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Nº18 ⋅ 2º semestre de 2016 ⋅ ano 9 ⋅ ISSN: 1647-5496

EUTRO À TERRA
Revista Técnico-Científica |Nº18| dezembro de 2016
http://www.neutroaterra.blogspot.com

Ao terminar mais um ano, honramos o nosso compromisso convosco e voltamos à vossa


presença com a publicação da 18ª Edição da nossa revista “Neutro à Terra”. O ano que
agora termina, sem deixar de ser ainda um ano difícil para a industria eletrotécnica,
verificou-se que esta manteve apesar de tudo uma dinâmica muito apreciável,
apresentando novas ideias, novos projetos, novas soluções e assumindo novos
compromissos com diversas instituições. Também no âmbito da nossa revista, continuou
a verificar-se um interesse crescente pelas nossas publicações, destacando-se a vontade
de algumas empresas em colaborar connosco, mas também o crescimento que se tem
verificado da procura e visualização da revista “Neutro à Terra” um pouco por todo o
mundo, destacando-se neste caso os Estados Unidos.
José Beleza Carvalho, Professor Doutor

Máquinas e Produção, Transporte e Instalações Telecomunicações Segurança Gestão de Energia e Automação, Gestão
Veículos Elétricos Distribuição Energia Elétricas Eficiência Energética Técnica e Domótica

Instituto Superior de Engenharia do Porto – Engenharia Electrotécnica – Área de Máquinas e Instalações Eléctricas
Índice
03| Editorial
05| Eficiência Energética em Equipamentos de Força-Motriz
EUTRO À TERRA
José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto
16| Conducting and Insulating Materials
Manuel Bolotinha
Engenheiro Eletrotécnico - Consultor
20| Proteção das Pessoas nos Esquemas de Ligação à Terra “TN” e “IT”
José António Beleza Carvalho
Instituto Superior de Engenharia do Porto

28| ITED 3 – Evolução nas Regras Técnicas de Projeto e Instalação de Infraestruturas de


Telecomunicações em Edifícios
Nuno Cota
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
36| KNX - standard internacional para o controlo da habitação e edifícios
Benilde Magalhães
Tev 2-Distribuição de Material Eléctrico Lda
40| Avaliação dos primeiros 6 anos de uma microprodução fotovoltaica
António Carvalho de Andrade
Instituto Superior de Engenharia do Porto
46| Fundamentos da deteção automática de incêndios em edifícios. Parte 2.
Antonio Augusto Araújo Gomes
Instituto Superior de Engenharia do Porto
51| Autores

FICHA TÉCNICA DIRETOR: José António Beleza Carvalho, Doutor


SUBDIRETORES: António Augusto Araújo Gomes, Eng.º
Roque Filipe Mesquita Brandão, Doutor
Sérgio Filipe Carvalho Ramos, Doutor

PROPRIEDADE: Área de Máquinas e Instalações Elétricas


Departamento de Engenharia Electrotécnica
Instituto Superior de Engenharia do Porto
CONTATOS: jbc@isep.ipp.pt ; aag@isep.ipp.pt
PUBLICAÇÃO SEMESTRAL: ISSN: 1647-5496
EDITORIAL

Estimados leitores

Ao terminar mais um ano, honramos o nosso compromisso convosco e voltamos à vossa presença com a publicação da 18ª Edição da
nossa revista “Neutro à Terra”. O ano que agora termina, sem deixar de ser ainda um ano difícil para a industria eletrotécnica,
verificou-se que esta manteve apesar de tudo uma dinâmica muito apreciável, apresentando novas ideias, novos projetos, novas
soluções e assumindo novos compromissos com diversas instituições. Também no âmbito da nossa revista, continuou a verificar-se um
interesse crescente pelas nossas publicações, destacando-se a vontade de algumas empresas em colaborar connosco, mas também o
crescimento que se tem verificado da procura e visualização da revista “Neutro à Terra” um pouco por todo o mundo, destacando-se
neste caso os Estados Unidos.

Procurando que esta revista seja também uma referência no setor eletrotécnico em diversos países estrangeiros, de língua oficial
portuguesa e não só, mantemos o compromisso de publicar um artigo de natureza mais científica em língua Inglesa. Nesta edição um
interessante artigo sobre materiais condutores e materiais isolantes, “Conducting and Insulating Materials”, da autoria do Professor
Manuel Bolotinha.

Os motores elétricos são de longe as cargas mais importantes na industria e no sector terciário. A União Europeia, através do
organismo EU MEPS (European Minimum Energy Performance Standard) definiu um novo regime obrigatório para os níveis mínimos de
eficiência dos motores elétricos que sejam introduzidos no mercado europeu. O novo regime abrange motores de indução trifásica até
375 kW, de velocidade simples. Entrou em vigor em três fases a partir de meados de 2011. Nesta publicação, apresenta-se um artigo
sobre “Eficiência Energética em Equipamentos de Força-Motriz” que aborda a nova classificação relacionada com as classes de
eficiência, assim como algumas metodologias que se podem adotar para uma utilização mais eficiente dos equipamentos de força
motriz.

O correto dimensionamento dos dispositivos de proteção das pessoas contra contactos indiretos em instalações elétricas de Baixa
Tensão (BT), é uma das condições fundamentais para que uma instalação possa ser utilizada e explorada com conforto e em perfeitas
condições de segurança. De acordo com a normalização em vigor, é, também, uma das condições essenciais para a certificação ou
licenciamento das instalações elétricas por parte das entidades ou organismos responsáveis, a quem estão atribuídas estas
competências. Nesta publicação da revista “Neutro à Terra” apresenta-se um interessante artigo científico sobre a proteção de
pessoas contra contactos indiretos nos Esquemas de Ligação à Terra em “TN” e “IT”.

As Infraestruturas de Telecomunicações em Edifícios são sempre um assunto importante e alvo de várias publicações na nossa revista.
Nesta edição apresentamos um artigo sobre a evolução das Regras Técnicas de Projeto e Instalação no âmbito do ITED 3, da autoria do
Engº Nuno Cota.

Na conceção de qualquer edifico, os termos conforto e poupança energética assumem uma relevância crescente. Para além dos
aspetos puramente arquitetónicos, a introdução de elementos tecnológicos como é o caso da domótica ou imótica, contribuem
simultaneamente para controlar as despesas energéticas e proporcionar maior conforto aos utilizadores. Nesta edição da revista,
apresenta-se um artigo técnico que efetua análise global da distribuição dos consumos energéticos em edifícios de habitação em
termos de energia final, revelando que 50% dos consumos incidem nos sectores que agregam a iluminação, eletrodomésticos,
aquecimento e arrefecimento.

Nesta edição da revista destacam-se ainda a publicação de outros interessantes artigos, como “Avaliação Técnica e Económica dos
primeiros 6 anos de uma instalação residencial de Microprodução Fotovoltaica”, e a publicação da 2ª parte do artigo técnico sobre
“Fundamentos da Deteção Automática de incêndios em Edifícios”.

Estando certo que esta edição da revista “Neutro à Terra” apresenta artigos de elevado interesse para todos os profissionais do setor
eletrotécnico, satisfazendo assim as expectativas dos nossos leitores, apresento os meus cordiais cumprimentos e desejo a todos um
Bom Ano de 2017.

Porto, 26 dezembro de 2016

José António Beleza Carvalho

3
Repositório Científico do Instituto Politécnico do Porto:
http://recipp.ipp.pt/
Downloads entre janeiro e novembro de 2016

Blog:
www.neutroaterra.blogspot.com
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4
ARTIGO TÉCNICO Nuno Cota
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

ITED 3 – EVOLUÇÃO NAS REGRAS TÉCNICAS DE PROJETO E INSTALAÇÃO DE


INFRAESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM EDIFÍCIOS

1. Introdução 1.2 Objetivos

Dez anos após a publicação da primeira edição do Manual Entre os objetivos definidos para a alteração das regras
ITED, entrou em vigor em 2015 a terceira edição deste técnicas dos trabalhos, poder-se-ão destacar os seguintes:
manual, contendo as novas regras técnicas aplicadas ao • Simplificação e redução de custos;
projeto e instalação de Infraestruturas de telecomunicações • Reabilitação urbana;
em edifícios, denominadas por ITED 3. • Clarificação de procedimentos e regras;
• Conformidade com normas europeias;
1.1 Enquadramento • Atualização tecnológica.

A Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), A simplificação do projeto e redução de custos foi sempre
regulador sectorial das telecomunicações em Portugal, um princípio subjacente a todos os trabalhos realizados pelo
prossegue assim a política de continuidade no processo de grupo de trabalho, tendo em conta o contexto de forte
atualização das normas técnicas, o que tem acontecido a retração económica do sector da construção civil. No
cada 5 anos, desde a publicação da primeira versão em 2004, entanto as opções tomadas em termos de simplificação
Figura 1. tiveram sempre em conta a salvaguarda da qualidade e
flexibilidade das ITED e os direitos dos cidadãos e empresas
ITED-1 ITED 2 ITED 3 prestadoras de serviços de comunicações eletrónicas, tal
como previsto na legislação aplicável.

Figura 1. Evolução regras técnicas ITED


Por outro lado, as regras técnicas passaram a responder às
Este processo de atualização tem acompanhado as necessidades específicas dos projetos associados à
tendências de um sector marcado por uma forte evolução reabilitação urbana nem sempre compatíveis com as regras
tecnológica, permitindo igualmente responder a uma genéricas de projeto. Estas especificidades devem-se não
profunda alteração no contexto económico que se vive no apenas ao custo associado ao projeto e instalação das ITED,
nosso país, particularmente no sector da construção civil. mas também a questões arquitetónicas e de outras
naturezas.
Os trabalhos conducentes à atualização do Manual ITED
foram iniciados ainda em 2013 pela Direção de Fiscalização Muitos dos aspetos técnicos incluídos nas regras técnicas,
da ANACOM, a quem coube a responsabilidade e que se prendem principalmente com requisitos de qualidade
coordenação da equipa de trabalho constituída para o efeito. ao nível da transmissão de sinais de telecomunicações
Além dos técnicos internos, a ANACOM constituiu um grupo resultam da aplicação nacional das normas europeias tendo
de consultores externos constituído por representantes das em conta o contexto tecnológico nacional dos serviços de
ordens profissionais (Ordem dos Engenheiros Técnicos e telecomunicações. Assim, é necessário atualizar as normas
Ordem dos Engenheiros) e das instituições de ensino nacionais de acordo com as normas e recomendações
superior que têm sido referência nesta área de engenharia, europeias e internacionais.
designadamente o ISEL, ISEP e FEUP. Mais do que um conjunto de regras e prescrições técnicas, o
Manual ITED 3 é igualmente um manual de boas práticas e

28
ARTIGO TÉCNICO

de procedimentos, sendo uma ferramenta essencial à No caso da reabilitação urbana, quando aplicado a edifícios e
atividade de projeto e de instalação das ITED, que serve uma fogos residenciais, poderão utilizar-se as regras de Projeto de
população de técnicos com e sem formação superior. Assim, edifícios construídos, o que permite uma simplificação
a clarificação de procedimentos e de regras, maior considerável das ITED, no que respeita às redes individuais.
representação gráfica e apresentação de exemplos Esta variante do conjunto de regras é designada por ITED3a.
contribuem para uma maior eficácia na aplicação das regras Finalmente, as regras de Projeto de alteração a uma
técnicas ITED 3. tecnologia aplicam-se apenas em casos muito particulares,
Pretende-se neste texto este apresentar as principais designadamente as situações de fornecimento de serviços
alterações introduzidas pelo manual ITED 3, descrevendo de por parte dos operadores de serviços comunicações
forma genérica os princípios que conduziram a este novo eletrónicas, construção de redes MATV ou SMATV em
conjunto de regras técnicas e identificar as principais edifícios com infraestruturas de telecomunicações existentes
alterações introduzidas, relativamente às versões anteriores. ou substituição de um tipo de cablagem, associada a uma
Este texto não dispensa a leitura atenta do novo manual. tecnologia, por inadequação da rede existente.

2. Regras Técnicas ITED3 2.1 Arquitetura das ITED

O Manual ITED 3 considera um conjunto de regras genéricas Apesar de mínimas, as alterações da arquitetura das ITED,
de projeto, aplicáveis a qualquer infraestrutura, e regras Figura 3, terão impacto no projeto. Um aspeto a realçar é a
específicas, que dependerão do contexto em que a obra irá clarificação de que a Caixa de Visita Multioperador (CVM) é
ser realizada, e conforme se apresenta na Figura 2: parte integrante da rede de tubagens das ITED, embora
• Projeto de edifícios novos; instalada no exterior e assegurando a interface com as ITUR.
• Projeto de edifícios construídos; Assim, é obrigatória a inclusão da CVM no projeto ITED.
• Projeto de alteração a uma tecnologia. Relativamente à arquitetura das moradias unifamiliares, a

Figura 2. Escolha do tipo de regras a aplicar

Caberá sempre ao projetista a responsabilidade de justificar alteração consiste no desaparecimento de obrigatoriedade


devidamente a opção pelas regras utilizadas, tendo em da Caixa de Exterior de Moradia Unifamiliar, sendo a sua
atenção os princípios enunciados no manual. Por omissão, existência opção a considerar pelo projetista.
deverão ser aplicadas as regras de Projeto de edifícios novos No caso de projeto de edifício construído, a arquitetura é
(ITED3), e sempre que se verifiquem as situações de substancialmente diferente, no que se refere à rede
construção, ou reconstrução, de edifícios e fogos residenciais individual, com a substituição do ATI pelo PTI e PCS, que
ou não residenciais. serão descritos mais à frente.

29
ARTIGO TÉCNICO

O número e diâmetro mínimo a considerar na tubagem de


Para montante Para jusante
(operador) (cliente)
interligação entre a rede coletiva e a CVM é reduzida em
Edifício
todos os casos, que dependem do tipo de edifício.
ITUR ou via pública
Rede Coletiva Rede Individual

ITUR privada TT
ou CVM ATE ATI TT
Operadores TT

a) Arquitetura de rede de um edifício ITED

Para montante Para jusante


(operador) (cliente)

Edifício

ITUR ou via pública


Rede Coletiva Rede Individual

PCS
ITUR privada
ou CVM ATE PTI
Operadores TT TT TT

b) Arquitetura de rede de um edifício construído

Figura 3. Arquitetura de rede ITED 3 e ITED 3a [1]

2.2 Rede de Tubagens do Edifício

As regras genéricas de projeto da rede de tubagens do ITED 3


apresenta algumas alterações, relativamente à versão
anterior. Desde logo, deixam de existir as limitações Figura 4. Rede de tubagens ITED de um edifício
obrigatórias à distância máxima entre caixas de passagem ou
ao número de curvas. É responsabilidade do projetista 2.3 Caixa de Visita Multioperador (CVM)
assegurar que a rede projetada assegura o correto
enfiamento dos cabos. Desde a consideração da CVM, no ITED 2, que esta caixa tem
sido um foco de problemas para projetistas e instaladores,
Continua a ser necessário assegurar uma distância de por diversas razões. No entanto, apesar dos problemas
separação entre condutas de cabos de telecomunicações e associados a esta caixa, os quais estão identificados e foram
de energia, exceto nos últimos 15 m da ligação às tomadas devidamente pesados, é considerado que esta representa
terminais. A nova regra resulta da evolução na norma EN uma vantagem clara para o garante da independência entre
50174 [2], e passa a depender do número de circuitos a rede de tubagem do edifício e a rede pública, permitindo o
elétricos transportados na conduta próxima. acesso indiscriminado às redes dos operadores.

No ITED 3 o ATE Superior poderá ser substituído por uma Tal como referido anteriormente, no ITED 3 a CVM continua
caixa de passagem, que assegura a ligação entre a coluna a ser obrigatória, e passa a ser claro que não pode ser
montante e a PAT (Figura 4). No entanto para edifícios com partilhada entre edifícios, prática por vezes seguida por
número elevado de frações, continua a recomendar-se a alguns projetistas. De forma a minimizar os problemas da
instalação de um ATE superior, principalmente caso se instalação da CVM na via pública, as dimensões mínimas
optem por redes coaxiais coletivas independentes. desta caixa foram substancialmente reduzidas, para uma
Em termos de dimensionamento da rede de tubagem, as dimensão de 30x30x30 cm, o que evita a maioria dos
alterações verificam-se principalmente nas condutas de problemas colocados pelas autoridades responsáveis pelo
acesso. licenciamento.
30
ARTIGO TÉCNICO

Caso, mesmo com as novas dimensões, exista a


impossibilidade da instalação da CVM na via pública, o ITED 3
considera a possibilidade do projetista justificar
devidamente essa situação, desde que validada, através de
um parecer emitido pela respetiva entidade licenciadora.
Nesse caso caberá ao projetista assegurar um meio
alternativo para a terminação das condutas de acesso ao
edifício, obrigatoriamente por via subterrânea.

2.4 Acesso em zonas de traçado aéreo e em fachada Figura 6. Acesso em zonas de traçado aéreo

Nas situações em que os edifícios sejam localizados em zonas 2.5 Rede de Cabos Coaxiais
de traçados em fachada, o ITED 3 introduz a obrigatoriedade
de que sejam consideradas ligações, em conduta, entre a É na rede coletiva de cabos coaxiais que reside uma das
CVM e os locais de transição da rede de operador nos limites principais novidades do ITED 3, que vem de encontro ao
do edifício, Figura 5. objetivo de simplificação e redução de custos.

Figura 5. Acesso em zonas de traçado em fachada

O projetista deverá assim considerar uma solução de A solução preconizada pela nova regra técnica, considera
tubagem vertical horizontal, de forma a assegurar a transição como obrigação mínima a construção de apenas uma rede
dos cabos existentes. A transição vertical deverá, coaxial coletiva, que poderá ser partilhada entre as redes
preferencialmente, ser embebida na construção do edifício. CATV e MATV/SMATV, Figura 7.
No entanto, também se admitem soluções não embebidas.
D
S
T

ATI ATI
Desta forma a CVM poderá ser considerada como caixa de
passagem para a infraestrutura do operador. Compete ao
operador assegurar a transição da respetiva rede de cabos. ATI ATI

As condutas projetadas devem ser partilhadas entre os


ATE
diversos operadores existentes. O mesmo principio deverá
ATI

ser aplicado e zonas de traçado aéreo, Figura 6. Primário


OP1
Primário
OP2
RG-CC

Figura 7. Exemplo de arquitetura de rede coaxial

31
ARTIGO TÉCNICO

Desta forma será possível considerar apenas uma cega. Esta alteração permite uma redução efetiva dos custos
infraestrutura coaxial, em estrela, desde o RG-CC até ao ATI. iniciais da infraestrutura de fibra. Para efeitos de
A solução possibilita ainda o acesso simultâneo a MATV e dimensionamento da rede de tubagem entre o ATI e as
CATV, caso se considerem combinadores no RG-CC. tomadas terminais, recomenda-se a utilização de tubos de
diâmetro de 25 mm, de forma a permitir a passagem de
Por outro lado, deixa de ser obrigatória a antena de FM na cabos pré-conectorizados.
rede MATV. Isso significa que apenas é obrigatório a
instalação de uma antena TDT, caso o edifício se encontra No entanto, será sempre necessário considerar esta
em zonas com cobertura do tipo A – Televisão digital infraestrutura para efeitos de dimensionamento total da
terrestre. rede. O ATI deverá também ser preparado com o RC-FO para
as tomadas consideradas no projeto.
O projeto da rede coaxial, coletiva e individual, sofre
também alterações. Passa a ser necessário cumprir os 2.7 Rede de Cabos de Edifícios Novos Residenciais
requisitos em termos de atenuação máxima, tilt e
comprimento. Não é necessário assim, dimensionar o Relativamente aos edifícios novos residenciais, em termos
amplificador da cabeça de rede, de forma a cumprir os níveis de rede de cabos, são admitidas algumas simplificações,
mínimos e máximos. No entanto, esta gama dinâmica de quando comparado com o ITED2. Se em termos da rede
valores deverá ser tida em conta no dimensionamento, pois coletiva, essa simplificação apenas abrange a rede coaxial,
terá de se especificar os limites mínimos e máximos à saída com a consideração de sistema único, na rede individual, a
da cabeça de rede, para que estes valores sejam tidos em redução estende-se às três tecnologias. Passa a ser
conta nos ensaios da instalação. obrigatória apenas a instalação de uma tomada mista,
coaxial e pares de cobre, nas salas, quartos e cozinha.
2.6 Rede de Fibra Ótica
A consideração de tomadas mistas tem em conta a evolução
A obrigatoriedade de instalação de fibra ótica, introduzida tecnológica verificada ao nível dos equipamentos terminais,
pelo manual ITED 2, continua a ser aplicável no ITED3, porém como televisores e equipamentos descodificadores de
surgem algumas alterações significativas. Desde logo, foram operadores. Caso o projetista opte pela utilização de
definidos valores máximos, em termos de atenuação e tomadas individuais para as diferentes tecnologias, estas
comprimento, para as ligações permanentes, incluindo a deverão ser instaladas por forma a que não distem mais do
rede coletiva e individual. que 20 cm.

A grande alteração nesta rede encontra-se na rede individual Como já referido anteriormente, a ZAP continua a ser
de fibra ótica. Deixa de ser obrigatória a instalação da rede obrigatória para frações residenciais, admitindo-se que as
de fibra ótica, a jusante do ATI. No entanto, esta rede respetivas tomadas de fibra ótica não sejam instaladas.
continua a ser considerada para efeitos de dimensionamento
da rede de tubagem. Na prática, isto significa que deverá ser 3. Projeto de edifícios Construídos (ITED3a)
considerada a tubagem, exclusiva, e caixas necessárias à
instalação de duas tomadas de fibra ótica na ZAP, para Entre as alterações que terceira edição do Manual ITED
edifícios residenciais. No entanto os cabos e dispositivos de introduziu no projeto, a consideração de regras adaptadas à
fibra poderão ser instalados apenas num momento realidade da reabilitação urbana para o caso dos projetos de
posterior, aquando da ligação da rede ao operador, sendo a edifícios construídos, permite introduzir uma flexibilidade
respetiva caixa da tomada terminal fechada com uma tampa nas regras técnicas que vai de encontro ao mercado atual.
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ARTIGO TÉCNICO

O ITED adaptado, denominado por ITED3a, considera a Assim, existe uma redução generalizada das exigências da
hipótese de se utilizarem regras simplificadas que terão um rede de tubagem nestes casos, no que respeita ao número e
impacto significativo nos custos associados à reabilitação. No diâmetro dos tubos e a possibilidade de partilha de tubos
entanto, será sempre necessário ter em atenção de que entre tecnologias.
estas regras apenas se aplicarão em frações residenciais e
em edifícios mistos que integrem frações residenciais. Além Para a aplicação das regras técnicas ITED3a deverá ser tido
disso, sempre que possível, devem utilizar-se as regras em atenção o tipo de edifício, no que respeita à
genéricas. infraestrutura de telecomunicações, e o tipo de tubagem
existente. Estes edifícios poderão ser do tipo Pré-RITA, RITA,
De entre diversas alterações à regra genérica, o ITED3a ITED1 ou ITED2. Para cada tipo existem regras específicas
considera para a rede coletiva de tubagens a hipótese de se quanto à rede de tubagem a projetar.
reutilizar a tubagem existente, dentro de determinados
limites. Essa reutilização vai além da coluna montante e 3.1 Novos elementos: PTI e PCS
inclui igualmente a reutilização das de coluna e caixas dos
repartidores gerais, caso estas cumpram as dimensões É na rede individual das frações residenciais que surgem as
mínimas consideradas para o ATE, Figura 8. Assim, existe grandes alterações em termos de arquitetura ITED3a. Desde
uma redução generalizada das exigências da rede de logo, a hipótese de substituir o ATI pelo Ponto de
tubagem nestes casos, no que respeita ao número e Concentração de Serviços (PCS).
diâmetro dos tubos e a possibilidade de partilha de tubos Este elemento da rede individual permite assegurar a
entre tecnologias. centralização da rede de cabos em estrela e flexibilizar a
distribuição dos serviços pelas diferentes áreas da fração. No
fundo será uma caixa, instalada à superfície ou embutida,
que disponibiliza interfaces externas para as redes de cobre,
ATE TM
SUP
PTI PCS

TM
coaxial e fibra ótica, mas de dimensão reduzida, face ao AIT.
TM

PTI PCS
ATI
TM
Esta caixa deverá ser instalada num local definido pelo
TM

TM
projetista, podendo substituir a ZAP considerada nas regras
TM TM genéricas.
PTI PCS

TM
TM

Para assegurar a transição entre a rede individual e coletiva,


TM TM

ATE
INF
PTI PCS
deverá ser considerado um elemento denominado por Ponto
TM
TM
de Transição Individual (PTI), que permite flexibilizar a
CVM
ligação das redes individuais e coletivas. Esta caixa, de
Figura 7. Exemplo de arquitetura de tubagem de dimensão mínima semelhante à caixa I3, deverá ser instalada
ITED3a (retirado de [1])
o mais próximo possível da fronteira entre a rede coletiva e
De entre diversas alterações à regra genérica, o ITED3a individual. No caso de moradias unifamiliares, o PTI é
considera para a rede coletiva de tubagens a hipótese de se também considerado para assegurar a interligação à CVM.
reutilizar a tubagem existente, dentro de determinados No caso da rede individual e coletiva serem instaladas
limites. Essa reutilização vai além da coluna montante e simultaneamente, admite-se que o projetista possa
inclui igualmente a reutilização das de coluna e caixas dos prescindir do PTI, interligando os cabos da rede coletiva
repartidores gerais, caso estas cumpram as dimensões diretamente ao PCS, Figura 9.
mínimas consideradas para o ATE, Figura 8.

33
ARTIGO TÉCNICO

serviços de telecomunicações no nosso país, o que contribui


diretamente para a redução da fatura associada às
telecomunicações.

Por outro lado, as regras ITED têm sido aproveitadas de


forma inteligente pela indústria nacional de equipamentos e

Figura 8. Exemplo de utilização de PCS e PTI materiais ITED, como referencial de qualidade para a
exportação para outros países, designadamente países de
O PCS permite substituir o ATI, no que se refere à língua oficial portuguesa, compensando a profunda crise
flexibilização na ligação da rede de cabos individual e sentida no mercado nacional.
disponibilização dos diversos serviços.
Mas se esta realidade é indiscutível entre todos os
4. Conclusões profissionais, será necessário igualmente ter em conta os
constrangimentos e custos resultantes destas sucessivas
Definitivamente o Projeto ITED autonomizou-se alterações das regras técnicas na atividade profissional dos
relativamente a outras áreas da construção civil, técnicos ITED na própria indústria, cujo ciclo de vida de um
particularmente, as instalações elétricas. O manual ITED, novo produto nem sempre se compatibiliza com os períodos
considerado pelo Decreto-Lei 59/2000, mas publicado de atualização das regras ITED.
apenas em 2004, substituiu o antigo RITA, que existia desde
1987 no contexto de mercado em regime de operador único, O novo Manual ITED flexibiliza consideravelmente as regras,
e que era normalmente uma subespecialidade do projeto de o que vai de encontro à realidade atual do setor e ao
instalações elétricas. Respondendo à forte evolução contexto económico da construção civil. No entanto esta
tecnológica do sector, e maiores exigências de qualidade de flexibilização das prescrições mínimas deve ser também
serviço por parte dos utilizadores e operadores, a ANACOM, encarada como um incremento na responsabilidade do
assumindo o seu papel de regulador e supervisor do sector Projetista ITED, cabendo ao técnico o ónus das opções
de telecomunicações, promovido a atualização sucessiva das efetuadas em sede de projeto. O projetista deverá ter em
regras técnicas ITED. conta a defesa dos interesses dos cidadãos, mas também
assegurar a qualidade, eficiência e eficácia da infraestrutura
No que respeita à utilização de tecnologias de comunicação e projetada.
de informação, Portugal compara com os países mais
desenvolvidos a nível europeu e mundial, sendo já uma Referências
referência no que respeita às regras técnicas para o projeto e 1] ANACOM, Manual ITED – 3ª Edição – Prescrições e
instalação de infraestruturas de telecomunicações. especificações técnicas das infraestruturas de
telecomunicações em edifícios, setembro de 2014.
Estas regras, apesar de nem sempre consensuais, têm sido [2] CENELEC, EN 50174-1, Information technology – Cabling
um veículo para a promoção da concorrência e installation – Part 2: Installation planning and practices
competitividade no mercado liberalizado do acesso a redes e inside, Agosto 2000.

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DIVULGAÇÃO

‹nº›|
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

António Augusto Araújo Gomes aag@isep.ipp.pt


Mestre (pré-bolonha) em Engenharia Eletrotécnica e Computadores, pela Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto.
Professor do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 1999. Coordenador de Obras na
CERBERUS - Engenharia de Segurança, entre 1997 e 1999.
Prestação, para diversas empresas, de serviços de projeto de instalações elétricas, telecomunicações
e segurança, formação, assessoria e consultadoria técnica.

António Carvalho de Andrade ata@isep.ipp.pt


Licenciatura. Mestrado e Doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, pela
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Colaborador da EDP – Energias de Portugal (22 anos)
Professor ajunto do departamento de Engenharia Eletrotécnica do Instituto Superior de Engenharia
do porto

Benilde Magalhães

José António Beleza Carvalho jbc@isep.ipp.pt


Nasceu no Porto em 1959. Obteve o grau de B.Sc em engenharia eletrotécnica no Instituto Superior
de Engenharia do Porto, em 1986, e o grau de M.Sc e Ph.D. em engenharia eletrotécnica na
especialidade de sistemas de energia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em
1993 e 1999, respetivamente.
Atualmente, é Professor Coordenador no Departamento de Engenharia Eletrotécnica do Instituto
Superior de Engenharia do Porto, desempenhando as funções de Diretor do Departamento.

Manuel Bolotinha manuelbolotinha@gmail.com


Licenciou-se em 1974 em Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior Técnico, onde foi Professor
Assistente. Tem desenvolvido a sua atividade profissional nas áreas do projeto, fiscalização de obras
e gestão de contratos de empreitadas de instalações elétricas, não só em Portugal, mas também em
África, na Ásia e na América do Sul. Membro Sénior da Ordem dos Engenheiros e Membro da Cigré,
é também Formador Profissional, credenciado pelo IEFP, conduzindo cursos de formação, de cujos
manuais é autor, em Portugal, África e Médio Oriente.

Nuno António Fraga Juliano Cota


Professor Adjunto do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) na área de telecomunicações.
Detentor do Título de Especialista em Engenharia de Telecomunicações pelo Instituto Politécnico de
Lisboa.
Mestre em Engenharia Eletrotécnica e Computadores pelo Instituto Superior Técnico.
Presidente do Colégio de Eletrónica e Telecomunicações da Ordem dos Engenheiros Técnicos.
Consultor Externo da ANACOM para a elaboração das regras técnicas ITED3 e ITUR2.

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