Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS

JOEL DIEGO TEIXEIRA BATISTA

PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS E EFICÁCIA HORIZONTAL


DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Teófilo Otoni
2019
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS E EFICÁCIA
HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Trabalho de Direito Civil apresentado ao Curso de Direito, da


Universidade Presidente Antônio Carlos.

ORIENTADOR: Prof. Márcio Júnior

Teófilo Otoni
2019
INTRODUÇÃO
Há em curso uma crescente modernização das relações contratuais promovida por políticas de
vertente liberal. Com essa modernização tem se intensificado a flexibilização dos contratos.
Essa medida está incluída no projeto que visa desburocratizar a economia brasileira. No
entanto tal medida deve ter como limite o princípio da função social dos contratos. A
autonomia privada não é um princípio absoluto como será demonstrado nesse trabalho.
Nesse contexto o presente trabalho visa analisar a evolução da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais e a sua influência para o surgimento da função social dos contratos.

1 EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


Os direitos fundamentais surgiram em um contexto onde se buscava a proteção dos
indivíduos frente ao Estado. Essa preocupação em proteger as liberdades individuais era uma
reação natural já que o Estado anterior era absolutista.
Esse primeiro conjunto de direitos que pretendiam resguardar as liberdades individuais frente
ao Estado ficou conhecido como direitos negativos. Negativos porque eles exigiam do Estado
um não fazer, eram limites postos a ação do Estado.
Com a consolidação do Estado liberal que enaltecia o livre mercado e as liberdades dos
indivíduos e não atentava muito ao social, a preocupação agora voltava-se para a proteção do
Estado aos vulneráveis e marginalizados pela sociedade. Assim surgiu a chamada segunda
dimensão dos direitos fundamentais, nessa dimensão passou-se a exigir do Estado ações como
educação, saúde, lazer etc.
Na terceira geração dos direitos fundamentais a atenção voltava-se para a vida global do
planeta, a preocupação agora era a solução pacíficas dos conflitos entre as nações e a proteção
do meio ambiente.
Todas as três gerações dos direitos fundamentais, no entanto tinha um aspecto vertical. Tais
princípios tinham a intenção de tornar a relação indivíduos com o Estado equilibrada. Era a
chamada eficácia vertical, pois cuidava de equilibrar os cidadãos com o Estado, impedindo
abusos do poder estatal.
Com o crescimento econômico e o surgimento de uma sociedade capitalista cada vez mais
complexa veio a necessidade de que os direitos fundamentais fossem empregados nas relações
horizontais entre os próprios cidadãos. Agora a preocupação passa a ser com os limites da
liberdade individual.
Nesse contexto o Estado passa a disciplinar as relações entre particulares para que os
princípios da dignidade humana, justiça, fraternidade não fossem violados. A liberdade
individual passa então a ter um limitador.
Um dos marcos que exemplificam a eficácia horizontal dos direitos fundamentais das relações
privadas no Brasil foi a decisão do ministro Gilmar Mendes do julgado, RE 201.819/RJ,, DJ
de 27.10.2006:
SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DE
COMPOSITORES. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES
PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO. I. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no
âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre
pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela
Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados
também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. II. OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA DAS ASSOCIAÇÕES.
A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer associação civil a
possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados
que têm por fundamento direto o próprio texto da Constituição da República, notadamente em
tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de autonomia privada
garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência dos princípios
constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A
autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em
detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente aqueles
positivados em sede constitucional, pois a autonomia da vontade não confere aos particulares,
no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições
postas e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa também se
impõem, aos particulares, no âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades
fundamentais. (...)”
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=388784)

Verifica-se então a atuação do Estado como disciplinar das relações entre particulares com
intuito de manter o equilíbrio das relações.
2 FUNÇÃO SOCIAL COMO UMA INCIDÊNCIA HORIZONTAL DO DIREITO
FUNDAMENTAL
Como foi mostrado a incidência dos direitos fundamentais na esfera horizontal veio como
limite disciplinador das relações sociais. Na medida que a sociedade e suas relações
evoluem o Direito como uma ciência social precisa também se adequar.
A função social é um princípio que foi inserido em nosso ordenamento jurídico com a
constituição de 1988. Trata-se de um princípio constitucional. O código civil de 2002 passa
também a empregá-lo. Com ele mudando a forma como a relação contratual até então era
vista. Opondo se assim ao individualismo e a liberdade plena entre os contratantes.
O artigo 421 do código civil no seu inciso I conceitua a função social como um princípio
limitador da liberdade contratual.
Embora o código civil dê autonomia entre os contratantes para a celebração do contrato,
essa autonomia não é absoluta, é uma liberdade relativizada pela função social.
Com tudo essa limitação não elimina o princípio da autonomia contratual como define a I
jornada do Direito Civil.
A função social do contrato não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua
ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou
interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. É o que define o Enunciado 23
da I jornada do Direito Civil.
Em síntese, a função social dos contratos conforme a legislação demonstra é um princípio
limitador da liberdade contratual. Assim sendo é um princípio que norteia as relações contratuais
entre indivíduos. Uma manifestação horizontal dos direitos fundamentais com o objetivo de
proteção e tutela da dignidade humana.

CONCLUSÃO
As políticas econômicas atuais têm promovido inúmeras mudanças nas relações privadas do
Direito. Há uma tendência para a flexibilização dessas relações contratuais com o intuito de dar
maior liberdade na economia e assim facilitar a geração de empregos. No entanto essa
flexibilização exagerada ameaça direitos fundamentais na esfera privada.
Não se pode em nome de qualquer política deixar de observar princípios de ordem pública cuja
finalidade é a proteção das garantias fundamentais.
Entender a função social dos contratos é de extrema importância nos dias de hoje em plena era
da evolução das relações sociais.
REFERÊNCIAS
BRAGA, José Maria. Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais e Autonomia
Privada. Disponível em https://jus.com.br/artigos/62319/eficacia-horizontal-dos-direitos-
fundamentais-e-a-autonomia-privada
SAVAZZONI, Simone de Alcantara. Eficácia dos Direitos Fundamentais. Disponível em
http://www.lfg.com.br
BRASIL, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, DF,23 dez. 1996. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm
BRASÍLIA, I Jornada de Direito Civil. Conselho da Justiça Federal. Disponível em
https://www.cjf.jus.br/

Você também pode gostar