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Fichamento: Uma teoria cientifica da cultura

Posted by pensandoaantropologia on Junho 19, 2012 in Uncategorized

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cientifica-da-cultura/

Fichamento do Livro:

Malinowski, Bronislaw. Uma teoria cientifica da cultura. RJ Zahar, 1975. (A Teoria Funcional –
Capítulos 2, 3e 4)

“O ponto principal que eu estou tentando salientar aqui não é tanto que o homem primitivo
tem sua ciência, mas antes, em primeiro lugar, que a atitude científica é tão velha quanto a
cultura e, em segundo lugar, que a definição mínima de ciência é derivada de qualquer
execução pragmática.” (p. 20)

“A ciência realmente começa quando os princípios gerais são submetidos à prova dos fatos, e
quando os problemas práticos e as relações teóricas de fatores relevantes são usados para
manipular a realidade na ação humana. A definição mínima de ciência, por conseguinte,
implica invariàvelmente a existência de leis gerais, um campo para experimento ou observação
e, por fim, mas nem por isso menos importante, um controle de raciocínio acadêmico pela
aplicação prática.” (ps. 20 e 21)

“É neste ponto que as pretensões da Antropologia podiam ser aceitas. Este estudo, por vários
motivos, teve de convergir para o tema central do vasto campo dos estudos humanistas, ou
seja, a cultura. Além disso, a Antropologia, especialmente em seus modernos aspectos, tem a
seu crédito o fato de que a maioria dos que a ela se dedicam são obrigados ao trabalho de
campo etnográfico, ou seja, um tipo empírico de pesquisa. A Antropologia foi talvez a primeira
de todas as Ciências Sociais a criar o seu laboratório, lado a lado com a sua oficina teórica. O
etnólogo estuda as realidades da cultura sob a maior variedade de condições ambientes,
raciais e psicológicas. Ele deve ser ao ..mesmo tempo perito na arte de observação, isto é, no
trabalho de campo etnológico e na teoria da cultura. Em seu trabalho de campo e na sua’
análise comparativa da cultura, aprendeu que nenhum desses dois objetivos tem qualquer
valor a menos que sejam executados. conjuntamente. Observar significa selecionar, classificar,
isolar com base na- teoria. Elaborar uma teoria é resumir a relevância de observações
passadas e prever a confirmação ou refutação empírica dos problemas teóricos apresentados.”
(p. 21)
“Em termos da Sociologia moderna, o etnólogo, por meio de sua tarefa muito mais simples, é
capaz de visualizar as culturas como um todo e observá-las integralmente por contato pessoal.
Desse modo, ele forneceu a maior parte da inspiração no sentido das tendências realmente
científicas da Sociologia moderna, a análise dos modernos fenômenos culturais e da
observação direta convincente, e não intuitiva, das revelações de pura elucubração.” (p.21)

“Outro motivo, pelo qual tratei tão explicitamente da definição mínima de ciência é que, num
campo inteiramente novo de investigação como a cultura, é perigoso pedir emprestado os
métodos de uma das disciplinas mais velhas e mais bem fundadas. Os símiles orgânicos e as
metáforas mecânicas, a convicção de que contar e medir define a linha divisória entre a ciência
e a conversa fiada — tudo isso e muitos outros artifícios usados para tomar empréstimos ou
depender de outra disciplina têm feito mais mal que bem à Sociologia. Nossa definição mínima
implica que o papel fundamental de toda ciência é delimitar o seu legítimo campo de ação. Ela
tem de empregar métodos de verdadeira identificação ou isolamento dos fatores relevantes
de seu processo. Isso não é nada mais do que o estabelecimento de leis gerais e de conceitos
que consubstanciem tais leis. Isso implica, naturalmente, que cada princípio, teórico deve
sempre ser traduzível num método de observação, e ainda que na observação acompanhemos
cuidadosamente as linhas de nossa análise conceptual.” (pags. 22 e 23)

“A moderna Antropologia começou com um ponto de vista evolutivo. Era nisso amplamente
inspirada pelos grandes êxitos das interpretações darwinistas do desenvolvimento biológico e
pelo desejo de efetuar uma aproximação entre as descobertas pré-históricas e os elementos
etnográficos. O evolucionismo, no momento, está um tanto fora de moda. Não obstante, suas
principais premissas não somente são válidas, mas também são indispensáveis ao investigador
de campo assim como também ao estudioso da teoria. O conceito de origens podia ser
interpretado de maneira mais prosaica e científica, mas nosso interesse em remontar a toda e
qualquer manifestação de vida humana nas suas formas mais simples continua tão legítimo e
tão indispensável à plena compreensão da cultura quanto o fora no tempo de Boucher de
Perthes e J. C. Pritchard.” (p.25)

“O conceito de “etapas” continua tão válido quanto o de origens. Qualquer esquema evolutivo
de sucessivas camadas de aperfeiçoamento teria de ser ou muito geral ou válido apenas para
certas regiões e sob certas condições.” (p. 25)

“O evolucionismo experimentou um eclipse temporário sob o ataque das escolas do extremo


difusionista, também chamadas “históricas”.” (p.25)
“A outra tendência dominante da Antropologia mais antiga punha ênfase fundamentalmente
na difusão, isto é, no processo de adoção ou empréstimo, por uma cultura de vários inventos,
implementos, instituições e crenças de outra. A difusão como processo cultural é tão real e
inatacável como a evolução. O mérito real da escola difusionista consiste no seu maior sentido
do concreto, maior sentido histórico e, acima de tudo, na sua concepção das influências
ambientes e geográficas. Quer tomemos o trabalho de Ritter ou Ratzel, que provavelmente
podiam ser considerados pioneiros desse movimento, verificamos que a correção do
evolucionismo mais antigo consiste em considerar o processo histórico dentro do contexto do
globo.” (p.26)

“A brecha entre o evolucionismo e o difusionismo — e cada um deles, naturalmente, contém


uma série de escolas parciais e opiniões divergentes — ainda aparece como o principal divisor
de águas no método e na formulação conceptual. A essas duas, acrescenta-se às vezes, no
momento, a escola funcional, pela qual o autor é frequentemente apontado como sendo o
maior responsável. Assim, há um método comparativo, no qual o estudioso se interessa
fundamentalmente em reunir ampla documentação cultural, tal como vimos no The Golden
Bough, de Frazer, ou cm Primitive Culture, de Tylor, ou nos volumes de “Westermarck sobre o
casamento e a morte. Nesses trabalhos, os autores se interessam fundamentalmente em pôr a
nu a natureza essencial da crença animista ou rito mágico de uma fase da cultura humana ou
um tipo de organização essencial. Lembremo-nos também de que o método comparativo deve
permanecer como base de qualquer generalização, de qualquer princípio teórico, ou de
qualquer lei universal aplicável ao nosso campo de ação.” (pags. 26 e 27)

“Outro artifício epistemológico às vezes utilizado exclusivamente, às vezes completamente


rejeitado, é a interpretação psicológica de costume, crença, ou idéia. De muitas maneiras,
todavia, Durkheim pode ser considerado como um dos representantes mais seguros dessas
tendências, na moderna Sociologia, que visam acima de tudo à plena compreensão científica
da cultura como um fenômeno específico.” (p.27)

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“Por behaviorismo quero designar os mais novos desenvolvimentos da psicologia de estímulo-


e-resposta, elaborada pelo Professor C. Hull na Universidade de Yale, Thorndike na de
Columbia ou H. S. Liddell na de Cornell. O valor do behaviorismo é devido, em primeiro lugar,
ao fato de que seus métodos são idênticos, no tocante às limitações c vantagens, aos do
trabalho de campo antropológico. Tratando com gente de uma cultura diferente é sempre
perigoso usar o curto-circuito de “empatia”, que geralmente equivale a adivinhar o que a outra
pessoa podia ter pensado ou sentido. O princípio fundamental do investigador de campo,
assim como também o do behaviorista, é que as ideias, emoções e conações nunca
prosseguem a conduzir uma existência críptica,- oculta dentro das profundezas inexploráveis
da mente, consciente ou inconsciente.” (p. 31)

“A abordagem funcional permite-nos determinar o contexto pragmático de um símbolo e


provar que na realidade cultural um ato verbal ou simbólico se torna real sòmente por meio do
efeito que produz.” (p. 31)

“É necessário distinguir claramente entre o programa, a inspiração e o interesse principal de


um evolucionista em oposição aos de um difusionista, um psicanalista ou uma toupeira de
museu. As realizações de cada escola podem e devem ser em grande parte medidas pelo que
elas se propuseram fazer.” (p. 32)

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“Do lado positivo, daríamos provàvelmente crédito a um pesquisador como L. H. Morgan em


primeiro lugar pela descoberta do sistema de classificação de parentesco e pela sua resoluta
persistência em estudar os fundamentos das relações primitivas por casamento, por sangue e
por afinidade. Na obra de Tylor selecionaríamos sua tentativa pioneira de fornecer uma
definição mínima de religião, seu método de relacionar causalmente os fatores relevantes da
organização humana e sua capacidade de distinguir, na maior parte de seus trabalhos, as
linhas mestras das instituições humanas. Westermarck contribuiu mais para o nosso
conhecimento do casamento humano e da família pela correta apreciação de tais relações e da
vitalidade da instituição doméstica, e por sua penetrante percepção intuitiva quanto ao papel
puramente cerimonial de vários ritos nupciais, do que por sua vinculação evolucionista do
casamento humano com o acasalamento de macacos, pássaros e répteis.” (p. 33)

“Há um ponto, todavia, sobre o qual as várias escolas mais velhas cometeram o pecado de
ação em vez de omissão, liste é o conceito acrítico e às vezes mesmo anticientífico dos “pesos-
mortos” ou fósseis culturais na cultura humana. Nas teorias evolucionistas, esses pesos-mortos
aparecem sob a denominação de “sobrevivências”. O difusionista denomina-as “traços de
empréstimo” ou “complexos de traços”.” (p. 35)

“Uma sobrevivência é um aspecto cultural que não se ajusta no seu meio cultural. Ela persiste
mais exatamente do que atua, e sua função de algum modo não se harmoniza com a cultura
circundante. ‘Sabemos, naturalmente, que sobrevivências existem. Elas representam, de fato,
um aspecto constante e onipresente de todas as culturas.’ Tenho de discordar desta opinião.
Não há dúvida que a sobrevivência persiste porque adquiriu uma nova significação, uma nova
função, mas a menos adotássemos alguma atitude definitivamente moral ou de avaliação
estimativa, em vez de estudar o fenômeno como ele agora se desenrola, faríamos
simplesmente uma descrição incorreta de seus usos e sua significação.” (pags. 35 e 36)

“O dano real feito pelo conceito de sobrevivência em Antropologia consiste em que ele
funciona, por um lado, como um artifício metodológico espúrio na reconstrução de séries
evolucionistas; e, pior do que isso, é um meio eficiente de fazer observação de curto-circuito
em trabalho de campo.” (p. 36)

“Uma crítica adversa semelhante deve ser aplicada ao conceito fundamental da maioria das
escolas difusionistas, aquele do traço e do complexo de traços. Em difusão, como cm qualquer
outra pesquisa-‘ comparativa, em primeiro lugar o problema de identidade tem de ser
enfrentado e resolvido.” (pags. 37 e 38)

“Graebner, o representante máximo da escola difusionista, sustenta que todas as


regularidades do processo cultural são “leis da vida mental” e que “seu estudo científico e
metodológico é possível apenas do ponto do vista psicológico” (Graebner, pág. 582, 1923), ao
passo que Pater Schmidt, Wissler, Lowie e Rivers usam constantemente interpretações
psicológicas. Em conseqüência, nenhum antropólogo hoje em dia deseja eliminar
completamente o estudo do processo mental, maa tanto aqueles que aplicam explicações
psicológicas desde o princípio como os que desejam usá-las depois que a cultura foi
“històricamente analisada” esquecem que a interpretação da cultura em têrmos de psicologia
individual é tão inútil quanto a. simples análise histórica; e que dissociar os estudos da mente,
sociedade e cultura é antecipar os resultados.” (p. 38)

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“O mérito do difusionismo antropológico moderado está mais em suas contribuições


geográficas do que históricas. Como um levantamento de fatos correlacionados aos seus
substratos geográficos, é um método valioso de pôr à vista a influência do habitat físico assim
como ns possibilidades de transmissão cultural.” (p. 39)

“As hipóteses históricas de Frobenius, Rivcrs, Schmidt e Graebner, as grandiosas identificações


dos “complexos de cultura” por sôbre todo o globo, não serão tão fàcilmente aprovadas. Elas
se ressentem de uma visão de cultura sem vida e inorgânica e tratam-na como uma coisa que
pode ser conservada em frigorífico durante séculos, transportada através de oceanos o conti-
nentes, mecanicamente desmontada e recomposta.” (p. 39)

“Um padrão de vida cultural,contudo, significa que novas necessidades se impõem e novos
imperativos ou determinantes são inculcados são comportamento humano.” (p. 43)

“Tentaremos demonstrar que pode ser desenvolvida uma teoria na qual as necessidades
básicas e sua satisfação cultural podem ser vinculadas à derivação de novas necessidades
culturais e essas novas necessidades impõem ao homem e à sociedade um tipo secundário de
determinismo.” (p. 43)

“Instituição este conceito implica uma concordância sobre uma série de valores tradicionais
por força dos quais os homens se reúnem. ele implica também que esses seres humanos se
situam em relação definida uns com os outros e em relação a uma parte física específica de
seu ambiente, natural e artificial.” (p. 45)

“Ademais, nos termos de nossa análise funcional, demonstraremos que nenhuma invenção,
nenhuma revolução, nem mudança social ou intelectual, jamais ocorre, exceto quando são
criadas novas necessidades; c em consequência novos artifícios de técnica, dc conhecimento
ou de crença são adaptados ao processo ou a uma instituição cultural.” (p. 47)

“Como uma teoria de necessidades básicas e uma derivação de imperativos instrumentais e


integrativos, a Antropologia científica nos dá a análise funcional, que nos permite definir a
forma, assim como a/ significação, de uma idéia habitual ou intenção comum.” (p. 47)

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