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Técnico/a de Jardinagem

Viver em Português
A Literatura do Nosso Tempo

Formador(a): Rosa Manuela Monteiro Moreira Neves

1
ÍNDICE

Objetivos................................................................................................................................................ 3
Conceito de literatura...................................................................................................................... 5
Conceito de textos literaá rios.......................................................................................................... 7
A literatura portuguesa do seá culo XX........................................................................................ 9
A relaçaã o da literatura portuguesa do seá culo XX com outras formas de expressaã o
artíástica............................................................................................................................................... 17
Os autores e a sua produçaã o literaá ria - que geá neros literaá rios e que temaá ticas. . .25
Agustina Bessa Luíás........................................................................................................................ 25
Antoá nio Lobo Antunes.................................................................................................................. 28
David Mouraã o Ferreira.................................................................................................................. 30
Dinis Machado.................................................................................................................................. 32
Joseá Cardoso Pires.......................................................................................................................... 34
Joseá Saramago.................................................................................................................................. 35
Líádia Jorge.......................................................................................................................................... 37
Manuel Alegre................................................................................................................................... 39
Sophia de Mello Breyner Andresen......................................................................................... 41
Vergíálio Ferreira............................................................................................................................... 45
Bibliografia e Netgrafia................................................................................................................. 46

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OBJETIVOS GERAIS DO MANUAL

Pretende-se com este módulo de formação que o grupo de formandos seja capaz de:

- Perceber o conceito de literatura

- Distinguir o conceito de texto literaá rio

- Compreender a relaçaã o da literatura portuguesa do seá culo XX de outras formas de


arte

- Distinguir os autores e a sua produçaã o literaá ria – Geá neros literaá rios e temaá ticas

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO MANUAL

Identificar caracteríásticas geneá ricas do texto literaá rio.

Caraterizar genericamente os diferentes geá neros literaá rios.

Distinguir os vaá rios geá neros literaá rios.

Estabelecer relaçoã es entre a literatura portuguesa do seá culo XX e outras formas de expressaã o artíástica.

Identificar fontes de influeê ncia de diferentes correntes ou autores nacionais e estrangeiros.

Reconhecre um conjunto de autores representativos do seá culo XX e relaciona-os com a sua forma de

escrita e principais obras.

Desenvolver capacidades de leitura, interpretaçaã o, anaá lise críática e de apreço pela arte.

MODALIDADE DE FORMAÇÃO

Curso de aprendizagem

FORMAS DE ORGANIZAÇÃO

Presencial

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Conceito de literatura
Literatura é a arte de compor escritos artísticos, em prosa ou em verso, de acordo com
princíápios teoá ricos e praá ticos, o exercíácio dessa arte ou da eloqueê ncia e poesia.
A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e possivelmente uma traduçaã o
do grego "grammatikee". Em latim, literatura significa uma instrução ou um conjunto de
saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e relaciona-se com as artes da gramaá tica, da
retoá rica e da poeá tica. Por extensaã o, refere-se especificamente aà arte ou ofíácio de escrever de forma
artíástica. O termo Literatura tambeá m eá usado como refereê ncia a um corpo ou um conjunto
escolhido de textos como, por exemplo, a literatura meá dica, a literatura inglesa, literatura
portuguesa, literatura japonesa etc.

Mais produtivo do que tentar definir Literatura talvez seja


encontrar um caminho para decidir o que torna um texto, em sentido lato, literaá rio. A definição de
literatura está comumente associada à ideia de estética, ou melhor, da ocorrência de algum
procedimento estético. Um texto eá literaá rio, portanto, quando consegue produzir um efeito
esteá tico e quando provoca catarse, o efeito de definiçaã o aristoá teá lica, no recetor. A proá pria natureza
do caraá ter esteá tico, contudo, reconduz aà dificuldade de elaborar alguma definiçaã o
verdadeiriamente estaá vel para o texto literaá rio. Para simplificar, pode-se exemplificar atraveá s de
uma comparaçaã o por oposiçaã o. Vamos opor o texto científico ao texto artístico: o texto
cientíáfico emprega as palavras sem preocupaçaã o com a beleza, o efeito emocional. No texto

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artístico, ao contrário, essa será a preocupação maior do artista. EÉ oá bvio que tambeá m o
escritor procura instruir, e perpassar ao leitor uma determinada ideia; mas, diferentemente do
texto cientíáfico, o texto literaá rio une essa instruçaã o à necessidade estética que toda obra de arte
exige. O texto cientíáfico emprega as palavras no seu sentido dicionarizado, denotativamente,
enquanto o texto artíástico visa empregar as palavras com liberdade, preferindo o seu sentido
conotativo, figurado. O texto literário é, portanto, aquele que pretende emocionar e que, para
isso, emprega a língua com liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do sentido
metafórico das palavras.
A compreensaã o do fenoá meno literaá rio tende a ser marcada por alguns sentidos, alguns marcados
de forma mais enfaá tica na histoá ria da cultura ocidental, outros diluíádos entre os diversos usos que
o termo assume nos circuitos de cada sistema literário particular.

Assim encontramos uma conceção


"clássica", surgida durante o Iluminismo (que podemos chamar de "definição moderna
clássica", que organiza e estabelece as bases de periodizaçaã o usadas na estruturaçaã o do canone
ocidental); uma definição "romântica" (na qual a presença de uma intençaã o esteá tica do proá prio
autor torna-se decisiva para essa caracterizaçaã o); e, finalmente, uma "conceção crítica" (na qual
as definiçoã es estaá veis tornam-se passíáveis de confronto, e a partir da qual se procuram modelos
teoá ricos capazes de localizar o fenoá meno literaá rio e, apenas nesse movimento, "defini-lo"). Deixar
a cargo do leitor individual a definição implica uma boa dose de subjetivismo, (postura
identificada com a matriz romaê ntica do conceito de "Literatura"); a menos que se queira ir aà s raias
do solipsismo, encontrar-se-aá alguma necessidade para um diaá logo quanto a esta questaã o. Isto
pode, entretanto, levar ao extremo oposto, de considerar como literatura apenas aquilo que eá
entendido como tal por toda a sociedade ou por parte dela, tida como autorizada aà definiçaã o. Esta

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posiçaã o naã o soá sufocaria a renovaçaã o na arte literaá ria, como tambeá m limitaria excessivamente o
corpus jaá reconhecido.
De qualquer forma, destas treê s fontes (a "claá ssica", a "romaê ntica" e a "críática") surgem conceitos
de literatura, cuja pluralidade não impede de prosseguir a classificações de género e
exposição de autores e obras.

Conceito de textos literaá rios


Os textos literários saã o aqueles que, em geral, teê m o objetivo de emocionar o leitor, e para
isso exploram a linguagem conotativa ou poeá tica. Em geral, ocorre o predomíánio da funçaã o
emotiva e poeá tica.

Exemplos de textos literaá rios:


 Poemas;

 Romances literaá rios;

 Contos

 Telenovelas.

Assim como a muá sica, a pintura e a dança, a literatura eá considerada uma arte. Através dela,
temos contacto com um conjunto de experiências vividas pelo homem sem que seja preciso
vivê-las.

A literatura eá um instrumento de comunicação, pois transmite os conhecimentos e a cultura


de uma comunidade. O texto literaá rio permite-nos identificar as marcas do momento em que foi
escrito. Por outro lado, as obras literaá rias ajudam-nos a compreender as mudanças do
comportamento do homem ao longo dos seá culos, e a partir dos exemplos, refletir sobre noá s
mesmos.

O texto literário apresenta:


Ficcionalidade: os textos naã o fazem, necessariamente, parte da realidade.

Funçaã o esteá tica: o artista procura representar a realidade a partir da sua visaã o.

1
Plurissignificaçaã o: nos textos literaá rios as palavras assumem diferentes significados.

Subjetividade: expressaã o pessoal de experieê ncias, emoçoã es e sentimentos.

Relacionando o texto literário ao naã o-literaá rio, devemos considerar que o texto literaá rio
tem uma dimensão estética, plurissignificativa e de intenso dinamismo, que possibilita a
criação de novas relações de sentido, com predomínio da função poética da linguagem. EÉ ,
portanto, um espaço relevante de reflexão sobre a realidade, envolvendo um processo de
recriaçaã o luá dica dessa realidade. No texto naã o-literaá rio, as relaçoã es saã o mais restritas, tendo em
vista a necessidade de uma informaçaã o mais objetiva e direta no processo de documentaçaã o da
realidade, com predomíánio da funçaã o referencial da linguagem, e na interaçaã o entre os indivíáduos,
com predomíánio de outras funçoã es.

Exemplo de um texto literário:


Com maã os se faz a paz se faz a guerra.
Com maã os tudo se faz e se desfaz.
Com maã os se faz o poema - e saã o de terra.
Com maã os se faz a guerra - e saã o a paz.

Com maã os se rasga o mar. Com maã os se lavra.


Naã o saã o de pedras estas casas, mas
de maã os. E estaã o no fruto e na palavra
as maã os que saã o o canto e saã o as armas.

E cravam-se no tempo como farpas


as maã os que veê s nas coisas transformadas.
Folhas que vaã o no vento: verdes harpas.

De maã os eá cada flor, cada cidade.


Ningueá m pode vencer estas espadas:
nas tuas maã os começa a liberdade.
Manuel Alegre

A literatura portuguesa do seá culo XX


A fase de decadeê ncia que a monarquia atravessava deixava jaá antever mudanças políáticas (a
implantação da República parecia inevitável) que levaram a cogitaçoã es sobre o destino dum
paíás longe da grandiosidade doutras eras. Tal contemplaçaã o do passado confundia-se

1
compreensivelmente com um sentimento de saudade que, no iníácio do seá c. XX, eá mais do que um
recurso literaá rio e se torna mesmo um conceito filosoá fico.
Teixeira de Pascoaes (1877-1952) seraá o principal mentor desta corrente literaá rio-filosoá fica, cuja
doutrina estabelece em obras como Maraê nces (1911) e Elegia de Amor (1924).

A revista Águia, lançada por Pascoaes e editada entre 1910 e 1930, seraá a primeira de uma seá rie
de publicaçoã es literaá rias perioá dicas onde se vaã o encontrar os nomes mais significativos e
inovadores da literatura portuguesa das primeiras deá cadas do novo seá culo.

Uma das mais efémeras mas mais relevantes seria Orpheu, cujo primeiro nuá mero surgiu em
1915 e iria divulgar em Portugal o Modernismo europeu, concretamente o Futurismo de
Phillippo Marinetti, autor italiano partidaá rio duma "atualizaçaã o" da literatura e da arte em
geral em relação aos novos tempos de progresso tecnológico.

Os primeiros mentores do Orpheu foram Fernando Pessoa (1888-1935), Mário de Sá-


Carneiro (1890-1915) e Almada Negreiros (1893-1970), o mais provocador e versaá til de todos,
nome tambeá m prestigiado das artes plaá sticas.

 Sá-Carneiro publicou alguns contos, mas tornar-se-ia conhecido sobretudo como poeta.
Dispersaã o (1914) revela logo no tíátulo a dificuldade de concentraçaã o, a pluralidade de opçoã es com
que o seu interior se confrontava, anunciando jaá o termo traá gico que daria aà sua vida.

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 Fernando Pessoa nunca viria a conhecer em vida uma íánfima parcela da fama de que,
deá cadas depois da sua morte, a sua obra seria alvo. Caso uá nico na literatura mundial, Pessoa foi
aleá m da sua proá pria personalidade enquanto escritor e criou uma seá rie de heteroá nimos, autores
por si imaginados, com estilos proá prios e diferentes atitudes perante a vida.

 A Fernando Pessoa, ele próprio, terá de chamar-se, em literatura, ortónimo, isto eá ,


autor de textos assinados com o seu nome; saã o em grande parte poesia de caraá cter filosoá fico,
centrada no misteá rio da vida. Mensagem foi o uá nico livro que viu publicado (em 1934) e conteá m
uma abordagem messiaê nica de aspetos da histoá ria de Portugal, envolta num grande misticismo.

O primeiro dos mais conhecidos heterónimos criados por


Fernando Pessoa foi Alberto Caeiro, campesino pouco instruíádo, detentor duma sabedoria
muito proá pria, duma capacidade de anaá lise muito natural, mas nem por isso menos profunda.
Álvaro de Campos, a que Pessoa atribui a profissaã o de engenheiro naval, eá o arauto do mundo
novo, mecanicista, onde o progresso eá visíável em cada nova maá quina que irrompe na paisagem. As
suas odes oscilam entre o entusiasmo pelas transformaçoã es que marcam as primeiras deá cadas do
novo seá culo e um certo teá dio e desencanto perante a sua proá pria incapacidade de mudar o (seu)
mundo. Curiosamente definido (biografado) por Pessoa como um monaá rquico exilado no Brasil,

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Ricardo Reis eá um meá dico apaixonado pelos claá ssicos cujos poemas combinam um caraá cter
morigerador com a defesa da liberdade de cada indivíáduo.
 Camilo Pessanha (1867-1926) eá o primeiro verdadeiro poeta simbolista portugueê s, com
uma produçaã o marcada por um ritmo e uma musicalidade invulgares.

 Ex-colaboradores da revista Águia juntaram-se para dar iníácio a uma nova publicaçaã o
literaá ria, Seara Nova, que, entre 1921 e 1982, se tornou especialmente conhecida pelos ensaios
(naã o soá sobre literatura) que as suas paá ginas acolheram. Dos vultos inicialmente ligados a esta
publicaçaã o merecem destaque o historiador Jaime Cortesaã o (1884-1960), o escritor Raul Brandaã o
(1867-1930), expressionista que se preocupou em dar voz aos menos favorecidos, descrevendo as
suas difíáceis condiçoã es de vida, e que obteve alguma popularidade com Os Pescadores (1923),
Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), escritor que foi tambeá m presidente da repuá blica, e Aquilino
Ribeiro (1885-1963).

 Aquilino Ribeiro imprimiu um tom regionalista aos seus romances a par duma linguagem
riquíássima. O Malhadinhas (1922) e Terras do Demo (1928), entre outros, trazem aà literatura
portuguesa a vida dura dos habitantes das regioã es mais isoladas do paíás, em descriçoã es que ainda
hoje naã o seriam de todo despropositadas.

De 1927 a 1940 haá a salientar a importaê ncia da


revista Presença, de que emergem nomes como Joseá Reá gio (1901-1969) e Miguel Torga (1907-
1995).

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 José Régio demonstrou a sua versatilidade em aá reas como o teatro, a poesia, o romance e o
ensaio. A temaá tica dos seus trabalhos de ficçaã o insere-se frequentemente numa autoanálise a que
não é alheio algum misticismo e, sobretudo, o conflito entre o Homem e Deus. Enquanto
ensaíásta dedicou-se aà literatura portuguesa, sendo um dos primeiros a abordar a obra de Florbela
Espanca (1894-1930), poetisa independente de movimentos literaá rios e que ousou passar a versos
uma sensualidade ateá entaã o desconhecida na (entaã o ainda escassa) literatura feminina. Dos seus
poemas naã o estaá tambeá m ausente um sentimento de desencanto perante a falta de oportunidades
que a vida lhe dava no sentido de alcançar uma existeê ncia de menos sofrimento e solidaã o, aà qual
acabou por poê r termo.

Voltando à revista Presença e à inclusão de Miguel Torga nas suas páginas, forçoso eá referir
que o seu espíárito intrinsecamente independente (patente, por exemplo, num Diaá rio que manteve
durante deá cadas) o levou a atingir um estatuto relevante na literatura portuguesa que faz com que
a sua obra seja analisada fora da integraçaã o em correntes literaá rias. Da sua vasta produçaã o, em que
sobressai o talento de contista, merecem destaque Bichos (1940) e Contos da Montanha (1941),
onde a força da natureza se interliga com uma certa religiosidade.
Dotado do mesmo espíárito independente, perante a vida e a literatura, Ferreira de Castro (1898-
1974) começou por escrever fora de Portugal, jaá que emigrou com doze anos para o Brasil, onde
trabalhou como seringueiro na Amazoá nia e, posteriormente, como jornalista. Emigrantes (1928) e
A Selva (1930) saã o exemplos duma prosa vivida que espelha muitos aspetos da sua experieê ncia
pessoal. AÀ medida que a sua obra vai crescendo vaã o-se notando tambeá m mudanças a níável da
linguagem, mais rica em A Laã e a Neve (1947), e da composiçaã o das personagens, mais
aprofundada em A Missaã o (1954).

Porque relatou muito do que viveu e, essencialmente, porque fez uma descrição bastante
pormenorizada das duras condições de vida das classes trabalhadoras, há quem considere
Ferreira de Castro o introdutor do Neorrealismo na literatura portuguesa. A níável ideoloá gico,
poreá m, faltar-lhe-aá (e muitos consideram isso importante) a militaê ncia políática (ou mesmo
políático-partidaá ria) que, em especial no caso do Neorrealismo portugueê s, marcou este movimento.
Apoá s o golpe de estado de 1926, os partidos políáticos (entre os quais o Partido Comunista
Portugueê s) soá podiam sobreviver na clandestinidade e a censura foi assaz severa para com a
imprensa e a literatura. A revista Veá rtice usufruiu duma atividade regular consideraá vel, tendo em

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conta os condicionalismos impostos pela Comissaã o de Censura, e foi, por assim dizer, o oá rgaã o
difusor do Neorrealismo, tentando, tanto quanto possíável, dar expressaã o literaá ria aos conflitos
sociais e aà luta do proletariado.
 Soeiro Pereira Gomes (1909-1949), autor de Esteiros (1941), obra dedicada a "homens
que nunca foram meninos", Alves Redol (1911-1969), romancista, entre outros, de Gaibeá us (1940)
e Barranco de Cegos (1962), e Manuel da Fonseca (1911-1993), fecundo autor que chegou a ver
obras suas adaptadas ao cinema e ao teatro apoá s a Revoluçaã o de 25 de Abril de 1974, como
Cerromaior (1943) e Seara de Vento (1958), foram alguns dos expoentes desta corrente literaá ria
empenhada na transmissaã o duma perspetiva marxista da vida e na discussaã o dos problemas dos
extratos sociais mais humildes.

O desenvolvimento doutras formas de comunicação social ao longo do séc. XX tornou alguns


escritores nomes familiares do chamado grande puá blico, o que nem sempre, todavia, significava
que a sua produçaã o literaá ria se tornasse substancialmente mais lida, uma vez que naã o se foram
desenvolvendo haá bitos de leitura na populaçaã o.
 Vitorino Nemésio (1901-1978), por exemplo, tornou-se especialmente conhecido por
apariçoã es semanais na televisaã o nos anos 70, em que evidenciava um estilo coloquial cativante que
naã o escondia uma vasta cultura. Atraá s de si tinha, poreá m, deá cadas de actividade como escritor e
professor de literatura. Foi poeta, romancista e ensaíásta e deixou vincada na sua obra a origem
açoriana e um sentido apego a tradiçoã es populares. Mau Tempo no Canal (1944) reflete bem a
consciência social e literária dum escritor fisicamente ausente da sua terra natal, mas que a
ela recorre como tema inesgotável.

Nos anos 60 o cinema foi veículo divulgador de parte da obra de Fernando Namora (1919-
1989), meá dico de profissaã o, que passou do Neorrealismo ao Existencialismo aà medida que, no
desempenho dessa atividade, se afastou dos meios rurais e se radicou nos centros urbanos.
Retalhos da Vida dum Meá dico, com um primeiro volume lançado em 1949, relatando experieê ncias
vividas no interior do paíás, e outro publicado em 1963, jaá com refereê ncias ao exercíácio da Medicina
na capital, permitem, por si soá , acompanhar a transformaçaã o do escritor e foram adaptados ao
cinema, tal como Domingo aà Tarde (1961), em que formula jaá questoã es de ordem metafíásica.
A reflexão sobre a natureza humana foi praticamente o tema (mas com diferentes
abordagens) de quase toda a produção literária de Vergílio Ferreira (1916-1996), exemplo

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mais claro do Existencialismo. Tambeá m graças a uma conseguida adaptaçaã o cinematograá fica,
Manhaã Submersa, um dos seus primeiros livros (1944), tornou-se um eê xito literaá rio muito apoá s a
sua primeira ediçaã o. Escritor dos mais premiados a níável nacional e internacional, Vergíálio Ferreira
deixou num diaá rio publicado desde 1981, Conta-Corrente, um contributo para o entendimento das
mudanças sociais operadas no Portugal poá s-25 de Abril.
Idêntica contribuição proveio de Natália Correia (1923-1993), muito mais conhecida pela sua
poesia e pela truculeê ncia das suas intervençoã es na sociedade portuguesa, antes e depois da
reinstalaçaã o da democracia. Sem se integrar numa corrente literaá ria precisa, Nataá lia Correia, que
tambeá m abraçou a dramaturgia e o ensaio e foi responsaá vel pela organizaçaã o de antologias, toca
pontualmente o Surrealismo, um surrealismo que, em Portugal, surge algo independente no tempo
em relaçaã o aà s literaturas doutros paíáses.
Mais claramente ligada a essa corrente, mas naã o presa a ela, eá a produçaã o poeá tica de Alexandre
O'Neill (1924-1986), repleta de ironia e sarcasmo. Como sucedeu com outros poetas, O'Neill viu (e
nisso colaborou empenhadamente) alguns dos seus textos musicados e interpretados
principalmente por Amaá lia Rodrigues, a mais prestigiada cantora portuguesa. O fado foi um
veíáculo para a divulgaçaã o junto de todas as classes de poemas de autores como Pedro Homem de
Mello (1904-1984), oriundo da Presença e profundo estudioso do folclore portugueê s, ou David
Mouraã o-Ferreira (1927-1996), tambeá m contista, ensaíásta e professor catedraá tico, por cuja obra
perpassa um erotismo e uma elegaê ncia formal uá nicos na literatura portuguesa.
 David Mourão-Ferreira foi também o que pode designar-se dum "poeta de Lisboa",
sendo de ter presente que a capital portuguesa foi o último bastião das tertúlias literárias.
Particularmente a Lisboa se associa tambeá m uma certa boeá mia intelectual, vivida e admirada, por
exemplo, por Joseá Cardoso Pires (1925-1998), que preferiu deixar patentes as suas preocupaçoã es
sociais e políáticas numa literatura objetiva, algo influenciada pelos mestres contistas norte-
americanos e fortemente críática em relaçaã o aà atuaçaã o do Estado Novo.

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O Delfim (1968) e Dinossauro Excelentíssimo (1972) saã o romances que revelam uma oposiçaã o
contundente aos valores mais preservados pelo regime anterior aà Revoluçaã o de 25 de Abril de
1974 e que mais contribuíáam para a atmosfera fechada (dir-se-ia mesmo sufocante) entaã o vivida
em Portugal. Cardoso Pires consegue um outro grande eê xito literaá rio e de vendas com Balada da
Praia dos Caã es (1982), sobre um caso famoso ocorrido no seio da oposiçaã o ao salazarismo no
iníácio dos anos 60.

A deá cada de 60, com a eclosaã o da Guerra Colonial, foi, aliaá s, determinante na tomada de
conscieê ncia políática de muitos escritores, que, mesmo sem uma atividade militante, usaram a
palavra como arma contra a situaçaã o vigente. Sophia de Mello Breyner Andresen (nascida em
1919), apoá s uma fase de literatura voltada para o universo infanto-juvenil e duma poesia com uma
linguagem extremamente equilibrada, marcada pela admiraçaã o pela civilizaçaã o grega, passa com
Livro VI (1962) a mostrar de forma cada vez mais clara a sua oposiçaã o a situaçoã es de injustiça.
Apoá s a Revoluçaã o de Abril, Sophia de Mello Breyner Andresen tem sido uma das escritoras mais
premiadas e homenageadas.
 A chamada Revolução dos Cravos trouxe consigo a aboliçaã o da censura e uma maior
divulgaçaã o das obras literaá rias, ainda que jaá naã o tanto ao abrigo de revistas literaá rias. Haá , de
qualquer modo, a salientar o Jornal de Letras, publicado com assinalaá vel periodicidade desde o
iníácio dos anos 80, e a maior informaçaã o sobre novidades literaá rias na comunicaçaã o social.

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Aumentou o número de prémios literários, para primeiras obras e para a consagração de
carreiras. Agustina Bessa-Luís (nascida em 1922), profíácua romancista, íámpar na capacidade de
anaá lise de personagens e situaçoã es e frequentemente influenciada por momentos e figuras da
histoá ria de Portugal, eá certamente dos nomes mais premiados. O seu romance A Sibila (1954) eá
unanimemente considerado um marco na literatura portuguesa, tendo jaá constado dos programas
oficiais do ensino secundaá rio.

A divulgaçaã o da literatura nas escolas tem sido alvo de amplo debate, sendo praticamente
impossíável chegar-se a uma conclusaã o sobre que autores incluir nas cadeiras ligadas aà líángua e
cultura portuguesa. Os haá bitos de leitura nunca foram grandes (e, sobretudo, nunca foram
devidamente fomentados) entre os Portugueses, embora haja aumentado o nuá mero de bibliotecas,
e novas formas de ocupaçaã o dos tempos livres mostram-se, de certo modo, adversaá rias da
literatura, pelo menos na sua forma mais tradicional. Alguns jovens autores, muito em especial na
aá rea da poesia, como, por exemplo, José Luís Peixoto ou Jacinto Lucas Pires (tambeá m com
incursoã es no teatro), teê m sido bem-sucedidos na aceitaçaã o dos seus trabalhos, naã o descurando
uma linguagem mais proá xima da que eá usada no dia-a-dia pelas camadas mais jovens e
procurando formas atuais (especialmente no primeiro caso) de divulgaçaã o das suas obras.

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 A transição do séc. XX para o séc. XXI testemunha tambeá m o aparecimento duma
literatura leve (eá frequentemente chamada de "light"), fenoá meno algo recente em Portugal mas
desde haá deá cadas bastante comum noutras latitudes (com designaçoã es como, por exemplo,
"literatura de aeroporto") e que, se bem que recebida, no míánimo, com reticeê ncias por parte dos
cíárculos mais literatos, trouxe, pelo menos, a vantagem de ter conseguido atingir assinalaá veis
volumes de vendas. Se os receá m-conquistados leitores decidiraã o "atravessar a ponte" e alcançar
uma outra margem literaá ria, formal e ideologicamente mais complexa, eá uma questaã o que fica em
aberto para o novo seá culo.

A relaçaã o da literatura portuguesa do seá culo


XX com outras formas de expressaã o artíástica
A literatura é de facto um elemento importante no património cultural e artístico de um
povo. Sabemos que inerente a um povo estaá uma cultura, e a esta estaá uma líángua. Essa líángua
surge como base para a literatura da cultura. Temos entaã o uma relaçaã o muito estreita entre o
patrimoá nio cultural de uma determinada eá poca que caracteriza essa cultura e a literatura dessa
mesma eá poca. Tomemos como exemplo a eá poca dos Descobrimentos em que o povo portugueê s
teve uma ascensaã o da sua gloá ria e, inerente a esta eá poca encontra-se uma das obras literaá rias mais
importantes do nosso patrimoá nio – Os Lusíadas, de Luís de Camões.

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Nesta obra, leê -se as viagens atribuladas mas vitoriosas que os portugueses fizeram na eá poca em
questaã o. Este exemplo, ilustra na perfeiçaã o a relaçaã o estreita que existe entre o patrimoá nio cultural
e artíástico e as obras literaá rias do mesmo povo, podemos entaã o dizer que sem a literatura a naçaã o
seria mais empobrecida, e sem tanta riqueza para nos dar.
A literatura tem um papel bastante importante no enriquecimento pessoal do indivíduo.
Conhecer a literatura que caracteriza a nossa cultura e o nosso patrimoá nio artíástico cultiva-nos
enquanto cidadaã os e pessoas. A literatura tem tambeá m a funçaã o social, pois identifica o leitor e a
sua esperança de vida representados na obra literaá ria. A literatura eá a transfiguraçaã o do real, eá
nela que estaã o retratados os sentimentos humanos e as diversas formas de relaçaã o do homem com
aquilo que sente.
Ler é criar consciência do que somos, eá examinar o mundo em que vivemos para transformaá -lo
no mundo em que gostaríáamos de viver. Ler eá libertaçaã o, pois nada nos protege melhor da tirania,
da estupidez do sectarismo religioso ou políático e da ignoraê ncia, do que o conhecimento. Nos
livros estaá registada toda a conscieê ncia da humanidade e eá atraveá s deles que nos tornamos
humanos mais conscientes.
Por tudo isto considero fundamental conhecer as obras literárias para compreender melhor
as influências que têm em nós e na nossa vida na sociedade.

ÉPOCA MEDIEVAL

A literatura medieval eá um tema vasto, abrangendo


essencialmente todas as obras escritas disponíáveis na Europa e
aleá m durante a Idade Meá dia (abrangendo o mileá nio que vai da
queda do Impeá rio Romano em cerca de 500, ateá o iníácio da
Renascença florentina em fins do seá culo XV.
A literatura desta eá poca era composta de escritos religiosos bem
como de obras seculares. Da mesma forma que a literatura
moderna, eá um complexo e rico campo de estudo que vai do totalmente sagrado ao
exuberantemente profano, passando por todos os pontos intermediaá rios.

1
Por causa da vasta extensaã o de tempo e espaço eá difíácil falar em termos gerais sem simplificar em
demasia e assim, a literatura eá melhor caracterizada por seu lugar de origem e/ou linguagem, bem
como por seu geá nero. Nesta eá poca destacamos Gil Vicente.
Gil Vicente viveu entre o fim da Idade Média e o começo (português) do Renascimento; por
isso a sua obra reflete valores sociais, religiosos e culturais muito diversificados. Gil Vicente jaá
tivera contacto com representaçoã es lituá rgicas, por altura do Natal e da Paá scoa, e com algum
repertoá rio coá mico de "feiçaã o improvisada e naã o literaá ria", como os momos aristocraá ticos e
cortesaã os, considerados como as primeiras manifestaçoã es teatrais em Portugal. EÉ como poeta
líárico e dramaá tico e como críático, eivado dum espíárito reformador, observando a sociedade e o
comportamento de tíápicos grupos humanos, que Gil Vicente tem mantido bastante da sua
atualidade. Autor de uma obra variada, que ele proá prio divide em comeá dias, farsas e moralidades,
Gil Vicente naã o teve apenas preocupaçoã es de realizaçaã o literaá ria.

RENASCIMENTO

Movimento cultural que se desenvolveu em países


da Europa Central e Ocidental como a Itália
(passando sucessivamente de Florença a Siena e
depois a Roma, e alastrando posteriormente a toda a
Peníánsula Italiana) nos seá culos XIV a XVI e que veio a
irradiar e a ter fundas repercussoã es na cultura de
praticamente todos os paíáses do continente europeu.
As figuras de proa do movimento gostavam de se apresentar como críáticos do "obscurantismo"
medieval, numa atitude de contestaçaã o aà tradicional influeê ncia da religiaã o na cultura, no
pensamento e na vida quotidiana ocidental. Esta atitude comportava a minimização de
movimentos culturais que, desde o século XII, vinham contestando a religiaã o e o papel cultural
preponderante da Igreja, e que foram na realidade os precursores histoá ricos do Renascimento
italiano. O fator social que tornou possíável a eclosaã o e sobreviveê ncia do movimento renascentista
foi a ascensaã o de uma burguesia ligada aà banca e aos grandes negoá cios internacionais, portadora
de uma ideologia individualista e ansiosa por desfrutar da autoridade políática que ateá entaã o
estivera concentrada exclusivamente nas maã os de nobres e eclesiaá sticos. O movimento

1
renascentista começa por ser uma contestaçaã o da ideologia dominante durante o mileá nio
medieval: aà civilizaçaã o cristaã contrapoã e-se uma ideologia antropoceê ntrica, revelando um
desiderato de fazer renascer a Antiguidade greco-latina, que, na interpretaçaã o entaã o prevalecente,
se caracterizara precisamente por colocar o homem no centro do Universo e representava um
ideal de civilizaçaã o natural. Estudam-se os claá ssicos com rigor e minuá cia, com o apoio de uma
filologia que conhece um desenvolvimento fulgurante, enquanto, pela mesma ordem de razoã es,
revive e se intensifica o interesse pela histoá ria (em detrimento da croá nica medieval), meio
privilegiado de conhecimento do passado "aá ureo" que se pretende imitar ou reproduzir e surgem
seá rias iniciativas de investigaçaã o arqueoloá gica (sem as quais, obviamente, teria sido impossíável
conhecer em detalhe a arte antiga, nas suas muá ltiplas manifestaçoã es).

O mesmo espírito crítico que se aplica ao conhecimento das literaturas clássicas e à história
volta-se para as ciências, traduzindo-se num incremento do estudo das ciências exatas,
como a astronomia e a matemática que lhe estaá intimamente ligada, das cieê ncias da natureza e
dos estudos experimentais. Concomitantemente, a aplicaçaã o praá tica das cieê ncias permite fecundos
desenvolvimentos da teá cnica. Na arte produzem-se notaá veis inovaçoã es.
A pintura apresenta não apenas retratos (manifestaçaã o do gosto artíástico da burguesia
individualista em ascensaã o) como tambeá m paisagens, aparece o nu humano realista (que jaá naã o eá a
pintura simboá lica de Adaã o e Eva que a Idade Meá dia vira difundir-se largamente) e os temas da
mitologia claá ssica convivem com os temas pictoá ricos inspirados pela religiaã o cristaã . Esta
iconografia naã o se limita a tratar temas diferentes de um modo original; a figura dos seus autores
ganha, simultaneamente, um estatuto social elevado, de grande prestíágio, tambeá m ele
caracterizado por uma postura individualista (saã o obras de autor, assinadas pelos criadores e jaá
naã o produçoã es anoá nimas ou coletivas de oficina). Tecnicamente, a pintura sofre igualmente uma
evoluçaã o notoá ria, pelo recurso aà riqueza da policromia e pela introduçaã o da perspetiva e da
sensaçaã o de movimento, sempre na busca de uma mais perfeita aproximaçaã o aà realidade.
Igualmente a arquitetura se deixa influenciar pelos caê nones greco-latinos, cujas formas e volumes
saã o integrados nas novas construçoã es (as colunas, por exemplo), tentando-se a criaçaã o de uma
nova esteá tica, onde tem lugar primacial a grandiosidade dos edifíácios. As grandes obras
arquitetoá nicas saã o acompanhadas por uma profusaã o de esculturas, onde se privilegia a figura

1
humana, reproduzida de modo assumidamente realista. No renascimento destacamos o Famoso
Luís de Camões que eá frequentemente considerado como o maior poeta de líángua portuguesa e
dos maiores da Humanidade O seu geá nio eá comparaá vel ao de Virgíálio, Dante, Cervantes ou
Shakespeare; das suas obras, a epopeia Os Lusíadas é a mais significativa.
Os Lusíadas é considerada a principal epopeia da época moderna devido aà sua grandeza e
universalidade. As realizaçoã es de Portugal desde o Infante D. Henrique ateá aà uniaã o
dinaá stica com Espanha em 1580 saã o um marco na Histoá ria, marcando a transiçaã o da Idade
Meá dia para a EÉ poca Moderna.

A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em
torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a IÉndia. EÉ uma epopeia humanista,
mesmo nas suas contradiçoã es, na associaçaã o da mitologia pagaã aà visaã o cristaã , nos sentimentos
opostos sobre a guerra e o impeá rio, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciaçaã o do
prazer e nas exigeê ncias de uma visaã o heroica.

BARROCO

Na Literatura Portuguesa, a designação de barroco para


classificar determinada eá poca e determinado estilo tornou-se
quase ambíágua, em virtude das muitas e desvairadas aceçoã es
que foram atribuíádas aà palavra. De barroco, sinoá nimo de
bizarro, de barroco, esquema escolaá stico de silogismo falso, de
barroco, termo corrente na críática de artes plaá sticas, sinal de
mau gosto e coisa absurda, passou-se a barroco, etiqueta
histoá rica e esteá tica, que se dava como equivalente ou palavra
substituta de Seiscentismo. O barroco eá fruto duma atitude
espiritual complexa, carregada de elementos renascentistas, evoluíádos ou alterados, atitude que
leva o Homem a exprimir-se, na pintura, na arquitetura, na poesia, na oratoá ria e na vida.

Iniciou-se em 1580, com a unificaçaã o da Peníánsula Ibeá rica. No Brasil o Barroco teve iníácio em
1601, com a publicaçaã o do poema eá pico Pro-sopopéia, de Bento Teixeira. Suas principais

1
caracteríásticas saã o o culto exagerado da forma, o que implica no uso das figuras de linguagem
(principalmente metaá fora, antíátese e hipeá rbole) e o conflito entre o terreno e o celestial. A
literatura Barroca possui como marcos estilíásticos o Exagero, a Dualidade e a Religiosidade. O
Movimento Barroco se deu em meio a diversos acontecimentos histoá ricos importantes tais como:
achamento das terras americanas, mudança do comeá rcio mundial, solidificaçaã o da Inquisiçaã o e do
poder do Clero e o Absolutismo Políático. Seus principais autores saã o Padre Antoá nio Vieira e
Gregoá rio de Matos.

O Padre António de Vieira foi um religioso, escritor e orador portugueê s da Companhia de Jesus.
Um dos mais influentes personagens do seá culo XVII em termos de políática, destacou-se
como missionaá rio em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos
humanos dos povos indíágenas combatendo a sua exploraçaã o e escravizaçaã o.

Antoá nio Vieira defendeu tambeá m os judeus, a aboliçaã o da distinçaã o entre cristaã os-novos (judeus
convertidos, perseguidos aà eá poca pela Inquisiçaã o) e cristaã os-velhos (os catoá licos tradicionais), e a
aboliçaã o da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua eá poca e a
proá pria Inquisiçaã o.

Na literatura, os seus sermoã es possuem consideraá vel importaê ncia no barroco brasileiro e
portugueê s.

NEOCLASSICISMO

O Neoclassicismo refere-se, geralmente aà valorizaçaã o da


Antiguidade Claá ssica como padraã o por exceleê ncia do
sentido esteá tico, que os classicistas pretendem imitar. A
arte classicista procura a pureza formal, o equilíábrio, o
rigor.
Alguns historiadores de arte, entre eles, Giulio Carlo
Argan, alegam que na Histoá ria da Arte concorrem duas
grandes forças, constantes e antagónicas: uma delas é
o espírito clássico, a outra, o romântico.

1
As duas grandes manifestaçoã es classicistas da Idade Moderna europeia saã o o Renascimento e o
Neoclassicismo.
As principais caracteríásticas do neoclassicismo saã o:

Academicismo: nos temas e teá cnicas, isto eá , sujeiçaã o aos modelos e regras ensinadas nas
escolas ou academias;

Harmonia do colorido nas pinturas e exatidaã o de contornos;


Restauraçaã o da arte greco-romana;
Arte entendida como imitaçaã o da natureza, num verdadeiro culto aà teoria de Aristoá teles.
No Neoclassicismo destacamos Bocage, o essencial da vida do poeta podemos mencionar o facto
de ser natural de Setuá bal, tendo partido muito jovem ainda para o Oriente onde permaneceu
alguns anos. A sua obra eá constituíáda por todos os geá neros poeá ticos em curso no seu tempo, mas
foi no soneto que deixou o melhor de si proá prio; nas suas composiçoã es combinam
elementos neoclassicistas com o gosto pelo preá -romantismo. A solidaã o, o sofrimento, o amor-
ciuá me, o belo-horríável, a morte, saã o alguns dos temas que trata, de acordo com o proá prio
infortuá nio da sua vida.

ROMANTISMO

Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico


surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que
durou por grande parte do seá culo XIX. Caracterizou-se como uma
visaã o de mundo contraá rio ao racionalismo que marcou o períáodo
neoclaá ssico e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os
estados nacionais na Europa.
Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espíárito, o Romantismo toma mais tarde a forma
de um movimento e o espíárito romaê ntico passa a designar toda uma visaã o de mundo centrada no
indivíáduo. Os autores romaê nticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama
humano, amores traá gicos, e desejos de escapismo. Se o seá culo XVIII foi marcado pela objetividade,

1
pelo Iluminismo e pela razaã o, o iníácio do seá culo XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade,
pela emoçaã o e pelo eu.
O termo romaê ntico refere-se, assim, ao movimento esteá tico ou, em um sentido mais lato, aà
tendeê ncia idealista ou poeá tica de algueá m que carece de sentido objetivo.

O Romantismo surgiu na Europa numa época em que o ambiente intelectual era de grande
rebeldia. Na políática, caíáam os sistemas de governo absoluto e surgia o liberalismo políático. No
campo social imperava o inconformismo, no campo artíástico, o repuá dio aà s regras. Contudo a
Revoluçaã o Francesa eá o clíámax desse seá culo de oposiçaã o.
Almeida Garrett Iniciador do Romantismo, refundador do teatro portugueê s, criador do lirismo
moderno, criador da prosa moderna, jornalista, políático, legislador, Garrett eá um exemplo de
aliança inseparaá vel entre o homem políático e o escritor, o cidadaã o e o poeta. EÉ considerado, por
muitos autores, como o escritor portugueê s mais completo de todo o seá culo XIX, porquanto nos
deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composiçaã o em cada
um destes geá neros literaá rios.

REALISMO

O Realismo na Literatura surge em Portugal após 1865, devido


aà Questaã o Coimbraã e aà s Confereê ncias do Casino, como resposta aà
artificialidade, formalidade e aos exageros do Romantismo de uma
sentimentalidade moá rbida. Eça de Queiroá s eá apontado, junto a Antero
de Quental, como o autor que introduz este movimento no paíás,
sendo o romance social, psicoloá gico e de tese a principal forma de
expressaã o. Deixa de ser apenas distraçaã o e torna-se meio de críática a
instituiçoã es, aà hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), aà vida
urbana (tensoã es sociais, econoá micas, políáticas) aà religiaã o e aà
sociedade, interessando-se pela anaá lise social, pela representaçaã o da realidade circundante, do
sofrimento, da corrupçaã o e do víácio. A escravatura, o racismo e a sexualidade saã o retratados com
uma linguagem clara e direta.

1
Eça de Queirós eá um dos mais importantes escritores lusos. Foi autor, entre outros romances de
importaê ncia reconhecida, de Os Maias e O crime do Padre Amaro este uá ltimo por muito
considerado o melhor romance realista portugueê s do seá culo XIX.

ÉPOCA CONTEMPORÂNEA

A idade contemporaê nea eá o períáodo especíáfico atual da histoá ria do mundo ocidental, iniciado a
partir da Revoluçaã o Francesa (1789 d.C.).
O seu iníácio foi bastante marcado pela corrente filosoá fica iluminista, que elevava a importaê ncia da
razaã o. Havia um sentimento de que as cieê ncias iriam sempre descobrindo novas soluçoã es para os
problemas humanos e que a civilizaçaã o humana progredia a cada ano com os novos
conhecimentos adquiridos.
Com o evento das duas grandes guerras mundiais o ceticismo imperou no mundo, com a
perceçaã o que naçoã es consideradas taã o avançadas e instruíádas eram capazes de cometer
atrocidades dignas de baá rbaros. Decorre daíá o conceito de que a classificaçaã o de naçoã es mais
desenvolvidas e naçoã es menos desenvolvidas tem limitaçoã es de aplicaçaã o.
Atualmente estaá havendo uma especulaçaã o a respeito de quando essa era iraá acabar, e, por tabela,
a respeito da eficieê ncia atual do modelo europeu da divisaã o histoá rica.
Na eá poca contemporaê nea destacamos o Fernando Pessoa, foi um grande Poeta ficcionista,
dramaturgo, filoá sofo, prosador, Fernando Pessoa, um dos maiores génios poéticos de toda a
nossa Literatura, eá a mais complexa personalidade literaá ria portuguesa e europeia do seá culo XX.
A sua poesia acabou por ser decisiva na evoluçaã o de toda a produçaã o poeá tica portuguesa do seá culo
XX. Se nele eá ainda notoá ria a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, naã o soá quanto aà criaçaã o (e
invençaã o) de novas tentativas artíásticas e literaá rias, mas tambeá m no que respeita ao esforço de
teorizaçaã o e de críática literaá ria. EÉ um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo
com contradiçoã es, uma visaã o simultaneamente muá ltipla e unitaá ria da Vida. EÉ precisamente nesta
tentativa de olhar o mundo duma forma muá ltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista
e mesmo de influeê ncia oriental) que reside uma explicaçaã o plausíável para ter criado os ceá lebres
heteroá nimos - Alberto Caeiro, AÉ lvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-
heteroá nimo Bernardo Soares.

1
Os autores e a sua produçaã o literaá ria - que
geá neros literaá rios e que temaá ticas
Agustina Bessa Luís
Escritora portuguesa, Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís nasceu a 15 de outubro de
1922, em Vila Meaã , Amarante. O Douro, onde viveu a sua infaê ncia e aonde, durante a adolesceê ncia,
volta durante as feá rias escolares, marcaraá indelevelmente o seu imaginaá rio romanesco. Começou a
escrever muito cedo, ainda na adolesceê ncia, mas publicou a sua primeira obra de ficçaã o, a novela
Mundo Fechado, apenas em 1948. Nessa altura jaá estava casada e a viver em Coimbra. A partir de
1950 fixou resideê ncia no Porto, onde publica o seu primeiro romance, os Super-Homens.
Embora sempre ligada à produção literária, exerceu o cargo de Diretora do jornal O Primeiro de
janeiro e depois de Diretora do Teatro Nacional D. Maria II. Pertenceu aà Academia de Cieê ncias de
Lisboa, Classe das Letras, tornou-se membro da Alta Autoridade para a Comunicaçaã o Social, da
Academie Europeá enne des Sciences, des Arts et des Lettres de Paris e da Academia Brasileira de
Letras.
As suas obras revelam uma profunda reflexaã o sobre a condiçaã o humana. EÉ o caso do romance A
Sibila (1954), que obteve um eê xito consideraá vel, tendo sido objeto de sucessivas ediçoã es e vaá rios
preá mios, como o Preá mio Delfim Guimaraã es (1953) e o Preá mio Eça de Queiroá s (1954), que a
consagra como nome cimeiro da novelíástica contemporaê nea.

Tendo merecido desde as suas primíácias o reconhecimento de autores e críáticos como Joseá Reá gio,
OÉ scar Lopes, Eugeá nio de Andrade, Vitorino Nemeá sio ou Jorge de Sena, a sua obra viria a ser
distinguida com os mais importantes preá mios literaá rios nacionais: Preá mio Nacional de Novelíástica,

1
em 1967; Preá mio Ricardo Malheiros da Academia das Cieê ncias de Lisboa, em 1966 e em 1977,
Preá mio PEN Clube e D. Dinis, em 1980, Grande Preá mio do Romance e da Novela da Associaçaã o
Portuguesa de Escritores, em 1984 e Preá mio Cidade do Porto. Os vários romances publicados
por Agustina entre os anos cinquenta e oitenta, onde, predominantemente, a terra
duriense, espaço mítico e cosmogónico, serve de palco para o desnovelar de "gestos e
histórias de criaturas que a romancista colhe sempre em estado de autodestruição" e onde
soá "as criaturas apoiadas no obscuro e no indisputaá vel de tradiçoã es ou caraá cter, geá meas da
presença opaca da Terra, conservam o dom de resistir ao lento esfarelamento da sua realidade"
(LOURENÇO, Eduardo, op. cit., pp. 170-171), e ao longo dos quais se afina a acuidade com que se
compraz "em destruir as mil maá scaras que permitem existir", num "furor de julgar e surpreender
ateá o avesso das intençoã es" (id. ibi., pp. 166-167), dificulta qualquer tentativa de divisaã o da sua
vastíássima obra romanesca em "fases" ou "momentos".
Entre os caracteres definidores que teê m vindo a ser atribuíádos aà torrencial obra romanesca de
Agustina Bessa-Luíás, o de neorromantismo talvez seja o mais recorrente, epíáteto, aliaá s, inaugurado
por Eduardo Lourenço, ao considerar que "pela poderosa vaga de fundo que agita ao integrar-se
de corpo e alma a um mais geral movimento da imaginaçaã o a braços com riquezas e terrores que
saã o, em parte, os da vida, pela espeá cie de viagem no mundo interior de mundos mais visivelmente
iluminados por uma luz crepuscular que pelos "amanhaã s que cantam", pela busca ou
contemplaçaã o de realidades extaá ticas no coraçaã o do que muda ou de guardiaã es do que eá sempre
igual, estas novas terras romanescas entreabertas pela passagem de Sibila bem podem receber o
nome de neorromaê nticas." (LOURENÇO, Eduardo, op. cit., p. 162). Abrindo uma grande linhagem
na novelíástica da segunda metade do seá culo XX, para Silvina Rodrigues Lopes, "A especificidade do
romance de Agustina Bessa-Luíás pertence aà afirmaçaã o decisiva da impureza do romance, que eá o
romance como crise permanente, desencadeada pela manifestaçaã o de uma avalancha incontrolada
de acontecimentos e reflexoã es que o indivíáduo naã o domina mas recebe, das muá ltiplas realizaçoã es
da linguagem, literaá rias e orais", ao mesmo tempo que, "na relação com uma essência da épica,
que é a memória, não admira que o ritmo desta escritora seja um ritmo pessoal,
determinável pela memória própria e por uma relação com a memória dos outros, através
de uma atenção ao saber, hábitos, ritos ou lendas da tradição, e de uma atenção ao
memorizável, cuja condição é, no entanto, o esquecimento, a possibilidade de repetir em

1
interpretações inéditas." (LOPES, Silvina Rodrigues - Agustina Bessa-Luíás - As Hipoá teses do
Romance, Porto, Asa, s/l, 1992, p. 21).
Prosseguindo a rota desconcertante encetada no iníácio dos anos 50, ao longo de uma obra com jaá
mais de cinco dezenas de tíátulos, e que se multiplica, de forma multíámoda, entre a ficçaã o, o teatro,
a croá nica, os guioã es, a literatura infantil, a bibliografia ficcional de Agustina integra ainda uma
seá rie de ensaios romanescos de inspiraçaã o histoá rico-biograá fica, como Santo Antoá nio, Florbela
Espanca, Fanny Owen (resultado de um trabalho de pesquisa, fundado em montagens sobre textos
de Camilo), Sebastiaã o Joseá , Longos Dias Teê m Cem Anos - Presença de Vieira da Silva, Adivinhas de
Pedro e Ineê s, Um Bicho da Terra, A Monja de Lisboa, Martha Telles ou As Meninas, tendo este
uá ltimo sido escrito juntamente com Paula Rego.
Publicou ainda, entre muitos outros tíátulos, O Manto (1966), Canção diante de Uma Porta
Fechada (1966), As Fúrias (1977), O Mosteiro (1981), que ganhou o prémio D. Dinis da Casa
de Mateus, e Os Meninos de Ouro (1983), que recebeu o Preá mio da Associaçaã o Portuguesa de
Escritores. O conjunto da sua obra mereceu o Preá mio Nacional de Novelíástica, em 1967, e o Preá mio
Uniaã o Latina, em 1997. Vaá rios dos seus romances (entre eles Fanny Owen, de 1979) foram
adaptados ao cinema por Manoel de Oliveira. Em maio de 2002, recebeu pela segunda vez o
Preá mio da Associaçaã o Portuguesa de Escritores relativo ao ano de 2001, atribuíádo aà obra Joia de
Famíália (2001). Esta sua obra tambeá m foi adaptada ao cinema por Manoel de Oliveira, dando
origem ao filme O Princíápio da Incerteza. Na sequeê ncia da trilogia literaá ria iniciada com esta obra,
a autora, em 2002, editou um novo romance, desta vez com o tíátulo A Alma dos Ricos.
Agustina Bessa-Luís foi distinguida com os prémios Vergílio Ferreira 2004, atribuíádo pela
Universidade de EÉ vora, pela sua carreira como ficcionista, e o Preá mio Camoã es 2004. Nesse mesmo
ano, 2004, editou mais uma obra, com o tíátulo Antes do Degelo.
A 22 de março de 2005 foi distinguida, juntamente com o poeta Eugénio de Andrade, com o
doutoramento "Honoris Causa", atribuído pela Universidade do Porto durante a cerimónia
do 94.º aniversário da sua fundação.

1
António Lobo Antunes

Proveniente de uma famíália da alta burguesia, foi criado em Lisboa, e licenciou-se em Medicina,
optando pela especialidade de Psiquiatria. Entre 1971 e 1973 viveu em Angola, onde participou,
como tenente meá dico do Exeá rcito, na Guerra do Ultramar. Posteriormente exerceu a profissaã o no
Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, ateá 1985.

Em 1979 publicou os primeiros livros, Memória de Elefante e Os Cus de Judas, que obtiveram
grande eê xito e muito boa recetividade da críática, seguindo-se, em 1980, Conhecimento do Inferno.
Estes primeiros livros saã o marcadamente biograá ficos, e estaã o muito ligados ao contexto da guerra
colonial; transformaram-no imediatamente num dos autores contemporaê neos mais lidos e
discutidos, no aê mbito nacional e internacional.

Temáticas

Muitos dos livros de António Lobo Antunes referem ou reportam-se a todo o processo de
passagem do fim do Estado Novo até à implantação da Democracia. O fim da Guerra Colonial,
o suposto fim de um mundo burgueê s marcado por valores tradicionais. Os problemas de mudança
social raá pida no 25 de Abril de '74 e, consequentemente, a instabilidade políática e social vivida em
Portugal. Esse processo de passagem eá espelhado nas relaçoã es familiares. Regra geral aparecem
nos romances deste autor famíálias disfuncionais em que o indivíáduo estaá a perder os seus

1
referentes, em que a comunicaçaã o eá ou nula ou superficial entre os seus membros. Regra geral os
anti-heroá is dos seus romances saã o pessoas que exercem profissoã es liberais oriundos de «boas
famíálias», refletindo a proá pria disfuncionalidade familiar do autor.

Estilo

Densidade

Lobo Antunes tem uma escrita densa. O leitor tem algum esforço de leitura porque, por
exemplo, naã o eá raro haver mudanças de narrador e assim o leitor tem tendeê ncia a «perder o fio aà
meada». No entanto apesar de naã o ser um autor que opte por uma escrita faá cil (ou facilitista) Lobo
Antunes constitui um fenoá meno de vendas e eá muito lido internacionalmente, especialmente na
Europa Continental.
Mudança de narrador

Na esteira de James Joyce e The Sound and the Fury de Faulkner, o narrador eá por vezes trocado,
como se o ponto de vista saltasse de personagem em personagem.
Obsessividade

Os livros de Lobo Antunes saã o muito obsessivos e labiríánticos dando um tom geral de claustrofobia
e paranoia aà s suas obras. Esta obsessividade gira completamente em torno da sua relaçaã o com a
mulher, mesmo que tal naã o seja diretamente referido. As suas obras apresentam ainda uma
diversidade linguíástica assinalaá vel.
Sintagmas nominais complexos

Ocorre muitas vezes numa descrição ou pensamento do que está a acontecer a um


personagem aparecerem sobrepostos tanto o que está "realmente" a acontecer como uma
realidade imaginária. Outros processos tíápicos saã o sintagmas nominais complexos como por
exemplo "cachoeira dos pulmoã es". Aqui os substantivos (S1 de S2) naã o funcionam da maneira
habitual em que S2 atribui propriedades sobre S1 ("copo de aá gua"; aá gua estaá a especificar o
conteuá do do copo) mas funcionando este sintagma como uma metaá fora ou como uma comparaçaã o.
(assim esta imagem seria descrita num portugueê s mais habitual como "os pulmoã es fazendo
barulho como uma cachoeira"). Em As Naus, um velho cego tem "olhos lisos de estaá tua"; em
Manual dos Inquisidores, uma luneta eá descrita como sendo "um tubo de inventar planetas".
Simultaneidade

1
Tipicamente ocorrem vaá rias descriçoã es simultaê neas, tanto fíásicas como de pensamentos. EÉ
habitual uma realidade do passado estar misturada com uma realidade do presente. No meio de
um diaá logo serem inseridos diaá logos imaginaá rios ou do tempo passado.

David Mourão Ferreira

Escritor português, nasceu em Lisboa, em 1927 e morreu, também nesta cidade, em 1996.
Licenciou-se em Filologia Romaê nica em Lisboa, onde chegou a ser professor catedraá tico,
organizando e regendo, entre outras, a cadeira de Teoria da Literatura. Foi secretaá rio de Estado da
Cultura, entre 1976 e 1979; diretor do diaá rio A Capital; diretor do Boletim Cultural do Serviço de
Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundaçaã o Calouste Gulbenkian, entre 1984 e 1996; diretor da
revista Coloá quio/Letras; presidente da Associaçaã o Portuguesa de Escritores (1984-86) e vice-
Presidente da Association Internationale des Critiques Litteá raires.
A sua obra reparte-se pela poesia; pela crítica literária, como Os OÉ cios do Ofíácio, Vinte Poetas
Contemporaê neos, Hospital das Letras ou Laê mpadas no Escuro (de Herculano a Torga); pelo ensaio;
pela traduçaã o; pelo teatro; pelo romance; e tambeá m pelo jornalismo. Embora os seus primeiros
poemas datem de meados dos anos 40, a sua atividade poeá tica começou a ganhar relevo quando
foi codiretor, a par com Antoá nio Manuel Couto Viana e Luíás de Macedo, da revista Taá vola Redonda
(1950-1954), que, sem apresentar programa ou manifesto, se orientava para uma alternativa
poeá tica aà poesia social, baseada na "revalorizaçaã o do lirismo", exigindo ao poeta "autenticidade e
um míánimo de conscieê ncia teá cnica, a criaçaã o em liberdade e, tambeá m, a diligeê ncia e capacidade de
admirar, criticamente, os grandes poetas portugueses de geraçoã es anteriores a 1950.

1
Sem reservas ideológicas ou
preconceitos de ordem estética" (VIANA, Antoá nio Manuel Couto - "Breve Historial" in As Folhas
Poesia Taá vola Redonda, Boletim Cultural da F. C. G., VI seá rie, n.º 11, outubro de 1988), atributos a
que acresciam como exigeê ncias a reaçaã o contra a "imediatez da inspiraçaã o e contra o impuro
aproveitamento da poesia para fins sociais", atraveá s do equilíábrio "entre os motivos e a teá cnica,
entre os temas e as formas" (cf. MOURAÃ O-FERREIRA, David - "Notíácia sobre a Taá vola Redonda" in
Estrada Larga 3, p. 392). Foi no primeiro volume da Coleçaã o de Poesia das Ediçoã es "Taá vola
Redonda" que publicou a sua primeira obra poeá tica, A Secreta Viagem, onde se encontram
reunidos alguns dos traços que distinguiriam a sua poeá tica posterior, nomeadamente a prefereê ncia
pela temaá tica amorosa, o rigor formal, a continuidade e renovaçaã o da líárica tradicional como, por
exemplo, a de inspiraçaã o camoniana, ou a abertura a experieê ncias poeá ticas estrangeiras. No poema
"Dos Anos Quarenta", relembra leituras nessa etapa de iniciaçaã o poeá tica: Proust, Thomas Mann,
Rilke, Apollinaire, a "constelaçaã o pessoana", AÉ lvaro de Campos, "E Reá gio Migueá is Nemeá sio", bem
como as circunstaê ncias que rodearam essa descoberta, como o "despertar do deus Eros", a guerra,
a queda dos fascismos e a perseverança da ditadura salazarista.
Da sua obra poética, cuja poesia se distingue pelo lirismo culto, depurado e subtil,
destacam-se os seguintes livros: A Secreta Viagem, Do Tempo ao Coraçaã o, Cancioneiro do Natal,
Matura Idade e Ode aà Muá sica.

1
A obra de David Mouraã o-Ferreira foi vaá rias vezes reconhecida com preá mios literaá rios, como, por
exemplo: Preá mio de Poesia Delfim Guimaraã es, 1954, para Tempestade de veraã o; Preá mio Ricardo
Malheiros, 1960, para Gaivotas em Terra; Preá mio Nacional de Poesia, 1971, para Cancioneiro de
Natal; Preá mio da Críática da Associaçaã o Internacional dos Críáticos Literaá rios para As Quatro
Estaçoã es; e, para Um Amor Feliz , os preá mios de Narrativa do Pen Clube Portugueê s, D. Dinis, de
Ficçaã o do Municíápio de Lisboa e o Grande Preá mio de Romance e Novela da Associaçaã o Portuguesa
de Escritores. Ao autor foi ainda atribuído, em 1996, o Prémio de Consagração de Carreira
da Sociedade Portuguesa de Autores

Dinis Machado
Viveu no Bairro Alto, na Rua do Norte, até 1963, quando se casou aos 34 anos, com Maríália
Ferreira Alves, engenheira quíámica, de que houve uma filha, Rita. Começou por frequentar o Curso
Geral do Comeá rcio, que naã o concluiu. Foi funcionaá rio da Federaçaã o das Caixas de Prevideê ncia,
onde foi colega e amigo de Eugénio de Andrade, que o influenciou nas suas leituras.

Filho de um aá rbitro de futebol, conhecido por


Oliveira Penalty, foi, durante duas deá cadas, jornalista desportivo nos jornais Record, Norte
Desportivo, Diaá rio Ilustrado e Diaá rio de Lisboa. Desenvolveu posteriormente as atividades de
tradutor, autor de guiões para cinema e séries televisivas, estando ainda ligado
profissionalmente aà atividade editorial. Durante 11 anos, ateá 1979, foi chefe de redaçaã o da ediçaã o
portuguesa da revista de banda desenhada Tintin. Em 1971-72, surgiu como editor e chefe de
redaçaã o da 1ª seá rie da versaã o portuguesa do semanaá rio Spirou. Depois de enviuvar, a partir de
1985 viveu com a cantora líárica e bibliotecaá ria Dulce Cabrita (1928-2010).1 Fumador inveterado,
morreu em 2008, víátima de cancro do pulmaã o.

1
Obra

 Dennis McShade

Durante muito tempo, Dinis Machado refugiou-se à sombra de um pseudónimo americano,


inventado para fazer sair na coleçaã o Rififi, que dirigia a convite de Roussado Pinto, uma
trilogia de romances policiais com um heroá i burguesiano, um assassino profissional, com
preocupaçoã es filosoá ficas, dado aos monoá logos e aà s citaçoã es literaá rias e que age sempre
sozinho, com o nome de Peter Maynard, refereê ncia a Pierre Meá nard, a personagem de Borges
que tentava reproduzir o Dom Quixote. Maã o direita do Diabo, Requiem para D. Quixote e
Mulher e arma com guitarra espanhola foram escritos no períáodo de um ano, quando o autor
precisava de angariar 20 contos por ocasiaã o do nascimento da filha.

O que diz Molero

O seu maior sucesso literário, tanto junto da crítica como do público, foi “O que diz
Molero”, publicado em 1977. “O que diz Molero” marcou o reiníácio de um processo críático
sobre a necessidade de nos interrogarmos acerca da identidade portuguesa, bem como os
caminhos possíáveis para a conviveê ncia de uma pluralidade de formas artíásticas. A linguagem
coloquial, humorada e inventiva, a que naã o eá alheia uma oralidade popular, tenta cristalizar
figuras, lugares e imagens de um quotidiano que parece perdido.
Sobre este romance de Dinis Machado, afirmou Eduardo Lourenço tratar-se «de um livro-
chave do nosso tempo». Antoá nio Mega Ferreira considerou-o o «mais importante texto de
ficçaã o que se publicou em Portugal nos uá ltimos anos [...] paá ginas miraculosamente repletas
de sinais da mais bela, inteligente e emocionada escrita produzida por um escritor
português na década de 70.» E Luiz Pacheco fala de «uma cavalgada furiosa de episoá dios,
uma feira, um tropel de gente, uma festa popular de malucos e malucas, tudo chalado, uma
alegria enorme quase insensata, o sentimento nos momentos doloridos mas tudo taã o proá ximo
de noá s e taã o naturalmente reproduzido na escrita.»
“O que diz Molero” conta a história de um rapaz, nunca referido pelo nome proá prio, que,
depois de ter sobrevivido a todas as aventuras e desventuras de uma infaê ncia e adolesceê ncia
normais a uma criança que vive inserida numa comunidade pobre, enceta uma viagem para

1
procurar compreender quem eá e qual o significado da vida. Molero eá encarregue por Austin e
Mister Deluxe, seus superiores, de se poê r na pele de detetive e procurar traçar o itineraá rio do
rapaz. Os relatórios de Molero vaã o sendo lidos pelos superiores e eá atraveá s deles que o leitor
vai sabendo o que aconteceu ao heroá i, os vaá rios paíáses por onde foi passando, os livros que foi
lendo, as mulheres que foi amando e os amigos que foi fazendo e reencontrando. Pedaços
fragmentados de uma vida que nos daã o as pistas necessaá rias para traçar o perfil de algueá m
que procura um sentido para a existeê ncia.
O romance já foi traduzido para seis idiomas: (alemaã o, buá lgaro, castelhano, romeno,
franceê s e checo).

José Cardoso Pires

Joseá Cardoso Pires (1925-1998) eá unanimemente considerado um dos maiores escritores


portugueses do século XX, numa galeria onde podemos encontrar nomes como Joseá Saramago ou
Antoá nio Lobo Antunes.

Entre romances e contos, não esquecendo as crónicas, o teatro, os ensaios e as memórias,


saã o jaá muitos os livros com que nos "presenteou", a noá s e ao mundo, uma vez que as suas obras
teê m sido traduzidas para inuá meras líánguas. Indiscutivelmente, abriu uma paá gina nova na
Literatura Portuguesa e tem tido o mérito de a saber multiplicar, sempre no seu estilo muito
próprio, com uma escrita que se diz no osso, no gume da faca.
Público e crítica reconhecem-lhe o dom e naã o hesitam em afirmaá -lo em cada livro comprado e
lido com gosto. Sabem que ao fazeê -lo se envolvem na esfera de Cardoso Pires, uma esfera onde
mergulham a palavra, a memoá ria e o Mundo.

1
José Saramago

Romancista, poeta e dramaturgo, autodidata, José Saramago apenas concluiu estudos


secundaá rios, dadas as dificuldades econoá micas familiares. Desenvolveu um percurso profissional
do jornalismo aà políática, com experieê ncias em serralharia, produçaã o e ediçaã o literaá ria, assim como
em traduçaã o. Em 1976, foi o desemprego que o levou a dedicar-se à literatura.

Publica em 1947 "Terra do Pecado", mas naã o o inclui na sua extensa obra. Da poesia ao romance,
passando pelo conto, croá nica, viagem e teatro, eá um dos autores portugueses contemporaê neos
mais conhecido e distinguido internacionalmente. Conta já com diversos prémios.

1
O escritor José Saramago deixou uma vasta obra literária, da poesia aà prosa, passando pelo
conto e pelas obras para teatro.
O uá ltimo livro publicado, Caim, em 2009, abordou a religiaã o, uma vez mais, de forma poleá mica.
Comunista, Saramago nunca esqueceu as raíázes alentejanas e pobres na escrita que deu ao Mundo.
Obras de Saramago:
Conto

 Objeto Quase (1978)

 Poeá tica dos Cinco Sentidos - O Ouvido (1979)

 O Conto da Ilha Desconhecida (1997)

 A Maior Flor do Mundo (2001)

Crónicas, Ensaios, Memórias

 A Estaá tua e a Pedra (1966)

 Deste Mundo e do Outro (1971)

 A Bagagem do Viajante (1973)

 As Opinioã es que o DL teve (1974)

 Os Apontamentos (1976)

 Folhas Políáticas – 1976-1998 (1999)

 Discursos de Estocolmo (1999)

 O Caderno (2009)

 O Caderno 2 (2010)

 Democracia y Universidad (2010)

Lídia Jorge

Romancista e contista portuguesa nascida a 18 de junho de 1946, em Boliqueime, no Algarve.


Licenciada em Filologia Romaê nica e professora do ensino secundaá rio, ensinou em Angola e

1
Moçambique antes de se fixar em Lisboa. Para aleá m de exercer a doceê ncia, dedicou-se tambeá m aà
publicaçaã o regular de artigos na imprensa e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicaçaã o
Social.
Ficcionista, a quem tem sido apontada a influência do realismo mágico latino-americano,
cada romance de Líádia Jorge eá um romance, isto eá , introduz a novidade relativamente ao que o
precede, ao níável da construçaã o romanesca, da linguagem e do contexto, pelo que uma panoraê mica
sobre a obra ficcional da autora deve acima de tudo destacar a capacidade de aperfeiçoamento dos
materiais narrativos, a sua adaptaçaã o a uma temaá tica sempre renovada, embora inserida numa
tendeê ncia ampla para reflexaã o sobre as vaá rias dimensoã es do Portugal preá e poá s-revolucionaá rio.

Revelou-se com O Dia dos Prodígios, romance, onde a linguagem oral, dotada de mais
sugestividade pelo recurso frequente ao discurso indireto livre e à liberdade de pontuação,
permite a evocação de um mundo rural perdido, numa ficção que integra processos de
desconstrução narrativa ("Um personagem levantou-se e disse. Isto é uma história. E eu
disse. Sim. EÉ uma histoá ria. Por isso podem ficar tranquilos nos seus postos."), que tem como objeto
a construçaã o de uma perspetiva iroá nica sobre a utopia revolucionaá ria, apreendida pelo ponto de
vista dos habitantes de uma aldeia, Vilamaninhos, onde as coordenadas de estagnaçaã o, pureza,
ingenuidade se conjugam com um fantaá stico quotidiano.

1
Os romances que se seguiram aperfeiçoaram um estilo
narrativo que se distingue pelo entendimento da construção narrativa como um todo
orgânico, densamente construído, onde nada eá aleatoá rio e onde a dimensaã o individual das
personagens eá perspetivada a partir do desejo de dar voz aà s margens culturais, histoá ricas e sociais
silenciadas na construçaã o da memoá ria coletiva do passado recente portugueê s.
O tema da mulher e da sua solidão é também uma preocupação central da obra de Lídia
Jorge, como, por exemplo, em Notíácia da Cidade Silvestre (1984), A Costa dos Murmuá rios (1988) e
O Vento Assobiando nas Gruas (2002) – este uá ltimo, que aborda a relaçaã o entre uma mulher
branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes,
venceu o Grande Preá mio de Romance e Novela da Associaçaã o Portuguesa de Escritores (2003), o
preá mio Correntes d'Escritas (2004), o Preá mio de Literatura Albatros da Fundaçaã o Guü nter Grass
(2005), na Alemanha, e o Preá mio do Puá blico (2005), no Salaã o de Literatura Europeia, em Cognac,
na França. Entretanto, em 2000, jaá tinha recebido o preá mio Jean Monnet da Literatura Europeia
pela sua obra O Vale da Paixaã o.
Cumulando o eê xito junto da críática especializada e do grande puá blico, a sua obra encontra-se
traduzida em franceê s, em neerlandeê s, em alemaã o e italiano.

1
Manuel Alegre

Filho de Francisco Joseá de Faria e Melo Ferreira Duarte, que jogou na Acadeá mica e foi campeaã o de
atletismo, e de sua mulher Maria Manuela Alegre de Melo Duarte, a sua famíália tem refereê ncias na
políática — um dos seus ascendentes esteve nas revoltas contra D. Miguel I, tendo sido decapitado
na Praça Nova do Porto - e no desporto — o proá prio Manuel Alegre sagrou-se campeaã o nacional de
nataçaã o e foi atleta internacional da Associaçaã o Acadeá mica de Coimbra nessa modalidade. A sua
infaê ncia e juventude encontram-se retratadas no romance Alma (1995).

À exceção dos primeiros estudos, feitos em Águeda, frequentou


diversos estabelecimentos de ensino: fez o primeiro ano do liceu no Passos Manuel, em Lisboa,
no segundo esteve treê s meses como aluno interno no Coleá gio Almeida Garrett, no Cartaxo, seis
meses no Coleá gio Castilho, em Saã o Joaã o da Madeira, e depois foi para o Porto, concluindo os
estudos secundaá rios no Liceu Central Alexandre Herculano. Aíá fundou, com Joseá Augusto Seabra, o
jornal Preluá dio.
Além da atividade política, saliente-se o seu proeminente labor literário, quer como poeta,
quer como ficcionista. Entre os seus inuá meros poemas musicados contam-se a Trova do vento
que passa, cantada por Adriano Correia de Oliveira, Amaá lia Rodrigues, entre muitos outros.
Reconhecido aleá m-fronteiras, eá o uá nico autor portugueê s incluíádo na antologia Cent poemes sur
l'exil, editada pela Liga dos Direitos do Homem, em França (1993). Em Abril de 2010, a
Universidade de Paá dua, em Itaá lia, inaugurou a Caá tedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da
Líángua, Literatura e Cultura Portuguesas. Pelo conjunto da sua obra recebeu, entre outros, o
Preá mio Pessoa (1999) e o Grande Preá mio de Poesia da Associaçaã o Portuguesa de Escritores

1
(1998). EÉ soá cio correspondente da Classe de Letras da Academia das Cieê ncias de Lisboa, eleito em
2005.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de


2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do seá culo XX. Foi a primeira mulher
portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio
Camões, em 1999.

Da sua infaê ncia e juventude, a autora recorda sobretudo a importaê ncia


das casas, lembrança que teraá grande impacto na sua obra, ao descrever as casas e os objetos
dentro delas, dos quais se lembra. Explica isso do seguinte modo: "Tenho muita memoá ria visual e
lembro-me sempre das casas, quarto por quarto, moá vel por moá vel e lembro-me de muitas casas
que desapareceram da minha vida (…). Eu tento «representar», quer dizer, «voltar a tornar
presentes» as coisas de que gostei e eá isso o que se passa com as casas: quero que a memoá ria delas
naã o vaá aà deriva, naã o se perca"4 Estaá presente em Sophia tambeá m uma ideia da poesia como valor
transformador fundamental. A sua produçaã o corresponde a ciclos especíáficos, com a culminaçaã o
da atividade da escrita durante a noite: "naã o consigo escrever de manhaã , (…) preciso daquela
concentraçaã o especial que se vai criando pela noite fora.".5 A viveê ncia noturna da autora eá
sublinhada em vaá rios poemas ("Noite", "O luar", "O jardim e a noite", "Noite de Abril", "OÉ noite").
Aceitava a noção de poeta inspirado, afirmava que a sua poesia lhe acontecia, como a
Fernando Pessoa: "Fernando Pessoa dizia: «Aconteceu-me um poema». A minha maneira de

1
escrever fundamental eá muito proá xima deste «acontecer». (…) Encontrei a poesia antes de saber
que havia literatura. Pensava mesmo que os poemas naã o eram escritos por ningueá m, que existiam
em si mesmos, por si mesmos, que eram como que um elemento do natural, que estavam
suspensos imanentes (…). É difícil descrever o fazer de um poema. Haá sempre uma parte que
naã o consigo distinguir, uma parte que se passa na zona onde eu naã o vejo.".6 A sua proá pria vida e as
suas proá prias lembranças saã o uma inspiraçaã o para a Autora, pois, como refere Dulce Maria
Quintela (1981:112), ela "fala de si, atraveá s da sua poesia".
Sophia de Mello Breyner Andresen fez-se poeta já na sua infância, quando, tendo apenas
três anos, foi ensinada "A Nau Catrineta" pela sua ama Laura (Quintela, op.cit:112):

"Havia em minha casa uma criada, chamada Laura, de quem eu gostava muito. Era uma mulher
jovem, loira, muito bonita. A Laura ensinou-me a "Nau Catrineta" porque havia um primo meu mais
velho a quem tinham feito aprender um poema para dizer no Natal e ela não quis que eu ficasse
atrás… Fui um fenómeno, a recitar a "Nau Catrineta", toda. Mas há mais encontros, encontros
fundamentais com a poesia: a recitação da "Magnífica", nas noites de trovoada, por exemplo. Quando
éramos um pouco mais velhos, tínhamos uma governanta que nessas noites queimava alecrim,
acendia uma vela e rezava. Era um ambiente misto de religião e magia… E de certa forma nessas
noites de temporal nasceram muitas coisas. Inclusivamente, uma certa preocupação social e humana
ou a minha primeira consciência da dureza da vida dos outros, porque essa governanta dizia: «Agora
andam os pescadores no mar, vamos rezar para que eles cheguem a terra» (…)."

Baseando-nos nas observaçoã es de Luíása Pessoa (2006), desenvolvamos alguns dos toá picos mais
relevantes na sua criação literária:
 A infância e juventude – constituem para a Autora um espaço de refereê ncia ("O jardim e a
casa", Poesia, 1944; "Casa", Geografia, 1967; "Casa Branca", Poesia, 1944; "Jardim Perdido", Poesia,
1944; "Jardim e a Noite", Poesia, 1944).

 O contacto com a Natureza também marcou profundamente a sua obra. Era para a
Autora um exemplo de liberdade, beleza, perfeiçaã o e de misteá rio e eá largamente citada da sua obra,
quer citada pelas alusoã es aà terra (aá rvores, paá ssaros, o luar), quer pelas refereê ncias ao mar (praia,
conchas, ondas).

 O Mar é um dos conceitos-chave na criação literária de 'Sophia de Mello Breyner


Andresen: "Desde a orla do mar/ Onde tudo começou intacto no primeiro dia de mim". O efeito
literaá rio da inspiraçaã o no Mar pode se observar em vaá rios poemas, como, por exemplo, "Homens aà
beira-mar" ou "Mulheres aà beira-mar". A Autora comenta isso do seguinte modo:

1
"Esses poemas teê m a ver com as manhaã s da Granja, com as manhaã s da praia. E tambeá m com um
quadro de Picasso. Haá um quadro de Picasso chamado Mulheres aà beira-mar. Ningueá m diraá que a
pintura do Picasso e a poesia de Lorca tenham tido uma enorme influeê ncia na minha poesia,
sobretudo na eá poca do Coral… E uma das influeê ncias do Picasso em mim foi levar-me a deslocar as
imagens."3
 Outros exemplos em que claramente se percebe o motivo do mar são: "Mar" em
Poesia, 1944; "Inicial" em Dual, 1972; "Praia" em No Tempo dividido; "Praia" em Coral, 1950;
"Açores" em O Nome das Coisas, 1977. Neles exprime-se a obsessaã o do mar, da sua beleza, da sua
serenidade e dos seus mitos. O Mar surge aqui como síámbolo da dinaê mica da vida. Tudo vem dele e
tudo a ele regressa. EÉ o espaço da vida, das transformaçoã es e da morte.

 A cidade constitui outro motivo frequentemente repetido na obra de SMB ("Cidade"


em Livro Sexto, 1962; "Haá Cidades Acesas", Poesia, 1944; "Cidade" em Livro Sexto, 1962; "Fuá rias",
Ilhas, 1989). A cidade eá aqui um espaço negativo. Representa o mundo frio, artificial, hostil e
desumanizado, o contraá rio da natureza e da segurança.

Outro tópico acentuado com frequência na obra de Sophia é o tempo: o dividido e o


absoluto que se opõem. O primeiro eá o tempo da solidaã o, medo e mentira, enquanto o tempo
absoluto eá eterno, une a vida e eá o tempo dos valores morais ("Este eá o Tempo", Mar Novo, 1958;
"O Tempo Dividido", No Tempo Dividido, 1954). Segundo Eduardo Prado Coelho,9 o tempo
dividido eá o tempo do exíálio da casa, associado com a cidade, porque a cidade eá tambeá m feita pelo
torcer de tempo, pela degradaçaã o.
Sophia de Mello Breyner Andresen era admiradora da literatura clássica. Nos seus poemas
aparecem frequentemente palavras de grafia antiga (Eurydice, Delphos, Amphora). O culto pela
arte e tradiçaã o proá prias da civilizaçaã o grega saã o lhe proá ximos e transparecem pela sua obra ("O Rei
de Itaca", O Nome das Coisas, 1977; "Os Gregos", Dual, 1972; "Exíálio", O Nome das Coisas, 1977;
"Soneto de Eurydice", No Tempo Dividido, "Crepuá sculo dos Deuses", Geografia; "O Rei de Itaca", O
Nome das Coisas, 1977; "Ressurgiremos", Livro Sexto, 1962).
Além dos aspetos temáticos referidos acima, vários autores (Pessoa, op.cit:64-71; Quintela,
1981:112-114; Sena, 1988:174; Berrini, 198510 ) sublinham a enorme influeê ncia de Fernando
Pessoa na obra de 'Sophia de Mello Breyner Andresen. O que os dois autores teê m em comum eá : a
influeê ncia de Plataã o, o apelo ao infinito, a memoá ria de infaê ncia, o sebastianismo e o messianismo, o

1
tom formal que evoca AÉ lvaro de Campos. A figura de Pessoa encontra-se evocada muá ltiplas vezes
nos poemas de Sophia ("Homenagem a Ricardo Reis", Dual, 1972; "Cíáclades (evocando Fernando
Pessoa) ", O Nome das Coisas, 1977).

De modo geral, o universo temático da Autora é abrangente e pode ser representado pelos
seguintes pontos resumidos (Besse, 1990, 11,13; Pessoa, 2006:15):
 A busca da justiça, do equilíábrio, da harmonia e a exigeê ncia do moral

 Tomada de conscieê ncia do tempo em que vivemos

 A Natureza e o Mar – espaços eufoá ricos e referenciais para qualquer ser humano

 O tema da casa

 Amor

 Vida em oposiçaã o aà morte

 Memoá ria da infaê ncia

 Valores da antiguidade claá ssica, naturalismo heleá nico

 Idealismo e individualismo ao níável psicoloá gico

 O poeta como pastor do absoluto

 O humanismo cristaã o

 A crença em valores messiaê nicos e sebastianistas

 Separaçaã o

Quanto ao estilo de linguagem de Sophia de Mello Breyner Andresen, podemos constatar que,
como refere Besse, Sophia de Mello Breyner tem um estilo característico, cujas marcas mais
evidentes são: o valor hierático da palavra, a expressão rigorosa, o apelo à visão
clarificadora, riqueza de símbolos e alegorias, sinestesias e ritmo evocador de uma
dimensão ritual. Nota-se uma "transparência da palavra na sua relação da linguagem com as

1
coisas, a luminosidade de um mundo onde intelecto e ritmo se harmonizam na forma
melódica, perfeita".
A opiniaã o sobre ela de alguns dos mais importantes críáticos literaá rios portugueses eá a mesma: o
talento da autora é unanimemente apreciado. Eduardo Lourenço afirma que a Sophia de Mello
Breyner tem uma sabedoria "mais funda do que o simples saber", que o seu conhecimento íántimo
eá imenso e a sua reflexaã o, por mais profunda que seja, estaá exposta numa simplicidade original.

Vergílio António Ferreira

Vergílio António Ferreira (Melo, 28 de Janeiro de 1916 — Lisboa, 1 de Março de 1996) foi um
escritor portugueê s.

Embora formado como professor (veja-se a refereê ncia aos professores de


Manhaã Submersa e Apariçaã o), foi como escritor que mais se distinguiu. O seu nome continua
atualmente associado aà literatura atraveá s da atribuiçaã o do Preá mio Vergíálio Ferreira. Em 1992, foi
galardoado com o Prémio Camões.
A sua vasta obra, geralmente dividida em ficção (romance, conto), ensaio e diaá rio, costuma ser
agrupada em dois períáodos literaá rios: o Neorrealismo e o Existencialismo. Considera-se que
Mudança é a obra que marca a transição entre os dois períodos.

1
Bibliografia e netgrafia
http://europass.cedefop.europa.eu/europass/home/hornav/Introduction.csp

LIMA, Maria do Céu Sá, Jogos de Língua Portuguesa, Porto Editora

VICENTE, Maria da Conceição Sousa, Preparação para a Prova de Aferição 2013, Porto
Editora

www.infopédia.pt

www.wikipédia.pt

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