores
hematológicos podem sofrer influência regional, considerando o clima,
temperatura e umidade; desta forma, foi padronizado para macacos- prego os
seguintes valores (tabela 2):

Tabela 2. Valores de referência de bioquímicos para Sapajus apella.

BIOQUÍMICO Macacos jovens Macacos adultos

URÉIA (mg/dl) 61, 20 + 14, 27 67,95 + 2,74

CREATININA (mg/dl) 0,66 + 0,34 1,67 + 0,24


Fonte: Ferreira (2009).

Ferreira (2009) descreve em seu trabalho a contradição dos autores em


relação à padronização da uréia e creatinina em macacos- prego, ainda não
chegando em um consenso sobre o real valor padrão para a espécie (tabela 3).
14

Tabela 3. Valores de referência de bioquímicos para Sapajus apella, de acordo com diferentes
autores.

Autores Rosner et al Larsson et Riviello; Wirz et al


(1986) al (1997) Wirz (2001) (2008) apud
apud apud apud Ferreira
Ferreira Ferreira Ferreira (2009)
(2009) (2009) (2009)

URÉIA 25,7 + 2,5 41,3 + 14,4 14,9+ 5,0 24,4 + 7,8


(mg/dl)

CREATININA Não 1,2 + 0,2 0,6 + 0,1 0,8 + 0,1


(mg/dl) referencia

Fonte: adaptação de Ferreira (2009).

2.5.2 Urinálise

Outro exame importante a ser avaliado para comprovação da higidez renal é


a bioquímica urinária, a qual, ao contrário da bioquímica plasmática, raramente
realiza a mensuração quantitativa acurada. A informação a respeito dos
constituintes normais da urina que é importante é a taxa de excreção pelos rins,
não a concentração na urina, a qual é totalmente dependente da quantidade de
água excretada no momento da coleta. Pelo fato de muitos constituintes da urina
demonstrar ritmo diurno pronunciado de taxas de excreção, a mensuração
adequada seria a quantidade de urina excretada em 24 horas, o que é
impraticável na rotina veterinária. Desta forma, a análise clínica da urina é
geralmente qualitativa, apontando-se o aparecimento de substâncias que não
estão normalmente presentes na urina (KEER, 2003).
A urinálise avaliará a presença de nitrito, sangue, proteína, glicose, cetonas,
bilirrubina e urobilinogênio na urina, além de nos fornecer densidade específica e
o pH urinário (KEER, 2003).
Para avaliação nos casos de suspeita de insuficiência renal, dois parâmetros
são fundamentais, a densidade específica da urina e a avaliação de proteína
urinária. A densidade específica da urina mede o grau de solutos existentes na
15

amostra e, indiretamente, a capacidade renal de concentração da urina. Para


cães e gatos, o valor de referência é 1013 a 1029 e 1013 a 1034 respectivamente.
Uma baixa densidade urinária pode ser indicativo de insuficiência renal
crônica, porém deve-se realtar que os valores da densidade específica da urina
podem sofrer alterações fisiológicas, em geral transitórias, ou patológicas, mais
permanentes (GARCIA-NAVARRO, 1996). A presença de proteína na urina
(proteinúria) sempre é clinicamente significante, podendo indicar uma infecção no
trato urinário, ou uma nefropatia com perda de proteína. Deve-se suspeitar de
nefropatia quando não há presença concomitante de proteinúria e hematúria
(KEER, 2003).
Não há referências na literatura quanto aos valores de referência da urinálise
para Sapajus apella.

2.6 ULTRASSONOGRAFIA RENAL

2.6.1 Ultrassonografia Modo-B Para Avaliação Renal

A ultrassonografia renal tornou-se rotina na medicina veterinária por ser um


método não invasivo, não ionizante e indolor, que permite e obtenção de
informações quanto à posição topográfica renal, dimensões renais, forma e
arquitetura interna, além de detectar alterações nos ureteres, principalmente na
presença de dilatações, já que os estes, quando normais, não são visibilizados
(CARVALHO, 2004).

Walter et al (1987) refere-se a ultrassonografia modo B como uma valiosa


ferramenta diagnóstica para avaliar doenças renais na rotina clínica, porém
ressalta que sua utilização é limitada, visto que há doenças parenquimatosas que
resultam em um exame ultrassonográfico normal (WALTER et al, 1987). Carvalho
(2004) também cita que, como todo método diagnóstico, a ultrassonografia modo
B possui limitações (CARVALHO, 2004).

Os transdutores de 3,5 a 7,5 MHz são normalmente utilizados para a


ultrassonografia renal em pequenos animais (BAAR et al, 1990; CARVALHO,
16

2004). Nyland et al (2005) referem que para cães, um transdutor de 5 MHz é


adequado, enquanto para gatos, é necessário um transdutor de 7,5 MHz.

Os rins devem ser avaliados nos planos sagital e transversal, mas para a
avaliação completa dos rins, cortes suplementares como o coronal são
necessários (WIDMER et al, 2004; CARVALHO, 2004). Sempre deve-se examinar
os rins nos sentidos cranial a caudal e lateral a medial, com o intuito de avaliar
todas as regiões, incluindo córtex, medula e sistema coletor (Nyland et al, 2005).

Normalmente o rim esquerdo é mais facilmente identificado devido à sua


localização mais caudal, e pela janela acústica proporcionada pelo baço
(WALTER et al, 1987; CARVALHO, 2004). A posição cranial do rim direito, abaixo
do gradil costal, dificulta sua visibilização (CARVALHO, 2004).

O exame ultrassonográfico renal em cães e gatos permite a visibilização da


arquitetura do parênquima deste órgão, sendo possível a identificação das
regiões cortical, medular, e pelve renal, por possuírem ecogenicidades diferentes
(KONDE, 1989). A cápsula renal também é identificada ultrassonograficamente,
por produzir um eco brilhante quando a onda sonora incide perpendicularmente
(KONDE, 1989; CARVALHO, 2004). A região cortical é mais ecogênica que a
região medular pois é formada pelos glomérulos, possuindo uma quantidade
maior de células que a região medular, a qual é composta pela maioria dos
túbulos do sistema coletor, possuindo uma maior quantidade de fluido, o que a
torna hipoecogênica; a porção mais central do rim é hiperecogênica, chamada de
complexo ecogênico central, correspondendo à pelve e gordura peripélvica
(CARVALHO, 2004).

É possível a delimitação entra as regiões cortical e medular, o que é


nomeado de junção córtico medular, onde localizam-se artérias e veias (Nyland et
al, 2005)

As mensurações renais podem ser obtidas facilmente pela ultrassonografia,


com alto grau de precisão, refletindo as verdadeiras dimensões dos rins. O
volume renal também pode ser mensurado utilizando as medidas
ultrassonográficas (BARR, 1990).
17

Carvalho (2004) refere que existe uma variação de tamanho e volume renal
entre animais com o mesmo peso corpóreo, então as dimensões são julgadas
subjetivamente.

Em macacos- prego, um estudo realizado por Alves et al, 2007, onde foi
realizada a ultrassonografia renal de dez Sapajus apella, padronizou a média de
comprimento renal entre 6,24 + 0,31 cm, não havendo diferença entre rim direito e
esquerdo. Também foi padronizada a espessura média para a região cortical,
sendo de 0,75 + 0,11 cm. O estudo ainda mostrou, como descrito por Konde
(1989) e Carvalho (2004), que as estruturas visibilizadas em cães e gatos, como
região cortical, medular e pelve renal, também são visibilizadas em macacos-
prego, seguindo o mesmo padrão de ecogenicidade. A cápsula renal dos
macacos- prego é levemente hiperecogênica, segundo Alves (2007).

Há uma relação de ecogenicidade normal do rim quando comparado com o


fígado e o baço (NYLAND et al, 2005). Rins normais possuem a córtex
ligeiramente hipoecogênica em relação ao fígado e hipoecogênica em relação ao
baço (WIDMER et al, 2004).

Os achados ultrassonográficos de doenças renais podem ser difusos, focais


ou multifocais, sendo encontrados no córtex, medula, seios renais ou
generalizados (WALTER et al, 1987).

2.6.2 Ultrassonografia Doppler

A inespecificidade de alguns achados na ultrassonografia modo- B sugere


que a ultrassonografia Doppler pode ser útil para auxiliar a interpretação das
imagens em escala de cinza (CARVALHO, 2004).

A avaliação das doenças vasculares viscerais através da técnica Doppler


representa um dos grandes desafios da tecnologia não invasiva, exibindo um
potencial positivo na sua aplicação clínica (CERRI et al, 1998).
18

2.6.2.1 Princípios físicos

No exame ultrassonográfico Doppler, a onda sonora é refletida por células e


outros componente do sangue que estão em movimento em determinada
velocidade e direção, em relação ao transdutor. A frequência da onda emitida é
alterada após ser refletida por estas partículas. A diferença entre a onda sonora
transmitida e refletida é denominada mudança de frequência Doppler. A
frequência aumenta quando o fluxo vai em direção ao transdutor (mudança
positiva) e diminui quando em direção contrária (mudança negativa). Sendo
assim, quanto maior a velocidade do fluxo, maior será a mudança de frequência
(SZATMÁRI et al, 2001).
Quanto maior a mudança de frequência Doppler, maior será a velocidade
que a hemácia está se deslocando. Entretanto, o vaso deve estar paralelo ao
feixe de ultrassom para que a velocidade seja acurada (Nyland et al, 2005).
Quando estes estão perpendiculares (ângulo 90º), não há detecção de fluxo. Este
ângulo não deve exceder 60º para que a estimativa de velocidade detectada não
represente um erro (SZATMÁRI et al, 2001).

2.6.2.2 Doppler espectral ou pulsado

Uma melhor avaliação do fluxo sanguíneo tornou-se possível com a


introdução da técnica de ultrassonografia Doppler de onda pulsada ou Doppler
espectral, a qual, nos equipamentos modernos, fornece imagem Doppler
associada a uma imagem em modo B. Por unir as duas formas de imagem, a
técnica é também conhecida como duplex Doppler. A união dos dois métodos
fornece diagnósticos anatômico e funcional concomitantes (CERRI et al, 1998).

A limitação do Doppler pulsado é devido à profundidade e orientação dos


vasos, pois, em muitos casos, é difícil examinar os vasos abdominais com o
ângulo ideal ( < 60º) para obter um sinal fidedigno (SZATMÁRI et al, 2001;
CARVALHO, 2009).
19

Nesta técnica, o transdutor possuí apenas um cristal piezoelétrico que


transmite pequenos pulsos de onda sonora a intervalos regulares, o que permite
que seja realizada a avaliação e mensurações de uma região específica do vaso,
a qual é chamada de volume de amostra. A quantidade de vezes que o pulso é
emitido é denominada de frequência de repetição de pulso (PRF) (SZATMÁRI et
al, 2001). A PRF deve ser adequada às características de frequências dos sinais
captados, ou seja, quanto maior a variação de frequência gerada pelo fluxo de
alta velocidade, maior deve ser a PRF (CERRI et al, 1998; GINTHER ; UTT, 2004;
NYLAND et al, 2005).

O fluxo sanguíneo é representado por um gráfico chamado espectro Doppler,


onde o eixo horizontal demonstra o tempo e o eixo vertical a velocidade. O fluxo
em direção ao transdutor é representado acima da linha de base (linha zero) e o
fluxo em direção contrária, abaixo da linha de base (FINN-BODNER; HUDSON,
1998; SZATMÁRI et al, 2001).
O Doppler espectral nos fornece então, avaliações qualitativas da onda
gerada, ou seja, a presença ou ausência de fluxo sanguíneo, a direção do fluxo
em relação ao transdutor e a identificação das características do fluxo em arterial
ou venoso, laminar ou turbilhonado, e avaliações quantitativas da onda, visto que
é possível mensurar a velocidade de pico sistólico (VPS), velocidade diastólica
final (VDF), e calcular índices de resistividade (IR) e índices de pulsatilidade (IP)
(CERRI et al, 1998). Cerri et al (1998) ainda referem que estes índices são
calculados de forma automática nos aparelhos, porém consistem de um resultado
de: IR= VPS- VDF/ VPS. , e IP= VPS- VDF/ velocidade média.
O índice de resistividade tem grande aplicabilidade na medicina em diversos
órgãos, e já é amplamente estudado no diagnóstico e prognóstico de diversas
doenças renais. Um aumento da resistência vascular reduz o fluxo diastólico em
uma proporção maior que do fluxo sistólico, ocasionando um aumento no valor do
IR. No caso da avaliação Doppler dos rins, valores alterados do IR podem ser
encontrados em casos de falência renal aguda, necrose tubular aguda, isquemia
renal, endotoxemia, obstrução uretral e insuficiência renal induzida por contraste
(NYLAND et al, 2005). Um IR renal aumentado também pode estar associado
com anemia e hipotensão devido aos efeitos secundários na resistência e
circulação sanguínea. Sabe-se que a anemia pode ocasionar hipóxia ao rim,
20

levando a uma vasoconstrição, aumentando então a resistência vascular e


consequentemente o IR (FINN-BODNER ; HUDSON,1998).
RIVERS et al (1996) referem que a sedação do animal avaliado pode
influenciar no cálculo do IR realizado pelo Doppler espectral.
Algumas drogas anestésicas utilizadas para contenção química dos animais
silvestres, como a Ketamina, durante o pico plasmático, exercem influência sobre
a pressão arterial (SILVA et al, 2010).

2.6.2.3 Doppler colorido

O Doppler colorido segue os mesmos princípios do espectral, porém há


múltiplos volumes de amostra dentro de uma região circunscrita, denominada
“Box” (SZATMÁRI et al, 2001).
O mapeamento Doppler colorido evidencia a arquitetura vascular do órgão,
facilitando a localização dos vasos de interesse, produzindo imagens
concomitantes com a imagem do modo B em tempo real (CARVALHO, 2004).
Esta modalidade Doppler permite saber a direção do fluxo sanguíneo (o fluxo
em direção ao transdutor é designado vermelho, e o fluxo contrário azul) e a
velocidade do fluxo, a qual é determinada pela intensidade da cor, sendo que o
azul e o vermelho demonstram fluxos de baixa velocidade e, as mesmas cores
claras, fluxo mais rápido (FIIN-BODNER; HUDSON, 1998; SZATMÁRI et al,
2001).

2.6.2.4 Power Doppler

O Power Doppler é a mais recente inovação do Doppler colorido, e consiste-se


em uma técnica mais sensível que permite detectar fluxos de baixa intensidade e
vasos de menor calibre. No entanto, sua escala é de uma única cor, a qual varia
apenas em intensidade, sendo assim, assim ele fornece informações apenas de
velocidade e não demonstra o sentido do fluxo. O Doppler contínuo é utilizado
para avaliação ultrassonográfica cardíaca (BOOTE, 2003).
21

2.6.3 Doppler Renal

O Doppler colorido renal mapeia prontamente as artérias e veias renais, as


artérias e veias interlobares e as arqueadas. A diferenciação entre fluxo arterial e
venoso é feita de maneira mais criteriosa com o auxílio do Doppler espectral
(FIIN-BODNER; HUDSON, 1998).
A artéria e veia renal podem ser observadas desde a região hilar renal até
sua origem da aorta e da veia cava caudal, respectivamente. As artérias
interlobares podem ser vistas ao redor do complexo ecogênico central, sendo um
total de 4 a 7, irradiando-se da pelve em direção à junção córtico medular. As
artérias interlobares ramificam-se em artérias arqueadas cursando na mesma
direção da junção córtico medular (CARVALHO, 2009). As artérias arqueadas
dividem-se em múltiplos ramos interlobulares que irradiam em direção à periferia
da cortical e são visíveis ao Doppler colorido (SZATMÁRI et al, 2001).
As veias correm paralelamente às artérias e usualmente são mais largas que
as artérias adjacentes (CARVALHO, 2009).
O índice mais utilizado na avaliação da vascularização renal é o índice de
resistividade (IR). A alteração deste índice auxilia na identificação de alterações
na resistividade vascular. É importante salientar que estes índices podem ter
variações com a frequência cardíaca e a pressão arterial, e geralmente refletem a
impedância vascular. A impedância vascular é definida como o impedimento a
passagem do fluxo sanguíneo em um vaso (CERRI et al, 1998).
Um aumento do IR pode ser útil para detectar alterações renais antes que
doenças parenquimatosas possam ser observadas ao modo B, e antes que a
perda da função renal possa ser detectada pelos achados laboratoriais
(MORROW et al, 1996).
Já existe em literatura a padronização do IR normal para cães não sedados,
sendo IR da artéria renal direita 0,64 + 0,04 e para a esquerda de 0,63 + 0,028,
sem diferença estatística significante entre os lados (MELO, 2006). Nyland et al
(2005) referem que um IR renal menor que 0,7 é considerado normal para cães e
gatos.
Posniak et al (1982) referem que o limite superior do IR para as artérias
intrarenais em cães não sedados seja de 0,73 e para cães sedados seja 0,57.
22

Em felinos sedados com Cloridrato de Ketamina, a média do IR das artérias


arqueadas foram de 0,59 + 0,05 para rim direito e 0,56 + 0,06 para rim esquerdo.
Com estes valores, foi padronizado para felinos sedados com Cloridrato de
Ketamina um limite de 0,69 como limite superior de normalidade (RIVERS et al,
1996).
Não há referências na literatura quanto aos valores de IR renal e velocidade
de fluxo sanguíneo nos vasos renais em Sapajus apella.
OBJETIVOS
24

3 OBJETIVOS

Diante do exposto, com o presente trabalho objetivou-se realizar


ultrassonografia renal modo B e Doppler de macacos- prego (Sapajus apella) para
definir os seguintes valores de referência para a espécie:

- Comprimento, altura, largura e volume renal;


- Espessura cortical renal;
- Velocidade de pico sistólico (VPS), velocidade diastólica final (VDF) e
índice de resistividade da vasculatura renal (artéria renal, artéria interlobar,
artéria arqueada) normal.
MATERIAL E MÉTODOS
26

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 ANIMAIS

Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA)
da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus Botucatu, sob
protocolo número 208 / 2012 (anexo 1). Também teve sua aprovação pelo
Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), sob protocolo
número 38801-1 (anexo 2).
No presente estudo foram avaliados 10 macacos- prego (Sapajus apella),
sendo três machos e sete fêmeas. Destes, oito adultos com idade acima de
quatro anos, e dois jovens com idade até quatro anos.
Os animais eram provenientes do CEMPAS (Centro de Medicina e Pesquisa
em Animais Selvagens) – FMVZ UNESP Botucatu, e não apresentavam doença
renal ou sistêmica. A higidez desses foi comprovada pela realização de
hemograma, exames bioquímicos de perfil enzimático renal (uréia e creatinina),
urinálise e ultrassonografia abdominal.
Os procedimentos foram realizados no Serviço de Radiologia Veterinária da
FMVZ- UNESP Botucatu, e para a realização dos exames ultrassonográficos, foi
utilizado um aparelho ultrassonográfico da marca Esaote®, modelo My Lab 30
VET GOLD, com transdutor multifrequencial linear (6 a 10 MHz). As imagens
foram gravadas em disco compacto.

4.2 PREPARO DOS ANIMAIS

Os macacos- prego foram submetidos a jejum alimentar e hídrico por 12


horas antes do exame devido a anestesia e para evitar a distensão gasosa, a qual
dificultaria a visibilização vascular abdominal.
27

Os animais foram capturados com puçá, e em seguida anestesiados com:

• Ketamina – 10 mg/kg

• Midazolam – 0,5 mg/kg Via intramuscular

• Manutenção com anestesia inalatória – Isoflurano.

4.3 HEMOGRAMA E ANÁLISE BIOQUÍMICA


Após terem sido anestesiados, foram coletados 2 mililtros (ml) de sangue da

veia femoral, e colocados em um tubo plástico contendo anticoagulante EDTA. O

material coletado foi encaminhado para o laboratório clínico do hospital veterinário

FMVZ- UNESP Botucatu, para a realização dos testes bioquímicos de uréia e

creatinina.

4.4 URINÁLISE
Por meio de cistocentese guiada por ultrassonografia, foi coletado 5 ml de urina

diretamente da bexiga para análise laboratorial, preconizando a avaliação da

densidade urinária. A análise bioquímica da urina foi realizada imediatamente

após a coleta, com o kit de tiras reativas URI – TEST 11®, e a densidade urinária

foi confirmada com através da refratometria.


28

4.5 ULTRASSONOGRAFIA RENAL

Foi realizada tricotomia ampla do abdômen ventral, desde o oitavo espaço


intercostal até o púbis, e lateralmente, na mesma extensão até a região dos
músculos sublombares. Como meio de contato para transmissão
ultrassonográfica foi utilizado Carbogel®. Os animais estavam posicionados em
decúbito dorsal.

Primeiramente foi realizada a ultrassonografia modo B de todo o abdômen,


com a finalidade de detectar alterações que pudessem excluir o animal da
pesquisa. Confirmada a higidez, a ultrassonografia modo B do rins foi realizada,
analisando o rim por cortes longitudinais, transversais e coronais, medindo assim
altura, espessura e largura renal e espessura da região cortical. Ainda no modo B,
foi calculado de forma automática no aparelho o volume dos rins, e comparado
este volume obtido com a seguinte fórmula já conceituada para volumes renais,
segundo Nyland et al (2005): Volume renal= comprimento renal x largura renal x
espessura renal x 0,523.

Para a realização da ultrassonografia Doppler, foi padronizado:

• X View 2.
• PRF 1,4.
• Velocidade de 70%.
• Angulação menor ou igual a 60º.
• Artéria renal – mensurações realizadas na região hilar
• Artérias interlobares e arqueadas – mensuradas em polo cranial, médio e
caudal de cada rim.

O Doppler colorido foi utilizado para estudar a arquitetura vascular renal,


possibilitando a identificação das artérias renais, artérias interlobares e artérias
arqueadas. Posteriormente, foi utilizado o Doppler espectral para caracterizar
cada uma das artérias, diferenciando-as das veias, e possibilitando a realização
da mensuração da velocidade de pico sistólico (VPS), velocidade diastólica final
(VDF) e do índice de resistividade (IR) das artérias renais.
29

Para calcular o IR, a VPS e a VDF da artéria renal, esta foi visibilizada em
região hilar do rim, o qual estava posicionado ultrassonograficamente em corte
transversal (figura 7).

Figura 7. Mensuração IR da artéria renal, em região hilar renal.

O IR, VPS e VDF das artérias interlobares e arqueadas foram mensurados


em polo cranial, médio e caudal de cada rim, o qual ultrassonograficamente
estava em corte longitudinal (figura 8).

Figura 8. Doppler colorido das artérias interlobares e arqueadas.


Exemplificando polo cranial, médio e caudal renal.
30

4.6 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Para todos os parâmetros avaliados, foram realizadas três mensurações e,

posteriormente, realizada análise descritiva através de gráficos de média e desvio

padrão. Para o índice de resistividade (IR) e velocidade de pico sistólico e

velocidade diastólica final, foi realizado o teste T studant, com o intuito de realizar

uma comparação do rim esquerdo e do rim direito, com nível de significância de

5% (p< 0,05).

O programa utilizado para a realização da análise estatística foi SigmaStat.


RESULTADOS
31

5 RESULTADOS

Seguindo a metodologia descrita, os resultados serão apresentados na


seguinte sequência:

• Análises laboratoriais.
• Ultrassonografia modo – B.
• Ultrassonografia Doppler.

5.1 ANÁLISES LABORATORIAIS

Os exames laboratoriais tiveram como objetivo a seleção dos animais para


este estudo. Os parâmetros de uréia e creatinina foram comparados com os
descritos por Larsson et al (1997) apud Ferreira (2009), onde todos os animais
estavam dentro dos valores de referência citados (tabela 4 e 5).

Tabela 4. Resultados dos exames laboratoriais dos Sapajus apella.


32

Tabela 5. Média e desvio padrão dos exames laboratoriais dos Sapajus apella

Creatinina
Média e desvio Uréia (mg/dl) D. Urinálise PH Urinálise
(mg/dl)
padrão
32,55 ± 10,23 0,76 ± 0,25 1021,60 ± 7,28 6,90 ± 0,55
.

5.2 ULTRASSONOGRAFIA MODO B

O valor médio obtido para comprimento dos rins de Sapajus apella foi de: rim
esquerdo 3,17 ± 0,53 cm e rim direito 3,14 ± 0,47 cm. A espessura renal teve seu
valor médio de rim esquerdo 1,13 ± 0,24 cm e rim direito 1,24 ±0,20 cm. A largura
renal média do rim esquerdo foi de 1,18 ± 0,21 cm e do rim direito de 1,25 ± 0,18
cm (figura 9 e 10).

Figura 9. Gráfico demonstrando a média do comprimento, espessura e largura


renais dos Sapajus apella.
33

Figura 10. Ultrassonografia renal de Sapajus apella, demonstrando a mensuração


do comprimento e espessura renal.

A espessura da região cortical obteve valor médio de 0,38 ± 0,08 cm para rim
esquerdo e 0,37 ± 0,05 cm para rim direito (figura 11).

Figura 11. Gráfico demonstrando a média da espessura da região cortical renal


dos Sapajus apella.
34

O volume renal foi calculado de forma automática no aparelho, e comparado


com a seguinte fórmula (Volume = comprimento x largura x espessura x 0,523)
(figura 12). Os resultados obtidos foram:

Volume automático rim esquerdo: 2,19 ± 0,73 ml.

Volume calculado rim esquerdo: 2,42 ± 0,97 ml.

Volume automático rim direito: 2,33 ± 1,02 ml.

Volume calculado rim direito: 2,58 ± 0,9 ml.

Com a aplicação do teste t student comparando o volume calculado de forma


automática e através do cálculo, não houve diferença estatística.

Figura 12. Gráfico demonstrando a média dos volumes renais.


35

5.3 ULTRASSONOGRAFIA DOPPLER

5.3.1 ÍNDICE DE RESISTIVIDADE

Foi realizada a mensuração do índice de resistividade nas artérias renal


esquerda (imagem 13) e direita, das artérias interlobares esquerda e direita (IL)
em polo cranial (CR), médio (M) e caudal (CD), e das artérias arqueadas (ARQ)
esquerda e direita em polo cranial, médio e caudal. Os resultados estão descritos
nas imagens 14, 15 e 16

Figura 13. Ultrassonografia renal de Sapajus apella, demosntrando o cálculo do índice


de resistividade, velocidade de pico sistólico e velocidade diastólica final, da artéria
renal.
36

Figura 14. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de


resistividade das artérias arqueadas (ARQ) em rim esquerdo (RE) e rim
direito (RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).

Figura 15. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de


resistividade das artérias renais em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD).
37

Figura 16. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de


resistividade das artérias interlobares (IL) em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD),
em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).

Aplicando o teste t student às médias dos valores de índice de resistividade,


houve diferença estatística entre as artérias arqueadas direita e esquerda em polo
cranial, médio e caudal, assim como nas artérias renal direita e esquerda (tabela
6).

Tabela 6. Média e desvio padrão do IR das artérias arqueadas (arq) e renais.

Rim IR ARQ M IR ARQ CR IR ARQ CD IR Renal


Esquerdo 0,71 ± 0,07a 0,68 ± 0,05a 0,72 ± 0,08a 0,75 ± 0,07a
Direito 0,64 ± 0,08b 0,64 ± 0,06b 0,64 ± 0,07b 0,71 ± 0,08b
P 0,002 0,004 <0,001 0,047
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não foram diferentes estatisticamente
entre si pelo Teste t (P>0,05).
38

Aplicando o teste t student às médias dos valores de índice de resistividade


das artérias interlobares (IL), somente houve diferença estatística na artéria IL
média (tabela 7).

Tabela 7. Média e desvio padrão do IR das artérias interlobares (IL).

Rim IR IL M IR IL CR IR IL CD
Esquerdo 0,73 ± 0,07ª 0,70 ± 0,08a 0,68 ± 0,08a
Direito 0,68 ± 0,10b 0,65 ± 0,10a 0,70 ± 0,08 a
P 0,018 0,053 0,410
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não foram diferentes estatisticamente
entre si pelo Teste t (P>0,05).

5.3.2 VELOCIDADE DE PICO SISTÓLICO (VPS).

A velocidade de pico sistólico (VPS) foi mensurada nas artérias renal


esquerda e direita, nas artérias interlobares (figura 17) e arqueadas em polo
cranial, médio e caudal dos rins direito e esquerdo. Os resultados estão
demonstrados nas figuras 18, 19 e 20.

Figura 17. Doppler espectral renal de Sapajus apella. Seta


demonstrando local onde se realiza a mensuração da VPS.
39

Figura 18. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da VPS das
artérias arqueadas (ARQ) de rim esquerdo (RE) e rim direito (RD), em polo médio
(M), cranial (CR) e caudal (CD).

Figura 19. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade de


pico sistólico (VPS) da artéria renal em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD).
40

Figura 20. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade de


pico sistólico (VPS) das artérias interlobares em rim esquerdo (RE) e rim direito
(RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).

Aplicando o teste t student às médias dos valores de VPS das artérias


interlobares (IL) e arqueadas (ARQ) em polo cranial, médio e caudal, e das
artérias renais, houve diferença estatística entre artérias interlobares em polo
caudal de rim esquerdo e direito, assim como artérias arqueadas em polo médio e
cranial de rim esquerdo e direito, como demonstrado nas tabelas 8 e 9. O valor
da VPS das artérias renais esquerda e direita, com a aplicação do teste t student,
não apresentou diferença estatística.

Tabela 8. Média e desvio padrão da VPS das artérias arqueadas (ARQ) e renal.

Rim VPS ARQ M VPS ARQ CR VPS ARQ CD VPS Renal


Esquerdo 0,14 ± 0,04a 0,12 ± 0,02a 0,14 ± 0,04a 0,30 ± 0,09a
Direito 0,11 ± 0,0b 0,10 ± 0,02b 0,13 ± 0,05a 0,27 ± 0,05a
P 0,008 0,047 0,661 0,158
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não foram diferentes estatisticamente entre si pelo
Teste t (P>0,05).

Tabela 9. Média e desvio padrão da VPS das artérias interlobares (IL).

Rim V IL M V IL CR V IL CD
Esquerdo 0,21 ± 0,06ª 0,20 ± 0,05a 0,16 ± 0,05b
Direito 0,18 ± 0,07ª 0,19 ± 0,05a 0,18 ± 0,04a
P 0,122 0,455 0,017
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não foram diferentes estatisticamente entre si pelo
Teste t (P>0,05),
41

5.3.3 VELOCIDADE DIASTÓLICA FINAL (VDF)

A velocidade diastólica final (VDF) foi mensurada nas artérias renal


(figura 21) esquerda e direita, nas artérias interlobares e arqueadas em polo
cranial, médio e caudal dos rins direito e esquerdo. Os resultados foram (figuras
22 e 23):

Figura 21. Doppler espectral renal de Sapajus apella. Seta


demonstrando local onde se realiza a mensuração da VDF.
42

Figura 22. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade diastólica
final (VDF) das artérias arqueadas (ARQ) em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD), em
polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).

Figura 23. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade diastólica
final (VDF) das artérias renal em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD), e das artérias
interlobares (IL) de RE e RD em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).

Aplicando o teste t student às médias dos valores de VDF das artérias


interlobares (IL) e arqueadas (ARQ) em polo cranial, médio e caudal, e das
artérias renais, não houve diferença estatística entre rim esquerdo e rim direito.
DISCUSSÃO
44

6 DISCUSSÃO

A ultrassonografia Doppler na Medicina Veterinária é um método recente e


que ainda há possibilidade de diversos estudos de padronização desta técnica. O
presente estudo foi realizado em 10 macacos- prego, hígidos, anestesiados com
Ketamina, Midazolam e Isoflurano. A anestesia foi necessária para a contenção
dos animais, sem a qual não seria possível a realização do exame.

O tempo médio para a realização de cada exame foi de uma hora, sendo que
a avaliação do rim esquerdo foi com aproximadamente dez minutos após a
aplicação da medicação pré-anestésica, e a do rim direito em aproximadamente
quarenta minutos durante o período trans anestésico, o que pode ter influenciado
no fluxo sanguíneo renal, assim como referem RIVERS et al (1996), que citam
que o tempo e o protocolo anestésico podem influenciar no cálculo do IR dos
animais. Tais dados sugerem a necessidade de novos estudos, comparando o IR
do rim direito, exatamente no mesmo tempo que foi avaliado o rim esquerdo.

Os valores obtidos do IR e VPS do rim esquerdo foram elevados quando


comparados aos valores do rim direito. Estes resultados evidenciam a ação renal
da Ketamina, contemplando a citação de Silva et al (2010), que referem que a
Ketamina apresenta seu pico plasmático em aproximadamente trinta minutos.

Observou-se que logo após a contenção química, os animais ainda


apresentavam um fluxo aumentado em artéria renal e interlobar, o que sugere-se
ser devido ao estresse da contenção e, consequentemente, à elevação da
pressão arterial.

Na literatura, são escassos os trabalhos a respeito da padronização sobre


exames renais em macacos- prego, e os que existem, há uma grande contradição
dos autores sobre os valores normais de exames bioquímicos, como citado por
Ferreira (2009). No presente trabalho, os valores dos exames bioquímicos foram
comparados com os citados por Larsson et al (1997) apud Ferreira (2009),
estando todos os animais hígidos.
45

Na análise urinária a avaliação foi qualitativa, ou seja, nenhum animal do


estudo apresentou presença de proteinúria, hematúria ou glicosúria. Não há
valores na literatura sobre a correta interpretação da densidade urinária em
macacos- prego. Desta forma, os valores obtidos no presente estudo, foram
comparados com os valores de densidade urinária em cães.

Durante a ultrassonografia modo B, foi obtido um valor médio do


comprimento renal de 3,17± 0,53 cm para rim esquerdo e 3,14 ± 0,47 para rim
direito, sem diferença estatística significante. Os valores encontrados na literatura,
descritos por Alves et al (2007) são maiores que os do presente estudo, estando
entre 6,27 ±0,31 cm. Alves et al (2007) ainda descrevem um valor de 0,75 ± 0,11
cm para espessura cortical. O presente estudo demonstrou um valor de 0,38 ±
0,08 cm espessura cortical esquerda e 0,37 ± 0,05 cm espessura cortical direita.
O volume renal obtido no estudo foi similar com o valor descrito na literatura por
Alves et al (2007) sendo de 2,42 ± 0,97 ml para rim esquerdo e 2,58 ± 0,9 ml para
rim direito. Alves et al (2007) não citam os pesos dos animais avaliados; desta
forma, atribui-se as diferença citadas acima, possivelmente ao peso dos animais
avaliados.

Ainda em modo B, foi possível a mensuração da espessura renal (1,13 ±


0,24 cm rim esquerdo e 1,24 ± 0,20 cm rim direito), assim como da largura renal
(1,18 ±0,21 rim esquerdo e 1,25 ± 0,18 cm rim direito), valores ainda não
descritos em nenhum trabalho desta espécie.

A padronização do tamanho renal é de suma importância, visto que em


doenças renais crônicas, o tamanho renal pode ser alterado.

Foi possível através deste estudo a avaliação da anatomia e da


vascularização renal de macacos- prego. Desta forma, afirma-se que os rins de
Sapajus apella possuem formato oval, semelhante aos de humanos, como
descritos por Alves et al (2007). Os macacos pregos apresentam o rim direito
mais cranial que o rim esquerdo, como encontrado em cães e gatos,
diferenciando-os dos humanos, que apresentam o rim esquerdo mais cranial que
o rim direito (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2012).
46

Já é conceituada a diferença de ecogenicidade entre baço, rim e fígado em


cães e gatos, sendo a córtex renal mais hipoecogênica que o fígado, o qual é
mais hiopoecogênico que o baço. No estudo presente, foi possível somente a
comparação entre ecogenicidade de fígado e córtex renal. O fígado apresentou-
se levemente hiperecogênico à região cortical renal, sendo compatível com os
achados de Alves et al (2007). Não foi possível a comparação de ecogenicidade
renal com a esplênica devido ao difícil acesso do baço pelo seu pequeno
tamanho.

No estudo Doppler, a maior dificuldade encontrada para a sua realização foi


a necessidade de anestesia dos animais, pois já é conhecido que o protocolo
anestésico influencia diretamente na análise da velocidade, e consequentemente
na análise do índice de resistividade. Desta forma, sabe-se que estudos
dopplervelocimétricos renais de Sapajus apella, com diferentes protocolos
anestésicos do utilizado no estudo, possam resultar em diferentes resultados dos
valores obtidos, sendo assim, os valores descritos no presente trabalho, são para
o protocolo: Ketamina 10 mg/kg, Midazolam 0,5 mg/kg (intramuscular), e
manutenção com anestesia inalatória utilizando Isoflurano.

A avaliação da presença, velocidade e direção do fluxo sanguíneo,


diferenciando também de fluxo arterial e venoso foi possível com o estudo
Doppler, assim como descrito por Finn-Bodner; Hudson (1998).

Por não ser viável a apnéia do paciente, em diversas vezes houve


dificuldade de acesso dos vasos em estudo, principalmente das artérias
arqueadas, devido aos movimentos respiratórios. As artérias arqueadas são
menores, dificultando o acesso ultrassonográfico.

A avaliação de fluxo do rim direito também foi mais complexa devido ao seu
posicionamento mais cranial.

Já é descrito por Nyland et al (2005) que, usualmente, a artéria renal se


ramifica antes de entrar no rim, em ramo dorsal e ventral, o que é compatível com
os achados no estudo. A artéria renal bifurcou-se antes de entrar no rim, em todos
os animais avaliados. Já no rim, a artéria renal dividiu-se em artérias interlobares,
as quais se bifurcaram em artérias arqueadas, como descrito por Dyce et al,
47

(2010). Ao estudo Doppler foi possível avaliar com precisão todas as artérias
citadas acima, principalmente com o Doppler colorido. Ao usar o Doppler pulsado,
a dificuldade de identificação do vaso foi maior.

As artérias arqueadas bifurcam-se em artérias interlobulares (DYCE et al,


2010). No presente estudo, não foi possível a avaliação dopplervelocimétrica das
artérias interlobulares devido ao seu pequeno tamanho e dificuldade de
localização com o Doppler espectral. Desta forma, estas artérias somente foram
avaliadas pelo Doppler colorido.

De acordo com Melo et al (2006), há uma redução dos valores de


velocidades sistólica e diastólica dos ramos vasculares maiores para os menores
devido a árvore arterial renal dividir-se em segmentos cada vez menores e mais
numerosos a medida em que o fluxo progride em direção á periferia do órgão.
Esse dado foi observado claramente no presente estudo, visto que as velocidades
sistólicas e diastólicas da artéria renal eram maiores que das artérias interlobares,
que eram maiores que das arqueadas.

Não houve diferença estatística entre rim esquerdo e direito, quando


avaliada a velocidade diastólica final. Porém, ao avaliar a velocidade de pico
sistólico, houve diferença entre as artérias interlobares caudal esquerda e direita,
e entre as artérias arqueadas média e cranial. Durante a avaliação do índice de
resistividade, houve diferença estatística em todos os parâmetros avaliados,
exceto nas artérias interlobares cranial e caudal. Estas diferenças estatísticas são
atribuídas à diferença de tempo anestésico, a pressão arterial e diminuição do
estresse do animal, visto que, ao ser capturado e anestesiado, durante a
avaliação renal esquerda, observou-se uma velocidade e fluxo maior do que
quando o animal já estava com aproximadamente quarenta minutos de anestesia,
onde o estresse já havia diminuído e o pico de ação das drogas já havia ocorrido.

Rivers et al (1996), referem que há trabalhos que comprovam que gatos


anestesiados com ketamina não apresentam diferenças estatísticas na avaliação
do índice de resistividade, quando comparados com gatos não anestesiados. Nos
cães e humanos, este dado não é valido. Rivers et al (1996) e Carvalho (1996)
mencionam que a ação dos anestésicos e sedativos ocasiona diminuição do
índice de resistividade das artérias intrarenais. Observou-se neste estudo, notória
48

a influência do protocolo anestésico utilizado em relação à avaliação


dopplervelocimétrica, visto que os valores de IR e VPS foram diferentes
estatisticamente entre rim direito e rim esquerdo.

Até o presente momento, não foram referidos na literatura valores de


referência dopplervelocimétricos em Sapajus apella. Desta forma, os valores
obtidos no presente trabalho não foram comparados. Compilaram-se assim os
valores dopplervelocimétricos renais de referência em macacos- prego, o que
permite traçar estudos futuros sobre a repercussão hemodinâmica nas
nefropatias, contribuindo para um diagnóstico preciso, nas ocorrências das
alterações vasculares renais da espécie.
CONCLUSÕES
50

7 CONCLUSÕES

• O presente estudo, possibilitou a obtenção de valores de referências


ultrassonográficos renais em modo B e dopplervelocimétricos de Sapajus
apella. Estes valores são de suma importância, pois auxiliam com precisão
o diagnóstico de doenças, quando estas estiverem presentes, contribuindo
para melhor manutenção e preservação da espécie.

• Os valores dopplervelocimétricos obtidos em rim esquerdo foram


superiores aos valores de rim direito, sob o protocolo anestésico Ketamina
10 mg/kg, Midazolam 0,5 mg/kg e Isoflurano.

• O estudo Doppler mostrou-se eficiente na avaliação da perfusão renal,


porém, como toda técnica, possui limitações: a movimentação do animal, o
protocolo anestésico utilizado para contenção química e o estresse de
captura do animal.

• Os rins dos Sapajus apella apresentam características ultrassonográficas


semelhantes entre cães e gatos.
REFERÊNCIAS
52

REFERÊNCIAS

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ARTIGO CIENTÍFICO
57

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como Tab seguida de ponto e do número de ordem (ex.: Tab. 1), mesmo quando
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63

1 DOPPLERFLUXOMETRIA RENAL EM MACACO-PREGO (Sapajus apella) DE


2 CATIVEIRO.

3 RENAL DOPPLERFLUXOMETRY IN CAPUCHIN MONKEY CAPTIVE (Sapajus


4 apella).

5 Luciana Carandina da SilvaA*, Roberta Valerino dos Santos A, Ramiro das Neves Dias
6 NetoA, Carlos Roberto Teixeira B, Vânia Maria de Vasconcelos MachadoB.

7 A- Alunos de pós-graduação de Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina


8 Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu – SP

9 B- B – Professores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de


10 Botucatu – SP

11 E-mail: lucianacarandina@uol.com.br
12

13 RESUMO

14 Realizou-se um estudo ultrassonográfico em modo B e Doppler dos rins de 10


15 macacos- prego, com o objetivo de padronizar os valores ultrassonográficos modo B e
16 valores dopplervelocimétricos renais da espécie. Na análise Doppler, os valores obtidos do
17 índice de resistividade, apresentaram diferenças estatísticas entre rim esquerdo e rim
18 direito nas artérias arqueadas, renal e interlobares. A velocidade de pico sistólico também
19 mostrou diferença estatística entre as artérias interlobares e artérias arqueadas. A
20 velocidade diastólica final não apresentou diferença estatística entre rim esquerdo e direito.
21 A diferença destes valores foi atribuída ao tempo de anestesia e ao estresse que os animais
22 apresentavam logo após a captura. Desta forma, conclui-se que o exame ultrassonográfico
23 Doppler é útil para monitorar alterações renais, porém quando submetidos à anestesia, o
24 protocolo anestésico e o grau de estresse do animal pode influenciar diretamente no cálculo
25 do índice de resistividade.

26

27 Palavras chave: macaco- prego; Sapajus apella; Doppler.

28
29
64

30 ABSTRACT
31

32 This study evaluated ten capuchin monkeys on ultrasound B-mode and Doppler, in
33 order to standardize ultrasound B-mode and Doppler renal values of this specie. On
34 Doppler analysis, resistivity index values presented statistical differences between the left
35 and right kidney on renal, inrterlobar and arcuate arteries. VPS also showed statistical
36 difference between the interlobar arteries and arcuate arteries. VDF showed no statistical
37 difference between left and right kidney. The difference between these values was
38 attributed to anesthesia time and capture related stress. Thus, it is concluded that Doppler
39 ultrasonography is useful in monitoring renal diseases. However, when undergoing
40 anesthesia, the anesthetic protocol and the level of stress can directly influence the
41 calculation of the resistivity index.

42 Key words: capuchin monkeys; Sapajus apella; Doppler.


43
44 INTRODUÇÃO

45 A ultrassonografia Doppler têm se mostrado útil para o fornecimento de informações


46 anatômicas e hemodinâmicas de diversos órgãos, entre eles o rim (Carvalho, 2009). Este
47 exame pode indicar alterações renais, mesmo quando os exames bioquímicos ainda não
48 apresentam alterações, fornecendo ao clínico um diagnóstico precoce (Carvalho, 2009;
49 Melo, 2006; Alves, 2007). A obtenção de um padrão de normalidade dos aspectos normais
50 da ultrassonografia Doppler é fundamental para sua correta interpretação.

51 Não há na literatura nenhuma descrição sobre o mapeamento Doppler para o estudo


52 da vasculatura renal em macacos- prego, desta forma, este estudo visa padronizar os
53 valores normais do índice de resistividade (IR), velocidade de pico sistôlico (VPS) e
54 velocidade diastólica final (VDF) das artérias renais (AR), interlobares (IL) e arqueadas
55 (ARQ) desta espécie, visando uma melhor manutenção destes animais, contribuindo para
56 sua preservação.

57 MATERIAIS E MÉTODOS
58
59 No presente estudo foram avaliados 10 macacos- prego (Sapajus apella), sendo três
60 machos e sete fêmeas. Destes, oito adultos com idade acima de quatro anos, e dois jovens
65

61 com idade até quatro anos. Para a realização dos exames ultrassonográficos, foi utilizado
62 um aparelho ultrassonográfico da marca Esaote®, modelo My Lab 30 VET GOLD, com
63 transdutor multifrequencial linear (6 a 10 MHz).
64 Os animais foram submetidos a jejum alimentar e hídrico por 12 horas antes do exame
65 devido a anestesia e para evitar a distensão gasosa, a qual dificultaria a visibilização
66 vascular abdominal. Após o preparo, os animais eram capturados com puçá, e em seguida
67 anestesiados com Ketamina 10 mg/kg, Midazolam 0,5 mg/ kg (via intramuscular), e
68 mantido em anestesia inalatória com Isoflurano.
69 A comprovação da higidez dos animais foi feita através de hemograma,uréia e
70 creatinina e urinálise.

71 A ultrassonografia modo B do rins foi realizada, analisando o rim por cortes


72 longitudinais, transversais e coronais, medindo assim altura, espessura e largura renal e
73 espessura da região cortical. Ainda no modo B, foi calculado de forma automática no
74 aparelho o volume dos rins, e comparado este volume obtido com a seguinte fórmula já
75 conceituada para volumes renais, segundo Nyland et al (2005): Volume renal=
76 comprimento renal x largura renal x espessura renal x 0,523.

77 O Doppler colorido foi utilizado para estudar a arquitetura vascular renal,


78 possibilitando a identificação das artérias renais, artérias interlobares e artérias arqueadas.
79 Posteriormente, foi utilizado o Doppler espectral para caracterizar cada uma das artérias,
80 diferenciando-as das veias, e possibilitando a realização da mensuração da velocidade de
81 pico sistólico (VPS), velocidade diastólica final (VDF) e do índice de resistividade (IR)
82 das artérias renais.

83 Para todos os parâmetros avaliados, foram realizadas três mensurações e,


84 posteriormente, realizada análise descritiva através de gráficos de média e desvio padrão.
85 Para o índice de resistividade (IR) e velocidade de pico sistólico e velocidade diastólica
86 final, foi realizado o teste T studant, com o intuito de realizar uma comparação do rim
87 esquerdo e do rim direito, com nível de significância de 5% (p< 0,05).

88
89 RESULTADOS
90
91 Na ultrassonografia modo B, os valores obtidos foram: comprimento = 3,17 ± 0,53 cm
92 rim esquerdo e 3,14 ± 0,47 cm rim direito; espessura renal= 1,13 ± 0,24 cm e rim esquerdo
66

93 e 1,24 ±0,20 cm rim direito; largura renal = 1,18 ± 0,21 cm rim esquerdo e 1,25 ± 0,18 cm
94 rim direito; espessura da região cortical = 0,38 ± 0,08 rim esquerdo e 0,37 ± 0,05 cm rim
95 direito. Volume = 2,42 ± 0,97 ml rim esquerdo e 2,58 ± 0,9 ml rim direito. Não houve
96 diferença estatística entre as médias obtidas.
97 Durante a análise dopplervelocimétrica, foi realizada a mensuração do índice de
98 resistividade nas artérias renal esquerda (figura 1) e direita, das artérias interlobares
99 esquerda e direita (IL) em polo cranial (CR), médio (M) e caudal (CD), e das artérias
100 arqueadas (ARQ) esquerda e direita em polo cranial, médio e caudal. Os resultados estão
101 descritos nas figuras 2, 3 e 4. Aplicando o teste t student (P>0,05) às médias dos valores de
102 índice de resistividade, houve diferença estatística entre as artérias arqueadas direita e
103 esquerda em polo cranial, médio e caudal, assim como nas artérias renal direita e esquerda.
104 Nas artérias interlobares (IL), somente houve diferença estatística na artéria IL média.

105 A velocidade de pico sistólico (VPS) foi mensurada nas artérias renal esquerda e
106 direita, nas artérias interlobares e arqueadas em polo cranial, médio e caudal dos rins
107 direito e esquerdo. Os resultados estão demonstrados nas figuras 5, 6 e 7. Aplicando o
108 teste t student às médias dos valores de VPS das artérias interlobares (IL) e arqueadas
109 (ARQ) em polo cranial, médio e caudal, e das artérias renais, houve diferença estatística
110 entre artérias interlobares em polo caudal de rim esquerdo e direito, assim como artérias
111 arqueadas em polo médio e cranial de rim esquerdo e direito. O valor da VPS das artérias
112 renais esquerda e direita, com a aplicação do teste t student, não apresentou diferença
113 estatística.

114 A velocidade diastólica final (VDF) foi mensurada nas artérias renal esquerda e
115 direita, nas artérias interlobares e arqueadas em polo cranial, médio e caudal dos rins
116 direito e esquerdo. Os resultados foram descritos nas figuras 8, 9. Aplicando o teste t
117 student às médias dos valores de VDF das artérias interlobares (IL) e arqueadas (ARQ) em
118 polo cranial, médio e caudal, e das artérias renais, não houve diferença estatística entre rim
119 esquerdo e rim direito.

120
121 DISCUSSÃO
122
123 A ultrassonografia Doppler na Medicina Veterinária é um método recente e que ainda
124 há possibilidade de diversos estudos de padronização desta técnica. O presente estudo foi
67

125 realizado em 10 macacos- prego, hígidos, anestesiados com Ketamina, Midazolam e


126 Isoflurano. A anestesia foi necessária para a contenção dos animais, sem a qual não seria
127 possível a realização do exame.

128 O tempo médio para a realização de cada exame foi de uma hora, sendo que a
129 avaliação do rim esquerdo foi com aproximadamente dez minutos após a aplicação da
130 medicação pré-anestésica, e a do rim direito em aproximadamente quarenta minutos
131 durante o período trans anestésico, o que pode ter influenciado no fluxo sanguíneo renal,
132 assim como referem RIVERS et al (1996), que citam que o tempo e o protocolo anestésico
133 podem influenciar no cálculo do IR dos animais. Tais dados sugerem a necessidade de
134 novos estudos, comparando o IR do rim direito, exatamente no mesmo tempo que foi
135 avaliado o rim esquerdo.

136 Os valores obtidos do IR e VPS do rim esquerdo foram elevados quando comparados
137 aos valores do rim direito. Estes resultados evidenciam a ação renal da Ketamina,
138 contemplando a citação de Silva et al (2010), que referem que a Ketamina apresenta seu
139 pico plasmático em aproximadamente trinta minutos.

140 Durante a ultrassonografia modo B, os resultados obtidos foram inferiores aos valores
141 já descrito por Alves et al (2007). Porém, Alves et al (2007) não citam os pesos dos
142 animais avaliados; desta forma, atribui-se as diferença citadas acima, possivelmente ao
143 peso dos animais avaliados. No presente trabalho, foi mensurada a espessura renal, ainda
144 não descrita anteriormente nesta espécie.

145 No estudo Doppler, a maior dificuldade encontrada para a sua realização foi à
146 necessidade de anestesia dos animais, pois já é conhecido que o protocolo anestésico
147 influencia diretamente na análise da velocidade, e consequentemente na análise do índice
148 de resistividade. Desta forma, sabe-se que estudos dopplervelocimétricos renais de Sapajus
149 apella, com diferentes protocolos anestésicos do utilizado no estudo, possam resultar em
150 diferentes resultados dos valores obtidos, sendo assim, os valores descritos no presente
151 trabalho, são para o protocolo: Ketamina 10 mg/kg, Midazolam 0,5 mg/kg
152 (intramuscular), e manutenção com anestesia inalatória utilizando Isoflurano.

153 De acordo com Melo et al (2006), há uma redução dos valores de velocidades
154 sistólica e diastólica dos ramos vasculares maiores para os menores devido a árvore arterial
155 renal dividir-se em segmentos cada vez menores e mais numerosos a medida em que o
68

156 fluxo progride em direção á periferia do órgão. Esse dado foi observado claramente no
157 presente estudo, visto que as velocidades sistólicas e diastólicas da artéria renal eram
158 maiores que das artérias interlobares, que eram maiores que das arqueadas.

159 Não houve diferença estatística entre rim esquerdo e direito, quando avaliada a
160 velocidade diastólica final. Porém, ao avaliar a velocidade de pico sistólico, houve
161 diferença entre as artérias interlobares caudal esquerda e direita, e entre as artérias
162 arqueadas média e cranial. Durante a avaliação do índice de resistividade, houve diferença
163 estatística em todos os parâmetros avaliados, exceto nas artérias interlobares cranial e
164 caudal. Estas diferenças estatísticas são atribuídas à diferença de tempo anestésico, a
165 pressão arterial e diminuição do estresse do animal, visto que, ao ser capturado e
166 anestesiado, durante a avaliação renal esquerda, observou-se uma velocidade e fluxo maior
167 do que quando o animal já estava com aproximadamente quarenta minutos de anestesia,
168 onde o estresse já havia diminuído e o pico de ação das drogas já havia ocorrido.

169 Rivers et al (1996), referem que há trabalhos que comprovam que gatos anestesiados
170 com ketamina não apresentam diferenças estatísticas na avaliação do índice de
171 resistividade, quando comparados com gatos não anestesiados. Nos cães e humanos, este
172 dado não é valido. Rivers et al (1996) e Carvalho (2009) mencionam que a ação dos
173 anestésicos e sedativos ocasiona diminuição do índice de resistividade das artérias
174 intrarenais. Observou-se neste estudo, notória a influência do protocolo anestésico
175 utilizado em relação à avaliação dopplervelocimétrica, visto que os valores de IR e VPS
176 foram diferentes estatisticamente entre rim direito e rim esquerdo.

177 Até o presente momento, não foram referidos na literatura valores de referência
178 dopplervelocimétricos em Sapajus apella. Desta forma, os valores obtidos no presente
179 trabalho não foram comparados. Compilaram-se assim os valores dopplervelocimétricos
180 renais de referência em macacos- prego, o que permite traçar estudos futuros sobre a
181 repercussão hemodinâmica nas nefropatias, contribuindo para um diagnóstico preciso, nas
182 ocorrências das alterações vasculares renais da espécie.

183
184 CONCLUSÃO

185 • O presente estudo, possibilitou a obtenção de valores de referências


186 ultrassonográficos renais em modo B e dopplervelocimétricos de Sapajus apella.
69

187 Estes valores são de suma importância, pois auxiliam com precisão o diagnóstico
188 de doenças, quando estas estiverem presentes, contribuindo para melhor
189 manutenção e preservação da espécie.

190 • Os valores dopplervelocimétricos obtidos em rim esquerdo foram superiores aos


191 valores de rim direito, sob o protocolo anestésico Ketamina 10 mg/kg, Midazolam
192 0,5 mg/kg e Isoflurano.

193 • O estudo Doppler mostrou-se eficiente na avaliação da perfusão renal, porém, como
194 toda técnica, possui limitações: a movimentação do animal, o protocolo anestésico
195 utilizado para contenção química e o estresse de captura do animal.

196
197 AGRADECIMENTOS
198
199 À CAPES pelo apoio financeiro em forma de bolsa de mestrado, o que possibilitou a
200 realização deste trabalho.
201
202 Este trabalho foi aprovado pelo SISBIO e Comitê de Ética FMVZ- UNESP Botucatu.
203
204 REFERÊNCIAS
205
206 ALVES, F. R. et al. Avaliação ultra-sonográfica do sistema urinário, figado e útero do
207 macaco-prego, Cebus apella. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.27, n.9, p. 377-382,
208 2007.
209
210 CARVALHO, C.F. Dopplervelocimetria renal em gatos persa. 2009. 103p. Tese
211 (Doutorado). Universidade de São Paulo.
212

213 MELO, M.B. et al. Dopplerfluxometria das artérias renais: valores normais das
214 velocidades sistólica e diastólica e do índice resistivo nas artérias renais principais.
215 Arquivo Brasileiro de Medicina Veteinária e Zootecnia, v.58, n.4. p. 691- 693, 2006.

216
70

217 NYLAND, T. G.; MATTOON, J. S.; HERRGESELL, E. J.; WISNER E. R. Trato urinário
218 In: NYLAND, T. G.; MATTOON, J. S. Ultra-som diagnóstico em pequenos animais.
219 São Paulo: Roca, 2005. p. 161-198.

220
221 RIVERS, B. J.; WALTER, P. A.; O’BRIEN. T. D.; POLZIN, D. J. Duplex Doppler
222 estimation of pourcelot resistive index in arcuate arteries of sedated normal cats. Journal
223 of Veterinary Internal Medicine, v. 10, n. 1, p. 28-33, 1996.
224

225 SILVA, F.C.C.; DANTAS, R.T.; CITÓ, M.C.O.; SILVA, M.I.G.; VASCONCELOS,
226 S.M.M.; FONTELES, M.M.F.; GIANA, S.B.V.; SOUZA, F.B.F. Ketamina, da anestesia
227 ao uso abusivo: artigo de revisão. Revista Neurociencia 2010, v. 18, n. 2, p. 227-237
228

229

230

231

232 Figura 1. Ultrassonografia renal de Sapajus apella, demosntrando o cálculo do


233 índice de resistividade, velocidade de pico sistólico e velocidade diastólica final,
234 da artéria renal.
235
71

236
237 Figura 2. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice
238 de resistividade das artérias arqueadas (ARQ) em rim esquerdo (RE) e
239 rim direito (RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).
240

241

242
243 Figura 3. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice
244 de resistividade das artérias renais em rim esquerdo (RE) e rim direito
245 (RD).
246
72

247
248 Figura 4. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão do índice de
249 resistividade das artérias interlobares (IL) em rim esquerdo (RE) e rim
250 direito (RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).
251

252

253

254
255 Figura 5. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da VPS das
256 artérias arqueadas (ARQ) de rim esquerdo (RE) e rim direito (RD), em polo
257 médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).
258

259
73

260

261

262 Figura 6. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade


263 de pico sistólico (VPS) da artéria renal em rim esquerdo (RE) e rim direito
264 (RD).
265

266

267
268
269 Figura 7. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade
270 de pico sistólico (VPS) das artérias interlobares em rim esquerdo (RE) e rim
271 direito (RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).
272
273
274
275
74

276

277

278 Figura 8. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade


279 diastólica final (VDF) das artérias arqueadas (ARQ) em rim esquerdo (RE) e rim
280 direito (RD), em polo médio (M), cranial (CR) e caudal (CD).

281

282 Figura 9. Gráfico demonstrando a média com desvio padrão da velocidade


283 diastólica final (VDF) das artérias renal em rim esquerdo (RE) e rim direito (RD),
284 e das artérias interlobares (IL) de RE e RD em polo médio (M), cranial (CR) e
285 caudal (CD).

286
ANEXOS
65

ATESTADO

Atesto para os devidos fins, que o Projeto de Pesquisa "Avaliação do trato urinário
de Cebus Apella por meio de dopplervelocimetria" Protocolo n° 208/2012-CEUA,
de Luciana Carandina da Silva, aluno(a) do Programa de Pós-Graduação em
Medicina Veterinária, Mestrado, desta Faculdade, está de acordo com os Princípios
Éticos na Experimentação Animal e foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de
Animais (CEUA) desta Faculdade. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, em
09 de novembro de 2012.

Profa.Ass.Dra. Maria Lúcia Gomes Lourenço

Presidente da CEUA da FMVZ, UNESP - Campus de Botucatu

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