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A Estrutura das Revoluções Científicas

Por Thomas S. Kuhn


Fichamento de Victor Lacerda
!
Capítulo I: A rota para a ciência normal

Kuhn propõe-se a estudar a função basilar que os paradigmas1 científicos cumprem em


relação à ciência normal2. A aceitação de um paradigma permite que cientistas possam se debruçar
com mais afinco e foco sobre certas questões científicas, já que o paradigma gera um certo consenso
de compromissos teóricos entre os praticantes de uma determinada ciência. A aceitação e
aprendizado de paradigmas é o que torna um aluno apto a penetrar em uma certa comunidade
científica. “Esse comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitos para a
ciência normal, isto é, para a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada.” [p.
72]

Para estudar a evolução da prática científica, Kuhn chama atenção para o período que vai
da Antiguidade remota ao século XVII e o estudo da natureza da luz e da óptica. Ele ressalta que,
antes de Newton, não havia nenhum paradigma de investigação. O que havia eram diferentes
grupos trabalhando cada qual com um conjunto de comprometimentos e ensinamentos diferentes.
“Não havia qualquer conjunto padrão de métodos ou de fenômenos que todos os estudiosos da
óptica se sentissem forçados a enfrentar e a explicar” [p. 75]

“A história sugere que a estrada para um consenso estável na pesquisa é extremamente


árdua.” [p. 77]

Na ausência de um paradigma, é extremamente difícil que uma comunidade possa eleger


um certo conjunto de fatos como tendo prioridade em relação a outros fatos. Isto faz com que a
coleta de fatos em um momento pré-paradigmático não tenha uma certa “direcionalidade”,
assimilando-se mais a uma busca aleatória de classificações, relatos e observações.

“Para ser aceita como paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas competidoras, mas não precisa
explicar todos os fatos com os quais pode ser confrontada.” [p. 80]

Uma das consequência da adoção de um paradigma por uma grande quantidade de


cientistas é a exclusão dos grupos minoritários que não o adotam. Estes grupos tendem a
desaparecer gradativamente, ou a buscar refúgio fora do campo científico. No entanto, a adoção de

1 “Paradigmas”: uma realização científica é um paradigma se ela demonstra duas características a) atraíram um grupo
duradouro de partidários b) sua formulação foi suficientemente aberta para deixar que toda espécie de problema fosse
resolvida pelo grupo redefinido de praticantes da ciência. [p.72]
2 “Ciência normal”: a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações
são reconhecidas por algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos
para sua prática posterior. [p.71]
paradigmas produz efeitos bastantes positivos. Kuhn argumenta que pesquisas mais “esotéricas” só
podem acontecer de maneira mais eficiente e focalizada quando há uma adoção de paradigmas.
Isto implica necessariamente um afastamento entre a literatura científica especializada e a
capacidade de leitura do público geral instruído. Estas pesquisas “esotéricas” decorrem do fato de os
pesquisadores não mais precisarem expor ou criar os fundamentos da sua área de pesquisa.
Aceitando o paradigma, eles podem supor que o resto dos indivíduos interessados em seu trabalho
compartilha os pressupostos básicos de seu campo de estudos e podem, desse modo, escrever de
maneira muito mais concisa e direcionada aos seus pares.

Capítulo 2: A natureza da ciência normal

Neste capítulo, Kuhn explora mais profundamente as atividades empreendidas pelos


pesquisadores inseridos na dita “ciência normal”. Quando um grupo suficientemente grande de
pesquisadores aceita um certo paradigma, ele pode conduzir pesquisas especializadas e “esotéricas”.
Mas o paradigma não consegue resolver todos os problemas, de modo que a aceitação de um
paradigma faz com que os cientistas necessitem “aparar as arestas” da teoria, ou realizar trabalhos
de “acabamento”. “Os paradigmas obtém seu status porque são mais bem-sucedidos que seus
competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como
graves” [p. 88]. Mas isto não quer dizer que um paradigma resolva todos os problemas.

“A maioria dos cientistas, durante toda a sua carreira, ocupa-se com operações de acabamento. Elas
constituem o que chamo de ciência normal” [p. 88]

Esse trabalho de acabamento consiste em “forçar a natureza a encaixar-se dentro dos


limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis fornecidos pelo paradigma” [p. 89]. É evidente
que procedendo dessa maneira, muitos problemas serão ignorados ou deixados de lado até que
tornem-se mais importantes. Esse esquecimento seletivo, no entanto, garante que os cientistas
possam atacar certas questões diretamente, e extrair delas conclusões imensamente profundas. Este
tipo de profundidade, pensa Kuhn, só é possível devido à adoção de um paradigma.

Para Kuhn, “existem apenas três focos normais para a investigação científica dos fatos”:

• 1. A pesquisa sobre a classe de fatos que o paradigma mostrou ser particularmente


reveladora acerca da natureza das coisas; (determination of significant fact)

• 2. A pesquisa sobre a classe de fatos cuja investigação tem pouco interesse intrínseco, mas
que podem ser diretamente comparada com as predições da teoria do paradigma; (matching of
facts with theory.)
• 3. A pesquisa sobre a classe dos fatos cujo estudo permite aos cientistas uma melhor
articulação da teoria (articulation of theory)

• 3.1 Algumas das experiências voltadas a esta classe é constituída pela busca de
constantes universais;

• 3.2 A busca pela determinação de leis quantitativas;

• 3.3 A dissolução de ambiguidades geradas pela teoria.

1. Sobre estes fatos reveladores, “o paradigma tornou-os merecedores de uma


determinação mais precisa, numa variedade maior de situações” [p. 90]. A tentativa de
aumentar a precisão acerca da qualificação destes fatos cria um inventivo para que
pesquisadores desenvolvam novos instrumentos e técnicas mais poderosos. Kuhn cita o exemplo
de De Tycho Brahe e E.O. Lawrence, que adquiriram grandes reputações não por haverem
descoberto algo novo, mas sim por terem desenvolvido métodos mais precisos, seguros e de
maior alcance para qualificar os fatos relevantes para uma certa teoria.

2. Quando Einstein revelou sua Teoria Geral da Relatividade, foi preciso encontrar
fenômenos naturais que deveriam existir caso a TGR fosse verdadeira. Muitos desses fenômenos
não tinham interesse intrínseco para os físicos, mas foi preciso observá-los para determinar se a
TGR estava certa em suas previsões. “Aperfeiçoar ou encontrar novas áreas nas quais a
concordância possa ser demonstrada coloca um desafio constante à habilidade e à imaginação
do observador e experimentador” [p. 91].

3. 1. “Nas ciências mais matemáticas, algumas das experiências que visam à articulação
são orientadas para a determinação de constantes físicas.” [p. 92] Ex: Determinação da
Constante gravitacional universal (G), por Cavendish.

3. 2. “Contudo, os esforços para articular um paradigma não estão restritos à


determinação de constantes universais. Podem, por exemplo, visar as leis quantitativas. Ex: a lei
de Boyle, que relaciona a pressão do gás ao volume; a lei de Coulomb sobre a atracão elétrica; e
a formula de Joule, que relaciona o calor produzido à resistências e à corrente elétrica.” [p. 93]
É particularmente interessante a tese proposta por Kuhn. Para ele, a adoção de um paradigma é
pré-requisito para a descoberta de leis como essas. “A relação entre paradigma qualitativo e lei
quantitativa é tão geral e tão estreita que, desde Galileu, essas leis com frequência têm sido
corretamente adivinhadas com o auxílio de um paradigma, anos antes que um aparelho possa
ter sido projetado para sua determinação experimental.” [p. 94]
3. 3. “Frequentemente um paradigma que foi desenvolvido para um determinado
conjunto de problemas é ambíguo na sua aplicação a outros fenômenos estreitamente
relacionados. Nesse caso experiências são necessárias para permitir uma escolha entre modos
alternativos de aplicação do paradigma à nova área de interesse”. [pp. 94-95]

Pois então, as três classes de problemas, a saber — determinação do fato significativo,


harmonização dos fatos com a teoria, e articulação da teoria — esgotam a literatura da ciência
normal. [p. 100] Para Kuhn, problemas extraordinários surgem com o desenvolvimento da ciência
normal; a existência de muitos destes problemas cria um incentivo para que um novo paradigma
seja adotado: “Abandonar o paradigma é deixar de praticar a ciência que ele define.” [p. 101]

Capítulo 3: A ciência normal como resolução de quebra-cabeças

Kuhn abre este capítulo com uma forte declaração:

“Talvez a característica mais impressionante dos problemas normais da pesquisa que


acabamos de examinar seja seu reduzido interesse em produzir grandes novidades, seja no domínio
dos conceitos, seja no dos fenômenos” [p. 103]

Durante o resto da seção, Kuhn discorre sobre como as atividades da ciência normal se
assemelham à resolução de quebra-cabeças.

Uma das características mais importantes da ciência normal é a de que “o projeto cujo
resultado não coincide com essa margem estreita de alternativas é considerado apenas uma pesquisa
fracassada”. [p. 104] Isto é, quando um cientista realiza sua pesquisa sob a égide de um paradigma,
ele sabe de antemão que resultados podem ser provados por meio de seu estudo.

Os resultados da pesquisa normal não são, em geral, surpreendentes. Kuhn observa que,
apesar disto, ainda há interesse em realizar projetos normais. Os motivos podem ser:

• “Contribuir para aumentar o alcance e precisão com os quais o paradigma pode ser
aplicado”. [p. 105]

• A partir desta observação, Kuhn desenvolve melhor o que entende por quebra-cabeça.
Segundo ele, um bom quebra-cabeça não é aquele que tem um resultado
intrinsecamente interessante, o que importa é a maneira a qual o cientista deve
proceder para solucioná-lo. “Os problemas realmente importantes em geral não são
quebra-cabeças” [p. 106]

É importante notar que os quebra-cabeças são aqueles problemas que a comunidade


científica considera como sendo científicos, de acordo com os critérios fornecidos pelo paradigma
aceito. “Assim um paradigma pode até mesmo afastar uma comunidade dos problemas que não são
redutíveis à forma de quebra-cabeça”. [p. 106] O empreendimento científico revela sua utilidade de
tempos em tempos, abre novos territórios, instaura ordem e testa crenças estabelecidas há muito
tempo. No entanto, o indivíduo quase nunca está fazendo qualquer uma dessas coisas.

Kuhn insiste que para um problema ser considerado um quebra-cabeça não basta que ele
possua uma solução assegurada, ele também deve seguir regras que limitam tanto a natureza das
soluções aceitáveis, como também o método para obtê-las. [p. 108]

Categorias das regras de limitação

I. Os enunciados explícitos das leis, conceitos e teorias científicos. [p. 110] Ex: equações
de Maxwell, leis da termodinâmica.

II. Num nível mais concreto, há uma série de compromissos acerca dos instrumentos
preferidos dos cientistas, bem como a forma de utilizar estes utensílios.

III. Num nível mais elevado (“quase metafísico” [p. 111]), há regras que são menos
dependentes de fatos temporais e locais. Kuhn cita o exemplo da teoria cartesiana dos
corpúsculos, mas é bastante obscuro sobre este ponto.

IV. Por último, há compromissos sem os quais “ninguém pode ser chamado de
cientista” [p. 112]. Ex: os cientistas devem se preocupar em entender o mundo, ampliar
a precisão e o alcance da ordem que lhes foi imposta. Isto leva os cientistas a serem
extremamente minuciosos e descritivos.

Para finalizar, Kuhn relativiza um pouco sua visão sobre regras. É claro que ele não
pretendeu afirmar que todos os problemas científicos estão determinados a partir de um único
conjunto de regras. “As regras derivam de paradigmas, mas os paradigmas podem dirigir a pesquisa
mesmo na ausência de regras” [p. 113]

Capítulo 4: A prioridade dos paradigmas

No capítulo anterior, Kuhn afirmou que a ciência normal poderia funcionar mesmo que
não estivesse sendo guiada por um corpo bem definido de regras, desde que houvesse um
paradigma por trás das práticas científicas. Isto é, os paradigmas teriam prioridade em relação às
regras. O autor afirma que “a determinação de paradigmas compartilhados não coincide com a
determinação das regras comuns ao grupo” [p.116]. “[Os cientistas] podem concordar na
identificação de um paradigma, sem entretanto entrar num acordo quanto a uma interpretação ou
racionalização completa a respeito daquele. […] A ciência normal pode ser parcialmente determinada
através da inspeção direta dos paradigmas.” [p.117]
Além disso, não é necessário que um paradigma implique a existência de um conjunto
completo de regras. [p.117] Para melhor qualificar este ponto, Kuhn traça uma breve discussão
acerca do conceito de ‘semelhanças de família’ de Wittgenstein, e afirma que a dificuldade de o
historiador da ciência de achar um conjunto completo de regras é a mesma encontrada pelos
filósofos que desejam dar uma descrição completa de ‘folha’, ‘jogo’, ou ‘cadeira’.

Kuhn aponta quatro razões pelas quais podemos considerar os paradigmas como tendo
precedência às regras.

I. Há uma grande dificuldade em se descobrir as regras que guiaram certas tradições


específicas da ciência normal. [p. 119]

II. A natureza da educação científica. Cientistas não aprendem seus conceitos, leis e
postulados de maneira abstrata, isto é, “estes instrumentos intelectuais sãoo, desde o inicio,
encontrados numa unidade histórica e pedagogicamente anterior, onde são apresentados
juntamente às suas aplicações e por meio delas. Uma nova teoria é sempre anunciada
juntamente às suas aplicações a uma determinada gama concreta de fenômenos
naturais.” [p.120] Isto revela que quando físicos aprendem sobre o significado de conceitos
como “força”, “massa”, “atrito” etc, eles o fazem dentro de um contexto específico de
aplicações e de métodos válidos de experimentação empírica de tais conceitos. O aluno terá que
utilizar esses conceitos na resolução de diversos problemas teóricos, usando lápis e papel, bem
como terá a oportunidade de utilizar instrumentos para resolver problemas práticos.

III. “A ciência normal pode avançar sem regras somente enquanto a comunidade científica
relevante aceitar sem questionar as soluções de problemas já particularmente obtidas”. [p.121]
Ele reitera que a discordância generalizada só ocorre em períodos pré-paradigmáticos ou
quando a comunidade científica está prestes a ser revolucionada.

IV. Kuhn argumentou que uma mudança de paradigma pode ser local, mas não global. Isto
é, uma área científica pode ser revolucionada através da descoberta de um novo fenômeno, sem
que isto implique que outras áreas sejam fortemente afetadas. Kuhn afirma que
“Frequentemente, se considerarmos todos os seus campos, [a ciência] assemelha-se a uma
estrutura bastante instável, sem coerência entre suas partes”. [p.123] A possibilidade de que
diferentes especialidades sejam afetadas mais ou menos por novas descobertas é trazida como
argumento a favor desta afirmação. [ver exemplo dado sobre o ser ou não-ser molécula
de um átomo de hélio, p. 126]

Capítulo 5: A anomalia e a emergências das descoberta científicas


“Os exemplos de descobertas por meio da destruição de paradigmas examinados no
capítulo 5 não são simples acidentes históricos. Não existe nenhuma outra maneira
eficaz de gerar descobertas” [p. 183 - Cap. 9]

Neste capítulo, Kuhn explica como anomalias3 podem aparecer no seio da ciência normal,
e como as anomalias contribuem para a mudança de paradigmas. Nos capítulos anteriores foi
esboçada a visão de que a ciência normal é determinada por paradigmas e, possivelmente, por um
corpo mais ou menos coerente de regras. A ciência normal foi definida como voltada para a
resolução de quebra-cabeças, e apresentada como um “empreendimento altamente cumulativo,
bem-sucedido na ampliação contínua do alcance e da precisão do conhecimento científico. […] A
ciência normal não se propõe a descobrir novidades no terreno dos fatos ou da teoria; quando é
bem-sucedida, não os encontra”. [p.127] Esta afirmação, é claro, parece colidir com o fato de que
muitas vezes a ciência normal leva os cientistas a fazerem novas descobertas. Kuhn se propõe, então,
a conciliar essa aparente falta de surpresas com a existência de anomalias.

Kuhn afirma que deve-se entender como ocorrem mudanças através de descobertas
(novidades relativas a fatos), e através de invenções (novidades concernentes à teoria). [p.128]

Em primeiro lugar, “A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o


reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que
governam a ciência normal”. [p.128] Em seguida, os cientistas exploram a natureza dessa anomalia,
até que a teoria paradigmática que levou à descoberta seja ajustada.

Para desenvolver sua tese, Kuhn estuda três acontecimentos históricos distintos: a
descoberta do oxigênio por Priestley/Lavoisier, a descoberta da existência de raios-x por Roentgen,
e a invenção da garrafa de Leyden.

Iniciando pelo caso da descoberta do oxigênio. Muito se debate sobre quando o oxigênio
foi descoberto, e quem foi seu descobridor: Lavoisier? Priestley? Em que data ocorreu a descoberta?
Kuhn afirma categoricamente que “A descoberta não é o tipo de processo a respeito do qual seja
apropriado fazer tais questões” [p.130] Ele aponta várias dificuldades que o historiador da ciência
encontra quando faz tais tipos de questão. Por exemplo, quando Priestley isolou o oxigênio mas o
identificou como sendo óxido nitroso (em 1774), ou quando o chamou de ar desflogistizado (em
1775), fez ele a descoberta do oxigênio? Ou, por outro lado, Lavoisier descobriu o oxigênio quando
fez a observação de que o oxigênio seria “o próprio ar, inteiro” (em 1775)? A resposta de Kuhn é
negativa.

3 “Um fenômeno para o qual o paradigma não prepara o investigador” [p.134]


“A proposição ‘O oxigênio foi descoberto’ embora indubitavelmente correta, é enganadora, pois sugere que
descobrir alguma coisa é um ato simples e único, assimilável ao nosso conceito habitual de visão.” [p.131]

Kuhn defende que o processo de descoberta requer tempo pois deve-se aceitar que tanto a
observação como a conceitualização, o fato e a assimilação à teoria estão ligados à descoberta. [p.
132] Ou seja, a descoberta só ocorre após um processo de assimilação conceitual amplo. Ele
também afirma que quando Lavoisier fez suas observações sobre o oxigênio em 1777 ele não apenas
descobriu o oxigênio, mas revolucionou toda a teoria química da época; isto é, ela iniciou um
paradigma. É claro que não foi a descoberta do O que levou à revolução, mas sim o fato de que
Lavoisier já suspeitava que a teoria do flogisto não era capaz de explicar muitos dos fatos relevantes
para a teoria química.

A descoberta do raio-x, para Kuhn, é um exemplo de descoberta acidental. [Ver


parágrafo sobre a história do raio-x nas pp. 133-134] Assim como no caso do oxigênio, a percepção
de uma anomalia serviu como ponto de partida para a emergência de um novo caminho científico.
A descoberta de Roentgen apresentou um problema para a comunidade científica da época. Muitos
cientistas utilizavam o tubo de raios catódicos em seus experimentos, mas não tinham consciência
da existência dos raio-x. A descoberta fez com que os pesquisadores tivessem que repensar seus
experimentos, e repensar suas conclusões: eles não haviam controlado um fator importante. Isto
mostra que a descoberta do raio-x revelou uma série de compromissos científicos
relacionados a um determinado instrumento, qual seja, o tubo de raios catódicos. “Em
resumo, conscientemente ou não, a decisão de empregar um determinado aparelho e usá-lo de um modo específico baseia-
se no pressuposto de que somente certos tipos de circunstâncias ocorrerão”. [p.136]

Neste ponto, é feita uma digressão. Sabe-se que os compromissos instrumentais podem ser
enganadores, mas isto não é motivo para que eles não sejam feitos.4

No último exemplo, o da garrafa de Leyden, tem-se uma descoberta induzida pela


teoria. Ela foi feita num período pré-paradigmático, e teorias não-paradigmáticas podem levar a
novidades.

“Em maior ou menor grau (oscilando num contínuo entre o resultado chocante e o resultado antecipado), as
características comuns aos três exemplos acima são traços de todas as descobertas das quais emergem novos tipos de
fenômenos. Essas características incluem: a consciência prévia da anomalia, a emergência gradual e
simultânea de um reconhecimento tanto no plano conceitual como no plano da

4 “Os procedimentos e aplicações do paradigma são tão necessários à ciência como as leis e teorias paradigmáticas — e
têm os mesmos efeitos” [p.138]
observação e a consequente mudança das categorias e procedimentos paradigmáticos”.
[p.140]

Ver experimento de Bruner e Postman sobre cartas.

É necessário enfatizar que a primeira teoria paradigmática de qualquer campo sempre


deve explicar os fenômenos mais gerais e acessíveis aos cientistas. Como consequência disto, o
progresso sempre acaba por acarretar um refinamento dos conceitos utilizados, a criação de
instrumentos mais precisos e o desenvolvimento de um vocabulário e técnicas esotéricas.

Esses instrumentos especiais servem para melhor detectar a existência de anomalias. Para
Kuhn, “a novidade normalmente emerge apenas para aquele que, sabendo com precisai o que
deveria esperar, é capaz de reconhecer que algo saiu errado”. [p.143] Quanto maiores forem a
precisão e o alcance de um paradigma, maiores serão as chances de que sejam descobertas novas
anomalias.

Capítulo 6: A crise e a emergência das teorias científicas

O capítulo faz apenas alguns apontamentos já previstos através dos capítulos anteriores. Ele
aborda três exemplos de mudança radical de paradigma — que diferem dos três casos do capítulo 5
— e individualiza algumas propriedades que lhes são comuns. Kuhn destaca, mais uma vez, que
ocorre uma revolução apenas quando um paradigma falha em resolver a maior parte dos quebra-
cabeças propostos pela ciência normal não pode ser resolvido pelo atual paradigma. Ele também
destaca que muitas das soluções para as crises já haviam sido apontadas muito antes de a própria
crise acontecer, mas que naquele momento ainda não havia razões para aceitar a “solução” (já que
não havia problemas). O exemplo mais óbvio é o da Revolução Copernicana. Aristarco já havia
desafiado o modelo geocêntrico durante a Antiguidade, mas seu modelo heliocêntrico não
solucionava nenhum problema. Não havia qualquer razão para que os astrônomos da época
abandonassem o sistema aristotélico, já que este era bastante robusto e era útil para responder a
maioria dos quebra-cabeças da época.

Capítulo 7: A resposta à crise

Kuhn passa então a explicar como as anomalias são tratadas pelos cientistas
comprometidos com um paradigma, e de que maneira elas contribuem para a mudança de
paradigmas. Para tal, Kuhn nos pede para que suponhamos que as crises são, de fato, gatilhos para
a emergência de novas teorias.
“[Os cientistas} Embora possam começar a perder sua fé e a considerar outras alternativas, não
renunciam ao paradigma que os conduziu à crise. Por outra: não tratam as anomalias como contraexemlos do
paradigma […]” [p.159]

O ponto mais importante para Kuhn é que após a existência de um paradigma unificador
em uma área científica, não há mais pesquisa não-paradigmática. Para Kuhn, “rejeitar um
paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência”. [p. 162] Isto é,
mais coloquialmente, “um paradigma só é um problema se você possui uma solução”. Ao fazer tais
observações, Kuhn levanta uma de suas principais teses: o que leva os cientistas a abandonarem um
paradigma não consiste somente em uma falta de adequação entre teoria e fato. Existe algo a mais
neste processo. Para ilustrar seu caso, Kuhn explica como os cientistas tratam as inconsistências
internas de seu trabalho, e como precisam saber lidar com anomalias.

“Tal como os artistas, os cientistas criadores precisam, em determinadas ocasiões, ser capazes de viver em um
mundo desordenado.” [p.161]

O que difere a ciência normal da ciência em crise?

O fato de a ciência normal encarar seus problemas como quebra-cabeças a serem


resolvidos e, portanto, adequados ao paradigma. Mas todo quebra-cabeça pode ser encarado de
outra maneira: como um contraexemplo à teoria, como uma fonte de crise. “A crise, ao provocar,
uma proliferação de versões do paradigma, enfraquece as regras de resolução dos quebra-cabeças
da ciência normal, de tal modo que acaba permitindo a emergência de um novo paradigma.” [p.
163] Kuhn também aponta que a ciência em crise se assemelha em muitos pontos à ciência pré-
paradigmática.

Ao meu ver, Kuhn levanta uma das mais interessantes questões da filosofia da ciência e da
filosofia em uma citação na página 163, que pode ser resumida na seguinte pergunta: por que a
ciência parece ter fornecido um exemplo tão adequado da generalização segundo a qual a verdade e
a falsidade são determinadas de modo inequívoco pela confrontação dos enunciados com os fatos?

Ele dá duas razões: 1) “A ciência normal esforça-se para aproximar sempre mais a teoria e
os fatos. […] O fracasso em alcançar uma solução [a um quebra-cabeça] desacredita somente o
cientista e não a teoria.” [p.163]5; 2) “A maneira pela qual a pedagogia da ciência complica a
discussão de uma teoria com observações sobre suas aplicações exemplares tem contribuído para
reforçar uma teoria da confirmação extraída predominantemente de outras fontes.” [p.163] O autor
revela que enquanto um cientista pode ler um texto científico qualquer e considerar as aplicações

5 “Quem culpa suas ferramentas é mau carpinteiro”


como prova em favor da teoria, os estudantes da ciência aceitam as teorias por causa da autoridade
do professor.

Kuhn contorna a pergunta “O que faz com que uma anomalia seja particularmente difícil
de ser resolvida e seja levada à sério”. No entanto, emenda com a afirmação de que “quando uma
anomalia parece ser algo mais do que um quebra-cabeça da ciência normal, é sinal de que se
iniciou a transição para a crise e para a ciência extraordinária.” [p.166]

Quando uma anomalia passa a ser levada muito a sério, pode-se observar vários
comportamentos da comunidade científica. Os profissionais do campo no qual a anomalia foi
detectada passam a reconhecê-la como tal, e um grande número de cientistas de fora desse campo
também passa a ter conhecimento da anomalia. Se uma anomalia resiste a todas as tentativas de
ataque (o que geralmente não acontece), ela pode se tornar um problema central e específico de sua
disciplina originária. As investidas iniciais contra a anomalia estarão em estreito acordo com o
paradigma, e quando diversas investidas tenham sido feitas sem sucesso, mais e mais cientistas
passarão a relaxar o paradigma e a buscar novas soluções. Podem ocorrer sucessos parciais, mas que
dependam de soluções divergentes. Dificilmente qualquer uma dessas soluções será aceita como
paradigma.

“Todas as crises iniciam com o obscurecimento de um paradigma e o


consequente relaxamento das regras que orientam a pesquisa normal.” [p.168]

As crises podem acabar de três maneiras:

I) A anomalia é resolvida dentro do próprio paradigma;

II) A anomalia recebe um rótulo e é posta de lado para que próximas gerações (dotadas de
instrumentos mais precisos e de mais refinamento teóricos) possam lidar com ela;

III) A crise pode terminar com a emergência de um novo candidato a paradigma com uma
subsequente batalha por sua aceitação.

Nos tempos de crise a ciência deixa de ser normal e passa a ser extraordinária.

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Capítulo 8: A natureza e a necessidade das revoluções científicas

O cerne deste capítulo pode ser identificado com a defesa da tese de Kuhn de que o
empreendimento científico não é simplesmente cumulativo, que as mudanças de paradigma (as
revoluções) necessariamente quebram com o paradigma anterior e apresentam uma reformulação
total da ciência como um todo, ou, ao menos nos campos em que a revolução ocorreu6.

Kuhn traça um paralelo entre a mudança de paradigma na ciência e revoluções políticas.


Ressalta que “as revoluções científicas iniciam-se com um sentimento crescente, também
seguidamente restrito a uma pequena subdivisão da comunidade científica, de que o paradigma
existente deixou de funcionar adequadamente na exploração de um aspecto da natureza, cuja
exploração fora anteriormente dirigida pelo paradigma.” [p.178]

Como segundo paralelo, ele afirma que assim como nas revoluções políticas, quando dois
grupos entram em embate para discutir qual o paradigma a guiar a comunidade, há um ínterim
entre o abandono de um paradigma e a adoção de outro. Durante este intervalo de tempo, a ciência
não será integralmente guiada por nenhum dos paradigmas.

“Tal como a escolha entre duas instituições políticas em competição, a escolha entre paradigmas em
competição, a escolha entre paradigmas em competição demonstra ser uma escolha entre modos incompatíveis de vida
comunitária.” [p.180]

Como corolário desse processo, Kuhn afirma que durante o ínterim extraordinário, haverá
necessariamente uma circularidade (que não torna os argumentos errados ou ineficazes). Como a
defesa do argumento de que uma mudança de paradigma é uma quebra — que representa uma
etapa de não-acumulação — os argumentos pró e contra um paradigma são apenas dotados de um
elemento de persuasão, sem conteúdo lógico ou epistemológico. Este momento está em evidente
oposição à ciência normal. Esta é cumulativa, e “deve seu sucesso à habilidade dos cientistas para
selecionar regularmente fenômenos que podem ser solucionados através de técnicas conceituais e
instrumentais semelhantes às já existentes.” [p.183]

Kuhn diz que só há três tipos de fenômenos a propósito dos quais pode ser
desenvolvida uma nova teoria.

• O primeiro tipo compreende os fenômenos já bem explicados pelos paradigmas


existentes. “Tais fenômenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a
construção de uma teoria.” [p.183]

• Os fenômenos cuja natureza é indicada pelos paradigmas existentes, mas cujos detalhes
somente podem ser entendidos após uma maior articulação da teoria. Esse tipo de
fenômeno é o mais apto a ser encarado como um quebra-cabeça, e apenas quando as

6 “As revoluções científicas só precisam parecer revolucionárias para aqueles cujos paradigmas tenham sido afetadas por
ela.” [p.178]
investidas contra o quebra-cabeça revelam-se infrutíferas é que esse tipo de fenômeno
pode servir como gatilho à emergência de uma nova teoria.

• As anomalias reconhecidas, cujo traço característico é a sua recusa obstinada a serem


assimiladas pelos paradigmas existentes.

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Kuhn passa, então, a demonstrar que a velha e a nova teoria não são logicamente
compatíveis. Este ponto é crucial para que sua tese sobre a mudança de paradigmas seja coerente.
Um dos pontos sobre os quais insiste Kuhn pode ser exemplificado pelo estudo da mudança de
paradigma da mecânica newtoniana e a mecânica de Einstein. Kuhn insiste que só pelo fato de
podermos usar certos aspectos da mecânica newtoniana (engenheiros ainda o fazem), não podemos
dizer que estes aspectos podem ser derivados da teoria atualmente em vigor. Isto ocorre porque a
própria disposição dos cientistas sobre os conceitos envolvidos é revolucionada. Ainda que você
possa isolar certos aspectos da teoria de Einstein e utilizá-los para derivar aspectos da mecânica
newtoniana, seria espúrio aceitar que os conceitos de ‘espaço’, ‘deslocamento’, etc são os mesmos
para Einstein e Newton. “Essa necessidade de modificar o sentido de conceitos estabelecidos e
familiares é crucial para o impacto revolucionário da teoria de Einstein.” [p.190]

“Aceitemos portanto como pressuposto que as diferenças entre paradigmas sucessivos são ao mesmo tempo
necessárias e irreconciliáveis. […] Paradigmas sucessivos nos ensinam coisas diferentes acerca da população do
universo e sobre o comportamento dessa população.” [p.190-191]

Após dar vários exemplos históricos, Kuhn finaliza com uma interessante citação:

“Ao aprender um paradigma, o cientista adquire ao mesmo tempo uma teoria, métodos e padrões científicos,
que usualmente compõem uma mistura inexplicável. Por isso, quando os paradigmas mudam, ocorrem alterações
significativas nos critérios que determinam a legitimidade tanto dos problemas como das soluções propostas.” [p.198]

Essa citação evidencia a dimensão normativa dos paradigmas, não somente sua dimensão
cognitiva.

Capítulo 9:

O problema que impulsiona a discussão proposta durante este capítulo é este:


aparentemente, quando há uma mudança de paradigma os cientistas passam a ver o mundo de
outro modo. Nenhuma de suas observações, os fatos, foram modificados pela mudança de
paradigma. No entanto, para os cientistas, suas descrições, explicações e teorias terão se modificado
radicalmente.
“Embora o mundo não mude com uma mudança de paradigma, depois dela o cientista trabalha em um mundo
diferente.” [p.214]

Deve-se responder de que modo os cientistas mudam seu olhar (entendido


metaforicamente) para as coisas. “Guiados por um novo paradigma, os cientistas adotam novos
instrumentos e orientam seu olhar em novas direções. […] durante as revoluções, os cientistas
veem coisas novas e diferentes quando, empregando instrumentos familiares, olham
para os mesmos pontos já examinados anteriormente.” [p. 201]

Kuhn passa algumas páginas descrevendo e analisando alguns experimentos psicológicos


que demonstram como as pessoas passam a ver as mesmas coisas de modo diferente quando obtém
novas informações, ou quando se acostumam ao uso de lentes especiais etc. No entanto, ele insiste
que a mudança que ocorre na disposição dos cientistas não pode ser explicada por tais
experimentos. Eles são sugestivos, mas não mais do que isso. [p.204]

A página 202 contém um parágrafo incrivelmente interessante. Não o reproduzo aqui


devido à sua extensão, mas ele versa sobre como os estudantes, ao serem iniciados em um
empreendimento científico, aprendem a olhar as coisas de um certo modo (gestalt).

Para Kuhn, diferentemente do caso dos experimentos psicológicos, o cientista que passou a
ver determinados fenômenos sob a ótica de um novo paradigma não pode olhar para eles através do
antigo paradigma. Químicos educados em nosso século jamais serão capazes de tratar o oxigênio
como sendo ar desflogicizado, físicos de hoje em dia não poderão firmemente acreditar na
existência do éter.

Para comprovar sua tese de que a mudança de paradigma não causa a mudança de visão
apenas sobre um fato, mas sim sobre algo mais amplo, Kuhn pede que consideremos o exemplo da
descoberta de Urano. Em 1781, Sir William Herschel, dotado de um poderoso telescópio fabricado
por ele próprio, notou (ao olhar para Urano) um tamanho aparente de disco que era incomum para
estrelas. Após observar que o objeto estava se deslocando em relação às estrelas, concluiu que
tratava-se de um cometa! No entanto, alguns meses depois Lexell sugeriu que provavelmente se
tratava de uma órbita planetária. [p.207] “Embora as evidências sejam equívocas, a pequena mudança de
paradigma forçada por Herschel provavelmente ajudou a preparar astrônomos para a descoberta rápida de numerosos
planetas e asteróides após 1801.” [p.207] Kuhn parece sugerir que a descoberta feita por Hershcel-
Lexell forçou os cientistas, que utilizaram instrumentos padrão, a descobrirem cerca de 20 novos
planetas no início do século XIX. Para adicionar mais evidências à sua tese, Kuhn destaca que não
seria apenas coincidência que as pessoas houvessem visto mudanças no céu logo após a adoção do
paradigma de Copérnico. [p.208]
Kuhn também considera a descoberta do oxigênio. Quando Lavoisier notou que o flogisto
seria incapaz de explicar a natureza daquele novo gás, teve que “modificar sua concepção a respeito de
muitas outras substâncias similares” [p.210]. Kuhn conclui que essa modificação na estrutura conceitual
de eventos químicos forçou Lavoisier a “ver a maneira de natureza diferente”. No entanto, como
essa locução pode ser enganadora, Kuhn prefere dizer que o cientista francês passou a “trabalhar
em um mundo diferente.” [p.210]

Em seguida, Kuhn descreve a mudança de paradigma em relação à caracterização dos


pêndulos. Para Aristóteles e os aristotélicos medievais, um corpo pesado em movimento pendular
cessava e o objeto chegava ao repouso pois fazia parte da natureza do próprio objeto que este fosse
de uma posição mais elevada para uma posição mais baixa. Concluíam, a partir disto, que o corpo
oscilante estava “caindo com dificuldade”. No entanto, Galileu viu no corpo oscilante um pêndulo.
Viu um corpo que por pouco não conseguia repetir indefinidamente o mesmo movimento.

“Por que ocorreu essa alteração de visão? Sem dúvidas, por conta do gênio
individual de Galileu. Mas note-se que nesse caso o gênio não se manifesta
através de uma observação mais acurada ou objetiva do corpo oscilante.”
[p.211]

“Até a invenção desse paradigma escolástico [referindo-se


ao paradigma de Buridan [p.212] não havia pêndulos
para serem vistos pelos cientistas, mas tão somente
pedras oscilantes. Os pêndulos nasceram graças a algo
muito similar a uma alteração da forma visual induzida
por paradigma.

Diante de tais (fortes) asserções, Kuhn pretende responder perguntas como “precisamos
realmente descrever como uma transformação da visão aquilo que separa Galileu de Aristóteles ou
Lavoisier de Priestley? Esses homens realmente viam coisas diferentes ao olhar para o mesmo tipo de
objeto […]?” [p.213] Para enfrentá-las diretamente, Kuhn dá um passo ao lado e argumenta que
não se pode dizer que a diferença entre Aristóteles e Galileu era uma de interpretação. Para ele, “o que
ocorre durante uma revolução científica não é totalmente redutível a uma reinterpretação de dados
estáveis e individuais.” [p.214] Em primeiro lugar, deve-se entender que os dados não são
inequivocamente estáveis. Se um cientista crê que o oxigênio é ar desflogistizado, ele está de posse
de um dado inteiramente diferente daquele do qual está munido o químico moderno. Não há uma
base imutável de dados sobre os quais os cientistas possam divergir apenas em interpretação. Disto
não segue, é claro, que não há algo que possa ser caracterizado como “interpretação” na atividade
do cientista. “Mas cada uma dessas interpretações pressupôs um paradigma. Essas eram partes da
ciência normal que, como já vimos, visa refinar, ampliar e articular um paradigma que já existe.” [p.
215] O empreendimento interpretativo é de articulação, a interpretação não corrige um
paradigmas. “Paradigmas não podem, de modo algum, ser corrigidos pela ciência
normal.” [p.215]

Capítulo 10: A invisibilidade das revoluções

O presente capítulo trata de explicar como o modelo pedagógico da ciência, que gira em
torno de manuais científicos, contribui para perpetuar a ideia de que a ciência progride
linearmente, em uma acumulação sempre crescente de fatos. Kuhn lança mão da familiar imagem
da construção do conhecimento como um empilhamento de tijolos, um em cima do outro, postos
em cima da mesma base. Ele afirma que, apesar de ter dado vários exemplos históricos, todos estes
exemplos poderiam ser considerados adições ao conhecimento, não como revoluções.

Kuhn, sobre o material de estudo científico, afirma: “Grande parte da imagem que
cientistas e leigos têm da atividade científica criadora provém de uma fonte autorizada que disfarça
sistematicamente - em parte devido a razões funcionais importantes - a existência e o significado das
revoluções científicas.” [pp.231-232] Tal fonte de autoridade é identificada por Kuhn como sendo
principalmente os manuais científicos e, de forma derivada, os textos de ciência popular e obras
filosóficas baseadas em manuais. Estes materiais têm algo em comum: “referem-se a um corpo já
articulado de problemas, dados e teorias, e muito frequentemente ao conjunto particular de
paradigmas aceitos pela comunidade científica na época em que esses textos foram escritos.” [p.232]
Isto quer dizer que estes materiais consolidam e registram os resultados estáveis das revoluções
passadas, e põem em evidência as bases para a ciência normal.

Sempre que há uma revolução científica (ou seja, quando a estrutura dos problemas e as
regras da ciência normal são modificadas), os manuais precisam ser rescritos. Como uma
ferramenta pedagógica, “os manuais científicos contém apenas um pouco de história.” [p.233 — ver
citação mais correta] Nesta diminuta parte concedida à história, os manuais “referem-se somente
àquelas partes do trabalho de antigos cientistas que podem facilmente ser consideradas como
contribuições ao enunciado e à solução dos problemas apresentados pelo paradigma dos
manuais.” [p.233-234] Esse modo de descrever o progresso histórico da ciência causa a impressão
de linearidade e de que a ciência desenvolve-se por acumulação.

Kuhn afirma que até mesmo cientistas, quando reexaminam suas próprias contribuições,
têm a tendência de esconderem o fato de que houve uma pequena revolução científica entre o
paradigma sobre o qual trabalhavam anteriormente às suas contribuições, e o paradigma sob o qual
trabalham à época de seus relatos escritos posteriormente às suas contribuições. Ele dá o exemplo de
Dalton, e de Newton. O de Newton é mais ilustrativo. [ver página 236]

Para Kuhn,os exemplos acima evidenciam, cada um em seu contexto, “os começos de uma
reconstrução histórica que é regularmente completada por textos científicos pós-
revolucionários.” [p.236] Há um processo de reconstrução, e essa reconstrução é acompanhada
de certas distorções históricas. “Essas distorções tornam as revoluções invisíveis; a disposição do
material que ainda permanece visível nos textos científicos implica um processo que, se realmente
existisse, negaria toda e qualquer função às revoluções.” [p.236]

O modo como manuais são escritos contribuem enormemente para que essas distorções
aconteçam. A fim de familiarizar o estudante o mais rapidamente possível, os manuais examinam as
várias experiências, conceitos, leis e teorias da ciência normal em vigor de forma isolada e de forma
sucessiva. Para Kuhn, os manuais dão a impressão de que os cientistas procuram realizar os
objetivos particulares presentes nos paradigmas atuais mesmo em seus empreendimentos científicos.
Isto é, escondem que muitos dos resultados obtidos só foram possíveis pois houve uma mudança de
paradigma.

“Muitos dos quebra-cabeças da ciência normal contemporânea passaram a existir somente depois da
revolução científica mais recente.” [p.237]

Tudo o que foi dito até então, relaciona-se com o descobrimento e a posterior catalogação
de dados. No entanto, o mesmo se aplica para a articulação de teorias. “Isso significa que as teorias
também não evoluem gradualmente, ajustando-se a fatos que sempre estiveram à nossa
disposição.” [pp.237-238] As teorias surgem mais ou menos ao mesmo tempo que os fatos aos quais
se ajustam. Uma característica importante que dissimula a revolução contida na formulação de uma
nova teoria é o fato de que dificilmente certos conceitos centrais da disciplina em questão são
jogados fora. Newton e Einstein tratam de espaço e de tempo, Lavoisier e químicos de hoje em dia
tratam de elementos químicos. No entanto, apesar de partilharem o mesmo signo e serem
expressões homófonas, houve uma mudança radical no modo em que tais conceitos se encaixas nas
estruturas conceituais dos paradigmas. Tais conceitos têm significados diferentes.

“Qual foi então o papel histórico de Boyle naquela parte de seu trabalho que contém a
famosa “definição” [de elemento químico]? Boyle foi o líder de uma revolução científica que, ao
modificar a relação do “elemento” com a teoria e a manipulação químicas, transformou essa noção
num instrumento bastante diverso do que fora até ali.” [p.239]

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Capítulo 11: A resolução das revoluções

Após explicar como surgem as revoluções científicas, como um novo paradigma emerge, e
como a ciência normal e a ciência extraordinária funcionam, Kuhn descreve como uma revolução
chega a seu fim. Como o período de ciência extraordinária chega ao fim? Quando novos manuais
podem ser escritos na linguagem proposta pelo novo paradigma?

Kuhn ressalta o caráter individual do início de uma revolução. No começo, apenas um


único cientista ou um grupo bastante restrito está a par da nova concepção de fazer ciência. Em
geral, as pessoas que propulsionam grandes mudanças na ciência são jovens. Não tiveram tempo
suficiente para incorporar todos os compromissos da ciência normal, nem dedicaram todas suas
vidas a um método de fazer ciência. Eles não se sentem inseguros diante da emergência de um novo
paradigma, pelo contrário: sentem-se fazendo parte de algo novo e poderoso.

“Todas as teorias historicamente significativas concordaram com os fatos; mas somente de


uma forma relativa.” [p.245]

Pode parecer tentador que a resposta para a pergunta “como os cientistas decidem entre
dois ou mais paradigmas competidores?” seja a de que eles buscam aquela que melhor se adequa
aos fatos. [p.245] No entanto, esta resposta é demasiado simplista para fornecer qualquer explicação
proveitosa. “A competição entre paradigmas não é o tipo de batalha que possa ser
resolvida pelo meio de provas.”[p.246]

Como já discutido em outros capítulos, é quase impossível fazer com que a comunidade
científica possa acolher por unanimidade um ponto de vista. Uma das razões pela qual isto acontece
é a de que “os proponentes de paradigmas competidores discordam seguidamente quanto à lista de
problemas que qualquer candidato a paradigma deve resolver.” [p.246]

Kuhn descreve esse abismo como uma “incomensurabilidade”. No entanto, qualifica:


apesar de haver um grande distanciamento entre a antiga e a nova tradição, esta utiliza muitos dos
mesmos instrumentos, termos e práticas daquela. No entanto, faz isto de uma maneira
completamente nova.

Outro motivo para que esta incomensurabilidade ocorra é que “Em um sentido que sou
incapaz de explicar melhor, os proponentes dos paradigmas competidores praticam seus ofícios em
mundos diferentes. […] Por exercerem sua profissão em mundos diferentes, dois grupos de cientistas
veem coisas diferentes quando olham de um mesmo ponto para a mesma direção. Isso não significa
que possam ver o que lhes aprouver.” [pp.248-9]
“Precisamente por tratar-se de uma transição entre incomensuráveis, a transição entre paradigmas em
competição não pode ser feita passo a passo, por imposição da lógica e das experiências neutras.” [p.249]

Kuhn argumenta que a resistência encontrada pelos proponentes de um novo paradigma é


um processo natural e necessário para o bom funcionamento da ciência normal. Os defensores da
antiga tradição precisaram enraizar o velho paradigma para que pudessem conduzir suas atividades
de ciência normal. Do mesmo modo, os proponentes da nova teoria irão incorporá-la e irão,
possivelmente, resistir a adoção de um novo paradigma no futuro. Kuhn diz que esta característica é
de natureza funcional.

Já que a mudança de paradigmas implica uma conversão, sem que a noção de prova esteja
envolvida, que tipos de argumentos podem persuadir a comunidade científica a abandonar seus
métodos tradicionais?

“Provavelmente a alegação isolada mais comumente apresentada pelos defensores de um novo paradigma é a
de que são capazes de resolver os problemas que conduziram o antigo paradigma a uma crise. Quando pode ser
feita legitimamente, essa alegação é, seguidamente, a mais eficaz de todas.” [p.252]

Apesar de destacar a centralidade deste argumento, Kuhn afirma que raramente ele é feito
de maneira isolada e prospera por si só. [p.253] “Além disso, nem sempre pode ser legitimamente
apresentada.”

Algumas vezes, o criador do novo paradigma sequer se dá conta de que sua nova
concepção pode resolver alguns problemas, o que é demonstrado por um terceiro cientista.

No entanto, nem todo tipo de argumento depende da adequação entre fato e teoria. Há
um argumento, usualmente feito de maneira implícita, que apela a um sentimento estético de
claridade ou simplicidade. [p.255]

“Quando um novo candidato a paradigma é proposto pela primeira vez, muito dificilmente
resolve mais do que alguns dos problemas com os quais se defronta, e a maioria dessas soluções está
longe de ser perfeita.” [p.256]

“Requer-se aqui uma decisão entre maneiras alternativas de praticar a ciência e nessas
circunstâncias a decisão deve basear-se mais nas promessas futuras do que nas realizações passadas.
[…] Dito de outra forma, [o cientista] precisa ter fé na capacidade do novo paradigma
para resolver os grandes problemas com que se defronta, sabendo apenas que o
paradigma anterior fracassou em alguns deles. Uma decisão desse tipo só pode ser
feita com base na fé.” [p.258]

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Capítulo 12: O progresso através das revoluções

Neste capítulo de conclusão, Kuhn aborda o espinhoso tema de como a ciência faz
progresso em sua visão da ciência como sucessão de paradigmas. Por que a espécie de progresso que
ocorre na ciência não ocorre em outros campos do saber?

Ele inicia a discussão com o fato óbvio de que uma parte do problema é puramente
semântica. Guardamos o vocábulo ‘progresso’ para aqueles campos que consideramos ser
científicos, deixando a filosofia, arte e ciência política de fora (por exemplo). No entanto, ele revela
que nem sempre foi assim: “Por muitos séculos, tanto na Antiguidade como nos primeiros tempos
da Europa moderna, a pontuar foi considerada como a disciplina cumulativa por excelência. […]
durante a Renascença, não se estabelecia uma clivagem muito grande entre as ciências e as
artes.” [p.263]

Após essa breve digressão, ele trata de explicar como a ciência normal progride. Para ele,
os membros de uma comunidade científica amadurecida trabalham a partir de um único paradigma
ou conjunto de paradigmas estreitamente relacionados (algo semelhante ocorria na arte, quando a
representação era o paradigma). Para Kuhn, o resultado do trabalho de uma comunidade científica
amadurecida tem que ser o progresso. “Como poderia ser de outra forma?” [p.264] Ele assinala que
a dificuldade de vermos progresso em áreas do saber como a filosofia, ciência política e ciências
sociais está no fato de que dificilmente as comunidades científicas que integram tais campos chegam
a um consenso acerca de um paradigma, e estão sempre mutuamente criticando os pressupostos
fundamentais. No entanto, “Se, como fazem muitos, duvidamos de que áreas não científicas
realizem progressos, isso não se deve ao fato de que escolas individuais não progridam.” [p.265]

“O progresso científico não difere daquele obtido em outras áreas, mas a ausência, na maior parte dos casos,
de escolas competidores que questionem mutuamente seus objetivos e critérios, torna bem mais fácil perceber o progresso
de uma comunidade científica normal.” [p.266]

Além desse ponto principal, outros traços da vida profissional científica fortalecem a visão
de progresso. Os cientistas estão inteiramente isolados em sua comunidade, com pouco ou nenhum
contato com os não especialistas. “O mais esotérico dos poetas e o mais abstrato dos teólogos estão
muito mais preocupados do que o cientista com a aprovação de seus trabalhos criadores por parte
dos leigos.” [p.266] O cientista trabalha apenas visando sua comunidade de colegas. Ele pode
pressupor muitos dos critérios a serem utilizados para avaliar seu trabalho, e pode passar de
problema em problema com muito mais rapidez. O cientista também não direciona suas
preocupações para o que é socialmente adequado ou necessário. Além desse isolamento, a
percepção do cientista como alguém excepcional pode ser explicado através do aprendizado [v. cap.
10]. Os manuais científicos diferem bastante daqueles utilizados em áreas não-científicas, pois
dificilmente conterão alusões às obras originais. Um estudante de ciência dificilmente lerá os
Principia de Newton, ou até mesmo trabalhos originais de cientistas contemporâneos. Ele focará nos
manuais, com seus problemas e as resoluções propostas. “Trata-se certamente de uma educação
rígida e estreita, provavelmente mais do que qualquer outra, com a possível exceção da teologia
ortodoxa. Mas para o trabalho científico normal, para a resolução de quebra-cabeças a
partir de uma tradição definida pelos manuais, o cientista está equipado de forma
quase perfeita.” [p.268] Crises prolongadas podem causar uma forma educacional menos rígida,
mas mesmo assim o ensino científico não é voltado para a produção de novidades.

Kuhn ressalta que a existência de problemas criados por um paradigma deve


inevitavelmente levar ao progresso. A ciência elege seus problemas, trata-os como quebra-cabeças e
se alguém falha em solucionar o quebra-cabeça este alguém é o culpado, não o quebra-cabeça.

Para o autor, as revoluções científicas se resolvem no tudo ou nada. Uma das facções
necessariamente aniquila a outra. “Alguma vez o vencedor afirmará que o resultado de sua vitória
não corresponde a um progresso autêntico?” Quando um novo paradigma é adotado, a
comunidade passa a rejeitar os antigos manuais e materiais que ensinavam o antigo paradigma.
[Observação minha: parece ser algo como os gregos que destruíam os templos das cidades que
conquistavam]

“Um balanço das revoluções científicas revela a existência tanto de perdas como de ganhos
e os cientistas tendem a ser particularmente cegos para as primeiras.” [p.270]

Nesta altura do texto, Kuhn faz uma excelente observação:

“[…] nenhuma explicação do progresso das revoluções pode ser interrompida neste ponto.
Isso seria subentender que nas ciências o poder cria o direito, formulação que não
seria inteiramente equivocada se não suprimisse a natureza do progresso e da
autoridade por meio dos quais se escolhe entre paradigmas.” [p.270]

Para Kuhn, apenas uma autoridade tem capacidade de decidir se um determinado


problema foi resolvido ou não. A existência da ciência implica a delegação do poder decidir para
uma comunidade de indivíduos. Kuhn dá algumas características gerais de tal comunidade.

O cientista precisa estar preocupado com a resolução de problemas relativos ao


comportamento da natureza; as soluções que o satisfazem não podem ser meramente pessoais, mas
devem ser aceitas por muitos; o cientista não aceita julgamento de não-cientistas (leigos, chefes de
Estado, Igreja etc); os membros do grupo, enquanto indivíduos e em virtude de seu treino e
experiência comuns, devem ser vistos como os únicos conhecedores das regras do jogo [pp.271-2]
Após considerar solucionado o problema da unidade do empreendimento científico, Kuhn
trata de estudar o porquê de cientistas não serem facilmente persuadidos a adotar um ponto de vista
que reabra muitos problemas já resolvidos. [p.272]

“Antes de mais nada é preciso que a natureza solape a segurança profissional, fazendo com que as
explicações anteriores pareçam problemáticas. […] Além disso, mesmo nos casos em que isso ocorre […] duas
condições primordiais foram preenchidas: 1) o novo candidato deve parecer capaz de solucionar algum problema
extraordinário, reconhecido como tal pela comunidade e que não possa ser analisado de nenhuma outra maneira. Em
segundo , o novo paradigma deve garantir a preservação de uma parte relativamente grande da capacidade objetiva de
resolver problemas, conquistada pela ciência com o auxilio dos paradigmas anteriores.” [pp.272-273]

Esse processo geralmente implica uma diminuição do âmbito de trabalho dos cientistas, e
aumenta seu grau de especialização. Isto, por sua vez, resulta em uma atenuação no grau de
comunicação da comunidade científica.

“Embora certamente a ciência se desenvolva em termos de profundidade, pode não


desenvolver-se em termos de amplitude. Quando o faz, essa amplitude manifesta-se principalmente
através da proliferação de especialidades científicas e não através do âmbito de uma única
especialidade.” [p.273]

Para completar seu estudo acerca do progresso científico, Kuhn faz uma forte asserção:
“Para ser mais preciso, talvez tenhamos que abandonar a noção, explícita ou implícita, segundo a qual as mudanças de
paradigma levam os cientistas e os que com eles aprendem a uma proximidade sempre maior da verdade.” [p.274]

A ciência vista como uma locomotiva que está em constante movimento em direção à
estação final da verdade é fonte de inúmeros problemas.

Apesar de não desenvolver muito este ponto, Kuhn faz uma comparação bastante
pertinente (algo que Daniel Dennett considera uma das maiores inversões de pensamento) com o
caso do evolucionismo de Charles Darwin. Antes de Darwin, os seguidores de Lamarck, Chambers,
Spencer e outros, consideram que a natureza ia em direção a algo.

“Em 1859, quando Darwin publicou pela primeira vez sua teoria da evolução pela seleção
natural, a maior preocupação de muitos profissionais não era nem a noção de mudança das
espécies, nem a possível descendência do homem a partir do macaco. AS provas apontando para a
evolução do homem haviam sido acumuladas por décadas e a ideia de evolução ja fora amplamente
disseminada. Embora a evolução, como tal, tenha encontrado resistência, especialmente por parte
de muitos grupos religiosos, essa não foi, de forma alguma a maior das dificuldades encontradas
pelos darwinistas. Tal dificuldade brotava de uma ideia muito chegada às do próprio Darwin. Todas
as bem conhecidas teorias pré-darwinianas — as de Lamarck, Chambers, Spencer e dos
Naturphilosophen alemães — consideravam a evolução um processo orientado para um objetivo”

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