Você está na página 1de 4

[Crimes Omissivos] Não fazer nada

pode constituir crime?


Como os crimes omissivos próprios e crimes omissivos
impróprios são tratados pela legislação penal pátria.
2
0
COMENTAR1
SALVAR

Publicado por Renan Soares

há 2 anos

6.957 visualizações

*Por Renan Soares


Esse breve artigo pretende trazer a diferenciação entre os
crimes omissivos próprios e impróprios bem como analisar os
mesmos.

Não é apenas por meio da ação que é possível praticar


condutas típicas, a não-ação, a omissão também pode ser
penalmente punível. Sendo assim, existem os crimes omissivos
próprios e os crimes omissivos impróprios.

Crimes omissivos próprios: São os que se completam com


a simples conduta negativa do sujeito, independentemente da
produção de qualquer consequência posterior. Não admitem
tentativa.
O agente tem obrigação de agir, não de evitar o resultado.
Portanto, nos crimes omissivos próprios, o agente responde
pela mera conduta de se omitir e não pelo resultado de sua
omissão, embora em alguns casos o resultado possa configurar
majorante ou qualificadora.
Tais crimes possuem sempre norma específica, um tipo penal
específico descrevendo a conduta omissiva, de modo que ao
praticar a omissão o agente se encaixa no tipo penal.

Exemplo:

Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-
lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou
à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
triplicada, se resulta a morte

Nota-se que o tipo penal descreve a conduta omissiva, que a


obrigação é de agir (prestar assistência) e que o agente
responde por sua omissão (deixar de prestar assistência) não
pelo eventual resultado, que nesse caso majora a pena. É
sabido que os crimes de mera conduta não comportam a
possibilidade de tentativa. O crime estará consumado no exato
momento da omissão. Não é possível a tentativa, ou seja, o
sujeito se omite ou não se omite, mas não há como tentar
omitir-se.

Crimes omissivos impróprios (ou comissivos por


omissão): são aqueles em que o tipo penal descreve uma
conduta ativa, ou seja, uma ação. Nesse caso, o agente será
responsabilizado por ter deixado de agir quando estava
juridicamente obrigado a desenvolver uma conduta para evitar
o resultado.
O agente não tem simplesmente a obrigação de agir, mas sim
a obrigação de agir para evitar um resultado. Nos crimes
omissivos impróprios o agente tem a obrigação legal de evitar
o resultado e por isso responde pelo mesmo, portanto é
possível a tentativa. Chama-se o agente obrigado legalmente a
evitar o resultado de garantidor ou garante.
Ressalta-se, no entanto, que somente será atribuído ao agente
garante a responsabilidade por sua conduta omissiva se, nas
circunstâncias, for possível agir para evitar o resultado. Ex: se
um médico plantonista deixa de atender um paciente que
falece, porque estava atendendo a outro enfermo em situação
de emergência, à evidência, não poderá ser responsabilizado
pela morte do paciente que aguardava atendimento.

O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o


agente assume a condição de garantidor.
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
[...]
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente
devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
ocorrência do resultado.

Comentarei, brevemente, cada uma das possibilidades, com o


objetivo de exemplificar:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;


É o caso, por exemplo, do dever de cuidar dos pais em relação
aos filhos. A mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta
da sua negligência, acaba morrendo por inanição. Essa mãe
deverá responder pelo resultado gerado, qual seja, homicídio
culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou
assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio
doloso.

b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o


resultado
Nesse caso pode ou não existir um contrato entre as partes. O
importante é que o sujeito se coloque em posição de
garantidor. O exemplo clássico é o do salva-vidas de piscina
que se distrai conversando e uma pessoa morre afogada no seu
turno, o salva-vidas responde por homicídio culposo. Se, de
outro lado, o salva-vidas desejou a morte da pessoa ou assumiu
o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso.

c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência


do resultado
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria
situação de perigo para bens jurídicos alheios penalmente
tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado a
evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão.

Um bom exemplo é o do veterano que por ocasião de um trote


acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar, joga o
calouro na piscina. Nesse momento, o veterano contrai o dever
jurídico de agir para evitar o resultado, sob pena de responder
por homicídio.

Os crimes cometidos por meio de omissão podem gerar


dúvidas quanto a responsabilidade exata dos envolvidos, pois,
a conduta criminosa é quase sempre associada à ideia de ação.
Porém, como foi explanado, o não-agir também pode se
enquadrar em tipos penais. Espero ter contribuído para um
melhor entendimento do tema e como sempre o debate está
aberto nos comentários.

Você também pode gostar