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Pierre Bourdieu, (1930-2002) foi um importante sociólogo e pensador francês, autor

de uma série de obras que contribuíram para renovar o entendimento da Sociologia.

A transmissão do capital cultural

O texto inicia com uma indagação muito pertinente em que ao que se parece a escola
tem um caráter libertador mas, que na verdade possui um poder de conservação social e
portanto, a cultura escolar não é uma cultura neutra, é, antes, uma cultura de classe. Ela serve
para selecionar os sujeitos e segrega-los. Isso se dá porque durante o percurso escolar existem
mecanismos que eliminam os sujeitos levando em consideração o capital cultural adquirido.
Mas o que é “capital cultural”? Capital cultural é todo o acúmulo de conhecimento que
temos, e que foi recebido a partir da sua situação social, ou seja, sua posição em um
determinada classe social. Um dos fatores de constituição do capital cultural é a herança
cultural, que é responsável pela diferença inicial das taxas de êxito das crianças na escola. Um
exemplo. Uma criança de classe média, desde cedo aprende a pegar de forma certa no lápis,
talvez por uma brincadeira de querer imitar os pais, ou realmente por lhe ensinarem. Isso será
uma desvantagem para o filho do operário, que vai demorar mais para superar essa
aprendizagem do que a criança de classe média.
Para Bourdieu o capital cultural é tão importante quanto o capital econômico. Para o
autor, o sistema escolar já realiza uma seleção definida pela bagagem cultural que o aluno
possui. Sendo assim a escola separa os alunos por capital culturais herdado por sua família
dividindo-os por “nobreza” ou “simples plebeus”.
Bourdieu ainda salienta que o êxito escolar está intimamente ligado a descendência
cultural adquirida por seus ancestrais, o nível de escolaridade de seus pais e o tipo de escola
que a criança frequenta (pública particular). Uma criança que vem de uma família que tem
uma atenção maior a cultura, será desde a tenra idade são submetido uma bateria de atividades
extracurriculares que os de menor poder aquisitivo não terão condições financeiras nem
interesse pela “arte” tão importante para as classes mais altas.
Essas crianças com menos poder aquisitivo e cultural terão acesso apenas se a escola
ofertar tais modalidades como passeio no museu, peças teatrais, saraus, rodas de conversa.
Provavelmente fora do ambiente escolar, a classe baixa em grande parcela não possui
interesse ou vontade de frequentar tais espaços.
Outro ponto interessante abordado pelo autor é que as criança de camadas mais
favorecidas além de serem treinadas, elas possuem hábitos muito bem definido quanto aos
estudos é, a herança de saberes (saivor-faire), ou seja, o bom gosto pela cultura trás uma
rentabilidade maior em seu desempenho.
Esse privilégio cultural das camadas superiores se dá pelas constantes visitas ao teatro,
ao museu ou a concertos. Portanto, “os conhecimentos dos estudantes são tão mais ricos e
extensos quanto mais elevados é sua origem social”.
Outro ponto a destacar e a língua falada no meio social familiar. Esse manejo nos
primeiros anos escolares são cruciais para que as crianças desenvolvam um vocabulário mais
ou menos rico. Uma criança que esta inserida em um ambiente que as pessoas “falam de
forma errada”, elas tenderão a comunicar da mesma forma.
Bourdieu explica o funcionamento da escola e sua função de conservação social.
Segundo ele “a igualdade formal que pauta a prática pedagógica serve como máscara e
justificação para a indiferença no que diz respeito às desigualdades reais diante do ensino e da
cultura transmitida, ou, melhor dizendo, exigida”. (BOURDIEU, 1998, p. 53).
Mas qual é o principal mecanismo de conservação social, utilizado pela escola? Um
dos principais mecanismos de conservação social é a linguagem. Ela é a mais inatingível das
conquistas, pois a mais forte herança cultural é a linguagem. É nesta que estão todos os
valores e experiências de uma classe.
A linguagem falada está muito distante da linguagem utilizada no meio acadêmico.
Resumindo, a principal função da língua é “conservar os valores que fundamentam a ordem
social” (BOURDIEU, 1998, p. 56).
Mas então, porque existe o mito de que a escola promove uma ascensão social?
É fácil explicar isso. Para toda regra existe uma exceção. Alguns indivíduos escapam
desse destino coletivo, e isso causa a impressão que o sucesso depende apenas do trabalho e
dos dons de uma pessoa.
Ao que se refere as experiências vividas, sou de uma família que por parte materna
recebeu carta de alforria. Minha bisa era completamente analfabeta, assinando com a
impressão digital mas, houve uma evolução quando minha avó aprendeu a desenhar o seu
nome, sendo uma analfabeta funcional, foi responsável por trazer toda a família de 9 irmão e
mãe do interior de Minas Gerais para a capital.
Criou seus filhos com o intuito de serem educados assim como “as crianças da patroa”
que ela cuidava mas, pela quase nenhuma escolarização, foi imposto pelo marido que ao
minha mãe ficar noiva aos 14 anos ela não precisaria mais estudar, já que seria “dona de casa”
mesmo sabendo do sonho que a filha tinha de ser professora ela acatou a ordem do marido.
Apesar de minha mãe ter vivido essa realidade, decidiu fazer completamente o
contrario com seus filhos. Comecei a frequentar a escola aos 2 anos de idade e minha casa
sempre foi repleta de livros e estímulos. Na verdade minha mãe bricou de boneca e me
alfabetizou e, com 4 anos já sabia ler.
Como nem tudo são flores, nosso poder aquisitivo nunca nos permitiu ou nos
incentivou a frequentar teatros, cinemas, museus, cidades históricas e etc. Fui conhecer esses
espaços com 25 anos porque fui dama de companhia de uma moça da mesma idade que
possui Aspenger e que pertence a uma família “abastada” da sociedade mineira.
Tive a oportunidade de conhecer vários museus, espaços de arte como Palácio das
Artes, Circuito CCBB Rio de Janeiro e Belo Horizonte, museus diversos pela cidade, cidades
históricas, e teatros espalhados pelo Estado.
Ao analisar os percursos culturais de quem eu era simplesmente “dama de companhia”
com o meu, há um abismo por tudo que lhe era experenciado, pela curadoria de tantas obras
de arte expostas em suas várias casas, quadros, esculturas de artistas renomados e, então isso
era algo natural em seu meio.
Se formos fazer mais uma comparação, os resultados da prova Brasil em escolas
públicas e privadas, vemos uma diferença catastrófica nos resultados e, mesmo em escolas
privadas que utilizam o sistema de bolsas de estudos para dedução de impostos, esses alunos
terão dificuldade de acompanhar seus pares.
Escolha do Destino

O destino escolar dos alunos depende dos sistemas de valores implícitos ou explícitos
da sua posição social. O destino, então, se manifesta pela vontade da família que é
condicionada à posição social.
Essa condição dos pais regem o futuro dos filhos, pois os pais podem contestar não só
o custo dos estudos, mas a vontade dos filhos em continuar os estudos, além da chance ínfima
de os filhos continuarem os estudos e ascenderem socialmente.
Aí se verifica a razão de a pequena burguesia aderir mais à continuação dos estudos
de seus filhos, já que eles têm mais chances de prosperar devido à sua adesão à cultura
dominante. As crianças e sua família se orientam de acordo com as forças que as determinam.
Mesmo que essas forças não se apresentem explicitamente.
Sendo assim, é necessário saber
Referências

Dicionário da Educação profissional em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. 2009. Disponível


em: < http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/capcul.html>.
Acesso em 20 nov.2019

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