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Esta tendência compôs o ideal universal de


beleza, dominando a arte da antiguidade até o século
XVII.
Professor: Rogério Amorim Turma: Em oposição, no século XVII, os empiristas
originaram outra tradição, o belo tornou-se relativo,
Introdução à Estética. subjetivo, circunscrito ao gosto de cada um, a maneira
como cada sujeito percebe o objeto.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, O que criou uma oposição que seria resolvida
Volume out., Série 17/10, 2011, p.01-09. parcialmente por Kant, no século XVIII, para quem a
objetividade está no objeto e a subjetividade no sujeito.
A palavra estética deriva do grego “aisthesis”, Portanto, o belo existe em si, no objeto, mas
significando faculdade de sentir ou compreensão pelos nem sempre é percebido por aquele que não foi
sentidos, ou ainda percepção totalizante. educado para apreciar a beleza, tal como um critico de
arte.
No século XIX, Hegel introduziu o contexto
histórico na concepção de beleza, para o qual o “devir”
(as mudanças) se refletem no gosto.
Este, por sua vez, sofre a interferência da
cultura, construindo uma visão de mundo.
A partir destas tradições, uma concepção
diferente surgiu no século XX, vinculada a
fenomenologia, principalmente aplicada à arte, quando
o belo passou a ser aquilo que possui significado,
Neste sentido, a estética é o ramo da filosofia
independente de sua correspondência com a realidade.
que se ocupa da interpretação simbólica do mundo,
O belo é mensurado pela sensibilidade, o que,
simultaneamente é uma ciência autônoma que tem por
contemporaneamente, remete a psicologia, ciência que
objeto o juízo de apreciação que distingue o belo e o
atribui à beleza uma resposta narcisista ao que
feio.
gostamos ou gostaríamos de ver em nós mesmos.
No entanto, a área é ainda mais ampla, pois
Porém, uma resposta mais filosófica diria que
possui subdivisões, como a estética teórica, a qual
apreciamos o que se idêntica com nossa visão
procura características comuns na percepção do objeto,
particular de mundo.
o que o torna, por exemplo, universalmente agradável.
Definição que atende a questão do belo em
A estética estuda também a arte, estabelecendo
linhas gerais, mas que não responde porque
uma critica a estrutura e construção do objeto, dentro
consideramos determinado objeto que não é belo como
do âmbito da estética prática ou particular.
arte.
Pensando assim, podemos afirmar que a
estética discuti o gosto, um conceito ligado ao
O conceito de arte.
julgamento dos objetos pela sensibilidade,
Nem tudo que é belo pode ser considerado
conhecimento e reconhecimento.
arte, por outro lado, o repugnante ou feio pode ser
Concepções categorizadas pelo senso comum
artístico.
como preferência, mas que depende de valores,
O que demonstra que arte está localizada em
contextos, momentos históricos; estando subordinada
uma esfera para além do belo.
igualmente à política e ideologia.
Portanto, cabe perguntar o que é arte?
O gosto, por sua vez, remete a questão da
Em linhas gerais, várias definições para arte
definição de belo, uma discussão filosófica que se
são possíveis, isto dado a própria subjetividade de sua
arrasta desde a antiguidade.
conceituação, até porque esta sofreu alterações de
acordo com a época e contexto.
O belo e o feio.
A palavra arte foi originada a partir do latim
A questão da beleza, embora envolva uma
“ars”, cujo significado literal é técnica ou habilidade.
grande relatividade, com respostas diferentes para cada
Até o século V a.C, a palavra nem existia, os
individuo, instigou os filósofos ao longo da história,
gregos utilizavam o termo “tekné”, com o sentido de
fundando algumas tradições que influenciaram a
domínio da técnica, denotando uma pericia em criar
conceituação em torno do belo até hoje.
significados para um objeto.
Segundo a corrente platônica, o belo existiria
Neste sentido, nos primórdios da humanidade,
em si, a partir de uma essência ideal, objetiva,
em sociedades primitivas, a arte possuiu significado
independente do gosto.
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místico ou religioso, assumindo na antiguidade um 5º. Teatro.
caráter político. 6º. Literatura.
Tendência que, de certa forma, está presente 7º. Cinema.
na arte até hoje, visto que contemporaneamente existe,
inclusive, uma significação ideológica. Entretanto, a evolução do conceito de arte fez
Filosoficamente, a arte pode ser definida pelo surgirem mais quatro tipos:
menos por três ângulos: a partir de sua relação com a 8º. Fotografia, antes englobada também pelo cinema.
realidade, com o sujeito e com a sociedade. 9º. História em Quadrinhos.
Pensando a arte no âmbito daquilo que é tido 10º. Videojogos.
como real, poderia ser definida como uma tentativa de 11º. Computação Gráfica.
imitação da natureza.
Ao mesmo tempo, entendendo a natureza em Embora alguns teóricos desmembrem estas
sentido amplo e o homem como parte desta, a arte artes em outros, incluindo: Poesia, Grafite ou a
pode ser definida como expressão do sujeito, chamada Arte-Educação.
admitindo como artístico a manifestação das Seja como for, além do nó representado pela
impressões e sentimentos. definição de arte, existe ainda o problema da resposta a
Pensada a partir de sua relação com o sujeito, a questão: para que serve a arte?
arte pode ser definida como meio de expressão da Pontuar a utilidade da arte é um problema
sensibilidade, da faculdade de sentir externalizada em complexo, pois, em primeiro lugar, configura
um objeto, revelando uma contemplação do mundo, do expressão cultural, denotando a história de um povo e
outro e de si mesmo. da humanidade.
O que envolve o domínio da técnica e de Apesar da arte ser revestida de utilidade
conhecimentos teóricos, capacitando a criar novos prática em alguns casos, como, por exemplo, na
significados a um mesmo objeto, configurando uma arquitetura ou fotografia; pode ser também totalmente
linguagem que possibilita comunicar o que é para o subjetiva, carregada de significado para um sujeito e
sujeito, através do tempo, para o outro e a posteridade. não servindo para nada para outra pessoa.
O contexto social confere a arte outros No entanto, a arte possui utilidade que
significados, ligados a religião, política, ideologia, ultrapassa a função meramente decorativa, avançando
moral, educação e até a funcionalidade prática do pelo viés inconsciente dentro do âmbito da psicologia;
objeto. ou ainda adentrando a função educativa, ajudando a
A arte pode ser definida como instrumento conservar a memória da humanidade e a construir
cultural, educativa e cognoscível de manutenção das novos conhecimentos.
permanências ou de transformação. Para a filosofia, a arte faz parte do
Impondo valores de um grupo sobre o questionamento do mundo, colaborando para fomentar
conjunto da sociedade ou rompendo com valores questões existenciais em torno do “eu” e do “nós”,
estabelecidos. levando a pensar e questionar o que esta oculto por trás
Qualquer que seja a definição, todas estão de das aparências.
acordo com o sentido amplo do que é a arte: elemento Como no caso do pressuposto filosófico
que reorganiza significados, confere sentido ao caos. kantiano, que diz que não se ensina filosofia, mas sim
Insere-se neste significado, inclusive, uma filosofar; a arte precisa ser vivida para que possamos
definição contemporânea de arte como produto entendê-la plenamente, descobrindo sua utilidade.
cultural, objeto coisificado pelo capitalismo; produto
que visa lucro e que pode massificar a dita cultura O desenvolvimento da Estética.
erudita, tornando-a presente na cultura popular; ou Não é possível falar em estética antes do
fazer o inverso, tornar erudito o que antes era popular. século VI a.C, uma vez que, nas sociedades tribais,
Assim, a arte comporta múltiplas definições, embora houvesse manifestações artísticas e parâmetros
mas todas dentro de um mesmo preceito. apara definir o belo, não existia uma preocupação em
Igualmente, arte pode ser representa em discutir de forma sistematizada as chamadas questões
diferentes manifestações, a despeito de até o século estéticas.
XX ser classificada pela estética em sete diferentes Na pré-história, antes da invenção da escrita,
tipos. os objetos que poderíamos classificar como dentro da
As formas de arte clássicas são as seguintes: amplitude da estética eram produzidos com uma
1º. Música. função puramente pragmática, tentando reproduzir a
2º. Dança. realidade, referenciando a transmissão do
3º. Desenho e Pintura. conhecimento e, ao mesmo tempo, significando uma
4º. Escultura e Arquitetura. visão particular.
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É quando esta representação da realidade nocivos a razão, aprendendo a lidar com eles, fazendo
assumiu um significado religioso, espiritual, que os uma catarse, expulsando-os de seu ser.
objetos estéticos transcenderam ao mitológico, No período romano, obviamente, a valorização
misturando razão e tentativas de explicação do mundo da arte da retórica conduziu a inúmeras discussões
através do simbólico e não concreto. estéticas, com implicações que explicam o surgimento
No mesmo momento em que a passagem do da palavra latina arte.
mítico para o racional foi iniciada pela filosofia, o Nesta época passou a existir uma grande
teatro grego conduziu a estética para a racionalidade, a valorização da poesia, além de um resgate de
despeito do termo estética ainda nem existir. concepções gregas ligadas à arquitetura e escultura,
No século VI a.C, a tragédia começou a compondo um padrão de enaltecimento do belo como
retratar a saga dos heróis, discutindo os mitos, reafirmação da dominação política da Roma sobre o
colocando em primeiro plano a questão envolta do que mundo dito civilizado.
é a arte e de sua relação com o real, fomentando A discussão fomentada por esta tendência foi
discussões estéticas. colocada de lado na Idade Média, quando a visão
Seguindo esta tendência, os pré-socráticos platônica da arte foi absorvida pela Igreja Católica.
iniciaram a sistematização das discussões estéticas, Porém, a questão do belo ganhou uma
estabelecendo um questionamento de ordem lógica e concepção religiosa, revelada pelo simbolismo da
especulativa, investigando, por exemplo, a natureza do atribuição da beleza divina, suprema, a Deus.
belo e a definição de arte. Em outras palavras, o belo passou a ser aquilo
Para Heráclito; dentro da concepção de fluxo que fosse capaz de aproximar de Deus, falar ou
constante, onde nada persiste, transformando-se; o belo significar à espiritualidade.
estaria na harmonia, a qual é alcançada através dos A arte passou a servir a esta concepção
opostos. enaltecendo o culto a Deus através da perfeição das
O filosofo afirma que “o contrário é proporções e medidas, da busca pela luminosidade, da
convergente e dos divergentes nasce à harmonia”. solidez expressando o eterno.
Enquanto para Demócrito, criador do É a época das catedrais e do estilo gótico,
atomismo, a arte se origina da tendência humana de carregado de luz e cores, revelando um simbolismo
imitar a natureza, ou seja, é pura “mimesis”, palavra espiritual.
que me grego significa representação ou imitação. As discussões estéticas, por isto mesmo,
Um conceito retomado por Platão, para quem a ficaram mescladas à metafísica, servindo à exegese,
arte, sendo mimesis do mundo sensível, visto o decifração dos textos sagrados.
inteligível ser o real, não passa de cópia da cópia. A questão central passa a ser como representar
Portanto, a arte seria desprovida de valor, entre os homens a beleza divina dos céus e de Deus.
menos digna de figurar como problema do que a ética Uma visão que só começou a mudar com o
ou a metafísica, pois representaria uma ilusão. Renascimento, no século XIV, quando o progresso da
Visão oposta a de Aristóteles, que trata da ciência conduziu ao humanismo, deslocando o centro
estética na obra Poética, onde a arte é definida como estético de Deus para o homem, marcado pelo
“poésis”, palavra que pode ser traduzida do grego princípio de resgate dos valores da antiguidade e a
como disposição para produzir. tentativa de alcançar a perfeição ao imitar a natureza
Segundo Aristóteles, embora a arte seja por meio da arte.
mimesis, imitação do que é possível por probabilidade, Este principio fez ressurgir a discussão sobre o
ela vai além da imitação, cria o que a natureza não foi belo, considerado fruto da harmonia numérica entre o
capaz de criar. todo e as partes e com a natureza.
Neste sentido, determinadas artes, como a Uma tendência que ganhou prosseguimento no
tragédia, possuem uma finalidade elevada: a “catarse”, século XVI, influenciada pelo racionalismo cartesiano,
a purificação dos excessos emocionais, instaurando a inaugurando um novo período.
harmonia. O classicismo adotou critérios da razão para
A catarse; termo que em grego significa discutir a estética, ainda chamada de poética, momento
purificação, evacuação ou purgação; corresponderia a em que os elementos irracionais presentes nas artes
uma descarga emocional provocada pela mimesis, começaram a ser questionados como parte da
libertando o homem de substâncias estranhas à sua separação entre fé e ciência.
essência racional, purificando esta essência dos A palavra estética só surgiu no século XVIII,
elementos que corrompem a racionalidade, tal como o foi empregada pela primeira vez em 1750 por
sentimento de medo ou piedade. Alexander Baumgarten, como sinônimo do estudo da
Ao viver através do outro, assistindo uma arte e do belo, construída a partir da palavra grega
representação teatral, o homem viveria sentimentos “aisthesis”.
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O alemão Baumgarten foi aluno de Christian
Wolff, o sistematizador da filosofia de Leibniz, sendo
influenciado pela idéia de que existiriam três
faculdades da alma: razão, vontade e sentidos.
Embora a discussão estética existisse desde a
antiguidade, nomeada como poética, somente neste
momento surgiu como ramo especifico da filosofia.
Antes a estética estava dentro da metafísica, da
ética, da moral, da política e da lógica; a partir do
século XVIII, passou a estudar os objetos da faculdade
de sentir, enquanto a razão ficou restrita a lógica e a
vontade circunscrita a ética. O conhecimento
Portanto, a estética se constituiu como parte filosófico e seu instrumental foi colocado a serviço da
especifica da filosofia e, gradualmente, tornou-se uma análise da arte, entendida como contemplação
ciência autônoma e independente. intelectual interna do universo, externalizada de modo
simbólico.
A estética como ciência. É neste sentido que Hegel pensou a arte como
Através da conceituação de Baumgarten, a etapa necessária ao desenvolvimento da religião e
estética foi se constituindo como ciência, tendo por espiritualidade, simbolizando o mundo em sentido
objeto a contemplação da beleza, efetuada plenamente lógico e histórico, revelando a verdade na forma de
na criação de obras de arte. imagens nem sempre construídas pela razão.
No entanto, Baumgarten considera a estética Porém, a arte ajudaria na racionalização do que
como gnosiologia inferior, composta por imagens a mente humana não consegue entender em um
confusas em comparação a gnosiologia superior, primeiro momento.
circunscrita a lógica. Assim, a filosofia da arte decodifica o que o
Foi Kant que notou que a estética vai além da gênio natural do artista intuiu e transformou em arte,
faculdade de julgar ou sentir, possibilitando um juízo expressão do entendimento do mundo pelos sentidos.
reflexivo, levando o homem a repensar conceitos
através da transformação de objetos. Concluindo.
Portanto, as obras de arte, além de estarem Mensurar a utilidade da estética é um assunto
voltados para o prazer, questionam o mundo e tão complexo como perguntar para que serve o
propõem ao observador um repensar a si mesmo e tudo conhecimento de forma geral.
que o cerca. Não obstante, no âmbito da filosofia, a estética
Embora não aparente, o juízo estético reflete está entrelaçada com outras subáreas como a
sobre tempo e espaço, adentrando a capacidade criativa metafísica, a lógica, a ética e a própria teoria do
e o desenvolvimento matemático contido no domínio conhecimento.
da técnica, repleta de relações de quantidade e A estética é imensamente abrangente,
proporção. possibilitando discutir questões que dizem respeito à
Conceito complementado pelas idéias do essência do que se entende por filosofia, penetrando no
holandês Baruch Espinosa, por meio da transposição questionamento dos valores que conferem parâmetros
de seu pensamento por Goethe, segundo o qual a arte ao gosto, interpretando o que está por trás das
imita a natureza, mas também cria o novo. aparências.
Neste sentido, a estética pode ser definida Ao entender a formação dos juízos pelos
como ciência, pois sistematiza o conhecimento criado sentidos, podemos contornar conceitos pré-concebidos
a partir do entendimento da realidade contida na arte e que falseiam opiniões.
em discussões conceituais inerentes ao juízo dos A estética, neste sentido, pode ser libertadora,
sentidos. liberando o homem de julgamentos precipitados, os
quais parecem espontâneos, mas que não passam de
Filosofia da arte. uma herança adquirida através dos séculos.
Como desdobramento da estética, Friedrich No mundo globalizados, na sociedade de
Wilhem Joseph Von Schelling, representante do consumo, onde a construção de pressupostos estéticos
idealismo alemão, no século XIX, originou a filosofia se tornou ferramenta de manipulação mercadológica,
da arte. política, social e ideológica; a estética assumiu uma
importância ainda maior.
A estética ajuda a desmontar a pseudo-
realidade para auxiliar o sujeito em sua tentativa de
sair da caverna da alienação.
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Para saber mais sobre o assunto.
ADORNO, T. Teoria estética. Lisboa: Martins Fontes,
1970.
BAYER, R. História da estética. Lisboa: Estampa,
1978.
PAREYSON, L. Os problemas da estética. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.

Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em História Social pela FFLCH/USP.
Bacharel e Licenciado em Filosofia pela
Universidade de São Paulo.

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