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UNIFCV - CENTRO UNIVERSITÁRIO CIDADE VERDE – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

PRÁTICA PENAL – PROFA. ANDREZA


PEÇA EM ESTUDO:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – NOTAS DE AULA
1. INTRODUÇÃO: A peça não é difícil. A estrutura é a mesma dos demais recursos e as teses principais são os
motivos que ensejaram a sua interposição – por isso, facilmente identificáveis.
Portanto, em regra, já é mais fácil do que a apelação, que comporta todas as teses possíveis.
Uma das aplicações da peça é para os processos do rito do júri, contra decisão de pronúncia (art. 581, IV, do CPP).
Por essa razão, analisaremos pormenorizadamente o caso.
2. FUNDAMENTO LEGAL: Art. 581 do CPP.
3. PRAZO: O prazo é de 5 dias para a interposição e de 2 dias para as razões. É bem provável que a banca peça
para que a data seja o último dia de prazo. Se o problema disser o dia da semana, leve a informação em
consideração. Ex.: se a intimação se deu em uma sexta-feira, a contagem do prazo deve iniciar na segunda-feira
seguinte. Por outro lado, se o enunciado nada disser, não invente informação. Faça a contagem corrida. Ex.: se a
intimação se deu no dia 5, o prazo encerra no dia 10.
4. APELAÇÃO E RECURSO EM SENTIDO ESTRITO: Veja que a apelaçao é residual em relação ao RESE.
Não há como fazer confusão: as hipóteses de RESE estão em rol taxativo, no art. 581 do CPP. A apelação deve ser
residual: quando não for possível a interposição de RESE, use apelação.
5. JUÍZO DE RETRATAÇÃO: No RESE, é possível o juízo de retratação, ou seja, que o juiz que proferiu a decisão se
arrependa e volte atrás após as contrarrazões do recorrido.
Como é uma peculiaridade da peça, a FGV sempre pontua o pedido de retratação, que deve ser fundamentado
no art. 589 do CPP.
6. CONTRARRAZÕES: O CPP não fala em contrarrazões em momento algum. Portanto, a FGV deve aceitar as
expressões “razões do recorrido” e “razões de recurso em sentido estrito”, termos utilizados no art. 588 do CPP,
fundamento legal da peça, e “contrarrazões de recurso em sentido estrito”, expressão adotada pela doutrina. Caso
seja a peça de uma prova, faça a petição de juntada – e não de interposição – e as razões.
7. TESES: No rito do júri, no final da 1ª fase, o juiz tem quatro opções: pronunciar, impronunciar, absolver
sumariamente ou desclassificar o delito para outro. Para o réu, a impronúncia e a absolvição sumária são
interessantes. A desclassificação também pode ser do seu interesse, desde que para um crime menos gravoso. De
qaulquer forma, no RESE do art. 581, IV, o nosso foco será evitar que o réu seja submetido a julgamento pelo
Tribunal do Júri (2ª fase). Vejamos o passo a passo para alcançar o objetivo:
1º Passo: derrubar a justa causa. Neste ponto, procure destruir a imputação contra o réu. Veja se o enunciado traz
provas inequívocas de que o fato não existiu (materialidade) ou de que o acusado não praticou o delito (autoria).
Ademais, busque por causas de exclusão do crime. Nestas hipóteses, peça a absolvição sumária, com fundamento
no art. 415 do CPP. Em seguida, busque por fragilidade probatória – não há certeza de que o fato não ocorreu ou
de que o réu não praticou o delito, mas também não há prova suficiente para a pronúncia. Neste caso, peça a
impronúncia, com fundamento no art. 414, “caput”, do CPP.
2º Passo: a busca por nulidades processuais. O rito do júri tem início no art. 406 do CPP. Veja se o procedimento
foi respeitado (ex.: se foi dado prazo para resposta à acusação). Ademais, analise se a competência realmente é da
vara do júri – ponto importante caso a natureza de crime doloso contra a vida seja afastada em desclassificação
(ex.: de homicídio doloso para culposo). Identificada qualquer nulidade, peça a anulação do processo desde o ato
viciado.
3º Passo: a análise da punibilidade. As causas gerais de extinção da punibilidade estão no art. 107 do CP. A FGV
costuma pedir a prescrição. Caso o problema traga muitas datas, faça o cálculo e descubra se a punibilidade já
não está extinta. Identificada qualquer causa de extinção da punibilidade, peça a sua declaração.
4º Passo: a desclassificação do crime. No rito do júri, é bem provável que o gabarito traga alguma tese de
desclassificação. A situação mais comum é a da desclassificação do homicídio doloso para o homicídio culposo,
hipótese em que você deverá pedir, além da desclassificação, a nulidade do processo e a sua remessa ao juízo
competente. Não se esqueça de fundamentar a sua tese e o pedido no art. 419 do CPP.
Por fim, atenção: se houver crime conexo, faça o passo a passo acima em relação a ele. Exemplo: o réu foi
pronunciado por homicídio doloso e por estupro. É possível que o juiz pronuncie pelo homicídio, mas impronuncie
pelo estupro. Por essa razão, é necessário realizar a análise fracionada de cada crime imputado ao réu. Ademais,
é também admissível buscar o afastamento de qualificadoras. Caso caia, é bem provável que seja a tese subsidiária
do problema. Sobre a imposição de pena, não é possível falar, em RESE, em dosimetria, em regime ou em eventuais
benefícios, como a substituição e o “sursis”.
8. MODELO DE PEÇA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA … VARA DO JÚRI DA COMARCA …
Obs.: em muitas comarcas, a vara que julga os crimes dolosos contra a vida é intitulada “vara do tribunal do júri”.
Em outras, apenas “vara do júri”. Se for uma pequena comarca do interior, é bem provável que nem exista uma
vara do júri, mas apenas uma vara única. E numa prova, qual nome devemos adotar? Veja sempre o que diz o
enunciado.
Ex.: em provas passadas a FGV já falou em “vara criminal do tribunal do júri”. Portanto, o endereçamento correto
era este último. Atenha-se aos termos do problema! E se não houver a informação? Como a FGV já utilizou a
expressão “vara do tribunal do júri”, parece ser a melhor opção. Ademais, fique atento à competência da Justiça
Federal, que também julga crimes dolosos contra a vida 1.
FULANO, já qualificado nos autos, vem, por seu advogado, interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com
fundamento no art. 581, IV, do Código de Processo Penal.
Obs.: em hipótese alguma fale em RESE. O nome da peça é recurso em sentido estrito. Ademais, não se esqueça
de mencionar de forma correta: art. 581 e inciso, CPP. Por questões estéticas, escrevemos em letra maiúscula, mas
isso não faz a menor diferença.
O recorrente pede, primordialmente, que Vossa Excelência se retrate de sua decisão, nos termos das razões
anexadas, com fundamento no art. 589 do CPP.

1
‘... a competência do Tribunal do Júri no âmbito da Justiça Federal envolve: o processo e julgamento de
crime doloso contra a vida praticado contra funcionário público federal no exercício da função ou em
virtude dela; o processo e julgamento de funcionário público federal que comete crime doloso contra a
vida no exercício da função ou em razão dela; o processo e julgamento de crime doloso contra a vida
ocorrido a bordo de navio ou aeronave, ressalvada a competência da Justiça Militar; e o processo e
julgamento de crime doloso contra a vida envolvendo a disputa sobre direitos indígenas.’’ Disponivel em:
<http://emporiododireito.com.br/backup/a-competencia-do-tribunal-do-juri-federal-por-ricardo-
antonio-andreucci/>
Obs.: este ponto é importante. Há modelos que não fazem qualquer menção à retratação ou ao art. 589 do CPP.
No entanto, numa prova, a FGV fez a seguinte exigência: “Deverá, o examinando, na própria petição de
interposição, formular pedido de retratação (ou requerer o efeito regressivo/iterativo), com fundamento no Art.
589, do CPP.”. Portanto, faça o mais completo possível: peça a retratação e fundamente adequadamente.
Subsidiariamente, caso Vossa Excelência não se retrate, requer o recebimento, o processamento e o
encaminhamento do recurso, com as razões inclusas, ao Tribunal de Justiça do Estado ….
Obs.: há quem peça o encaminhamento das razões ao tribunal do júri. Evidentemente, não é o correto, devendo
o endereçamento ser feito ao TJ ou ao TRF.
Pede deferimento.
Comarca, data.
Advogado.
Obs.: se a prova pedir o último dia de prazo, calcule os 5 dias, e não a soma total dos prazos (7 dias). A data deve
ser mencionada tanto na interposição quanto nas razões – a banca sempre faz esta exigência. Caso o enunciado
não fale em dia da semana, ignore a informação e faça a contagem corrida. Dois exemplos: 1º a intimação se deu
no dia 2, uma sexta-feira. Neste caso, o prazo encerra no dia 9, pois a contagem teve início na segunda-feira; 2º a
intimação se deu no dia 2, sem menção a dia da semana. Nesta hipótese, o prazo encerra no dia 7. Se já tiver
havido interposição, o prazo a ser contado é o de 2 dias, e o art. 588 deverá ser mencionado expressamente.
RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
RECORRENTE: FULANO.
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO
Egrégio Tribunal de Justiça,
Colenda Câmara,
Douto Procurador de Justiça,
O recorrente, não conformado com a decisão do Excelentíssimo Sr. Juiz de Direito da … Vara do Júri da Comarca
…, que o pronunciou, requer a sua reforma pelas razões a seguir:
I. DOS FATOS
No dia 25 de janeiro de 2016, no cruzamento das ruas “A” e “D”, o apelante, ao conduzir seu automóvel, atropelou
Sicrano, causando a sua morte.
No momento da colisão, o veículo estava dentro do limite permitido para a via, que é de 50 km/h.
Ao ser submetido ao teste de alcoolemia, descobriu-se que o recorrente havia consumido uma pequena
quantidade de bebida alcóolica. Questionado a respeito ao ser interrogado na delegacia, ele confirmou a
informação, e disse ter bebido apenas um copo de cerveja.
Em razão disso, o Ministério Público o denunciou por homicídio doloso, com fundamento no art. 121 do CP, pois
a embriaguez afastaria automaticamente qualquer possibilidade de culpa, em vez de dolo, na conduta do agente.
O Juiz de Direito da … Vara do Júri concordou com a tese, e pronunciou o apelante pela prática do crime de
homicídio doloso.
Obs.: no tópico “dos fatos”, apenas resuma o enunciado.
II. DO DIREITO
Entretanto, a respeitável sentença de pronúncia não merece prosperar. Embora o apelante tenha bebido na data
dos fatos, a quantidade foi mínima, não suficiente para retirar-lhe plenamente a capacidade de conduzir o
automóvel.
Ainda que os Tribunais Superiores reconheçam que a ingestão de bebida alcoólica pode fazer com que seja
reconhecido o dolo eventual em crimes praticados no trânsito, isso não significa que seja algo automático. A
avaliação deve ser caso a caso.
Portanto, a conduta do apelante melhor se amolda ao crime do art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro, praticar
homicídio culposo na direção de veículo automotor, devendo haver a desclassificação. Em consequência disso, é
incompetente o juízo da Vara do Júri para o julgamento do delito, e nulo o processo, conforme art. 564, I, do CPP,
devendo ser remetido ao juiz competente, nos termos do art. 419, “caput”, do CPP.
Obs.: o modelo está bem simples. Na prova, é bem provável que a FGV peça diversas teses ao mesmo tempo.
Tudo o que for dito e fundamentado no tópico “do direito” deve ser repetido no “do pedid o”. É repetitivo e
desnecessário, mas a FGV assim exige.
III. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o recurso, para que ocorra a desclassificação do crime de
homicídio doloso, do art. 121 do CP, para o crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, do art.
302 do CTB. Pede, ademais, em consequência da desclassificação, que o processo seja anulado “ab initio”, com
fundamento no art. 564, I, do CPP, e que seja remetido ao juízo competente, com fundamento no art. 419, “caput”,
do CPP.
Obs.: procure fazer o pedido da forma mais completa possível, com todos os artigos utilizados para fundamentar
a tese. Não se preocupe em ser repetitivo – em verdade, é algo positivo. Se a peça tiver diversas teses, fundamente
uma a uma no pedido.
Pede deferimento.
Comarca, data.
Advogado.
Obs.: se a banca pedir, date a peça no último dia do prazo.

RESE – DE DECISÃO QUE DENEGA OU CONCEDE HABEAS CORPUS


INTRODUÇÃO
A hipótese está no art. 581, X, do CPP, quando o recurso é interposto contra a decisão que denega (ou concede)
HC. É outra hipótese corriqueira do uso do RESE.
Das hipóteses de RESE, é uma das mais fáceis porque, se o objeto do HC for a ilegalidade de prisão em flagrante,
a peça em nada difere de um relaxamento.
Por outro lado, caso o objeto do HC seja o pedido de trancamento de inquérito policial, a única tese será a falta
de justa causa.
Assim, veja que não há muito o que se discutir na peça.
A coisa toda se resume em fazer prosperar a tese já discutida no HC.
2. RESE E RECURSO ORDINARIO CONSTITUCIONAL (ROC)
O ROC sempre será endereçado ao STJ ou ao STF. Não há como se interpor ROC para Tribunal de Justiça ou
Tribunal Regional Federal. O recurso ordinário será a peça cabível sempre que a decisão denegatória de HC for
oriunda de TJ, TRF ou Tribunal Superior (exceto STF).
Se quem denegou o HC foi juiz de primeira instância, a peça cabível é o RESE, endereçado ao TJ ou ao TRF. Jamais
interponha RESE contra decisão de tribunal.
3. COMO IDENTIFICAR
O enunciado da questão dirá que juiz de primeira instância denegou ou concedeu HC impetrado.
4. FUNDAMENTO LEGAL
Art. 581, X, do CPP.
5. PRAZO
São 5 dias para interposição e 2 para razões.
6. TESES
A tese é a justificativa para a concessão ou a denegação da ordem de HC.
Note que jamais se pedirá absolvição nesta hipótese de RESE.
Portanto, se, no HC, discutia-se a ilegalidade de prisão em flagrante, a tese se resume a isso. Por outro lado, se a
tese do HC for a falta de justa causa para a instauração de inquérito policial, o seu pedido estará limitado à
discussão a respeito do trancamento do IP por essa razão.
Observação final: Se o paciente estiver preso, não esqueça de pedir a expedição de alvará de soltura.
(*prof Leonardo Castro – material didático on line).

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