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A fim de proceder a uma análise precisa acerca do debate que cerca a temática dos
modos de divulgação dos serviços jurídicos face aos instrumentos normativos que regem a
atividade da advocacia, buscar-se-á, em um primeiro momento, responder ao seguinte
questionamento inicial: como como compreender os conceitos de publicidade, propaganda e
marketing, dentro e fora do âmbito jurídico, de modo a verificar os limites que tornam a
atividade da advocacia mercantilizada?
Entretanto, para que a presente discussão encontre a devida profundidade, para além da
observação fria e isolada dos dispositivos correntes acerca da temática, é mister instituir uma
profunda análise das bases conceituais e deontológicas do exercício da própria advocacia,
investigando a maneira pela qual foram estabelecidas tais diretrizes, que definem o papel da
advocacia na sociedade, questionando ainda se, em razão da acelerada evolução da profissão,
seria viável entender tais bases como inertes e à prova de mudanças.
Para além de tais funções comerciais, observa-se que, para o autor, a publicidade é
essencial até mesmo como um dos modos de se concretizar a liberdade de expressão, sendo
este um dos corolários fulcrais ao estado democrático de direito brasileiro (SANT’ANNA,
2015).
Neste sentido, observa-se que, em termos históricos, a propaganda sempre foi vista
como um meio para disseminar ideologias religiosas e políticas, no intuito de angariar adeptos
às mesmas e fortalecer movimentos, sendo aplicada em contextos relacionados a cruzadas
religiosas, ou até mesmo a propagação de ideias em movimentos políticos, encontrando lugar,
principalmente na Alemanha nazista, na qual muitos foram levados a crer, por meio de
diversas ferramentas de persuasão empregadas na propaganda política, que aderir à ideologia
do estado totalitário poderia fortalecer uma nação.
Com a evolução do contexto das relações de consumo, tem-se observado, cada vez
mais, uma incessante busca por conhecimento, por parte daquele que se propõe a adquirir
determinado produto ou serviço. Soma-se a isto o fato de existir ainda uma crescente
necessidade de diferenciação de mercado, pautada em quesitos de autoridade e entrega de
valor aos clientes, o que tem sido posto em prática usualmente por meio do marketing.
Para que isso realmente ocorra, deve haver um destaque do serviço proposto, levando o
consumidor a se tornar um defensor fiel do produto ou serviço, o que é conseguido por meio
da diferenciação de mercado e do estudo do caminho percorrido pelo consumidor, até que ele
decida pela contratação do serviço, sendo o principal objetivo o encantamento do cliente, a
fim de torná-lo um grande recomendador dos serviços (KOTLER, 2017).
Do modo mais basilar, o conceito aplicado do marketing na seara dos serviços jurídicos
pode ser compreendido como uma ferramenta de comunicação da área de atuação do
advogado de maneira direcionada e assertiva, que atende aos ditames do Código de Ética da
OAB acerca da temática e que proporciona o encaixe perfeito entre a área de atuação de foco
do advogado e a demanda que o futuro representado busca solucionar.
Para além da aquisição de clientes, esta técnica, que exige um extenso e direcionado
planejamento de estratégia, tem como um dos seus focos principais trazer clientes com
demandas qualificadas e conferir aos mesmos um relacionamento exclusivo e especial, por
meio do qual, neste contexto de tratamento personalizado, observam-se imensos ganhos
como, por exemplo, clientes que se tornam advogados de marca e passam a divulgar os
serviços do advogado.
Por tais motivos, pode-se afirmar ainda que o marketing jurídico surge como uma
inteligente solução para a questão do crescente número de advogados no Brasil, estabelecendo
um confronto com o pensamento fixado no senso comum, segundo o qual a propagação
facilitada e direcionada dos serviços jurídicos poderia vir a ferir a dignidade da profissão em
uma suposta onda de mercantilização dos serviços jurídicos.
Por tal motivo, demonstrar que tem conhecimento é, na verdade, um grande fator que
gera confiança para que a contratação seja feita, além de proporcionar ao advogado uma
imagem de especialista e autoridade no assunto que se propõe a divulgar, fato este que é capaz
de não somente elevar a busca por seus serviços, mas que também faz com que o cliente
permaneça fiel ao causídico, confiando neste para solução de demandas futuras.
Durante todo o desenrolar histórico, observa-se a advocacia como uma atividade quase
nunca atrelada a um sentido mercantil, desde o momento em que surgiu de modo
regulamentado, no Império Romano do século VI (LÔBO, 2019 p. 22), até o momento em
que a mesma foi estabelecida no Brasil-Colônia, por meio das Ordenações Filipinas (LÔBO,
2019 p. 23).
Entretanto, ocorre que se observa uma tremenda diferença de cenários. Embora seja
peculiar à profissão do advogado, seria extremamente dificultoso imaginar que cerca de
1.210.314 de advogados praticam seu mister única e exclusivamente pela paixão na defesa
dos direitos e interesses de seus clientes.
É verídico que esta vontade também precisa estar presente no momento em que o
advogado opta por representar aquele que o procura. Entretanto, dada a evolução de todo o
contexto mundial, colocam-se nesta equação diversos fatores, como a compreensão da
advocacia como um serviço disponível no mercado, e a mudança na forma de contratação de
produtos e serviços, os quais agora, mais do que nunca, precisam se tornar públicos aos olhos
dos consumidores, sendo estes alguns dos fatores propulsores da necessidade de mudança na
compreensão dos modos que são utilizados para divulgar serviços jurídicos na atualidade.
Entretanto, ainda que haja uma celeuma acerca do termo da mercantilização em si,
consoante podemos observar a seguir, quaisquer divulgações que firam o referido dispositivo,
e que de fato podem vir a extrapolar o bom senso, tendo em vista a agressividade da
divulgação empregada, podem ser alvo de procedimentos disciplinares, tendo em vista a
infração ética cometida face aos dispositivos reguladores da divulgação de serviços
advocatícios:
Nesta senda, a fim de corroborar com a presente compreensão, observa-se uma nova
força de transformação em relação às normas regulamentadoras da divulgação dos serviços
advocatícios, tendo em vista a inevitabilidade da mudança do cenário atual em relação aos
modos de fazer publicidade no âmbito da advocacia, a qual conta, hoje, com elementos e
ferramentas extremamente avançadas, proporcionadas pelo avanço da internet, que vem
tornando o exercício da profissão cada vez mais sem fronteiras.
De tal modo, Ary Raghiant Neto, atual corregedor nacional do Conselho Federal da
OAB (CFOAB), começou a mover uma força tarefa no ano de 2019, constituindo um novo
grupo de trabalhos voltado para analisar de que modo as regras da publicidade na advocacia
poderiam ser modernizadas, de modo a contemplar os anseios da nova advocacia em relação
às redes sociais, garantindo, assim, que os advogados recém-formados pudessem ter a
oportunidade de colocação no mercado de trabalho, por meio do uso de recursos tecnológicos,
desta feita, regulamentados e seguindo devidamente os ditames éticos e deontológicos que
regem o exercício da profissão (ANGELO, 2021).
Pode-se ainda afirmar que, nesta senda, diretamente atrelado ao estudo da ética, surge a
deontologia, disciplina esta que em si forma um estudo da ética profissional, atuando como
um verdadeiro guia de conduta profissional, ressaltando-se ainda que Bobbio (2013) afirma
que a ética, neste contexto específico, exerce justamente um papel de reger a conduta daquele
profissional, no intuito de estabelecer normas básicas direcionadas ao agir, consistindo estas
em um verdadeiro dever que precisa ser obedecido pelo profissional de determinada área, o
qual, na presente discussão, é o advogado.