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BAIXADA SANTISTA
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Sumário
Assim, então, toda teoria do ensino precisa partir, hoje, embora não fique restrita a isso,
dos conhecimentos sobre o desenvolvimento intelectual de que dispomos na atualidade.
Nesse terreno, a "opção mais completa e coerente que existe é a teoria do desenvolvimento
elaborada pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896/1980).
1.2 O NASCIMENTO
1.4 A ADAPTAÇAO
A origem de toda a atividade dos seres vivos deve ser procurada na adaptação do
organismo ao meio que, por sua vez, pressupõe uma modificação deste. Desde Darwin, o
mecanismo de seleção natural é realizado através da sobrevivência dos mais aptos e do
desaparecimento daqueles que estão menos adaptados. Por isso, qualquer variação que se
produzir em um organismo facilitando a sua sobrevivência tende a ser mantida e transmitida
á sua descendência. Partindo desse ponto de vista, precisamos considerar que o
desenvolvimento mental que se processou no homem e que o diferencia dos animais é um
resultado da adaptação, é uma modificação que facilita a sobrevivência da espécie e que
justamente deu ao homem possibilidades inimagináveis em outros animais. Por isso, devese
entender que o desenvolvimento psicológico é o prolongamento do desenvolvimento
biológico: os mesmos mecanismos que atuam na evolução das outras espécies vegetais e
animais aplicam-se ao caso do homem. O homem constitui-se numa espécie que foi capaz
de adaptar-se ao seu meio (se não fosse assim, teria desaparecido), e de adaptar-se com
muito sucesso, pois cada vez controla mais a natureza, usando, para isso, seus mecanismos
psicológicos. A adaptação humana é mais rica que a de outras espécies porque é mais
flexível, o que significa que pode adaptar-se a um maior número de situações. Enquanto que
em outras espécies, bem adaptadas ao meio, uma variação intensa no meio pode provocar a
extinção da espécie ou, pelo menos, o desaparecimento de um grande número de indivíduos,
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o homem tem conseguido adaptar-se a situações bastante mutáveis e variadas pelo uso da
sua inteligência.
A adaptação não é um processo passivo, mas ativo, o que significa que o organismo, ao
se adaptar, está se modificando, mas, ao mesmo tempo, modifica o meio. A adaptação nunca
é somente uma modificação do organismo ou uma submissão deste ao meio, seja ele natural
ou social, mas há, ao mesmo tempo, uma modificação desse meio em maior ou em menor
grau. (Neste aspecto há uma distinção do uso corrente do termo adaptação e do uso na
biologia.)
Em um processo adaptativo podemos distinguir, com fins de exposição, dois aspectos que
são, na verdade, indissociáveis, ou seja, fazemos a distinção para dar um maior
esclarecimento, já que um não pode ocorrer sem o outro. Por um lado, podemos falar de
assimilação ou incorporação do meio ao organismo, ação do meio sobre o organismo e, por
outro lado, de acomodação, que supõe uma modificação do organismo como resultado da
influência do meio. A adaptação é, então, uma modificação do organismo em função do meio
que favorece a conservação desse organismo. O organismo relaciona-se com o seu ambiente,
age sobre ele e o modifica, mas, com o passar do tempo, ele mesmo se modifica, de tal forma
que os novos contatos com o meio já não serão exatamente iguais. Um exemplo simples é o
da nutrição: um organismo incorpora uma parte do meio, por exemplo, um cachorro come um
pedaço de carne, incorpora-o, assimila-o. A carne não permanece igual, mas é transformada,
triturada, misturada com saliva, digerida, eliminada. Essa incorporação, ao mesmo tempo,
supõe uma modificação do cachorro, uma acomodação aquilo que incorporou, o alimento
transformou- se em sangue, em tecidos, em produtos residuais e o organismo se regenera ou
se desenvolve se estiver no período de crescimento, etc. Essa forma de intercâmbio, com
esses dois aspectos de assimilação e acomodação, aparece não só nas trocas materiais com
o meio, mas também nas trocas mentais. Quando nos situamos na área da conduta e da sua
explicação, a incorporação e a modificação do meio não são de natureza material, mas sim
mental, seja ela motora ou simbólica. A criança, por exemplo, pega um objeto, agindo sobre
ele, movimentando-o, batendo-o, agitando-o e acomoda-se às suas propriedades, forma,
textura, tamanho, superfície, de tal maneira que, se o objeto for grande como uma bola
precisará pega-lo com as duas mãos e não com uma, se for escorregadio terá de segurá-lo
de uma maneira diferente do que se for áspero. Assim, um conjunto de ações vai se formando,
ações que chamaremos de esquema, produto da preensão da bola, por exemplo, o que supõe
uma assimilação e uma acomodação do organismo a esse objeto novo. Desse momento em
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diante, a criança poderá pegar objetos redondos e grandes aplicando o mesmo esquema de
preensão com duas mãos, que supõe uma acomodação nova, que não existia antes.
O exemplo anterior fazia referência à área da atividade motora, dominante na criança nos
seus dois primeiros anos. Podemos dar outro exemplo numa área mais abstrata. Suponhamos
que estamos lendo um livro como este e que estamos estudando a relação do organismo com
o meio e lemos o que se diz sobre a adaptação. O que estamos fazendo é incorporar uma
noção nova, ou seja, assimilá-la, e o fazemos a partir dos nossos conhecimentos anteriores.
Precisamos saber o que é um organismo, o que é um processo, fazer uma representação da
ação do organismo sobre o meio e os intercâmbios que estabelece com ele, etc. Assim,
adquirimos uma nova noção que vai modificar nossos conhecimentos anteriores, os quais
terão que acomodar-se ao novo conhecimento. A partir deste momento podemos aplicar essa
noção quando tentarmos explicar outros fenômenos, produzindo assim novas assimilações e
acomodações.
mas, no momento em que ocorre uma modificação no meio, tanto externo quanto interno, isso
provoca uma desadaptação e o organismo precisa agir para compensá-la.
Uma criança de poucos meses alimentou se e está descansando no seu berço, com
tranquilidade, No entanto, o sol que entra janela vai se deslocando e os raios caem sobre o
seu rosto, incomodando-a. Isso representa uma modificação no meio que o organismo vai
tentar superar. Para isso pode usar diversos procedimentos: pode tentar movimentar-se e sair
fora do alcance do raio de sol, ou então chora expressando o seu mal-estar e um adulto
desloca o berço ou fecha a janela, ou pega a criança no colo. Dessa forma se restabelece o
equilíbrio, embora temporariamente, pois logo haverá um novo desequilíbrio.
Assim, quando o organismo não está sujeito a nenhuma forma de tensão não precisa agir,
mas, no momento em que uma modificação, faz-se necessária uma ação que a compense.
Para resolver o desequilíbrio, aplica os meios que estão a sua disposição e que já usou em
situações anteriores, mas a situação pode ser diferente e isso o leva a procurar novas
soluções irão representar um progresso. Por meio deste procedimento vão sendo formados
esquemas que por sua vez vão permitindo uma adaptação, ou seja, a possibilidade de
estabelecer o equilíbrio em situações novas - nisso se constitui o desenvolvimento intelectual.
1.5 OS ESQUEMAS
Salientamos que após o nascimento havia um período no qual ocorria uma consolidação
dos reflexos, mas o problema é como se dá a passagem desses reflexos, ações rígidas, para
ações mais complexas e flexíveis, ações novas. Examinaremos o caso da preensão.
O recém-nascido exerce o reflexo de preensão quando algo estimula a palma de sua mão,
nesse caso a fecha. Após algum tempo, variável, mas não muito longo, a preensão sofre um
relaxamento e ele solta o objeto. Durante os dias e meses após o seu nascimento, o bebê
exercita o reflexo e o aplica a muitos objetos que caem acidentalmente em sua mão. A
preensão vai se transformando cada vez mais numa conduta voluntária, pois a criança procura
objetos para pegá-los. Inicialmente, a preensão é de toda a mão e pouco a pouco vai se
aperfeiçoando, será estabelecida a posição polegar-indicador, de fundamental importância
para o desenvolvimento humano, já que permite a preensão fina, e assim a criança aprende
a pegar de forma diferente objetos diferentes: o chocalho, a manta, o travesseiro, o peito da
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Quando nos encontramos diante de uma situação nova, tentamos aplicar esquemas
anteriores e o fazemos enquanto podemos, combinando vários deles ou modificando algum
até encontrarmos uma forma de ação que seja mais prática para o objetivo que pretendemos
alcançar. Mais um exemplo: a criança nos seus primeiros meses pega um chocalho que cai
ao alcance da sua mão. Ela mantém mais firmemente quando o segura pelo cabo e essa ação
que inicialmente produziu por acaso tentará reproduzi-la sistematicamente. Chegará um
momento em que a visão do chocalho desencadeará a ação de segurá-lo pelo cabo de forma
precisa. Começará a aplicar ao chocalho diversos esquemas, como esfregar, sacudir, bater,
etc. Se um objeto parecido, por exemplo, um martelo de brinquedo, dos que fazem ruído
quando batemos, cai ao alcance de suas mãos, aplicará os mesmos esquemas, mas chegará
um momento em que descobrirá que o martelo se presta melhor a ser batido e produz efeitos
mais interessantes, e lhe aplicará preferencialmente esse esquema, enquanto que para o
chocalho ficará reservado o de sacudir, que é o que produz os melhores resultados.
Imaginemos agora que encontra um objeto muito diferente: um pedaço de fio elétrico de
uns 20 cm ou uma bola. A conduta será diferente. A criança tentará pegar os dois objetos e,
no primeiro caso, pega o pedaço de cabo, mas este não se presta bem à aplicação dos
esquemas anteriores; não é interessante nem bater, nem sacudir, nem esfregar, mas pode
aplicar outros esquemas, como segurar as duas pontas e esticar, ou enrolá-lo em volta de
outro objeto. Assim são introduzidos novos esquemas que são uma diferenciação dos
anteriores, e se cair nas mãos da criança um pedaço de elástico de borracha ser-lhe-ão
aplicados os esquemas usados para o fio e não os empregados com o martelo. Dessa forma,
constrói uma espécie de preconceito, já que a cada objeto aplica preferencialmente um tipo
de esquemas, o que significa que aplica uma série de ações determinadas.
Quando a criança se encontra em uma situação idêntica à outra anterior, a única coisa que
faz é aplicar os esquemas de que já dispõe. O aspecto desencadeante põe em ação esses
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Se a situação for muito diferente, como diante de uma janela de guilhotina", das que se
deslocam verticalmente, o indivíduo pode não encontrar no seu repertório de esquemas
nenhum adequado e, por isso, será incapaz de resolver a situação. Nesse caso não haverá
formação de novos esquemas, nem terá se produzido nenhum progresso no indivíduo porque
não pode assimilar a situação nem, portanto, acomodar-se a ela.
Assim, quando a discrepância entre a situação nova e uma situação anterior é intermediária
se produz o maior progresso, enquanto que se a discrepância for mínima ou máxima o
progresso não será possível. Em experiências com crianças de poucos meses, comprovou-
se que se interessam principalmente por objetos parecidos com outros que já conhecem e
que mostram um interesse muito menor por objetos muito conhecidos ou por objetos
totalmente novos.
esquema independente, mas, ao final, foram combinadas em um esquema único que foi
automatizado. Da mesma forma, uma pessoa que está aprendendo a dirigir precisa
concentrar- se intensamente em pisar na embreagem e colocar a marcha quando quer mudar
e isso exige dela uma atenção que dificulta o domínio do volante, a atenção à circulação dos
outros carros, ou olhar pelo espelho retrovisor; um motorista experiente, ao contrário,
automatizou os diversos esquemas da direção e pode ir da sua casa para o trabalho de uma
forma totalmente automática, sem pensar em momento algum no que está fazendo. Pode
havê-lo automatizado a tal ponto que, se quiser ir a outro lugar e iniciou o mesmo caminho
que quando vai para o trabalho, pode distrair-se e seguir a rota habitual ao invés de fazer o
caminho que previa ao sair de casa. Os diferentes lugares pelos quais vai passando são
elementos desencadeadores de novas ações, como as voltas do volante que, estando
automatizadas, vão se desencadeando sem que o indivíduo tenha consciência disso.
Os problemas que nos dão trabalho para resolver são aqueles para os quais não dispomos
de esquemas previamente estabelecidos e temos que formar outros novos. Estamos
aprendendo a pintar paredes com um rolo, mas sempre ocorrem pingos e a pintura escorre
para baixo. Como resolver o problema? Notamos, então, que pintamos de baixo para cima e
quando o rolo está muito encharcado de tinta é justamente quando pintamos para baixo, caso
em que a tinta, excessiva nesse momento, escorre. Nossos conhecimentos sobre o
deslocamento de líquidos por superfícies e da situação na qual nos encontramos nos levam
a mudar a técnica e, então, tentamos pintar de cima para baixo, acompanhando o
deslocamento da tinta que sobra e evitando, assim, que a pintura se solte e escorra.
Resolvemos, dessa forma, um problema novo, o que se constitui num ato de inteligência. Para
nós constitui-se num problema uma situação nova onde existem alguns elementos diferentes
de outras situações já conhecidas, mas que não são totalmente novos, pois nesse caso
estaríamos perdidos e não saberíamos por onde começar. A inteligência é, justamente, o que
permite a nossa adaptação a essas situações novas.
Os esquemas aos quais fizemos referência eram esquemas principalmente do tipo motor,
mas o mesmo acontece com outros- esquemas mais abstratos, por exemplo, com a solução
de problemas de matemática. Se aprendemos a calcular a área de um retângulo, podemos
considerar que dispomos de um esquema que se aplica quando encontramos uma figura
desse tipo. Mas se tivermos um paralelogramo não retângulo, nos encontramos diante de um
problema novo, uma situação discrepante na qual teremos que experimentar nossos
esquemas anteriores. Logicamente, se não sabemos calcular áreas de superfícies o problema
será muito difícil ou impossível de resolver. Pelo contrário, se a diferença entre o tipo de área
que temos que calcular e outras que calculamos antes for muito pequena, o problema será
muito simples.
Até 1 ano e meio ou 2 anos, a criança relaciona-se com o meio através dos seus sentidos
e agindo sobre ele. As trocas são principalmente materiais e limitadas à situação atual e a
esse lugar. Em torno dessa idade, fins do segundo ano, começam a aparecer a linguagem e
a representação, ou seja, a possibilidade de usar um significante ao invés de um significado.
Isso abre enormes perspectivas e uma nova etapa no desenvolvimento. A primeira é
denominada de período sensório-motor devido às características predominantes, ou seja,
atividade sensorial e motora, enquanto que depois entramos numa fase representativa.
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Entre a idade de 2 e 7 anos, a criança reconstrói, pela linguagem. muitos dos seus
conhecimentos anteriores. A sua capacidade de atenção, no entanto, continua ainda sendo
limitada e permanece dominada pelo que se denomina egocentrismo. E a etapa do
pensamento intuitivo, ou subperíodo pré-operatório no qual a criança se mostra muito
apegada aos aspectos
Dos 7 aos 11 anos, em média, transcorre o período das operações concretas, no qual a
criança organiza as suas ações em sistemas de conjunto e realiza grandes progressos na
aplicação de noções lógicas, mas ainda continua apegada à situação concreta na qual se
encontra.
Dos 11 aos 15 ou 16 anos, transcorre a etapa das operações formais, na qual o indivíduo
começa a raciocinar de forma hipotético-dedutiva e a aplicar os conceitos básicos do
pensamento científico. Com esta etapa termina o desenvolvimento intelectual.
mais nada, a relação com a figura materna será um determinante de relações sociais
posteriores.
Assim, quando a criança vai para a escola, o fato de que tenha tido um desenvolvimento
inicial adequado será um ponto de partida positivo para o trabalho escolar e para sua
integração afetiva dentro da escola. Mas não é esse u aspecto ao qual queremos fazer
referência agora, e sim, principalmente, à influência que os pais possam ter sobre a criança
durante a etapa escolar e sobre o que a criança faz na escola.
Quando a criança vai à escola e à medida que vai crescendo, os pais projetam uma série
de expectativas sobre o trabalho de seu filho. É frequente, também, que projetem suas
frustrações pessoais ou profissionais e que desejem que seu filho chegue mais longe que
eles. Aqui aparece uma atitude ambígua na qual o pai apresenta-se como modelo idealizado
com quem o filho deve parecer-se e, ao mesmo tempo, de uma forma mais real, como uma
meta que deve ser superada, esperando que a criança chegue mais longe. Estas expectativas
submetem o filho a certa pressão que, em alguns casos, pode ser muito forte e dificilmente
suportável.
As expectativas dos pais diante do trabalho dos filhos costumam referir-se aos aspectos
mais facilmente observáveis do trabalho escolar. Nos primeiros níveis, fazem referência quase
exclusivamente aos progressos na leitura, na escrita e nas primeiras noções de matemática;
posteriormente, muitos pais já não são capazes de avaliar esses progressos e limitam- se às
notas. Se a pressão dos pais para que a criança obtenha boas notas for muito grande, esta
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pode chegar a detestar o trabalho escolar e a fugir dele, já que se constitui numa fonte de
conflitos com a sua família. Por isso, uma excessiva pressão, principalmente se for referente
somente às notas, é sempre negativa porque, ao invés de estimular a criança, o que consegue
é impedi-la de avançar.
A partir desse ponto de vista, é muito conveniente que os pais conheçam as fases de
desenvolvimento dos seus filhos e possam ser mais compreensivos com o ritmo de progresso
destes e com os problemas que eventualmente possam surgir. Por isso, seria muito
conveniente realizar um trabalho de formação dos pais através de diversos meios, incluindo
a televisão.
Esta cegueira dos pais diante do desenvolvimento dos filhos e a projeção de frustrações
que tentam resolver através deles é um motivo para não deixar a educação somente em mãos
dos pais. As crianças pertencem a toda a sociedade, pois representam o seu futuro e, por
isso, da mesma maneira que não se permite que os pais maltratem ou até matem os seus
filhos, tampouco se deve permitir que façam coisas que são negativas na área do
desenvolvimento psicológico e, assim, a participação dos pais nas decisões sobre a educação
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dos filhos deve ser limitada. Mesmo falando de pais normais, não se pode dizer que desejem
sempre o melhor para seus filhos se considerarmos as coisas do ponto de vista objetivo e não
subjetivo. Ou seja, podem pensar que estão desejando o melhor para seu filho e, na realidade,
o que estão desejando é o que mais satisfaz a eles próprios, o que melhor lhes possibilita
realizar suas fantasias sobre o que não conseguiram atingir em sua juventude, fantasias que
podem perturbar o desenvolvimento dos filhos.
Assim, um pai que se interessa pelos avanços que seu filho realiza na escola, que não é
exigente demais, que não pretende comparar constantemente o filho com outras crianças,
que é sensível aos esforços inovadores realizados na escola e ao trabalho dos professores,
pode ser um estímulo positivo para a aprendizagem da criança, mas atitudes contrárias ou
simplesmente a falta de interesse, que são muito frequentes, são altamente negativas e são,
sem dúvida, uma das causas dos fracassos escolares.
Podemos dizer que os exames e as reprovações são uma forma de controle social e de
ordenação dos indivíduos. Não analisaremos agora o valor e necessidade da existência de
exames, assunto que já tem sido muito abordado. O que queremos dizer é que por trás de
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Na verdade, a utilização de testes na escola é muito mais prejudicial do que benéfica devido
à forma como são aplicados e à utilização que se faz deles. Frequentemente os testes são
mal aplicados, por pessoas não qualificadas, de forma coletiva e com poucos cuidados. As
pessoas que analisam os resultados não sabem como devem ser interpretados. Mesmo
tomando todas as precauções e aplicado por um especialista, um teste não é nada além de
mais um elemento dentro de um diagnóstico, que deve ser complementado com outras provas
e com entrevistas. A utilização dos testes nas escolas deveria estar sujeita a controles muito
rígidos e deveriam ser usados apenas em casos excepcionais.
Mas além da falta de garantias com que são obtidos os dados dos testes, há outro problema
igualmente grave, que é o da interpretação dos resultados. Com frequência, o próprio
professor e também os pais atribuem aos resultados dos testes um valor muito maior do que
estes realmente possuem e formam, então, uma idéia sobre a criança que pode influenciar
decisivamente seu rendimento na escola. Diversas experiências têm manifestado que as
atitudes e expectativas do professor em relação ao aluno se constituem num fator muito
importante para o aproveitamento escolar, independentemente da capacidade medida pelos
testes. Ou seja, a convicção de um professor de que um aluno tem capacidade determina
mais o seu bom rendimento do que sua inteligência medida pelos testes, e o mesmo ocorre
no sentido inverso, um aluno que o professor considera como um mau aluno facilmente obterá
maus resultados. Segundo esta visão, o uso dos testes nas escolas pode ser algo
extremamente prejudicial, pois pode determinar atitudes do professor ou de outros adultos
que se transformariam em realidade devido a que consideram os resultados como autêntica
expressão da inteligência de um aluno.
De qualquer maneira, a função do psicólogo numa escola pode e deve ser muito
importante, independentemente dos testes. Ao longo de todo este livro, tentamos mostrar a
necessidade de conhecer o desenvolvimento psicológico do aluno e adequar ao mesmo o
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ensino, a fim de que este seja eficaz. Para realizar essa tarefa, para planejar e desenvolver o
trabalho em aula, o psicólogo pode ser um excelente apoio para o professor. Este deve
conhecer o desenvolvimento da criança, mas não tem por que ser um especialista. O
psicólogo pode ajudá-lo em sua tarefa, mas, para isso, precisa trabalhar dentro da escola em
intima cooperação com os professores. Isto requer uma grande modificação na função do
psicólogo escolar. Não será uma pessoa que vem de vez em quando examinar as crianças,
diagnosticar as que apresentam algum tipo de problema, nem será a pessoa à qual são
encaminhados os alunos difíceis; essa será, em todo caso, uma tarefa excepcional.
Tampouco será aquele que diz ao aluno o que ele tem que ser ou quais são suas tendências,
servindo como orientador. Cada vez está sendo mais debatida essa idéia da orientação, pois
sabe-se que serve para pouco. Sua tarefa principal dentro da escola será a de planejar
atividades, analisar o rendimento dos alunos, mas não de cada aluno, ou de um aluno, e sim
de todos, pois o que é preciso avaliar é o método de trabalho. O psicólogo deve visitar a sala
de aula e não trabalhar em um gabinete isolado. Só excepcionalmente se ocupará dos alunos
com problemas, pois o que ele tem que fazer é contribuir para que esses alunos não existam,
planejando junto com os professores as condições e o ambiente adequado de trabalho, tanto
do ponto de vista intelectual como social.
Para realizar essas tarefas de planejamento e profilaxia, deveria haver psicólogos nas
escolas, nos centros de ensino e nos centros de atualização de professores. Mas,
naturalmente, deveriam ser psicólogos com uma formação diferente daquela que possuem
muitos deles mais inclinados a realizar diagnósticos ou a considerar o aluno como um
paciente.
Na verdade, além desses dois aspectos existe outro, de fundamental importância para que
o professor consiga realizar satisfatoriamente seu trabalho: a compreensão do papel de
professor.
A ideia que fazemos de escola quase sempre inclui o seguinte quadro: um professor
tentando ensinar alguma coisa a uma turma de alunos. Na verdade, o professor também
aprende enquanto ensina, e o aluno, enquanto aprende, também ensina. Se o professor
precisa conhecer a si mesmo para poder conhecer os alunos, a abertura ao que os alunos
podem ensinar-lhe é um dos passos para esse autoconhecimento.
O professor não é o senhor absoluto, dono da verdade e dono dos alunos, que manipula a
seu bel-prazer. Os alunos são pessoas humanas, tanto quanto ele, e seu desenvolvimento e
sua liberdade de manifestação precisam ser respeitados pelo professor. Na medida em que
isso acontecer, o professor chegará á conclusão de que não é apenas uma maquininha de
ensinar ou um gravador ou qualquer outro aparelho. Como os alunos, ele também é uma
pessoa e relaciona-se com eles de forma global, e não apenas como instrutor ou transmissor
de ordens e conhecimentos.
Enquanto pessoa humana adulta, o professor costuma ser considerado um exemplo para
os alunos. Quase sempre sem ter consciência exata disso, o professor transmite a seus
alunos atitudes positivas ou negativas em relação ao estudo e aos colegas, transmite seus
preconceitos, suas crenças, seus valores, etc. O aluno ás vezes aprende muito mais com o
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que o professor faz ou deixa de fazer, do que com aquilo que o professor diz. É importante
que o professor tenha consciência de que além de mero transmissor de conhecimentos, ele é
mais um dos exemplos adultos que os alunos em desenvolvimento poderão vir a imitar.
2- Compreensão do aluno
A Psicologia da Educação é indispensável para que o professor tenha condições de
compreender seus alunos e desenvolver um trabalho mais eficiente.
Não é a mesma coisa trabalhar com crianças de quatro anos, com crianças de dez anos
ou com adolescentes. O aluno está em formação, em desenvolvimento. E em cada uma das
etapas desse desenvolvimento tem características diferentes, necessidades diferentes,
maneiras diferentes de entender as coisas. Daí a importância que tem para o professar o
conhecimento integral do aluno, em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social.
diária, o aluno sofre uma série de influências que vão ter repercussões, negativas ou positivas,
em seu trabalho escolar. Se essas influências estão em concordância com a direção imprimida
ao trabalho escolar, podem ser benéficas para a aprendizagem.
Muitos alunos já chegam à escola familiarizados com o material escolar mais comum -
lápis, borracha, régua, caderno, livro -, enquanto outros nunca usaram esse material em sua
vida. Muitos alunos chegam imbuídos de valores como ordem, limpeza, higiene, trabalho
persistente, etc., ao passo que outros não estão acostumados a dar importância a tais valores.
O que acontece, então?
Na medida em que o professor é oriundo de uma determinada classe social, pode não levar
em consideração tais diferenças e apresentar dois comportamentos negativos para a
aprendizagem:
Como se vê, o trabalho educativo não é tão simples quanto se possa imaginar. Embora o
conhecimento de Psicologia da Educação não seja garantia de bom ensino, pode ajudar o
professor a desempenhar suas funções de maneira mais satisfatória para ele e para os alunos
Entre os professores, muitas ideias falsas sobre o processo educativo já estão sendo
substituídas por outras. Hoje em dia sabe-se que não basta punir ou recompensar o aluno
para que ele aprenda; que despejar conhecimentos sobre os alunos não é o mais importante;
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que apenas falar a matéria na aula é insuficiente; que não basta que o aluno memorize os
conhecimentos para que os utilize na prática; que não adianta criar uma situação agradável
na sala de aula, se o aluno não está interessado em aprender, etc.
Por tudo isso é muito importante que o professor estude as principais questões analisadas
pela Psicologia da Educação:
Como deve ser a interação entre professores e alunos para que a aprendizagem seja mais
eficiente?
Como fazer com que os alunos estejam motivados para aprender e se interessem pela
matéria a ser estudada?
Como fazer para tornar a matéria e o seu ensino mais criativos, mais dinâmicos e menos
monótonos?