Você está na página 1de 7

SEDUFSM JORNAL DA

Publicação mensal da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Maio/Junho de 2018 ISSN 2177-9988
Casa destinada à
moradia provisória, no
Centro de Eventos
FRITZ NUNES

Estudantes sem Casa,


Cada vez mais estudantes acessam a universidade
Nova diretoria
RAFAEL BALBUENO
pública. Cada vez menos recursos são liberados pelo
governo. Como resolver essa equação? O pró-reitor
de Assuntos Estudantis da UFSM compara a situação
orçamentária a um cobertor curto, que, quando
cobre uma parte, descobre a outra. Esse é o ritmo
que a reitoria vem orquestrando para garantir a
permanência estudantil na instituição. Enquanto
isso, estudantes que aguardam vaga definitiva de
moradia estudantil relatam superlotação nas
moradas provisórias. Somada à escassez de bolsas,
permanecer estudando tem sido um desafio.
Especial, págs. 4 e 5.

Cerimônia de posse
Ainda nesta edição:
Sedufsm tem novos diretores para o biênio 2018-2020
Desafios da multicampia pág. 3
Educação, Pág. 7

ACO M PAN H E A SED U FSM N A IN TERN ET

w w w . se d u fsm . o rg . b r tw itte r. co m / se d u fsm fa cebook.com / sedufsm


02 MAIO/JUNHO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

PAINEL

63º Conad empossa nova JURÍDICO

diretoria do ANDES-SN Auxílio


Durante a 63ª edição do Conselho do ANDES-SN pré-escolar:

ANDES-SN
(Conad), que reuniu mais de 300 professores na
Universidade Estadual do Ceará (UECE) entre os ação questiona
dias 28 de junho e 1º de julho, foi empossada a
nova diretoria do Sindicato Nacional. Eleita para
custeio de servidores
dirigir a entidade no biênio 2018-2020, a gestão Na assembleia realizada no dia 7 de junho,
presidida por Antônio Gonçalves Filho tomou posse professores e professoras aprovaram o
fazendo um convite à unidade política no sindicato. ingresso de uma ação judicial que questiona
“Quero reafirmar o nosso compromisso em o custeio indevido, da parte dos servidores,
continuar construindo um sindicato autônomo, de do desconto do auxílio pré-escolar. O
luta, classista, que se organiza pela base, com encaminhamento da medida se dará
diálogo e democracia interna. Serão esses os Conselho do ANDES-SN atualizou plano de lutas da entidade mediante substituição processual, ou seja, a
princípios norteadores das nossas ações. Sedufsm ingressa com a ação em nome de
Assumimos essa tarefa em um momento de mais uma dades e do Dia Nacional de Luta contra o Racismo.
sindicalizados e sindicalizadas.
crise internacional do Capital e de ofensiva dos setores Dentre os temas que entraram em pauta na
Conforme explicação da assessoria
reacionários, que têm intensificado os ataques à classe discussão dos docentes, destacaram-se os relativos
jurídica, o que tem acontecido é que “a
trabalhadora, com retirada de direitos, recrudescimento ao processo de reorganização da classe trabalhadora;
Administração tem descontado dos
do conservadorismo, combate à autodeterminação dos à luta contra as reformas do governo ilegítimo de
servidores beneficiários do auxílio pré-
povos, opressões, perseguições e mortes”, disse Filho. A Temer e em defesa da educação pública; as ban-
Chapa 1 (ANDES Autônomo e de Luta) conquistou deiras democráticas deste ano; a luta contra o uso de
escolar uma cota-parte destinada ao custeio
51,71% dos votos. Do total de docentes aptos a votar agrotóxicos e pelos direitos sexuais e reprodutivos parcial do benefício pelos mesmos”.
em todo o país (69.152), 24,42% compareceram às das mulheres; assuntos de aposentadoria; luta em Entretanto, ressalta o advogado Heverton
urnas, ou seja, foram 16.887 votantes. Desses, 8.732 defesa da saúde pública e contra a Ebserh; apoio aos Padilha, “sem que haja amparo legal para
(51,71%) votaram na chapa 1; 7.215 (42,73%) na migrantes venezuelanos; pela mobilidade urbana e o tanto”. Ações judiciais similares têm obtido
chapa 2 (Renova ANDES); 481 (2,85%) em branco; e direito à cidade; cotas raciais em concursos e na com- decisões favoráveis em tribunais superiores,
459 foram votos nulos (2,72%). posição do sindicato; universidade popular e o funcio- o que aponta positivamente a esse tipo de
Um dos eixos centrais de discussão entre os dele- namento dos grupos de trabalho nas seções sindicais. questionamento judicial.
gados e observadores do Conad foi a atualização do A Sedufsm esteve representada no 63º Conad Ainda segundo a assessoria jurídica, “o
Plano de Lutas dos Setores das Instituições Federais de pelos professores Luiz Carlos Nascimento da Rosa, auxílio pré-escolar, nos termos da
Ensino (Ifes) e das Estaduais e Municipais de Ensino Júlio Quevedo e Laura Fonseca (observadores) e Constituição Federal e da legislação em vigor,
Superior (Iees/Imes). A partir dos debates, elaborou-se pela professora Márcia Morschbacher (delegada). é ônus exclusivo do Estado. A exigência de
uma agenda de mobilização da categoria para o segun- No site da Sedufsm e do ANDES-SN, é possível ter custeio parcial pelos servidores afronta a
do semestre, com indicação de realização do Dia Nacio- acesso à totalidade dos debates e deliberações do legalidade, moralidade, razoabilidade e
nal de Luta contra o Assédio Moral e Sexual nas universi- encontro. provoca enriquecimento indevido da
Administração, devendo haver a suspensão
dos descontos e devolução dos valores
ENE SM projeta luta contra reformas nocivas à educação indevidamente descontados nos últimos
“Resistir para existir: por uma educação classista e cinco anos.”
FRITZ NUNES

democrática” foi o tema da etapa municipal do III Durante a mesma plenária foi debatido o
Encontro Nacional de Educação (ENE). Embora o evento ingresso de uma outra medida judicial, dessa
nacional tenha sido adiado para o primeiro semestre de vez problematizando o valor da hora de
2019, o comitê santa-mariense do ENE já se antecipou e trabalho não inferior ao previsto para o
reuniu dezenas de pessoas – entre educadores, regime de 20 horas. O argumento central
estudantes e movimentos sociais – nos dias 15 e 16 de dessa ação, segundo os advogados, é que
junho, na Escola Estadual Cilon Rosa, para debater
“os valores pagos a título de vencimento
debilidades, potencialidades e pautas de luta do setor da
básico a diversos docentes do Magistério
educação.
Federal incluídos no regime de tempo
Na sexta (15), o evento iniciou com a mesa de debate
integral de 40 horas semanais de trabalho
Debate sobre BNCC lotou auditório na sexta, 15 “Projeto atual de educação: o que temos (BNCC) e o que
sem dedicação exclusiva são inferiores,
queremos (classista e democrático)”, com participação de
Gelta Xavier, docente da área de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), e de Helenise considerando o valor da hora de trabalho,
Sangoi Antunes, do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM. aos pagos aos docentes incluídos no regime
As discussões ocorreram em quatro Grupos de Trabalho: 1 - Acesso e Permanência; 2 - Terceirização, de tempo parcial de 20 horas semanais de
Mercantilização, Gestão e Financiamento; 3 - Opressões: gênero, sexualidade, orientação sexual, trabalho.”
questões étnico-raciais e pessoas com deficiência; 4 - Trabalho, Precarização e Formação. Dentre os Contudo, em função de que esse tipo de
principais apontamentos do encontro estão a luta contra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ação ainda não tem jurisprudência, decidiu-
em defesa de uma pedagogia feminista e interseccional; pelo ensino de libras já no ensino básico; pela se por aprofundar mais o debate sobre essa
retomada do protagonismo e identidade do professor e do aluno; pela união dos trabalhadores da questão tanto na UFSM como na base do
educação com os trabalhadores das demais esferas; pela criticidade e autonomia em sala de aula. ANDES-SN, antes de ingressar com ação.

EXPEDIENTE
A diretoria da SEDUFSM é composta por: Presidente: Júlio Ricardo Quevedo dos Santos; Vice-Presidente: João Carlos Gilli Martins; Secretária-Geral: Maristela da Silva Souza; Primeira
Secretária: Leila Regina Wolff; Tesoureiro-Geral: Gihad Mohamad; Primeiro Tesoureiro: Carlos Alberto da Fonseca Pires; Primeira Suplente: Valeska Fortes de Oliveira; Segunda
Suplente: Adriana Graciela Desire Zecca; Terceira Suplente: Roselene Moreira Gomes Pommer.
Jornalista responsável: Bruna Homrich Vasconcellos (MTb nº 17487) Equipe jornalismo: Fritz R. Nunes, Ivan Lautert e Rafael Balbueno
Equipe de Relações Públicas: Fernanda Brusius e Vilma Ochoa Demais funcionários: Dirleia Balensiefer, Maria Helena Ravazzi, Paulo Marafiga e Rossana Siega
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda Ilustração: Rafael Balbueno Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS). Tiragem: 1.500 exemplares.
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem as assina. Sugestões, críticas e opiniões podem ser enviadas via fone (55) 3222-5765 ou pelo email
sedufsm@terra.com.br
Informações também podem ser buscadas no site do sindicato: www.sedufsm.org.br A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa Maria (RS).
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES MAIO/JUNHO DE 2018 03

SEDUFSM

Sedufsm sob direção


“Classista, autônoma e democrática”
Diretoria empossada referencia democracia no meio sindical
A gestão que dirigirá a Sedufsm no biênio 2018-2020 tomou posse, em 29 de maio, com o
compromisso de seguir na luta em defesa de uma educação pública, gratuita, de qualidade e
socialmente referenciada. Júlio Quevedo, professor reconduzido à presidência do sindicato, ressaltou a
importância de fortalecer a mobilização da categoria nos “tempos sombrios” dominados por uma “elite
do atraso”, que busca brecar a luta dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, faz avançar a criminalização
de movimentos sociais, não raro resultando no assassinato de indígenas, negros, quilombolas e
demais setores oprimidos.
Eleita com 148 votos pelos docentes sindicalizados da UFSM, a chapa situacionista dividiu o pleito
com a chapa de oposição, denominada Renova Sedufsm, que alcançou 145 votos. A disputa, acirrada,
expressou, na avaliação de Quevedo, o caráter democrático da esfera sindical.
Na cerimônia também foram empossados os 12 novos integrantes do Conselho de Representantes
da seção sindical.

Cerimônia de

Fotos: RAFAEL BALBUENO


posse ocorreu
no auditório
Suze Scalcon

Conselho de
Representantes
(2018-2020)

Transparência
As duas chapas que concorreram à diretoria da Sedufsm apresentaram os
gastos que tiveram em suas campanhas. Confira, abaixo, a prestação de
contas de cada uma: Diretoria (2018-2020)
Despesa Contas Chapa 1 - Eleições-Biênio 2018-2020 Valor Total Conheça a diretoria:
Xerox sobre o balanço das atividades no biênio 2016-1018 Presidente: Júlio Ricardo Quevedo dos Santos
1 400 Cópias do documento contendo 4 folhas - 1600 cópias 0,11 176,00
Pago por Gihad Mohamad, conforme nota fiscal
(Depto. de História-CCSH)
Vice-presidente: João Carlos Gilli Martins (Aposentado- CCNE)
Hotel Palace Frederico (1 diária p/ 3 pessoas)
2
Pago por Maristela da Silva Souza
100,00 300,00 Secretária-geral: Maristela da Silva Souza
(Depto. de Desportos Individuais-CEFD)
Combustivel deslocamento Santa Maria/Frederico/
3 Palmeiras das Missões 44,76 litros 200,00 1ª Secretária: Leila Regina Wolff (Aposentada-CCS)
Pago por João Carlos Gilli Martins Tesoureiro-geral: Gihad Mohamad
Folders e Cartazes - Arte (Depto. de Estruturas e Construção Civil-CT)
4 370,00
Pago por Maristela da Silva Souza 1º Tesoureiro: Carlos Alberto Pires (Depto. de Geociências-CCNE)
Impressão de Folders 1ª Suplente: Valeska Fortes de Oliveira
5 1.500 630,00
Pago por Maristela da Silva Souza (Depto. de Fundamentos da Educação-CE)
Impressão de Cartazes
460,00
2ª Suplente: Adriana Graciela Desiré Zecca
6 150
Pago por Maristela da Silva Souza (Agronomia- UFSM em Frederico Westphalen)
Total 2.136,00 3ª Suplente: Roselene Gomes Pommer (Colégio Técnico-CTISM).

Contrapartida da SEDUFSM 1.000,00


Conselho de Representantes:
Despesas para o rateio na chapa 1.136,00
1 Diorge Konrad (CCSH)
PRESTAÇÃO DE CONTAS CHAPA 2 – RENOVA SEDUFSM 2 Ricardo Rondinel (CCSH)
Descrição da receita/despesa Valor Receita R$ Valor Despesa R$ 3 Helenise Sangoi Antunes (CE)
Apoio financeiro da SEDUFSM para as 4 Hugo Gomes Blois Filho (CT)
campanhas eleitorais das chapas que 1.000,00
concorreram às eleições 2018 5 Marian Noal Moro (aposentada do CCNE)
6 Márcia Paixão (CE)
Despesas com folders, cartazes e adesivos
(NF 1130-Espaço gráfico)
845,00 7 Carmem Dickow Cardoso (CCNE)
Despesa com impressão extra de
8 Wilton Trapp (aposentado do CE)
55,00 9 Tatiana Joseph (CAL)
folders (NF 3586 Espaço Gráfico)
Confecção de faixas
10 Bia Oliveira (CCSH)
200,00
(Recibo 177 – Pintor Pires) 11 Luciana Carvalho (Comunicação da UFSM/FW)
Valor dividido entre os componentes da chapa 100,00 1º suplente, Getúlio Lemos (aposentado do CE)
Totais 1.100,00 1.100,00
04 MAIO/JUNHO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES MAIO/JUNHO DE 2018 05

COM A PALAVRA ESPECIAL


FRITZ NUNES
Enquanto os novos blocos da Casa não
são concluídos, estudantes permanecem RU
mos com um valor do PNAES de R$ 22 milhões, que é RU de trancar a Avenida Roraima com a fila do RU. Às
em moradia provisória
aproximadamente o que tínhamos em 2016/17”, vezes o estudante deixa de almoçar e jantar por
informa Hillig, para quem isso já é resultado da No ano de 2016, o Restaurante Universitário (RU) causa da fila, porque ele pensa que não vai dar tempo
Emenda Constitucional (EC) 95, que congelou da UFSM serviu 1 milhão e 600 mil refeições, se de voltar para a aula”, relata a dirigente do DCE
investimentos nas áreas sociais. contabilizadas todas as unidades do RU. Em 2017, o UFSM.
número subiu para 1 milhão e 800 mil refeições. E em

Permanência
Cobertor curtoCobertor curto 2018 a previsão de Hillig é de que sejam servidas 2 A caminhoAdocaminho
colapso do colapso
milhões de refeições. .
Para dar conta de manter a assistência estudantil “[Nos RU's] estamos fazendo só aquelas reformas e Para dar conta do congelamento orçamentário,
mesmo em meio ao contingenciamento, a gestão do manutenções que são necessárias para seu Hillig diz que a reitoria da UFSM tem adotado uma
professor Paulo Burmann tem feito alguns ajustes. funcionamento. Não estamos fazendo melhorias de política de ajustes, responsável por deixar a situação
“Já reduzimos muito o investimento em atividades ambiente, não estamos investindo em novos “um pouco mais tranquila”. Contudo, a avaliação do
culturais, o apoio a eventos, estamos economizando equipamentos. De fato, a gente só está pró-reitor é de que esse suposto equilíbrio
muito com diárias dentro dos nossos serviços, garantindo o funcionamento do RU porque alcançado com o aperto de cintos pode,

BRUNA HOMRICH
deixando de fazer viagens, e fazendo estudos para a UFSM investe recurso do orçamento da no fim das contas, levar a instituição ao

ameacada
maximizar a utilização das bolsas junto às unidades universidade”, diz Hillig, explicando que os colapso no que tange à assistência.
de ensino. No auxílio material pedagógico também restaurantes da UFSM não são financiados “Vamos ter que começar a produzir
fizemos cortes, liberando entre 40 e 50% das apenas pelo PNAES. novas soluções, porque a solução óbvia e
solicitações apenas. É um cobertor curto: quando tu “Em 2017 tivemos uma despesa de certa, que seria o aumento do orçamento,
puxa de um lado, descobre de outro”, diz Hillig. aproximadamente R$ 18 milhões com os não está previsto. Estamos correndo cada
RU's. Investimos cerca de R$ 11 milhões vez mais rápido contra a parede. A
Bolsas Bolsas do PNAES e o restante (R$ 7 milhões) foi vantagem é que a gente conseguiu
proveniente do orçamento geral da diminuir o passo, mas ainda estamos
Outro eixo importante da política de assistência universidade”, explica. Clayton Hillig, correndo contra a parede. Estar
estudantil é a concessão de bolsas. Segundo Paola, Da parte dos estudantes, Paola diz que a pró-reitor de equilibrado não é bom, nós precisamos
as bolsas intituladas “formação” e destinadas a auxi- pauta é a construção de mais um RU para Assuntos Estudantis ampliar a assistência estudantil - moradia,
liar estudantes em eventos acadêmicos acabaram já englobar, especificamente, os estudantes moradia provisória, capacidade de
no último mês de maio. Dada a demanda sempre do Centro de Ciências Sociais e Humanas [CCSH], o produção do RU. Estamos estagnados”, conclui Hillig.
crescente, a estudante não vislumbra uma melhora maior da universidade, e do Colégio Politécnico. Quanto aos estudantes, Paola diz que seguem
no cenário. “Temos cada vez mais estudantes entran- “Vieram muitos cursos do CCSH centro para o vigilantes. “Se for necessário parar as aulas, fazer
do na universidade, e sem condições de ir a eventos”, campus nos últimos 3 semestres [Economia, greve, para manter o povo aqui dentro, a gente vai
atesta. Relações Internacionais, Odontologia, Contábeis], e fazer. A universidade vem se pintando de povo”,
Outra crítica dos estudantes é com relação às não foi ampliada a estrutura do RU. Temos condições conclui Paola.
chamadas “bolsas PRAE”, que, de acordo com Paola,
não são reajustadas há oito anos. “E junto com isso
temos o corte das bolsas. O Hospital Universitário de
Santa Maria cortou muitas bolsas. O PIBID [Programa Ataque aos direitos indígenas
Ataque à permanência indígena (BOX)

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência] agora Todo ano entram cerca de 20 estudantes indígenas na UFSM, e estes têm
é que vem sendo retomado. O meu curso [História]

Arquivo Pessoal
Contingenciamento orçamentário, superlotação nas moradias provisórias ganhou 30 bolsas do PIBID, mas não sabemos até
direito ao Programa Bolsa-Permanência, auxílio proveniente do Ministério da
Educação (MEC), no valor de R$ 900 reais. Contudo, aqueles indígenas que
e estagnação na oferta de bolsas são obstáculos aos estudantes da UFSM quando vão durar. Os editais de bolsas escassearam
bastante”, problematiza.
ingressaram neste primeiro semestre de 2018 estão sem receber o auxílio
desde o início do ano.
A UFSM já iniciou o ano de 2018 com problemas no “Muitos apartamentos e blocos onde o pessoal mora social. No momento em que as pessoas não conse- Hillig diz que não houve cortes, e sim estagnação Rodrigo Mariano, estudante indígena do curso de Direito e integrante do
que se refere à moradia estudantil. No espaço da estão em condições precárias. Por exemplo, o poste guem se sustentar, têm que abandonar os estudos”, no número de bolsas. “O maior problema é que DCE-UFSM, conta que devido à pressão exercida por estudantes indígenas e
União Universitária, cuja função é servir de morada do bloco 32 já pegou fogo 3 vezes em menos de 4 pondera o pró-reitor. estamos aumentando a demanda sem aumentar a quilombolas (também beneficiários da bolsa), o MEC, que até então tinha
provisória àqueles estudantes possuidores de semanas, colocando em risco a vida de muitos Quanto à moradia estudantil nos campi descentrali- disponibilização de bolsas. Temos o mesmo número proposto apenas 2.500 bolsas para cerca de 4 mil estudantes indígenas e
Benefício SocioEconômico (BSE) que estão à espera estudantes”, explica. zados da UFSM, Hillig diz que a principal queixa dos de bolsas que tínhamos em 2014”, diz o pró-reitor, quilombolas que ingressam anualmente nas universidades brasileiras, voltou
de uma vaga em algum dos blocos da Casa do Hoje, a União abriga de 60 a 70 estudantes, número estudantes é a dificuldade de acesso a bens de servi- esclarecendo que há entre 400 e 500 estudantes atrás e garantiu o pagamento das bolsas a todos os estudantes até o mês de Rodrigo Mariano,
Estudante Universitário (CEU), ingressaram, no início bem menor se comparado aos 400 iniciais. Hillig diz ço, já que as moradias estudantis ficam dentro dos beneficiados apenas com a bolsa PRAE na agosto – sobre a possibilidade de pagamento retroativo aos meses em que a estudante indígena,
deste primeiro semestre, 400 estudantes. Uma que até o mês de agosto deve ser inaugurado o bloco campi e estes são distantes do centro das cidades. universidade. Contudo, há diversas outras modalida- bolsa não veio, Mariano diz que o governo não deu nenhuma garantia. DCE UFSM
lotação recomendada para o local seria de 62 e, até o final do ano, o bloco 63 da CEU. A Existe dificuldade de transporte, de acesso à des de bolsas, a exemplo das destinadas ao auxílio Embora as bolsas de 2018 estejam, em tese, garantidas, nada se sabe em
aproximadamente 250 pessoas. finalização dessas obras representará um aumento comunicação, a bens culturais e a serviços básicos formação, à Orquestra Sinfônica de Santa Maria, às relação ao próximo ano. “Estamos conversando [com os estudantes indígenas da UFSM] para que
Para resolver a situação, uma alternativa de 176 vagas de moradia estudantil na UFSM. Tais (farmácias, restaurantes). Em Frederico Westphalen monitorias, ao auxílio vale transporte e ao auxílio eles não desistam. Há cursos que demandam muito material pedagógico, o que custa dinheiro, por
encontrada pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis blocos localizam-se no campus sede. e Palmeira das Missões os estudantes preferem material pedagógico. exemplo, o pessoal da Odontologia ou das engenharias. Estamos muito mobilizados, e a perspectiva é
(PRAE) foi a transferência de uma parte No início deste segundo semestre, a receber a bolsa de auxílio moradia do que morar FRITZ NUNES de que continuemos mobilizados porque o MEC não deixou nada garantido para 2019”, pondera
Arquivo Pessoal

dos estudantes que vinham residindo na expectativa é de que aproximadamente na Casa do Estudante. “Em Frederico é um Mariano.
União para três casas do Centro de 250 pessoas ingressarão na moradia pouco pior, pois os sinais de celular não são bons Ele conta, ainda, que o movimento estudantil tem buscado apoio junto a parlamentares para
Eventos, localizado no campus sede da provisória, contudo, a preocupação maior dentro do campus, o que dificulta a comunicação transformar o decreto nº 7.234, que trata do PNAES, em lei. “Além disso, queremos transformar a
UFSM. Hoje, 103 estudantes dividem-se de Hillig é com o início de 2019, pois o móvel e o acesso à internet”, relata Hillig, bolsa permanência em lei específica de assistência estudantil”.
nas três casas de 100 m² cada, originaria- primeiro semestre concentra a grande acrescentando que, na avaliação da pró-reitoria, O corte das bolsas já afetou a UFSM, conforme comenta Hillig. “Emergencialmente, estamos
mente destinadas a servidores que reali- maioria dos ingressos. a oferta de bolsas de auxílio moradia não destinando uma bolsa PRAE para esses estudantes que estão sem o benefício, mas não poderemos
zam a manutenção do Centro de Eventos. “Temos discutido muito as possibilida- constitui a melhor política de assistência ao persistir nisso por muito tempo, já que é uma bolsa de caráter extraordinário, não pertence a nenhum
Paôla Pfeifer, estudante de História e des de superação dessa superlotação e os estudante, sendo o melhor caminho a programa e, ao mesmo tempo, não temos capacidade financeira de suportar um programa que
atenda a todos os estudantes indígenas da universidade”, relata Hillig.
coordenadora de Assistência Estudantil do dois caminhos são: ou expansão da construção de moradias estudantis.
Diretório Central dos Estudantes (DCE) da moradia ou restrição do acesso, o que
Paôla Pfeifer, Moradia indígena Moradia
UFSM, diz que os estudantes alojados no DCE UFSM seria um retrocesso terrível, porque o RecursosRecursos
PNAES PNAES
Centro de Eventos sofrem com o frio e a direito à educação envolve, também, o
Mariano diz que, até então, apenas um bloco da Casa do Estudante Indígena foi entregue, contendo
falta de privacidade, o que dificulta os estudos. direito à permanência no curso superior. Não adianta Os recursos do Programa Nacional de
cerca de 100 vagas. “A gente tem contabilizado que para 2019 esse bloco já estaria lotado. Então é um
“Nossa pauta sempre é ampliar os direitos, e nesse criar políticas de ingresso e não criar políticas de Assistência Estudantil (PNAES) tiveram um
problema que vai ter seus efeitos surgindo a partir do ano que vem. Esse ano
momento estamos tentando não retroceder no que já permanência. Conhecemos sistemas de ingresso uni- crescimento grande entre 2009 e 2013,
formam 3 estudantes indígenas, mas ano que vem entram 20”, preocupa-se
temos”, comenta a estudante. versal, a exemplo do Uruguai, onde a porcentagem passando de R$ 6 milhões para R$ 23 milhões. E
o estudante, ressaltando que, no projeto original da Casa indígena,
Ela conta que a situação não está ruim somente de evasão é elevadíssima, porque a seleção não é a partir de 2014 estagnou, chegando a 26
estavam previstos quatro blocos com 400 vagas.
para os estudantes alojados provisoriamente. feita por processos seletivos, mas é uma seleção milhões e então começando a cair. “Hoje esta-
Interior de um quarto na moradia provisória do Centro de Eventos
06 MAIO/JUNHO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

COM A PALAVRA

MOACIR GADOTTI

Escola,
Com as notícias cotidianas acerca de cortes e mais
cortes no setor de educação, pode ser difícil pensar
na escola [ou mesmo na universidade] como
lugar de inventividade e autonomia. Mas é
justamente nesse momento que pessoas como
Moacir Gadotti cumprem um papel

entre os
fundamental: recuperar a pedagogia do
educador popular Paulo Freire e, com ela, a
possibilidade de mobilização e democracia.

ataques
O professor aposentado da USP e
presidente de honra do Instituto Paulo Freire
ministrou palestra no dia 4 de junho na
UFSM, a convite da Pró-reitoria de Graduação

ea
(PROGRAD) e do Centro de Educação. Doutor
em Ciências da Educação pela Universidade de
Genebra, Gadotti é, hoje, junto com o professor

resistência
José Eustáquio Romão, guardião dos
manuscritos originais de “Pedagogia do
oprimido”, trabalho mais
conhecido de Paulo Freire.
Acompanhe, abaixo, o
bate-papo que a
Assessoria de
Imprensa da
Sedufsm teve
BRUNA HOMRICH

com o profes-
sor.

Sedufsm - No final de 2016, o Curricular [BNCC] que está alinhada a qual a proposta que temos de socie- o atual, marcado por cortes e
governo de Michel Temer apro- essa política de contenção de gastos e dade. Nós temos que organizar a retrocessos?
vou a Emenda Constitucional de redução das ciências humanas no resistência, ocupar e resistir. Como? Gadotti - O educador é um profissional
(EC) do Teto de Gastos. Quais currículo escolar. Evidentemente isso é Em nossas escolas, nas ruas, nas do humano, do sentido, um profissional
os impactos concretos no setor um absurdo, porque se você diz para o universidades, com muita serenidade, político. Ele não deve impor suas
de educação? aluno, através da Reforma do Ensino clareza, sem ódio e violência. Temos opiniões políticas, mas não pode deixar
Gadotti - A Emenda 95, que foi Médio, que ele vai poder escolher [as que organizar a nossa força. de externá-las, porque mesmo que ele
aprovada através de Medida Provisória disciplinas de seu currículo], ele vai Um exemplo: há poucos meses, quise- não diga, está manifestando valores o
[MP] e congela os gastos das áreas escolher aquilo que cai no exame do ram retirar o título de Paulo Freire tempo inteiro no ensino. Existe uma
sociais é, a meu ver, um imenso retro- ENEM ou IDEB, por exemplo. Na como Patrono da educação brasileira. tarefa permanente do professor que é
cesso para o desenvolvimento do país, verdade, é uma imposição de uma No Instituto Paulo Freire, fizemos um inerente à sua profissão, que é uma
primeiro porque não há como limitar os política que está alinhada com o que abaixo-assinado pedindo revogação profissão especial, assim como a escola
gastos na educação, mantendo o au- defende o Banco Mundial, a OCDE dessa proposta parlamentar [que já é um lugar especial onde outro mundo é
mento crescente da demanda. Essa [EC [Organização para a Cooperação e estava lá no Senado]. Em uma semana possível. A escola é o lugar onde se
95] é uma medida dramática, com Desenvolvimento Econô- conseguimos 20 mil as- forma para a liberdade, para a cidadania,
duração de 20 anos, coisa que parece mico]. sinaturas, e eu mesmo as para os mundos do trabalho. Então o
surreal. O tenebroso é ver que essa “Você levei para o Senado. A educador precisa dar conta de seu
Em junho de 2013 houve manifestações política está muito bem tem que proposta [de retirada do trabalho com competência, compromis-
enormes em favor de serviços públicos articulada. Há muita gente espalhar título de Paulo Freire] foi so, ética.
de qualidade. Ora, essa emenda vai que não percebeu a di- derrotada porque rea- Mas não basta se perguntar 'o que eu
contra toda essa demanda que existe na mensão desse bloco
a gimos em tempo, mos- devo saber para ensinar'? É preciso
sociedade. histórico político que se esperança” trando capacidade de também se perguntar (talvez até com
A democracia está ameaçada por causa organizou, com apoio mobilização popular - mais razão) 'como eu devo ser para
desses direitos que estão sendo internacional inclusive, e atravé s da inte r ne t, ensinar'? Aí entra a postura, porque não
retirados. que pode atrasar esse país por mais de tivemos apoio de grandes intelectuais basta você ter um enorme conhecimento
duas décadas. do mundo inteiro. se você não tem uma postura
Sedufsm - Como o senhor avalia Então é assim: você tem que estar em democrática, se não forma para a
o processo que levou à apro- Sedufsm - O senhor diz que eles cima, mobilizar e espalhar a esperança. cidadania.
vação da nova Base Nacional [dominantes] estão bem Acho que é isso que está faltando no A pedagogia do Paulo Freire era do
Comum Curricular [BNCC] e da organizados. Mas e a gente, do povo brasileiro. Nós temos que lutar oprimido para o oprimido. Ele [Freire]
Reforma do Ensino Médio? lado de cá? Que caminhos como educadores, temos que ser nunca escreveu para o oprimido, então
Gadotti - Fazer uma reforma do Ensino temos de trilhar para alcançar otimistas e esperançosos. Temos que apresenta uma lógica mais horizontal,
Médio por MP é surreal, porque quem uma educação realmente acender a chama da esperança nesse democrática, que empodera as pessoas
deve opinar sobre essa reforma é a transformadora? momento. em favor de um projeto de sociedade
população que faz isso, são os pais, Gadotti - Essa é uma pergunta mais justo, humano, solidário, onde seja
diretores, professores, etc. Agora você importante, pois não podemos só fazer Sedufsm - O que representa ser menos difícil amar.
tem uma Base Nacional Comum uma análise crítica, é preciso saber educador num contexto como
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES MAIO/JUNHO DE 2018 07

EDUCAÇÃO

UFSM em Palmeira das Missões:


como crescer em meio à crise?
O campus de Palmeira pretende aumentar a oferta de vagas na graduação
e na pós, mesmo sofrendo os contingenciamentos do governo federal
FRITZ NUNES
funcionando nos três turnos”, afirma o diretor do
campus, professor Rafael Lazzari, que classifica a falta
de técnico-administrativos como a demanda número
um do campus. Porém, ressalta também a questão da
assistência estudantil como um futuro gargalo.
Atualmente o campus tem um prédio de moradia
estudantil em funcionamento com 45 vagas, e um
segundo em construção que deve ser entregue no
começo de 2019, porém isso ainda não resolveria a
defasagem de vagas. Com o aumento de alunos
oriundos de diferentes partes do país através do SISU
[Sistema de Seleção Unificada], o número de pleitean-
tes a vagas de moradia chegou a mais de 200 candida-
tos. A situação vem sendo controlada através de bolsas
permanência, mas pode se tornar insustentável em um
futuro próximo.
A previsão orçamentária do campus de Palmeira das
Missões para o ano de 2018 gira em torno de R$ 660 mil,
dos quais apenas 40% já foram liberados, segundo a
direção do campus. Alguns gastos, como o do Restau-
rante Universitário (RU), que gira em torno de R$ 1 mi-
lhão ao ano, também devem aumentar. Os gastos com o
RU e a assistência estudantil são responsabilidade da
Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da administração
central da UFSM, porém, em vista dos contingen-
ciamentos previstos, Lazzari receia pelos estudantes
vindos de fora e com dificuldades financeiras: “investir
Diretores da Sedufsm visitam campus da UFSM em Palmeira (agosto/16) em assistência estudantil é investir em permanência”.
Atualmente, professores, técnico-administrativos e
O cenário para investimentos públicos no setor das atingido pelos contingenciamentos vindouros são os alunos do campus da UFSM em Palmeira das Missões
universidades federais parece pouco animador. Com a campi descentralizados, que já costumam funcionar com participam de mais de 30 comissões e projetos de
lei do teto de gastos [Emenda Constitucional 95], que orçamentos menores e mais apertados que o neces- desenvolvimento regional, importantíssimos para a
irá congelar os gastos públicos por 20 anos e o sário. economia frágil da cidade. Segundo Lazzari, existem
aumento da demanda por vagas e assistência estu- É o caso do campus da UFSM em Palmeira das Missões, planos para ampliar a oferta de cursos de graduação de
dantil no ensino superior, desenha-se um futuro de que foi criado há dez anos, ainda dentro do CESNORS, e oito para 13 e também de criação de mais dois cursos de
precarização que deve atingir em cheio as universi- atualmente conta com cerca de 1300 alunos em oito mestrado até 2020. “Nosso principal objetivo é fixar a
dades públicas. E a UFSM não foge à regra: em cursos presenciais de graduação, 35 alunos em dois cur- mão de obra qualificada na região e contribuir para o
entrevista recente, o vice-reitor da instituição, profes- sos de mestrado, 102 professores e 36 técnico-adminis- desenvolvimento local, para isso precisamos nos man-
sor Luciano Schuch, afirmou que a meta da reitoria é trativos. A estrutura tem passivos tanto no que se refere ter relevantes e estarmos preparados para o aumento
reduzir os gastos da UFSM em 7% ao ano até 2021 – à assistência estudantil quanto no número de TAE's. da demanda em contraste com o congelamento do
num total de 28%. Quem deve ser particularmente “Nós temos aulas, secretarias e bibliotecas orçamento” alerta o diretor do campus.

Desafios em
Frederico Westphalen
Diretores do campus preocupam-se com
segurança de servidores em deslocamento
RAFAEL BALBUENO

Mais de dez anos após sua inauguração, o campus da UFSM em Frederico Westphalen também enfrenta
dificuldades, sendo o deslocamento uma das principais. Distante cerca de 300km de Santa Maria, as
participações de docentes dos campi de Frederico Westphalen e Palmeira das Missões em atividades na
sede é uma demanda antiga e representa um problema em diferentes aspectos. Um deles diz respeito à
segurança, já que muitos veículos circulam com uma quilometragem bastante acima daquela considerada Igor Senger (vice-diretor) e Arci Wastowski (diretor),
ideal. campus da UFSM em Frederico
Segundo o diretor do campus de Frederico, Arci Dirceu Wastoski, hoje, por exemplo, o campus de
Frederico Westphalen conta com um veículo com mais de 500 mil km rodados. “O mais velho a gente usa para trecho curto, e nós sempre dizemos para usar numa
velocidade controlada, ir devagar [...], porque não tem a segurança de um carro novo. Não tem airbag, não tem freio ABS. Está bem
mantido, mas é carro velho. Esses a gente acaba dando para o servidor para pesquisa em projetos próximos, 10km, 15km”, relata o diretor.
Contudo as debilidades do campus de Frederico não se encerram no deslocamento. Segundo Wastoski, em termos de obras, o campus
conseguiu concluir alguns projetos importantes, como a segunda Casa do Estudante, mas ainda carece de infraestrutura para seu
funcionamento ideal. Enquanto não é concluído o novo prédio de salas de aula, algumas disciplinas são lecionadas em laboratórios.
08 MAIO/JUNHO DE 2018 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

PERFIL CULTURA

Maio de 68
Cinquentão. Mesmo depois de cinco décadas,

Rede de
o Maio de 68 mantém a sua cara de adolescente
rebelde. Não parecem datados os slogans e
palavras de ordem pixadas em muros de Paris e

apoio
pelo mundo afora. Os paralelepípedos ainda
têm a força de bombas semióticas que
abalaram o cotidiano de estudantes e operários

IVAN LAUTERT
na capital francesa, em pleno pós-guerra, em
meio às dicotomias da guerra-fria, os embates

feminino
entre socialistas e capitalistas, as ideias
marxistas e o liberalismo econômico. Aquele
mês de Maio fechava o punho e encerrava uma
década de profundas transformações culturais
no planeta. De tal modo que influenciou artistas
e literatos como Godard, Bertolucci, Carlos
Fuentes e Zuenir Ventura; filósofos como Edgar
Morin ou Olgária Matos. Embora não tenha
produzido as rupturas no sistema como
pretendia, marcou a história da cultura
ocidental de tal modo que permanece no
imaginário social como referência, deixando em
aberto as possibilidades de transformações
ainda em curso.
Para entender, ou pelo menos alcançar alguns
vislumbres do que foi aquele movimento, pode-
se lançar mão de muito material produzido ao
Leila Regina Wolff é a atual primeira secretária da acompanhadas por seus maridos, que, não raro, longo das últimas décadas do século passado.
Sedufsm, eleita para o biênio 2018-2020. Embora terminam a relação afetiva. “As maiores cuidadoras Basta dar uma busca no Google para ver o
integre a diretoria recém-eleita, a docente aposen- de uma mulher são pessoas do sexo feminino - irmã, tamanho de sua memorabilia. Dos filmes que
tada do departamento de Enfermagem da UFSM filha, mãe, tias, todo o lado feminino daquela conheço, indico um filme de 1978, Noites
coleciona uma vasta história, tendo, inclusive, já mulher”, conta a diretora da Sedufsm. Tamanhos são Longas e Manhãs Breves, do diretor William
assumido os postos de diretora e de conselheira da os vínculos afetivos firmados pelo Renascer que Klein, facilmente encontrável no YouTube.
seção sindical em gestões anteriores. algumas mulheres, mesmo após o fim de seus Aliás, o Canal Curta oferece uma série sobre
Ela ingressou na UFSM, em 1º de dezembro de tratamentos, continuam participando dos encontros Maio de 68. Há uma extensa bibliografia,
1983, como enfermeira, atuando na área obstétrica e quinzenais do grupo. Quem desejar mais podendo comparecer o conhecido entre os
ginecológica, especialmente nas atividades de pré- informações pode acessar a página de Facebook brasileiros, 1968: o ano que não terminou,
natal e pós-parto. Em 1986, foi aprovada em intitulada “Grupo Renascer – Apoio a Mulheres com
do jor-nalista Zuenir Ventura, ou a visão
concurso para docente da instituição, lecionando Câncer de Mama UFSM”.
sociológico-socialista de Claude Lefort,
disciplinas relativas à obstetrícia, neonatologia e Contudo, uma vez que o Hospital Universitário de
Cornelius Castoriadis & Edgar Morin na obra
ginecologia. Santa Maria (HUSM) tem caráter regional, boa parte
Mas a atuação de Leila não se restringiu ao seu das pacientes com câncer de mama participam do Maio de 68 – A Brecha. Mas um livro que me
exercício profissional, de forma que ela foi uma das grupo apenas enquanto duram seus tratamentos, chama a atenção é Maio de 68 explicado a
fundadoras do grupo Renascer, cujo mesmo porque o deslocamento de Nicolas Sarkozy, parceria de pai e filho -
objetivo é prestar apoio às mulheres cidades vizinhas gera custos. Foi André e Raphael Glucksmann. Ainda em
diagnosticadas com câncer de mama no “Com o pensando em facilitar a participação das campanha, o candidato da direita francesa
Hospital Universitário de Santa Maria grupo, elas mulheres de outras cidades da região recomendou à sociedade francesa “liquidar a
[HUSM]. Com atuação desde 1991, o que, por volta do ano 2001, criou-se herança do Maio de 68”. A obra, portanto, é
grupo conta, hoje, com a participação
veem que uma espécie de extensão do Renascer uma tentativa de diálogo, no qual tentam
de psicólogas, fisioterapeutas, enfer- não estão em Silveira Martins. “Nas primeiras desmistificar sofismas e contradições sobre
meiras, médicas e acadêmicas de Enfer- sozinhas” reuniões em Silveira, o prefeito de lá esse fenômeno cultural.
magem, Medicina e Fisioterapia. mandava um carro para nos buscar [em
“É difícil um grupo de apoio nesse SM]. Acredito que ainda exista esse
estilo permanecer por muitos anos como este grupo”, comenta Leila.
permanece. É um grupo que orienta tanto sobre a Quanto mais cedo o câncer de mama for diagnos-
patologia em si - o câncer de mama - quanto sobre ticado, maiores as chances. A docente da Enferma-
outros assuntos de interesse das mulheres. Com o gem diz que, quando descoberto na fase inicial, o
grupo, elas têm mais aderência ao tratamento, índice de cura é de praticamente 90%.
porque veem que não estão sozinhas, que aquilo que Outro debate bastante caro à Leila é a necessidade
uma sente já foi sentido pela outra, e as próprias de humanização na assistência obstétrica. Em sua
mulheres apoiam-se umas às outras. Também tese de doutorado, que investigou a representação
trabalhamos com sexualidade, às vezes fazemos social das mulheres em trabalho de parto e parto, a
trabalhos manuais (por exemplo, quando é próximo docente entrevistou 33 mulheres, que relataram suas
do Dia das Mães) e algumas festividades”, explica histórias, algumas marcadas por violência no
Leila, acrescentando que o grupo também auxilia na trabalho de parto. Orlando Fonseca – docente aposentado
adequação do tratamento das mulheres, encami- Aposentada desde 2013 devido a problemas de do departamento de Letras Vernáculas/UFSM
nhando-as para profissionais específicos. saúde, Leila agora volta ao sindicato e, ao mesmo
De todos esses anos de trabalho voluntário no tempo, segue participando do Renascer. Ela ainda
grupo, Leila pode observar que as mulheres em tem se dedicado à espiritualidade a partir de cursos
tratamento para câncer de mama dificilmente são de Reiki, numerologia, tarot e regressão.

Você também pode gostar