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Processo n" 00170.

001259/2013

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Secretaria de Comunicação Social
Secretaria de Gestão, Controle e Normas
Departamento de Normas

NOTA TÉCNICA N° 02l2014/DENORlSGCN/SECOM-PR

Brasília, 19 de fevereiro de 2014.

Referência: Processo SECOM n° 00170.001259/2013-49


Documento: OFÍCIO DMARK N° 72/2013, de 13 de junho de 2013
Assunto: Resposta à solicitação da Embratur sobre a aplicação da Lei nO 8.666/1993
nos procedimentos referentes à concessão de patrocínios.

Senhor Diretor,

Trata-se de Ofício do Diretor de Marketing do Instituto Brasileiro de Turismo


(Embratur), que solicita informações sobre ó entendimento desta Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República (SECOM) a respeito da aplicação da Lei nO8.666/1993
nos procedimentos referentes à concessão de patrocínios daquela autarquia especial, tendo
como contrapartida a exposição de sua marca, em que formula algumas questões, entre elas,
se os investimentos em patrocínio aprovados por aquela autarquia podem ser considerados
como serviços, que obriga a aplicação integral da Lei n° 8.666/1993.

Nos termos do art. 13, incisos II e XIV, da Estrutura Regimental da SECOM,


aprovada pelo Decreto nO6.377/2008, compete ao Departamento de Normas da Secretaria
de Gestão, Controle e Normas a elaboração de estudos, pareceres e notas técnicas sobre
legislação aplicada à comunicação social, à publicidade e ao patrocínio.

1 - Breve relato

Em 13/06/2013, o Diretor de Marketing da Embratur encaminhou à SECOM o


ofício acima citado, em que suscita "questões relevantes levantadas pela Procuradoria
Federal em anexo e pelo Relatório de Auditoria da CGU', com o fim de "dirimir possíveis
incompreensões quanto ao termo Patrocínio e ao que ele se destina como ferramenta de
comunicação institucionaf'.

Em seguida, formula as seguintes questões, verbis:

]. Por se tratar de evento para exposição de Marca, no nosso caso, os custos das despesas
dos contratos de Patrocínio estariam sujeitos às determinações da Lei ~3, como prestações
de serviços? U
Esplanada dos Ministérios, Bloco A-50 e 6° andares - Brasília - DF. ~
Secretaria de Comunicação Sodal da Presidência da República
2

2. No mesmo fulcro da Lei 8.666/93, o entendimento da área jurídica em que corrobora o


órgão de controle demanda o estudo do patrocinio sobre a égide da Inexigibilidade. É o caso em
questão? Se positivo, a publicação do contrato no D.O.U. deverá ser do extrato dessa
Inexigibilidade?

3. Outro ponto da orientação é a abertura de planilhas e dos itens que compõe o evento
para cotação de preços (03 orçamentos, no mínimo). Qual a orientação e a defesa juridica da
SECOM para este item? Por exemplo, em caso de aquisição de "Cotas de Patrocínio", a exibição
de custos unitários por serviços prestados fica prejudicada uma vez que a cota é proposta por
preço global do evento e as negociações sobre contrapartidas são especificas para cada projeto.
Qual a orientação da SECaM a esse respeito?

4. Na questão relativa à prestação de contas, uma vez que a EMBRATUR já fez uma
remessa de valor para conta corrente do ente patrocinado via SIAFI, há necessidade de
comprovação de aquisição de serviço via nota fiscal, extrato bancário do depósito, ou as
comprovações devem ser restritas à realização de ação de suas contrapartidas?

No Despacho nO 237/2013/PF-EMBRATUR, da Procuradoria Federal junto à


Embratur, consta a exigência de demonstrar a justificativa de preço do patrocínio, com base
no' parágrafo único, II1, do art. 26 da Lei nO 8.666/1993, e da necessidade de juntar os
documentos arrolados nos arts. 28 a 31 da Lei nO 8.666/1993, no que for pertinente, e de
verificação de eventual proibição de contratar com a administração (fl. 4).

Os demais pareceres da Procuradoria Federal junto à Embratur e dos órgãos de


controle interno juntados aos autos firmam o entendimento de que o contrato de patrocínio é
um contrato administrativo de serviços e, como tal, deve atender aos preceitos da Lei n°
8.666/1993, motivo das indagações acima citadas.

Solicitado a apresentar informações técnicas sobre o caso, pertinentes à sua área


de competência, o DEPAT se manifestou às fls. 1071108 dos autos.

2 - Das peculiaridades do patrocinio

Como ação de comunicação dos órgãos e entidades do Poder Executivo federal,


o patrocínio está conceituado no art. 2°, IV, da IN/SECOM nO5/2011, nos seguintes termos:

Art. 2° Consideram~se:
(...)
IV - Patrocínio: ação de comunicação efetuada por meio de apoio financeiro concedido
por órgão ou entidade do Poder Executivo Federal a projetos de iniciativa de terceiros, com O
objetivo de divulgar atuação, fortalecer conceito, agregar valor à marca, incrementar vendas,
gerar reconhecimento ou ampliar relacionamento do patrocinador com seus públicos de
interesseI;

O Dicionário de Comunicação de Carlos Alberto Rabaça2 e Gustavo Guimarães


Barbosa define patrocínio nos seguintes termos (sem grifo no original):

Patrocínio
(...)
• (mk) Investimento geralmente financeiro em atividade - cultural, esportiva, científica,
comunitária, assistencial etc. ~ não necessariamente ligada ao campo de atividades do
patrocinador, visando influenciar o público favoravelmente em relação a esse patrocinador ou

("')Q
atingir outros objetivos de marketing. Patrocínio não é apenas apoio, nem unicamente
propaganda ou promoção, mas pode abranger os três itens.

1 IN/SECOM N° 5 de 6 de junho de 2011.; ~


2 Editora Campos/Elsevier, 7" edição. ~
Sccrct~lria de Comunicação Social da Presidência da República
3

A doutrina especializada trata o patrocínio como um investimento, realizado


mediante aporte de recursos financeiros, conforme a lição de Maria Rosana Casagrande A.
Zan3, que destaca o conceito de patrocínio focado no fortalecimento da marca do
patrocinador, nos seguintes termos (grifos acrescentados):

o patrocínio está relacionado a um investimento comercial, com aporte de recursos


financeiros. Esse fato o descaracteriza, portanto, do caráter de doação e até mesmo apoio, como
muitas vezes é tratado, equivocadamente, tanto no meio profissional quanto em algumas
literaturas.

o patrocínío, pelo seu grau de propriedade, não deve ser entendido como o fornecimento
de qualquer tipo de recursos oferecido por uma empresa. Essa conotação o desqualifica em
razão de sua natureza e sua importância perante os objetivos que lhes são imputados corno
ferramenta de comunicação de marketing - estando, portanto, em posição superior às condições
e significações das formas de apoio/colaboração, doação, permuta e outros. (...)

Do ponto de vista do promotor/evento, o patrocínio. ou seja. o investimento, quase


sempre significa uma parcela potencial e importante da fonte de renda. Na lógica, é essa
premissa que de fato, desperta e caracteriza a parceria entre a empresa patrocinadora e a
organizadora do evento. Por outro Jado, como toda estratégia de investimento, a organização
almeja alcançar um retomo através do patrocínio. Nesse caso, o objetivo maior está focado no
fortalecimento da imagem da sua marca, que de alguma maneira se converterá em beneficios
mercadológicos - aumento de vendas, fidelização por parte do cliente e conquista de novos
mercados.

Para isso, toda ação de patrocínio deve ser planejada. Considera-se o público-alvo a ser
atingido por meio de um evento, bem como as atividades de interação entre esse público
(clientes atuais, potenciais e demais parceiros), o produto e a marca do patrocinador.

Ubaldo Crepaldi4, no artigo 'Encontro com a verdade', examina a trajetória das


empresas nas relações com seus públicos e assinala que os esforços de comunicação diluem-
se em "uma miríade de possibilidades - e necessidades - entre novos grupos, novos papéis
sociais nos mesmos indivíduos, novos atributos valorizados por cidadãos, consumidores,
fornecedores, colaboradores, agências regulatórias, mercado financeiro e todos os demais
grupos ou indivíduos que dão suporte à sua atividade e mesmo à sua existência".

Segundo Crepaldi, "O estudo e análise da comunicação institucional tornam-se


( ..) necessidade premente das organizações, forçadas ao aumento dos investimentos na
área, de cujo desempenho passa a depender não apenas para sua lucratividade, mas
principalmente para sua perenidade". E prossegue o autor (grifos nosso):

Avolumaram-se os investimentos. Inicialmente na comunicação mercadológica - "a era de ouro


do marketing" numa redução desse conceito -, posteriormente na comunicação institucional,
quando, às características dos produtos e das organizações, os consumidores e cidadãos de ma-
neira em geral agregaram os atributos sociais, além de outros intangíveis como tradição, confi-
ança, simpatia, etc. (...)

Os patrocínios culturais e esportivos avolumaram-se, demonstrando ser veículos de comunica-


W pelos quais se agrega às marcas os atributos desejáveis pelas mesmas e passaram a se consti-
tuírem em ferramentas indispensáveis para as organizações públicas e privadas.

Em artigo publicado do Meio@Mensagem5, versão eletrônica de 2013, Amir


Somoggi, diretor de consultoria em gestão esportiva da BDO, afirma que (grifos nosso):

3 Patrocínio a Eventos (A sinergia da comunicação integrada de marketing), Difusão Editora, 2011, p.86/87.
4 bttp:/ /www.secom.gov.br/sobre-a-secom/acoes-e-programas/patrocinio/publicacoes
5 http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/ponto

US--46-bi-.html
_de _vista/20 11 /lI?
IU
atroc-nio-global-cheg
~
-
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
4
Segundo a empresa norte-americana IEO o investimento em patrocínio no mundo atingiu em
2010 US$ 46,3 bilhões (u.). Segundo a empresa os investimentos corporativos em marketing de
patrocinio globalmente devem superar US$ 48,7 bilhões em 2011 (u.)

Para o Banco do Brasil, "o patrocínio é uma parceria na qual a empresa


colabora para a execução de um prcpeto visando a associar sua marca a ele e obter
contrapartidas tangiveis e intangiveis" . No sentido de parceria, o Banco do Brasil entende
que o patrocínio se caracteriza como um investimento com o objetivo de aprofundar o
relacionamento do Banco com seus clientes, nos seguintes termos (grifo nosso):

o investimento em patrocínio tem como objetivo aprofundar o relacionamento do Banco


com seus clientes efetivos e potenciais e busca potencializar o reconhecimento da marca BB. O
patrocínio associado .às demais ações de comunicação (propaganda, promoção de vendas e
assessoria de imprensa), propicia a interação do público com a marca do Banco por meio da
experimentação, criando vínculos duradouros e transferindo valores aos eventos patrocinados e
vice-versa.

Segundo o Manual Normativo de Patrocínios da Caixa Econômica Federal, "O


investimento em patrocínio na CAIXA tem como objetivo estabelecer normas para o custeio,
no todo ou em parte, de eventos realizados em parceria com terceiros ou promovidos por
terceiros, para fins de divulgação da imagem, marca, produtos e serviços, programas
sociais e de bens culturais e históricos da CAIXA, junto a segmento de público identificado
como de interesse mercadológico, financeiro/negociaI ou institucional" (grifo nosso).

A Eletrobras exibe em sua página na internet a afirmação de que "Há 50 anos, a


Eletrobras investe na energia do Brasil. Na energia elétrica, motor do desenvolvimento do
país, e na energia que emana das mais variadas formas de expressão do povo brasileiro.
Por isso, a empresa tem por tradição o incentivo à cultura" (grifo nosso).

Por fim, a configuração do patrocinio como investimento e como meio de


divulgacão também emerge do Decreto nO 6.180/2007, regulamentador da Lei n°
11.438/2006, que trata dos incentivos e beneficios para fomentar as atividades de caráter
desportivo, especialmente em seus arts. 3° e 24, nos seguintes termos (grifas nosso):

Art. 32 Para os efeitos deste Decreto, considera-se:

(u.)
IV - patrocínio:
a) transferência gratuita, em caráter definitivo, ao proponente de que trata o inciso VIII, de nu-
merário para realização de projetos desportivos e paradesportivos, com finalidade promocional e
institucional de publicidade; e (.u)

Art. 24. É vedada a concessão de incentivo a projeto desportivo:


(u.)
II - em que haja comprovada capacidade de atrair investimentos, independente dos incentivos de
que trata este Decreto.

Como síntese dessas assertivas sobre patrocínios, o site da SECOM afirma que
"Ao se associarem a atividades culturais, esportivas, sociais ou ambientais, as empresas
buscam a transferência de prestígio, de efeito subliminar". E assevera: "O patrocínio é, de
modo geral, uma parceria que beneficia os dois lados. O patrocinado recebe os
investimentos para financiar custos próprios ou viabilizar seus projetos. Em troca, o
patrocinador recebe direitos de compartilhamento da sua marca com a do grupo
patrocinado, em eventos, campeonatos, uniformes, peças publicitárias, etc. " (grifo nosso).

6 Citado por Maria Rosana Casagrande A. Zan, na obra Patrocínio a Eventos, ema acima, p. 105.
Secretaria de Comunicação Social da I)resitiência da República
5

3 - Da fundamentação jurídica

As peculiaridades e singularidades do contrato de patrocínio demonstram que


essa espécie de contratação dos órgãos e entidades da Administração Pública federal tem
por objeto a aquisição remunerada do direito de o patrocinador associar seu nome e/ou seus
produtos e serviços a empreendimento da iniciativa do patrocinado, que, como
contrapartida, cede ao patrocinador o direito da utilização do seu nome no projeto
patrocinado, mediante a exposição da marca nas peças de divulgação do projeto e outros
aspectos negociais oriundos do contrato.

o art. 2° da Lei n° 8.666/1993 determina que as obras, serviços, inclusive de


publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração
Pública devem ser contratadas mediante licitação, nos seguintes termos:

Art. 22 As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões,


pennissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão
necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre
órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de
vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a
denominação utilizada.

Diante disso, pode-se constatar que os conceitos de patrocínio adotados na


doutrina especializada, no mercado, nas empresas estatais, com foco nos seus objetivos
essenciais inerentes à divulgação da marca, acima demonstrados, não se enquadram no
conceito de serviço, como suscitado, mas pode-se enquadrar no conceito genérico de
compra adotado no art. 6°, inciso m, da Lei n° 8.666/1993:

Art. 6" Para os fins desta Lei, considera-se:


( ...)
III - Compra - toda aquisição remunerada de bens para fornecimento de urna só vez ou
parceladamente;

Assim, em comparação com o conceito adotado no mercado, pode-se dizer que


o patrocínio se caracteriza como uma compra com entrega imediata, por ser uma ação de
comunicação em que o patrocinador adquire, de forma remunerada, o direito de associar seu
nome a projetos de iniciativa de um terceiro, com o objetivo de gerar identificação e
reconhecimento, ampliar relacionamento com públicos de interesse, divulgar produtos,
serviços, programas, políticas de atuação, ampliar vendas e agregar valor à marca.

Frise-se que, por se tratar da compra de um direito inerente à associação do


nome do patrocinador com a iniciativa de um terceiro, o contrato de patrocínio se afasta dos
rigores das regras que norteiam o çontrato administrativo no sentido amplo. Por isso,
aplicam-se, no que couber, a essa modalidade de contratação, as normas da Lei nO
7
8.666/1993, em face dos objetivos do patrocínio, na lição de Maria Rosana C. A. Zan :

Um dos maiores objetivos que as empresas almejam com as ações de patrocínio a


eventos está na construção e reforço da imagem da marca. Esse objetivo apresenta, por seu
conceito e relação, um alto grau de subjetividade, o que torna mais complexo [sic] a sua
conversão em números e a definição de instrumentais para avaliação dos resultados com a ação.
Além disso, as variantes que interferem no sucesso do patrocínio - como repetição, impacto,
adequação, potencialização - deixam ainda mais complexa a tarefa de transformar todos os seus
beneficios em dados reais.

7 Patrocínio a Eventos, obra citada acima, p. 94.


(J
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
6

Porém, esse fato, apesar de ser importante no sentido de oferecer elementos mais
palpáveis para justificar sua importância e o investimento, não o desmerece. E, por todo o valor
como ferramenta de construção de marca, ainda carece de estudos que possam explorar a
vasticidade de aspectos que o envolvem. (...)

A despeito disso, os pareceres e demais cuidados dos órgãos de controle interno,


juntados nos autos, tratam a ação de patrocínio como uma espécie de servico e, assim,
acabam por determinar à Administracão o cumprimento rigoroso de procedimentos
incompatíveis com as características e finalidades do contrato de patrocínio.

Ora, sendo o patrocínio a mera cessão remunerada de um direito, não há presta-


ção de serviço, por se tratar de espéçie de compra a relação que se estabelece entre o
patrocinador, que se obriga a efetuar determinado aporte financeiro ao patrocinado, que, em
çontrapartida, se obriga a divulgar produtos, serviços, marcas, conceitos, programas,
políticas e/ou estratégias negociais e outras, conforme cada caso, no âmbito da execução da
ação de patrocínio.

Assim, pode-se dizer que essa relação entre patrocinador e patrocinado se


consubstancia numa obrigação de dar, o que é diferente da prestação de serviços, que tem
supedâneo numa obrigação de fazer. Nesse sentido, ensina Marçal Justen Filho: "compra é
instrumento por excelência de criação de obrigação de dar, enquanto as obras e serviços
produzem obrigação de jazer". 8

Nesse contexto, são relevantes as assertivas expendidas no Voto do Ministro do


Tribunal de Contas da União (TCU) Relator no Processo 020.345/2004-9, que deu origem
ao Acórdão n° I 518/2013-TCU-Plenário (grifos nosso):

16. ( ...) Foi esse o entendimento firmado em processo de relatoria do Ministro Ubiratan Aguiar,
que tratou de similar ocorrência, por meio do Acórdão 1785/2003 - Plenário, do qual destaco:

"25. Questiona-se, inicialmente, se as negociações para contratação de um patrocínio devem ser re-
alizadas de forma global, em que se examina apenas a relação custo beneficio da publicidade, em
face dos valores cobrados pelo patrocinado; ou se a patrocinadora deve verificar a pertinência de
cada item do evento patrocinado. Nesse sentido, questiono se a Caixa Econômica FederaL ao patro-
cinar o atletismo brasileiro deve verificar o oreco da diária e em que hotel a delegacão será hospe-
dada. Deve, ainda questionar que tipo de transporte pode ser utilizado se avião ou navio se pri-
meira ou classe turismo?

26. Creio que a Caixa pode e deve verificar a viabilidade técnica, econômica e financeira do evento
patrocinado, de forma a assegurar o retorno do valor investido. Entretanto, não cabe a ela avaliar o
preco do patrocínio solicitado com base nos custos do patrocinado, os quais podem ser muito infe-
riores ou superiores aos incorridos pelo evento. Digo preço, tendo em vista que o patrocinado,
em verdade. está vendendo um produto ao patrocinador e não apenas solicitando uma ajuda de
custo. Diante do exposto, pode-se afirmar que o preco de um determinado patrocínio para o patro-
cinador está vinculado não aos custos intrínsecos do objeto patrocinado. mas ao retorno publicitá-
rio dele advindo."

Portanto, ao afirmar que no contrato de patrocínio "o patrocinado, em verdade,


está vendendo um produto ao patrocinador", o TCU adota a tese de que o patrocínio se
caracteriza como de um contrato de compra, em que o patrocinador compra o direito de
associar seu nome a projeto ou evento promovido pelo patrocinado.

Lembre-se que a gestão do processo de patrocínio é complexa e singular, por se


tratar da compra de um produto intangível, adquirido pelo patrocinador com base em seu
planejamento de investimento em patrocínio ou em seus objetivos de comunicação, na lição
9
de Maria Rosana Casagrande A. Zan : .~

8 Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, Dialética, I (Yl edição, 2004, p. lOO. (f)
9 Patrocínio a Eventos (A sinergia da comunicação integrada de marketing), Difusão Editora, 2011, p. 142. ~
Secretaria de Comunic~lção Social da Presidência da República
7

o planejamento possibilita colocar e também visualizar, organizadamente, o que se


quer atingir, como fazer para atingi-lo e quais recursos serão necessários. Um processo que
pennite, entre outras funções, minimizar riscos. Ele torna possível avaliar as chances de sucesso
ou fracasso das ações de marketing. O planejamento da comunicação, num processo sistemático,
deriva primeiramente do planejamento estratégico da empresa e, por conseguinte, do
planejamento de marketing. Tem a finalidade de coordenar os objetivos, estratégias e as diversas
fases de uma campanha de propaganda, relações públicas ou promoção de vendas, para atingir o
máximo de retomo sobre o investimento realizado.

Muitos eventos são primeiramente idealizados e planejados, para em seguida serem


apresentados, por meio de projetos, a possíveis patrocinadores. Estes estão, por um lado,
viabilizando financeiramente sua realização, e, por outro, utilizando o patrocínio como
ferramenta comunicacional de marketing. Nesse momento, aS empresas assediadas pelo
proponente fazem as avaliações do projeto, verificando a adequação do evento com seus
objetivos de comunicação. Isso significa que em muitos casos o evento a ser patrocinado não é
concebido dentro de um plano de marketing da empresa patrocinadora, mas sim adequado a ele.

Desse modo, algumas condições a priori são essenciais para que a empresa decida pelo
patrocínio de um evento. Se o projeto:
• atende aos objetivos de marketing;
• se encaixa no orçamento de comunicação de marketing;
• tem relação com o público que a empresa deseja atingir;
• oferece garantias que dará os resultados esperados.

Diante disso, não pode haver dúvida sobre a singularidade de cada projeto de
patrocínio, de onde decorre a aplicação da inexigibilidade de licitação pela inviabilidade da
competição, nos termos do art. 25 da Lei n° 8.666/1993, como já manifestou nos autos o
Departamento de Patrocínio da SECOM, nos seguintes termos (fls. 107/108):

8. Sobre a questão 3, a caracteristica singular dos projetos de patrocinio é o detenninante


da impossibilidade de competição, diferentemente da contratação de simples serviços, entretanto
o administrador público de patrocínio é responsável pela execução dos contratos e pelo montante
de recursos investidos devendo observar os princípios da eficiência e da razoabilidade.

Dessa forma, aplica-se, no que couber, aos contratos de patrocínio, o disposto no


parágrafo único do art. 26, da Lei nO8.666/1993, em face da necessidade de apresentar as
razões da escolha do projeto a ser patrocinado e da justificativa do valor a ser investido, de
acordo com as características de cada projeto e em sintonia com o plano de investimento em
patrocínio ou com os objetivos de comunicação do patrocinador.

Ademais, se o patrocínio trata da compra com entrega imediata e integral do


bem adquirido pelo patrocinador e se perfaz com a efetiva associação do seu nome e/ou de
seus produtos e serviços ao projeto ou evento , qualquer outra exigência imposta ao
patrocinado, como a prestação de contas integral do evento, descaracterizaria a própria
natureza jurídica do patrocínio.

Entretanto, em face da complexidade do tema, os órgãos de controle divergem


quanto à natureza do patrocínio, a ponto de exigirem prestação de contas detalhadas do
patrocinado, ao confundir o patrocínio com as mais diversas formas de transferência de
recursos do patrocinador para a prestação de um serviço ou para o exercício de alguma
atividade. Isso não ocorre no âmbito do patrocínio, já que este se caracteriza como a compra
do direito de associação do nome do patrocinador a projeto da iniciativa de terceiro, como
foi visto acima.

No caso em apreço, a dúvida suscitada pela Embratur quanto ao detalhamento


da prestação de contas, a exemplo da apresentação de notas fiscais e extrato bancário de
depósito, vê-se que a questão foi enfrentada no exame do recurso às decisões do Acórdão n°
97/2011- TCU-Plenário, no Processo 020.345/2004-9, de que resultou no Acórdão nO
1518/2013-TCU-Plenário, no qual a área técnica do TCU assim se pronunciou (grifo nosso): ~

;(j)
Secretaria de Comunicação SOcilolldlolPresidência da Repúbliclol
8

131. A demonstração de contrapartidas a que se refere os recorrentes se limita ao aspecto


financeiro da comprovação da aplicação dos recursos, havendo a necessidade de se detalhar,
ainda, o serviços e produtos efetivamente adquiridos/prestados, indicacão das respectivas notas
fiscais. os extratos bancários e demais elementos que comprovassem a efetividade de todos os
gastos. Especificamente quanto à natureza das despesas em questão, as respectivas planilhas
analíticas de custos.

Todavia, o Ministério Público junto ao TCU entendeu de modo bem diverso ao


se manifestar sobre a prestação de contas (grifo nosso):

] O. Poder-se-ia argumentar que, ao assinarem o contrato de patrocínio do tipo não incentivado,


esses gestores assumiram o risco de que o contratado efetuasse gastos em desconformidade com
as finalidades pactuadas, na medida em que tal modalidade não exige a apresentacão de
prestacão de contas.

11. Todavia, a modalidade não incentivada (da qual a inexigibilidade de prestacão de contas é
uma de suas características) restou reconhecida pelo TCU como legítima, até porque, do
contrário, todo o valor repassado deveria ter sido imputado como débito a ser ressarcido pelos
responsáveis, dada a ilegalidade do patrocínio em si.

Ainda no exame do recurso, o Ministro Relator demonstrou sua concordância


quanto à manifestação do Ministério Público quando fez questão de ressaltar que é
inexigível a prestação de contas nos patrocínios não incentivando (grifo nosso):

16. Assim, ultrapassada a questão da regularidade da concessão do patrocínio, ainda na decisão


recorrida, resta avaliar a possibilidade da exigência da comprovação dos gastos. Ora, se o
próprio Tribunal reputou regular o patrocínio não incentivado, o qual, ressalto. caracteriza-se
pela inexigibilidade de prestacão de contas, não cabe impugnar os valores e as despesas
incorridas pelo patrocinado. ( ...)

Ao reconhecer a inexigibilidade da prestação de contas do patrocinado, no


âmbito dos contratos de patrocínio que firmam com patrocinadores de órgãos e entidades da
Administração Pública, o TCU acolhe a tese de que no patrocínio não há prestacão de
serviços, motivo pelo qual não há utilização de dinheiro público pelo patrocinado, por se
tratar de uma aquisição do direito de associação da marca do patrocinador e/ou de seus
produtos e serviços a projeto da iniciativa do patrocinado.

Por isso, não se aplica ao contrato de patrocínio o parágrafo único do art. 70 da


Constituição Federal, porque nessa modalidade de contratação o patrocínado não utiliza e
nem administra dinheiro, bens ou valores públicos, já que o patrocínio se caracteriza como
obrigação de dar que se efetiva mediante a aquisição do direito de associação da marca do
patrocinador e/ou de seus produtos e serviços a projeto promovido pelo patrocinado.

Frise-se que, no tocante ao enquadramento do contrato de patrocínios na Lei nO


8.666/1993, é incontroverso que cabe a aplicação de seus arts. 25, caput, e 26, com as
adequações pertinentes ao caso, conforme já tratado em inúmeros Acórdãos do TCU. Por
ser recente e atender plenamente à indagação da Embratur, cabe transcrever apenas a
manifestação posta no Voto do Ministro Relator do Processo 022.826/2007-4, que resultou
no Acórdão 4935/2013-TCU-1" Câmara (grifamos):

Não houve prejuízo ao Banco e por essa razão a Unidade Técnica acolheu as explicações
apresentadas ainda para a CGU, mas, visando prevenir a repetição de tais falhas, propôs
determinação ao Basa para que, em futuras concessões de patrocínio, observe a necessidade de
celebracão de contrato administrativo com a fonnalizacão de processo. de justificativa da
inexigibilidade de licitacão. das razões de escolha do patrocinado. das justificativas do preco
contratado. da ratificacão de inexigibilidade pela autoridade superior. da publicacão dessa
decisão no Diário Oficial da União, da elaboração de relatórios analíticos relativos ao
acompanhamento da execução do contrato e da aprovação prévia pela Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República';fj) ~
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
9

Dessa forma, o TCU entende que a Lei n° 8.666/1993 deve ser aplicada no que
couber, na contratação de patrocínio por órgão e entidade da Administração, ao exigir a
formalização dos procedimentos inerentes à inexigibilidade de licitação, por inviabilidade
da competição nos termos do art. 25, e as exigências das razões para a escolha do projeto
patrocinado e das justificativas de preços, como previsto no art. 26 da referida Lei.

4 - Das respostas às questões formuladas pela Embratur

Ante o que foi exposto, passa-se a responder sucintamente cada uma das
questões formuladas pela Embratur:

1. Por se tratar de evento para exposição de Marca, no nosso caso, os custos das despesas
dos contratos de Patrocínio estariam sujeitos às determinações da Lei n° 8.666/93, como
prestação de serviços?

Resposta:

Com fundamento no art. 62, S 3°, inciso I, e S 4° da Lei n° 8.666/1993, aplicam-


se as normas gerais de licitação "no que couber" na contração de patrocínio, por se tratar de
um contrato caracterizado como compra, com o objetivo de investimento na imagem do
patrocinador. Assim, o patrocínio não se enquadra como prestacão de servicos para o fim da
aplicacão rigorosa da Lei n° 8.666/1993.

2. No mesmo fulcro da Lei 8.666/93, o entendimento da àrea jurídica em que corrobora o órgão
de controle demanda o estudo do patrocínio sobre a égide da Inexigibilidade. É o caso em
questão? Se positivo, a publicação do contrato no D.O.V. deverá ser do extrato dessa
Inexigibilidade?

Resposta:

Sim. Predomina o entendimento de que cabe a aplicação dos arts. 25 e 26 da Lei


n° 8.666/1993, referente à inexigibilidade de licitação por inviabilidade da competição, com
a apresentação das razões para a escolha do projeto e da justificativa do preço, bem como a
publicação do extrato da inexigibilidade no DOU.

3. Outro ponto da orientação é a abertura de planilhas e dos itens que compõe o evento para
cotação de preços (03 orçamento, no mínimo). Qual a orientação e a defesajurfdica da SECaM
para este item? Por exemplo, em caso de aquisição de "Cotas de Patrocínio", a exibição de
custos unitários por serviços prestados fica prejudicada uma vez que a cota é proposta por preço
global do evento e as negociações sobre contrapartidas são específicas para cada projeto. Qual a
orientação da SECaM a esse respeito?

Resposta:

Não cabe cotação de preços no caso, pela própria singularidade do projeto


patrocinado. As planilhas que expressam a composição dos custos unitários se aplicam
apenas nas licitações de obras e serviços (7°, S 2°, lI, da Lei n° 8.666/1993).

O patrocínio não se caracteriza como serviço, conforme já foi demonstrado.


Ademais, no caso em análise, aplica-se no que couber, a "Justificativa de preço" previsto no
art. 26, III da Lei n° 8.666/1993, que se restringe à prévia justificativa do investimento a ser
'pli~do pdo p<Urociruillm 00'''"'O ou proj"" P-I'JU. ill--
Secretaria de Comunicação Social da I>residência da República
10
4. Na questão relativa á prestação de contas, uma vez que a EMBRATUR já fez uma
remessa de valor para conta corrente do ente patrocinado via SIAFI, há necessidade de
comprovação de aquisição de serviço via nota fiscal, extrato bancário do depósito, ou as
comprovações devem ser restritas à realização de ação de suas contrapartidas?

Resposta:

É inexigível a prestação de contas no âmbito dos contratos de patrocínios, por se


caracterizar como a compra de um direito de associação da marca e/ou produtos e serviços
por parte do patrocinador a projeto ou evento promovido pelo patrocinado.

5 - Conclusão

Antes da aprovação da presente Nota Técnica, o Departamento de Normas da


SECOM resolveu encaminhar a sua minuta ao Departamento de Patrocínios (DEPAT), que
se manifestou, em 14/02/2014, pela inexistência de "óbice deste DEPAT quanto ao
conteúdo da Nota Técnicaproposta".

Dessa forma, se aprovada a presente Nota Técnica, cabe sugerir que ela seja
encaminhada ao Diretor de Marketing da Embratur, como resposta da SECOM ao Oficio

/
DMARK nO72/2013.

Salvo Melhor Juízo. À consid~ ao Superior

ED
P~
••
I
s ssor/SECO
SS

De acordo, encaminhe-se ao Senhor Subsecretário de Gestão, Controle e


Normas, para as providências que julgar pertinente.

Brasília, 20 de fevereiro de 201 .

JOSÉRIC EANTONI
Diretor de aSGCN/S -M

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