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ANDRÉ FRANÇA
ELIZEU CHIODI
ELISANGELA MANUEL
HENRIQUE MARAVALLI
LETHICIA EGUCHI
WILIAN CONCENZZA
São Paulo
2016
ANDRÉ FRANÇA
DALIAN WIL CONCENZZA
ELIZEU CHIODI
ELISANGELA MANUEL
HENRIQUE MARAVALLI
LETHICIA EGUCHI
São Paulo
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2016
RESUMO
Este trabalho investiga dois eixos principais: as políticas públicas e participação social, e
o desenvolvimento do transporte público coletivo, para entender o processo de surgimentos
destes agentes, identificar e descrever os agentes que participam do planejamento urbano de
São Paulo e o nível de participação da sociedade, de lideranças comunitárias e grupos
específicos nas políticas públicas e sua interação com o agente do Estado.
Observar a mobilidade urbana na cidade de São Paulo possibilita a disseminação de
informações públicas relevantes à sociedade por meio de um encadeamento de dados
organizados para compreender as relações dos diversos agentes nas tomadas de decisões de
políticas públicas, além de favorecer o “empoderamento” de cidadãos para o exercício de uma
participação ativa no contexto social de redemocratização do espaço urbano.
ABSTRACT
His work investigates two main areas: public policies and social participation, and the
development of public transportation, to understand the arisings process of these agents,
identify and describe the agents that participate in the urban planning of São Paulo, and the
level of participation society, community leaders and specific groups in public policy and its
interaction with the state agent.
Observe urban mobility in the city of São Paulo enables the dissemination of public
information relevant to society through a data chaining organized to understand the
relationships of the various agents in making public policy decisions, and promote the
"empowerment" of citizens for the exercise of an active participation in the social context of
democratization of urban space.
The agencies involved in the urban planning and public transport policies in São Paulo,
appear separately in the course of the history of São Paulo transport, leaving the private sector
as a profitable investment, through the State emerging as industry regulator and not as an
advocate civil and little by little becoming a civil rights by agents of society, community
leaders and specific groups in public policies and their interactions with the state agent.
Key words: Urban mobility. public transportation. Urban planning. Public policy. Social
movements.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1980 16
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 7
2 PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NAS POLÍTICAS DE TRANSPORTE
PÚBLICO DA CIDADE DE SÃO PAULO 8
3 CONCLUSÃO 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24
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1 INTRODUÇÃO
O transporte coletivo da cidade de São Paulo surgiu em meados de 1870 como uma
resposta a nova configuração geográfica e social. A área central do município comportara o
novo fixo geográfico, e o aumento do fluxo de pessoas nessa região demandava a criação do
transporte coletivo para atender as suas necessidades de deslocamento. (HIGA, 2012, p. 13).
Nesse período, o processo social era bem crítico, não existia o reconhecimento da
condição humana do escravo. Apenas 16% da população era alfabetizada e somente a
população masculina de 25 anos ou mais, de renda mínima de 100 mil réis gozava do direito
político regulamentado pela constituição de 1824 e, somado a isso, a grande propriedade rural
exercia domínio sobre seus trabalhadores e havia também o Estado que estava comprometido
com o poder privado. (CARVALHO, 2002, p. 23).
Com o nascimento de novos bairros fora do núcleo central como o Brás, Santo Amaro
e Penha, a locação de carro de boi nascia como solução para chegar ao centro nos meados dos
anos de 1865 e regulamentados em 1865 (SPTRANS, 2007, p. 02), inicialmente sem preço
tabelado as rotas que se formavam logo seriam tabeladas por uma publicação de jornal
estabelecendo valor por hora ou para locais conhecidos.
Logo, a iniciativa privada, representada por uma pequena parcela de empresários, deu
início à criação de empresas de transporte coletivo respaldada pelo Decreto Imperial de 1871,
quando o Estado, representado na figura do Governo da Província de São Paulo, concedeu
“privilégio exclusivo por 50 anos ao engenheiro Nicolau dos Santos França Leite ou quem
melhores vantagens oferecesse para estabelecer uma linha de diligências tiradas por animais
sobre trilhos de ferro”. (STIEL, 1978, p.34).
Figueroa (1987) estudou a evolução do transporte em cidades latino americanas
percebendo que, neste ponto histórico, as empresas propunham o empreendimento (as linhas
de bondes animal ou não) e cabia a prefeitura a licença para a operação, já que os trilhos
seriam instalados nas vias públicas e ao Estado caberia a prerrogativa de aprovar as tarifas
propostas, quanto ao empreendimento essas concessões assemelhavam-se a um contrato de
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conta e risco, o qual o Estado nada garantia e deixava o serviço sob liberdade da iniciativa
privada
O cenário não favorecia a participação dos agentes da sociedade, classes trabalhadoras
e lideranças comunitárias. Todavia, setores privados tinham total acesso ao Estado.
Embora houvesse esse aspecto negativo em São Paulo, cabe ressaltar o caso particular
de uma manifestação popular ocorrida na Capital do Império, Rio de Janeiro, em 1880 onde
cinco mil pessoas protestavam contra o aumento de um vintém (20 réis) no preço das
passagens em praça pública da cidade, como destacam Carvalho (2002, p. 72) e Nunes (1982
apud MOISÉS, 1982).
Fato este que aponta a participação indireta dos agentes da sociedade na dimensão
politica e sua insatisfação com a má qualidade do serviço público de transporte. Porém, isso
ocorreu de forma não pacífica por causa do confronto com a polícia.
A mídia teve forte influência nesse contexto, visto que apoiaram a classe trabalhadora
e se opuseram ao governo. Papel decisivo desempenhou o jornal Gazeta da Noite,
republicano, que tinha interesse no desgaste do poder da monarquia. Ou seja, cada agente que
participou direta ou indiretamente do desenvolvimento da política pública defendeu de formas
diferentes seus interesses e necessidades. Em São Paulo, a insatisfação com a baixa qualidade
dos serviços, especialmente da companhia de Carros de Ferro de São Paulo, “parceria da rede
de bondes puxados a burro” (SILVA, 2011, p. 34), permaneceu latente até a materialização da
intenção estatal com a criação da Lei Nº 400 de 1889. Com isso, unifica-se todas as empresas
em que apenas uma, a Companhia Viação Paulista. No entanto, a falta de concorrência,
monopólio, deteriorou o serviço de transporte coletivo. Nesse interim, aconteceu o lobby do
Comendador Antônio Augusto de Souza, ex-gerente da Cia de Carris de Ferro de São Paulo,
para a aprovação da Lei Nº 304 de 1887, que versava sobre a autorização de concessão para
lançamento de bondes elétricos e, por 40 anos, concedia o uso das linhas de bondes por tração
elétrica ao próprio comendador e o sócio dele, Francisco Gualco. Essa conquista favoreceu
um novo monopólio, nesta vez, nas mãos da The São Paulo Tramway Ligth and Power
Company, “Ligth” (HIGA, 2012, p. 14). Até o presente momento, foram apresentados os
seguintes agentes: Estado, composto pelo poder Executivo; sociedade, subdividida em setores
privados, grupos dominantes, classes trabalhadoras, lideranças comunitárias e mídia, de
acordo com Vasconcellos (2001). A partir da década de 1910, entra em cena a recém-instalada
incorporadora City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited, “City”, que
celebrou parceria com a Ligth. Em decorrência, “tanto a Ligth, quanto a Cia City,
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A própria atuação do Estado no espaço urbano, por meio das políticas públicas, pode
contribuir para criar, reforçar ou reduzir mecanismos de segregação. O Estado tem
forte influência na produção desses espaços segregados, pois sua atuação no
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[...]a redução de tarifas foi um recurso extremo utilizado pela Companhia para
manter o monopólio do setor de energia, mas originou a decadência do sistema de
transportes. Impedida de aumentar o preço das passagens, a Light desinteressou-se
de investir no setor. Os lucros eram recuperados com o setor de energia, mas o
serviço tornou-se insatisfatório.(ELETROPAULO, 1986).
Balbim (2003) destaca que entre 1920 e 1945 o governo de Washington Luis investiu
na construção de inúmeras rodovias municipais, consolidando o início da metropolização de
São Paulo. Esse fenômeno evidenciado por Balbim e outros autores (SOUZA, 1998;
LANGENBUNCH, 1968) apresenta a revelação de “cumplicidade” entre os diversos setores
empresariais do período, cimentando cada vez mais o modelo de uma cidade coorporativa
(SANTOS [1990] 2009), em que as obras de infraestrutura são realizadas com a intenção de
ampliar as facilidades de atuação de determinados grupos econômicos. Os investimentos
estatais deram prioridade aos setores mais vitais à acumulação, como empresas de transporte e
energia (BONDUKI & ROLNIK, 1992, p.125). “O funcionamento do mercado imobiliário faz
com que a ocupação dessas áreas seja privilégio das camadas de renda mais elevadas, capaz
de pagar um preço alto pelo direito de morar.” (SINGER, 1982, p.27). Um exemplo disso é o
fato de que “loteamentos surgiam entre a zona central e os bairros já consolidados, mas ainda
afastados, como forma de compactar a área central” (BALBIM, 2003, p.57), fazendo com que
o velho centro da cidade passasse “ a ser circundado então por um cinturão de classe média”
(ROLNIK, 1994, p.106) evidenciando uma intensa especulação imobiliária.
Autores como Bonduk e Rolnik ([1979] 1982), (Santos[1990] 2009; [1994] 2009),
Vasconcellos (1996 [1996] 2009; [1999] 2009), Balbim (2003), Cruz (2010) e Rolnik (2011)
nos mostram como o poder público deixou a questão do transporte público totalmente de lado,
ao passo que, a partir da década de 1960, a indução da cidade ganhou características cada vez
mais subordinadas aos interesses das indústrias automobilística e de empresas ligadas ao setor
da construção civil.
Estados contemporâneos apresentam inclinações de utilizar de critérios racionais na
sua condução e como consequência ampliar a utilização da tecnocracia e burocracia (VILA
NOVA, 1985). O cientista social Vila Nova (1985) contribui ao mencionar que:
NOVA, 1985).
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Uma abordagem mais teórica sobre, novamente em Vila Nova (1985) ao se referir que
a estratificação social em classes pode ser verificada em Marx e Engels:
Os benefícios obtidos pela classe média [...] são tão grandes [...] que nós deveríamos
considerar a possibilidade de que ela constitui uma classe independente, capaz de
perseguir e realizar seus próprios interesses em competição ou em colaboração com
capital e trabalho [...]. Eu proponho ainda que nem o capital, nem o trabalho, nem a
própria classe media assalariada têm percebido a importância do poder crescente da
classe média assalariada com o resultado de que esta tem sido capaz de manipular as
outras duas. (GOULD, 1981, apud VASCONCELLOS, 2001).
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entregasse a prefeitura para que a mesma apenas encaminhasse a proposta a CIP, tornado o
mercado de linhas mais desorganizado e caro, além de que “[...] os serviços públicos
passavam a se pautar pela lógica empresarial de buscas do equilíbrio financeiro, viabilizava-se
a continuidade e expansão da participação de empresas privadas na prestação deste serviço de
ônibus urbano” (CHEIBUB, 1985). Processo descrito nos gráficos a seguir:
Neste cenário, a concorrência desleal com a CMTC, houve ainda uma tentativa de
resgatar o serviço quando a prefeitura limitou a atuação das empresas privadas através do
zoneamento da cidade s e categorização das linhas em: radiais, ligando bairros ao centro;
diametrais, ligando duas áreas, porém passando pelo centro; setoriais, operando em apenas
uma área, intersetoriais, passando por um ou mais setores sem passar pelo centro;
alimentadoras, ligando pontos de atividades com estações de metrô e ferrovias e por fim,
especiais, com tarifas mais altas, serviço de maior qualidade criado para cativar o público do
automóvel. (CHEIBUB, 1985).
2.9 MOVIMENTOS
SOCIAIS DA
ATUALIDADE
O pessoal que fechou o acordo com o governo pelo fim dos protestos, caiu de
"para-quedas" no meio do movimento e queria assumir sua liderança, já que são os
representantes das entidades estudantis oficiais e geralmente ligados a partidos
políticos. Então eles simplesmente tomaram a frente nas negociações e assinaram
um acordo que satisfazia já antigas e importantes (diga-se de passagem)
reinvidicações deles, o que os fortaleceria politicamente e facilitaria para o governo
em não ceder em relação as tarifas. Só que essa comissão não tinha
representatividade nenhuma dos estudantes, o movimento surpreendentemente
cresceu com uma espontaneidade que chega a provocar admiração e espanto a quem
está acostumado com isso e está acompanhando de perto, uma vez que não dá pra
ver a dimensão disso só pelos jornais e pela janela dos ônibus presos nos
engarrafamentos. O movimento não tem líder e está havendo uma total aversão ao
oportunismo dos partidos políticos, não estão permitindo bandeiras e não estão
ouvindo quem quer discursar com broches ou camisas de partidos[...] (depoimento
de um participante da Revolta do Buzú, no Centro de Mídia Independente - CMI,
em 07/09/2003).
Isso tem um pouco relação com a forma como nós fizemos nossa construção
política, em especial no MPL. Sempre falávamos que não partiríamos da ideologia
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pro movimento, mas sim do movimento pra ideologia. Ou seja, não seríamos
marxistas-leninistas-trotskistas-posadistas antes de sermos contra os transportes. Era
a partir de nossa crítica à precariedade dos transportes que partiríamos a uma análise
de porque eles eram assim, e depois de porque a sociedade queria eles assim e
depois de por quais caminhos mudaríamos essa sociedade, aí chegando a
formulações políticas amplas. (ativista do MPL).
3 CONCLUSÃO
comunitárias e grupos específicos nas políticas públicas e suas interações com o agente do
Estado.
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