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FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
MANAUS
2018
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................01
1. FUNDAMENTOS DA LEI MARIA DA PENHA.......................................................02
1.1. A natureza constitucional das normas de proteção da mulher contra a violência
doméstica e familiar..............................................................................................................03
2. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
2.1. Conceito de violência doméstica....................................................................................03
2.2. Formas de violência contra a mulher..............................................................................04
2.2.1. Violência física...........................................................................................................05
2.2.2. Violência psicológica..................................................................................................05
2.2.3. Violência sexual..........................................................................................................06
2.2.4. Violência patrimonial.................................................................................................07
2.2.5. Violência moral...........................................................................................................07
3. MEDIDAS DE PROTEÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA
3.1. Medidas protetivas de urgência.....................................................................................08
3.2. Medidas que obrigam o agressor...................................................................................09
3.3. Medidas que protegem a vítima......................................................................................10
3.4. Medidas de caráter patrimonial......................................................................................10
4. O PAPEL DO PODER JUDICÁRIO NA APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA
PENHA E NO COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
4.1. Rito dos JVDFM............................................................................................................11
4.2. Competência dos JVDFM..............................................................................................12
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................13
INTRODUÇÃO
Não cabe aqui questionar as razões artísticas que levaram o autor a eternizar a frase
acima em sua obra, todavia, é fato que traz em si a síntese do imaginário popular brasileiro,
alimentado pelo machismo crônico criado pelo sistema patriarcal. A sociedade tem
dificuldade de entender os motivos pelos quais muitas mulheres não se desvencilham da
violência, física, moral e psíquica, que sofrem em seus lares, nem sempre tão doces.
O papel reservado à mulher nas relações sociais, um papel secundário, de
subserviência, garantido pela violência do sistema patriarcal, propicia condições para que o
homem sinta-se legitimado a fazer uso da força e, muitas das vezes, impede a mulher de
tomar atitudes, fazendo-a ficar inerte, impotente diante de um sistema social feito para
marginalizá-la.
Estas mulheres vítimas devem ser ajudadas para refletir melhor sobre sua situação
no mundo e sobre si mesmas. Precisam compreender o processo de violência e, a partir disto,
tomar sua decisão de romper com o ciclo de violência ou afastar-se, definitivamente do
agressor. Contudo, devem tomar tais decisões em condições de segurança física, psíquica
etc. É neste sentido que a Lei Maria da Penha cumpre o seu papel mais relevante:
disponibilizar instrumentos úteis à mulher em situação de violência doméstica e familiar.
A Lei Maria da Penha tem por objetivos coibir e prevenir a violência de gênero, seja
no contexto doméstico, familiar ou de uma relação intima afetiva, este trabalho se propõe a
estudar mais detalhadamente os fundamentos, objetos da lei, as formas de violência contra a
mulher, as medidas de proteção e o papel do Poder Judiciário no âmbito da lei.
1. FUNDAMENTOS DA LEI MARIA DA PENHA
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 226 proclama que “a família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado" e garante, no parágrafo 8º do mesmo artigo, que
o “Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram,
criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações".
A Lei Maria da Penha foi criada para atender a este compromisso constitucional e
também compromissos internacionais assumidos pelo Brasil após a redemocratização, como
se pode inferir da menção expressa, na ementa da Lei 11.340/2006, à Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e à Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. O que
demonstra a nova postura do Estado brasileiro frente aos tratados internacionais de proteção
dos direitos humanos, movido pelo consenso de estabelecer padrões protetivos mínimos
relativos aos direitos humanos.
Além dos documentos internacionais já mencionados, também podem ser elencados
como inspiradores da Lei Maria da Penha, bem como fundamentos jurídicos, a Convenção
de Viena de 1993, fruto da Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, que
pela primeira vez definiu formalmente a violência contra a mulher como violação de direitos
humanos, e a Convenção de Belém do Pará - Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência Doméstica.
A Convenção de Belém do Pará se mostrou importante instrumento para consolidar
a proteção à mulher no direito brasileiro ao conceituar a violência contra a mulher como
“qualquer ação ou conduta baseada, no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como privado". A ONU adotou esta
convenção em 1994 e seu comitê para o direito das mulheres apresentou recomendações aos
Estados membros de que devem estabelecer legislação especial sobre violência doméstica e
familiar contra a mulher, o que o Brasil cumpriu com a promulgação da lei objeto deste
trabalho, não sem antes sofrer reprimendas de organismos internacionais, como da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos no relatório sobre o caso 054/2001, que tinha por objeto
a inércia do Estado brasileiro quanto à violência sofrida por Maria Fernandes da Penha, que
veio a batizar a lei.
1.1. A natureza constitucional das normas de proteção da mulher contra a violência
doméstica e familiar.
A Lei Maria da Penha, em seu art. 5º, define violência doméstica como “qualquer
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial”. Contudo, o conceito deve ser obtido também com
a leitura do art. 7º da mesma lei, que estabelece o campo de abrangência, de forma a evitar
que todo e qualquer delito cometido contra a mulher seja considerado como violência
doméstica. Assim, a violência passa a ser doméstica quando cometida: no âmbito da unidade
doméstica; no âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto, independentemente
da orientação sexual.
É necessário, portanto, que a ação ou omissão ocorra na unidade doméstica ou
familiar ou em razão de qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a vítima, independentemente de coabitação, de forma que, basta que o
agressor e a agredida mantenham, ou já tenham mantido, um vínculo de natureza familiar.
O sujeito ativo do crime tanto pode ser um homem como uma mulher, sendo
necessária a caracterização do vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade. A
empregada doméstica, está sujeita à violência doméstica, assim, o patrão ou a patroa podem
ser sujeitos ativos, bem como o neto ou a neta que agridam os avós, os conflitos entre mãe e
filhas, assim como os desentendimentos entre irmãos também estão abarcados pela LMP,
pois todos se desenvolvem em função dos tipos de vínculo motivadores da violência.
No que diz respeito ao sujeito passivo, há exigência de uma qualidade especial: ser
mulher. Neste conceito, estão abarcadas as mulheres heterossexuais, as lésbicas, os
transgêneros e as transexuais, que tenham identidade com o sexo feminino. Não somente as
companheiras ou amantes estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica
como sujeito passivo, também as filhas e netas do agressor, incluindo sua mãe, sogra, avó
ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar com ele podem integrar o polo
passivo do delito. Contudo, há a possibilidade de o sujeito passivo não ser necessariamente
uma mulher, pois o Código Penal, em seu art. 129, §11, prevê uma majorante ao crime de
lesão corporal em sede de violência doméstica, o fato de ter sido praticada contra pessoa
portadora de deficiência, de ambos os sexos.
Art. 7º, I da LMP: “a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda
sua integridade ou saúde corporal”.
Ainda que a agressão não deixe marcas aparentes, o uso da força física que ofenda o
corpo ou a saúde da mulher constitui a violência física, ou, vis corporalis. A violência
doméstica já configurava forma qualificada de lesão corporal, pois foi inserida no Código
Penal em 2004, no § 9º do art. 129 do CP. A LMP limitou-se a aumentar a pena deste delito:
de seis meses a um ano, a pena passou para de três meses a três anos.
Não houve mudanças na descrição do tipo penal, mas ocorreu a ampliação do seu
âmbito de abrangência, visto que houve a ampliação do conceito de família, embarcando
também as unidades domésticas e as relações de afeto. Outro fato importante a mencionar é
que não somente a lesão dolosa, mas também a lesão culposa constitui violência física, pois
a lei não faz nenhuma distinção quanto à intenção do agressor.
O art. 7º, V da LMP define violência moral como “qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria”.
A violência moral encontra proteção penal nos delitos contra a honra, quando
cometidos em decorrência de vínculo de natureza familiar ou afetiva. Por isto, se verificada
esta hipótese, devem ser reconhecidos como violência doméstica, impondo-se o
agravamento da pena. São, de um modo geral, concomitantes à violência psicológica.
3. MEDIDAS DE PROTEÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA.
A Lei Maria da Penha dispõe de um rol de medidas para dar efetividade ao seu
propósito: assegurar à mulher o direito de uma vida sem violência. São medidas únicas no
Direito Penal brasileiro.
Deter o agressor e garantir a segurança pessoal e patrimonial da vítima e sua prole é
competência tanto da polícia como do juiz e do Ministério Público. Todos precisam agir de
modo imediato e eficiente.
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do
agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos
e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
O pressuposto para a concessão dessas medidas é que tenham os bens sido subtraídos
por quem a vítima mantém um vínculo familiar. A previsão de suspensão de procuração é
uma das mais providenciais, pois permite ao Juiz a possibilidade de suspender procurações
outorgados pela vítima ao agressor. no prazo de 48 horas após a denúncia.
Não vendo o magistrado justificativa suficiente para conceder a restituição pela
vítima, tem a faculdade de determinar tão somente o arrolamento dos bens ou o protesto
contra alienação de bens, como forma de assegurar a higidez do patrimônio, evitando a
possibilidade de dano irreparável.
Nos JVDFM a Lei Maria da Penha determinou a aplicação subsidiária não apenas
dos Códigos de Processo Penal e Civil, bem como do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Contudo, o legislador não se preocupou em trazer os procedimentos a serem adotados e nem
o rito a ser adotado pelos incidentes de medidas protetivas de urgência. Ainda que preveja
expressamente a proibição da aplicação do rito dos Juizados Especiais, nada impede que se
copie o rito destes, ao menos aos incidentes das medidas protetivas. Mas, no que for possível,
a oralidade, informalidade, economia processual e celeridade devem dar o tom.
Com relação aos processos, o rito está condicionado à natureza da pena. Tratando-se
de delito apenado com reclusão, o procedimento é comum; o procedimento será sumário
para os crimes com pena de detenção. Os processos com crimes contra a vida dispõem de
rito e juízo próprios, mas devem tramitar perante o JVDFM até a pronúncia.
As ações cíveis propostas pela vítima ou pelo Ministério Público, que trazem por
fundamento a violência doméstica, assumem os ritos do CPC. Demandas especiais, como a
ação de alimentos, por exemplo, preservam o procedimento previsto na lei própria.
Os JVDFM integram a justiça ordinária, tanto a União quanto os Estados podem cria-
los. Até serem implantados, foi atribuída às Varas Criminais competência cível e criminal
para conhecer e julgar a violência doméstica. Antes esses conflitos eram submetidos aos
JECRIM’s, contudo, a alteração da competência é expressa.
Foi delegada aos JVDFM a competência para o processo, julgamento e execução de
ações cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher. Disto decorre a aplicação subsidiária dos Códigos de Processo Penal e Processo
Civil, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Idoso. A lei uniu as competências em
um só magistrado. Para dar efetividade ao processo, é possível punir o agressor na órbita
criminal, tomando-se medidas de natureza civil.
Cada episódio de violência doméstica pode gerar mais de um processo: incidente de
medida protetiva, ação penal e várias ações cíveis. Se houver mais de um JVDFM na mesma
comarca, o inquérito deve ser distribuído ao juízo que apreciou o procedimento de medida
protetiva, dada a prevenção ocorrida. Pode, ainda, inexistir identidade de comarcas entre o
procedimento de medida protetiva e a ação penal, pois nos incidentes de medida protetiva
de urgência, a vítima tem a prerrogativa de eleger o foro.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.