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Monetarismo, Milton Friedman.

“O Papel da Política Monetária”

Introdução

O Monetarismo é uma escola de pensamento macroeconômico com


fundamentos associados especialmente à Escola de Chicago, originada na
década de 1950 com as obras de Milton Friedman. Essa escola ampliou o
debate econômico com um novo corpo teórico oposto às idéias keynesianas,
que eram fortemente aceitas naquela época, através da discussão sobre o
papel da moeda na economia. Ademais, teve como um de seus objetivos
reforçar a Teoria Quantitativa da Moeda. Esta demonstrava os pontos teóricos
principais dos monetaristas, como, por exemplo, a neutralidade da moeda no
longo prazo (e a sua não neutralidade no curto prazo) e a proposição de que a
inflação é função do estoque de moeda, justificando a emblemática frase de
Friedman “a inflação é sempre e em todos os lugares um fenômeno monetário”.

Além dessas características, a teoria monetária também está associada


à curva de Phillips, que estabelece uma relação inversa entre desemprego e
inflação, no que diz respeito à taxa natural de desemprego, visto que ambas
evidenciam que mudanças nos salários implicam pressões no mercado de
trabalho. Entretanto, Friedman critica a teoria de Phillips por este analisar tal
efeito de maneira equivocada, ou seja, sem destacar a diferença entre o nível
de preços real e o nominal e, por conseqüência, o salário real e nominal. Esse
equívoco, segundo o líder monetarista, ocorria também em certas análises
sobre o comportamento das taxas de juros. Portanto, esse pensamento
evidencia a necessidade em distinguir os fenômenos reais e nominais que
atuam na economia. Além disso, é importante destacar também que tais
conclusões foram baseadas na hipótese das expectativas adaptativas. É com
base nesses pontos principais, que serão elucidados ao longo deste trabalho,
que Friedman discorre sobre o papel da política monetária e como esta deve
ser gerida.

O Papel das Expectativas e Como são Formadas

Em seus principais estudos sobre a política monetária e sobre a renda


permanente, Friedman adota a hipótese das teorias adaptativas. Estas são
denominadas assim, pois se comportam adaptativamente e formam-se com
base nas variações de preços ocorridas anteriormente, de modo indutivo.
Como no curto prazo não há informações suficientes para se estabelecer
perfeitamente uma expectativa futura de preços que necessariamente se
efetive, os agentes econômicos formam suas expectativas com base nos níveis
de preços passados, de forma ponderada. Isto é, estabelece-se um parâmetro
no qual os níveis de preços mais recentes possuem peso maior sobre as
expectativas do que aqueles que ocorreram mais anteriormente. Nesse
método, os agentes sempre incorporam parte de seus erros cometidos no
passado e realizam correções nessas falhas de previsão. No entanto, esse
processo de ajuste é demorado, fazendo com que, dado um choque monetário,
esses erros sejam corrigidos apenas no longo prazo, quando os agentes
acertam em suas previsões e nível de pleno emprego é alcançado.

Friedman atribui às expectativas um papel fundamental para a política


monetária, de acordo com a sua eficácia no curto e longo prazo. Pela própria
definição das expectativas adaptativas, é evidente que ao afetar a regularidade
da oferta de moeda através da política monetária, a previsão irá divergir do
preço efetivo. Dessa forma, o economista condena instrumentos de política que
afetem variáveis reais, como a taxa de juros e a taxa de desemprego.

Ao analisar o impacto de uma política monetária expansionista sobre a


taxa de juros, temos que um aumento na oferta nominal de moeda causa efeito
positivo sobre a demanda por moeda, o que reduz a taxa de juros e aumenta o
nível de investimento. Isso leva a um crescimento da renda, elevando a
demanda por moeda e por empréstimo, além de um aumento nos preços (o
que reduz a oferta real de moeda). Esse efeito, por si só, já eliminaria a
redução inicial dos juros. Ademais, se os agentes formarem expectativas sobre
esse aumento temporário nos preços, a taxa de juros irá atingir um nível
superior àquele anterior à implementação da política monetária. Logo,
evidencia-se que a taxa de juros só poderá atingir um nível inferior ao seu nível
natural durante períodos limitados. Um efeito mais prolongado necessitaria de
expansões cada vez maiores na emissão de moeda, de modo a superar as
expectativas dos agentes.

A utilização da taxa de desemprego como instrumento possui eficácia


similar ao da taxa de juros e é caracterizada por um efeito denominado “ilusão
monetária”, que ocorre devido às expectativas adaptativas. Uma expansão
monetária irá afetar positivamente o produto e, posteriormente, o nível de
preços. Esse aumento no produto fará com que a demanda por trabalho
aumente, elevando, por conseqüência, os salários nominais. Este fato trará
novos trabalhadores para o mercado de trabalho. Entretanto, ao revisarem
suas expectativas, os agentes irão perceber que o aumento dos preços em
conjunto com o aumento do salário nominal não aumentou o salário real,
fazendo com que estes deixem o mercado de trabalho novamente, atingindo a
taxa de desemprego natural. Esse processo verifica-se, justamente, a partir da
maneira como as expectativas são formadas.

Portanto, Friedman conclui que os efeitos gerados pela política


monetária são apenas temporários, ou seja, efetivam-se apenas no curto
prazo. Ao corrigirem suas expectativas e acertarem sua previsão devido a
maior quantidade de informação disponível no longo prazo, os efeitos serão
similares ou até mesmo inferiores àquele anterior à política monetária. Logo, o
trade-off entre desemprego e inflação proposto por Phillips existe apenas no
curto prazo, reforçando a hipótese da neutralidade da moeda.

Bibliografia:

CUTRUNEO, T. “Regras, Estabilização e Monetarismo”. 2010. Dissertação (Mestrado


em Economia de Empresas) – FGV

FRIEDMAN, M. “O papel da Política Monetária”. 1978. In: SHAPIRO, E. “Análise


Macroeconômica: Leituras Selecionadas”. São Paulo: Atlas.

NASCIMENTO, P. “Dinheiro e Política Monetária: Friedman x Davidson”. 2014.


Dissertação (Mestrado em Ciências Econômicas) – Universidade Estadual de
Campinas.

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