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Nordeste brasileiro está entre ‘territórios esquecidos e invisíveis’ da América Latina e Caribe, diz FAO

 Publicado em 24/04/2019
 Atualizado em 06/05/2019
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou na terça-feira (23) para a
persistência da fome e da pobreza em “territórios esquecidos” dentro de países da América Latina e Caribe. O Nordeste
brasileiro foi citado pela agência da ONU como exemplo de região que sofre com esses problemas, apesar dos avanços
econômicos e sociais do Brasil.

Sertão do Nordeste. Foto: Wikicommons/Flickr/Maria Hsu

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou na terça-feira (23) para a
persistência da fome e da pobreza em “territórios esquecidos” dentro de países da América Latina e Caribe. O Nordeste
brasileiro foi citado pela agência da ONU como exemplo de região que sofre com esses problemas, apesar dos avanços
econômicos e sociais do Brasil.
“Estamos falando de municípios em países como Colômbia, Peru, República Dominicana e Brasil, que fizeram
progressos significativos no seu desenvolvimento, mas que ainda possuem crianças com fome, que crescem com suas
vidas mutiladas por desnutrição crônica”, afirmou o representante regional da FAO, Julio Berdegué.
“Mesmo em países exitosos, há territórios que estão ficando para trás: o Brasil experimentou um avanço
gigantesco, mas aí está o Nordeste. No Chile, a Araucanía. São territórios invisíveis, aos quais estamos levando soluções
erradas.”
As declarações do dirigente foram feitas durante ao lançamento da estratégia Os 100 Territórios Livres da
Pobreza e da Fome, que visa combater a miséria e a desnutrição em localidades críticas de países latino-americanos e
caribenhos. Em sua primeira fase, a iniciativa terá Colômbia, Guatemala, Honduras, Salvador e República Dominicana
como nações prioritárias para as ações de assistência.

Nordeste brasileiro é uma das regiões da América Latina e Caribe identificadas pela FAO como "territórios esquecidos" -
locais que enfrentam preocupantes quadros de fome e miséria, apesar dos avanços econômicos e sociais do país.
Rafael Zavala G. C.@Rafael_ZavalaG
No lançamento do #100Territorios @JBerdegueFAO :“Ainda em países exitosos há territórios que estão ficando para trás:
o Brasil experimentou um avanço gigantesco, mas aí está o Nordeste. No Chile, a Araucanía. São territórios invisíveis aos
quais estamos levando soluções erradas”
Mas a FAO explica que já mapeou áreas de outros países. Uma pesquisa em parceria com a Comissão Econômica
da ONU para a América Latina e Caribe (CEPAL) identificou, em 14 países da região, cerca de 2 mil municípios onde
mais de 40 milhões de pessoas vivem em condições de extrema pobreza e insegurança alimentar.
Metade dessas pessoas (20,9 milhões) mora no campo. A outra metade está nas cidades e cidades pequenas.
Quase uma em cada cinco é indígena ou afrodescendente. O levantamento também mostra que 20% dessas famílias são
chefiadas por mulheres.
Dependendo do país, a população desses territórios esquecidos representa de 4% a 16% da população nacional.
Para Berdegué, essas áreas são como lugares congelados no tempo. “Mesmo em países com os maiores avanços,
existem áreas rurais que foram deixadas para trás, onde as pessoas vivem em condições sociais que se assemelham as que
tinham 50 anos atrás”, enfatizou o representante da FAO.

A FAO e os 100 territórios

A nova estratégia da FAO vai trabalhar com governos para identificar locais que exijam as intervenções mais
urgentes. A ideia é criar soluções específicas para cada contexto.
Com um horizonte de dez anos, o projeto 100 Territórios prevê o estabelecimento de uma coalizão de atores dos
Estados, sociedade civil, setor privado, academia e cooperação internacional. O objetivo dessa aliança será dar
reconhecimento político real para esses “lugares esquecidos”.
Com a mobilização, a FAO espera fomentar práticas inovadoras e apropriadas para ampliar as oportunidades
econômicas dos moradores dessas regiões. A proposta é levar mais eficiência e transparência para as políticas públicas
locais.
“Nós também queremos trazer os habitantes desses territórios para os mercados de trabalho e, acima de tudo,
aumentar suas participações sociais, permitindo que a sociedade reconheça o valor dessas pessoas, que têm sido capazes
de sobreviver e adaptar-se às piores condições imagináveis. Elas já são donas de uma grande resiliência e inteligência
social”, explicou Berdegué.
Para identificar as áreas mais vulneráveis, a FAO não considerou apenas fatores como a pobreza e a fome, mas
também fenômenos migratórios que levam milhares de famílias a fugir de suas comunidades. A agência da ONU avaliou
ainda o impacto das mudanças climáticas e das economias ilegais, que agravam a pobreza, a fome e a migração.
“Milhares de camponeses migraram nas últimas décadas das montanhas de Guerrero, no México, mas isso não
impediu que muitos milhares permanecessem lá, cultivando a papoula com a qual se produz a heroína”, completou
Berdegué.

Convivência com a Seca

A seca é um dos principais limitantes que afetam a segurança alimentar e a sobrevivência de mais de dois bilhões
de pessoas, que ocupam 41% das áreas do planeta. O fenômeno pode ser definido como deficiência em precipitação por
um extenso período de tempo, resultando em escassez hídrica (Solh&Ginkel, 2014). As áreas mais afetadas com secas no
Brasil estão no Semiárido. Nos anos 2012 e 2013, mais de 1.400 municípios da região Nordeste e do norte de Minas
Gerais foram severamente castigados com a estiagem.
Cenários futuros apontam para o aumento da temperatura e redução na precipitação, especialmente nessas áreas,
sendo que, em se confirmando este cenário, será cada vez mais comum a ocorrência de secas (Santos et al., 2009). A
eficiência produtiva nas regiões mais suscetíveis às estiagens depende de uma série de medidas de monitoramento e
mitigação dos efeitos negativos desse fenômeno, através do uso racional e sustentável dos recursos hídricos, edáficos e da
biodiversidade.
Um relatório divulgado pela Agência Nacional de Águas aponta que, até o ano de 2025, mais de 70% das cidades
com população acima de 5.000 habitantes do Semiárido enfrentarão crise no abastecimento de água para consumo
humano. Em resumo, entre os impactos previstos para com as mudanças no clima no Semiárido brasileiro estão: a
alteração na vegetação da Caatinga; a diminuição da água de lagos, açudes e reservatórios; maior vulnerabilidade às
chuvas torrenciais e concentradas em curto espaço de tempo, resultando em enchentes e graves impactos socioambientais;
maior frequência de dias secos consecutivos e de ondas de calor; a inviabilidade da produção agrícola de subsistência de
grandes áreas e o aumento da migração.
Observações históricas e modelagens apresentam evidências de alterações nos sistemas climáticos de várias partes
do mundo, sejam relacionadas a eventos naturais, como, principalmente, atribuídas às atividades humanas. Estes últimos
efeitos são consequências de mudanças na composição atmosférica. As regiões áridas e semiáridas encontram-se entre as
que mais, provavelmente, experimentarão os impactos das mudanças climáticas, sofrendo forte redução nas precipitações
e aumento da evaporação por conta dos aumentos de temperatura, com graves impactos à disponibilidade de água, à
produção de alimentos e, consequentemente, à segurança alimentar, aos ecossistemas e até mesmo às infraestruturas
elétricas (IPCC, 2007; AWC; WWC, 2009). Um crescimento na severidade da seca está previsto para o Brasil, com
aumento nas taxas de evapotranspiração, prolongamento dos períodos de estiagem e redução nas áreas agricultáveis
(Word Bank, 2012).
Por seu lado, a biodiversidade do Brasil é considerada uma das mais ricas do mundo, correspondendo a
aproximadamente 20% de toda a diversidade mundial, apresentando muitas espécies endêmicas e vários recursos
genéticos ainda desconhecidos (VALOIS, 2014). Um dos biomas mais afetados pelas secas no Brasil é a Caatinga. São
mais de 734.478 km², sendo 22% desta área atualmente ameaçada pela desertificação. Apesar desta ameaça, a
biodiversidade é considerada alta, com inúmeras espécies de plantas, animais e microrganismos, muitos endêmicos, o que
coloca este bioma como estratégico para bioprospecção. Contudo, do ponto de vista científico, esse é um dos sistemas
ecológicos menos conhecidos da América do Sul (MMA, 1998).
A estrutura física dos solos é, no geral, pouco apropriada para a agricultura e extensas áreas são ocupadas com a
pecuária, especialmente, a de pequenos ruminantes. Cerca de 50% dos estabelecimentos agropecuários no Nordeste não
utilizam nenhum tipo de prática conservacionista do solo. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2002), as áreas com
sinais extremos de degradação, conhecidas como Núcleos de Desertificação, correspondem a 15% da área da Caatinga.
A prática da agricultura nas áreas mais sensíveis à seca no Brasil apresenta desafios que vão desde questões
climáticas, ambientais, deficiência logística, atraso tecnológico, falta de crédito e falta de assistência técnica. O grande
desafio atual para o desenvolvimento dessa agricultura é promover melhorias no sistema produtivo que superem as
limitações, utilizando tecnologias apropriadas ao contexto local, visando o desenvolvimento regional, a inclusão da
agricultura familiar em um sistema de produção moderno e eficiente com acesso a crédito, assistência técnica e insumos
(IPEA, 2012).
Os prejuízos que as últimas secas têm causado à produção animal estão relacionados diretamente a perdas de
efetivo. Segundo IBGE, em 2012, na região Nordeste, foram perdidos 1,3 milhões de bovinos, 696 mil caprinos, 784 mil
ovinos e 755 mil aves, havendo perdas também nos rebanhos de suínos e equídeos. As perdas mais pronunciadas foram
nos estados nordestinos da Bahia (40%), da Paraíba (28%) e de Pernambuco (24%).
Por outro lado, a tecnologia empregada na produção regional é, em muitos casos, defasada com relação àquela
usada em atividades congêneres no restante do país, ou, pelo menos, naqueles lugares com os melhores índices de
produtividade para essas mesmas atividades (IPEA, 2012). Isso resulta em safras que ficam abaixo do potencial
produtivo. Combinado com esse atraso tecnológico, e na verdade explicando, em parte, está a questão do acesso à
assistência técnica por parte dos agricultores. A maioria dos estabelecimentos agropecuários nordestinos não tem acesso a
qualquer tipo de assistência técnica.
As estratégias de convivência com a seca são, antes de tudo, preventivas e, uma vez o fenômeno instalado, restam
poucas opções ou ações imediatistas para combater seus efeitos sobre as atividades agropecuárias. Um trabalho de
avaliação da situação da agropecuária na região sugere, principalmente, o que precisa ser feito depois de passado esse
período mais crítico, para quando o fenômeno da seca nessas proporções volte a se repetir, as famílias estejam mais
preparadas e seus efeitos sejam minimizados.
É nessa perspectiva que a Embrapa, por meio de um centro de pesquisa localizado no Semiárido brasileiro, bem
como outras instituições de pesquisa da região, propõe intervenções para a redução da fragilidade dos sistemas de
produção e a busca de oportunidades econômicas que demonstrem mais resiliência aos fenômenos da seca, sempre
ressaltando que a diversidade do quadro natural e social do Semiárido requer alternativas diferenciadas de inovações
técnicas e ações de políticas públicas. Entre as contribuições das pesquisas da Embrapa que, integradas aos programas de
desenvolvimento governamentais e da sociedade civil podem reduzir os efeitos do fenômeno da seca sobre a população
rural, destacam-se a captação, armazenamento e uso de água de chuvas, a valorização da biodiversidade do bioma
Caatinga e a produção animal, com destaque para a caprinovinocultura.
A seca é um evento climático difícil de ser previsto, mas intervenções e estratégias podem ajudar as populações a
estarem mais preparadas para conviverem com o fenômeno. Algumas estratégias que vêm obtendo sucesso em outras
regiões do mundo estão associadas a mudanças geográficas em sistemas agrícolas, sistemas de sequeiro resilientes às
mudanças climáticas e sistemas de irrigação mais eficientes (Solh&Ginkel, 2014). No caso brasileiro, necessita-se
explorar estas e outras alternativas, dentro de contextos mais transversais ligados às questões relativas ao uso da água, do
solo e da biodiversidade, de forma conectada ao clima e cenários de mudanças climáticas, bem como de contextos mais
aplicados relativos à produção vegetal, produção animal, bioenergia e sistemas integrados, de modo a propor soluções
tecnológicas adequadas à realidade brasileira.
Fonte: https://www.embrapa.br/tema-convivencia-com-a-seca/sobre-o-tema

Perguntas e respostas
O que é a seca? por exemplo, é considerado normal. Se isto ocorre no Sul
A seca é um fenômeno natural que não possui uma ou na Amazônia, seria catastrófico.
definição rigorosa e universal. Pode ser entendida como
deficiência em precipitação (chuva) por um extenso Quais as principais consequências desse fenômeno?
período de tempo, resultando em escassez hídrica com A seca é considerada um dos principais limitantes que
repercussões negativas significativas nos ecossistemas e afetam a segurança alimentar e a sobrevivência de mais de
nas atividades socioeconômicas. O conceito depende das dois bilhões de pessoas em todo o planeta. A eficiência
características climáticas e hidrológicas da região produtiva nas regiões mais suscetíveis às estiagens
abrangida e do tipo de impactos produzidos. Em termos de depende de uma série de medidas de monitoramento e
Brasil, seis meses sem qualquer precipitação no Semiárido, mitigação dos efeitos negativos desse fenômeno, através do
uso racional e sustentável dos recursos hídricos (água), 800 mm anuais – quantidade que, em outros semiáridos do
edáficos (solo) e da biodiversidade. mundo, permite uma produção agrícola maior e,
consequentemente, menos pobreza.
Desde quando se tem registro de seca no Brasil? Entende-se, então, que o problema maior do Semiárido
Os primeiros relatos de ocorrência de seca no Nordeste brasileiro não é a quantidade de água caída, mas forma
brasileiro datam do final do século XVI (1583/1585), como as chuvas se distribuem no tempo e no espaço.
quando cerca de cinco mil índios foram obrigados a fugir É comum, por exemplo, um só trimestre registrar até 90%
do sertão em função da fome, sendo socorridos pelos da precipitação anual. Da mesma forma, dentro de um
brancos. Desde então, inúmeros registros já foram feitos, ciclo de cultivo, muitas vezes a quantidade de chuva
considerando-se os períodos mais drásticos de seca os anos precipitada seria suficiente para uma colheita satisfatória se
de 1615, 1692/93, 1709/11, 1723/27, 1744/45, 1776/78, bem distribuída ao longo do ciclo. Entretanto, ela se
1790/93, 1831, 1844/46, 1877/79. concentra em uma ou duas chuvas e acaba não permitindo
Calcula-se que a cada 100 anos há entre 18 e 20 anos com a produção e a colheita adequadas.
secas intensas. O século XX foi um dos mais drásticos,
registrando 27 anos de estiagem, em que se destaca o A seca ocorre em todo o Nordeste brasileiro?
período de 1903/1904, quando passou a constar na Lei de O fenômeno frequente da seca está restrito à região
Orçamento da República uma parcela destinada às obras semiárida do Nordeste, que compreende uma área de
contra as secas. Já nos anos de 1979/1984 ocorreu a mais 969.598,4 km2, abrangendo 1.133 municípios dos estados
prolongada e abrangente seca da história do Nordeste, de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio
observando-se ainda estiagens intensas em 1993, 1998, Grande do Norte e Sergipe, além do norte de Minas Gerais.
2001 e 2012/2014. Nas áreas litorâneas, o índice de chuvas é bem maior em
função da umidade que vem do oceano. O mesmo vento
Que medidas vêm sendo tomadas para mitigar os poderia levar água para o sertão, já que o Semiárido
efeitos da seca? nordestino não é cercado por cadeias de montanhas que
No ano de 1891 foi incluído na Constituição Brasileira um barrem os ventos úmidos. Entretanto, a brisa marítima não
artigo que obrigava o Estado a socorrer áreas atingidas por é forte o suficiente para provocar chuvas em uma região
desastres naturais, entre eles a seca. Atividades de combate maior que os 100 quilômetros da faixa costeira.
aos efeitos desse fenômeno – como construção de açudes e
barragens, perfuração de poços, assistência à população É possível aproveitar as águas subterrâneas da região?
com distribuição de alimentos, formação de "frentes de Grande parte do Semiárido está sobre o embasamento
trabalho" etc. – iniciaram-se em 1909, com a criação da cristalino. Os aquíferos dessas áreas caracterizam-se pela
Inspetoria de Obras Contra as Secas (Iocs), posteriormente forma descontínua de armazenamento. A água se localiza
denominada Departamento Nacional de Obras Contra as em fendas na rocha, onde se formam pequenos
Secas (DNOCS). Desde então, diversas medidas têm sido reservatórios e, tendo contato com o substrato, se
tomadas, de forma que mesmo tendo ocorrido mineralizam facilmente. Ou seja, as águas se tornam
recentemente no Nordeste a maior seca dos últimos 50 salinas ou salobras, servindo quase sempre somente para
anos, os efeitos para as populações foram bastante dessedentação animal. Em outras palavras, de uma maneira
minimizados em função das políticas públicas existentes. geral, os poços têm pouca água e a água, pouca qualidade.

No Brasil, a seca tem deixado de ser um problema A irrigação não seria a solução para o Nordeste?
somente do Nordeste? Em algumas áreas do Semiárido, mesmo com baixa
São Paulo viveu em 2014 a maior seca dos últimos 80 precipitação, tem-se praticado uma agricultura irrigada de
anos. Em 2012, cerca de 650 municípios da Região Sul grande pujança, com produção de frutas inclusive para
estavam em situação de emergência por causa da seca, exportação. O submédio São Francisco, na divisa dos
sendo 142 municípios no Paraná, 375 no Rio Grande do estados da Bahia e Pernambuco, e o vale do Açu, no Rio
Sul e 133 em Santa Catarina. Apesar de ela nunca ter sido Grande do Norte, são bons exemplos dessa agricultura de
um fenômeno exclusivamente nordestino, aparentemente sucesso. Ocorre que isso não pode ser estendido para todo
essas áreas têm se ampliado. Segundo alguns estudiosos, o Semiárido. Ainda que se possa pensar em ampliar
desde 1950 terras secas vêm aumentando quase 2% por bastante as áreas irrigadas, existem limitações de solo e de
década em todo o mundo, e o Brasil não é uma exceção. disponibilidade de água que não permitem que se faça
Entretanto, problemas como os que São Paulo enfrentou irrigação em toda a região. Há estudos, inclusive, que
em 2014, especialmente de abastecimento de água, podem apontam que apenas 5% do Semiárido atende os requisitos
ser atribuídos não somente às mudanças climáticas como mínimos para o uso de irrigação.
ao inchaço urbano e à infraestrutura insuficiente de
abastecimento. Qual a diferença entre combate e convivência com a
seca?
Qual o diferencial do fenômeno no Nordeste? Desde a década de 1980, entendeu-se que não era possível
Diz-se que o grande problema do Semiárido é a seca. "combater" ou "enfrentar" a seca. Mudou-se, então, o
Entretanto, em muitos locais da região chega a chover até olhar, aparecendo a palavra "convivência" como mais
apropriada. O entendimento é de que, se por um lado o entendendo que para se conviver nesse ambiente torna-se
fenômeno natural sempre ocorreu e deverá inclusive se necessário ter sistemas de produção diversificados com
agravar e, por consequência, não dá pra ser combatido, por cultivos alimentares, culturas de renda e, principalmente,
outro, pode-se desenvolver propostas e experimentar pequenas criações, é preciso, cada vez mais, trabalhar com
alternativas baseadas na ideia de que é possível e plantas mais resistentes (buscar inclusive opções entre
necessário conviver com ele. espécies nativas), animais mais rústicos ainda que menos
produtivos, além de se buscar uma harmonia com o
As secas não poderiam ser previstas? ambiente em que se vive. Outra questão crucial para a
Especialistas afirmam que, mesmo com todo o aparato convivência é a efetiva assistência técnica e extensão rural.
moderno de equipamento e tecnologia, não há nada seguro
que se possa prever além de 90 dias. No entanto, registros Fonte: https://www.embrapa.br/tema-convivencia-com-a-
históricos apontam que as secas são cíclicas, repetindo-se seca/perguntas-e-respostas
fenômenos mais extremos a cada 13 anos,
aproximadamente. Desta forma, elas não podem ser
previstas com precisão, mas é possível que os governos e
populações estejam preparados para minimizar seus
efeitos.

Quais foram os efeitos da seca de 2011/2013?


Como consequência dessa seca, considerada a maior dos
últimos 50 anos, houve grande frustração de safra em todas
as áreas do Semiárido, perdeu-se grande parte do rebanho,
especialmente de bovinos – não só por morte como
também animais que foram vendidos por preços muito
baixos para outras regiões –, houve grande perda das
pastagens, uso predatório de plantas da Caatinga para
alimentação animal, morte inclusive de muitas espécies
nativas (em determinadas áreas essas mortes chegaram a
30 a 40% das plantas). O que houve de diferente dessa seca
para outras de proporções semelhantes foi que na última
não se observou o êxodo em massa da população de
determinadas áreas, ou mesmo os saques em feiras e
mercados. Também não houve morte de pessoas por fome
e sede. Ainda que não seja uma solução definitiva para o
problema, isto se deve em grande parte às politicas de
complementação de renda ora em curso no país.

Pode se dizer que as populações estão mais preparadas?


Quem vive no Semiárido já convive com a seca, e de uma
forma ou de outra busca mecanismos para conviver com os
seus efeitos. Passar oito a dez meses por ano sem chuva é
comum. Ocorre que em uma seca dessas proporções é
sempre difícil estar preparado. A preocupação em
armazenar água para consumo humano e animal, o cultivo
de plantas mais tolerantes, a implantação de reservas
estratégicas para alimentar os animais e a conservação de
forragem na forma de feno e silagem são práticas ainda
incipientes, mas que já se observam em muitas áreas e que
minimizam os prejuízos provocados pela seca.

Que soluções podem ser apontadas para a convivência


com a seca?
Não existe uma receita pronta e que sirva para todos.
Entretanto, é essencial que as famílias tenham acesso à
água para consumo humano, para consumo animal e, em
alguns casos, para alguma produção. Além disso, é
necessário que se tenha uma gleba de terra com tamanho e
qualidade suficientes para o sustento dos agricultores e de
suas famílias. Havendo políticas que garantam isto, e

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