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Política nacional de
desenvolvimento urbano
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Novembro de 2004
Ministério
das Cidades
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
OLÍVIO DUTRA
Ministro de Estado
ERMÍNIA MARICATO
Ministra Adjunta e Secretária-Executiva
JORGE HEREDA
Secretário Nacional de Habitação
RAQUEL ROLNIK
Secretária Nacional de Programas Urbanos
Olívio Dutra
Ministro de Estado das Cidades
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
INTRODUÇÃO 7
UM PACTO FEDERATIVO 23
A CRISE URBANA 27
ANEXOS 77
Princípios, diretrizes e objetivos da PNDU definidos na 1ª Conferência das Cidades 77
População urbana brasileira - Mapas do IBGE 83
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
INTRODUÇÃO
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
Os déficits e metas a serem alcançados pela PNDU estão detalhados nos cadernos
específicos. É importante lembrar o compromisso do governo Lula com o Plano Pluria-
nual 2004-2007 do Governo Federal, o Projeto Brasil em Três Tempos, formulado pelo
Núcleo Estratégico da Presidência da República, e principalmente, as Metas do Milênio
da Organização das Nações Unidas, pelas quais o país, até 2015, deve diminuir pela
metade o número de pessoas sem acesso ao saneamento básico e reduzir também o
número de pessoas que vivem em condições habitacionais indignas.
Complementam esse caderno dois documentos que estão em anexo: 1. Princípios,
Diretrizes e Objetivos da PNDU definidos na 1ª Conferência Nacional das Cidades em
outubro de 2003; e 2. População urbana brasileira, contendo informações sobre a medi-
ção da população urbana pelo IBGE.
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
Diante da fragilidade da SEDU e das restrições orçamentárias do governo federal, a
Caixa Econômica Federal termina por conduzir, ainda que sem uma orientação formal e
explícita, o rumo da política urbana, tendo em vista seu poder como agente operador
do FGTS – a maior fonte de recursos para o financiamento público da habitação e do
saneamento.
O corte nos investimentos públicos e a restrição de crédito para o setor público,
conforme orientação do FMI, promoveram um forte recuo das ações nas áreas do sa-
neamento ambiental, especialmente entre 1998 e 2002. No mesmo período, 70% dos
recursos federais para habitação (majoritariamente do FGTS) foram destinados à popu-
lação com renda superior a 5 salários mínimos, quando o acúmulo de décadas de exclu-
são nas cidades criou um déficit habitacional composto em 92% por famílias com renda
abaixo destes mesmos 5 salários mínimos. Esse foi o resultado da falta de políticas seto-
riais claras e de uma gestão macroeconômica que priorizou a ajuste fiscal.
Mas nem tudo deixou de avançar ao longo do período.
O movimento pela reforma urbana e a conquista do Ministério das Cidades
Em 1963, o Encontro Nacional de Arquitetos, que contou com representação de ou-
tras categorias profissionais, lança um tema inédito nos debates sobre as Reformas de
Base que mobilizaram a sociedade brasileira: a Reforma Urbana. Depois dos desfechos
políticos que se seguiram ao golpe de 1964 este foi o tema que, em meados dos anos
70, mobilizou os movimentos comunitários urbanos apoiados pelas Comunidades Ecle-
siais de Base da Igreja Católica.
O crescimento das forças democráticas durante os anos 80 alimentou a articulação
dos movimentos comunitários e setoriais urbanos com o movimento sindical. Juntos,
apresentaram a emenda constitucional de iniciativa popular pela Reforma Urbana na
Assembléia Nacional Constituinte de 1988. A incorporação da questão urbana em dois
capítulos da Constituição Federal permitiu a inclusão nas constituições estaduais e nas
leis orgânicas municipais de propostas democráticas sobre a função social da proprie-
dade e da cidade.
A regulamentação desses capítulos constitucionais, no entanto, levou 13 anos. Nesse
período o Movimento Nacional pela Reforma Urbana, reunido no Fórum Nacional pela
Reforma Urbana, não deu trégua ao Congresso Nacional. Foram muitas ações e mani-
festações, idas e vindas de militantes (de movimentos sociais, entidades profissionais,
ONGs, entidades universitárias e de pesquisa e mesmo de prefeitos e parlamentares)
que buscavam a aprovação do Projeto de Lei denominado Estatuto da Cidade. Em 2001
esse projeto de importância ímpar é aprovado no Congresso Nacional e se torna a Lei
Federal 10.257.
Articulados à luta pelo Estatuto da Cidade, diversos movimentos urbanos organizam
ocupações e protestos contra a falta de habitação e elaboram o primeiro Projeto de
Lei de Iniciativa Popular – tal como previsto na nova Constituição Federal –, propondo
a criação do Fundo Nacional de Moradia Popular, a ser formado por recursos tanto
orçamentários quanto onerosos e controlado democraticamente por um Conselho
Nacional de Moradia Popular. Esse Projeto de Lei foi subscrito por 1 milhão de eleitores
de todo o país e entregue ao Congresso Nacional em 1991. Em 2004, um texto substitu-
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
solução para o problema da habitação senão por meio da política urbana. O projeto
desenvolveu, ainda, uma proposta para o financiamento habitacional e uma proposta
de caráter institucional.
O Ministério das Cidades foi estruturado levando em consideração a reunião das
áreas mais relevantes (do ponto de vista econômico e social) e estratégicas (sustentabi-
lidade ambiental e inclusão social) do desenvolvimento urbano. Foram criadas quatro
Secretarias Nacionais: Habitação, Saneamento Ambiental, Mobilidade e transporte urba-
no e Programas Urbanos. Foram transferidos ao Ministério das Cidades o Departamento
Nacional de Trânsito, do Ministério da Justiça; a Companhia Brasileira de Trens Urbanos e
a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A., ambas do Ministério dos Transportes.
A transversalidade é um paradigma que o Ministério das Cidades carrega em sua pró-
pria estrutura para ser o formulador, naquilo que é de competência do governo federal,
das políticas de saneamento ambiental, habitação e mobilidade/transporte urbano e
trânsito; o definidor de diretrizes e princípios da política urbana, conforme norma cons-
titucional; e o gestor da aplicação e distribuição de recursos do FGTS e do Orçamento
Geral da União aos temas concernentes. A Caixa Econômica Federal é a principal opera-
dora da política urbana e das políticas correlatas. O Banco Nacional de Desenvolvimen-
to (BNDES) também opera políticas urbanas, em especial saneamento e transporte.
O Ministério das Cidades possui um quadro enxuto de funcionários e cargos de livre
provimento, motivo pelo qual o papel dos operadores é absolutamente fundamental
para a descentralização e a viabilidade da ação em todo o território nacional. Ainda em
2003, ele promove a Conferencia Nacional das Cidades, evento que foi precedido de
reuniões em 3400 municípios em todos os estados. Na ocasião, é criado o Conselho das
Cidades, que se reúne pela primeira vez em março de 2004. Ainda neste ano o Minis-
tério das Cidades cria os Comitês Técnicos do Conselho das Cidades: Habitação, Sanea-
mento Ambiental, Transporte/Mobilidade e Trânsito e Planejamento Territorial.
federal para o desenvolvimento urbano (com POLUÍDA? QUAL O CUSTO DE BUSCAR FONTES DE
destaque para habitação e saneamento). Foi ÁGUA EM BACIAS MAIS DISTANTES? QUAL O CUSTO
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
Várias pesquisas mostram que as metrópo- PARA MUITOS, A CIDADE É APENAS REFLEXO
les com vantagens na competição pela atra- PASSIVO DAS CONDIÇÕES MACROECONÔMICAS,
ção dos fluxos econômicos são as de menor UMA POSIÇÃO QUE NÃO É RESTRITA AOS
índice de polarização social e não as de me- CONSERVADORES DE DIREITA. PARA OUTROS, ELA É
nores custos salariais. Ou seja, as cidades com- PALCO DE ACONTECIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS
petitivas são as que se recusam a desmontar IMPORTANTES, UMA GRANDE ARENA PARA O
os seus sistemas de proteção social. Aquelas EXERCÍCIO DO PODER, SEJA PARA OS GRUPOS LOCAIS
que buscam oferecer a desregulamentação
SEJA EM RELAÇÃO AO CENÁRIO NACIONAL, QUANDO
como vantagem tiveram seu crescimento limi-
SE TRATA DE UMA METRÓPOLE.
tado pela própria queda na qualidade de vida.
É nas metrópoles onde se produz a maior tura urbana não tem tradição de investimento
parte do PIB brasileiro. Na sociedade con- privado e o mercado residencial se restringe,
temporânea, que é antes de mais nada uma acentuadamente, aos imóveis de luxo.
sociedade urbana, elas constituem vetor de- Sem o investimento público, o crescimen-
cisivo do processo de desenvolvimento. Visto to econômico é insuficiente para promover
sob essa ótica, o financiamento ao desenvol- o desenvolvimento social e, portanto, para
vimento urbano, longe de ser uma alocação promover o desenvolvimento urbano. O Brasil
de recursos compensatórios, é uma condição cresceu a taxas médias de 7% ao ano entre
sine qua non da própria continuidade do cres- 1940 e 1980, mas deixou como herança desse
cimento econômico que teve sua retomada período cidades marcadas por uma desigual-
em 2004. dade social cada vez mais agravada pelas cri-
As cidades não são marcadas apenas pela ses financeiras dos anos seguintes.
questão social. Existe no universo urbano Com as políticas de ajuste fiscal, o financia-
grandes desafios à Nação – o desenvolvimen- mento ao desenvolvimento urbano encontra,
to do País, a cooperação federativa, a desi- ao longo dos últimos anos, duas ordens de
gualdade regional e urbana e a ampliação da constrangimentos. Em primeiro lugar, a pura e
democracia. simples retração dos investimento públicos di-
retos. Em segundo, a restrição da capacidade
de endividamento de estados e municípios,
O financiamento da política urbana
que leva ao contingenciamento de recursos
Como já foi alertado anteriormente, as destinados ao financiamento do setor público.
propostas para a política fiscal e tributária que Esse impedimento de segunda ordem
dizem respeito ao desenvolvimento urbano mostra que não houve e não há propriamen-
serão formuladas, debatidas e divulgadas a te uma falta de recursos, como atestaram e
partir de 2005. No entanto, a importância do atestam atualmente as fontes do FGTS e do
tema do financiamento da política urbana exi- Fundo de Amparo do Trabalhador, operadas
ge uma introdução. Considere o leitor que ela pela Caixa Econômica Federal e pelo BNDES.
é bastante preliminar. Também as agências internacionais como o
Em nenhum país do mundo houve desen- Banco Mundial e o Banco Interamericano de
volvimento urbano num contexto econômico Desenvolvimento encontram dificuldades
de restrição ao investimento público. Essa para fechar novos contratos de financiamen-
tendência se agrava quando se trata de países tos governamentais. Na América Latina, estas
como o Brasil, onde a produção de infra-estru- agências recebem desde 2000 muito mais
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
APESAR DO AUMENTO SIGNIFICATIVO DE RECURSOS política urbana, está propondo ao Conselho
FEDERAIS SE COMPARADO AOS ANOS ANTERIORES, Curador do FGTS, com o apoio do Ministério
O MINISTÉRIO DAS CIDADES CONSIDERA URGENTE do Trabalho e da Caixa Econômica Federal,
A EXPANSÃO DOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS EM respectivamente gestor e operador dos re-
HABITAÇÃO E EM INFRA-ESTRUTURA URBANA cursos, esta reorientação dos financiamentos
NOS TRÊS NÍVEIS DE GOVERNO E SUA DESTINAÇÃO habitacionais.
NÃO-ONEROSA ÀS FAMÍLIAS COM RENDA MENSAL
É preciso lembrar que é importante para a
Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
INFERIOR A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS, A IMENSA
a ampliação dos investimentos públicos por
MAIORIA DOS BRASILEIROS QUE COMPÕEM O DÉFICIT
meio das Parcerias Público-Privadas, confor-
DE MORADIAS E INFRA-ESTRUTURA EM NOSSAS
me projeto de lei em debate no Congresso
CIDADES
Nacional neste ano de 2004. As Parcerias
Público-Privadas constituem uma alternativa
A maior parte desses recursos vem do importante de financiamento da infra-estru-
FGTS, seguindo orientação de seu Conselho tura em transportes, saneamento e habitação,
Curador, em que tomam assento governo e e o Ministério das Cidades já estuda algumas
sociedade civil. O desempenho notável deste possibilidades. Esses recursos, no entanto,
fundo é indicativo da recente recuperação deverão complementar o papel insubstituível
dos empregos formais no país. do poder público em sua responsabilidade de
Além destes recursos, as aprovações em atender à população mais vulnerável, que não
2004 da Lei Federal 10.931 (Lei do Patrimônio tem condições de pagar o preço do mercado
de Afetação) e da Resolução 3.177 do Con- pelos serviços.
selho Monetário Nacional asseguram para o Apesar do aumento significativo de recur-
setor habitacional investimentos, a partir de sos federais se comparado aos anos anterio-
poupança privada, da ordem de R$ 12 bilhões res, o Ministério das Cidades considera urgen-
anuais para 2005 e 2006, segundo estimativa te a expansão dos investimentos públicos em
do Ministério da Fazenda e da Associação habitação e em infra-estrutura urbana nos três
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário níveis de governo e sua destinação não-one-
e Poupança. São iniciativas que promovem rosa às famílias com renda mensal inferior a 3
o reaquecimento da atividade produtiva na salários mínimos, a imensa maioria dos brasi-
construção civil, setor que gera empregos ao leiros que compõem o déficit de moradias e
longo de uma extensa cadeia produtiva de infra-estrutura em nossas cidades.
base nacional e que expandem a produção de A absoluta necessidade destes recursos
habitação pelo mercado para um segmento públicos levou o Ministério das Cidades a
populacional até então excluído dos financia- propor no Fórum Urbano Mundial, realizado
mentos privados: a classe média, com renda em outubro de 2004 em Barcelona, a exclusão
entre 5 a 10 salários mínimos. dos investimentos em habitação e infra-estru-
Com estes estímulos ao mercado habita- tura urbana do cálculo do superávit primário
cional, espera-se que os recursos do FGTS dos países não desenvolvidos, proposta já de-
possam ser dirigidos às faixas mais baixas de fendida pelo presidente Lula junto às Nações
renda e que cumpram, assim, o importante Unidas e que resultou em documento apro-
papel social que deles se espera há décadas. vado pelos países latino-americanos reunidos
O Ministério das Cidades, que é gestor da no Grupo do Rio.
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
Um pacto federativo
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FOTO CUSTÓDIO COIMBRA
A crise urbana
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
A desigualdade
regional e as cidades
Como se pode observar no mapa 3, a crescimento das cidades médias nas regiões
rede urbana das regiões Sudeste e Sul, onde de agropecuária extensiva dos cerrados e da
estão concentradas as maiores parcelas da franja amazônica. No entanto, considerada
produção e da riqueza, os melhores sistemas a dimensão territorial dessa ampla região, o
de transportes e comunicações, fortalecem a número de cidades e o tamanho delas ainda
integração econômica e reforçam o padrão é limitado. Igualmente, a rede de cidades de
macroespacial de concentração industrial e porte médio no Nordeste do Brasil ainda é li-
dos serviços. Em segundo lugar, observa-se o mitada, prevalecendo a alta concentração em
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
algumas capitais (Salvador, Recife, Fortaleza) REPENSAR O DESENVOLVIMENTO URBANO E
e, secundariamente, nas demais capitais. Além REGIONAL BRASILEIRO IMPLICA EM ELABORAR UM
de não se formar uma rede urbano-industrial e PROJETO DE MÉDIO E LONGO PRAZO QUE TENHA
de serviços integrada, a grande concentração COMO META A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES
da população em poucas cidades agrava os REGIONAIS E SOCIAIS, UM MELHOR ORDENAMENTO
problemas sociais decorrentes da falta de in- DO TERRITÓRIO E UMA VISÃO DE ESTRATÉGIA
fra-estrutura física e social, emprego e renda. GEOPOLÍTICA QUE INCLUA NOSSA ARTICULAÇÃO COM
Em anos mais recentes várias tendências
OS PAÍSES VIZINHOS
locacionais das atividades econômicas têm
influenciado e são influenciadas pela rede ur- ficação produtiva das regiões mais desenvol-
bana. Do ponto de vista industrial podem ser vidas, especialmente no estado de São Paulo
identificados pelo menos quadro grandes mo- e seu entorno, pela substituição da pecuária
vimentos. O primeiro, pela ampliação da área e da agricultura de menor valor por área por
metropolitana de São Paulo e sua integração uma agricultura intensiva e de alto valor por
com uma área dinâmica e de comutação diá- área, a exemplo da laranja, cana- de – açúcar,
ria de pessoas, incluindo as regiões de Campi- fruticultura, horticultura, floricultura etc. Um
nas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos. segundo movimento é a grande expansão
Esta mesorregião contém uma população es- pecuária e agrícola na região dos cerrados,
timada em 25 milhões de habitantes e detém incluídos os estados da região Centro-Oeste
mais de um terço da produção industrial e do do País e a parcela dos cerrados dos estados
PIB do País. nordestinos (Bahia, Piauí e Maranhão), onde
Um segundo movimento pode ser observa- ocorre uma grande expansão da produção
do pela aglomeração macroespacial da indús- pecuária, soja, milho e algodão. O último, são
tria entre a região central de Minas Gerais e o as áreas irrigadas do Nordeste, onde o clima
nordeste do Rio Grande do Sul, o qual combi- seco e quente tem permitido o desenvolvi-
na a relativa desconcentração da área metro- mento da fruticultura, atendendo à demanda
politana de São Paulo com a formação de uma nacional e às exportações. Acrescentem-se as
rede urbano-industrial de integração, onde se explorações de recursos naturais (florestais e
localizam as indústrias que exigem uma maior minerais) na Região Norte, com destaque para
integração inter-industrial, reforçando a rede as atividades exportadoras.
urbana regional. Um terceiro movimento é ob- Essa dinâmica territorial recente das ativi-
servado pela retomada da indústria da região dades econômicas no Brasil tem reorientado
Nordeste do Brasil com o deslocamento ou parcela dos fluxos migratórios e contribuído
criação de novas unidades nos setores têxtil, para a criação e o crescimento da rede de
confecções, calçados e alimentos, baseadas cidades, nitidamente visualizados na compa-
em incentivos fiscais e trabalho barato. Por ração entre os mapas 1 e 2.
último, o avanço da produção agrícola na re- Repensar o desenvolvimento urbano e re-
gião dos cerrados e as explorações minerais gional brasileiro implica em elaborar um pro-
na região Norte do país têm induzido a criação jeto de médio e longo prazo que tenha como
de novas áreas industriais nesta vasta região, meta a redução das desigualdades regionais e
como se observa no mapa 3. sociais, um melhor ordenamento do território
Do ponto de vista agrícola se observa três e uma visão de estratégia geopolítica que in-
grandes movimentos. O primeiro é a intensi- clua nossa articulação com os países vizinhos.
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
habitação, saúde, cultura, finanças, educa- DESIGUALDADES DESSA ORDEM SÃO
ção geral e profissional. CAPAZES DE CONDENAR REGIÕES INTEIRAS
Cabe à política urbana revelar as cidades DO PAÍS À ESTAGNAÇÃO E AO ESGARÇAMENTO
para a ação governamental e destacar a sua DAS REDES DE CIDADES EM QUE AS
importância para o desenvolvimento de ALTERNATIVAS ECONÔMICAS SÃO O ATRASO
toda uma região e do País como um todo. AGRÍCOLA E A EMIGRAÇÃO É FATAL PARA A
Esta é a função da nova tipologia das cida- DINÂMICA PRODUTIVA REGIONAL EM MAIS
des, em elaboração no âmbito da Política
DE UM ASPECTO
Nacional de Desenvolvimento Urbano.
A tipologia de cidades combina parâme-
tros básicos de redes e variáveis urbanas
com a recém-criada tipologia de regiões
giões de Tipo 1, de alta renda. Está no Norte
que será usada pelo Ministério da Integração
a maior parcela (25,2%) dos municípios que
Nacional para reorientar o desenvolvimento
apresentam as mais elevadas taxas de cres-
regional do País. Esta tipologia regional é
cimento da população total, acima de 5%
baseada no reconhecimento de quatro Mi-
anual, enquanto o Nordeste (32,1%) e o Sul
crorregiões: Microrregião de tipo 1, de alta
(28,5%) têm a maior fração de municípios
renda; Microrregião de tipo 2, de média e
com crescimento populacional negativo,
baixa rendas, mas de alto dinamismo recen-
abaixo de -2,5%.
te; Microrregião de tipo 3, de média renda,
Para revelar o peso do ambiente econô-
mas de baixo dinamismo recente; Microrre-
mico microrregional na caracterização das
gião de tipo 4, de baixa renda e baixo dina-
cidades, a tipologia por microrregiões será
mismo recente.
combinada com parâmetros territoriais da
85,9% dos municípios localizados em
Rede de Cidades e com um conjunto de va-
Microrregiões de Tipo 4, com baixa renda e
riáveis urbanas.
baixo dinamismo econômico, encontram-
Os parâmetros da Rede de Cidades fo-
se na Região Nordeste e os 14,1% restantes
ram elaborados pelo IPEA, IBGE e o Núcleo
encontram-se na Região Norte. Isto é, não
de Economia Social, Urbana e Regional da
existem municípios de renda baixa e baixo
Unicamp, resultando numa hierarquia em 5
dinamismo econômico nas regiões Sudeste,
níveis, na qual 111 municípios são identifica-
Sul e Centro Oeste. Está concentrada no Su-
dos como nós de uma rede urbana nacional,
deste e no Sul a expressiva maioria (90,4%0)
com 49 aglomerações e 62 cidades não
dos municípios localizados em Microrre-
aglomeradas. Esta rede agrega municípios
em unidades territoriais que não são ade-
quadas aos recortes adotados pela tipologia
DESIGUALDADES DESSA ORDEM SÃO CAPAZES de microrregiões, o que torna obrigatória
DE CONDENAR REGIÕES INTEIRAS DO PAÍS À a adoção do município como unidade de
ESTAGNAÇÃO E AO ESGARÇAMENTO DAS REDES DE análise mínima para a nova tipologia urbana.
CIDADES EM QUE AS ALTERNATIVAS ECONÔMICAS SÃO A aglomeração de Brasília, por exemplo, é
O ATRASO AGRÍCOLA E A EMIGRAÇÃO É FATAL PARA composta de municípios que, do ponto de
A DINÂMICA PRODUTIVA REGIONAL EM MAIS DE UM vista microrregional, se distribuem em três
ASPECTO tipos diferentes.
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
necessário à dinamização da agricultura, com AS METRÓPOLES BRASILEIRAS CONCENTRAM HOJE
expansão de atividades complementares nas A QUESTÃO SOCIAL, CUJO LADO MAIS EVIDENTE E
áreas de habitação, serviços públicos, comér- DRAMÁTICO É A EXACERBAÇÃO DA VIOLÊNCIA. HÁ
cio para o consumo das famílias, etc. DEZ ANOS A VIOLÊNCIA NAS PERIFERIAS TINHA
OUTRA DIMENSÃO. NAS METRÓPOLES DO SUDESTE,
Priorização de investimentos e ações nas
A TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIO CHEGA A MAIS DE
regiões metropolitanas.
100 MORTOS POR 100 MIL HABITANTES NA FAIXA DA
Segundo esta hipótese, que será desenvolvida
POPULAÇÃO COM IDADE ENTRE 15 E 24 ANOS, O QUE
no próximo item, as metrópoles são as por-
MUITO PROVAVELMENTE OCASIONARÁ IMPACTOS NA
tadoras dos principais dilemas da sociedade
ESTRUTURA ETÁRIA NOS PRÓXIMOS ANOS
brasileira. O desperdício da força produtiva
concentrada nas metrópoles e os constrangi-
mentos advindos da metropolização da vida pulação, desde megacidades como São Paulo,
social inviabilizariam qualquer projeto de de- reunindo mais de 19 milhões de habitantes,
senvolvimento e coesão nacional. até pequenas aglomerações urbanas institu-
Essas hipóteses serão discutidas ao longo cionalizadas como metropolitanas. Algumas
do processo da 2ª Conferência Nacional das crescem a taxas anuais superiores a 3% ao ano
Cidades. (como é o caso de Goiânia e Curitiba e tam-
bém da Região Integrada de Desenvolvimento
Econômico de Brasília), com expansão expres-
siva até mesmo nos pólos, enquanto outras
REGIÕES METROPOLITANAS possuem crescimento elevado apenas nas suas
periferias. As regiões têm distintos pesos no
Dimensões da questão metropolitana que se refere à participação na renda e na di-
Hoje o Brasil tem 27 regiões metropolitanas ofi- nâmica da economia, com destaque para São
cialmente reconhecidas, que representam 453 Paulo, com 178 das 500 maiores empresas do
municípios onde vivem cerca de 70 milhões Brasil e uma massa de rendimento pessoal que
de habitantes. São dimensões que comportam se aproxima de 1/3 da massa total do conjunto
uma realidade muito diversificada. De um lado, das regiões metropolitanas brasileiras.
temos São Paulo e Rio de Janeiro com densida- Muitas de nossas metrópoles e aglomera-
des demográficas de 2.220 e 1.899 habitantes ções se articulam configurando novos arranjos
2
por km respectivamente e, de outro, Tubarão espaciais, com redobrada importância no pla-
e Carbonífera, em Santa Catarina, com 19,5 e no econômico e social e também redobrada
2
87,7 habitantes por km . Nos últimos dez anos, complexibilidade quanto ao compartilhamen-
a população total das sete maiores regiões to de uma gestão voltada à inclusão social e
metropolitanas oficiais cresceu 30%, enquanto municipal. É o caso de complexos urbanos
que a população de seus municípios nucleares como o das regiões de São Paulo, Campinas e
não cresceu mais que 5% e, em algumas áreas Baixada Santista, que articulam regiões distin-
centrais, chegou mesmo a diminuir. tas num processo único.
O processo de metropolização avança, Ao lado das evidências do aumento da
mas se diversifica no território nacional. Como importância institucional, demográfica e eco-
mencionamos anteriormente, temos regiões nômica, as metrópoles brasileiras concentram
metropolitanas com diferentes portes de po- hoje a questão social, cujo lado mais evidente
40
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
A organização do território produz efeitos re- HOJE SE ESTABELECE ENTRE A SEGREGAÇÃO
gressivos na renda através da segregação social RESIDENCIAL E A EXCLUSÃO DO ACESSO ÀS
e simbólica representada nas favelas. No Rio de OPORTUNIDADES DE TRABALHO, RENDA
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, a renda dos E ESCOLARIDADE. A PARTIR DOS ANOS 90
trabalhadores com até quatro anos de estudo OBSERVAMOS NAS PRINCIPAIS METRÓPOLES
e que residem em favelas é, respectivamente, BRASILEIRAS A COMBINAÇÃO PERVERSA DE
inferior em 14%, 19% e 21% àquela obtida BARREIRAS PARA A MOBILIDADE SOCIAL ENTRE
pelos trabalhadores em igual condição social,
OCUPAÇÕES QUALIFICADAS E NÃO-QUALIFICADAS
mas que residem fora de favelas. Esta situação
– EXIGÊNCIA DE DIPLOMAS, EXPERIÊNCIA E
repete-se para todos os atributos incidentes na
IDADE, EXCLUINDO AMPLOS SEGMENTOS DE
determinação da renda e sugere que a popula-
TRABALHADORES DO ACESSO AOS POSTOS MAIS
ção moradora das favelas é objeto de práticas
ESTÁVEIS, PROTEGIDOS E BEM REMUNERADOS,
discriminatórias no mercado de trabalho.
É uma segregação residencial que se ex- E O SEU ISOLAMENTO, SOCIAL E CULTURAL EM
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CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
A desigualdade urbana
DÉFICITS QUANTITATIVOS
qualitativo 2,8 milhões de domicílios urbanos
E QUALITATIVOS NA POLÍTICA
que contabilizam mais de três moradores por
HABITACIONAL
cômodo da habitação e 837 mil moradias edi-
No Brasil, o déficit habitacional meramente ficadas há mais de 50 anos e carentes de re-
quantitativo é da ordem de milhões de unida- forma e readequação – um problema urbano
des habitacionais. O país carece de moradia recente e que deverá se agravar nos próximos
para 7,2 milhões de famílias, 5,5 milhões delas anos –, pois uma parte expressiva do estoque
em áreas urbanas e 1,7 milhões em áreas ru- de domicílios do País foi construída a partir da
rais. O déficit quantitativo nas faixas de renda década de 60.
de até 2 salários mínimos é de 4,2 milhões de As necessidades qualitativas se diferenciam
moradias, concentrado principalmente nas re- entre as regiões do País. No Norte, Nordeste
giões metropolitanas. Pelos dados censitários, e Centro Oeste, mais de 50% dos domicílios
este mesmo déficit sofreu retração para as urbanos permanentes têm algum tipo de ca-
faixas de renda acima de 5 salários mínimos, rência de infra-estrutura urbana e saneamento
passando de 15,7% do total em 1991 para ambiental, porcentagem que diminui para
11,8% em 2000. 15% no Sudeste, onde o adensamento exces-
Quanto ao déficit qualitativo, sua quantifi- sivo e a depreciação são expressivos.
cação mais preliminar diz respeito à densida- Dois fenômenos associados à qualidade
de habitacional e ao padrão construtivo da das habitações também precisam ser con-
moradia, bem como sua conexão com redes tabilizados, ainda que as estatísticas sejam
de infra-estrutura urbanas. Quase um terço do menos inequívocas: o peso dos aluguéis para
total dos domicílios urbanos permanentes do populações de baixa renda e a irregularidade
País, 10,2 milhões de moradias, carece de, pelo na propriedade da habitação.
menos, um dos serviços públicos – abasteci- O ônus excessivo do aluguel, que compro-
mento de água, esgotamento sanitário, coleta mete 30% ou mais do rendimento das famílias
de lixo e energia elétrica –, com 60,3% destas urbanas, é um dos principais problemas da
moradias nas faixas de renda de até 3 salários locação para fins de moradia. Em 2000, havia
mínimos. Na região Nordeste existe mais de 1,2 milhão de famílias com rendimentos de
4,4 milhões de moradias com este tipo de até três salários mínimos nesta situação.
deficiência, o que representa cerca de 36,6% A ausência de informações abrangentes e
do total do Brasil. Também compõem o déficit sistematizadas, de âmbito nacional, sobre as
Quanto à irregularidade fundiária na posse PROMOTORES, QUE NÃO CONTAM COM O INCENTIVO
46
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
se caracteriza pela morosidade, e raramente Os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalha-
chegam ao registro de títulos em cartório e à dor, em virtude da sua característica onerosa,
inscrição em cadastros públicos. não contribuem para amenizar a dificuldade
A ausência de políticas públicas claras e de atendimento do segmento populacional
abrangentes inviabiliza até mesmo a oferta de de menor renda, que não acessa o crédito ha-
moradia para os segmentos de renda média bitacional. Os financiamentos habitacionais do
por parte do mercado imobiliário brasileiro. Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo,
Do total de 4,4 milhões de unidades empreen- no período compreendido entre 1990 e 2002,
didas, no período de 1995 a 1999, apenas 700 apresentaram um ritmo inferior à metade do
mil foram promovidas pela iniciativa pública patamar histórico de suas aplicações. Esta
ou privada no Brasil. As outras 3 milhões e 700 queda reflete a pouca atratividade da Cader-
mil unidades foram construídas por iniciativa neta de Poupança e a exagerada flexibilidade
da própria população, ou seja, cerca de 70% assegurada aos agentes captadores no tocan-
da produção de moradia no País está fora do te ao cumprimento das exigibilidades de apli-
mercado formal. A razão desta inoperância do cação. Esta redução na oferta de crédito para
mercado habitacional brasileiro está no dese- as famílias de classe média deixou uma parce-
nho institucional das políticas habitacionais, la do mercado potencial sem atendimento e
cuja implementação confusa e pulverizada criou uma pressão sobre os recursos do FGTS.
limita a realização de programas habitacionais O Sistema de Financiamento Imobiliário,
à iniciativa de alguns agentes promotores, que criado em 1997, não conseguiu proporcionar
não contam com o incentivo de uma política aumento de investimentos no setor habitacio-
nacional de habitação. nal em virtude da falta de segurança jurídica
As restrições que seguem prevalecendo no nos contratos e inexistência de um mercado
âmbito dos financiamentos ao setor público secundário que garantisse liquidez para os
inviabilizam programas de urbanização e de títulos lastreados em recebíveis imobiliários.
combate ao déficit qualitativo, em particular O ambiente financeiro instável provocado
os destinados à complementação da infra- pelo endividamento externo do País, a ma-
estrutura. Inviabilizam, ainda, o atendimento nutenção de taxas de juros altas e a incerteza
da população de menor renda e as obras em quanto às taxas futuras agravaram o risco de
assentamentos precários – favelas, cortiços, inadimplência e inviabilizaram o lançamento
palafitas. A rigidez na concessão do crédito, de papéis de prazo longo, especialmente se
a utilização de critérios conservadores na lastreados em recebíveis residenciais.
análise de risco, a ausência de uma política de
subsídios para compatibilizar o custo do imó-
INSUSTENTABILIDADE DA MOBILIDADE
vel à capacidade de renda da população mais
URBANA – TRÂNSITO E TRANSPORTE
pobre conduz a aplicação em faixas de renda
média os principais fundos públicos brasileiros As principais cidades e regiões metropolitanas
voltados à habitação e infra-estrutura urbana. do Brasil sofrem hoje uma crise sem prece-
A aplicação de 79% dos recursos do Fundo dentes na história da mobilidade urbana no
de Garantia por Tempo de Serviço no atendi- Brasil. Trata-se de uma crise de controle públi-
mento à população com renda acima dos 5 co sobre a mobilidade e o trânsito, visível na
salários mínimos não é determinada de acor- clandestinidade crescente, na desvinculação
do com o perfil do déficit habitacional do País. das políticas de uso do solo e transporte e na
por 1600 empresas (sendo 12 metro-ferro- CERCA DE 95% DAS OPERAÇÕES SÃO REALIZADAS POR
48
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
ração. Nos últimos nove anos, nessas mesmas Por fim, o transporte coletivo brasileiro
regiões metropolitanas, nada menos de 26% enfrenta um permanente obstáculo político e
dos brasileiros com renda familiar abaixo de ideológico, que é a prioridade dos orçamen-
R$ 500 trocaram o ônibus pelos deslocamen- tos públicos para o transporte individual. Os
tos a pé. Outros 13%, pela bicicleta. investimentos no sistema viário, que benefi-
Três aspectos da crise do transporte públi- ciam geralmente os usuários de automóvel
co urbano ficam evidenciados nesta queda particular, são defendidos como de interesse
de demanda e de produtividade: a gestão público, ao passo que investimentos em gran-
estagnada do sistema de transporte público, o des sistemas de transporte público passam a
modelo remuneratório insuficiente e a derrota depender do mercado financeiro ou da dispo-
frente à prioridade do transporte individual nibilidade dos poucos recursos governamen-
nas políticas públicas de trânsito e transporte. tais. É uma barreira ideológica que impede
As ações de fiscalização, administração e que os custos impostos à sociedade pelo uso
planejamento, que compõem a gestão do do automóvel particular sejam contabilizados.
sistema, hoje se encontram paralisadas diante A face mais perversa da crise da mobilida-
do aumento da informalidade. Trata-se de de urbana é a aceitação do transporte indivi-
uma rede de concorrência ilegal formada em dual como sua solução. Ela implica em inves-
quase todas as grandes cidades brasileiras e timentos constantes em expansão da malha
que migra de áreas não cobertas por sistemas viária para suportar o crescimento de nossa
públicos de transporte para concorrer em motorização, que aumentou de 1 veículo para
linhas com rentabilidade garantida, sem exer- cada 122 habitantes, em 1950, para 1 veículo
cer gratuidades ou isenções. Esta migração só para cada 5 habitantes, em 2003. Atualmente,
é possível porque freqüentemente o sistema os veículos particulares representam somente
legal está assentado em contratos de serviço 19% dos deslocamentos nas cidades brasilei-
inadequados, incapazes de sustentar uma ras, mas consomem cerca de 70% de suas vias,
regulação integrada do transporte urbano, uma desproporção que gera impactos diretos
quando a desregulamentação é o próprio na velocidade dos meios coletivos e, portanto,
meio em que o transporte coletivo informal em seus custos de operação. Segundo esti-
prospera na disputa por passageiros. mativa do IPEA, os congestionamentos au-
Mesmo em situações em que a gestão e a mentam em 10% os custos operacionais dos
operação conseguem conter a informalidade, ônibus do Rio de Janeiro, e em 16% os de São
acontecem crises financeiras cíclicas do trans- Paulo. Segundo estudo da Associação Nacio-
porte público que são causadas pelo modelo nal de Transportes Públicos, no confronto de
remuneratório do sistema, pois é freqüente
que ele incompatibilize custos com receitas,
NOS ÚLTIMOS 15 ANOS, OS RECURSOS
tarifas e subsídios. Nos últimos 15 anos, os
ORÇAMENTÁRIOS PARA TRANSFERÊNCIA
recursos orçamentários para transferência
VOLUNTÁRIA SE TORNARAM ESCASSOS E OS POUCOS
voluntária se tornaram escassos e os poucos
INVESTIMENTOS EM CORREDORES EXCLUSIVOS E
investimentos em corredores exclusivos e
terminais de integração, a maior parte deles TERMINAIS DE INTEGRAÇÃO, A MAIOR PARTE DELES
dos de uma política nacional estruturada para DE UMA POLÍTICA NACIONAL ESTRUTURADA PARA A
a mobilidade urbana. MOBILIDADE URBANA.
50
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
de triagem e reciclagem. A maioria dos mu- de água e esgoto para companhias estadu-
nicípios não possui autarquias ou empresas ais. Conflitos e competição entre os entes
públicas específicas para a limpeza urbana e federativos, ausência de uma política perma-
destina o lixo coletado para depósitos a céu nente de investimentos federais, recusa dos
aberto. municípios em renovarem os acordos com
No caso dos serviços de drenagem, a as operadoras estaduais firmados durante a
precariedade da organização também é mar- vigência do Planasa e indefinição de compe-
cante. Pouquíssimos serviços são organizados tências, são os problemas que incidem sobre
como autarquias, o que os torna dependentes o saneamento brasileiro pela ausência de um
da administração direta e sem vinculação marco regulatório coerente com os princípios
institucional precisa. Segundo a PNSB 2000, da Constituição de 1988.
apenas 256 municípios têm plano diretor de Ao final da década de 90, houve no setor
drenagem, pouco mais de mil contam com in- de saneamento uma retração nos investimen-
formações pluviométricas e meteorológicas e tos necessários à universalização dos serviços,
apenas 700 utilizam essas informações. A pou- que atingiu seu grau máximo nos anos de
ca troca de experiência entre os municípios 2000 e 2002, quando os investimentos repre-
acerca dos modelos e experiências exitosas sentaram cerca de 0,07% do PIB. O pico de in-
limita o planejamento das intervenções aos vestimentos nos anos 90 foi de irrisórios 0,19%
padrões simplistas do controle de cheias. do PIB, atingido em 1998. A limitação dos in-
A expansão da cobertura do saneamento vestimentos federais e a gestão ineficiente das
ambiental se deu de forma regressiva tanto empresas deixaram as operadoras estaduais
do ponto de vista social quanto regional, pois em situação financeira precária. As resoluções
concentrou os serviços na população e nas re- do Conselho Monetário Nacional, emitidas a
giões de maior renda. No Censo Demográfico partir de 1998, limitaram significativamente as
de 2000, a faixa de renda abaixo de 2 salários possibilidades das empresas públicas de assu-
mínimos apresenta um índice de cobertura mirem empréstimos internos e externos.
dos serviços de saneamento abaixo da média Segundo dados do Sistema Nacional de
nacional, enquanto que as faixas acima de 10 Informações de Saneamento para o ano de
salários mínimos apresentam uma cobertura
superior à média nacional em cerca de 25% A EXPANSÃO DA COBERTURA DO SANEAMENTO
nos serviços de água e em 40% nos serviços AMBIENTAL SE DEU DE FORMA REGRESSIVA TANTO
de esgotos. Considerando a distribuição desta DO PONTO DE VISTA SOCIAL QUANTO REGIONAL, POIS
cobertura no país, nos municípios de mais de
CONCENTROU OS SERVIÇOS NA POPULAÇÃO E NAS
300 mil habitantes, 75% dos domicílios são
REGIÕES DE MAIOR RENDA. NO CENSO DEMOGRÁFICO
abastecidos de água através de uma rede
DE 2000, A FAIXA DE RENDA ABAIXO DE 2 SALÁRIOS
geral pública. Nos de menos de 20 mil habi-
MÍNIMOS APRESENTA UM ÍNDICE DE COBERTURA
tantes, são apenas 46% dos domicílios nesta
DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO ABAIXO DA MÉDIA
condição.
NACIONAL, ENQUANTO QUE AS FAIXAS ACIMA DE 10
Esta distribuição socialmente regressiva foi
motivada também pela desorganização insti- SALÁRIOS MÍNIMOS APRESENTAM UMA COBERTURA
tucional do setor após a extinção do Planasa e SUPERIOR À MÉDIA NACIONAL EM CERCA DE 25%
seu modelo de planejamento que induziu os NOS SERVIÇOS DE ÁGUA E EM 40% NOS SERVIÇOS DE
municípios a conceder a gestão dos serviços ESGOTOS
52
da PNDU
Propostas estruturantes
56
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
cerias locais e a participação da cidadania na tecido urbano consolidado; E) regularização
concepção, execução e fiscalização da ação. O e urbanização de áreas de assentamentos
governo federal apóia parceiros locais, na sua precários ou sua remoção para áreas contí-
maioria entidades e segmentos integrantes do guas, em situações dignas; F) elaboração de
Conselho das Cidades, a construírem novas planos setoriais de Habitação e Saneamento
práticas de planejamento e de gestão demo- Ambiental. A metodologia proposta se con-
crática do território municipal. Em primeiro trapõe à prática tradicional de planos direto-
lugar, este apoio se dá por uma ação indireta res normativos, tecnocráticos e com restrita
de disseminação de cultura urbana democrá- legitimidade social, e propõe o Plano Diretor
tica, includente, redistributiva e sustentável, o como resultado de um pacto construído pela
que se traduz em ações de sensibilização, mo- sociedade para assegurar a sua implementa-
bilização e divulgação. Em segundo lugar, o ção e controle;
apoio do Governo Federal se dá por meio de
uma ação direta, que se traduz em programas, Política Nacional de Apoio à Regularização
ações e transferência de recursos financeiros Fundiária Sustentável – o enfrentamento
como instrumentos nas seguintes políticas do tema da irregularidade urbana cada vez
públicas: mais presente nas nossas cidades, marcadas
por vastos territórios ilegais, informais e pre-
Política de Apoio à Elaboração e Revisão de cários, é condição essencial para qualquer
Planos Diretores – tem como missão estimular perspectiva de sustentabilidade urbana. Esta
os municípios a novas práticas democráticas política abriga a construção de um marco
e participativas de gestão e planejamento jurídico para novas práticas cartorárias, a uti-
territorial. A elaboração de Planos Diretores lização do patrimônio imobiliário federal nas
Municipais pelos municípios que tomam re- cidades, envolvendo imóveis da União (INSS,
cursos subsidiados ou financiados do Governo RFFSA e terrenos de marinha), e o Programa
Federal (Ministério das Cidades, DI-HBB, MinC, “Papel Passado”, criado em 2003, para apoiar
MMA, PNAFM, PMAT) receberá, através desta a regularização fundiária de assentamentos
política, orientações conceituais, programá- precários em áreas urbanas ocupadas por po-
ticas e metodológicas para a execução dos pulação de baixa renda;
seguintes instrumentos de captura da valo-
rização fundiária e promoção da Habitação Política Nacional de Prevenção de Risco em
de Interesse Social previstos no Estatuto da Assentamentos Precários – política que opera
Cidade: A) verificação da função social da pro- com um conceito inovador de prevenção e
priedade e garantia de terras e imóveis para remoção do risco contra o número recorrente
os empreendimentos de interesse social; B) de mortes por escorregamentos em encostas,
elaboração de Plano de Reabilitação de Áreas principalmente nas ocupadas por favelas e
Centrais para o financiamento da Habitação assentamentos precários nas maiores regiões
de Interesse Social em regiões dotadas de in- metropolitanas. Um fenômeno que a princípio
fra-estrutura urbana; C) ampliação do controle pode ocorrer em todas as áreas de elevada
público sobre a ocupação do solo em áreas declividade, na realidade ocorre quase predo-
de proteção ambiental e de risco geotécnico; minantemente em favelas, vilas e loteamentos
D) impedimento para a construção de novas irregulares implantados em encostas serranas
moradias urbanas em áreas afastadas do e morros urbanos. Nestes locais, a natural vul-
58
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
dos no Comitê de Planejamento Territorial do diretrizes da Política, suprir o vazio institucio-
Conselho das Cidades, instrumento fundamen- nal e estabelecer as condições para se enfren-
tal de construção democrática e participativa tar o déficit habitacional, por meio de ações
da Política Nacional de Desenvolvimento Urba- integradas e articuladas nos três níveis de
no que desejamos para o País. governo, com a participação dos Conselhos
das Cidades, Conselhos Estaduais, do Distrito
Federal e Municipais.
NOVO SISTEMA NACIONAL
O Sistema Nacional de Habitação é consti-
DE HABITAÇÃO
tuído dos subsistemas de Habitação de Inte-
Coerente com a Constituição Federal, que resse Social e de Habitação de Mercado.
considera a habitação um direito do cidadão,
com o Estatuto da Cidade, que estabelece
Subsistema de Habitação
a função social da propriedade, e com as
de Interesse Social
diretrizes do atual governo, que preconiza
a inclusão social com gestão participativa e O Subsistema de Habitação de Interesse Social
democrática, o Sistema Nacional de Habitação tem como referência o primeiro projeto de
proposto no centro de uma nova Política Na- iniciativa popular apresentado ao Congresso
cional de Habitação busca promover o acesso Nacional em 1991, fruto da mobilização nacio-
à moradia digna a todos os segmentos da po- nal dos Movimentos Populares de Moradia de
pulação, especialmente o de baixa renda. diversas entidades e do Movimento Nacional
Nessa perspectiva, a Política Nacional da da Reforma Urbana. O projeto de Lei 2710/92,
Habitação tem como componentes principais: que trata da criação do Fundo Nacional de
a Integração Urbana de Assentamentos Precá- Habitação de Interesse Social, foi aprovado
rios, a Provisão da Habitação e a Integração da na Câmara dos Deputados, por meio da sub-
Política de Habitação à Política de Desenvolvi- emenda substitutiva global em 3/6/2004, e
mento Urbano, que definem as linhas mestras encontra-se em tramitação no Senado.
de sua atuação. Sua elaboração obedece a O SHIS tem como objetivo principal garan-
princípios e diretrizes que visam garantir à tir ações que promovam o acesso à moradia
população, especialmente a de baixa renda, o digna para a população de baixa renda, que
acesso à habitação digna, e considera funda- compõe a quase totalidade do déficit habi-
mental para atingir seus objetivos a integra- tacional do País. Os planos, programas e pro-
ção entre a política habitacional e a Política jetos a serem executados deverão perseguir
Nacional de Desenvolvimento Urbano. estratégias e soluções de atendimento que
A Política Nacional de Habitação conta
com um conjunto de instrumentos a serem
A POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO CONTA
criados através dos quais se viabilizará a sua
COM UM CONJUNTO DE INSTRUMENTOS A SEREM
implementação. São eles: o Sistema Nacional
CRIADOS ATRAVÉS DOS QUAIS SE VIABILIZARÁ A SUA
de Habitação (SNH), o Desenvolvimento Insti-
IMPLEMENTAÇÃO. SÃO ELES: O SISTEMA NACIONAL
tucional, o Sistema de Informação, Avaliação e
Monitoramento da Habitação e o Plano Nacio- DE HABITAÇÃO (SNH), O DESENVOLVIMENTO
políticas públicas voltadas para o resgate da COOPERAÇÃO ENTRE UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E
60
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
ma de Habitação de Interesse Social entidades Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI)
estaduais, municipais, do Distrito Federal e diante das taxas oferecidas pelo mercado, em
agentes promotores, financeiros e técnicos especial aos investidores institucionais. O Sub-
estatais, públicos e privados. sistema contará com um Fundo de Liquidez
desses CRI, destinado a assegurar a recompra
desses papéis junto aos investidores privados.
O Subsistema de Habitação
Os bancos poderão financiar diretamente a
de Mercado
produção através de incorporadores e cons-
A Política Nacional de Habitação parte do trutoras ou diretamente às pessoas físicas.
pressuposto de que a contribuição dos inves- Com o objetivo de gerar novos contratos
timentos privados, capazes de assegurar o de financiamento, os bancos poderão ainda
atendimento da demanda solvável em condi- realizar operações de crédito com compa-
ções de mercado, é absolutamente essencial nhias hipotecárias e essas operações deverão
para viabilizar o novo SNH, possibilitando que ser consideradas no cômputo dos investimen-
os recursos públicos, onerosos e não onero- tos exigidos em habitação.
sos, venham a ser destinados a população de Os bancos e as companhias hipotecárias,
renda mais baixa. por sua vez, poderão negociar seus créditos
Nesta perspectiva, o Subsistema de Habita- com Companhias Securitizadoras, as quais,
ção de Mercado objetiva a reorganização do com lastro nos créditos adquiridos, emitirão
mercado privado de habitação, ampliando as CRI a serem adquiridos pelos bancos e por
formas de captação de recursos, estimulando investidores institucionais e privados.
a inclusão de novos agentes e facilitando a Outra questão importante é a revisão da
promoção imobiliária, de modo que ele possa carga tributária incidente no mercado secun-
contribuir para atender parcelas significativas dário e na cadeia produtiva.
da população que hoje estão sendo atendida Além disso, para ampliar o investimento
por recursos públicos. privado e reduzir o custo do financiamento
A premissa básica do novo modelo consiste de mercado, as medidas traduzidas na Lei
em viabilizar a complementariedade dos atu- 10.931/04 – Lei do Patrimônio de Afetação
ais Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), – irão permitir o aperfeiçoamento do instituto
Sistema Financeiro da Habitação (SFH), em do patrimônio de afetação; a obrigatoriedade
particular o Sistema Brasileiro de Poupança do pagamento do incontroverso; a inserção
e Empréstimo (SBPE). A expansão do crédito no Código Civil da modalidade de alienação
habitacional está subordinada à implantação fiduciária como garantia de operações no
de modalidades de captação de recursos mais âmbito do SFI; e a aceleração na dedução do
eficiente que o atual sistema de poupança. Fundo de Compensação da Variação Salarial
O Subsistema terá como principal captador (FCVS) no cálculo do direcionamento de re-
de recursos os Bancos Múltiplos, com destaque cursos ao financiamento habitacional pelas
para a caderneta de poupança atual e de novas entidades do SBPE.
modalidades de poupança a serem criadas. Integram este subsistema, além dos bancos
Como estratégia de implementação do múltiplos e as companhias hipotecárias, as
Sistema Nacional de Habitação para levantar seguintes entidades:
recursos junto ao mercado de capitais é ne- Companhias securitizadoras: a estas com-
cessário proporcionar a competitividade aos panhias caberá a aquisição de créditos habi-
62
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
CONSIDERANDO QUE O DÉFICIT HABITACIONAL 4. do transporte coletivo sobre o individual;
URBANO APURADO EM 2000 É DE 5,5 MILHÕES DE 5. da integração das redes e modos sobre as
DOMICÍLIOS E QUE, PROJETADO PARA 2003, SERÁ DE obras isoladas e unimodais;
5,9 MILHÕES E DE 12,45 MILHÕES DE DOMICÍLIOS 6. da acessibilidade universal sobre a acessibi-
EM 2023, O EQUACIONAMENTO DESTE DÉFICIT lidade restrita;
EM 20 ANOS SIGNIFICA A NECESSIDADE DE 622 7. da consolidação de múltiplas centralidades
MIL ATENDIMENTOS AO ANO. ESTIMANDO-SE UM
sobre o reforço de poucas centralidades;
8. do adensamento urbano sobre a expansão
CUSTO MÉDIO DE R$ 20 MIL POR ATENDIMENTO, OS
da cidade.
INVESTIMENTOS ANUAIS SÃO DA ORDEM DE R$ 12,44
BILHÕES
Projetos com estas precedências são apoia-
dos pelo Programa de Mobilidade Urbana
urbano, sustentabilidade ambiental e inclu- com verbas previstas no Plano Plurianual de
são social. No campo do desenvolvimento R$ 18,8 milhões em 2005, atingindo R$ 63,2
urbano, os objetivos da Política Nacional de milhões em 2008, abrangendo de sistemas
Mobilidade Urbana são a integração entre integrados de transporte coletivo urbano à
transporte e controle territorial, redução das urbanização de áreas lindeiras a corredores
deseconomias da circulação e a oferta de ferroviários. São estas precedências que se-
transporte público eficiente e de qualidade. lecionarão os projetos de infra-estrutura de
No campo da sustentabilidade ambiental, o governos ou empresas estaduais e municipais
uso equânime do espaço urbano, a melhoria a serem financiados com os recursos do FGTS
da qualidade de vida, a melhoria da qualidade alocados no Programa Pró-Transporte. Inicia-
do ar e a sustentabilidade energética. No da tivas que visem requalificar a acessibilidade e
inclusão social, o acesso democrático à cidade os deslocamentos não-motorizados recebem
e ao transporte público e a valorização da apoio técnico e financeiro pelo Programa
acessibilidade universal e dos deslocamentos Brasil Acessível, cujos recursos exigem como
de pedestres e ciclistas. As ações e programas contrapartida municipal a elaboração de Pla-
que a política prevê se superpõem nestes no de Ação de Acessibilidade Universal com
campos de reflexão sobre a produção do rubrica orçamentária específica, e o Programa
espaço urbano como lentes em busca de um Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, de in-
foco, que é a sustentabilidade da mobilidade tegração da bicicleta aos demais modos de
urbana. transporte.
A mobilidade urbana sustentável se define A mobilidade sustentável é o objetivo
por quatro práticas: o planejamento integrado maior dos seguintes programas e ações do
de transporte e uso do solo urbano; a atualiza- Ministério das Cidades:
ção da regulação e gestão do transporte co-
letivo urbano; a promoção da circulação não Lei de Diretrizes para os transportes urbanos:
motorizada e o uso racional do automóvel. Obedecendo ao inciso XX do Artigo 21 da
Destes conceitos decorre que os projetos de Constituição Federal, a União deve instituir
mobilidade urbana que receberão apoio polí- uma lei de diretrizes não apenas para os servi-
tico, técnico e financeiro do Governo Federal ços públicos de transporte coletivo, mas para
deverão demonstrar as seguintes inversões de a mobilidade urbana, dentro dos limites das
prioridades: competências constitucionais de cada esfera
64
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
A MAIORIA DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS O descolamento da curva de vítimas fatais
DE TRANSPORTE ESTÁ ANCORADA EM BASES em acidentes de trânsito, em relação à curva
CONTRATUAIS FRÁGEIS, FIRMADOS SEM SUPORTE sempre ascendente do número de veículos,
LEGAL E, MUITAS VEZES, EM CARÁTER PRECÁRIO. É por exemplo, só começou a acontecer depois
FUNDAMENTAL QUE O GOVERNO FEDERAL LANCE UM da entrada em vigor do Código de Trânsito
NOVO MARCO REGULATÓRIO PARA O TRANSPORTE Brasileiro, em janeiro de 1998.
PÚBLICO. A ADOÇÃO DE REGRAS TRANSPARENTES
A reconstrução institucional do trânsito
brasileiro em torno de valores de cidadania
E QUE ATRIBUAM RESPONSABILIDADES ENTRE OS
apenas se iniciou com a elaboração do Códi-
AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS É INDISPENSÁVEL
go Brasileiro de Trânsito. Diversas ações ainda
PARA A GESTÃO DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE E
são necessárias e estão sendo implementadas
ESTÁ NA BASE DAS DELEGAÇÕES E DAS PARCERIAS
pelo Ministério das Cidades, tanto no aperfei-
PÚBLICO-PRIVADAS.
çoamento democrático do Sistema Nacional
de Trânsito quanto na implementação de seus
regiões metropolitanas para integrar os siste- dispositivos e na elaboração de programas e
mas municipais e os sistemas metropolitanos ações que cumpram suas diretrizes.
e integrar os diversos modos de transportes As decisões sobre os rumos do Sistema
existentes, sempre priorizando os transportes Nacional de Trânsito são tomadas segundo
coletivos e os não-motorizados. um processo democrático, com ampla partici-
pação da sociedade e dos órgãos e entidades
Grupo de Trabalho para barateamento de que compõem o sistema. A reestruturação de
tarifas de transporte público: ativo desde no- seu perfil institucional inclui a criação da Câ-
vembro de 2003, o grupo reúne Governo Fe- mara Interministerial de Trânsito e do Fórum
deral e municípios e resultou na manutenção Consultivo do Sistema Nacional de Trânsito,
de alíquotas reduzidas da COFINS e do PIS, além da atribuição da coordenação do Sis-
adoção da alíquota mínima de ISS e taxa de tema Nacional de Trânsito ao Ministério das
administração máxima de 3% por parte dos Cidades, com correspondente redefinição da
municípios. Em 2005 e sob coordenação do composição do Conselho Nacional de Trân-
Ministério das Cidades, vai revisar o modelo e sito, agora presidido pelo dirigente do órgão
a metodologia do cálculo tarifário e do Vale- máximo executivo de trânsito da União.
transporte para reverter repasse integral dos A realização de reuniões sistemáticas entre
custos dos serviços para os usuários. o Departamento Nacional de Trânsito, os De-
partamentos Estaduais de Trânsito e os Conse-
lhos de Trânsito Estaduais, além das secretarias
Cidadania no trânsito municipais, mostram que há um grande espa-
Para a Política Nacional de Desenvolvimento ço de atuação técnica e social para o Sistema
Urbano, o trânsito é uma ferramenta de ges- Nacional de Trânsito. O melhor exemplo disso
tão e construção de cidades mais inclusivas é a retomada das atividades das Câmaras Te-
e formadoras de cidadania. É um campo de máticas, criadas pelo Artigo 13 do Código de
atuação política em que as iniciativas legais e Trânsito Brasileiro, que desde junho de 2003
institucionais impactam diretamente na quali- passaram a se reunir mensalmente depois de
dade de vida de todos os brasileiros. uma paralisação de quase dois anos.
cia da esfera federal para legislar sobre estes QUE EVITA A AÇÃO LIMITADA AOS SERVIÇOS DE
serviços públicos está restrita a dois aspectos: “SANEAMENTO BÁSICO”, AO INCLUIR COMO SERVIÇOS
66
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
sórcio público, formado pela associação de até 2011 os depósitos a céu aberto em mu-
municípios com interesses comuns, é mais nicípios com população inferior a 100 mil
adequado para o planejamento e a operação habitantes e implantar aterros sanitários em
dos serviços de saneamento em áreas metro- municípios com população até 1,5 milhões de
politanas do que o modelo centralizado numa habitantes. Este investimento cobre também a
única concessionária para todo o estado, além atualização das frotas de coleta, a implantação
de ser um arranjo institucional coerente com de sistemas de coleta seletiva de lixo e o de-
o pacto federativo e a organização do Estado senvolvimento de atividades de catação e de
brasileiro. comercialização de recicláveis, com inclusão
Após mais de uma década em que pre- dos catadores de lixo nos programas federais
ponderaram padrões de investimentos sem de transferência de renda. Por iniciativa do
coordenação adequada, o novo desenho ins- Ministério do Meio Ambiente e do Conselho
titucional do saneamento ambiental eliminará Nacional do Meio Ambiente, uma nova regu-
as funções concorrentes entre os entes fede- lamentação específica para a área de resíduos
rados e permitirá que os investimentos esta- sólidos está em elaboração de forma articu-
duais e municipais possam se combinar com lada com a Política Nacional de Saneamento
investimentos privados sob a proteção de um Ambiental e com os objetivos do Programa
arcabouço jurídico-político organizado de Nacional Lixo e Cidadania. Nesta regulação
forma sistêmica. O investimento direto federal, serão incorporadas diretrizes de responsa-
por sua vez, ganha escala e produtividade no bilização do produtor/gerador de resíduo
interior deste novo marco regulatório. sólido, de gestão participativa dos serviços, de
O investimento necessário em expansão priorização dos catadores, de cobrança pelos
e reposição das redes para universalizar até serviços e indicação de fontes de recursos em
2020 os serviços de água e esgoto em meio função de metas para condições dignas de
urbano e rural foi estimado pela Secretaria Na- trabalho e erradicação de lixões.
cional de Saneamento Ambiental em R$ 178,4 Na área do manejo das águas pluviais ur-
bilhões, com a maior parte deste montante a banas, foram definidas diretrizes na Política
ser aplicado nas regiões metropolitanas. Entre Nacional de Saneamento Ambiental que
janeiro de 2003 e julho de 2004, as contrata- provocarão uma completa reformulação nos
ções de todos os órgãos do Governo Federal modelos tradicionais que nortearam as inter-
envolvidos com ações de saneamento am- venções no setor, restritos a uma concepção
biental atingiram cerca de R$ 5,1 bilhões, com “obreirista” que apenas incrementava os pro-
perspectivas de ampliação da cobertura de blemas decorrentes das enchentes. Dentre
serviços de saneamento para milhões de fa- as principais diretrizes, estão o estímulo ao
mílias. Trata-se de um volume contratado que gerenciamento planejado e integrado das
eleva a média anual de investimentos para enchentes; a ampliação da cobertura de infra-
patamares bastante superiores ao do período estrutura de manejo das águas pluviais; o es-
1995-2002. Para o período 2004-2007, o Plano tímulo ao aproveitamento e preservação dos
Plurianual projeta um dispêndio da ordem de corpos d’água urbanos através da minimiza-
R$ 18 bilhões. ção dos fatores de risco das áreas ribeirinhas;
Nos serviços de coleta de resíduos sólidos, a inibição das práticas relativas ao uso do solo
são necessários R$ 7,3 bilhões, sendo R$ 3,3 que ampliam a área de drenagem para os
bilhões em aportes da União, para erradicar córregos urbanos; e a promoção das ações
acesso a programas e ações de outras esferas – PNCC, PROMOVE, COORDENA E APÓIA PROGRAMAS
mas existentes, com suas múltiplas e com- AGENTES PÚBLICOS E SOCIAIS E PARA O APOIO AO
plexas exigências, muitas vezes dão origem a SETOR PÚBLICO MUNICIPAL E ESTADUAL PARA O
superposições de ações e projetos ou tornam DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
68
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
das orientações gerais do PNCC, que prevê- UM EXEMPLO EXPRESSIVO DA MUDANÇA DE ENFOQUE
em a realização de atividades por meio de NA ATUAL ADMINISTRAÇÃO PODE SER ENCONTRADO
instituições credenciadas por um processo de NA MUDANÇA ESTRATÉGICA DO PROGRAMA DE
seleção segundo a experiência e os currículos MODERNIZAÇÃO DO SETOR DE SANEAMENTO, QUE
dos seus profissionais; a valorização das abor- DEIXOU DE ESTAR VOLTADO PARA A PROMOÇÃO DA
dagens holísticas e da reflexão crítica sobre PRIVATIZAÇÃO DO SERVIÇOS E PASSOU A SER UM
as questões urbanas; e a interlocução com PROGRAMA DE FORTALECIMENTO DOS PRESTADORES
instituições federais e demais instituições de
PÚBLICOS DE SERVIÇOS DE SANEAMENTO AMBIENTAL
ensino e capacitação.
O público prioritário dos cursos e demais
atividades do PNCC compreende os técnicos Alguns programas iniciados antes de 2003
das administrações públicas municipais, os e que contam com financiamentos do Banco
atores sociais envolvidos com a implemen- Interamericano de Desenvolvimento – BID e
tação da política urbana e os técnicos das do Banco Internacional para a Reconstrução
gerências de filial de apoio ao desenvolvimen- e o Desenvolvimento – BIRD (Banco Mundial)
to urbano da Caixa Econômica Federal que, têm como referência orientações que enfati-
presente em todas regiões e estados do país, zam a necessidade de recuperação dos custos
é fundamental para a implementação da nova em ações voltadas para a baixa renda e os as-
política nacional de desenvolvimento urbano. pectos gerenciais que garantiriam a eficiência,
Com o objetivo de desenvolver ações conjun- a eficácia e a sustentabilidade das ações sem,
tas para a capacitação de agentes públicos por outro lado, destacar exigência de uma
e sociais, o Ministério e a CEF firmaram, em alta dose de subsídio – e, portanto, de uma
2003, Acordo de Cooperação Técnica que tem atuação decisiva do Estado – para que sejam
orientado inúmeras atividades realizadas em cobertos os déficits em habitação e sanea-
conjunto. mento ambiental no Brasil. Há alterações nes-
Os programas e ações incluídos no Progra- tes programas, entretanto, que vem se dando
ma Nacional de Capacitação das Cidades são de forma gradual e progressiva. Um exemplo
coordenados por diferentes setores do Minis- expressivo da mudança de enfoque na atual
tério das Cidades e abrangem a realização de administração pode ser encontrado na mu-
oficinas de capacitação de lideranças sociais; dança estratégica do Programa de Moderniza-
seminários; teleconferências para exposição e ção do Setor de Saneamento, que deixou de
discussão dos manuais dos programas e po- estar voltado para a promoção da privatização
líticas do Ministério das Cidades; publicações do serviços e passou a ser um programa de
de apoio às atividades de capacitação; cursos fortalecimento dos prestadores públicos de
para técnicos de órgãos públicos; ações de serviços de saneamento ambiental.
assistência técnica e atividades de apoio ao Entre as prioridades do Ministério para
desenvolvimento institucional de órgãos 2005 e 2006 destacam-se: a capacitação de
públicos. Em 2003 e 2004, foram realizadas técnicos do setor público e agentes sociais
atividades nas áreas de saneamento ambien- para a elaboração de planos diretores partici-
tal, mobilidade urbana, trânsito, planejamento pativos; o apoio e capacitação dos municípios
territorial urbano, regularização fundiária, para a implementação e gestão de cadastros
habitação e implementação de cadastros ter- territoriais. Além dessas duas prioridades ge-
ritoriais. rais, outras são definidas, segundo os setores
70
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
digitalização e geo-referenciamento de in- custos, receitas, frota, oferta e recursos
formações e indicadores; disponibilização e humanos, segundo os sistemas de ônibus
utilização das informações. municipais, sistemas de ônibus metropoli-
Para atualizar e qualificar suas informações, tanos e sistemas metro-ferroviários;
o Sistema Nacional de Informações das Cida- 7. Organização e qualificação de informações
des trabalhará em conjunto com o IBGE quan- gerenciais do Ministério das Cidades, hoje
to aos dados sobre posse de imóveis urbanos, reunidos em um sistema único de dados
identificação de imóveis vazios e o conceito dos diversos operadores dos recursos fi-
de assentamentos precários, além de ampliar nanceiros do Ministério;
a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico e 8. Organização e qualificação de informações
a Pesquisa de Informações Básicas Municipais. para a área de habitação, elaborado em
Junto à Fundação João Pinheiro, será atualiza- parceria com o IPEA, para reunir dados so-
do o cálculo do déficit habitacional brasileiro, bre o mercado imobiliário e investimentos
que hoje é baseado no Censo Demográfico da construção civil;
de 2000. 9. Indicadores de avaliação e monitoramento
Outras iniciativas de complementação e da PNDU, com indicadores sociais e urba-
qualificação de indicadores são: nísticos antes e depois da implementação
1. Índice e indicadores interurbanos sobre dos programas e ações previstos.
qualidade de vida urbana, a ser publicado
como um “Atlas de Qualidade de Vida Ur- O Sistema Nacional de Informações sobre
bana das Cidades”; Cidades prevê a busca de parcerias para a
2. Identificação de áreas socialmente vulnerá- consolidação de seu banco de dados. Neste
veis ou bolsões de pobreza intra-urbanos, sentido, já foram iniciadas conversações com
com prioridade para as Regiões metropoli- o Ministério da Integração, a Caixa Econômica
tanas; Federal, o Congresso Nacional, o Banco Inte-
3. Tipologia das cidades segundo sua inser- ramericano de Desenvolvimento (Interlegis),
ção regional, que será instrumento básico o Banco Mundial (Muninet) e institutos de
para o combate da desigualdade interur- pesquisa e informação locais e regionais. Para
bana; integrar e permitir uma leitura conjunta destes
4. Classificação e identificação de regiões me- sistemas de informações será desenvolvida
tropolitanas, para orientação de políticas uma ferramenta de análise espacial com bases
de investimentos e gestão; cartográficas do IBGE.
5. Articulação com gestores públicos regio- O passo final de construção deste sistema
nais e locais, para elaboração de indicado- de informações sobre cidades é o seu acesso
res intra-urbanos e o aperfeiçoamento de público por meio da Internet. Para tanto, um
cadastros territoriais; novo sítio do Ministério das Cidades será de-
6. Sistema de informações sobre transporte senvolvido com tecnologias que atendam aos
e trânsito, elaborado em parceria com a princípios do software livre. Este sítio conterá
ANTP e o BNDES, para reunir informações com módulos para agregar o sistema de geo-
sobre tarifas, regulamentação, demanda, processamento de dados.
76
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
ANEXOS Saneamento ambiental público – Os
serviços de saneamento ambiental são, por
definição, públicos e prestados sob regime de
monopólios, essenciais e vitais para o funcio-
namento das cidades, para a determinação
PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E OBJETIVOS das condições de vida da população urbana e
DA PNDU DEFINIDOS NA 1ª rural, para a preservação do meio ambiente e
CONFERÊNCIA DAS CIDADES para o desenvolvimento da economia.
78
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
DIRETRIZES Participação social – Promover a organiza-
ção de um sistema de conferências, conselhos
Políticas nacionais – Formular, implementar em parcerias com usuários; setor produtivo;
e avaliar a Política Nacional de Desenvolvi- organizações sociais (movimentos sociais e
mento Urbano e as Políticas Fundiária, de Ha- ONGs); entidades profissionais, acadêmicas e
bitação, de Saneamento Ambiental, de Trânsi- de pesquisa; entidades sindicais; operadores e
to, de Transporte e Mobilidade Urbana de for- concessionários de serviços públicos; e órgãos
ma integrada, respeitando o pacto federativo, governamentais, para viabilizar a participação
com participação da sociedade, em parceria social na definição, execução, acompanha-
com estados, municípios e Distrito Federal e mento e avaliação da política urbana de forma
articulada com todos os órgãos do Governo continuada, respeitando a autonomia e as
Federal. As políticas públicas devem ter como especificidades dos movimentos e das entida-
eixo norteador os princípios da universalida- des, e combinando democracia representativa
de, eqüidade, sustentabilidade, integralidade e com democracia participativa.
gestão pública.
Políticas de desenvolvimento e capaci-
Política urbana, social e de desenvolvi- tação técnico-institucional – Desenvolver,
mento – Articular a política urbana às políticas aprimorar, apoiar e implementar programas
de educação, assistência social, saúde, lazer, e ações de aperfeiçoamento tecnológico,
segurança, preservação ambiental, emprego, capacitação profissional, adequação e moder-
trabalho e renda e desenvolvimento econô- nização do aparato institucional e normativo,
mico do país, como forma de promover o a fim de garantir a regulação, a regularização,
direito à cidade e à moradia, a inclusão social, o a melhoria na gestão, a ampliação da partici-
combate à violência e a redução das desigual- pação, a redução de custos, a qualidade e a
dades sociais, étnicas e regionais, garantindo eficiência da política urbana, possibilitando a
desconcentração de renda e crescimento participação das universidades.
sustentável. Promover políticas de desenvolvi-
mento urbano que garantam sustentabilidade Diversidade urbana, regional e cultural
social, cultural, econômica, política e ambiental – Promover programas e ações adequados às
baseada na garantia da qualidade de vida para características locais e regionais, respeitando-
gerações futuras, levando em conta a priori- se as condições ambientais do território, as
dade às cidades com menores IDH ou outros características culturais, vocacionais, o porte,
indicadores sociais. Efetivar os planos diretores as especificidades e potencialidades dos
em consonância com os zoneamentos ecoló- aglomerados urbanos, considerando os as-
gico-econômicos e ambientais. Implementar pectos econômicos, metropolitanos e outras
políticas públicas integradas entre o rural e o particularidades e promovendo a redução de
urbano com atendimento integral ao habitante desigualdades regionais, inclusive pela pres-
do espaço municipal. tação regionalizada de serviços e pela prática
de mecanismos de solidariedade social, com a
Estrutura institucional – Implementar a preservação e valorização de uma identidade
estrutura institucional pública necessária para brasileira transcultural. O Ministério das Cida-
efetivação da política urbana, promovendo a des deve criar vínculos profundos com o Mi-
participação e a descentralização das decisões. nistério da Educação, trabalhando conjunta-
80
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
de geração de emprego e renda, saúde, edu- drenagem urbana, privilegiando o enfoque
cação, lazer, transporte, mobilidade urbana e integrado e sustentável, a fim de prevenir de
saneamento ambiental. modo eficaz as enchentes urbanas e ribei-
rinhas. Aumentar a eficiência dos serviços
Acesso universal ao saneamento ambien- de limpeza pública (coleta, disposição final
tal – Promover o acesso universal ao sanea- e tratamento); promover a modernização e
mento ambiental, priorizando o atendimento a organização sustentável dos serviços de
às famílias de baixa renda localizadas em limpeza pública e a inserção social dos cata-
assentamentos urbanos precários e insalubres, dores; estimular a redução, a reciclagem e a
em áreas de proteção ambiental, municípios coleta seletiva de resíduos sólidos; promover
de pequeno porte e regiões rurais. Entende-se a recuperação de áreas contaminadas, pro-
por saneamento ambiental o abastecimento pondo o desenvolvimento e aplicação de
de água em condições adequadas; a coleta, o tecnologias adequadas às diversas realidades
tratamento e a disposição adequada dos es- do país; e incentivar as intervenções integra-
gotos, resíduos sólidos e emissões gasosas; a das, articulando os diversos componentes do
prevenção e o controle do excesso de ruídos; saneamento. Implementar políticas públicas
a drenagem de águas pluviais e o controle para a gestão sustentável de resíduos sólidos,
de vetores com seus reservatórios de doen- promovendo a eficiência dos serviços por
ças. Defender a essencialidade e a natureza meio de investimentos em sistemas de rea-
pública que caracterizam a função social das proveitamento de resíduos (coleta seletiva de
ações e serviços de saneamento ambiental, orgânicos, inorgânicos e inertes e destinação
garantindo a gestão pública nos serviços e a para reciclagem dos catadores); educação
prestação por órgãos públicos. Os serviços de sócio-ambiental voltada para a redução, reuti-
saneamento ambiental são de interesse local lização e reciclagem de resíduos; mobilização,
e o município é o seu titular, responsável pela sensibilização e comunicação destinadas à
sua organização e prestação, podendo fazê-lo população dos municípios brasileiros para es-
diretamente ou sob regime de concessão ou timular novas práticas em relação aos resíduos
permissão, associado com outros municípios que tragam benefícios para o meio ambiente
ou não, mantendo o sistema de subsídios cru- e que convirjam para sistemas de coleta se-
zados, respeitando a autonomia e soberania letiva solidária (que envolve também coleta,
dos municípios. triagem, pré-beneficiamento, industrialização
e comercialização de resíduos); controle social,
Gestação integrada e sustentável da po- fiscalização e monitoramento das políticas
lítica de saneamento – Garantir a qualidade desenvolvidas no setor de resíduos sólidos;
e a quantidade da água para o abastecimento desenvolvimento de tecnologias sociais e am-
público, com especial atenção às regiões de bientalmente sustentáveis; definição de metas
proteção aos mananciais. Elevar a qualidade e métodos para erradicação dos lixões, que
dos serviços de água e esgoto, apoiando, pro- garantam a erradicação do trabalho de crian-
movendo e financiando o desenvolvimento ças e adolescentes e sua inclusão escolar, bem
institucional e a capacitação das empresas como a capacitação e integração dos adultos
públicas de saneamento; reduzir as perdas no em sistemas públicos de reaproveitamento de
abastecimento e promover a conservação da resíduos sólidos urbanos; implantação da co-
água; reorientar as concepções vigentes na leta seletiva com inclusão social em todos os
82
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
promoção de políticas de desenvolvimento ou então características do modo de vida, das
produtivo nas regiões não contempladas pela relações de produção, do acesso à equipa-
política regional de investimentos na produ- mentos e serviços ou de outros critérios que
ção; reformulação da política de incentivo a permitissem uma clivagem mais rigorosa en-
instalação de indústrias, fortalecendo o co- tre urbano e rural.
mércio, a agricultura e os serviços; e apoio e A definição sobre o conceito de cidade
financiamento de parcerias para a realização ou o conceito de urbano envolve aspectos
de serviços públicos que promovam a coesão demográficos, antropológicos, culturais, fi-
e inclusão social ao gerarem trabalho e renda. losóficos, geográficos, sociais, econômicos,
entre outros. É, sem dúvida, um debate muito
importante, cuja clareza deverá orientar a
POPULAÇÃO URBANA BRASILEIRA
elaboração de um novo marco legal que subs-
– MAPAS DO IBGE
titua o decreto lei 311 de 1938. Afinal, pelo
Por qualquer critério que se adote podemos atual critério legal, podemos chamar de cida-
dizer que o país se urbanizou e o modo de de tanto o Município de São Paulo, que tem
vida urbano extrapola até mesmo os limites 10,7 milhões de habitantes e é parte de uma
das cidades. No entanto há controvérsias, metrópole de 17 milhões, quanto pequenos
evidenciadas em bibliografia recente, sobre ajuntamentos que não tem mais do que 500
o montante da população urbana medida moradores. Fenômenos diferentes são nome-
pelo IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e ados pelo mesmo conceito.
Estatística. No entanto, enquanto essa discussão, cuja
Os números do Censo 2000 mostram que conclusão promete se alongar, está em desen-
81% da população brasileira reside em áreas volvimento, o Ministério das Cidades buscou
urbanas e que o processo de urbanização da ajuda do IBGE para dar mais rigor ao número
sociedade brasileira é irreversível, registrando- da população urbana que é alvo de sua ação.
se o aumento de cinco pontos percentuais em O IBGE usa, em seus levantamentos, critérios
relação ao Censo de 1991, que apresentava que nos permitem uma classificação mais acu-
uma população urbana de 110.990.990 habi- rada do que aquela baseada na lei municipal.
tantes – cerca de 76% do total. Além dos dados divulgados de acordo
Entre os questionamentos acerca da valida- com as referências municipais, o IBGE faz uma
de desses dados,destacam-se as críticas aos análise mais fina por setor censitário segundo
critérios utilizados pelo IBGE para definição sua localização em área de caráter urbano ou
de “áreas urbanas”: o Instituto se baseia nas rural. Essa caracterização da área considera
definições municipais de perímetros urba- aspectos urbanísticos, densidade, inserção na
nos. Aponta-se que há motivações de ordem dinâmica urbana, atividades econômicas reali-
financeira – aumento de arrecadação em es- zadas pelos moradores, existência de serviços
pecial pela cobrança de IPTU – das prefeituras e equipamentos, entre outros aspectos. Cada
municipais para as delimitações dos períme- área classificada pelo município como rural ou
tros urbanos e que, portanto, a medição se urbana recebe outras 8 subclassificações (5 no
baseia em um critério que não seria científico. rural e 3 no urbano). Dessa forma é possível
Outras linhas de argumentação lembram a apontar uma ocupação predominantemente
ausência de parâmetros de densidade de ocu- rural em área definida legalmente como urba-
pação do solo para definição desses limites na e vice versa.
84
CADERNOS MCIDADES DESENVOLVIMENTO URBANO
O mapa a seguir apresenta a distribuição
da população urbana em situação 1, 3 e 4,
referentes à análise mais fina do IBGE aqui
considerada.
JORGE HEREDA
Secretário Nacional de Habitação
RAQUEL ROLNIK
Secretária Nacional de Programas Urbanos
ADALTO CARDOSO
AMIR KHAI
ANA CRISTINA FERNANDES
ANDRÉ LUIZ DE SOUZA
ARLETE MOYSÉS RODRIGUES
CARLOS BERNARDO VAINER
CLÉLIO CAMPOLINA DINIZ
EDÉSIO FERNANDES
EDUARDO ALCÂNTARA VASCONCELOS
GLAUCO BIENENSTEIN
HELENA MENA BARRETO
JAN BITTOUN
JEROEN KLINK
JUPIRA GOMES DE MENDONÇA
LUIZ CÉSAR QUEIRÓZ RIBEIRO
MARIA INÊS NAHAS
MARIA LUIZA CASTELLO BRANCO
MAURÍCIO BORGES
NABIL BONDUKI
ORLANDO ALVES DOS SANTOS JÚNIOR
PAULO JOSÉ VILLELA LOMAR
PEDRO PAULO MARTONI BRANCO
ROBERTO MONTE-MÓR
ROBERTO MORETTI
ROSA MOURA
ROSANI CUNHA
SADALLA DOMINGOS
TÂNIA BACELAR
Ministério Ministro de Estado
OLÍVIO DUTRA
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