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Publicação mensal da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Setembro a Novembro de 2019 ISSN 2177-9988
Sedufsm
Em 2 de outubro, estudantes, Arquivo/Sedufsm
docentes e técnico-administrati-
vos da UFSM rejeitaram, a exem-
comemora
plo de diversas outras universida-
des do país, o 'Future-se'. Ainda
assim, o cenário reservado ao dia
30 anos
a dia da universidade e especial-
mente aos pesquisadores é de
bastante dificuldade. Na reporta-
gem especial (págs. 4 e 5), tra- No mesmo ano em que caía o Muro de Berlim e a
zemos o relato de alguns estu- democracia brasileira dava seus primeiros passos
dantes da pós-graduação sobre a após a ditadura, um grupo de docentes decidiu criar,
insegurança resultante do cená- em Santa Maria, um sindicato calcado em princípios
rio de cortes e seus impactos na como autonomia, independência e defesa intransi- anos
gente dos direitos da categoria. Em 2019, esse sindicato comemorou seus 30 anos
vida material e na potência criati-
va dos pesquisadores. Já em Ge-
com um ciclo de debates (que discutiu o ‘Future-se’, a crise na Amazônia, o investi-
mento em ciência e tecnologia e a queda do Muro de Berlim) e um jantar baile marca-
SEDUFSM
ral (pág. 7), trazemos algumas do pelo afeto e rememoração de momentos ímpares dessas três décadas. Pág. 3.
SEÇÃO SINDICAL DOS DOCENTES DA UFSM
SEÇÃO SINDICAL DO ANDES-SN
avaliações sobre a nova versão do
'Future-se', considerada 'mais do
mesmo' e, em vários aspectos,
Ainda nesta edição:
ainda mais danosa que o texto Que relação existe entre a dívida pública e a falta
original.
de verba nas universidades? Com a palavra, pág. 6
ACO M PAN H E A SED U FSM N A IN TERN ET
PAINEL
EXPEDIENTE
A diretoria da SEDUFSM é composta por: Presidente: Júlio Ricardo Quevedo dos Santos; Vice-Presidente: João Carlos Gilli Martins; Secretária-Geral: Maristela da Silva Souza; Primeira
Secretária: Leila Regina Wolff; Tesoureiro-Geral: Gihad Mohamad; Primeiro Tesoureiro: Carlos Alberto da Fonseca Pires; Primeira Suplente: Valeska Fortes de Oliveira; Segunda
Suplente: Adriana Graciela Desire Zecca; Terceira Suplente: Roselene Moreira Gomes Pommer.
Jornalista responsável: Bruna Homrich Vasconcellos (MTb nº 17487) Equipe jornalismo: Fritz R. Nunes, Ivan Lautert e Rafael Balbueno Estagiários (as) de jornalismo: Lucas
Reinehr e Amanda Xavier Equipe de Relações Públicas: Fernanda Brusius e Vilma Ochoa Financeiro: Dirleia Balensiefer Secretaria: Vinícius Heinz e Rossana Siega
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda Ilustração: Rafael Balbueno Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS). Tiragem: 1.600 exemplares.
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem as assina. Sugestões, críticas e opiniões podem ser enviadas via fone (55) 3222-5765 ou pelo email
sedufsm@terra.com.br
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Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2019 03
SEDUFSM
Confraternização
(Entretítulo – Acompanha foto do jantar)
Confraternização
No último dia 19 de outubro, no Park Hotel Morotin,
ocorreu o jantar em homenagem ao Dia do Professor.
“Apesar dos dias difíceis, vamos aproveitar este mo-
mento para confraternizar”, destacou o vice-presidente
da Sedufsm, professor João Carlos Gilli Martins.
Juntamente com os professores Gihad Mohamad e
Maristela Souza, ele recebeu os cerca de 280 convidados
que compareceram ao jantar baile.
Há 30 anos, um período emblemático da história dava- seção sindical, de forma que um grupo de aproximada-
se por encerrado. A divisão do mundo em dois polos mente 100 professores realizou uma assembleia no dia 7
antagônicos capitaneados por Estados Unidos e União de novembro de 1989 – dois dias antes da queda do muro
Soviética, e conhecida por Guerra Fria, caía simbolica- de Berlim – e decidiu fundar a Sedufsm.
mente junto ao Muro de Berlim, responsável por separar Rondinel lembra que o movimento docente na UFSM
a Alemanha Ocidental – de orientação capitalista – e a nasceu nos anos 1960, consolidou-se nos anos 1980 - na
Alemanha Oriental – socialista. Um pouco antes daquele luta pela abertura política, pelas eleições diretas, pela
nove de novembro de 1989, quando o Muro caiu, uma nova Lei de Diretrizes e Bases da educação, pelo plano de
série de regimes socialistas espalhados pelo Leste Euro- carreira, pelos reajustes salariais, e por uma universidade
peu começavam a ser questionados e substituídos por pública e gratuita para todos. “Em 1989 houve um ponto
regimes democráticos liberais. Esses fenômenos tiveram de corte: a APUSM ficou com as funções associativas e Jantar da Sedufsm em 2019 fortaleceu
implicações em todo o mundo. sociais e a SEDUFSM assumiu o caráter de ser uma seção vínculos entre antigos e novos docentes
1989 também foi o ano das primeiras eleições diretas sindical, dentro de um Sindicato Nacional. A história mos-
Pautas permanentes
para presidente da República no Brasil no pós-ditadura. tra, trinta anos depois, que a decisão tomada em 7 de
Naquele ano, concorriam à presidência 22 candidatos, novembro de 1989 [data da assembleia de fundação da
mas só dois foram ao segundo turno: Fernando Collor de seção sindical] foi correta e corajosa”, retoma o docente.
Mello (PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com vitória Em 2019, a Sedufsm comemora seus 30 anos junto No capitalismo, nada é permanente. Avanços e
do primeiro. Quem ajuda a relembrar um pouco daquele com uma série de fatos históricos. O final dos anos 1980 e retrocessos garantem, por um lado, conquista de direi-
período é o docente do departamento de Economia e início da década de 1990 foi tumultuado no mundo todo, tos e, por outro, impõem a retirada destes direitos
Relações Internacionais, Ricardo Rondinel. e estes eventos, de uma forma ou de outra, tiveram sua quando processos de crise econômica e política se
“Nos anos 1980 começa a aumentar a inflação no influência na conformação do contemporâneo movimen- agudizam. O movimento docente brasileiro tomou
parte fundamental nas lutas pela redemocratização,
Brasil. Em 1979 a inflação estava em 80%, em 1984 to sindical brasileiro, no qual tem parte central o ANDES-
levando a reivindicação de uma educação universal e
passou a 200% e em 1989 chegou a 1.800%. Na segunda SN.
gratuita a patamares mais amplos da sociedade.
metade dos anos 1980, o Brasil passou a ter uma
hiperinflação, que culminou, em março de 1990, com
30 anos depois, Rondinel relembra algumas pautas de luta dos anos
1980, e podemos perceber que várias delas se man-
percentuais próximos a quase 80% ao mês. A aceleração oanos
(Entretítulo) 30 que mudou?
depois, o que mudou?
têm na atualidade, sendo norteadoras da atuação do
do processo inflacionário provocava perdas salariais
sindicato:
reais, porque os salários eram reajustados quase sempre Três décadas depois, a Sedufsm já não é mais a jovem e
• manutenção e ampliação do ensino público,
em percentuais inferiores a inflação. Para fazer frente a inexperiente seção sindical lutando para conquistar sua
gratuito, de qualidade e socialmente referenciado;
isso era necessário reivindicar uma política salarial que autonomia financeira, política e patrimonial. Como uma
• autonomia e funcionamento democrático das uni-
evitasse as perdas pela elevada inflação. Nesse contexto pessoa que, aos 30, normalmente já tem a maturidade
versidades públicas e de direito privado, com base em
as associações docentes em nível nacional passam a ter necessária para caminhar de forma consequente e asser-
colegiados e cargos de direção eletivos;
muita importância. Embora não existisse o direito à sindi- tiva, assim é nossa seção sindical.
• estabelecimento de um padrão unitário de quali-
calização e à greve, as associações docentes tiveram um “A dialética diz que tudo está em constante transfor-
dade para o ensino superior, estimulando a pesquisa e
papel aglutinador e a ANDES se fortaleceu nesse mação. Em trinta anos, entre 1989 e 2019, a sociedade
a criação intelectual nas universidades;
contexto”, conta Rondinel. mudou, as tecnologias mudaram, as formas de comuni-
• carreira única para os docentes das instituições de
As eleições diretas foram resultado de uma luta iniciada cação mudaram, as formas de organização mudaram, a
ensino superior;
ainda durante a ditadura militar, em prol da democracia. carreira docente mudou, a constituição do corpo docen-
• indissociabilidade entre ensino, pesquisa e exten-
Tal luta também resultou na Constituinte de 1988 e na te mudou e as ideologias mudaram”, destaca Rondinel. são;
aprovação do Regime Jurídico dos Servidores Civis, em Para ele, que se sindicalizou em 22 de junho de 1990, • dotação de recursos públicos orçamentários sufi-
1990, que garantiu o direito de greve e de organização existe uma diferença entre o docente dos anos 1980 e o cientes para o ensino e a pesquisa nas universidades
sindical ao funcionalismo público. Frente a esta conquis- docente de 2019: enquanto o primeiro ainda acreditava públicas;
ta, o ANDES-SN deixou de ser Associação e se converteu que o sindicato podia defender seus interesses e era • criação de condições de adequação da universidade
em Sindicato Nacional. Com isso, as associações locais de necessário unir-se, os novos docentes foram formados à realidade brasileira;
docentes nas universidades tornaram-se seções sindicais em uma sociedade que preconiza o esforço individual e • garantia do direito à liberdade de pensamento nas
vinculadas à entidade nacional. afugenta as saídas coletivas. contratações e nomeações para a universidade e no
Em Santa Maria, contudo, o processo foi um tanto “O docente de hoje é muito ocupado pelas diferentes exercício das funções e atividades acadêmicas;
diferente. A associação que representava a categoria – tarefas que tem. Entretanto, sua pouca adesão ao sindi- • garantia do direito à liberdade de organização
Apusm – não se converteu, por divergências politicas, em cato coloca um desafio para os próximos anos. É neces- sindical em todas as instituições de ensino superior.
04 SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2019 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2019 05
REPORTAGEM ESPECIAL
grande por parte de quem se propõe a ciclo de debates referente ao aniver- No período da Guerra Fria, em colegas e vizinhos e mostrar o que eles
1.260.682.392
essa tarefa. sário de 30 anos da Sedufsm, a ser que pudesse romper que o mundo dividiu-se em dois perdem com o fim da universidade. Se
“A pesquisa no Brasil é de qualidade, comemorado no próximo 7 de novem-
814.872.471
2.703.069.094
3.522.704.392
4.772.652.757
5.337.199.662
7.016.165.625
5.899.373.342
4.682.143.915
3.837.301.197
671.445.990
579.201.399
mas a gente tem que se esforçar muito bro. neado pelos Estados Unidos, de daqui a 10 anos? Que tipo de aluno va-
mais do que países que têm um investi- Simone diz que para atender ao novo dos EUA’’ caráter capitalista; outro, lidera- mos formar?”, questiona a pedagoga e
mento maior para produzir resultados padrão de financiamento, muitos do pela União Soviética, socia- servidora da UFRJ.
bons. O ambiente acadêmico é pesquisadores vêm tendo de abrir mão lista -, a ciência e a tecnologia
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
FONTE DOS DADOS: CAPES
06 SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2019 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
COM A PALAVRA
Enquanto não enfrentarmos a lógica que rege o sistema financeiro no cou na centralidade a questão da dívida mentos a legitimação do corte
Brasil, não conseguiremos reverter a “equação desastrosa” responsável pública. Lula, quando candidato à nos investimentos públicos em
por desviar recursos das áreas sociais e direcioná-los para o pagamento de presidência em 1989, escreveu uma ciência e tecnologia?
juros e amortizações de uma dívida pública que, operando conforme carta ao povo brasileiro dizendo que uma Reis - Vivemos a maior ameaça contra a
mecanismos ditados pelos próprios rentistas, parece feita justamente para das questões fundamentais para resol- universidade pública, o ensino superior,
não ser quitada. A análise é de Luiz Fernando Reis, docente do Colegiado ver os problemas do país seria o a ciência e a tecnologia. Temos dois
de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), enfrentamento à dívida pública. Já na fundamentalismos: de um lado, o funda-
em Cascavel. Ele veio a Santa Maria, a convite da Sedufsm, no dia 14 de campanha eleitoral de 2002, nós temos a mentalismo econômico do Paulo
outubro, para uma palestra sobre a relação entre o pagamento da dívida nova carta ao povo brasileiro, em que Guedes, um economista ultraliberal vin-
pública e o decrescente investimento em ciência e tecnologia. Tema Lula diz ao setor financeiro: “cês fiquem culado à Escola de Chicago, que defende
semelhante foi tratado por ele em sua tese de doutorado, intitulada tranquilos, pois os rentistas vão conti- a ausência quase que absoluta do Estado
“Dívida pública, política econômica e o financiamento das universidades nuar a ganhar dinheiro, nós não vamos do ponto de vista do financiamento das
federais nos governos Lula e Dilma (2003-2014)”, defendida em 2015 pela enfrentar o mecanismo da dívida”. E não políticas sociais; por outro lado, há um
UERJ e disponível para leitura no site da Auditoria Cidadã da Dívida. é a toa que Lula vai buscar o Henrique tipo de fundamentalismo, representado
Abaixo, trechos da entrevista concedida por Reis à Sedufsm. A íntegra está Meirelles, vice-presidente do banco de por setores do governo, como o ministro
em nosso site. Boston, um homem que circulava no da Educação [Abraham Weintraub], que
setor financeiro. Quando Lula trouxe o acreditam que a terra é plana e que têm
Sedufsm - Segundo dados das 19,21%. Isso dá praticamente um quinto Meirelles para o Banco Central tivemos a uma campanha orquestrada contra a
tabelas disponibilizadas pelo do orçamento federal. Enquanto isso, a prova cabal de que ele [Lula] tinha feito ciência. Como no Brasil as universidades
senhor, o comprometimento da saúde fica com 3,87% do orçamento e as uma política de conciliação com o setor públicas são responsáveis por 90% da
União com a dívida pública universidades com 1,59%. financeiro. Desde FHC, todas as prin- produção científica, nós estamos na
cresceu exponencialmente no Enquanto a gente não discutir essa cipais autoridades da área econômica linha de tiro. Não é como no governo
período entre 2003 e 2018. Por equação desastrosa não temos como são homens do mercado. FHC [Fernando Henrique Cardoso], que
que essa dívida só aumenta? reverter isso. No final de 2015, a Audi- Os movimentos e partidos de esquerda as políticas em relação à universidade
Reis - Não dá para entender a crise do toria Cidadã conseguiu, pela primeira abandonaram essa bandeira. O Rafael eram no sentido da restrição do finan-
financiamento da educação, da saúde, vez, aprovar, junto ao Correa, no Equador, não ciamento. O Bolsonaro é pior que isso.
da ciência e tecnologia sem levar em Congresso, a auditoria da é um homem de esquer- Ele não quer apenas economizar dinhei-
conta que isso faz parte de uma política dívida pública brasileira, “Desde FHC, da, é um economista
formado em Chicago, nos
ro para as universidades públicas, ele
macroeconômica colocada em prática no que está prevista no quer destruí-las.
Brasil desde o governo de Fernando artigo 26 das disposições principais EUA, era ministro de um Você tem cada vez mais o aprofun-
Henrique Cardoso, não sendo interrom- constitucionais transitó- autoridades governo de direita, e damento da dependência científico-
pida nem nos governos de Lula e Dilma. rias da Constituição quando ele percebeu o tecnológica, e não serão as classes
Ou seja, a política econômica do Brasil Federal de 1988. Ne- da área que significava a dívida dominantes que vão defender as univer-
tem como absoluta prioridade o paga- nhum governo cumpriu econômica pública para o Equador, sidades. Isso está exigindo que a gente
isso. Mesmo aprovada no fez uma coisa simples: perceba o seguinte: não dá mais para a
mento da dívida pública. E a dívida fun-
ciona como um canal que drena recurso Congresso, a Dilma
vêm do auditoria. E ele conse- gente imaginar que vai ter uma burgue-
público para garantir a rentabilidade do vetou. Não queremos dar mercado” guiu, ao auditar a dívida sia nacional ilustrada que vai defender a
setor financeiro, dos rentistas. calote na dívida. A pública, negociar com universidade pública. Ou a gente conse-
Estamos vivendo o terceiro ano da auditoria é um instru- todos os bancos interna- gue construir um amplo movimento
Emenda Constitucional (EC) 95, que é mento de gestão inclusive na iniciativa cionais. O Equador não quebrou e, mes- popular de defesa da universidade públi-
um desastre, pois retira recursos da privada. Qual a ideia? Aquilo que a gente mo quando o governo chamou os ca ou seremos completamente
saúde, educação, ciência e tecnologia deve, a gente paga, e aquilo que tiver credores internacionais e disse que só destruídos.
(dentre outras áreas) para garantir que o alguma ilegalidade a gente não paga. iria pagar 30% do que estavam Agora precisamos fazer uma autocrítica.
Estado brasileiro possa continuar ali- O sistema financeiro no Brasil é o mais cobrando, os bancos internacionais Ficamos um tempo muito tranquilos em
mentando a rentabilidade do setor finan- lucrativo no mundo. Saiu uma pesquisa: continuaram enviando empréstimos nossas salinhas com ar-condicionado,
ceiro. E é bom lembrar que a EC 95 con- dos 20 bancos mais lucrativos do mundo, para o Equador. produzindo nossos papers, enriquecen-
gela as despesas primárias, mas não 5 desses bancos estão no Brasil. do nossos currículos Lattes. Nos anos 70
estabeleceu nenhum limite para as des- Sedufsm - O negacionismo cien- e 80, estávamos no bairro para discutir
pesas financeiras, de forma que a despe- Sedufsm - Na sua avaliação, por tífico, presente em movimentos saúde, transporte, educação, para fazer
sa com a dívida pública continua tendo que nenhum governo auditou a que defendem a teoria de que a trabalho de alfabetização popular. Penso
como limite o céu. dívida e rompeu com esse ciclo? terra é plana ou boicotam as que a universidade e os pesquisadores
Só com juros e amortizações da dívida Reis - Infelizmente a chamada esquerda campanhas de vacinação, teria terão de construir uma pauta voltada às
foram comprometidos, de 2003 a 2020, que chegou ao governo via PT não colo- como um de seus desdobra- grandes questões nacionais.
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2019 07
GERAL
Cronologia
programa 'Future-se'. mento, um dos argumentos centrais Fundações de Apoio”, afirma o professor.
Não obstante o novo verniz, o cerne do propagandeados pelo governo federal O vice-presidente reforça a necessi-
'Future-se' segue com o teor privatista e, para lançar o programa. Ele defendeu dade de as entidades nacionais convo-
na versão atualizada, ainda amplia a trazer de volta os dados da Auditoria carem mobilizações em defesa da
No dia 17 de julho de 2019, o
atuação das fundações sociais, cria Cidadã para comprovar que, enquanto a universidade pública. “A organização
'Future-se' foi apresentado pelo
fundos a serem geridos por instituições dívida pública não for auditada, o país para barrar esse projeto tem que ser
levada a cabo nacionalmente e, nesse governo inicialmente como um
financeiras e institui um plano de metas estará condenado a ter a maior parte de
sentido, é tarefa do ANDES-SN, da “novo modelo de financiamento”
com concessão de benefícios especiais. seu orçamento drenado para sustentar o
Fundações sociais (de apoio) são entida- sistema financeiro. FASUBRA, do SINASEFE e da UNE esta- para o ensino superior brasileiro,
des de direito privado Fragoso explica que a rem à frente desse processo de luta. através de uma “maior autonomia
que funcionam à mar- falta de recursos para Paralelamente, é preciso mobilizar a financeira às universidades e insti-
opinião pública para também rejeitar
gem das universidades. Fragoso: financiar o sistema
esse projeto, esclarecendo que a adesão
tutos federais por meio de incen-
O professor de Física público (que inclui não tivo à captação de recursos
da Universidade Federal leis anteriores apenas as universi- a ele decreta o fim da universidade próprios e ao empreendedorismo”.
de Campina Grande prepararam dades, mas todos os pública, gratuita, autônoma, laica, de Desse dia até 15 de agosto, o
qualidade e socialmente referenciada e
(UFCG) e ex-diretor do
ANDES-SN em duas ges-
terreno para demais setores) está
diretamente vinculada à exclui a classe trabalhadora e a popula-
governo abriu uma consulta públi-
'Future-se' ca online para receber sugestões
tões recentes, Amauri Emenda Constitucional ção pobre do acesso à Educação Supe-
rior em nosso país”, acrescenta Gilli. ao anteprojeto. Ocorre que a
Fragoso, explica que an- 95/2016, que é a Lei do
tes a proposta alterava Teto de Gastos. Para ele, Na avaliação de Graziela Inês Jacoby, grande maioria das universidades
17 leis e agora altera 15. o movimento sindical e Coordenadora Jurídica e de Relações de federais já se colocou contrária ao
Antes, os técnico-administrativos não os movimentos sociais precisam levantar Trabalho da Assufsm, as duas propostas 'Future-se'. Segundo dados do
eram atingidos; agora a carreira deles essa bandeira - a revogação da Lei do pouco diferem e barrar o programa, qual jornal Brasil de Fato, 43 das 63
também será alterada. Já quanto à Teto - como prioridade. “O ano de 2020 seja o formato, é fundamental. “É neces- universidades federais (68%)
carreira docente, em processo avançado será precário para todos os setores”, sário barrar o Future-se por completo teceram críticas ao programa. Na
de desmonte, o projeto tende a seguir na complementa o professor. E exemplifica: porque a essência do projeto não mudou região Sudeste, 19 universidades
mesma linha. “no próximo ano, possivelmente não e não mudará. Qualquer adaptação será firmaram posicionamento contrá-
Na avaliação de Fragoso, o 'Future-se' haverá recursos para que a Justiça do uma maquiagem para velar a verdadeira
rio ao 'Future-se'. A região Sul
só pode ser implementado graças a leis Trabalho funcione”. intenção que é eximir o Estado do
registrou, até a primeira quinzena
anteriores que prepararam o arcabouço E, as universidades, por mais que se investimento em educação, entregando
aos interesses do mercado. Não de outubro, 11 rejeições de uni-
jurídico. E o elemento central em tudo virem, para lá e para cá, fatalmente
isso, destacou ele, é um decreto de ficarão sem recursos para manter o dia a queremos discutir um programa que versidades ao programa (dentre
2018, que regulamentou o novo marco dia das instituições, ou para fazer coloca em risco a produção e democra- essas, a UFSM), e a região
legal de ciência e tecnologia, qualquer investimento em obras. Os tização de conhecimento e, com isso, a Nordeste, 12 rejeições.
correspondente à Lei nº 13.243, de orçamentos estão em descenso, própria soberania nacional. Não quere-
08 SETEMBRO A NOVEMBRO DE 2019 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
PERFIL
momento em que ela concluía seu midade com os alunos.
Dos
rápido doutorado. Hoje, Daiana avalia que a univer-
Embora não fosse a primeira escolha sidade esteja vivendo um momento
acasos
daquela jovem que deixava o colégio, muito complicado, bem diferente do
Daiana, hoje grávida de nove meses, contexto de expansão que a acolheu
não se imagina fazendo outra coisa como docente há oito anos. “Tínhamos
que não a docência e a pesquisa. um projeto de fortalecimento do
da
“Acho que entramos na docência Mercosul, em parceria com a Univer-
almejando muitas coisas, com uma sidade de Córdoba (Argentina).
expectativa muito grande sobre o Chegamos a mandar seis estudantes
vida
desenvolvimento do trabalho. E a para ficarem seis meses estudando
realidade é muito diferente. Tenho um com o grupo de pesquisa de lá.
olhar positivo pra vida. Sempre Tínhamos condições muito melhores,
busquei fazer o melhor, olhar pras conseguíamos fazer muitas coisas,
turmas, ter sensibilidade de entender agora estamos com dificuldades
como os alunos estão se desenvolven- enormes. Na pesquisa, por exemplo, a
do, e corrigir as coisas ao longo do gente paga pra trabalhar. Muitas vezes
caminho. A gente sai do doutorado vamos à Córdoba com dinheiro do
com a vara lá em cima, querendo fazer nosso bolso. É por amor a camiseta
coisas muito top, e depois vemos que mesmo, porque o cenário está muito
não é bem assim, que às vezes difícil”, desabafa.
precisamos voltar um pouco pra trás e Em meio a esse contexto, ela avalia
BRUNA HOMRICH
CULTURA *Por Vitor Biasoli, professor aposentado do departamento de História (UFSM) e sindicalizado à Sedufsm
O TRADUTOR
Imagem de divulgação
Filme ambientado em Cuba, em 1989, com referências históricas explícitas. Inicia com uma visita de
Gorbatchev no início do ano, termina com a queda do Muro de Berlim. Nesse período, um professor
cubano de literatura russa (interpretado por Rodrigo Santoro) é designado para servir como tradutor
num hospital. Cuba está recebendo pacientes da União Soviética e há necessidade de tradutores
para a comunicação entre os doentes e os médicos. O professor em questão aceita o encargo com
contrariedade e é avisado que não tem como se omitir da tarefa: são ordens superiores. Os
pacientes que lhe cabem são crianças, vítimas do acidente nuclear de Chernobyl, e o que se assiste é
o envolvimento do professor com esses doentes. A sobriedade da construção das cenas, a limpidez
da narrativa e a intensidade dramática dos personagens (especialmente o tradutor e a enfermeira
argentina com a qual o tradutor trabalha) fazem a diferença. Um filme comovente (de transformação
de um professor) ambientado num momento crucial da história do socialismo cubano. Afinal, após a
queda do Muro de Berlim as relações de Cuba com o bloco soviético se modificam, terminam os
subsídios e a economia cubana é profundamente abalada. Dessa maneira, devido às amarras com a
conjuntura político-econômica de 1989, um filme histórico – mas também um filme intimista, sobre
os conflitos de um professor com o seu trabalho, com os doentes contagiados pela radiação
Chernobyl, com o seu casamento. Lançado no Brasil neste ano, disponível no Now.