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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

MANUAL TÉCNICO

CURSO DE MERGULHO
AUTÔNOMO
2ª EDIÇÃO REVISTO E AMPLIADO
2012
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


DIRETORIA GERAL DE ENSINO E INSTRUÇÃO
COMANDO DE BOMBEIROS DE ÁREA DAS ATIVIDADES ESPECIALIZADAS
GRUPAMENTO DE BUSCA E SALVAMENTO

MANUAL TÉCNICO DO CURSO DE MERGULHO AUTÔNOMO

1ª EDIÇÃO - AUTORES

CAP PMBA JOSÉ ACCYOLE S. MENEZES


CAP BM QOC/86 JOÃO FLÁVIO SOUZA DA ROCHA
CAP BM QOC/86 RICARDO DOS SANTOS LOUREIRO
CAP CBMCE RONALDO BRUNO DE ANDRADE

2ª EDIÇÃO - AUTOR

MAJ BM QOC/99 MÁRIO HENRIQUE SOARES LASNEAUX

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

ÍNDICE
CAPÍTULO 1 - HISTÓRICO DO MERGULHO 09
1.1 - História do Mergulho Autônomo 09
1.2 - História do Mergulho no Brasil e no CBMERJ 15
1.3 - Registros de Operações de Mergulho do CBMERJ 17
CAPÍTULO 2 - FÍSICA DO MERGULHO 18
2.1 - Princípios Básicos da Física do Mergulho 18
2.1.1 - Física 18
2.2 - Unidades e Equivalência Padrão 18
2.2.1 - Sistemas de Medição 18
2.2.2 - Comprimento 20
2.2.3 - Área 20
2.2.4 - Volume 21
2.2.5 - Peso 23
2.2.6 - Temperatura 23
2.3 - Pressão e o Mergulho 24
2.3.1 - Pressão 24
2.3.2 - Tipos de Pressão 26
2.3.3 - Cálculo de Consumo de Ar do Cilindro 28
2.4 - Composição do Ar Atmosférico 29
2.5 - Energia e o Mergulho 30
2.5.1 - Energia Luminosa 30
2.5.2 - Energia Mecânica 32
2.5.3 - Energia Calorífica 33
2.6 - Lei dos Gases 34
2.6.1 - Lei de Boyle/Marriote 34
2.6.2 - Lei de Charles/Gay-Lussac 35
2.6.3 - Equação Geral dos Gases 37
2.6.4 - Lei de Dalton 38
2.6.5 - Lei de Henry 39
2.7 - Princípio de Arquimedes 40
2.7.1 - Empuxo 40
CAPÍTULO 3 - FISIOLOGIA APLICADA AO MERGULHO 42
3.1 - Introdução 42
3.2 - Fisiologia 42
3.2.1 - Sistema Nervoso 43
3.2.2 - Sistema Circulatório 43
3.2.3 - Sistema Respiratório 45
3.2.4 - Seios da Face 49
3.2.5 - Aparelho Auditivo 49
CAPÍTULO 4 - TIPOS DE MERGULHO 54
4.1 - Mergulho Livre 54
4.2 - Mergulho Autônomo 54
4.3 - Mergulho Dependente 54
CAPÍTULO 5 - MERGULHO LIVRE 55
5.1 - A Arte de Não Respirar 55
5.2 - Técnicas de Respiração 55
5.2.1 - Melhorando a Elasticidade da Caixa Torácica 55
5.2.2 - Respiração pelo Diafragma 58

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ÍNDICE

5.3 - Técnicas de Relaxamento 62


5.3.1 - Relaxamento Total 62
5.3.2 - Exercícios para a Mente 63
5.3.3 - Treinamento Autogênico 63
5.3.4 - Relaxamento Subaquático 64
5.4 - Apnéia Estática 64
5.4.1 - Preparação para a Apnéia Estática 64
5.4.2 - Técnicas de Relaxamento Subaquático 65
5.5 - Apnéia Dinâmica 67
5.6 - Perigos da Apnéia 67
5.6.1 - Hiperventilação 68
5.6.2 - Apagamento 68
CAPÍTULO 6 - EQUIPAMENTOS PARA MERGULHO AUTÔNOMO 70
6.1 - Equipamentos Básicos 70
6.2 - Equipamentos Relacionados com o Fornecimento de Ar 72
6.3 - Acessórios 78
CAPÍTULO 7 - SINAIS DE MERGULHO 87
CAPÍTULO 8 - TIPOS DE ENTRADA NA ÁGUA 90
CAPÍTULO 9 - ACIDENTES DE MERGULHO 91
9.1 - Problemas Respiratórios no Mergulho 91
9.1.1 - Hipóxia 91
9.1.2 - Hipercapnia 92
9.1.3 - Asfixia 93
9.1.4 - Afogamento 94
9.1.5 - Envenenamento por Monóxido de Carbono 94
9.2 - Barotraumas 95
9.2.1 - Barotrauma de Ouvido Médio 96
9.2.2 - Barotrauma de Ouvido Externo 97
9.2.3 - Barotrauma dos Seios da Face 97
9.2.4 - Barotrauma Dental 97
9.2.5 - Barotrauma Torácico 98
9.2.6 - Barotrauma Corporal ou Facial 98
9.2.7 - Barotrauma Reverso de Ouvido Médio 98
9.2.8 - Barotrauma Reverso dos Seios da Face 99
9.3 - Síndrome da Hiperexpansão Pulmonar (SHP) 99
9.3.1 - Embolia Arterial Gasosa 100
9.3.2 - Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo 102
9.3.3 - Pneumotórax 103
9.4 - Efeitos Indiretos da Pressão 104
9.4.1 - Narcose pelo Nitrogênio 104
9.4.2 - Intoxicação pelo Oxigênio 105
9.4.3 - Doença Descompressiva 108
9.5 - Problemas Térmicos no Mergulho 115
9.5.1 - Hipotermia 116
9.5.2 - Vertigem Calórica 117
9.5.3 - Hipertermia 117

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ÍNDICE

9.6 - Outros Problemas Médicos no Mergulho 118


9.6.1 - Desidratação 118
9.6.2 - Otite Externa 119
CAPÍTULO 10 - TABELAS DE MERGULHO 120
10.1 - Modelos Descompressivos 120
10.1.1 - Introdução aos Modelos Descompressivos 120
10.1.2 - Teoria da Descompressão na Prática 121
10.2 - Mergulhos Repetitivos 123
10.3 - Procedimentos de Subida 123
10.4 - Mergulho Descompressivo 124
10.5 - Tabelas de Descompressão 125
10.5.1 - Tabela Limite Sem Descompressão (TLSD) 126
10.5.2 - Tabela de Tempo de Nitrogênio Residual (TTNR) 126
10.5.3 - Tabela Padrão de Descompressão a Ar (TPDAr) 129
10.6 - Mergulho em Altitude e Vôo após Mergulho 137
CAPÍTULO 11 - MISTURAS GASOSAS 139
11.1 - Ar Enriquecido Nitrox 139
11.1.1 - Definição 139
11.1.2 - Vantagens do Nitrox 139
11.1.3 - Desvantagens do Nitrox 139
11.1.4 - Limites do Uso do Oxigênio 139
11.1.5 - Cálculo da Profundidade Equivalente a Ar (PEA) 141
11.1.6 - Preparação e Cuidados com o Uso de EAN 141
11.2 - Trimix 144
11.2.1 - Definição 144
11.2.2 - O Gás Hélio 144
11.2.3 - Vantagens do Trimix 144
11.2.4 - Desvantagens do Trimix 144
11.2.5 - High Pressure Nervous Syndrome (HPNS) 144
11.2.6 - Métodos para Determinar a Mistura Trimix Ideal 145
11.2.7 - Misturas Trimix Mais Usadas 145
11.2.8 - Preparação de Misturas Trimix 146
11.2.9 - O Hélio Usado para Misturas Trimix 146
11.2.10 - Cálculos para Mistura por Pressão Parcial 146
11.2.11 - Análise da Mistura 147
11.3 - Outras Misturas Gasosas 147
11.3.1 - Heliox 147
11.3.2 - Triox 147
CAPÍTULO 12 - MERGULHO TÉCNICO 148
12.1 - Configuração e Equipamentos 148
12.1.1 - Configuração 148
12.1.2 - Equipamentos 149
12.2 - Planejamento do Mergulho Técnico 152
12.2.1 - Fase Pré-Planejamento 152
12.2.2 - Planejamento 152
12.3 - Considerações 159

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

ÍNDICE

CAPÍTULO 13 - HIDROGRAFIA 160


13.1 - Hidrografia do Brasil 160
13.2 - Os Rios e suas Características 161
13.2.1 - Rios de Planalto e Planície 161
13.2.2 - Dinâmica dos Rios 161
CAPÍTULO 14 - OPERAÇÕES DE BUSCA E RESGATE 166
14.1 - Pessoal e Logística nas Operações 166
14.1.1 - Pessoal 166
14.1.2 - Equipamentos 166
14.1.3 - Embarcações e Motores de Popa 167
14.2 - Busca Subaquática 172
14.2.1 - Métodos de Busca 173
14.2.2 - Comunicação nas Operações de Busca 177
14.3 - Orientação com Bússola 178
14.3.1 - Bússola 178
14.3.2 - Utilização da Bússola 179
14.3.3 - Recomendações 180
14.4 - Recuperação de Cargas 181
14.4.1 - Reflutuação 181
14.4.2 - Tracionamento 183
14.5 - Operações de Desencarceramento 185
14.5.1 - Aparelho Desencarcerador 185
14.6 - Primeiros Socorros em Operações 187
14.6.1 - Parada Cardiorrespiratória e Ressucitação Cardiopulmonar 187
14.6.2 - Fraturas 189
14.6.3 - Hemorragias 191
14.6.4 - Trasporte de Acidentados 194
CAPÍTULO 15 - MERGULHO DEPENDENTE 197
15.1 - Generalidades 197
15.2 - Equipamentos para Mergulho Dependente 197
15.2.1 - Fonte de Gás Respirável 197
15.2.2 - Manifold de Controle de Mergulho 198
15.2.3 - Maleta de Comunicação 198
15.2.4 - Umbilicais 199
15.2.5 - Harness de Segurança 199
15.2.6 - Máscara ou Capacete de Mergulho 200
15.2.7 - Roupa Térmica 201
15.2.8 - Suprimento Reserva de Gás (Bail-Out) 201
15.3 - Procedimentos para Mergulho Dependente 201
15.3.1 - Planejando o Mergulho 202
15.3.2 - Seleção da Equipe de Mergulho 202
15.3.3 - Preparação para o Mergulho 203
15.3.4 - Controlando o Mergulhador de Fundo 204
15.3.5 - O Mergulho 205
15.3.6 - Ventilação 206
15.3.7 - Emergências com o Mergulhador 206

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

ÍNDICE

15.3.8 - Subida 208


15.3.9 - Procedimentos Pós-Mergulho 209
15.3.10 - Configurações Alternativas para Mergulho Dependente 209
CAPÍTULO 16 - SERES MARINHOS PERIGOSOS 211
16.1 - Seres que Ocasionam ou Produzem Ferimentos 211
16.1.1 - Falsos Corais Urticantes 211
16.1.2 - Ouriços do Mar 212
16.1.3 - Tubarões 213
16.1.4 - Barracudas 213
16.1.5 - Moréias 213
16.1.6 - Raias Elétricas 214
16.2 - Seres que Injetam Veneno 215
16.2.1 - Água Viva 215
16.2.2 - Arraias 217
16.2.3 - Peixes Venenosos 218
16.2.4 - Serpentes 218
16.2.5 - Caramujos 219
ORAÇÃO DO MERGULHADOR DO CBMERJ 220
BIBLIOGRAFIA 221

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

PREFÁCIO

Para a prática do Mergulho, com ou sem o uso de equipamentos destinados


àquela atividade, muitas e importantes técnicas devem ser empregadas e
criteriosamente respeitadas com o objetivo de possibilitar uma maior eficácia e melhor
desempenho na realização de missões subaquáticas, bem como difundir as normas de
segurança indispensáveis para que se evitem acidentes e as doenças peculiares à
atividade de mergulho.
Através da edição deste Manual Técnico, seus autores esperam que sirva de fonte
de consulta para cada mergulhador da Corporação, seja ele profissional ou
simplesmente praticante descompromissado. Afinal, embora extremamente apaixonante
e prazerosa, a atividade de mergulho é cercada de perigos e riscos, os quais se tornam
praticamente nulos com a observância das normas descritas no presente trabalho.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CAPÍTULO 1 - HISTÓRICO DO MERGULHO

1.1 - HISTÓRIA DO MERGULHO AUTÔNOMO

Desde a antiguidade o homem depende da água para alimentação, transporte e defesa contra
seus inimigos. O mergulho nasceu provavelmente a cerca de 30.000 anos, quando pela primeira vez
um homem nadando viu um objeto no fundo, prendeu a respiração e desceu para tentar vê-lo melhor,
sem utilizar nenhum tipo de equipamento. Embora se ache que o mergulho é uma atividade recente,
hoje já existem provas concretas de que o homem começou a criar acessórios que facilitassem suas
aventuras sob as águas 6.500 anos atrás. Alguns desenhos assírios do ano 900 a.C mostram homens
debaixo d´agua respirando através de um saco com ar, provavelmente para fins militares, enquanto
que cerâmicas gregas datadas de 600 a.C ilustram o trabalho de mergulhadores no cultivo de esponjas
no Mar Mediterrâneo.

Séc. X a.C - Assírios utilizavam sacos de couro para aumentar o tempo de fundo

A história antiga é recheada de narrações que mostram os feitos dos mergulhadores da época:
Heródoto narrou o trabalho de recuperação de tesouros de navios naufragado para o rei persa
Xerxes no século 5 a.C;

Alexandre “O Grande” mergulhava em uma câmara submersível para observar a vida marinha e
utilizava mergulhadores em suas ações militares;

Séc. IV a.C - Alexandre “O Grande” dentro do primeiro sino de mergulho da história

Gregos mergulharam no porto de Siracusa para remover obstruções e cortar cabos de âncoras de
navios inimigos durante a conquista da cidade;
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Marco Polo descreveu como Kublai Khan presenteava seus seguidores no Oriente distante com
pérolas coletadas por mergulhadores e;

As primeiras referências às Amas do Japão, que até hoje trabalham no cultivo de pérolas, data do
século I a.C.

Como os compressores de ar ainda não haviam sido inventados, os mergulhos desta época
eram feitos em apnéia ou utilizando sistemas primitivos para o fornecimento de ar através de sacos,
baldes e mangueiras. Pedras amarradas em uma corda serviam de lastro e podiam ser abandonadas no
fundo para facilitar a subida. Os melhores mergulhadores podiam permanecer por mais de um minuto
debaixo d´água e atingiam profundidades de até 30 m. O mergulho profissional nasceu no mesmo
período, quando os mergulhadores começaram a receber para trabalhar debaixo d´água. Existia até
mesmo uma tabela de remuneração: até 1 m de profundidade, os mergulhadores ganhavam 10% do
valor dos objetos resgatados; a 4 m eles ganhavam um terço e a 8 m ou mais eles chegavam a receber
50% do total.
Por mais de 1000 anos o mergulho evoluiu muito pouco, até que na era das grandes
navegações, o valor dos tesouros naufragados colocou muita gente para pensar em formas de se
aumentar o tempo de duração do mergulho e a profundidade de trabalho. Mesmo assim, foi somente
no século XVI que começaram a surgir as primeiras idéias práticas neste sentido.
Começava então uma nova fase na exploração submarina. Foi desenvolvido na época, um
equipamento que recebeu o nome de sino de mergulho. Os sinos ganharam este nome devido ao
formato utilizado na época. Eles eram em geral, construídos de madeira e abertos na parte inferior. Os
mergulhadores podiam realizar breves excursões em apnéia para executar suas tarefas e voltar para o
interior do sino para respirar. O ar era renovado através de barris invertidos enviados da superfície e
guiados através de cordas. Embora primitivo, este sistema permitiu a realização de tarefas até então
consideradas impossíveis:

Em 1663 mergulhadores recuperaram um canhão do navio Vasa, que havia naufragado a 33 m de


profundidade no porto de Estocolmo;

William Phips resgatou em 1687 praticamente toda a carga do naufrágio do Nuestra Señora de La
Concepcion;

Edmund Halley (o astrônomo que deu o nome ao mais famoso dos cometas) construiu em 1716 um
sino que permitia aos seus ocupantes permanecer por mais de 4 horas a 20 m de profundidade e
chegou a propor a instalação de capacetes ligados por mangueiras ao sino para facilitar o trabalho
dos mergulhadores, embora não existam provas de que ele tenha conseguido implementar esta idéia.

1716 - Sino de Mergulho de Edmund Halley


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Em 1715 John Lethbridge deu mais um passo na evolução do mergulho ao construir a primeira
roupa de pressão atmosférica. Construída em madeira no formato de um barril e dotada de vigias de
vidro e saídas para os braços confeccionadas em couro, a roupa de Lethbridge permitiu que ele
trabalhasse por mais de 20 anos resgatando cargas de navios em profundidades de até 20 m. Como o
mergulhador permanecia suspenso por um cabo ligado a um navio na superfície, a mobilidade era
bastante restrita, mas pela primeira vez ele estava livre das limitações do mergulho em apnéia.

1715 - Primeira roupa de pressão atmosférica

Nos próximos 100 anos muito pouco aconteceu. Havia surgido um problema aparentemente
intransponível: fornecer ar sob pressão para o mergulhador. Logo após a invenção do compressor de
ar, no início do século XIX, Charles Deane e seu irmão adaptaram um capacete utilizado em minas e
incêndio para o mergulho, criando o primeiro escafandro realmente funcional. Mas o capacete dos
irmãos Deane tinha uma grande limitação: como era simplesmente apoiado sobre os ombros do
mergulhador, ele não permitia que este se inclinasse – o ar escapava e o capacete era tomado pela
água, eventualmente afogando o mergulhador. Coube a Augustus Siebe dar o próximo passo ao
inventar em 1839 a primeira "roupa fechada". Para evitar o alagamento do capacete, Siebe criou uma
roupa impermeável na qual era fixada a parte inferior do capacete, o chamado corselete. Em poucos
meses seu equipamento era utilizado pela maioria dos mergulhadores e o desenho básico permaneceu
inalterado pelos próximos 100 anos. Durante este período, provavelmente dezenas de milhares de
conjuntos semelhantes foram fabricados e alguns continuam em uso até hoje.

Séc. XIX – Compressor de Ar para Mergulho e o Escafandro dos irmãos Deane

1839 – Roupa fechada de Augustus Siebe

Poucos anos depois surgia na França o primeiro equipamento de mergulho autônomo. Criado
por Rouquayrol e Denayrouze, este equipamento podia ser utilizado com ou sem uma máscara
metálica tipo "full-face". O ar podia ser fornecido através de uma mangueira vinda da superfície
(modo dependente) ou, em mergulhos mais curtos e rasos, transportado pelo próprio mergulhador em
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pequenos cilindros (modo autônomo). Embora o primeiro protótipo de Rouquayrol e Denayrouze


tenha sido construído em 1872, um museu francês tem em sua coleção um modelo de produção
fabricado pouco tempo depois e ainda em condições de uso.

1872 – Primeiro equipamento de mergulho autônomo

Foi na mesma época que surgiram os primeiros trabalhos científicos sobre a descompressão. O
fisiologista Paul Bert passou anos estudando os efeitos das altas e baixas pressões em animais e pode
ser considerado o pai da medicina hiperbárica. Seu livro A Pressão Barométrica – Pesquisas em
Fisiologia Experimental foi publicado em 1878 e é até hoje considerado um clássico, pois introduziu
as bases para criação da teoria da descompressão.

Séc. XIX – Primeiros estudos sobre descompressão feitos por Paul Bert

Com os novos equipamentos, contando com a ajuda de compressores de ar mais potentes e


começando a entender os efeitos da pressão no corpo humano, o homem estava pronto para realmente
começar a explorar o fundo do mar. Após a invenção do escafandro fechado por Augustus Siebe em
1839, a exploração do fundo do mar ganhou, literalmente, fôlego. Por mais de 100 anos o escafandro
tradicional sofreu pouquíssimas modificações e foi a principal ferramenta de trabalho dos
mergulhadores. O escafandro é provavelmente a imagem mais fácil de ser associada à exploração
submarina e pode ser encontrado em uso até hoje. Apesar do peso (um modelo Mk V pesava mais de
100 kg), da pouca mobilidade (devido ao umbilical que fornecia ar a partir da superfície) e da
visibilidade limitada, ele permitiu a realização de façanhas simplesmente inacreditáveis.

12
O escafandro foi a principal ferramenta de trabalho subaquático do séc. XIX
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Em 1885 o mergulhador Alexander Lambert resgatou sozinho meio milhão de dólares em


moedas de ouro de uma sala forte do naufrágio do Alfonso XII a 50 m, embora isto tenha custado a
Lambert uma aposentadoria precoce graças a doença descompressiva.
Em 1905 arquitetos descobriram que a catedral de Winchester (Inglaterra) estava prestes a ruir
devido a infiltração de água em suas fundações. Construída no século VII, a catedral era um
monumento histórico e era inaceitável perdê-la. A única saída era utilizar mergulhadores para instalar
apoios nas fundações, um trabalho gigantesco para a época. O surpreendente é que a tarefa foi
realizada por um único homem, William Walker, entre 1906 e 1911. Durante 6 anos Walker
mergulhou com seu escafandro 6 horas por dia em visibilidade zero para escavar 235 poços e instalar
os reforços a 8 m de profundidade.
No início do século XX, acidentes com mergulhadores se tornavam cada vez mais graves e
frequentes devido a um mal que poucos compreendiam: a doença descompressiva. Em 1906 o
almirantado inglês decidiu criar um comitê para investigar o problema, nomeando o professor John
Scott Haldane como seu líder. Haldane atacou os problemas do mergulho de forma científica e
introduziu diversos novos equipamentos, como câmaras de descompressão e compressores mais
eficientes. Mas ele é lembrado até hoje por ter criado o conceito de descompressão em estágios e as
tabelas de descompressão. As tabelas sofreram diversas modificações durante o século, mas suas
teorias são utilizadas até hoje.

1906 – Introdução do conceito de descompressão em estágios por John Scott Haldane

Apesar do grande interesse do público, quando o transatlântico Laurentic afundou durante a


Primeira Guerra Mundial carregando mais de 25 milhões de dólares em barras de ouro, a marinha
inglesa foi obrigada a iniciar uma operação altamente secreta para não chamar a atenção dos alemães.
Entre 1917 e 1924 os mergulhadores da Royal Navy recuperaram praticamente toda carga do interior
do naufrágio a 36 m de profundidade. O homem utilizava o escafandro para executar trabalhos no
mar, em pontes, portos, rios, naufrágios e em qualquer outro lugar onde houvesse água mas apesar da
evolução, a profundidade máxima ainda era limitada. Alguns mergulhadores chegaram a descer a mais
de 100 m com este tipo de equipamento e respirando ar, mas a narcose pelo nitrogênio praticamente
impedia a execução de trabalhos mais complexos em profundidades além dos 30m. Várias idéias
surgiram nas primeiras décadas do século para romper esta barreira e uma das mais interessantes era a
roupa blindada. O princípio da idéia era simples: construir uma roupa que mantivesse o mergulhador à
pressão atmosférica (evitando a narcose e a descompressão) e permitisse sua movimentação através de
juntas flexíveis, algo como um micro-submarino com braços e pernas. Em 1913 já existia um modelo
operacional, a roupa de Neufeldt-Khunke, que chegou a ser utilizada com sucesso em alguns resgates.
No entanto, estas roupas apresentavam um problema: com o aumento da profundidade, a pressão
"travava" as juntas e impedia que o mergulhador se mexesse.
O impulso que faltava para o desenvolvimento do mergulho profundo veio da marinha dos
EUA após a perda do submarino S-4 e toda a sua tripulação a 31 m. A revolta da opinião pública ao
saber que a equipe de salvamento era capaz de se comunicar com os sobreviventes a bordo do
submarino mas não tinha como resgatá-los foi tanta que a marinha decidiu formar um grupo com o
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

objetivo de aumentar a profundidade máxima de trabalho das equipes de resgate. Entre outros
projetos, o grupo começou a trabalhar na utilização de hélio nas misturas respiratórias para diminuir o
efeito da narcose. Praticamente ao mesmo tempo, o Dr. Edgar End investigava o mesmo assunto com
o auxílio de dois amigos, Max Gene Nohl e John D. Craig. Após diversos testes em câmara e o
cancelamento de uma expedição ao naufrágio do Lusitania (95 m) em 1937, eles se sentiam prontos
para tentar superar os recordes de profundidade da época. Utilizando um escafandro desenhado por ele
mesmo e que parecia mais um farol que um equipamento de mergulho, Nohl atingiu a marca de 128
m. O escafandro funcionava de modo autônomo com dois cilindros de mistura respiratória e só era
ligado à superfície por um cabo guia e pela linha de comunicação. Mas a prova final de que o hélio era
uma alternativa viável para o problema da narcose e só veio em 1939 com o afundamento de outro
submarino americano. O Squalus submergiu sem fechar uma válvula e, com a água invadindo o
submarino, os tripulantes não tiveram tempo de escapar e foram obrigados a refugiar-se nos
compartimentos não alagados. Dos 59 tripulantes, 33 sobreviveram e ficaram presos a 75 m de
profundidade.
O Squalus foi localizado rapidamente e em poucas horas um navio de resgate estava em
posição. A idéia era utilizar um novo sino de mergulho que podia se acoplar em uma das escotilhas do
submarino, funcionando como um elevador para trazer os tripulantes de volta à superfície. No entanto,
era preciso fixar um cabo guia ao submarino. Os mergulhadores tentaram fixar o cabo diversas vezes,
mas a narcose e o frio impediam que eles completassem a missão. Com o tempo se esgotando, a
equipe tomou uma decisão: enviar um homem ao fundo utilizando um equipamento experimental e
uma mistura à base de hélio. Em poucos minutos o mergulhador prendeu o cabo e após 12 viagens do
sino, os 33 sobreviventes foram resgatados. Nas semanas seguintes, a marinha realizou mais de 100
mergulhos utilizando hélio para trazer o Squalus de volta à tona na operação de salvatagem mais
profunda até então. A "embriaguez das profundezas" não era mais uma barreira para a exploração do
fundo do mar.
Durante a Segunda Guerra o escafandro clássico continuou a ser utilizado, mas a necessidade
de equipamentos mais simples e com mais mobilidade crescia a cada dia. Japoneses, italianos e
ingleses utilizavam rebreathers de oxigênio em missões de combate, mas os efeitos da toxidade pelo
oxigênio em profundidades maiores que 10 m limitava a aplicação deste tipo de equipamento.
Por mais de 60 anos diversos inventores tentaram descobrir uma forma simples e segura de
manter o homem debaixo d´água. Na maior parte dos casos os testes fracassavam ou o equipamento
era grande ou complexo demais para poder ser utilizado na prática.
Com as maravilhas do Mar Mediterrâneo por explorar praticamente no fundo de seus quintais,
os franceses não mediam esforços para achar uma solução para o problema do mergulho autônomo.
Em torno de 1925, a máscara, as nadadeiras e o snorkel já haviam sido inventados e o homem já podia
permanecer durante alguns segundos no fundo, mas ainda sem poder respirar. Neste ano, o
Comandante Yves Le Prieur combinou um cilindro de ar comprimido com uma válvula manual e,
utilizando também máscara e nadadeiras, o homem podia permanecer por diversos minutos submerso,
nadando como um peixe e não andando, como faziam os escafandristas. Confiante em seu invento, a
partir de 1934, Le Prieur começou a realizar diversas demonstrações ao redor da França, acabando por
fundar o primeiro clube de mergulho organizado. Algumas dezenas de conjuntos chegaram a ser
produzidos, mas a operação da válvula manual ainda era complexa demais para que o mergulho se
tornasse popular.

1925 – O mergulho começa a se popularizar com Yves Le Prieur 14


MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

A história retorna a Cap D´Antibes e Guy Gilpatric. Em 1936 um conhecido de Gilpatric


chamado Philippe Tailliez conheceu um certo francês chamado Jacques-Yves Cousteau, que havia
sofrido um grave acidente de carro. Tailliez sugeriu a Cousteau que nadasse para facilitar a sua
recuperação e em um domingo de sol, Cousteau colocou uma máscara pela primeira vez e mergulhou
no Mediterrâneo. Ficou fascinado com o que viu e começou sua própria busca por uma forma de
superar as limitações do mergulho livre. Em 1939 tentou utilizar um rebreather de oxigênio, mas após
dois acidentes em que teve convulsões graves a 13 m, desistiu e decidiu procurar outras alternativas.
Tentou o equipamento de Fernez, considerado simples e eficiente, mas não se conformou com o fato
de estar preso à superfície por um umbilical. Quando a mangueira de seu companheiro Frédéric
Dumas se rompeu durante um mergulho, Cousteau decidiu abandonar também este tipo de
equipamento.
Em 1937 Cousteau casou-se com Simone Melchoir, cujo pai era diretor da Air Liquide, o
principal fabricante de gases industriais da França. Com a ajuda do Sr. Melchoir, em 1942 Jacques foi
apresentado a um engenheiro chamado Emile Gagnan. Na época, Gagnan trabalhava em uma válvula
que permitia que os carros utilizassem gás como combustível ao invés de gasolina. Cousteau explicou
seu problema a Gagnan e juntos eles adaptaram a válvula para que funcionasse como um regulador de
ar. Em 1943, após diversos testes, Cousteau realizou no rio Marne, nas redondezas de Paris, um
mergulho histórico: estava inventado o Aqualung, o primeiro equipamento autônomo realmente
prático. Composto por três cilindros capazes de suportar uma pressão de 150 atm e um regulador de
traquéia dupla, o equipamento pesava cerca de 25 kg. O Aqualung era decepcionantemente simples,
tão simples que podia ser utilizado por qualquer pessoa com um mínimo de espírito de aventura e, em
poucos meses, estava sendo produzido em série e exportado para todo o mundo.

1943 - Primeiro regulador de ar para mergulho, inventado por Jacques Cousteau

1.2 - HISTÓRIA DO MERGULHO NO BRASIL E NO CBMERJ

No Brasil, as primeiras atividades de mergulho registradas foram, sem dúvida, a dos nossos
índios. Diversos cronistas como Gabriel Soares, Hans Staden, José de Anchieta, Jean de Leri e outros,
relataram fatos descrevendo os silvícolas como exímios mergulhadores “que nadam sob o mar com os
olhos muito abertos”. Sua destreza no combate aquático fica evidenciada em diversas narrativas como
a do assalto a naus francesas em Cabo Frio, onde o Governador Salvador Corrêa de Sá, foi salvo por 3
vezes pelos tupiminós, que “na água são como peixes” ou no episódio em que combatem a nado
“como baleias” com tal fúria que pasmam a multidão na praia, conforme descreve Anchieta. Conta a
lenda ainda que Araribóia, tendo atravessado a nado o braço de mar que separava a Ilha de
Villegagnon do continente, ateou fogo aos paióis franceses, em manobra típica dos atuais
mergulhadores de combate, assegurando a vitória e retomada da Baía de Guanabara em favor dos
portugueses, em 1556.
No final do século XIX e início do XX, começam a aparecer os mergulhadores de salvamento,
geralmente de nacionalidade grega, que exploram, com seus escafandros e bombas manuais, inúmeros
15
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

naufrágios em nossas costas. A visão, hoje em dia, de alguns desses restos de navios, causa forte
impressão, tanto mais se considerarmos as limitações dos equipamentos usados, levando a crer que
tais mergulhadores chegaram a desenvolver habilidades surpreendentes.
Na Marinha, o mergulho desenvolveu-se e ramificou-se em várias especialidades, tais como,
mergulho autônomo, de combate ofensivo, de salvamento e escafandria na guerra ou na paz e o
mergulho profundo com misturas especiais, desenvolvido e aprimorado nas instalações do Centro
Hiperbárico localizado no CIAMA. Dentre essas atribuições, competia a Marinha a realização de
operações subaquáticas de busca e resgate de bens e vítimas em todo o território nacional.
A transição da atividade de mergulho de resgate da Marinha para o CBMERJ teve início em
1966, baseado em um caso específico. Neste ano houve uma forte chuva, culminando com enchentes e
deslizamentos de encostas. O túnel Rebouças, na capital fluminense, fora inundado, não sendo
possível determinar o que havia sido atingido em seu interior. O governador da época, Paulo
Francisco Torres, solicitou então, auxílio à Marinha de Guerra, que enviou um Sargento munido de
uma câmera sub, a fim de vistoriar o local. Durante a operação, o militar recebeu uma descarga
elétrica, vindo a falecer. Por conta disso, o Governo Federal determinou ao Estado da Guanabara que
tomasse providências de modo a transferir para o Corpo de Bombeiros a responsabilidade em realizar
operações de busca e resgate subaquáticos dentro de seu território. Então, em 1969, a Marinha do
Brasil disponibilizou para o então CBEG (Corpo de Bombeiros do Estado da Guanabara), 10 vagas
para que militares da Corporação realizassem o curso por ela ministrado. Em 25 de Junho de 1969,
dos 10 que iniciaram o curso, 7 o concluíram.

A partir de então, a atividade vinha sendo realizada por bombeiros detentores do curso da
Marinha, mas devido ao grande número de solicitações envolvendo essa atividade, em 1985 foi criado
o primeiro CMAut (Curso de Mergulho Autônomo) ministrado pelo Corpo de Bombeiros e a partir
dessa data, várias turmas foram formadas.
A atividade desenvolveu-se rapidamente, métodos e procedimentos foram elaborados para a
peculiaridade do serviço. A utilização de ferramentas hidráulicas para afastamento e corte, uso de
tirfor para tracionamento, reflutuação de cargas e, principalmente, mergulho em rios, fizeram com que
o CMAut/CBMERJ fosse reconhecido em todo o Brasil.
O mergulho no CBMERJ, como não poderia deixar de ser, é uma atividade de alto risco.
Nossos mergulhadores devem estar sempre em constante treinamento e principalmente, aptos
fisicamente para a atividade, com seus exames médicos em dia. A habilidade de ir a lugares onde
poucos conseguem, principalmente em se tratando de MERGULHOS EM RIOS, requer desses

16
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especialistas um completo controle sobre suas ações, devendo estar sempre preparados não apenas
física e tecnicamente, mas, principalmente, psicologicamente.

1.3 - REGISTROS DE OPERAÇÕES DE MERGULHO DO CBMERJ

1969 - Primeira guarnição de mergulho 1969 - Primeira missão de resgate

1972 - Acidente Ponte Rio-Niterói 1989 - Acidente Bateau Mouche

1992 - Acidente Ulysses Guimarães 2003 - Acidente Tona Galea

17
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CAPÍTULO 2 - FÍSICA DO MERGULHO

2.1 - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA FÍSICA DO MERGULHO


Para entender de mergulho e de seus efeitos sobre o corpo humano é necessário conhecer um
pouco da física aplicada a essa atividade.

2.1.1 - FÍSICA

É a ciência que estuda as propriedades dos corpos, os seus fenômenos e as leis que as regem,
sem lhes alterar a substância.

2.1.1.1- Matéria

É qualquer coisa que ocupa lugar no espaço e tem massa. A matéria existe em três estados:
sólidos, líquidos e gasosos. Qualquer matéria pode existir em mais de um destes estados, dependendo
das condições de temperatura e de pressão. No mergulho os mais importantes são os líquidos e os
gasosos:

 LÍQUIDOS - Os líquidos têm peso e volume definidos, mas tomam a forma de seus
recipientes. Comparados com os gases, os líquidos são considerados incompressíveis.
Para simplicidade de nosso estudo, admitimos que o volume de um líquido não se altera
com mudanças de pressão e de temperatura. A água é o líquido fundamental para o
mergulhador. A água pura é incolor, insípida e inodora. Quimicamente ela é composta de
duas partes de hidrogênio e uma parte de oxigênio (H 2O). O gosto e a cor,
freqüentemente encontrados na água, são devido à presença de outras substâncias nela
dissolvidas ou em suspensão.

 GASOSOS - Todos os gases têm peso e ocupam lugar no espaço. Comparados com os
líquidos, os gases são muito leves e compressíveis. Eles não possuem forma nem volume
definidos.

Para a melhor compreensão da medicina, como do mergulho propriamente dito, será necessário
o conhecimento de certas noções de física. Em primeiro lugar veremos as medidas, que variam de
unidade de país para país. Será, então, importante que o mergulhador saiba fazer as conversões entre
essas unidades.

2.2 - UNIDADES E EQUIVALÊNCIA PADRÃO


2.2.1 - SISTEMAS DE MEDIÇÃO
Dois sistemas de medição são largamente usados no mundo. Enquanto o Sistema Inglês é o
mais utilizado nos Estados Unidos da América, o sistema de medição mais utilizado no mundo, dentre
eles o Brasil, é o Sistema Internacional de Unidades, que é a forma moderna do sistema métrico e é
geralmente um sistema de unidades de medida concebido em torno de sete unidades básicas e da
conveniência do número dez. O SI é um conjunto sistematizado e padronizado de definições para
unidades de medida, utilizado em quase todo o mundo moderno, que visa uniformizar e facilitar as
medições e as relações internacionais daí decorrentes.
O antigo sistema métrico incluía vários grupos de unidades. O SI foi desenvolvido em 1960 do
antigo sistema metro-quilograma-segundo, ao invés do sistema centímetro-grama-segundo, que, por
sua vez, teve algumas variações. Visto que o SI não é estático, as unidades são criadas e as definições
são modificadas por meio de acordos internacionais entre as muitas nações conforme a tecnologia de
medição avança e a precisão das medições aumenta.
18
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

O sistema tem sido quase universalmente adotado. As três principais exceções são a Myanmar,
a Libéria e os Estados Unidos, que utilizam o Sistema Inglês. O Reino Unido adotou oficialmente o
Sistema Internacional de Unidades, mas não com a intenção de substituir totalmente as medidas
habituais.
No mergulho, devido à grande variedade de equipamentos, principalmente americanos, cada
país utiliza seu sistema métrico de origem. Portanto, o bom mergulhador deve dominar essas variações
para que não venha a descobrir “surpresas” desagradáveis.
Como exemplos dessas variações, existem manômetros que possuem a escala em atmosfera
(atm), outros em Bar, libras por polegada quadrada (PSI), metros de água do mar, etc. Para fazermos a
conversão de um sistema para o outro, utilizamos a regra de três simples, sempre nos baseando em
uma equivalência padrão.
REGRA DE TRÊS SIMPLES

Equivalência A B
Padrão

Equivalência C X
a saber

A, B e C Valores fornecidos no problema; X Valor a descobrir

AxX=CxB

X = CxB

Obs:

A e C possuem a mesma unidade

B e X possuem a mesma unidade

19
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2.2.2 - COMPRIMENTO

Def.: Dimensão longitudinal de um objeto; extensão de linha.

01m = 100cm = 1.000mm = 3,28 pés = 39,37 polegadas


1 pé = 12 polegadas = 0,3048 m
01” (polegada) = 2,54 cm

Ex. 1: Se 1 m é igual a 3,28 pés, quantos pés terá 3m?


Utilizando a regra de três simples, temos:

1m = 3,28 pés (equivalência padrão)


3m = X pés (equivalência a saber)
X = 3m x 3,28 pés = 9,84 pés

1m

Ex.2: Se 01 pé = 0,303m, quantos metros terá 60 pés?

01 pé = 0,303 m (equivalência padrão)


60 pés = X (equivalência a saber)

X = 0,303 m x 60 pés = 18 m
1 pé

Obs.: Regra prática para converter pés em metros é multiplicar a medida em pés por 3 (três) e dividir
por 10 (dez). Para dar a cota exata, deveríamos multiplicar por 0,304. A diferença é insignificante
para fins práticos de mergulho.

2.2.3 - ÁREA

Def.: Medida de uma superfície.

1m2 = 10.000 cm2 = 10,76 pés2 = 1.550 pol2

Ex.1: Se 1 m2 é igual a 10,76 pés2 , quantos pés2 terá 8 m2 ?

1m2 = 10,76 pés2 (equivalência padrão)


8m2 = X (equivalência a saber )
20
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X = 10,76 pés2 x 8 m2 = 86,08 pés2

1m2

Abaixo, algumas fórmulas para cálculo de áreas ( S )

- Quadrado => S = L2 ( L = lado )

- Retângulo => S = comprimento x largura

- Círculo => S = π d2 = π R2 ( d = diâmetro; R = raio e π = 3,14 )

Ex. 1: Qual a área do quadrado com lado 2 m ?

S = L2 = (2 m) 2 = 4 m2

Ex. 2: Qual a área do retângulo com comprimento 3 m e largura 2 m?

S = comprimento x largura = 3 m x 2 m = 6 m2

Ex. 3: Qual a área do círculo com 2 m de diâmetro?

S = π d2 = ( 2m )2 x 3,14 = 4 x 3,14 = 3,14 m2

4 4 4

2.2.4 - VOLUME

Def.: Espaço ocupado por um corpo


Obs:
 1 galão inglês = 1,2 galões
americanos
1m3 = 1.000 dm3 = 1.000 L = 35,3 pés3  1 galão (USA) = 3,8 litros
 1 galão inglês = 4,55 litros

Ex.1: Se 1m3 = 1.000 L quantos litros terá uma câmara hiperbárica de 5 m3 ?

1m3 = 1.000 L (equivalência padrão)

5m3 = X (equivalência a saber )

X = 1000 l x 5m3 = 5.000 l


1m³
21
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Ex.2: Se 1.000 l = 35,3 pés3, quantos pés3 terá um aqualung de 12 l ?

1000 l = 35,3 pés3 (equivalência padrão)

12 l = X pés3 (equivalência a saber)

X = 35,3 pés3 x 12 l = 0,4236 pés3

1000 l

Abaixo, algumas fórmulas para o cálculo de volumes, sendo que:

L => largura – Dimensão transversal de uma superfície retangular e horizontal

V => volume

S => superfície – Parte exterior dos corpos

d => diâmetro

h => altura – Dimensão vertical de um corpo, a partir da base para cima

R => raio – Segmento de reta que une o centro do círculo a um ponto qualquer da
circunferência

CUBO  V = (lado)3

PARALELEPÍPEDO  V = comprimento x largura x altura

PIRÂMIDE  V = S face x h

CILINDRO  V = d2 π h = π R2 h

ESFERA  V = 4 π R3 = 1 π d3

3 6

Ex.1: Qual o volume de um tambor com 0,3 m de raio e 2 m de comprimento (h)?

V = π R2 h = 3,14 x ( 0,3 ) 2 x 2 m = 0,5652 m3

1 m3 = 1000 l (equivalência padrão)

0,5652 m3 = X (equivalência a saber )

X = 1000 l x 0,5652 m3 = 585,2 l

1 m3
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Ex.2: Qual o volume de uma poita com 1m de comprimento, 1m de largura e 0,5m de altura?

V = comprimento x largura x altura

1 m3 = 1000 l (equivalência padrão)

0,5 m3 = X (equivalência a saber )

X = 1000 l x 0,5 m3 = 500 l

1 m3

2.2.5 - PESO

Def.: Resultante da ação da gravidade sobre os corpos.

1 Kg = 1.000 g = 2,205 libras


1 libra = 0,45 Kg

Ex.1: Quantas libras tem 5 Kg?

1 Kg = 2,205 libras (equivalência padrão)

5 Kg = X (equivalência a saber )

X = 2,205 libras x 5 Kg = 11,025 libras

1 Kg

2.2.6 - TEMPERATURA

Def.: Quantidade de calor existente no ar, nos corpos.

Existem 05 escalas de temperatura.


As quatro mais usadas são:
Graus Centígrados ou Celsius ºC ( Anders Celsius )
Graus Fahrenheit ºF ( Daniel Gabriel Fahrenheit )
Graus Rankine ºR
Graus Kelvin K ( Lord Kelvin )
Zero Graus Celsius = 273 Kelvin
Zero Graus Fahrenheit = 460° Rankine
Zero Graus Kelvin = Zero Graus Rankine
Estes dois últimos são considerados temperaturas absolutas. As graduações de °C e K
são iguais bem como o °F e o °R, também o são.

23
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Para transformar então °C em K é só somar 273.


Para transformar K em °C é só diminuir 273.
Para transformar °F em °R é só somar 460.
Para transformar °R em °F é só diminuir 460.
Abaixo, temos a fórmula que sintetiza as escalas ºC, ºF e K:

C = F – 32 = K – 273
5 9 5

Ex.1: 40ºC é igual a quantos K ?

C = K - 273 => C = K - 273 => 40 = K - 273 => K = 313


5 5

Ex.2: 122ºF é igual a quantos ºC ?

C / 5 = F – 32 / 9
C / 5 = 122 – 32 / 9
C / 5 = 90 / 9
C = 50º

2.3 - PRESSÃO E O MERGULHO


2.3.1 - PRESSÃO

Def.: Força aplicada a uma superfície, por unidade de área.

Ao mergulhar, entramos em contato com um mundo completamente novo, em condições bem


diferentes das que encontramos normalmente.

Ao nível do mar, a camada gasosa que envolve a terra, exerce sobre o organismo do homem, a
pressão de uma atmosfera (aproximadamente 1 Kgf / cm²), mas por ser a densidade da água maior que
a do ar (quase 800 vezes), o mergulhador a cada 10 metros de profundidade, estará sofrendo um
acréscimo de mais uma pressão igual a atmosfera, sobre a pressão que suportava antes. Assim, a
10 (dez) metros, a pressão total será de 2 atmosferas, a 20 (vinte) metros, será de 3 (três)
atmosferas e assim por diante. Se compararmos essa situação com a de um aviador por exemplo,
veremos que para reduzir a pressão ambiente para meia atmosfera (0,5 Kgf / cm²), ele deverá subir a
uma altitude de 5.000 metros.

Há um conceito que precisa ficar bem assimilado: qualquer mergulhador, em qualquer


profundidade, necessita estar com sua pressão interna em equilíbrio com a externa. O corpo humano
somente funciona normalmente quando a diferença de pressão entre as forças que atuam dentro do
corpo do mergulhador e as forças externas, é muito pequena. Pressão, seja da atmosfera, água do mar
ou dos gases respiráveis pelo mergulhador, precisa ser pensada de modo a haver sempre a manutenção
do seu equilíbrio.
24
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Durante o mergulho, submetido a essa situação especial, o organismo reagirá seguindo


princípios e leis da física, cujo conhecimento será importante na formação do mergulhador.

PRESSÃO é, por definição, a força exercida por unidade de área.


FORÇA é toda ação que tende a produzir movimento e pode ser expressa em
libras força ( lbf ).

ÁREA, a superfície sobre a qual a força é exercida e pode ser medida em polegadas
quadradas.

Assim, a pressão pode ser medida em libras força por polegadas quadradas (PSI) quando no
sistema inglês.

Da mesma forma, se estivermos usando o sistema métrico, a pressão será expressa em gramas
ou quilogramas força por centímetro quadrado. Isto nada mais é do que outra expressão de força
sobre unidade de área.

O manômetro é o aparelho utilizado para aferir pressão.

A pressão pode ser expressa em várias unidades como:

1 atm = 14,7 PSI = 1,033 Kgf / cm2 = 1,01 Bar = 760 mmHg =

= 33,9 pés de água do mar = 10,3 m de água doce

Aproximadamente para efeitos práticos de cálculos, pode-se usar:

1 atm = 1 Kgf / cm2 = 1 Bar = 15 PSI = 760 mmHg =

= 33 pés de água do mar = 10 m de água doce

Ex.1: Quantos PSI temos em 7 atm?

1 atm = 15 PSI (equivalência padrão)

7 atm = X (equivalência a saber )

X = 7 atm x 15 PSI = 105 PSI

1 atm

25
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Ex.2: Quantos Bar temos em 150 PSI?

15 PSI = 1 Bar (equivalência padrão)

150 PSI = X (equivalência a saber )

X = 150 PSI x 1 Bar = 10 Bar

15 PSI

Ex.3: Quantos atm temos em 30 m de água do mar?

10 m de água = 1 atm (equivalência padrão)

30 m de água = X (equivalência a saber )

X = 30 m x 1 atm = 3 atm

10 m

Obs:. Neste último problema, estamos calculando equivalência de pressão e não a pressão absoluta a
30 m de profundidade, que será de 4 atm absolutas ou 4 ATAs.

2.3.2 - TIPOS DE PRESSÃO

2.3.2.1 - Pressão Atmosférica (P atm)

É o resultado do peso da atmosfera produzindo uma determinada força sobre a superfície da


Terra. Esta pressão atua em todas as direções e sentidos e em quase todas as estruturas, incluindo o
nosso próprio corpo. Este transmite pressão livremente e é exposto a mesma pressão em todas as
direções e sentidos, interna e externamente. Seus efeitos são assim, neutralizados e por isso,
geralmente, ignoramos a presença da pressão atmosférica.

2.3.2.2 - Pressão Relativa (P rel)

É toda pressão além da pressão atmosférica. Pode ser chamada de :

- Pressão Hidrostática (P hid) – Pressão relativa na água. Quanto maior a


profundidade, maior será a pressão hidrostática. A cada 10 m, teremos um aumento
de 1 atm.

- Pressão Manométrica (P man) – Pressão relativa em compartimentos fechados.


Quando dizemos que a pressão de um cilindro é de 200 atm, na verdade, a pressão é
de 200 atm acima da pressão atmosférica porque os manômetros medem a
diferença entre uma determinada pressão e a pressão atmosférica (que é a P man).

* Os manômetros são construídos de modo que seu zero indique a pressão atmosférica. Exceto
quando especificada, a leitura de uma pressão refere-se à pressão manométrica.

26
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

2.3.2.3 - Pressão Absoluta (P abs)

É o somatório da pressão atmosférica com a pressão relativa.

P abs  Pressão Absoluta = Pressão Total

P atm  Pressão Atmosférica

P man – Pressão Manométrica

P rel  Pressão Relativa

P hid – Pressão Hidrostática

P abs  P atm + P rel

Obs:. Quando nos referimos a P abs, podemos fazer do seguinte modo:

10 atm absolutas = 10 ATAs

150 PSI absolutas = 150 PSIAs

PRESSÃO PRESSÃO
PROFUNDIDADE
HIDROSTÁTICA ABSOLUTA
(m)
(atm) (ATA)

Nível do mar 0 (zero) 1

0,5 0,05 1,05

1,0 0,10 1,10

5,0 0,50 1,50

5,5 0,55 1,55

10,0 1,00 2,00

20,0 2,00 3,00

25,0 2,50 3,50

30,0 3,00 4,00

40,0 4,00 5,00

27
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

* Uma forma prática de encontrar a pressão absoluta ao nível do mar, para determinada profundidade,
é utilizando a seguinte fórmula:

P abs = Prof (m) + 1 ATA


10

P atm P abs

------------------------------------------------------------------------ Nível do mar

P hid

Curiosidade: Densidade da água do mar  1,03 Kg / l; 1,03 T / m3; 64,38 lb/ft3; 10,3 lb / gal

Densidade da água doce  1,0 Kg / l; 1,0 T / m3; 62,50 lb / ft3; 10,0 lb / gal

* Logo, temos mais facilidade em “boiar” na água salgada do que na água doce.

2.3.3 - CÁLCULO DE CONSUMO DE AR DO CILINDRO


O consumo normal de ar, ao nível do mar, considerando a pessoa em atividade não estafante,
conforme o indivíduo varia de 16 a 20 litros de ar por minuto. Um mergulhador experimentado, para
efeito de seus cálculos pessoais de consumo, pode começar considerando que sua necessidade ao nível
zero seja de 20 l ar /min.

Entretanto, quando calculamos para mergulhadores novatos ou ainda sem a suficiente calma, é
de bom alvitre considerar-se, como base para cálculos, 25 litros de ar / min.

Nesse valor, considerado a maior, estão incluídos o excesso respiratório ou o esforço


desnecessário que a falta de aquacidade perfeita ocasiona.

Dentro dessa idéia (indispensável margem de segurança) o consumo de ar seria, então:

Aos 10 metros 25 x 2 = 50 litros/min


Aos 20 metros 25 x 3 = 75.litros/min
.... sempre 25 x pressão da profundidade.

O que aparentemente é um exagero, tem se mostrado, na prática, bastante condizente. Lembre-


se sempre que estamos considerando mergulhadores recém formados ou com aquacidade deficiente.
De uma maneira geral, esse será o aspecto predominante do universo de mergulhadores que buscam
um instrutor.
28
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Quanto à influência da temperatura da água, desde que não seja atípica, pouca interferência
produzirá nos valores que estamos considerando. No mergulho de lazer não é muito usual que uma
pessoa suporte água fria por tempo que se estenda até a duração normal de um mergulho. O frio,
considerado como um dos agentes responsáveis pelo aumento do consumo de ar é variável de maior
relevância quando dos mergulhos em que a água fria “tem que ser suportada”, como nas atividades de
serviço. Para nossas considerações, basta levar em conta a variação de profundidade e a constante dos
25 litros de ar / min.
Assim, reduzindo os fatores acima citados, podemos concluir com segurança que a autonomia
de um cilindro será sempre o quociente entre a quantidade de ar ali contido e o consumo do
mergulhador. Teremos então :

T = Q/C onde.... T= tempo de duração do cilindro, em minutos;


Q = quantidade de ar contido no cilindro e
C = consumo de ar do mergulhador.

Ora, sabemos que a quantidade de gás que pode caber em um recipiente será sempre função do
volume deste recipiente e da pressão com a qual o gás é ali conservado. Para nós, enquanto
interessados na quantidade de ar contida num cilindro, é o que basta. Portanto :

Q=VxP onde.... V = volume da garrafa (considerar em litros é melhor) ;


P = pressão da garrafa naquele momento (considerar em atm é melhor).

Exemplo :
Para um cilindro de 13 litros de ar (volume do casco), carregada a 200 Atm de pressão,
que será utilizada a 20 metros prof....

Q= VxP = 13 x 200 = 2600 litros de ar.


C = 25 x pressão da profundidade =25x3= 75

então... T = Q/C = 26000 = 34,6 minutos.


75

Obs: no caso de mergulhadores que tenham desembaraço e aquacidade, tranqüilamente


podemos considerar um consumo de 60 litros de ar / minuto, aos 20 metros.

Não se pode realizar esses cálculos efetuando litros com libras ou atm com pés cúbicos. Efetuar
sempre litros por atm.

2.4 - COMPOSIÇÃO DO AR ATMOSFÉRICO


Ar é o nome da mistura de gases que compõem a atmosfera da Terra.

O ar é composto principalmente de nitrogênio, oxigênio e argônio, que juntos constituem a


maior parte dos gases da atmosfera. Os demais gases incluem gases de efeito estufa como vapor de
água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio. Ar filtrado contém traços de vários outros
compostos químicos. Muitas substâncias naturais devem estar presentes em pequenas quantidades em
uma amostra de ar não filtrada, incluindo poeira, pólen e esporos, cinzas vulcânicas, compostos de
flúor, mercúrio metálico e compostos de enxofre como dióxido de enxofre.

29
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Para efeito de cálculo, consideraremos a composição do ar atmosférico, como sendo de 79% de


N2 e 21% de O2, facilitando, portanto, o estudo.

21%
O2

79%
N2

2.5 - ENERGIA

Energia é a capacidade de exercer trabalho. Os seis tipos básicos de energia são: mecânica,
térmica, luminosa, química e eletromagnética, podendo aparecer em variedades de formas. A análise
de todas essas variações foge do escopo deste manual. Logo, serão estudados somente os aspectos da
energia luminosa, térmica e mecânica e seus efeitos incomuns sob a água, bem como seus impactos no
mergulho.
2.5.1 - ENERGIA LUMINOSA NO MERGULHO

Refração, turbidez da água, salinidade e poluição contribuem para a distância, tamanho, forma
e percepção de cores de objetos sob a água. Mergulhadores necessitam entender os fatores que afetam
a percepção visual subaquática, compreendendo assim que a percepção de distância provavelmente
será imprecisa.

30
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2.5.1.1 - Refração e Visão Subaquática

Refração é o fenômeno onde a luz passa de um meio para o outro, bem como passa pelo rosto
do mergulhador e o ar em sua máscara. Ela ocorre porque a luz viaja mais rápido no ar do que na
água.
A água possui um índice de refração similar aos das córneas dos olhos e maior que o ar. A luz
entra na córnea desde a água e é fortemente refratada, deixando somente as lentes cristalinas dos olhos
para focalizar a luz. Isto cria uma hipermetropia muito forte. Pessoas com miopia severa, entretanto,
podem ver melhor dentro de água sem a máscara que pessoas com visão normal.
Máscaras de mergulho, capacetes de mergulho e máscara de rosto, todos resolvem este
problema criando um espaço aéreo na frente dos olhos do mergulhador. O erro de refração criado pela
água é quase todo corrigido quando a luz atravessa da água para o ar através das lentes planas, exceto
que os objetos aparecem 34% maiores e 25% mais próximos na água salgada, do que eles
realmente são. A distâncias muito grandes, os efeitos da refração podem se inverter, fazendo parecer
os objetos mais distantes do que realmente são. Entretanto o campo de visão total é significativamente
reduzido e a coordenação olhos-mãos deve ser ajustada. Contraste e brilho reduzidos combinam-se
com a refração resultando na distorção de distância visual.

Ar

Água

Refração
Posição
Aparente

Posição Real

2.5.1.2 - Difusão

O espalhamento da luz é intensificado sob a água. Raios luminosos são difusos e espalhados
pelas moléculas de água e partículas de matéria. Por vezes, a difusão é benéfica, uma vez que há este
espalhamento da luz em ambientes que poderiam estar em áreas de sombra ou sem iluminação. A
perda de contraste é a causa maior da restrição de visibilidade sob a água, se comparado ao ar.

2.5.1.3 - Percepção de Cores

Tamanho e distância dos objetos não são as únicas características distorcidas sob a água. Uma
variedade de fatores combina-se, alterando a percepção de cores pelo mergulhador.

As cores são filtradas pela luz conforme entram na água e viajam para profundidades maiores.
O vermelho é a primeira cor a ser filtrada, logo em pequenas profundidades. A seguir vem o laranja,
31
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depois o amarelo, verde e por último o azul. A profundidade não é o único fator que afeta a filtragem
de cores. Salinidade, turbidez, tamanho de partículas de suspensão na água e poluição afetam as
propriedades de filtragem.

Absorção de cores sob a água


Luz do Sol

Profundidade em Metros

4,5

18

36

2.5.2 - ENERGIA MECÂNICA NO MERGULHO

A energia mecânica afeta os mergulhadores, na maior parte, em forma de som. Som é um


movimento periódico, transmitido pelo gás, líquido ou sólido. O fato de o líquido ser mais denso que
o gás, faz com que mais energia seja necessária para alterar seu equilíbrio. Uma vez que esta alteração
ocorre, o som viaja mais rápido em meios mais densos.

2.5.2.1 - Temperatura da água e o som

A temperatura superficial da água do oceano é influenciada principalmente pelos ventos,


ondas, incidência de raios solares, turbidez e temperatura atmosférica. Os raios solares penetram o
oceano e, em aproximadamente 50% de sua energia, é perdida em poucos centímetros de
profundidade, podendo o restante chegar a vários metros. A profundidade também varia conforme a
época do ano e hora do dia, sendo durante o verão e ao meio dia, o ápice. A influência externa na
temperatura da água pode variar de 10 metros em regiões com menos turbulência e em até 200 metros
em regiões mais agitadas.

Abaixo desta zona superficial, que usualmente é chamada de zona ou camada mista, a
temperatura cai muito rapidamente. O mergulhador consegue sentir claramente quando encontra esta
transição, pois a água apresenta uma queda de temperatura em apenas alguns centímetros e essa queda
de temperatura é contínua ao longo de vários metros, geralmente mais de 20ºC ao longo de toda a
zona da termoclina (duas ou mais camadas contíguas distintas de água em diferentes temperaturas).

Abaixo desta zona, é o que se chama de águas profundas, a temperatura continua caindo, porém
lentamente. As águas profundas correspondem a 90% da água dos oceanos, e a temperatura varia entre
3ºC e 0ºC, sendo caracterizada pela densidade da água e pouca mistura de águas.

A termoclina varia com a latitude e estação do ano, sendo permanente nos trópicos. Em regiões
temperadas durante o inverno é pouco comum, já no verão é uma presença constante. Nas regiões
polares é inexistente, a água ali é tão fria como no fundo do oceano.

32
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Quanto mais fria a camada de água, maior será sua densidade. Opostamente a este aumento de
densidade, a energia sonora transmitida entre as camadas, diminui. Isto explica, por exemplo, o
motivo pelo qual o mergulhador pode ouvir um som vindo de 50 metros de distância estando em uma
camada, tornando-se inaudível caso este mesmo som estivesse a poucos metros de distância, em uma
camada diferente.

Camada Mista

Pressão

Termoclina
Profundidade
Velocidade do Som

Camada Profunda Temperatura

Temperatura
Pressão
Velocidade do Som

2.5.2.2 - Profundidade e o Som

Em águas rasas, a reflexão do ar para a água produz anomalias no campo sonoro, como ecos,
pontos mortos, etc. O fato de o som viajar rapidamente sob a água (1500 m/s) ou 4 vezes mais rápido
que no ar, faz com que o ouvido humano não consiga detectar a diferença do tempo de chegada em
cada ouvido. Consequentemente, o mergulhador, por vezes, não consegue localizar a origem de um
som. Esta desvantagem pode trazer sérias consequências, caso o mergulhador esteja tentando localizar
um objeto ou a origem de um ponto de perigo, como uma lancha.

2.5.3 - ENERGIA CALORÍFICA NO MERGULHO

Calor é uma forma de energia associada com e proporcional ao movimento molecular de uma
substância. Está diretamente relacionada à temperatura, mas necessita ser distinguida desta, pois
diferentes substâncias não necessariamente contem a mesma energia calorífica, mesmo sendo suas
temperaturas iguais. O calor é transmitido de um ponto ao outro por condução, convecção ou reflexão.

2.5.3.1 - Temperatura Corporal do Mergulhador

O mergulhador começará a sentir frio quando a temperatura cair abaixo de aparentemente


confortáveis 23ºC. Abaixo disso, o mergulhador, usando somente uma roupa de natação, perde calor
para a água mais rápido do que seu corpo pode repor a mesma. A não ser que esteja provido de
proteção ou isolamento térmico, ele pode rapidamente experimentar dificuldades. O mergulhador com
frio não consegue trabalhar ou pensar eficientemente, além de estar mais suscetível a doença
descompressiva. Como consequência, o mergulhador deve analisar as condições da temperatura da
água antes de iniciar o mergulho, determinando a melhor roupa e gás respirável.

33
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2.6 - LEIS DOS GASES

Gases estão submetidos a três fatores inter-relacionados: temperatura, pressão e volume. Da


forma como reza a teoria cinética dos gases, uma mudança em um desses fatores pode resultar na
mudança dos outros. Além disso, a teoria indica que o comportamento cinético de qualquer desses
gases é o mesmo para os demais. Consequentemente, leis básicas foram estabelecidas para auxiliar a
solucionar as relações existentes entre estes fatores. O mergulhador precisa saber como a mudança de
pressão irá afetar o ar em seu equipamento e seu organismo, durante a descida ou subida na água.
Precisa estar apto a determinar o tipo de gás respirável a ser usado para determinada operação e ainda
interpretar a leitura de seu manômetro mediante as condições de temperatura e pressão do mergulho.
Estas leis são conhecidas como “leis dos gases ideais” e serão estudadas a seguir.
2.6.1 - LEI DE BOYLE/MARRIOTE

A Lei de Boyle/Marriote atesta que a uma temperatura constante, a pressão absoluta e o


volume de um gás são inversamente proporcionais. Quando a pressão aumenta, o volume do gás
diminui; quando a pressão diminui, o volume aumenta. Esta lei é importante para o mergulhador
porque relaciona a mudança do volume de um gás causada pela mudança de pressão, devido a
profundidade, que define a relação entre pressão e o fornecimento do gás respirável.

“O volume ocupado por um gás, é inversamente proporcional a pressão absoluta a que está
sujeito.”

P => Pressão Absoluta (ATA)


PV = P1 V1 = P2 V2 = K V => Volume
K => Temperatura

Os líquidos são praticamente incompressíveis, enquanto que os gases não. Por isso, uma bolha
de ar, em determinada profundidade, será comprimida pelo peso do líquido (pressão). À medida que a
bolha retorna para a superfície, a pressão do líquido irá diminuindo. Seu volume irá aumentando até
chegar a superfície, quando a pressão será de 1 atm (1 ATA).

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Ex.: Um balão com 6 litros de ar na superfície ocupará quantos litros a 20 metros de


profundidade?
Superfície  P = 1 ATA; V = 6 litros
P1V1 = P2 V2
P1 = 1 ATA
V1 = 6 litros
P2 = 20 m = 2 atm = 3 ATAs = (pressão absoluta a 20m de profundidade)
V2 = ?
1 x 6 = 3 x V2  V2 = 2 litros

2.6.2 - LEI DE CHARLES/GAY-LUSSAC

Quando se trabalha com a Lei de Boyle, a temperatura de um gás é um valor constante. No


entanto, a temperatura afeta significativamente a pressão e o volume de um gás. A Lei de
Charles/Gay-Lussac descreve a relação física da temperatura sobre a pressão e o volume. Atesta que a
uma pressão constante, o volume de um gás é diretamente proporcional a mudança da temperatura
absoluta. Se a pressão é mantida constante e a temperatura absoluta é dobrada, o volume dobrará. Se a
temperatura diminui, o volume também irá diminuir. Se o volume ao invés da pressão é mantido
constante, então a pressão absoluta irá mudar proporcionalmente à temperatura absoluta.
“A pressão absoluta e o volume de um gás variam, cada um, diretamente com a sua
temperatura absoluta”.
Matematicamente:

P1 = P2 = P3 = V constante V1 = V2 = V3 = P constante
T1 T2 T3 T1 T2 T3

P => Pressão Absoluta (ATA)


V => Volume
T => Temperatura Absoluta (K)

Temperatura
Temperatura

35
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Ex.1: Um sino aberto de mergulho, cujo volume interno é de 12 litros, é levado a


profundidade de 30 metros. A temperatura na superfície é de 25ºC e aos 30 metros é de 18ºC.
Calcule o volume do gás no sino a essa profundidade, quando afetado pela temperatura.

Solução
Primeiramente, deve-se encontrar o volume do sino na profundidade citada, levando-se em
conta a relação pressão/volume. Para tanto, utiliza-se a Lei de Boyle.
P1 = 1 ATA
P1V1 = P2V2 V2 = 1 ATA x 12 L
P2 = 30 metros = 4 ATAs 4 ATAs
V1 = 12 L V2 = P1V1
V2 = ? P2 V2 = 3 litros

Em seguida, utilizando a Lei de Charles, utiliza-se o volume encontrado para determinar o


novo volume, em função da temperatura.

T1 = 25ºC = 298 K V1 = V2 V2 = 3 L x 291 K


T2 = 18ºC = 291 K T1 T2 298 K
V1 = 3 L
V2 = ? V2 = V1T2
T1 V2 = 2,92 litros

Ex. 2: Após carregar um cilindro com 200 Bar, a sua temperatura é de 35ºC. Após
resfriado, a temperatura caiu para 28ºC. Qual a sua nova pressão?

Solução
P1 = 200 Bar = 201 ATAs P1 = P 2 P2 = 201 ATAs x 301 K
T1 = 35ºC T1 T2 308 K
T1 = 35ºC + 273 = 308 K
P2 = 196,43 ATAs
T2 = 5ºC P2 = P1T2
T2 = 28ºC + 273 = 301 K T1 P2 = 196,43 ATAs – 1 ATA
P2 = ?
P2 = 195,43 Bar

Ex. 3: Um mergulhador deixa a superfície com um cilindro com 200 Bar, a uma
temperatura de 30ºC. Ao atingir a profundidade de 35 metros, a temperatura caiu para 16ºC.
Qual a nova pressão do cilindro?

Solução
Neste caso, não há necessidade de se calcular o volume em função da pressão, pois ele é
inalterado por estar inserido dentro de um recipiente rígido. Logo, aplica-se direto a Lei de Charles.
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P1 = 200 Bar = 201 ATAs P1 = P 2 P2 = 201 ATAs x 289 K


T1 = 30ºC T1 T2 303 K
T1 = 30ºC + 273 = 303 K
P2 = 191,71 ATAs
T2 = 16ºC P2 = P1T2
T2 = 16ºC + 273 = 289 K T1 P2 = 191,71 ATAs – 1 ATA
P2 = ?
P2 = 190,71 Bar

2.6.3 - EQUAÇÃO GERAL DOS GASES

As leis de Boyle e Charles demonstram que para qualquer gás, os fatores temperatura, volume
e pressão, estão intimamente relacionados e que uma mudança em um deles, será compensada pela
alteração em um ou nos dois outros fatores.
A Equação Geral dos Gases é uma combinação dessas duas leis e prevê o comportamento de
determinada quantidade de gás, quando alterações são operadas em um ou em todas as variáveis
( P,V,T )

Matematicamente:

P1 x V1 = P2 x V2 = P3 x V3 = constante
T1 T2 T3

P  Pressão Absoluta
V  Volume
T  Temperatura

Ex.: Um cilindro de aço com 10 litros de volume foi carregado com uma pressão de
149 atm e a temperatura subiu para 127ºC. Que volume de ar será liberado para a atmosfera,
quando a temperatura for de 27ºC?
P1 x V1 = P 2 x V2 = P3 x V3 = constante
T1 T2 T3

P1 = 149 atm = 150 ATAs


P2 = 1 ATA
T1 = 127 º C  127 + 273 = 400 K
T2 = 27 º C  27 + 273 = 300 K
V1 = 10 litros
V2 = ?

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P1 x V1 = P 2 x V2
T1 T2

150 x 10 = 1 x V2
400 300
V2 = 1125 litros ( serão liberados 1125 litros de ar )

2.6.4 - LEI DE DALTON

“A pressão total exercida por uma mistura de gases é igual a soma das pressões parciais de
cada um dos diferentes gases componentes”
Chamamos de pressão parcial (PP), a pressão exercida pelo gás na mistura, que é proporcional
ao número de suas moléculas presentes no volume total. A pressão parcial de cada gás é igual a sua
porcentagem na mistura , multiplicada pela pressão absoluta no local.

Matematicamente,

PT = PPgás1 + PPgás 2 + PPgás3 + ... PPgás = PT x % gás

PT = PPgás1 + PPgás 2 + PPgás3 PPgás 1 PPgás 2 PPgás 3

Ex. 1: No ar que respiramos ao nível do mar - 1 ATA - a composição é 21% de oxigênio e 79%
de nitrogênio. Qual a PPO2 e PPN2 ao nível do mar?
PPgás = PT x % do gás

Composição do ar:
N2 = 79%
O2 = 21%

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Nível do mar - Pressão absoluta  1 ATA

PPN2 = 1 ATA x 79 % = 1 ATA x 79 = 0,79 ATA


100

PPO2 = 1 ATA x 21 % = 1 ATA x 21 = 0,21 ATA


100
Ex. 2: Qual será a pressão parcial respirada de O2 e N2 a 20 metros de profundidade, utilizando
ar comprimido?

Composição do ar:
N2 = 79%
O2 = 21%
PT à 20 metros = 2 atm = 3 ATAs

PPgás = PT x % do gás

PPN2 = 3 ATA x 79 % = 3 ATA x 79 = 2,37 ATAs


100

PPO2 = 3 ATA x 21 % = 3 ATA x 21 = 0,63 ATA


100

2.6.5 - LEI DE HENRY

“A quantidade de um certo gás que se dissolve em um líquido a determinada temperatura é


proporcional à pressão parcial do gás, mantida constante esta temperatura”.
Pelo fato de uma grande porcentagem do corpo humano ser composto por água, a Lei de Henry
simplesmente atesta que quanto mais fundo se for em um mergulho, mais gás irá dissolver-se nos
tecidos do corpo e que, durante a ascensão, este gás dissolvido será liberado. No caso do mergulho, o
gás mais importante com relação a esta lei é o nitrogênio.

Solubilidade de um Gás x Pressão

Aumento de pressão

Mais moléculas de gás tornam-se solúveis em


pressões maiores

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2.6.5.1 - Absorção e Eliminação de Nitrogênio:

Ao nível do mar, a pressão parcial do nitrogênio dissolvido nos tecidos humanos está em
equilíbrio com a pressão parcial do nitrogênio nos pulmões. À medida que ocorre o aumento de
altitude ou profundidade em um mergulho, a pressão parcial do nitrogênio nos pulmões se altera e os
tecidos passam a ganhar ou perder nitrogênio para alcançarem um novo equilíbrio com a pressão de
nitrogênio nos pulmões. A mistura de nitrogênio aos tecidos é chamada de Absorção. A liberação é
chamada de Eliminação.

No mergulho, a absorção ocorre quando o mergulhador é exposto a um aumento na pressão


parcial de nitrogênio. Quando essa pressão diminui, o nitrogênio é eliminado. Este fenômeno vale
para todos os gases inertes respiráveis.

A absorção consiste em uma série de fases, que inclui a transferência de um gás inerte dos
pulmões para o sangue e depois do sangue para os vários tecidos que fluem pelo corpo. O gradiente da
transferência de um gás é a diferença na pressão parcial do gás entre os pulmões e o sangue e entre o
sangue e os tecidos.

2.7 - PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES

O matemático grego Arquimedes concluiu que “Qualquer objeto completa ou parcialmente


imerso em um fluido é impulsionado para cima por uma força igual ao peso do fluido deslocado pelo
objeto.” Esta força é denominada Empuxo.

2.7.1 - EMPUXO

Empuxo é a força que o líquido exerce em um determinado corpo para fazê-lo boiar. Ele é igual
ao peso do volume do líquido que ocupa. O empuxo pode ser calculado, multiplicando-se o volume do
líquido deslocado pela densidade do líquido.

Na figura acima, duas forças estarão atuando sobre o corpo: o seu peso e o empuxo provocado
pelo volume de água por ele deslocado. Se o peso for igual ao empuxo, o corpo não se moverá para
cima ou para baixo, estando portanto, neste caso, com flutuabilidade neutra.

40
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Se o peso for maior que o empuxo, o corpo estará com flutuabilidade negativa e irá
afundar. O corpo permanecerá no fundo com flutuabilidade negativa, até que tenha afundado o
suficiente, para que o volume de água por ele deslocado dê origem a um empuxo igual a seu peso,
atingindo assim a flutuabilidade neutra. Caso a flutuabilidade neutra não possa ser atingida, o corpo
descerá até ao fundo.
Se o peso for menor do que o empuxo, o corpo estará com flutuabilidade positiva, e
começará a subir, até que o volume de água deslocado por ele se reduza, suficiente, para atingir a
flutuabilidade neutra.
Matematicamente:

E = V x D ; onde E  Empuxo, V  Volume e D  Densidade do líquido

Ex.: Um objeto com 15m de comprimento, 4m de largura e 2m de altura, está flutuando com
1,5m de calado na água do mar. Qual o valor do seu empuxo?

E = V x D
V = 15m x 4m x 1,5m = 90 m3
D = 1,03 T / m³ ( densidade da água do mar )
E = 90m³ x 1,03 T/m³
E = 92,7 T
O empuxo do objeto é de 92,7 T

41
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CAPÍTULO 3 - FISIOLOGIA APLICADA AO MERGULHO

3.1 - INTRODUÇÃO
Este capítulo contém informações básicas acerca das mudanças anatômicas e fisiológicas no
corpo humano, que ocorrem quando se está em um ambiente subaquático. Retrata ainda o resultado
dessas mudanças quando o corpo humano excede os limites de adaptação.

Quando o corpo humano está trabalhando, este requer que todos os órgãos e sistemas
funcionem coordenadamente. O coração bombeia sangue para todas as partes do corpo, os fluidos dos
tecidos trocam materiais dissolvidos com o sangue e os pulmões mantêm o sangue fornecido com
oxigênio e limpos do excesso de dióxido de carbono. A maior parte desse processo é controlada
diretamente pelo cérebro, sistema nervoso e várias glândulas. O acontecimento dessas funções,
geralmente, é inconsciente ao ser humano.

Mesmo o corpo humano sendo eficiente da maneira como é, ele não tem maneiras efetivas de
compensar os muitos efeitos que o aumento de pressão em profundidades pode lhe proporcionar e
muito pouco pode fazer para impedir seu organismo de ser afetado. O conjunto desses efeitos externos
limita o que um mergulhador pode fazer e, se não entendido, pode dar origem a sérios problemas.

3.2 - FISIOLOGIA
Neste item teremos uma breve recordação de alguns conceitos de anatomia e de fisiologia do
organismo humano.

Definições:

a) Célula - é a unidade morfológica e fisiológica dos seres vivos;


b) Tecidos - conjunto de células que desempenham as mesmas funções;
c) Órgãos - formados por grupamentos de tecidos;
d) Sistema ou Aparelho - conjunto de órgãos que se complementam visando o
desempenho de determinada função. Ex.: Sistema locomotor (músculos, tendões, ossos, etc.);
e) Sangue - responsável pelo transporte de substâncias dentro do organismo, como
glicose e oxigênio as células;
 Parte líquida - Plasma - transporta, dentre outras substâncias, o Nitrogênio (N2).
 Parte sólida - Elementos figurados do sangue: Hemácia - transporta o oxigênio;

- Plaquetas - ajudam na coagulação;

- Leucócitos - participam da defesa orgânica.

3.2.1 - SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso coordena todas as funções e atividades do corpo humano. Compreende o


cérebro, medula espinhal e uma complexa rede de nervos que circulam pelo corpo. O cérebro e a
medula espinhal compõem o que se chama de Sistema Nervoso Central (SNC). Os nervos originam-se
42
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

no cérebro e na espinha e viajam às partes periféricas do corpo pelo Sistema Nervoso Periférico
(SNP).

3.2.2 - SISTEMA CIRCULATÓRIO

O sistema circulatório é composto pelo coração, artérias, veias e capilares. Carrega oxigênio,
nutrientes e hormônios para todas as células do corpo e traz de volta dióxido de carbono, resíduos
químicos e calor. O sangue circula por um sistema fechado de tubos que incluem os pulmões e tecidos
capilares, coração, artérias e veias.

3.2.2.1 - O Coração

O coração, órgão central desse sistema, é uma verdadeira bomba aspirante e premente, que
impulsiona o sangue arterial para os tecidos, recebe-o de volta e manda-o aos pulmões para ser
reoxigenado e livrar-se do gás carbônico de que está carregado.

3.2.2.2 - Circuitos Pulmonar e Sistêmico

O sistema circulatório consiste em dois circuitos com a mesma corrente sanguínea fluindo pelo
corpo. O circuito pulmonar serve aos capilares pulmonares; o circuito sistêmico serve aos tecidos
capilares. Cada circuito tem suas próprias aterias e veias e sua própria metade do coração como
bomba. Na circulação completa, o sangue primeiro passa por um circuito e depois pelo outro,
passando pelo coração duas vezes em cada circuito completo.
43
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- Grande ou Circulação Geral (circulação sistêmica): distribui o sangue rico em oxigênio e


elementos nutritivos, a todo o organismo e traz de volta ao coração, o sangue carregado de
gás carbônico e elementos residuais das células.

- Pequena ou Circulação Pulmonar: continuam por intermédio das cavidades do coração,


cujo sangue carregado de gás carbônico e elementos residuais, é levado aos pulmões para
que, pela HEMATOSE, retorne oxigenado.

A circulação sanguínea ocorre da seguinte maneira: uma gota de sangue, localizada no alvéolo
pulmonar, livra-se do gás carbônico, carrega-se de oxigênio e dirige-se pela veia pulmonar para o
coração esquerdo. Daí é lançada pela artéria aorta para todos os tecidos do corpo onde, através dos
capilares tissulares, cede o seu oxigênio às células e recebe o gás carbônico proveniente das queimas
energéticas que se processam nessas células. É conduzida então pelas veias cavas para o coração
direito que a envia aos pulmões pelas artérias pulmonares, recomeçando o ciclo.

Os vasos sangüíneos, condutores do sangue, dividem-se em artérias que conduzem o sangue do


coração para os tecidos ou para os pulmões e veias, que conduzem o sangue para o coração. Ligando
as artérias às veias em ramificações tão finas que permitem ao sangue banhar diretamente os tecidos
ou espalhar-se pelas paredes alveolares, temos, respectivamente, os capilares tissulares e pulmonares.

3.2.3 - SISTEMA RESPIRATÓRIO

Toda célula do corpo precisa obter energia para manter-se viva, crescendo e funcionando.
Estas células obtêm sua energia pela oxidação, que requer combustível e oxigênio para ocorrer. A
respiração é o processo de troca de oxigênio e gás carbônico durante a oxidação, liberando energia e
água.
44
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

3.2.3.1 - Componentes
Fossas nasais: são duas cavidades paralelas que começam nas narinas e terminam na faringe.
Elas são separadas uma da outra por uma parede cartilaginosa denominada septo nasal. No teto das
fossas nasais existem células sensoriais, responsáveis pelo sentido do olfato. Têm as funções de filtrar,
umedecer e aquecer o ar.
Faringe: é um canal comum aos sistemas digestório e respiratório e comunica-se com a boca e
com as fossas nasais. O ar inspirado pelas narinas ou pela boca passa necessariamente pela faringe,
antes de atingir a laringe.
Laringe: é um tubo sustentado por peças de cartilagem articuladas, situado na parte superior
do pescoço, em continuação à faringe. O pomo-de-adão, saliência que aparece no pescoço, faz parte
de uma das peças cartilaginosas da laringe.
A entrada da laringe chama-se glote. Acima dela existe uma espécie de “lingüeta” de
cartilagem denominada epiglote, que funciona como válvula. Quando nos alimentamos, a laringe sobe
e sua entrada é fechada pela epiglote. Isso impede que o alimento ingerido penetre nas vias
respiratórias.
O epitélio que reveste a laringe apresenta pregas, as cordas vocais, capazes de produzir sons
durante a passagem de ar.
Traquéia: é um tubo de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro por 10-12 centímetros de
comprimento, cujas paredes são reforçadas por anéis cartilaginosos. Bifurca-se na sua região inferior,
originando os brônquios, que penetram nos pulmões. Seu epitélio de revestimento muco-ciliar adere
partículas de poeira e bactérias presentes em suspensão no ar inalado, que são posteriormente varridas
para fora (graças ao movimento dos cílios) e engolidas ou expelidas.
Pulmões: Os pulmões humanos são órgãos esponjosos, com aproximadamente 25 cm de
comprimento, sendo envolvidos por uma membrana serosa denominada pleura. Nos pulmões, os
brônquios ramificam-se profusamente, dando origem a tubos cada vez mais finos, os bronquíolos. O
conjunto altamente ramificado de bronquíolos é a árvore brônquica ou árvore respiratória.
Cada bronquíolo termina em pequenas bolsas formadas por células epiteliais achatadas (tecido
epitelial pavimentoso) recobertas por capilares sangüíneos, denominadas alvéolos pulmonares.
Diafragma: A base de cada pulmão apóia-se no diafragma, órgão músculo-membranoso que
separa o tórax do abdômen, presente apenas em mamíferos, promovendo, juntamente com os
músculos intercostais, os movimentos respiratórios. Localizado logo acima do estômago, o nervo
frênico controla os movimentos do diafragma.

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3.2.3.2 - Troca Gasosa

É a renovação do ar da via condutora de ar para os pulmões e do ar do espaço alveolar que


ocorre durante a inspiração e expiração pulmonar. A via condutora de ar e o espaço alveolar formam a
via condutora-alveolar.
A inspiração, que promove a entrada de ar nos pulmões, dá-se pela contração da musculatura
do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma abaixa e as costelas elevam-se, promovendo o
aumento da caixa torácica, com conseqüente redução da pressão interna (em relação à externa),
forçando o ar a entrar nos pulmões.
A expiração, que promove a saída de ar dos pulmões, dá-se pelo relaxamento da musculatura
do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma eleva-se e as costelas abaixam, o que diminui
o volume da caixa torácica, com consequente aumento da pressão interna, forçando o ar a sair dos
pulmões.

3.2.3.3 - Transporte de Gases Respiráveis


O transporte de gás oxigênio está a cargo da hemoglobina, proteína presente nas hemácias.
Cada molécula de hemoglobina combina-se com 4 moléculas de gás oxigênio, formando a
oxi-hemoglobina.

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Nos alvéolos pulmonares o gás oxigênio do ar difunde-se para os capilares sanguíneos e


penetra nas hemácias, onde se combina com a hemoglobina, enquanto o gás carbônico (CO 2) é
liberado para o ar (processo chamado Hematose).

Nos tecidos ocorre um processo inverso: o gás oxigênio dissocia-se da hemoglobina e difunde-
se pelo líquido tissular, atingindo as células. A maior parte do gás carbônico (cerca de 70%) liberado
pelas células no líquido tissular penetra nas hemácias e reage com a água, formando o ácido
carbônico, que logo se dissocia e dá origem a íons H+ e bicarbonato (HCO3-), difundindo-se para o
plasma sanguíneo, onde ajudam a manter o grau de acidez do sangue. Cerca de 23% do gás carbônico
liberado pelos tecidos associam-se à própria hemoglobina, formando a carboxihemoglobina. O
restante dissolve-se no plasma.
3.2.3.4 - Controle Respiratório

Em relativo repouso, a frequência respiratória é da ordem de 10 a 15 movimentos por minuto.


A respiração é controlada automaticamente por um centro nervoso localizado no bulbo. Desse
centro partem os nervos responsáveis pela contração dos músculos respiratórios (diafragma e
músculos intercostais). Os sinais nervosos são transmitidos desse centro através da coluna espinhal
para os músculos da respiração. O mais importante músculo da respiração, o diafragma, recebe os
sinais respiratórios através de um nervo especial, o nervo frênico, que deixa a medula espinhal na
metade superior do pescoço e dirige-se para baixo, através do tórax até o diafragma. Os sinais para os
músculos expiratórios, especialmente os músculos abdominais, são transmitidos para a porção baixa
da medula espinhal, para os nervos espinhais que inervam os músculos. Impulsos iniciados pela
estimulação psíquica ou sensorial do córtex cerebral podem afetar a respiração. Em condições
normais, o centro respiratório (CR) produz, a cada 5 segundos, um impulso nervoso que estimula a
contração da musculatura torácica e do diafragma, fazendo-nos inspirar. O CR é capaz de aumentar e
de diminuir tanto a frequência como a amplitude dos movimentos respiratórios, pois possui
quimiorreceptores que são bastante sensíveis ao pH do plasma. Essa capacidade permite que os
tecidos recebam a quantidade de oxigênio que necessitam, além de remover adequadamente o gás
carbônico. Quando o sangue torna-se mais ácido devido ao aumento do gás carbônico, o centro
respiratório induz a aceleração dos movimentos respiratórios. Dessa forma, tanto a freqüência quanto
a amplitude da respiração tornam-se aumentadas devido à excitação do CR.
Em situação contrária, com a depressão do CR, ocorre diminuição da frequência e amplitude
respiratórias.

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A respiração é ainda o principal mecanismo de controle do pH do sangue.

O aumento da concentração de CO2 desloca a reação para a direita, enquanto sua redução
desloca para a esquerda.
Dessa forma, o aumento da concentração de CO2 no sangue provoca aumento de íons H+ e o
plasma tende ao pH ácido. Se a concentração de CO2 diminui, o pH do plasma sanguíneo tende a se
tornar mais básico (ou alcalino).
Se o pH está abaixo do normal (acidose), o centro respiratório é excitado, aumentando a
frequência e a amplitude dos movimentos respiratórios. O aumento da ventilação pulmonar determina
eliminação de maior quantidade de CO2, o que eleva o pH do plasma ao seu valor normal.
Caso o pH do plasma esteja acima do normal (alcalose), o centro respiratório é deprimido,
diminuindo a frequência e a amplitude dos movimentos respiratórios. Com a diminuição na ventilação
pulmonar, há retenção de CO2 e maior produção de íons H+, o que determina queda no pH plasmático
até seus valores normais.
A ansiedade e os estados ansiosos promovem liberação de adrenalina que, frequentemente
levam também à hiperventilação, algumas vezes de tal intensidade que o indivíduo torna seus líquidos
orgânicos alcalóticos (básicos), eliminando grande quantidade de dióxido de carbono, precipitando,
assim, contrações dos músculos de todo o corpo.
Se a concentração de gás carbônico cair a valores muito baixos, outras consequências
extremamente danosas podem ocorrer, como o desenvolvimento de um quadro de alcalose que pode
levar a uma irritabilidade do sistema nervoso, resultando, algumas vezes, em tetania (contrações
musculares involuntárias por todo o corpo) ou mesmo convulsões epilépticas.

3.2.3.5 - Capacidade e Volume Respiratórios


O sistema respiratório humano comporta um volume total de aproximadamente 5 litros de ar –
a capacidade pulmonar total. Desse volume, apenas meio litro é renovado em cada respiração
tranquila, de repouso. Esse volume renovado é o volume corrente.

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Se no final de uma inspiração forçada, executarmos uma expiração forçada, conseguiremos


retirar dos pulmões uma quantidade de aproximadamente 4 litros de ar, o que corresponde à
capacidade vital, e é dentro de seus limites que a respiração pode acontecer.
Mesmo no final de uma expiração forçada, resta nas vias aéreas cerca de 1 litro de ar, o
volume residual.

1) Volume residual (VR) - é aquele que fica nos pulmões após uma expiração máxima.
(1 a 1,5 litros);

2) Capacidade vital (CV) - é o volume máximo de ar que pode ser expelido dos pulmões.
após uma inspiração máxima (4 a 5 litros);

3) Volume corrente (VC) - volume de ar que se movimenta no ciclo respiratório normal.


(0,5 a 0,6 litros)

4) Volume minuto (VM) - volume de ar que se movimenta nos pulmões em 1 minuto.


(VM = VC x frequência);

5) Capacidade total (CT) - maior volume de ar que pode ser contido nos pulmões após
uma inspiração máxima (5 a 6 litros).

3.2.4 - SEIOS DA FACE

São espaços com ar que existem dentro de alguns ossos da face. Todos eles possuem
comunicação com as fossas nasais e são revestidos por uma camada de células muito delicadas. Entre
esta camada de células e o tecido ósseo estão os vasos sangüíneos.

3.2.5 - APARELHO AUDITIVO

É constituído pelo ouvido externo, médio e interno. No mergulho, as partes mais importantes a
serem estudadas são o ouvido externo e médio.

Ouvido externo é a porção exterior do ouvido, que capta o som e o transmite por um canal ao
ouvido médio. É composto de duas partes: O pavilhão auditivo, também conhecido como orelha e o
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conduto auditivo externo. A função principal do pavilhão auditivo é coletar sons, agindo como um
funil e direcionando o som para o conduto auditivo. Outra função é a filtragem do som, processo este
que ajuda a localizar a origem dos sons que chegam ao indivíduo. Além disso, no caso dos humanos, o
processo de filtragem seleciona sons na faixa de frequência da voz humana facilitando o
entendimento. Já o conduto auditivo externo tem a função de transmitir os sons captados pela orelha
para o tímpano além de servir de câmara de ressonância ampliando algumas freqüências de sons.

Ouvido médio é composto pelos ossículos, martelo, bigorna e estribo, denominados dessa
forma por sua semelhança com esses objetos e pela tuba auditiva ou trompa de Eustáquio. Os
mamíferos são os únicos animais que possuem três ossos no ouvido, ligando o tímpano à orelha
interna. Individualmente, os ossos são menores que um grão de arroz. Os ossículos estão localizados
na cavidade em forma de ervilha do ouvido médio, conectados formando uma ponte entre a membrana
timpânica e a janela oval. Através de um sistema de membranas, eles conduzem as vibrações sonoras
a orelha interna. Os ossículos são os menores ossos do corpo humano e já estão em seu tamanho
completo ao nosso nascimento. Enquanto as ondas sonoras movem a membrana timpânica, esta move
os ossículos. Os três ossos na verdade formam um sistema de alavancas que transferem a energia das
ondas sonoras vindas da orelha externa, através da orelha média para a orelha interna. Outra parte do
ouvido médio é a Trompa de Eustáquio que conecta a cavidade do ouvido médio com a nasofaringe.
A extremidade superior é normalmente aberta, pois é rodeada de ossos, enquanto que a inferior é
normalmente fechada, pois é cercada por um tecido fino. A trompa de Eustáquio ajuda a manter o
equilíbrio da pressão do ar entre os dois lados da membrana timpânica. A trompa abre e fecha a
medida em que engolimos ou bocejamos, permitindo uma equalização entre a pressão do ouvido
externo e do ouvido médio.

3.2.5.1 - Equalização (Compensação) da Pressão no Ouvido Médio

Durante um mergulho, a variação da pressão por conta da profundidade, seja ela durante a
descida ou subida, afeta diretamente o tímpano do mergulhador. Por tratar-se de uma membrana, ela é
flexionada para dentro quando a pressão externa é maior que a interna e para fora quando a pressão
interna é maior que a externa.

Quando há o aumento da pressão externa, durante a descida, há um esmagamento de órgãos


como estômago, intestinos e do ouvido médio, provocando uma redução no seu volume. No estômago
e intestino, essa redução não implica qualquer problema, mas no ouvido causa o esmagamento da tuba
auditiva e a ligação com as vias aéreas é cortada causando a flexão do tímpano e consequentemente

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dor. Torna-se necessário a introdução de ar para trazer de volta o volume do ouvido médio para sua
dimensão original e o tímpano para sua posição natural.

Na subida, onde a pressão interna torna-se maior que a externa, o simples fato de expirar o ar,
já faz com que o mergulhador equilibre novamente as pressões. Importante observar que, para ambos
os casos, considera-se a trompa de Eustáquio do mergulhador em boas condições.

3.2.5.1.1 - Manobras de Equalização

Existem 9 diferentes técnicas de equalização, assim como várias dicas de como alcançar a
efetiva pressurização do ouvido médio. A tuba auditiva, até a pouco tempo chamada de Trompa de
Eustáquio, foi identificada, pela primeira vez, por Bartolomeo Eustachio, médico italiano, por volta de
1500. Com aproximadamente 3,8 centímetros de comprimento, ela se situa atrás da nasofaringe (a
parte superior da faringe, ou garganta, próxima das passagens nasais), ao nível das narinas. A trompa
normalmente é fechada, mas desobstruída. Fatores como seu ângulo e forma influenciam as
obstruções e a tolerância a mudanças de pressão. Alergias, traumas, infecções e outros fatores também
podem causar obstruções.
Parte da tuba está sob direta influência das alterações de pressão do sistema respiratório.
Quando se engole, os músculos do palato puxam e abrem-na, enquanto fecham a nasofaringe. Engolir
causa a abertura dos tecidos úmidos da tuba, causando um "click" ou estalo. Se um mergulhador ouve
um pequeno estalo ao engolir, significa que a tuba se abriu.Variações individuais explicam porque
alguns nunca têm problemas em equalizar adequadamente o ouvido médio ao mergulhar, enquanto
outros (com tubas auditivas mais finas ou parcialmente obstruídas) podem sentir maior ou menor
dificuldade. Estes últimos podem mergulhar com segurança, mas devem prestar maior atenção e ter
maior cuidado com sua equalização. Para aqueles com dificuldades de equalização, o posicionamento
na coluna d’água é extremamente importante. Uma posição de cabeça para baixo durante a descida
compromete uma tuba medianamente obstruída e dificulta a equalização. Assim, mergulhadores com
histórico de problemas de ouvido, mergulhadores "tímidos" e aqueles sem muita certeza se seus
ouvidos médios equalizarão devem iniciar seus mergulhos vagarosamente, com os pés para baixo.
Alguns mergulhadores ficam apreensivos com a equalização. Aos não familiarizados, pressão no
ouvido médio e estalidos podem ser desconcertantes, resultando em tentativas e cautelosas manobras
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de equalização. Uma tuba auditiva parcialmente obstruída limita a habilidade de equalizar


adequadamente durante um mergulho.

Vigorosa mas não forçada, a equalização deve começar na superfície, onde não há pressão
atuando sobre o tímpano. Dessa forma, uma leve pré-pressurização do ouvido médio, inflando-se a
tuba auditiva previamente à descida, é alcançada. Essa pré-pressurização permite que o ar entre na
tuba e passe para dentro do ouvido. Se não for feita e a tuba for espremida por pressão durante a
descida, será necessário aplicar muita pressão para inflá-la novamente, o que não ocorre com a pré-
pressurização. Assim, recomenda-se que esta seja feita sempre, antes da descida.
Antes de aplicar técnicas de equalização, deve-se verificar a adequação da pressurização. Para
tanto, usa-se a técnica de pinçar as narinas bem baixo no nariz. Um bom, forte esforço de
pressurização, faz com que os tecidos acima da ponta dos dedos que estão pinçando a narina inflem,
formando um "balãozinho", indicando o esforço aplicado na tuba auditiva. Se o mergulhador não
acusa o estalo nos ouvidos ao tentar equalizar, não deve mergulhar. A seguir, as nove técnicas de
equalização existentes:
Técnicas simples - As mais simples técnicas são aquelas de bocejar, engolir em seco, mover a
mandíbula e balançar a cabeça. Embora muito eficientes para um mergulhador com tubas auditivas
livres, desimpedidas e sem problemas de equalização, são ineficazes para aquele que tenha mesmo
uma obstrução leve. Assim, devem ser utilizadas em combinação com alguma das outras técnicas.

Manobra de Frenzel - Fechar as cordas vocais por meio do pinçamento das narinas e manter a
epiglote fechada para comprimir ar no fundo da garganta. Pode ser feita em qualquer ponto do ciclo
respiratório, não inibe o retorno do sangue venoso ao coração, é rápida e pode ser repetida várias
vezes em intervalos curtos.
Manobra de Valsalva - É a manobra mais fácil de ser executada e a que tem maior eficiência.
Com as narinas pinçadas, aumente a pressão soprando contra as narinas e mantendo os músculos da
bochecha contraídos, sem inflá-las. Algum cuidado é requerido, pois esforço demasiado e prolongado
pode fazer com que os tecidos à volta das trompas inchem, dificultando a equalização, bem como
pode causar diminuição no retorno do sangue venoso ao coração, baixando a pressão sangüínea.

Manobra de Valsalva Manobra de Frenzel

Manobra de Toynbee - Com as narinas pinçadas, engula em seco, fazendo com que as
trompas se abram. Não recomendada para descidas rápidas.
Manobra BTV (Beance Tubaire Voluntaire) - Consiste em contrair os músculos do palato
ao mesmo tempo em que os músculos superiores da garganta abrem a tuba auditiva.

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Manobra de Roydhouse - Similar à BTV, com a diferença de que não se contraem os


músculos do palato. Também apresenta elevado grau de dificuldade na sua aprendizagem e utilização.

Técnica de Edmonds - Essa técnica combina a manobra de Valsalva ou a manobra de Frenzel


com movimentação da mandíbula e inclinação de cabeça para os lados.
Técnica de Lowry - Combinação de pressurização (Valsalva ou Frentzel) com engolir em
seco. Prática e coordenação são requeridas para pinçar as narinas, aumentar a pressão (soprar) e
engolir, mas é uma técnica muito efetiva.
Manobra “Twitch” - Usando a Valsalva ou a Frentzel, entortar bruscamente a cabeça para os
lados.

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CAPÍTULO 4 - TIPOS DE MERGULHO

4.1 - MERGULHO LIVRE

O mergulho livre ou de apnéia consiste no mergulho sem o auxílio de equipamentos de


respiração subaquática. O mergulhador depende exclusivamente de sua capacidade pulmonar,
preparação física e principalmente do controle emocional.

4.2 - MERGULHO AUTÔNOMO

Também conhecido como SCUBA (Self Contained Underwater Breathing Apparatus), é a


técnica de mergulho na qual o suprimento de ar necessário à respiração é levado pelo mergulhador em
ampolas, sendo exalado direta e completamente para o meio líquido. Pode ser empregada na
realização de buscas e resgate de vítimas e bens. Apresenta como vantagens relevantes: a rapidez em
equipar, a portabilidade do equipamento, a necessidade de estrutura mínima de apoio, possibilita
controle da profundidade pelo mergulhador, excelente grau de mobilidade e desembaraço. Como
desvantagens, a técnica de mergulho autônomo apresenta: suprimento limitado de ar, resistência à
respiração, que impõe limitação ao esforço desenvolvido pelo mergulhador, proteção física limitada e,
em geral, ausência de comunicação oral ou de qualquer espécie com a superfície.

4.3 - MERGULHO DEPENDENTE

Técnica de mergulho na qual o suprimento de ar necessário à respiração é levado ao


mergulhador por meio de mangueiras (umbilicais), a partir da superfície, sendo exalado direta e
completamente para o meio líquido.

O mergulho dependente não é praticado por mergulhadores amadores ou esportistas, uma vez
que, como não há limitação de ar para a permanência do homem sob a água, facilmente os limites não
descompressivos do mergulho acabam sendo ultrapassados, exigindo assim diversas paradas
programadas para descompressão. Ademais, uma interrupção no fornecimento de ar para o
mergulhador pode ser fatal, dependendo da profundidade e do tempo que se encontra mergulhando.

O mergulho dependente é largamente utilizado por profissionais, especialmente os que


trabalham em plataformas de petróleo e na construção civil.

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CAPÍTULO 5 - MERGULHO LIVRE

5.1 - A ARTE DE NÃO RESPIRAR


Aprender a respirar e relaxar são as melhores maneiras de preparar a si próprio, seja para um
mergulho livre a grandes profundidades ou uma simples imersão onde o objetivo seja permanecer
dentro da água o máximo de tempo possível.
Até algumas décadas atrás, havia um pensamento dominante, que resumidamente receberá o
nome de apnéia forçada, que utilizava uma série de técnicas coercitivas, cujo objetivo principal era
forçar o organismo a ultrapassar seus limites. A hiperventilação, que é perigosa e ineficiente, é a
precursora da preparação para este tipo de apnéia.
A primeira pessoa a quebrar estes hábitos foi Jacques Mayol. O francês apneísta adotou
técnicas de respiração e relaxamento oriundos de disciplinas orientais (especialmente o Ioga) e suas
versões ocidentalizadas (treino autogênico e mental). Foi Mayol quem criou a idéia de “apnéia
relaxada” ao invés de “apnéia forçada”. Obviamente, isto significou uma mudança radical nos
métodos de treinamento e preparação para muitos apneístas, mas os resultados e performances não
demoraram a aparecer.

5.2 - TÉCNICAS DE RESPIRAÇÃO

Respiração não se trata somente de encher os pulmões com ar. Movimentos incorretos podem
nos levar a acreditar que estamos respirando, quando de fato, estamos fazendo incorretamente. Em
outros casos, somos incapazes de usar todo o ar presente em nossos pulmões. Estas duas limitações
podem influenciar negativamente a performance em uma apnéia. É preciso lembrar que profundidade
ou distância atingida e o tempo de apnéia dependem de vários fatores como treinamento, técnica,
equipamento, etc. No entanto, na maioria dos casos, depende de como se relaxa ou se respira após
começar a apnéia.
O controle proporcionado por um bom nível de relaxamento e técnicas corretas de respiração
durante a preparação para a apnéia, não somente garante um uso mínimo de oxigênio através da
redução do metabolismo, como também aumento da consciência sobre seus limites, paz interior e
segurança no mergulho.
Através do desenvolvimento das técnicas de respiração, estaremos cuidando de todo o corpo e
mente. A partir da prática dos movimentos respiratórios, acharemos harmonia com a respiração e esta
não será mais forçada e sim uma oportunidade de ouvir e sentir a respiração. A consciência de que se
está respirando nos dará regularidade e fluidez.
Muitas técnicas de meditação fazem referência a dinâmica da respiração e a respiração pelo
diafragma é a que permite a maior concentração.
A respiração normal é automática, não requerendo nenhuma participação particular, ou seja,
ela segue seu próprio ritmo. Somente por algumas vezes e por variadas razões, nós intervimos na ação
respiratória. No entanto, mesmo nesses casos, nós não dedicamos uma atenção genuína a nossa
respiração. É preciso estar habituado a escutar e visualizar o ato de respirar, sentindo a passagem do ar
pelos pulmões.
5.2.1 - MELHORANDO A ELASTICIDADE DA CAIXA TORÁCICA
Para respirar corretamente, é preciso ter um diafragma e uma caixa torácica flexíveis e
elásticas. É essencial possuir uma boa mobilidade torácica que permita um amplo movimento durante
a inspiração e expiração do diafragma. Uma mobilidade elevada da caixa torácica reduz o volume
residual dos pulmões (ar remanescente nos pulmões após uma exalação completa).
Trabalhar a mobilidade da caixa torácica aumenta a importante relação entre a capacidade total
e o volume residual, que determina o conforto e habilidade de compensar em maiores profundidades.
Na sequência, serão propostos alguns exercícios visando melhorar a elasticidade da caixa torácica.
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Exercício 1:

- Sente em uma cadeira sem encosto, com os braços soltos ao lado do corpo: durante uma longa inspiração,
rotacione os braços e ombros para fora; segure esta posição para uma apnéia inspiratória de 3-5 segundos; (fig. 1)
- Durante a expiração, rotacione os braços e ombros para dentro; segure esta posição para uma apnéia expiratória
de 3-5 segundos; (fig. 2)
- Repita 10-12 ciclos completos.

Nota: Não mova o peito, nem para dentro nem para fora, neste exercício.

Exercício 2:

- Sente em uma cadeira sem encosto e posicione as mãos opostas umas as outras, com as pontas dos dedos
repousando no ponto onde as duas clavículas se encontram;
- Durante uma longa e lenta inspiração, levante os cotovelos, sem tirar as pontas dos dedos das clavículas; segure
esta posição para uma apnéia de 3-5 segundos; (fig. 1)
- Durante a expiração, traga os cotovelos para baixo até os ante-braços tocarem as costelas, mantendo uma leve
pressão durante uma apnéia expiratória de 3-5 segundos; (fig. 2)
- Repita de 8-10 ciclos completos.

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Exercício 3:

- Sente em uma cadeira sem encosto e durante uma longa e lenta expiração, estenda os braços para frente,
segurando uma mão com a outra e traga a cabeça para frente para o espaço criado entre os braços.
- Gentilmente estique os braços para frente; segure para uma apnéia expiratória de 3-5 segundos; (fig.1)
- A partir desta posição, com uma longa e lenta inspiração, traga os braços para atrás das costas, aperte as mãos
juntas e gentilmente estique os braços para baixo, trazendo a cabeça em seguida (olhando para cima) e os ombros para trás
e para baixo. Segure para uma apnéia inspiratória de 3-5 segundos; (fig.2)
- Repita de 6-8 ciclos completos.

Exercício 4:

- Deite em decúbito dorsal, com as pernas dobradas e ligeiramente afastadas para que as solas dos pés estejam em
contato com o solo, as pontas dos dedos opostas entre si no centro da caixa torácica e no fundo do esterno e as palmas das
mãos em contato com as costelas;
- Durante uma longa, lenta e profunda expiração, gentilmente siga com as mãos, o movimento de descida e
contração das costelas e do tórax, sem exercer pressão no fim; segure para uma apnéia expiratória de 3-5 segundos; (fig.1)
- Usando as mãos, segure as costelas na posição que elas alcançaram no fim da expiração e comece uma longa e
lenta inspiração através da boca; (fig. 2)
- Ao fim da inspiração, tire as mãos subitamente do tórax: esta ação produz uma rápida entrada de ar pela boca
aberta e uma abrupta expansão do tórax. Após 2-3 respirações normais, repita a sequência. Repita de 4-5 ciclos completos.

Nota: Não pressione com força as costelas; a inspiração deve sempre ser executada com a boca totalmente aberta;
a remoção das mãos deve acontecer da forma mais rápida possível; sempre intercale os ciclos com respirações normais.

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Exercício 5:

- Deite sobre um lado do corpo, com as pernas levemente e a cabeça repousando no braço de baixo;
- Posicione a mão do braço de cima no lado correspondente da caixa torácica;
- Durante a expiração, siga a descida deste lado da caixa torácica com a mão. Sem pressionar, gentilmente segure
a posição alcançada ao fim da expiração e assim permaneça por uma apnéia expiratória de 3-5 segundos; (fig. 1)
- Durante a inspiração sucessiva pela boca, segure a costela na mesma posição e somente ao fim da inspiração
permita que ela se mova, retirando a mão rapidamente; (fig. 2)
- Repita de 3-4 ciclos de cada lado.

5.2.2 - RESPIRAÇÃO PELO DIAFRAGMA


A respiração correta envolvendo o uso do diafragma é uma ação muito difícil, que requer
muitos meses de treinamento. Este tipo de respiração é derivado diretamente de “Pranayama”, a
disciplina da ioga que se ocupa da dinâmica da respiração.
O diafragma é uma placa plana de músculo entre o estômago e os pulmões e executa uma regra
fundamental na respiração. Os pulmões podem ser visualizados como duas pirâmides: a parte maior e
consequentemente, a mais importante e de maior capacidade fica no fundo. No entanto, essa é a parte
que se usa mais raramente durante a respiração normal.
O tipo de respiração que se conduz normalmente durante o dia é conhecido como respiração
torácica, que está localizado na área mediana superior dos pulmões, na altura da caixa torácica. Ao
fim de uma respiração normal, quando se presume ter esvaziado completamente os pulmões, se o
diafragma for puxado para cima, será observado que se tem mais ar para ser expelido. Isto ocorre
porque o diafragma consegue empurrar para cima, o ar remanescente na base dos pulmões (o qual não
estaria envolvido em uma respiração normal). A ação do diafragma permite uma maior quantidade de
ar entrar e sair dos pulmões.
O diafragma pode ser comparado a um pistão cilíndrico, movendo-se dentro de uma seringa.
Se a seringa é posicionada com a agulha para cima, quando o pistão é erguido, o ar se expande em seu
interior e quando empurrado o pistão, o ar é descarregado da seringa. Quando usado corretamente, o
diafragma deve produzir o mesmo efeito dentro dos pulmões.
A respiração pelo diafragma é o melhor método na fase preparatória da apnéia, tanto do ponto
de vista de economia (maior quantidade e menor esforço) ou mentalidade, uma vez que induz ao
favorecimento do relaxamento. Cada respiração completa pelo diafragma é composta de três fases:

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- Abdominal;
- Torácica;
- Clavicular.

Em uma inspiração, o diafragma move-se primeiro, estendendo-se para baixo na direção do


estômago. O ar entrando pelo nariz irá preencher a parte mais baixa dos pulmões (fase abdominal),
depois, pouco a pouco a parte mediana (fase torácica) e finalmente, a parte superior (fase clavicular).
A expiração ocorre na sequência reversa, começando pelo topo e terminando com o diafragma, que
move-se gradualmente para cima, na direção do fundo dos pulmões. Todos esses movimentos
precisam acontecer uniforme e homogeneamente, sem provocar a intervenção dos demais músculos.
A duração da expiração deve sempre ser o dobro da inspiração. A relação é fundamental na
respiração pelo diafragma. Além disso, é importante que a banda do músculo abdominal
imediatamente abaixo do umbigo esteja fixa, tanto na fase de inspiração quanto de expiração.
Pode ser difícil, especialmente no começo, conduzir uma respiração pelo diafragma com
continuidade e uniformidade. A parte mais complicada é, definitivamente, o final da expiração,
quando o diafragma precisa ser trazido para cima para esvaziar o máximo de ar para fora dos pulmões.
Isto pode ser simplificado, dividindo a expiração em duas partes. Na primeira, exalar completamente
da parte de cima e movendo para baixo, mas sem mover o diafragma. Ao fim desta fase, pare a
expiração para flexionar o diafragma para cima e em seguida, exale o ar adicional que foi deslocado
para cima em função deste movimento.
No início do processo, é aconselhável concentrar-se somente na fase abdominal da respiração.
O primeiro e mais importante passo, consiste em isolar o diafragma, isolando-o, relaxando-o e
movendo na direção correta. Os exercícios a seguir são direcionados para esse objetivo. Durante sua
execução, é importante estar sempre consciente do ato de respirar, visualizando o ar em movimento.
Exercício 1:

A base de exercícios para o treinamento da respiração diafragmática é executada começando pela posição em
decúbito dorsal, com as pernas dobradas. Se fizermos a primeira sessão nesta posição, então poderemos passar para a
posição sentada ou em pé, movendo a atenção para diferentes aspectos.

- Deite em decúbito dorsal, com as pernas dobradas e as solas dos pés no chão. Posicione uma mão no tórax e a
outra na parte superior do abdômen;
- Execute uma longa e lenta inspiração, usando o tórax o mínimo possível (a mão no tórax não deve se mover) e
usando o diafragma o máximo possível para o abdômen (a mão sobre o abdômen sente o movimento); (fig. 1)
- Segure para uma apnéia inspiratória de 4-6 segundos;
- Execute uma lenta e profunda expiração, “esvaziando” o abdômen, que flexionar-se-á para dentro ao fim da
expiração (a mão sobre o abdômen sente o movimento). (fig. 2)
- Segure para uma apnéia expiratória de 4-6 segundos.

Nota: O relaxamento deve ser o maior possível e a respiração deve ser executada com o envolvimento do menor
número possível de músculos.

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Exercício 2:

- Faça exatamente como no exercício anterior, mas em uma posição sentada (a gravidade torna mais difícil
levantar o diafragma e contrair o abdômen, durante a expiração).

Exercício 3:

- Faça exatamente como no exercício 1, mas durante a apnéia expiratória, execute longas contrações no diafragma
e no abdômen, elevando o último para cima e depois para baixo pelo maior tempo possível. Evite desenvolver tensão
muscular no tórax ou outras partes do corpo.

Exercício 4:

- Posicione as mãos na cintura, logo acima do osso púbico, sendo capaz assim de sentir o movimento abdominal
durante o exercício. O movimento da pélvis que está unida a este osso deve aumentar a profundidade da respiração e a
amplitude do movimento abdominal;
- Levante a pélvis o máximo possível durante a inspiração e abaixe-a durante a expiração;
- A inspiração e expiração serão sempre diafragmáticas e portanto, o movimento da pélvis para cima e para baixo
será sempre acompanhado das flexões do diafragma para fora e para dentro.

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Exercício 5:

- Deite em decúbito dorsal com as pernas dobradas e mãos segurando os joelhos;


- Execute uma longa e lenta expiração, acompanhada pela flexão das coxas, para segurá-las sobre o abdômen e
para comprimir a base do tórax. O diafragma está levantado, flexionado para dentro pelo tórax; (fig. 1)
- Ao fim da expiração, use as mãos nos joelhos para, repetidamente, espremer as coxas para cima do tórax,
permitindo uma expiração adicional;
- Execute uma longa e profunda inspiração, retornando os joelhos para a posição original e flexionando o
diafragma de volta para fora. (fig. 2)

Exercício 6:

- Ajoelhado com as mãos no chão, execute uma longa e lenta inspiração (com consequente abaixamento do
diafragma), hiperextendendo a coluna vertebral e a cabeça; (fig. 1)
- Breve apnéia de 5-6 segundos;
- Execute uma lenta expiração, recordando o diafragma. Exerça pressão nas mãos para arquear a parte de cima das
costas e trazer a cabeça para baixo até o queixo fazer contato com o esterno. (fig. 2)

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Exercício 7:

- Feche a narina direita com o dedão da mão direita e execute uma longa e contínua inspiração diafragmática pela
narina esquerda; (fig. 1)
- Quando a inspiração estiver completa, mova a mesma mão para fechar a narina esquerda com o dedo anelar;
(fig. 2)
- Execute uma longa e contínua expiração pela narina direita;
- Ao fim da expiração, execute uma inspiração diafragmática pela mesma narina, sem mover os dedos. Quando
esta inspiração estiver completa, mova a mão para fechar a narina direita com o dedão e complete a expiração pela narina
esquerda;
- Comece novamente pelo primeiro passo.

A variação para estes exercícios é para inserir uma apnéia após cada fase da respiração. Primeiro adicione uma
pausa após a inspiração, depois outra após a expiração. A expiração precisa sempre ter o dobro de tempo da inspiração,
que por sua vez, terá o dobro do tempo da apnéia. Ex: 8” inspiração - 4” apnéia - 16” expiração.

5.3 - TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

Para atingir um relaxamento efetivo, é preciso aprender a admitir qualquer hábito mental ruim,
qualquer sentimento improdutivo, agindo ou reagindo. O ato de relaxar significa a adoção de precisas
estratégias psicológicas para combater hábitos mentais pessoais.
A técnica de relaxamento total pode ser aprendida de várias maneiras e através de diferentes
métodos de acordo com a inclinação de cada apneísta.

5.3.1 - RELAXAMENTO TOTAL


Uma das principais características do relaxamento total é a forte relação entre a forma
muscular e a atividade mental. Músculos aprendem a manter a postura (durante a apnéia estática) ou
aprendem um movimento específico, influenciados pela condição psicológica, na qual a função básica
dos músculos é alterada para o centro de um diálogo psicossomático.
O controle mental torna-se determinante e para aumentar a segurança, ele precisa relaxar
completamente o corpo, tornando as ações mais eficientes e a performance mais econômica. A
obtenção desta condição é auxiliada pela preparação, baseada no treinamento autogênico. O objetivo
do relaxamento total é, portanto, amenizar tanto o corpo quanto a mente, com uma solução simples.
A prática do treinamento autogênico começa com um relaxamento físico básico, que consiste
em prestar atenção em cada parte do corpo - da cabeça aos pés ou vice-versa - reduzindo o uso dos
músculos ao mínimo. Completado este relaxamento corporal, passa-se para a fase de acalmar as
emoções com um exercício de relaxamento mental que consiste em visualizar “uma cena da natureza”.
Isto envolve a imersão de si próprio na visualização de um cenário real ou imaginário, focando todos

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os sentidos em cada detalhe da cena. As fragrâncias no ar, o cheiro do mar ou da vegetação,


observação das partes mais significantes da cena, sentir o contato do corpo com o que está a sua volta,
ouvir os sons, permitir que a mente entre em uma positiva “realidade virtual”, que acalma e refresca.
Treinamento para o relaxamento, seja no seco ou na água, é fundamental para o apneísta: ele
cria estímulo que treina a mente para “ouvir” o corpo assim como controlá-lo.
Durante o relaxamento, seja passivo ou dinâmico, o nível de autoconsciência diminui,
liberando inúmeros automatismos físicos e emoções subjacentes. Através do poder de controlar o
subconsciente, a capacidade de aprendizagem é ampliada e a autoconsciência é promovida. Emoções
podem ser modificadas a qualquer momento através da exploração das associações mentais
apropriadas. Atingir a calma interior em um curto período de tempo irá tornar-se cada vez mais fácil.
Um estado de espírito benéfico para a apnéia pode ser alcançado usando simples gestos, como tocar o
polegar e o dedo indicador de ambas as mãos.

5.3.2 - EXERCÍCIOS PARA A MENTE


- Repetição mental de palavras específicas, exemplo: “meu corpo está completamente
relaxado”, “estou completamente leve”. Tente repetir estas palavras com uma busca dedicada pelo
relaxamento físico.
- Passar por todos os pontos de contato entre o corpo e a superfície. Em decúbito dorsal,
comece com a parte de baixo do corpo (calcanhar direito, esquerdo, glúteos), passando para a parte de
cima (todos os dedos da mão direita e esquerda, ombros, pescoço). Cada vez que se concentra em um
ponto de contato, é preciso sentir que todo o corpo está repousado naquele ponto. Somente após
atingir esta sensação, deve-se passar para o próximo ponto de contato.
- Ouvir o ruído ambiente e imaginar uma possível cena, começando pela origem do
barulho. Por exemplo, se você escutar a voz de uma criança, imagine esta criança vestida de uma certa
forma, fazendo certas coisas e com uma certa expressão em sua face. Se você escutar um pássaro
cantando, imagine o pássaro em uma árvore, entre as folhas, o vento se movendo, etc.
- Concentração nas batidas do coração em um certo ponto do corpo, como na ponta dos
dedos. Siga o batimento mentalmente e imagine-se capaz de reduzir seu ritmo.
- Concentração no ritmo da respiração até que se possa vê-la do lado de fora, como se
estivesse vendo uma outra pessoa. Visualize o tórax movendo-se para cima e para baixo, etc.
- Seguir o fluxo de ar com a mente, imaginando-a como um fluído que preenche o corpo,
esvaziando-o completamente em seguida.
- Imaginar movimentos rítmicos e harmoniosos. Por exemplo, as ondas circulares e
concêntricas que são formadas na piscina após uma pedra ser jogada na água. Associe isto com sua
própria respiração.

5.3.3 - TREINAMENTO AUTOGÊNICO


Treinamento autogênico refere-se ao relaxamento a partir da concentração mental que permite
a modificação das condições físicas e mentais. A primeira providência para este tipo de relaxamento
envolve a presença de um instrutor, que guiará o apneísta com sua voz para um processo de
distensionamento. O apneísta segue as instruções, preocupado em manter a concentração e observar os
efeitos.
Quando sozinho, o apneísta exercitará o treinamento autogênico a partir da autoinstrução,
escolhendo o programa que respeite suas condições psicossomáticas e disponibilidade de tempo.
Utilizando exercícios específicos, o apneísta poderá obter melhorias no tônus muscular, funções
vasculares, atividades cardiovasculares, balanço neuro-vegetativo e nível de consciência.
O primeiro passo deste treinamento é reconhecer e confrontar qualquer opinião falsa e
limitadora de si próprio, como pensamentos negativos ou instabilidades que possam influenciar
desfavoravelmente o aprendizado.
Alguns dos mais frequentes são:

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- Eu não posso controlar meu corpo;


- Eu preciso de ajuda quando me deparo com algo que não posso controlar;
- Eu nunca serei capaz de controlar meus medos e ansiedades;
- Eu tenho medo de ser punido ou punir a mim mesmo caso cometa um erro;
- Eu acredito ser onipotente, perfeito e sempre certo;
- Eu me sinto um fraco e letárgico;
- Eu estou sujeito a síndromes psicossomáticas;
- Eu não sou capaz de transformar ideias em ações;
- Eu não gosto de mim;
- Eu não tenho potencial.

Através de um programa diário de relaxamento, aprenderemos inicialmente a lidar conosco e


com o mundo aquático de modo a enriquecer a qualidade de vida. O cérebro é formatado para nos
transformar e aprender, através do contato com qualquer aumento de estímulo, novos potenciais de
ação e reação. O treinamento mental precisa seguir diversos procedimentos que verifiquem e façam
uso de diferentes níveis de consciência.
5.3.4 - RELAXAMENTO SUBAQUÁTICO
Após ter estudado a preparação seca para a apnéia (preparação física e mental), agora será
examinado como estas técnicas são aplicadas durante a apnéia.
Para aproveitar ao máximo a experiência da apnéia, é preciso esquecer a tensão provocada pela
idéia de ter que fazer alguma coisa a qualquer custo. É importante utilizar todos os canais sensoriais:
visual (visualização), auditivo (ouvir os barulhos, a voz interna) e sinestésico (pontos de contato com
o fundo, contato com a água). Apnéia é “uma jornada através do tempo”, que requer a aplicação de
uma significante concentração para nos desligar do tempo que caracteriza nossa existência.
Para termos sucesso, é preciso “fazer um esforço para não ser feito esforço”.

5.4 - APNÉIA ESTÁTICA

Apnéia estática é, definitivamente, a disciplina mais difícil do ponto de vista psicológico. Esta
será uma batalha contra o tempo, ou mais precisamente, uma batalha contra a percepção de tempo.
Um exemplo bem simples: suponha que estamos respirando normalmente e ao mesmo tempo
fixamos nossa atenção aos passar dos segundos de um relógio. Nesta condição, cinco minutos irão
tornar-se um interminável passar do tempo. Imagine a mesma coisa sem respirar! Se ao invés,
estivermos lendo um livro, ouvindo uma boa música ou tendo uma conversa interessante com um
amigo, cinco minutos passarão rapidamente.
Esta é a condição mental que precisa ser reproduzida embaixo da água durante a apnéia.
Quando seguramos a respiração, precisamos tentar livrar a mente de quaisquer distúrbios relacionados
a questão do tempo. A mente precisa estar ocupada de alguma forma, de modo a “enganar” o tempo.

5.4.1 - PREPARAÇÃO PARA APNÉIA ESTÁTICA


A resposta para esta questão deveria ser óbvia: respirar e relaxar! O problema está no “como”,
“por quanto tempo” e “até que ponto”.
A posição do corpo na água é fundamental e existem soluções diferentes, dependendo da
topografia da piscina onde a apnéia está sendo realizada: profunda/rasa, com a borda ao nível da água
ou acima dela. A posição vertical normalmente é a mais confortável, considerando ser a posição
natural na qual passamos a maior parte do tempo. No entanto, alguns apneístas preferem a posição
horizontal e inclinada, respirando através do snorkel, ou deitado e estendido, com o rosto acima da
água e os pés na borda da piscina. Em todo caso, o objetivo é aliviar toda a tensão muscular.
Permanecer com os pés sobre algo significa usar os músculos dos membros inferiores e
consequentemente, não sendo capaz de relaxar as pernas.
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O importante é assumir uma posição relaxada que explore a flutuação forçada pela água e da
estrutura da piscina. Por exemplo, se a borda da piscina estiver no nível da água, isto permite o apoio
dos ombros, que irá pegar o peso da coluna espinhal, permitindo a expansão do tórax, que favorecerá a
respiração. Em resumo, adote a estratégia que, dentro do contexto, permita uma melhor prisão da
respiração.
Respire usando as técnicas descritas acima, concentrando-se no ar fluindo interna e
externamente, que farão com que a mente relaxe. Verifique todo seu corpo, assegurando-se que toda a
tensão acumulada durante o dia-a-dia está sendo aliviada. Quando sentir-se pronto, comece a apnéia.
Esta começa com a respiração final, que ao contrário do que se pensa, não necessita encher os
pulmões completamente. Em geral, os pulmões captam 80% de sua capacidade máxima e nada mais.
Isto evita adquirir tensão muscular no tórax. O movimento final antes de começar a apnéia é tomar
posição na água, que não requer necessariamente fazer o mergulho. A ação correta, nada mais é do
que relaxar na água, permitindo que esta suporte o corpo.

5.4.2 - TÉCNICAS DE RELAXAMENTO SUBAQUÁTICO


O principal objetivo destes exercícios são manter a mente ocupada, evitando pensamentos
sobre o tempo que passa devagar. Somente enganando com a mente poderão ser obtidos resultados
substanciais na apnéia estática.

1 - Pontos de contato
Das diferentes técnicas de concentração e relaxamento subaquático, a mais fácil de ser aplicada
é esta de “pontos de contato”.
Execução:
- Ajoelhar no fundo de uma piscina, com a cabeça encostada na parede, identifique os pontos
de contato (testa, joelhos, dedos dos pés e se necessário, os dedos das mãos);
- Isolar um único ponto, perdendo a sensibilidade dos demais;
- Quando o objetivo acima for alcançado, isole outro ponto;
- Repetir o exercício para todos os pontos de contato.
Com a prática, você deverá alcançar a sensação única na qual o corpo tem sensibilidade em um
único lugar; o corpo sente o mundo externo através daquele único ponto, fazendo assim, todos os
demais pontos desaparecerem. Isto fará parecer como se o corpo descansasse somente em um ponto.
Se usarmos 30 segundos para encontrar a sensação desejada em um ponto de contato, então, o
exercício completo levará em torno de 3 minutos. A mente do apneísta estará completamente ocupada
na busca pela concentração total e consequentemente, o tempo irá passar rapidamente.

2 - Blindagem de cada parte do corpo


Outra técnica efetiva consiste em “revisar cada parte do corpo”, da cabeça aos pés, para
verificar cada músculo em um total estado de relaxamento; através da audição e inspeção, através da
mente, de cada grupo muscular, poderá obter uma profunda redução da atividade muscular, um estado
psicofísico de destensionamento e um completo bem-estar.
Execução:
- Em uma apnéia estática, visualize cada parte do corpo e analise-a em um estado de
relaxamento. Começando pelo fundo (dedos, pés, calcanhares, etc);
- Repita frases mentais, como “eu estou relaxado”, “meu corpo está calmo”;
Um ponto de importância crítica é a língua, que serve como um liga-desliga para o resto do
corpo. A língua precisa estar completamente relaxada e cair completamente para cima ou para trás,
dependendo da posição do relaxamento. Se a língua não estiver relaxada, então nenhuma parte do
corpo estará.

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3 - Relaxamento com sons e barulhos


Sons e barulhos podem ser utilizados para o relaxamento. Em certas ocasiões, um barulho
pode ser transformado em um estímulo genuíno de concentração. Nós precisamos somente visualizar a
imagem que representa a origem desse barulho.
Execução:
- Identifique e isole um som ou barulho;
- Tente encarar a origem do barulho que se está escutando sob a água (ex: isole a voz de uma
criança e visualize seu rosto; imagine os costumes da criança, cor do cabelo, expressão facial, etc).
Nesta criativa tentativa, a mente estará ocupada em algo além do tempo, que nesse caso,
passará muito mais rápido. Esta técnica pode transformar uma situação chata em um estímulo para o
apneísta. Quando estamos na piscina, praticando apnéia estática no fundo, pessoas nadando acima
pode se tornar uma situação desconfortável. No entanto, podemos nos concentrar nos barulhos que
seus braços e pernas fazem quando estão nadando.

4 - Concentração no batimento cardíaco


Execução:
- Identifique e ouça o batimento cardíaco nas têmporas, pontas dos dedos ou na base do
esterno;
- Vagarosamente, mova a atenção de um ponto para outro, sucessivamente;
- A transferência de um ponto para outro deve ser feita de forma gradual, somente após a
pulsação ter passado completamente naquela parte do corpo;
- Controle a pulsação com a mente, acompanhando-a com uma gradual redução de sua
frequência, até o relaxamento;
- Repetições rítmicas de palavras e frases podem ser usadas para este exercício também.

5 - Reviva momentos prazerosos


Este exercício ativa a memória ou a imaginação de uma situação que se gostaria de viver e
deixar-se viajar por uma fantasia particular. Este é um excelente exercício para concentração da mente
e para enganar o tempo com prazer.

6 - Números
Pode ser estimulante o ato de “repetir números”, em um ritmo particular. Isto não precisa
corresponder aos segundos passados dentro da água, mas pode ocasionalmente seguir uma sequência
na qual a mente estiver concentrada.

7 - Paisagens
Imagine achando a si em um mundo de paz total e tranquilidade: uma cena na montanha, no
campo, um gramado verde, a neve, as dunas de um deserto, as ondas do mar, etc.
Todos estes exercícios de relaxamento na água são aplicáveis nas fases iniciais e medianas da
apnéia. Próximo do fim, quando a necessidade de respirar é mais forte, é praticamente impossível a
utilização destas técnicas. Nesta fase, torna-se mais vantajoso o ato de “jogar”.
Os exercícios a seguir auxiliam na fase dos segundos finais da apnéia:
- Esfregue as mãos vagarosamente;
- Toque as pontas dos dedos, um a um;
- Observe um ponto fixo na piscina;
- Mova os dedos das mãos e dos pés simultaneamente;
- Siga com os olhos o movimento de uma partícula em suspensão na água.

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5.5 - APNÉIA DINÂMICA

Para a preparação de uma apnéia dinâmica, não subestime o período anterior a imersão:
relaxamento e respiração são de fundamental importância, mesmo que, sob a água, haja necessidade
de esforço físico. Apnéia dinâmica é uma tentativa menos difícil do que a apnéia estática, do ponto de
vista mental, uma vez que esta possui um ponto de chegada. Estática é uma batalha contra o tempo,
enquanto na dinâmica os metros passam enquanto o atleta está engajado com o movimento na água.
Através da otimização do estilo de natação, posição do corpo e flutuabilidade, será mais fácil
dedicar a mente a planejar a apnéia dinâmica. A fase mais delicada é, obviamente, o momento final da
apnéia dinâmica, onde a ânsia por respirar e o início das contrações, instintivamente levam a um
súbito aumento na velocidade de subida, com o objetivo de atingir o mais rápido possível, a
superfície.
Esta situação deve ser categoricamente evitada, uma vez que é contraprodutiva e perigosa, pois
aumenta o risco de um blackout. No estágio final de uma apnéia dinâmica, o aumento da velocidade
leva a perda de controle da situação: o atleta não está mais no comando do ritmo, posição ou técnica.
O impulso mais urgente é atingir o fim da performance e respirar o mais rápido possível; há somente
um pensamento no cérebro do apneísta: chegar. Neste caso, é fácil perder a sensação dos sinais
corporais que indicam os limites de segurança da apnéia. Lembre-se que a chave-mestra para todos os
diferentes tipos de apnéia é o autocontrole.
Na parte final da apnéia dinâmica, devemos buscar estar com o controle total da situação: no
instante em que o mecanismo que causa a necessidade de aceleração é ativado, é necessária uma
intervenção mental, impondo uma redução no ritmo das pernadas, um relaxamento generalizado e
uma lucidez psicológica que permita o controle de toda a ação. Uma velocidade constante deve ser
mais estritamente levada em consideração, do que nas fases anteriores ao fim. Somente através da
imposição desta redução de ritmo, poderemos controlar todos os movimentos do corpo.
Um exercício bastante útil, que nos permite distinguir quando o estágio final foi “tranquilo”,
consiste em executar uma simples ação na saída de cada repetição ou tentativa. Trazer a mão à cabeça
ou checar o tempo da apnéia, são exemplos simples, mas efetivas ações que permitem a verificação da
lucidez na saída.

5.6 - PERIGOS DA APNÉIA

O organismo humano é complexo, equipado com sofisticados mecanismos que oferecem sinais
úteis, que indicam que algo no funcionamento do corpo não está em ordem. Quando se prende a
respiração por certo período, no início há uma sensação de bem-estar, sem nenhuma necessidade de
reabastecer o pulmão de ar. Isto ocorre pelo fato das trocas gasosas entre as células continuar normal
com os dois principais gases: O2 tomado do alvéolo pulmonar é direcionado para as células, enquanto
o CO2 é lentamente acumulado como um produto consumido.
A sensação de bem-estar continua até que os receptores ultrassensitivos do corpo sinalizam
que os parâmetros de controle já não estão dentro dos limites estabelecidos. O corpo chega a uma fase
crítica e é colocado em guarda por conta da continuidade da prisão do ar.
O oxigênio declina, a partir de uma taxa de 100-105 mmHg, mensurado no alvéolo pulmonar
na primeira fase da inspiração, para uma taxa de 80 mmHg. Células de vários órgãos continuam a
expelir CO2, que fluem pelo sangue na forma de anidridos carbônicos e ácidos carbônicos: de uma
pressão parcial de 40 mmHg é aumentado para um valor aproximado de 55-60 mmHg.
O alarme é armado a partir do momento que essas concentrações começam a atingir seus
limites: núcleos especiais das células nervosas - carótida, aorta e quimiorreceptores do bulbo -
especialmente receptivos a pressão de CO2 no fluxo sanguíneo arterial, a infinitas variações de pH e a
falta de O2, ordenam o sistema respiratório a imediatamente reiniciar a respiração.
O que acontece com um atleta que conscientemente segura a respiração? Primeiramente haverá
um aumento no desejo por ar, que rapidamente transforma-se numa irresistível necessidade por
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oxigênio, chamado de “faminto por ar”. Forçando a apnéia, o atleta irá sentir um desconforto
espalhado pelo estômago até a garganta, até receber um espasmo súbito dos músculos respiratórios, as
contrações no diafragma.
Na realidade, nem todos registraram os mesmos sintomas; isto significa que em uma apnéia
forçada, o apneísta pode não sentir nenhuma contração no diafragma, devido a falta de sensibilidade
ou devido a ausência das contrações. Subsequentemente, o sujeito atinge o ponto de ruptura da apnéia,
sendo obrigado a reiniciar a respiração, não correndo assim o risco de “apagar”.

5.6.1 - HIPERVENTILAÇÃO

Hiperventilação é uma técnica de expirações e inspirações rápidas e forçadas que, em termos


fisiológicos, levam a redução da pressão parcial de dióxido de carbono; após a hiperventilação, o
sangue não fica mais rico de oxigênio, como se faz parecer, mas sim mais empobrecido de CO 2.
A hiperventilação engana o bulbo, que é o responsável pela estimulação da respiração. De fato,
foi verificado que após alguns minutos de hiperventilação, a pressão de CO 2 reduziu próximo a 25-30
mmHg. Antes de sentir o estímulo induzido pelo aumento do dióxido de carbono, o organismo entra
em “pane” devido a pobreza de oxigênio: Ponto de ruptura do oxigênio. Na prática, quando se
hiperventila o apneísta não sente, ou sente menos, a “fome” por ar e a necessidade de respirar e,
consequentemente, fica mais susceptível a “apagar”.
Durante o mergulho, onde a pressão hidrostática entra no jogo, modificando
significativamente, tanto o volume pulmonar quanto e a pressão dos gases respiráveis no interior dos
alvéolos em profundidades, o problema é agravado. O oxigênio passa do alvéolo para a corrente
sanguínea com grande facilidade, auxiliado pelo aumento da pressão parcial, induzindo o apneísta a
permanecer mais tempo no fundo, por conta da aparente abundância de oxigênio. No entanto, durante
a subida, os valores do volume pulmonar e dos gases voltam ao normal, revelando as consequências: o
consumo de oxigênio será elevado em quantidade, até o ponto dele não ser mais suficiente para atingir
a superfície.
Durante uma apnéia realizada após a hiperventilação, que consequentemente inicia-se com
uma baixa concentração de CO2, a chegada da primeira contração do diafragma é atrasada, o intervalo
entre uma contração e outra é reduzido e a intensidade da contração é elevado. Além disso, a
hiperventilação provoca um aumento no batimento cardíaco, aumento na pressão sanguínea e
inevitáveis contrações de vários músculos. Estas três condições são absolutamente desfavoráveis para
apnéia.

5.6.2 - APAGAMENTO

O funcionamento normal cerebral depende de um transporte adequado de oxigênio e glicose


para o cérebro. A redução destes fatores além de certo limite irá rapidamente levar a uma síncope ou
perda de consciência, que é conhecida como apagamento.
A maioria das mortes é devida, nem tanto as causas originais da perda de consciência, mas
muito ao fato do mergulhador não ser recuperado imediatamente. Além disso, afogamento e o
subsequente alagamento dos pulmões podem disfarçar as reais causas.
A sequência mais comum de eventos em um apagamento são as seguintes: o apneísta procede
uma longa hiperventilação para prolongar o tempo e profundidade de imersão, neste caso, diminuindo
a concentração de CO2 para menos de 15 mmHg e aumentando a pressão parcial de oxigênio para
mais de 140 mm Hg.
Durante a descida, a pressão parcial dos gases alveolares aumenta, o CO 2 alveolar se espalha
no sangue, devido ao gradiente invertido. No entanto, quando ocorre o estímulo, as contrações do
diafragma, associados com a “fome” por ar, são retardados. O oxigênio no sangue será mantido em
elevados níveis devido ao efeito da pressão hidrostática, oferecendo a chamada “sensação de bem-
estar”.
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Os fatores que contribuem para o apagamento são simples, se for levado em consideração que
o principal critério que governa qualquer atividade fisiológica é a conservação da vida, mesmo com o
custo de danos permanentes.
Segurar a respiração voluntariamente para permanecer em apnéia implica um consumo gradual
de oxigênio nos pulmões e depois no sangue, assim como um aumento correspondente de dióxido de
carbono nas duas áreas. Os receptores responsáveis pela medição da concentração de gases no
sangue, irá, constantemente, analisar essas variações e comunicar a situação ao cérebro. Tão logo o
dióxido de carbono exceda determinado nível, o reflexo respiratório é desencadeado em forma de
contrações do diafragma. O apneísta ignora este estímulo e, consequentemente, os níveis de CO 2 e O2
irão continuar a aumentar e diminuir respectivamente.
No entanto, o cérebro é “teimoso” e fortalece estes sinais de necessidade por ar, transmitidos
cada vez mais através de diferentes estímulos. Se o apneísta continua a ignorar estes sinais, então
chegará ao ponto que o cérebro tomará controle da situação, iniciando funções voluntariamente. Este é
o apagamento: uma reação visando reduzir as atividades metabólicas em favorecimento da oxigenação
(mesmo que mínima) do cérebro e do coração.
Baseado no exposto, é preciso pensar que o apagamento é a última tentativa do corpo de
salvar-se e não o começo do fim.
O apneísta não passa direto do estado de consciência para ao apagamento. Este será
intermediado por uma condição que recebe o nome de pré-apagamento, em que há uma perda de
controle, ou o sujeito não saber mais o que está fazendo, mesmo não tendo apagado ainda. Ainda
haverá movimento, no entanto, de maneira descontrolada e convulsiva, comumente referenciada como
“samba”.
É importante entender que existem apagamentos em que o sujeito recupera-se rapidamente,
enquanto em outros casos, faz-se necessário uso de equipamentos de ressucitação. Em alguns casos, a
mandíbula pode ser violentamente contraída devido a delonga da condição hipóxica. Neste caso, será
requerido um instrumento para forçar a abertura da mandíbula, respiração artificial e finalmente,
administração de oxigênio.
Em certas ocasiões, as contrações durante a fase do pré-apagamento são de tamanha força, que
duas pessoas são requeridas para segurar a vítima para permitir que a mesma receba uma correta
oxigenação.
Para evitar o risco de apagamento ou pré-apagamento, é essencial entender o próprio limite e a
capacidade de apnéia, evitando ultrapassar estes limites e, acima de tudo, respirar corretamente antes
do mergulho, prevenindo assim, a hiperventilação.
Todavia, a fase mais crítica e delicada após uma apnéia difícil, será sempre a saída. O modo
como se toma a primeira respiração após o mergulho, determina o sucesso do fim e a eliminação da
probabilidade de apagamento. A primeira ação deve sempre ser a expiração, a fim de abrir espaço nos
pulmões para o ar renovado e assim, o oxigênio. O erro mais comum é exalar forçada e
profundamente pela boca, imediatamente após sair da água, ou pior, iniciar a expiração a caminho da
superfície. Isto irá provocar uma queda súbita da pressão parcial de oxigênio no sangue e
consequentemente, o apagamento ou pré-apagamento.
EVITE EXALAR FORÇADAMENTE APÓS A APNÉIA

O correto é exalar calmamente pela boca, sem esvaziar completamente os pulmões e após,
inalar pela boca para enchê-los novamente de oxigênio. Consequentemente, poderemos descarregar
completamente o ar, retornando a uma respiração normal. Esta técnica irá prevenir a queda da pressão
parcial de oxigênio para valores que irão predispor ao pré-apagamento ou apagamento.

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CAPÍTULO 6 - EQUIPAMENTOS PARA MERGULHO AUTÔNOMO

6.1 - EQUIPAMENTOS BÁSICOS

São aqueles que devem ser utilizados em todos os tipos de mergulho, independente da
profundidade, do objetivo e do local do mergulho. São eles:

 MÁSCARA FACIAL - Varia de acordo com os fabricantes. São feitas de borracha sintética
ou de silicone. A melhor máscara é aquela que tem menor volume interno, tirantes ajustáveis e
resistentes, maior campo visual e que se adapta bem a face do mergulhador. Algumas possuem
uma lente, duas ou até mais (visores laterais para aumentar a visão periférica). Outras possuem
inclusive uma válvula de drenagem, para facilitar a saída da água de seu interior.

- Manutenção:

a) Lave sempre o material após o mergulho, com água doce;

b) Não deixe o material molhado. Guarde-o seco e fresco;

c) Mantenha-o afastado da luz solar (raios solares atuam diretamente no material, podendo
danificá-lo);

d) Não deixe as lentes voltadas para o chão. Pedras ou outro tipo de material podem arranhar
o visor.

Diferentes modelos de máscara facial (visor)

 SNORKEL - É um tubo com bocal utilizado para a respiração na superfície, evitando que o
mergulhador retire o rosto da água. É usado nos mergulhos em apnéia e no autônomo para
respirar na superfície, economizando o ar do cilindro. Alguns também possuem válvulas de
drenagem e defletores de marola.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- Manutenção:

a) Lave sempre o material após o mergulho, com água doce;

b) Não deixe o material molhado. Guarde-o seco e fresco;

c) Mantenha-o afastado da luz solar (raios solares atuam diretamente no material, podem
danificá-lo).

Diferentes modelos de snorkel

 NADADEIRAS - Aumentam a superfície dos pés e tem a função básica de potencializar a


propulsão do mergulhador, com movimentos ativos (para baixo, o mais forte) e passivos (para
cima, retorno à posição inicial). As mãos do mergulhador só devem ser usadas para uma
mudança brusca de direção. No mercado, encontramos as nadadeiras sob as diversas formas ou
tipos, tais como abertas, fechadas, tipo jumbo, com canaletas, geminadas, etc.

- Manutenção:

a) Lave sempre o material após o mergulho, com água doce;

b) Não deixe o material molhado. Guarde-o seco e fresco;

c) Mantenha-a afastada da luz solar (raios solares atuam diretamente no material, podem
danificá-lo);

d) Guarde-as sempre na posição horizontal. Na posição vertical as palas podem deformar-se.

Fechadas, com canaletas

Abertas, com canaletas

Tipo Jumbo

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6.2 - EQUIPAMENTOS RELACIONADOS COM O FORNECIMENTO DE AR

É constituído de:
a) Cilindro(s)
b) Registro(s)
c) Primeiro estágio do regulador
d) Segundo estágio do regulador

 CILINDRO DE MERGULHO OU “LUNG”- Também conhecido por “garrafa”, é um


compartimento que contém ar sob pressão. Essa pressão é de, geralmente, 3.000 PSI (lbf/pol2)
ou 207 BAR (Kgf/cm2). Esses valores não são fixos, variam de acordo com o modelo do
cilindro. Eles são feitos de liga de aço ou de duralumínio e a maioria apresenta pintura com
produtos poliuretânicos especiais e epóxi de altíssima elasticidade, de extrema resistência ao
choque e envelhecimento, sendo tratado internamente em passivação e fosfatagem. Os
registros podem ser do tipo YOKE ou DIN (ambos para conexão do 1º estágio). Também para
proteção, podem ser utilizados redes de nylon no corpo do cilindro e o “boot”, feito de material
termoplástico, para proteger a parte inferior do cilindro. Existem cilindros de vários volumes,
sendo que os mais comuns são os de 11 litros. Um único cilindro é chamado de singelo. Dois
cilindros unidos por um “piano de válvula” é chamado de duplo. De acordo com a legislação
brasileira, os cilindros devem passar por uma prova de resistência, chamado teste hidrostático:
cilindros de aço a cada 3 anos e os de alumínio a cada 5 anos. A finalidade de um teste
hidrostático não é a procura de pontos de corrosão, mas detectar dilatações no cilindro e
também vazamentos e rachaduras maiores. A pressão de teste é a elevação de 5/3 da sua
pressão de trabalho. Ainda de acordo com normas internas, todo cilindro deve possuir
inscrições em seu corpo, conforme abaixo descrito:

Esquema de inscrições no cilindro

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Diferentes tipos e volumes de cilindros para mergulho autônomo

Segue abaixo tabela com os dados do tipo de cilindro mais utilizado no mergulho, de acordo
com os dois principais fabricantes:

Capacidade Diâmetro Comprimento Peso Vazio Volume Flutuabilidade (kgs)


Fabricante
(pés³) interno (mm) (mm) (kgs) Interno (Lts) Cheio Metade Vazio
Catalina 80 184,2 654 14,3 11,1 -0,77 1,22 1,86
Luxfer 80 184,15 653 14,2 11,1 -0,64 0,68 2,00

 Uso correto

 Nunca faça uma recarga maior que a pressão máxima de trabalho;


 Nunca deixe o cilindro carregado próximo a lugares quentes ou expostas ao sol;
 Não esvazie totalmente o cilindro, principalmente quando estiver imerso, para evitar
a penetração de água ou outro elemento;
 Guardá-lo a uma pressão entre 50 e 100 PSI; quanto mais pressão, maior a
concentração de moléculas de oxigênio, o que resultará em maior corrosão;
 Guarde sempre cilindros de aço em pé; se houver alguma água ou impureza ela
permanecerá no fundo, que é justamente a parte mais resistente. Os cilindros de
alumínio devem ser armazenados deitados, já que no alumínio a oxidação forma
uma camada que impede a corrosão;
 Uma vez por ano retire o registro e limpe o cilindro por dentro (inspeção visual);
 Evite bater o cilindro, principalmente, o registro;
 Evite fazer a recarga de um cilindro fora da água;
 Não use o cilindro que foi recarregado há muito tempo;
 Quando recarregar o cilindro, certifique-se de que o ar que está sendo colocado seja
puro. (Ver intoxicação por CO).

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 REGISTRO - são válvulas normais de abrir e fechar o fornecimento de ar de um cilindro.


Existem ainda os registros com reserva (menos comuns por serem ultrapassados). Podem ser
tipo YOKE (encaixe) ou DIN (rosca).

Registro “Yoke” Registro “DIN”

 PRIMEIRO ESTÁGIO DO REGULADOR - Tem a função de reduzir a pressão do cilindro


para uma pressão intermediária, que varia de 125 a 140 PSI (8,5 a 9,5 BAR). Alguns são
balanceados, reduzindo o esforço em “puxar o ar”, proveniente do cilindro. Em seu corpo,
possui saídas para baixa pressão (LP), onde são adaptados o 2º estágio do regulador (principal
e reserva) e a mangueira do colete equilibrador ou da roupa seca e uma saída de alta pressão
(HP), onde será conectado o manômetro de imersão, que indicará a pressão do cilindro durante
o mergulho.

1º Estágio do Regulador

Pode ser de pistão ou diafragma. Nos reguladores de pistão, a pressão da água


externa ao compartimento do regulador irá atuar em um pistão, deslocando esta parte
principal do primeiro estágio. Nos primeiros estágios que atuam com diafragma, a pressão
atua sobre uma membrana flexível. Uma haste de impulso no interior do diafragma
transmite o movimento do diafragma para o mecanismo da válvula.

Esquema de funcionamento do 1º estágio de pistão e diafragma


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 SEGUNDO ESTÁGIO DO REGULADOR - Acoplada ao primeiro estágio através de uma


mangueira de baixa pressão, tem a função de fornecer ar quando solicitado (mergulhador
inspira), de acordo com a pressão ambiente. Algumas possuem protetores de mangueiras nas
extremidades (para evitar dano à mangueira), bocal em borracha de silicone, botão de purga
(by-pass) e uma peça por onde sairá o ar expirado, conhecida como “bigode”. Na configuração
ideal do regulador, são utilizados dois 2º estágios, um como fonte principal de ar e outro como
fonte alternativa para situações de emergência. Para fins de diferenciação na terminologia, foi
adotado o termo “Octopus” para a fonte alternativa. Ambos tem o mesmo princípio de
funcionamento. A diferença está no comprimento da mangueira (o segundo estágio possui,
geralmente, 80cm e o octopus 100cm) e na cor (o octopus possui a cor amarela).

2º Estágio do Regulador

Há dois tipos de segundo estágio atuantes no mercado. O modelo atuante com


“downstream” é o mais comum. Com este modelo, ao puxar o ar, o diafragma é empurrado
contra uma alavanca de demanda, que está ligada a uma válvula unidirecional. Isso faz com
que a válvula presente no segundo estágio seja aberta, fornecendo o ar.

Esquema de funcionamento do 2º estágio “downstream”

- Manutenção do 1º e 2º estágios:

 Deixe a água correr pelo equipamento, fazendo com que ela passe pelo bigode do 2º
estágio e pequenos orifícios do 1º estágio;

 Jamais pressione o botão de purga do 2º estágio quando estiver lavando o regulador;

 Esteja atento ao protetor de filtro no 1º estágio, também conhecido como “chapéu de


bruxa”, verificando se o mesmo encontra-se fixado antes de iniciar a lavagem, para
evitar a entrada de água no regulador.

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 COMPRESSOR DE GÁS - É o equipamento utilizado para dar pressão ao gás do cilindro


utilizado pelo mergulhador. Pode ser elétrico ou a combustão, com vazões distintas, de acordo
com a potência de cada um. Pode haver ainda, atrelado ao compressor, um sistema conhecido
como “cascata”, que se trata de uma série de 2 ou mais cilindros de grande volume e alta
pressão, que tem por função, transferir o ar pressurizado de seu interior para o cilindro a ser
recarregado, diminuindo o tempo de enchimento.
A compressão ocorre da seguinte maneira: O ar existente nas proximidades do
compressor, ou próximo às tomadas de ar, é aspirado pelo primeiro estágio, que possui um
filtro de partículas sólidas. Este estágio possui válvula de aspiração e descarga e com a
compressão do piston, o ar é comprimido a, aproximadamente, 7 Bar, que consequentemente,
aquece ao passar pela serpentina que o levará ao segundo estágio, onde sofrerá resfriamento a
menos de 10ºC. Este mesmo procedimento ocorre do segundo para o terceiro estágio, onde é
pressurizado a 40 Bar e deste para o último separador de umidade. O comprimento dos tubos
de resfriamento e a ventilação forçada que é proporcionada pelo ventilador, são dimensionados
para clima quente. A temperatura normal de trabalho, próximo às conexões de saída de cada
estágio é de mais de 80ºC. Este aquecimento é normal e decorrente da alta taxa de compressão.
Com a constante mudança de pressão e temperatura, o ar condensará sua umidade peculiar,
juntamente com qualquer partícula de vapor de óleo, condensando um líquido leitoso, que por
sua vez, deverá sedimentar em cada separador de umidade, para ser expelido pelas válvulas de
purga.

Resumo de funcionamento:

Captação de Ar => Filtro => 1º est. (7 bar) => Resfriamento => 2º est. (40 bar) => Resfriamento =>
Desumidificador => 3º est. (até 300 bar) => Desumidificador => Filtro Químico => Cilindro

Modelos de Compressores

- Normas de segurança para recarga de cilindros de alta pressão

 Assegure-se que o compressor está aspirando ar puro;

 A mangueira e terminal de carga devem estar em boas condições de uso;

 Verifique cada cilindro que será recarregado, observando principalmente, a


validade do teste hidrostático, conservação externa e pressão de trabalho;

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 Procure acondicionar os cilindros dentro de tanques de resfriamento,


devidamente preparado para tal. Estes tem por objetivo diminuir a temperatura
durante a recarga, não fornecendo leitura falsa no manômetro. Poderá ser
constatado ainda, vazamento no cilindro;

 Nunca utilize ferramentas para conectar e desconectar os terminais de carga ou


adaptadores que são feitos para uso manual, bem como despressurizar o
terminal de carga para retirar o cilindro recarregado;

 Sempre quando possível, verifique a procedência dos cilindros para recarga.


Caso esteja com ar, verifique a pressão existente, odor e tempo que este ar está
armazenado;

 Em casos de oxidação interna, certamente a taxa de oxigênio é reduzida


consideravelmente com a reação oxidante.

- Problemas, Causas e Correções durante o funcionamento

 Motores a combustão precisam de cuidados constantes, principalmente os que


usam gasolina como mistura e foram projetados ou calibrados para
combustíveis mais puros ou fortes. Convém conhecer profundamente as
orientações com o fabricante ou assistência técnica autorizada;

 Os motores elétricos podem sofrer perda de rendimento, dependendo da


ciclagem e voltagem onde estão instalados. Procure conhecer exatamente a rede,
a voltagem, a rotação do motor, tipos de fase, a probabilidade de perda de carga
ou sobrecarga na rede. O sentido de rotação do compressor está diretamente
ligado ao motor. Os motores trifásicos são os que mais podem confundir um
leigo na sua instalação. A contra-rotação prejudica, consideravelmente, o
arrefecimento do compressor e consequentemente, a lubrificação;

 As válvulas de admissão e descarga são peças de extrema importância do


compressor. O aquecimento dos tubos próximos às válvulas de descarga
demonstra o bom funcionamento. E o resfriamento próximo ás válvulas de
admissão, denotam o bom arrefecimento do sistema. O inverso do
funcionamento descrito acima demonstra problema no circuito;

 As válvulas de segurança entre estágios estão preparadas para entrar em


funcionamento quando uma das válvulas subseqüente estiver com problema;

 O aparecimento de cheiro de óleo no ar respirável é sinal de que os elementos


filtrantes estão com prazo vencido ou os anéis de vedação perderam sua função.
Este fato poderá ser aliado ao estado dos condensados das purgas, ao
arrefecimento do compressor, ou até mesmo ao ar que está sendo aspirado pelo
compressor. Prontamente deverá ser procedido a verificação da causa do
problema e recorrer à solução antes de se proceder a continuidade das recargas
de ar.

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6.3 - ACESSÓRIOS
Apesar de terem sido denominados acessórios, eles são fundamentais, principalmente, para a
segurança do mergulho. A cada pesquisa surgem novos aparelhos para essa atividade. Os mais
importantes são:

 MANÔMETRO DE IMERSÃO - Fornece a leitura da pressão do cilindro em BAR ou PSI


(lbf/pol²), mantendo o mergulhador informado sobre sua autonomia. Na maioria, sua escala
vem graduada de 0 a 5000 PSI (ou unidade correspondente), mostrador fluorescente, com
caixa em bronze cromado, aço inox e policarbonato anti-choque. Possui ainda uma marcação
na cor vermelha para alertar o mergulhador que o fornecimento de ar está próximo do fim.
Para medir a pressão dos cilindros na superfície, pode-se também utilizar o manômetro seco,
peça comumente encontrada nas operadoras de mergulho, mas nunca se deve mergulhar com
este equipamento.

Manômetro Seco Manômetro de Imersão

 PROFUNDÍMETRO - Equipamento utilizado para fornecer a leitura da profundidade real e a


máxima alcançada durante o mergulho. Existem dois tipos: um a base de pressão de óleo e
outro a base de pressão de água. A leitura pode ser dada em metros ou pés. Pode ser de pulso
ou estar acondicionado em console.

Profundímetro

Profundímetro de pulso

 COLETE EQUILIBRADOR (CE) OU “BC” - Controla a flutuabilidade do mergulhador;


pode auxiliá-lo na subida em caso de emergência e serve como colete salva-vidas. Nele é
conectada uma mangueira de baixa pressão vinda do 1º estágio do regulador, para que possa
ser inflado utilizando o ar do cilindro. No tubo traqueado (conhecido como traquéia), existe
um grupo de acionamento de comando, com botão de ação progressiva (botão de inflar,
também conhecido como “power”), botão de descarga, um cabo que passa pelo seu interior
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para também executar a ação de descarga através de tração e inflador oral. Em alguns modelos,
encontramos uma válvula de descarga rápida (segurança), para evitar com que o aumento de
volume venha a romper o colete. Possui back-pack integrado e existem diversos modelos com
bolsos laterais e frontais para transporte de materiais e colocação de lastro, “D-rings” (anel em
aço inox com o formato da letra D), tiras desengatáveis e reguláveis nos ombros e cintura, etc.
Encontrado como tipo jaqueta (inflagem frontal e dorsal), semi-asa (acabamento jaqueta e
inflagem dorsal) ou asa (inflagem dorsal acompanhado de um back plate) .

Colete Jaqueta Colete Semi-Asa Colete Asa + Back Plate

- Manutenção:

a) Lave sempre o material após o mergulho, com água doce;

b) Não deixe o material molhado. Guarde-o seco e fresco;

c) Mantenha-o afastado da luz solar (raios solares atuam diretamente no material,


podendo danificá-lo);

d) Lave a parte interna do CE (colete equilibrador) com água doce, jogando cerca de
500ml em seu interior, balançando-o bem antes de retirá-la;

e) Guarde o CE parcialmente inflado.


 BACKPACK - Quando não possuir o colete, pode-se usar este equipamento. Ele é encaixado
ao cilindro por tirantes e possui alças para adaptá-lo nas costas do mergulhador. Pode ser de
fibra ou plástico.

Backpack

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 ROUPAS DE MERGULHO - Podem ser úmida, seca, semi-seca ou com circulação de água
quente:

a) Roupa úmida - permite a entrada de água, que ao entrar em contato com a pele, cria uma
camada isolante que protege o mergulhador da perda de calor para o meio. São geralmente feitas
com neoprene e variam de 2,5mm a 7mm de espessura. É a mais utilizada pelos mergulhadores,
podendo ser encontrada no mercado apresentando diversas variações como cores, proteção
(reforço) nos joelhos e cotovelos, zíper, bolso, capuz geminado, inteiras ou divididas (calça e
jaqueta).

b) Roupa seca - é utilizada para mergulhos em água muito fria. Encontramos em tecido
trilaminado, com revestimento para trabalho pesado, com suspensório e fecho estanque anterior
ou posterior, reforço nos joelhos, válvula de carga e descarga, botas de neoprene geralmente de
6 mm com revestimento de borracha, com solado de borracha moldada reforçada, capuz com
selo facial e de pescoço e sub roupa (undergarment) para águas de até 13 graus. Além de não
haver a penetração de água, ainda pode ocorrer a injeção de gás (argônio) como forma de
isolamento, o que altera o equilíbrio hidrostático, uma vez este gás ser mais quente que o ar.

c) Roupa semi-seca - possui geralmente fecho posterior de ombro a ombro, capuz separado com
vedação de anel toroidal no pescoço, anel toroidal no interior das vedações dos pulsos, luva de
cano longo de 3 a 5 mm em neoprene e bota com solado de borracha termoplástica, anti-
escorregamento.

d) Roupa com circulação de água quente – assemelha-se a roupa seca, porém possui
serpentinas que permitem a circulação de água quente.

Roupa Úmida Roupa Seca Roupa Semi-Seca

OBS: AS ROUPAS SECA E COM CIRCULAÇÃO DE ÁGUA QUENTE GERALMENTE SÃO


UTILIZADAS EM MERGULHOS TÉCNICOS OU PROFISSIONAIS.

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Comparativo das roupas

- Manutenção:
a) Lave sempre a roupa após o mergulho, com água doce, deixando-a de molho por 24h;

b) Seque-a sempre à sombra. Não a deixe molhada, guarde-a seca;

c) Vire-a ao avesso para secar;

d) Evite colocá-la em cabides (provoca deformação) e;

e) Fechos (zíper) – manutenção com silicone.

 LUVA, CAPUZ, BOTA E MEIA – Tem a função de proteger e aquecer, respectivamente, as


mãos, cabeça e pés do mergulhador. Podem ser de neoprene ou de tecido. Luvas geralmente
não ultrapassam 2mm de espessura, a fim de não atrapalhar o movimento das mãos. Botas são
utilizadas com nadadeiras abertas e meias com fechadas.

Luva de neoprene Capuz de neoprene Bota e Meia de neoprene

 CINTO DE CHUMBO OU LASTRO – Equipamento utilizado para compensar a


flutuabilidade positiva causada principalmente pela roupa de mergulho. A quantidade de lastro
varia de mergulhador para mergulhador, dependendo assim da sua flutuabilidade natural. Essa
quantidade é, teoricamente, de 10% da massa corporal do mergulhador. A forma exata de
calcular o lastro ideal de cada um, a fim de proporcionar-lhe uma flutuabilidade neutra, é com
o mergulhador dentro de água e colete equilibrador vazio, ir adicionando chumbo até ficar
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imersa metade da máscara de mergulho. No mercado geralmente encontram-se pedras de 1, 2


ou 3kg.

Cinto de lastro com pedras emborrachadas

 FACA - Equipamento utilizado para proteção individual. O mais importante em uma faca é
que ela possua uma boa lâmina e que pegue um bom fio. A faca, quando em operações, deve
ser colocada na perna, de preferência na “parte interna”, com a ponta voltada para o calcanhar.

Faca sem ponta Faca com ponta

 COMPUTADOR DE MERGULHO - Consiste num equipamento eletrônico que aponta a


profundidade em que o mergulhador se encontra, elaborando cálculos de forma extremamente
rápida, apontando imediatamente o tempo que o mergulhador poderá ficar naquela
profundidade sem a necessidade de submeter-se a paradas descompressivas. Opera com até 3
misturas gasosas (ar, nitrox e trimix). Elabora também cálculos para mergulho
descompressivo, apontando o número de paradas, a profundidade e o tempo exigido para a
eliminação do nitrogênio residual, evitando-se assim a ocorrência da doença descompressiva.
Indica ainda os intervalos de tempo de superfície, calcula o tempo de mergulhos sucessivos e
alerta para impossibilidade de voar logo após alguns mergulhos, dependendo da profundidade
atingida e do tempo de duração. Determinam nível de saturação de oxigênio e nitrogênio.
Possuem ainda alarme de velocidade de subida e um “log book”, com a marcação dos últimos
mergulhos (tempo e profundidade máxima atingida). Alguns modelos possuem ainda

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comunicação direta com o cilindro de ar, permitindo ao mergulhador saber em tempo real a
quantidade de ar restante, calculando-se a autonomia do mergulho para aquela profundidade.

Computador de mergulho de pulso Computador atrelado ao console

 LANTERNAS - Suas qualidades são as mesmas de uma lanterna comum, em relação a foco e
a luminosidade. Existem ainda lanternas sinalizadoras especiais para cavernas (presas na
máscara ou cabeça), lanternas “strobe” para sinalização em mergulhos noturnos ou lanternas
com super-foco e de longa duração (cânister). Devem ser guardadas sempre sem as pilhas e
utilizar graxa de silicone nos o-rings de vedação.

Lanterna de mergulho Lanterna tipo “strobe” Lanterna tipo “cânister”

 BÚSSOLAS - Há três tipos: as de pulso, as fixadas em console ou conectável ao colete. Possui


leitura dupla, funcionamento com sistema a banho de óleo, com escala de anel rotante de
graduação, mostrador fluorescente, caixa em tecnopolímero de alta resistência e policarbonato
contra choques.

Bússola atrelada ao console Bússola conectável ao colete


Bússola de pulso

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 CABOS DE LIGAÇÃO - Também conhecidos como carretilhas, são utilizados quando a


visibilidade é restrita ou quando a correnteza é muito forte, com o intuito de orientar o
mergulhador. Também podem ser utilizados em mergulhos em naufrágios ou em cavernas.
Podem ser primárias, secundárias ou do tipo spool. A principal diferença está no tamanho e
comprimento do cabo (carretilhas primárias tem em média, 120m de cabo; spool 45m)

Carretilha Primária Spool

 DECO MARKER - Também conhecido como salsichão, são bóias utilizadas para sinalizar a
presença de mergulhador no local e também para realização de paradas para descompressão.
Deve estar conectada a uma spool. Alguns modelos possuem um sistema para inflagem oral.

Deco Marker (Salsichão)

 SACO ELEVATÓRIO - Também conhecido como lift bag, é utilizado na reflutuação de


objetos. Possui válvula de purga para uma eventual necessidade de esvaziamento de urgência.
Possuem capacidade de elevação variada, que vão desde 27 kg a 4000 kg.

Sacos elevatórios

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 MOSQUETÕES - Feitos em latão ou aço inox (mais eficientes), são utilizados para “clipar”
diversos tipos de acessórios ao colete equilibrador, como carretilha, lanterna, deco marker, lift
bag, etc. Possuem tamanhos e tipos variados.

Mosquetão simples Mosquetão duplo

 BÓIAS DE SINALIZAÇÃO - Servem para sinalizar a área e o raio do mergulho. Podem ser
fixas em poitas (pesos que ficam no fundo) ou presas ao mergulhador. Se o mergulho for
noturno, estas bóias devem ter iluminação. As cores mais encontradas são vermelha e branca.

Bóias para sinalização

 PRANCHETA E WET NOTE - Servem como meio de comunicação escrita embaixo d’água.
Podem ser conectados ou levados no bolso do colete ou preso junto ao antebraço do
mergulhador.

Wet Note Prancheta conectável ao colete Prancheta fixa no antebraço

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 BANDEIRAS DE MERGULHO – Sempre devem ficar hasteadas nas embarcações ou em


locais de operações de mergulho.

Mergulho Recreativo Mergulho Profissional

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CAPÍTULO 7 - SINAIS DE MERGULHO


Os sinais de mergulho são as ferramentas utilizadas pelos mergulhadores para comunicarem-se
embaixo d´água. Apesar de existirem equipamentos com sistema de fonia acoplado, que permitem a
comunicação oral, ainda é o meio de comunicação mais utilizado.
Algumas regras devem ser obedecidas quando se trata dos sinais:

- O dupla do mergulhador deve sempre responder ao sinal recebido, mesmo o tendo


compreendido perfeitamente;

- O mergulhador só deve executar uma ação após o dupla ter respondido o sinal recebido.

Seguem abaixo os principais sinais de mergulho utilizados em mergulhos diurnos e noturnos,


estando a água com boa visibilidade.

Ok de superfície c/ duas mãos Ok de superfície c/ uma mão Ok c/ luvas


Ok

Subir Descer Algo não vai bem Problema p/ compensar

Compensar Pouco Ar Sem Ar Compartilhar o Ar

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SINAIS DE MERGULHO (CONTINUAÇÃO)

Devagar ou Calma Manter a profundidade Incompreensão Perigo

Eu Venha Que direção seguir? Vou à frente, você me segue

Seguir a direção Dar as mãos Ficar junto ao dupla Pare

Frio Reunir Preciso de Ajuda Vertigem ou Tontura

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SINAIS DE MERGULHO (CONTINUAÇÃO)

Chamar atenção Problema (c/lanterna) Ok (c/lanterna) Sinais c/ lanterna (dupla perto)

Um Dois Três Quatro

Cinco Seis Sete Oito

Nove Zero

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CAPÍTULO 8 - TIPOS DE ENTRADA NA ÁGUA

Existem várias técnicas de entrada na água. Alguns fatores devem ser levados em consideração
ao se fazer a escolha da melhor técnica, como altura do barco, força do mar, profundidade do local,
tipo de equipamento que se utiliza, etc.

ENTRADA EM PÉ “PASSO DO GIGANTE”

ENTRADA DE COSTAS

ENTRADA SENTADO NA BORDA

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CAPÍTULO 9 - ACIDENTES DE MERGULHO

9.1 - PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS NO MERGULHO


Problemas fisiológicos geralmente ocorrem quando mergulhadores são expostos ao aumento
ou redução de pressão na água. No entanto, algumas das dificuldades relacionadas ao processo
respiratório podem ocorrer a qualquer momento por conta de um suplemento inadequado de oxigênio
ou uma remoção inadequada de dióxido de carbono das células teciduais. Felizmente, o mergulhador
possui reservas fisiológicas naturais para adaptar-se as mudanças do ambiente, somente não se
adaptando a pequenas alterações.

9.1.1 - HIPÓXIA

É uma deficiência anormal de oxigênio no sangue arterial. Hipóxia severa impedirá o


funcionamento normal das células, podendo eventualmente matá-las. O cérebro é o órgão mais
vulnerável no corpo humano, aos efeitos da hipóxia.

A pressão parcial de oxigênio determina a quantidade média de oxigênio adequada na


respiração. Quando a PPO2 fica abaixo de 0,16 ATA, dá-se início aos sintomas de hipóxia. A maioria
dos indivíduos desenvolvem hipóxia conscientemente a PPO 2 de 0,11 ATA e inconscientemente a
0,10 ATA. Abaixo deste nível, danos cerebrais permanentes e morte eventual podem ocorrer. No
mergulho, um percentual baixo de oxigênio bastará enquanto a pressão total for suficiente para manter
uma PPO2 adequada. O cuidado maior nesse caso, ocorre na subida do mergulho.

Causas de Hipóxia: As causas de hipóxia variam, mas todas interferem no suprimento normal
de oxigênio para o corpo. Para mergulhadores, a interferência na demanda de oxigênio pode ser
causada por:

- Disposição imprópria de gases respiráveis resultando em baixa pressão parcial de oxigênio no


suprimento de gás;

- Bloqueio de todas as partes de passagem de ar provocado por vômito, secreção, água ou


objetos estranhos;

- Paralisia dos músculos respiratórios por conta de lesão na medula espinhal;

- Colapso no pulmão devido a um pneumotórax;

- Acúmulo de fluido nos tecidos do pulmão (edema pulmonar), devido ao mergulho em água
fria, inalação de água em casos de afogamento ou acúmulo excessivo de bolhas de gás venosas nos
pulmões durante a descompressão. A última condição é conhecida como “estado de choque”.

- Envenenamento por monóxido de carbono. Este gás interfere no transporte de oxigênio pela
hemoglobina nas células vermelhas do sangue e bloqueia a utilização de oxigênio neste nível celular.

- Respiração Presa. Quando o mergulhador prende a respiração, a pressão parcial de oxigênio


nos pulmões cai progressivamente enquanto o corpo continua a consumir oxigênio. Caso a respiração
seja presa por muito tempo, hipóxia irá ocorrer.

Sintomas de Hipóxia: Sintomas de hipóxia incluem:

- Perda na capacidade de julgamento;

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- Falta de concentração;

- Falta de controle muscular;

- Inabilidade de executar tarefas que requeiram habilidades;

- Sonolência

- Fraqueza;

- Agitação;

- Euforia;

- Perda de Consciência.

Quando a hipóxia ocorre, a pulsação e pressão arterial aumentam na medida em que o corpo
tenta compensar os efeitos através de uma maior circulação sanguínea. Uma pequena redução na taxa
respiratória pode ocorrer. Pode haver cianose nos lábios, pontas dos dedos e na pele. Este caso pode
não ser um indicador de hipóxia, pois os mesmos sinais podem ocorrer por uma longa exposição a
águas frias.

Tratamento de Hipóxia: Um mergulhador sofrendo hipóxia severa necessita ser resgatado


imediatamente, devendo ser procedidos os primeiros socorros e administração de oxigênio a 100%.
Caso a hipóxia seja causada por uma mistura inadequada de gases, o simples fato de trazê-lo a
superfície pode ser suficiente.

9.1.2 - HIPERCAPNIA

É um alto nível de dióxido de carbono no sangue e nos tecidos do corpo humano.

Causas de Hipercapnia: Em operações de mergulho, trata-se do resultado do acúmulo de


dióxido de carbono no processo respiratório ou um volume respiratório inadequado. As principais
causas são:

- Alto nível de dióxido de carbono no ar lançado do compressor para o cilindro;

- Falha nos canais de absorção de dióxido de carbono;

- Ventilação inadequada dos pulmões em relação a atividade realizada, que pode ser causada
por um aumento na quantidade de espaços mortos no equipamento, resistência respiratória ou aumento
na pressão parcial de oxigênio.

Sintomas de Hipercapnia: A hipercapnia afeta o cérebro de forma diferente da hipóxia. No


entanto, pode resultar em sintomas semelhantes, que incluem:

- Aumento na frequência respiratória;

- Falta de ar, sensação de dificuldade respiratória ou sufocamento (dispnéia);

- Confusão ou sensação de euforia;

- Inabilidade de concentração;

- Sonolência;
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- Dor de cabeça;

- Perda de consciência;

- Convulsão.

O aumento no nível de dióxido de carbono no sangue estimula o centro respiratório a aumentar


o volume e taxa respiratória, assim como a pulsação. Na superfície, o aumento da taxa respiratória é
facilmente notado, sendo suficiente para alertar a vítima antes que o aumento da taxa de PPCO 2
torne-se perigoso. Este não é o caso do mergulho, onde fatores como a temperatura da água, trabalho
sub, aumento na resistência respiratória e uma elevada taxa de PPO 2 na mistura gasosa produzem
mudanças na respiração que mascaram as mudanças causadas pelo excesso de dióxido de carbono.

O excesso de CO2 também dilata as artérias do cérebro. Isso explica, em parte, as dores de
cabeça associadas à intoxicação pelo dióxido de carbono, sendo que essas dores são mais prováveis de
ocorrer depois da exposição excessiva. O aumento no fluxo sanguíneo pelo cérebro, que resulta na
dilatação das artérias, explica porque o excesso de dióxido de carbono acelera o início da toxicidade
do SNC pelo oxigênio.

Os efeitos da narcose pelo nitrogênio e hipercapnia são complementares. O mergulhador sob


influência da narcose, provavelmente não irá notar os avisos de intoxicação pelo CO 2, que irá
intensificar os sintomas de narcose.

Tratamento de Hipercapnia:

- Redução do nível de esforço a fim de dimunir a produção de CO 2;

- Aumento na ventilação pulmonar a fim de eliminar o excesso de CO2;

- Mudar a fonte respiratória ou abortar o mergulho caso o problema seja por falha no
equipamento;

Em caso de dúvida sobre os sintomas serem decorrentes de hipercapnia ou hipóxia, deve-se


considerar a segunda opção, uma vez que esta causa danos mais severos ao cérebro.

Prevenção de Hipercapnia: A prevenção se dá garantindo a qualidade do gás oriundo do


compressor, certificando-se que o mesmo não contém excesso de dióxido de carbono.

9.1.3 - ASFIXIA

É uma condição onde a respiração para e, tanto hipóxia quanto hipercapnia, ocorrem
simultaneamente. Acontecerá quando não houver gás para respirar, quando as vias aéreas estiverem
obstruídas, quando os músculos respiratórios paralisarem ou quando o centro respiratório deixar de
enviar impulsos para a respiração. Ficar sem ar no mergulho é a principal causa de asfixia.
Mergulhadores inconscientes no fundo, como resultado de hipóxia, hipercapnia ou intoxicação pelo
oxigênio, podem perder o bocal do 2º estágio do regulador e sofrerem asfixia. Obstrução nas vias
aéreas pode ser causada por um ferimento na traquéia, queda para trás da língua ou inalação de água,
saliva, vômito ou objeto estranho. Pode ocorrer paralisia nos músculos respiratórios por um ferimento
na espinha medular devido a um trauma ou doença descompressiva. O centro respiratório no cérebro
pode tornar-se não-funcional durante um episódio prolongado de hipóxia.

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9.1.4 - AFOGAMENTO

É a entrada de grande quantidade de líquido através das vias respiratórias. É um acidente


causado pela imersão prolongada de um animal em um meio líquido, gerando asfixia (falta de
oxigênio e excesso de gás carbônico). A baixa quantidade de O 2 e alta de CO2 no sangue levam a
morte celular em poucos minutos, causando lesões irreversíveis.

Classificações mais comuns:  Afogado branco - a função do coração para antes que a
função do pulmão;

 Afogado azul ou verdadeiro - a função pulmonar para


antes que a cardíaca.

Sintomas de Afogamento:

- Inconsciência;

- Edema Pulmonar;

- Aumento na taxa respiratória.

Tratamento de Afogamento: Consiste em usar o método de RCP (ressucitação cardio-


pulmonar), que engloba insuflação artificial e massagem cardíaca.

Estes procedimentos deverão ser feitos até a chegada de um médico que confirme a morte da
vítima, se for o caso. Já ocorreram casos de melhora depois de uma hora de ventilações. Deve-se
observar ainda:
- Se o tempo de fundo do mergulhador exigir parada para descompressão, a insuflação
artificial e a massagem cardíaca devem ser feitas numa câmara. O tratamento hiperbárico também não
pode ser esquecido;
- O resgate de um mergulhador afogado e inconsciente no fundo deve ser feito comprimindo
seu tórax e elevando seu queixo para a saída do ar. Esse procedimento evita a SHP;
- Se o coração da vítima estiver funcionando não será necessária a massagem cardíaca, apenas
a insuflação artificial;
- Caso a vítima esteja com os pulmões muito cheios de água, a cabeça deve ser inclinada para
um dos lados, para que o líquido seja expelido pela boca
- É mais importante colocar ar dentro dos pulmões do afogado do que retirar o resto de água
que ainda está retida nos pulmões;
- A administração de oxigênio a 100% ajuda na melhora da vítima;
- O tratamento das consequências do afogamento deverá ser feito por pessoas capacitadas
(médicos e enfermeiros) em locais adequados;
- A vítima deve ser constantemente mantida aquecida.
9.1.5 - ENVENENAMENTO POR MONÓXIDO DE CARBONO

O corpo produz monóxido de carbono como parte do processo normal do metabolismo.


Consequentemente, sempre há uma pequena quantidade de CO presente no sangue e tecidos. O
envenenamento ocorre quando o nível de monóxido de carbono no sangue e tecidos atinge um nível
superior aos valores normais, devido a presença deste gás no suprimento gasoso do mergulhador. O

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monóxido de carbono não somente bloqueia a habilidade da hemoglobina de entregar oxigênio para as
células, causando hipóxia celular, como também envenena o metabolismo celular diretamente.

Causas de Envenenamento por Monóxido de Carbono: CO não é encontrado em


quantidade significante no ar atmosférico. O envenenamento é usualmente causado pelo compressor
próximo a algo que esteja gerando monóxido de carbono ou um mau funcionamento do óleo
lubrificante no compressor. Concentrações de 0,002 ATA podem ser fatais.

Sintomas de Envenenamento por Monóxido de Carbono: Os sintomas de envenenamento


são praticamente idênticos aos da hipóxia. Quando a toxicidade se desenvolve gradualmente, os
sintomas são:

- Dor de cabeça;

- Tontura;

- Confusão;

- Náusea;

- Vômito;

Quando concentrações de monóxido de carbono são grandes o suficiente para dar início ao
envenenamento, a inconsciência pode apresentar-se como primeiro sintoma.

O envenenamento é particularmente traiçoeiro pelo fato dos sintomas não ocorrerem até o
momento em que o mergulhador iniciar a subida do mergulho. Quando em profundidade, a grande
pressão parcial de oxigênio no suprimento de gás força mais oxigênio na solução no plasma
sanguíneo. Parte deste oxigênio adicional penetra nas células e ajuda a compensar a hipóxia. Além
disso, o aumento na pressão parcial de oxigênio forçadamente dissipa uma parte do monóxido de
carbono da hemoglobina. Durante a subida, no entanto, como a PPO2 diminui, o efeito completo do
envenenamento por CO é sentido.

Tratamento de Envenenamento por Monóxido de Carbono: O tratamento imediato quando


ocorre o envenenamento consiste em levar o mergulhador a um ambiente contendo ar fresco e
oferecer suporte médico. Oxigênio a 100% deve ser administrado imediatamente e durante o
transporte da vítima a um centro médico ou hiperbárico. A melhor escolha é um tratamento
hiperbárico a base de oxigênio. O transporte não deve ser demorado a não ser que a vítima esteja bem
estabilizada. Vítimas com sintomas severos, como forte dor de cabeça, alteração mental, sintomas
neurológicos, etc., necessitam ser tratados com a tabela de tratamento 6.

Prevenção de Envenenamento por Monóxido de Carbono: Montar o compressor de ar


longe de máquinas geradoras de CO é a melhor maneira mecânica de prevenir o envenenamento.

9.2 - BAROTRAUMAS
Resultam quando o diferencial de pressão entre as cavidades corporais e a pressão hidrostática
circundante, ou entre o corpo humano e o equipamento de mergulho, não são equalizados
adequadamente. Barotraumas mais frequentes ocorrem durante a descida, mas também podem ocorrer
durante a subida.

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BAROTRAUMAS NA DESCIDA

9.2.1 - BAROTRAUMA DE OUVIDO MÉDIO

É o tipo mais comum de barotrauma. De acordo com a anatomia do ouvido, o tímpano veda
completamente o ouvido externo do espaço existente no canal do ouvido médio. Quando o
mergulhador desce, a pressão hidrostática aumenta na superfície externa do ouvido. Para compensar
este aumento, a pressão interna precisa atingir a superfície interna do tímpano. Isto é realizado pela
passagem de ar pela Trompa de Eustáquio que leva esta pressão das vias aéreas até o espaço do
ouvido médio. Quando a Trompa de Eustáquio está bloqueada por mucos (geralmente causada por
resfriados), associada ao aumento da pressão, o tímpano é alongado para dentro e inicialmente ocorre
a equalização da pressão pela compressão do gás no ouvido médio. Há um limite para esta capacidade
de alongamento do tímpano e logo a pressão interna torna-se menor do que a pressão externa da água,
criando um vácuo no espaço do ouvido médio. Esta pressão negativa faz com que os vasos sanguíneos
do tímpano e o revestimento do ouvido médio expandam primeiramente, depois vazem e finalmente
rompam. Caso a descida continue, há o rompimento do tímpano, permitindo que ar ou água entrem no
ouvido médio, ou ainda o rompimento dos vasos sanguíneos fazem com que ocorra uma hemorragia,
que equalizarão a pressão interna.

A principal marca do barotrauma de ouvido médio é uma dor aguda causada pelo alongamento
do tímpano. A dor produzida antes da ruptura geralmente torna-se intensa o suficiente para prevenir
que o mergulhador continue descendo. O simples fato de interromper a descida e subir alguns metros
é o suficiente para amenizar a dor.

Se a descida continuar, a despeito da dor, o tímpano pode romper. Quando isto ocorre, a dor irá
diminuir rapidamente. Caso o mergulhador não esteja utilizando um capuz que forneça boa proteção, a
cavidade do ouvido médio estará exposta a entrada de água. Esta exposição possivelmente causará
uma infecção no ouvido médio, impedindo o mergulhador de mergulhar novamente até que o dano
esteja curado. A ruptura faz com que o mergulhador experimente um rápido e violento episódio de
vertigem, desorientando-o e causando náusea e vômito.

Prevenção de Barotrauma de Ouvido Médio: Mergulhar com a Trompa de Eustáquio


parcialmente obstruída aumenta a probabilidade de um barotrauma. Mergulhadores que não
conseguem compensar na superfície não devem mergulhar. Estes devem realizar um exame médico
para detectarem o problema e possível solução. A compensação é a melhor maneira de prevenção
durante o mergulho. Compense o ouvido antes do aumento de pressão. Caso o mergulhador demore
muito a compensar, a diferença de pressão externa e interna torna-se tão grande que causa bloqueio na
Trompa de Eustáquio. Em alguns mergulhadores, a Trompa de Eustáquio permanece constantemente
aberta, não sendo necessário, nesse caso, a compensação, o que não é o caso da maioria dos
mergulhadores.

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AVISO: Nunca faça uma manobra de compensação forçada durante a descida. Uma
manobra forçada pode resultar em uma vertigem alternobárica, que é causada por oscilações de
pressão no ouvido médio, associado a dificuldades de compensação.

AVISO: No caso de uso de descongestionantes para mergulho, confira com um médico


especialista em medicina hiperbárica para que seja receitada uma medicação que não cause
sonolência e possibilidades de aumento dos sintomas de narcose pelo nitrogênio.

Tratamento de Barotrauma de Ouvido Médio: Após chegar a superfície com os sintomas de


barotrauma, o mergulhador poderá queixar-se de dor, perda de audição ou eventual vertigem.
Ocasionalmente, o mergulhador pode ter um sangramento nasal, resultado do sangue sendo forçado
para fora do espaço do ouvido médio para a cavidade nasal, pela Trompa de Eustáquio. Os sintomas
devem ser relatados a equipe médica responsável. O tratamento consiste no uso de
descongestionantes, medicamento para dor, além da proibição de mergulhar até que a lesão esteja
curada. No caso de rompimento do tímpano, pode haver a prescrição de antibióticos, nunca devendo
haver administração de medicamentos diretamente no ouvido externo, a não ser sob orientação de um
médico especialista.
9.2.2 - BAROTRAUMA DE OUVIDO EXTERNO

O mergulhador que utiliza protetores auriculares possui infecção no ouvido externo ou utiliza
um capuz muito apertado, pode desenvolver barotrauma de ouvido externo. Ocorre quando o gás
preso no canal do ouvido externo permanece sob pressão atmosférica enquanto a pressão hidrostática
aumenta durante a descida. Neste caso, o tímpano é empurrado para fora, em uma tentativa de
equalizar a diferença de pressão, podendo romper-se. A pele do canal incha e entra em hemorragia,
causando dor considerável.

Protetores de ouvido não devem ser usados para mergulhar, pois podem ser forçados para o
interior do canal do ouvido. Quando se utilizar um capuz, o mesmo deve permitir a entrada de ar para
que a pressão seja equalizada adequadamente.

9.2.3 - BAROTRAUMA DOS SEIOS DA FACE

Quando a pressão de ar nos seios da face é menor do que a pressão aplicada aos tecidos ao
redor desses espaços incompressíveis, o mesmo efeito relativo é produzido como se um vácuo tivesse
sido criado dentro dos seios. Este processo representa o esforço natural de equilibrar a pressão
negativa através do preenchimento do espaço com tecido inchado, fluidos e sangue. A dor produzida
pode ser intensa o suficiente para impedir o mergulhador de continuar descendo. A não ser que os
sintomas já estejam ocorrendo, o retorno a uma pressão normal trará alívio imediato Se dificuldades
forem encontradas durante o mergulho, o mergulhador pode apresentar uma pequena quantidade de
sangramento nasal ao atingir a superfície.

Prevenção de Barotrauma dos Seios da Face: Mergulhadores não devem mergulhar caso
sinais de congestão nasal ou resfriado sejam evidentes. Os efeitos do barotrauma podem ser limitados
durante o mergulho se, descer controladamente e subir alguns metros para restaurar o equilíbrio das
pressões. Caso o mergulhador não consiga compensar durante o mergulho, este deve ser abortado.
9.2.4 - BAROTRAUMA DENTAL

Ocorre quando o mergulhador apresenta cavidades nos dentes, geralmente causados por cáries
ou tratamentos de canal mal realizados. A pressão de ar penetra nessas cavidades, gerando dor.
Acontece tanto na subida quanto na descida e não permite equalização. A prevenção se dá a partir de
visitas periódicas ao dentista.

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9.2.5 - BAROTRAUMA TORÁCICO

Quando se faz um mergulho em apnéia, é possível atingir uma profundidade em que o ar preso
nos pulmões é comprimido a um volume menor do que seu volume residual. Neste volume, a parede
torácica torna-se rígida e incompressível. Caso o mergulhador continue descendo, a pressão adicional
é incapaz de comprimir esta parede, forçando sangue adicional aos vasos sanguíneos no tórax ou
elevando mais o diafragma. A pressão nos pulmões torna-se negativa em relação a pressão
hidrostática. A lesão toma forma de barotrauma.
Em um mergulho dependente, o mergulhador que sofre perda de pressão do gás respirável ou
rompimento da mangueira com falha na válvula de não-retorno, pode sofrer barotrauma torácico, caso
sua profundidade seja grande o suficiente para que a pressão da água comprima seu tórax.

Os sintomas de barotrauma torácico incluem sensação de opressão e dor no tórax durante a


descida. Na superfície, falta de ar, desconforto, tosse, eliminação de espuma rosada pela boca,
inconsciência.

OBS: Competidores de mergulho de apnéia dinâmica conseguem atingir profundidades abaixo


do limite natural do ser humano, por conta de um processo conhecido como Sistema de Imersão
Profunda dos Mamíferos. Esse processo funciona da seguinte maneira: ao ser atingida a
profundidade de 40 metros (faixa onde, provavelmente, se daria o barotrauma torácico), por alguma
razão de diferença de pressão entre o interior do pulmão e a pleura, começa a haver um fluxo de
sangue para o interior dos alvéolos. O sangue é um líquido e os líquidos são incompressíveis. Esta
incompressibilidade sustenta o esmagamento que se daria na caixa pulmonar e o mergulhador, então,
consegue ultrapassar a profundidade crítica.

9.2.6 - BAROTRAUMA CORPORAL OU FACIAL

Máscaras de mergulho e certos tipos de roupas de exposição podem causar barotrauma sob
certas condições. Exalar pelo nariz pode equalizar a pressão dentro da máscara, não sendo possível a
manobra em óculos de natação. Caso essa pressão não seja equalizada, ocorre o barotrauma facial. O
desequilíbrio de pressão causa um efeito de ventosa sobre a face e olhos. Os olhos e os tecidos da
cavidade ocular são as áreas mais afetadas. No caso de roupas de exposição, o ar pode ficar preso na
dobra da roupa e pode conduzir a um desconforto e provavelmente um caso menor de hemorragia na
pele. Sintomas envolvem esmagamento do corpo ou equimoses localizadas em regiões de dobras
corporais (cotovelos, joelhos, etc.).

BAROTRAUMAS NA SUBIDA

Durante a subida, os gases expandem de acordo com a Lei de Boyle. Caso o excesso do gás
não seja ventilado desses espaços fechados, danos a estes espaços podem ocorrer.

9.2.7 - BAROTRAUMA REVERSO DE OUVIDO MÉDIO

O gás que se expande dentro do ouvido médio durante a subida, normalmente é ventilado para
fora pela Trompa de Eustáquio. Caso haja alguma obstrução na Trompa, a pressão no ouvido médio
em relação a pressão hidrostática torna-se maior. Para aliviar essa pressão, o tímpano é forçado para
fora, causando dor. Se o excesso de pressão for significante, pode haver a ruptura do tímpano que,
caso ocorra, irá equalizar as pressões, fazendo com a dor desapareça. No entanto, pode haver um
episódio intenso de vertigem quando a água penetrar no ouvido médio.

O aumento da pressão no ouvido médio pode causar os seguintes efeitos:

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- Vertigem Alternobárica de Subida: Condição em que o balanço do mecanismo do ouvido


interno é afetado. Ocorre quando o espaço do ouvido médio de um lado está com excesso de pressão,
enquanto o outro está equalizado normalmente. O início da vertigem geralmente é súbito e pode ser
precedida por dor no ouvido que estiver com excesso de pressão. Esta condição desaparece
imediatamente caso o mergulhador interrompa a subida e desça alguns metros.

- Paralisia nos músculos faciais: O excesso de pressão pode cortar o suprimento de sangue
para os nervos faciais, causando interrupção na transmissão de impulsos neurológicos no lado afetado
dos músculos faciais. Geralmente, 10 a 30 minutos de excesso de pressão são necessários para os
sintomas ocorrerem. As funções normais desses músculos retornam ao normal, cerca de 5 a 10
minutos após o excesso de pressão ser ventilado.

O mergulhador incapaz de compensar os ouvidos está mais propenso a desenvolver


barotrauma reverso de ouvido médio. Não há uma maneira efetiva de compensar os ouvidos na
subida. Não se deve realizar a manobras de compensação, pois somente irá aumentar a pressão no
ouvido médio, que é justamente o contrário do que é requerido. A realização de uma manobra na
subida pode acabar desenvolvendo uma embolia arterial gasosa. Caso a dor no ouvido ou vertigem
desenvolva-se na subida, o mergulhador deve interrompê-la e descer alguns metros até o alívio dos
sintomas, voltando a subir de forma mais vagarosa. Várias tentativas podem ser necessárias para que o
mergulhador suba em segurança. Caso sintomas como perda de audição ou vertigem apareçam durante
ou logo após a subida, pode ser impossível determinar se os sintomas são oriundos de um barotrauma
de ouvido interno, doença descompressiva ou embolia arterial gasosa. A recompressão é sempre
indicada, a não ser que haja total certeza de que o sintoma seja causado por um barotrauma de ouvido
interno.

9.2.8 - BAROTRAUMA REVERSO DOS SEIOS DA FACE

O excesso de pressão é causado quando o gás está preso no interior dos seios. Uma dobra na
membrana que reveste os seios, um cisto ou um excremento na membrana dos seios, pode atuar como
uma válvula de retenção, impedindo o gás de deixar os seios durante a subida. Forte dor na área
afetada dos seios é o resultado desse aumento de pressão, que é suficiente para que o mergulhador
interrompa a subida. Esta é imediatamente aliviada caso o mergulhador desça alguns metros, devendo
o mesmo subir de forma mais vagarosa, assim como no caso do barotrauma reverso de ouvido médio.

Quando o excesso de pressão ocorre nos seios maxilares, o suprimento de sangue para o nervo
infra-orbital pode ser reduzido, levando a dormência da pálpebra inferior, lábio superior ou um lado
do nariz e da bochecha.

9.3 - SÍNDROME DA HIPEREXPANSÃO PULMONAR (SHP)


É um grupo de barotraumas causado pela expansão do gás preso nos pulmões durante a subida
ou excesso de pressão nos pulmões com subsequente hiperexpansão e ruptura dos sacos alveolares.
Também pode ocorrer caso o mergulhador pressione o botão de purga do segundo estágio do
regulador e respire o ar pressurizado. As duas principais causas de ruptura alveolar são:

- Pressão excessiva no interior dos pulmões causado pela pressão positiva;

- Falha no processo de liberação dos gases dos pulmões durante a subida.

Hiperexpansão pulmonar causada quando o gás não consegue escapar dos pulmões durante a
subida, pode ocorrer quando o mergulhador, voluntária ou involuntariamente, prende a respiração
durante a subida. Obstruções pulmonares que causem retenção de ar, como asma ou secreções
oriundas de pneumonia ou forte resfriado, são outras causas. As condições que levam a estes

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incidentes são diferentes das que produzem barotrauma torácico e frequentemente ocorrem durante
uma subida livre ou boiada ou em subidas de emergência.

As manifestações clínicas da hiperexpansão pulmonar dependem do local para onde as bolhas


de ar se desloquem. Em todos os casos, o primeiro passo é a ruptura dos alvéolos com a liberação
concentrada de ar para os tecidos pulmonares, condição conhecida como enfisema intersticial. Este
enfisema não apresenta sintomas a não ser que mais distribuição de ar ocorra. O gás pode encontrar
um caminho pela cavidade torácica ou pela circulação arterial.
HIPEREXPANSÃO PULMONAR

RUPTURA ALVEOLAR

ENFISEMA PULMONAR INTERSTICIAL

EMBOLIA ARTERIAL GASOSA PNEUMOTÓRAX


PNEUMOMEDIASTINO

ENFISEMA SUBCUTÂNEO

9.3.1 - EMBOLIA ARTERIAL GASOSA

A embolia arterial gasosa, por vezes chamada somente de embolia, consiste na obstrução do
fluxo sanguíneo causada por bolhas gasosas que penetram na circulação arterial. Obstrução das
artérias do cérebro e do coração pode levar à morte caso não sejam prontamente tratadas.

Causas de Embolia Arterial Gasosa: É causada pela expansão do gás nos pulmões enquanto
se respira sob pressão e a mesma é retida durante a subida. Essa retenção pode ser causada por uma
apnéia voluntária (situação de pânico) ou pelo bloqueio das passagens de ar (lesão pulmonar). Caso
haja certa quantidade de gás que se expanda o suficiente, a pressão forçará o gás pela parede alveolar
para dentro dos tecidos circundantes e para dentro da circulação sanguínea. Caso o gás entre na
circulação arterial, irá dispersar-se para todos os órgãos do corpo. Os órgãos mais suscetíveis à
embolia arterial gasosa são o sistema nervoso central e o coração. Em todos os casos de embolia, pode
haver associadamente, pneumotórax.

Artéria carótida

Capilares

Aorta

Coração
Veia
pulmonar

Embolia Arterial Gasosa


100
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Sintomas de Embolia Arterial Gasosa:

- Inconsciência;

- Paralisia;

- Fraqueza;

- Fadiga extrema;

- Dificuldade de raciocínio;

- Vertigem;

- Convulsões;

- Anormalidade na visão;

- Perda de coordenação;

- Náusea e vômito;

- Anormalidade auditiva;

- Sensação similar de uma pancada no tórax;

- Expectoração com sangue;

- Tontura;

- Mudanças de personalidade;

- Perda de controle das funções corporais;

- Tremores.

Sintomas de enfisema subcutâneo, pneumotórax e pneumomediastino também podem estar


presentes. Em todos os casos de embolia arterial gasosa, a possível presença de condições associadas a
esta não devem ser descartadas.

Tratamento de Embolia Arterial Gasosa:

- Procedimentos gerais de primeiros socorros;

- Administração de oxigênio a 100%;

- Recompressão imediata;

Prevenção de Embolia Arterial Gasosa: O risco de embolia arterial gasosa pode ser
substancialmente reduzido ou eliminado, prestando-se atenção ao que segue:

- Todo mergulhador necessita receber treinamento intenso sobre física e fisiologia do


mergulho, bem como instrução sobre o correto uso dos equipamentos de mergulho.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- O mergulhador nunca deve parar de respirar durante a subida de um mergulho em que houve
a respiração de gás pressurizado;

- O mergulhador deve exalar continuamente durante uma subida de emergência. A taxa de


exalação deve combinar com a taxa de subida. Deve ser dada atenção, em uma subida livre, para a
taxa de exalação não influenciar na flutuabilidade positiva do mergulhador. Em uma subida controlada
(utilização de colete equilibrador ou roupa seca), a taxa de subida deve ser maior do que a de uma
subida livre. A exalação deve ser iniciada antes da subida e deve ser forte, regular e forçada.
9.3.2 - PNEUMOMEDIASTINO E ENFISEMA SUBCUTÂNEO

Pneumomediastino ocorre quando o gás é forçado através do tecido do pulmão rasgado para
dentro dos tecidos mediastinais, na parte mediana do tórax circundante do coração, traquéia e veias
sanguíneas majoritárias.

Enfisema subcutâneo ocorre quando o gás subsequente do pneumomediastino migra para os


tecidos subcutâneos do pescoço. Pneumomediastino é um pré-requisito para enfisema subcutâneo.

Capilares Capilares

Coração Coração

Pneumomediastino Enfisema Subcutâneo

Causas de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: São causados pela hiperexpansão do


todo ou de partes do pulmão, devido a:

- Prender a respiração durante a subida;

- Pressão positiva nos pulmões;

- Tosse durante natação de superfície;

Sintomas de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: Em casos severos, o mergulhador


pode experimentar dor suave ou moderada sob o esterno, geralmente descrito como sensação de
aperto. A dor pode irradiar para o ombro ou costas e pode aumentar em consequência de uma
respiração profunda, tosse ou deglutição. O mergulhador pode ter dificuldade em deglutir, sua voz
pode sofrer alteração, pode haver uma aparente inflação no pescoço e também uma crepitação nesta
região.

Tratamento de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: Suspeita de pneumomediastino


ou enfisema subcutâneo é um aviso de imediata procura a um centro médico, em virtude da
possibilidade de coexistência de embolia arterial gasosa ou pneumotórax. Estas duas últimas
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condições requerem um tratamento mais agressivo. No caso de sintomas suaves de pneumomediastino


ou enfisema subcutâneo, o tratamento consiste na administração de oxigênio a 100%. Em casos mais
graves, uma recompressão rasa pode ser realizada desde recomendada por um centro médico
especializado.

Prevenção de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: As estratégias são as mesmas


das adotadas para o caso de embolia arterial gasosa, ou seja, respirar normalmente durante a subida e
exalar continuamente em caso de subida de emergência.
9.3.3 - PNEUMOTÓRAX

Consiste no ar preso no espaço pleural entre o pulmão e a parede torácica.

Causas de Pneumotórax: Ocorre quando há uma ruptura na superfície pulmonar e o ar se


espalha no espaço entre o pulmão e a parede torácica. A ruptura pulmonar pode resultar de um severo
golpe no tórax ou por uma hiperpressurização do pulmão. Manifesta-se a partir do vazamento de uma
porção de ar do pulmão para o tórax, colapsando parcialmente o pulmão e causando variados níveis de
dificuldade respiratória. Esta condição normalmente melhora com o tempo quando o ar é reabsorvido.
Em casos graves de colapso, o ar precisa ser removido com a utilização de um tubo ou catéter.

Em certas instâncias, o dano no pulmão pode permitir que o ar entre mas não consiga sair do
espaço pleural. A respiração sucessiva, gradualmente aumenta a bolsa de ar. Há um aumento
progressivo na tensão ou pressão exercida no pulmão ou coração por conta da expansão do gás. Se
algo errado ocorrer nesse processo, esta pressão pressiona o pulmão envolvido, causando o colapso
completo. O pulmão e depois o coração, são empurrados na direção oposta do tórax, que prejudica a
respiração e a circulação.

Coração

Pneumotórax

Sintomas de Pneumotórax: O começo de um pneumotórax brando é acompanhado de uma


súbita e forte dor no tórax, seguida de falta de ar, batimento cardíaco acelerado, pulso fraco e
ansiedade. Os movimentos normais do tórax, associada com a respiração, podem ser reduzidos no
lado afetado e os sons da respiração podem ser difíceis de detectar com um estetoscópio.

Os sintomas de um pneumotórax grave são similares aos do brando, porém tornam-se


progressivamente intensos com o passar do tempo. Como o coração e pulmões são deslocados para o
lado oposto do tórax, a pressão sanguínea cai juntamente com pressão parcial do oxigênio arterial.
Cianose na pele torna-se aparente. Caso não haja tratamento, choque e morte acontecerão.
Pneumotórax grave requer tratamento médico emergencial.

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Tratamento de Pneumotórax: Em caso de pneumotórax, o mergulhador deve ser


imediatamente examinado, a fim de verificar possível coexistência de embolia arterial gasosa.

Um pneumotórax suave (menos de 15%), normalmente irá melhorar com o tempo quando o ar
no espaço pleural for absorvido espontaneamente. Um mediano pode ser tratado a partir de
administração de oxigênio a 100%. Casos de pneumotórax que demonstrem comprometimento
cardiorrespiratório podem requerer um dreno de tórax, cateter intravenoso ou outro aparelho para
remover o gás intratorácico. Mergulhadores recomprimidos para tratamento de embolia arterial gasosa
ou doença descompressiva, que também apresentem pneumotórax, sentirão alívio nos sintomas logo
após a recompressão. Um tubo torácico ou outro aparelho com uma válvula de não-retorno pode ser
necessário ser inserido em profundidades, para prevenir a expansão do gás preso durante a subida
subsequente. Deve-se suspeitar de pneumotórax grave se a condição de saúde do mergulhador piorar
rapidamente durante a subida, especialmente se os sintomas forem respiratórios. Caso esse tipo de
pneumotórax seja descoberto, uma recompressão na água pode aliviar os sintomas até que a cavidade
torácica possa ser devidamente ventilada. Pneumotórax combinado com embolia arterial gasosa ou
doença descompressiva não deve ser tratado imediatamente com terapia de recompressão.

Prevenção de Pneumotórax: As estratégias para evitar o pneumotórax são as mesmas para o


caso de embolia arterial gasosa, ou seja, respirar normalmente durante a subida e exalar
continuamente em caso de subida de emergência.

9.4 - EFEITOS INDIRETOS DA PRESSÃO


As condições descritas anteriormente ocorrem por conta da diferença de pressão que causa
danos diretos a estrutura humana. Os efeitos indiretos ou secundários são o resultado de mudanças na
pressão parcial de um gás no meio em que o mergulhador respira. Os mecanismos destes efeitos
incluem saturação e dessaturação dos tecidos corporais com o gás dissolvido e a modificação das
funções do corpo por conta de pressões parciais anormais.
9.4.1 - NARCOSE PELO NITROGÊNIO

Conhecido no meio do mergulho somente pelo termo “Narcose”, é o estado de euforia e alegria
quando o mergulhador respira uma mistura gasosa com uma pressão parcial de nitrogênio maior que
4 ATAs.

Causas de Narcose: Respirar nitrogênio sob alta pressão parcial, tem um efeito narcótico no
sistema nervoso central que causa euforia e prejudica a habilidade de raciocínio do mergulhador. O
efeito narcótico começa quando a pressão parcial do nitrogênio atinge, aproximadamente, 4 ATAs e
aumentando progressivamente conforme aumenta a profundidade. Sob uma pressão parcial de 8 ATAs
o prejuízo é considerável. Acima de 10 ATAs pode haver alucinação e inconsciência. Em um
mergulho em que se utiliza ar como fonte gasosa, a narcose aparece a uma profundidade de,
aproximadamente, 40 metros, sendo proeminente a 60 metros, tornando-se incapacitante em
profundidades maiores.

A suscetibilidade a narcose varia entre os indivíduos. Há algumas evidências de adaptação a


narcose, quando submetido a repetidas exposições. Alguns mergulhadores, especialmente os que tem
experiência em mergulhos profundos com ar, geralmente conseguem trabalhar a profundidade de 60
metros sem sofrer dificuldades por conta da narcose.

Sintomas de Narcose: Os sintomas incluem:

- Perda na capacidade de julgamento e habilidades;

- Falsa sensação de bem-estar;


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- Falta de interesse pelo trabalho ou segurança;

- Estupidez aparente;

- Risadas inadequadas;

- Formigamento e vago entorpecimento dos lábios, gengivas e pernas.

Por conta dos sintomas elencados, a narcose é também conhecida como “Embriaguês das
Profundezas”.
O descuido com a segurança pessoal é o grande perigo da narcose. Mergulhadores podem
exibir um comportamento anormal, como retirarem o regulador da boca, ou descerem a profundidades
inseguras, sem a preocupação com doença descompressiva ou suprimento de ar.

Tratamento de Narcose: Consiste em trazer o mergulhador a uma profundidade mais rasa,


onde os efeitos não ocorram. Os efeitos narcóticos irão desaparecer rapidamente, não deixando
sequelas.

Prevenção de Narcose: A melhor maneira de prevenir a narcose é planejando o mergulho. O


mergulhador deve levar em consideração a profundidade de trabalho, determinando assim a mistura
gasosa a ser utilizada. Como a narcose tem seu início a uma pressão parcial de nitrogênio de 4 ATAs,
a redução na porcentagem de nitrogênio na mistura é a alternativa utilizada para se atingir
profundidades maiores, sem a apresentação de sintomas.
9.4.2 - INTOXICAÇÃO PELO OXIGÊNIO
A exposição a uma pressão parcial de oxigênio acima dos limites diários do ser humano pode
ser tóxico ao organismo. A extensão da toxicidade é dependente tanto da pressão parcial quanto do
tempo de exposição ao oxigênio, sendo mais graves os sintomas com o aumento do tempo. Os dois
tipos de intoxicação pelo oxigênio, experimentados pelo mergulhador, são a pulmonar e a do sistema
nervoso central (SNC).

9.4.2.1 - Intoxicação Pulmonar pelo Oxigênio (Efeito Lorraine Smith)

O efeito Lorraine Smith descreve os efeitos tóxicos do oxigênio sobre o tecido pulmonar. Os
alvéolos são revestidos por um surfactante, que os impede de colabar e permite que eles mantenham
sua função de efetuar a troca gasosa. Exposições muito prolongadas de oxigênio em pressões parciais
intermediárias causam redução da produção do surfactante e lesões nos alvéolos, fazendo com que
estes colabem, prejudicando a troca gasosa. Os sintomas são dores no peito, dificuldade de respirar,
diminuição da capacidade vital e tosse. Estes sintomas são muito parecidos com casos de gripe,
raramente causando danos permanentes.

A pressão parcial de oxigênio limítrofe para o surgimento dos sintomas é de 0,5 ATA. No
entanto, o efeito Lorraine Smith não é a preocupação principal para os mergulhadores. A exceção se
faz no caso de vários mergulhos de longa duração em dias consecutivos ou seguidos de tratamento em
câmara hiperbárica. Em quase todos os mergulhos, o limite de intoxicação do SNC será o fator
limitante para o planejamento.

9.4.2.2 - Intoxicação do SNC pelo Oxigênio (Efeito Paul Bert)

Paul Bert, em 1878, foi o primeiro a observar os efeitos das altas pressões parciais de oxigênio
no sistema nervoso central. Essas pressões modificam o metabolismo das células nervosas,
promovendo várias alterações neurológicas. A intoxicação do SNC, ao contrário da pulmonar,
demanda maior atenção dos mergulhadores. Em mergulhos sem descompressão, com ar ou nitrox até
40%, só é necessário estabelecer a profundidade máxima de operação da mistura a ser utilizada com
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base na PPO2 máxima desejada e manter-se em exposições com durações mais seguras.
Mergulhadores que planejam descompressão e troca de gás, necessitam realizar cálculos de exposição
ao oxigênio para todos os diferentes níveis do perfil de mergulho.

Suscetibilidade a Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: Uma série de fatores influencia o risco
de intoxicação:

- Suscetibilidade Individual: Varia de indivíduo para indivíduo. Pode variar também entre
mergulhos com o mesmo perfil, no qual mergulhadores experimentam a intoxicação em condições de
exposição de tempo anteriormente tolerado.

- Retenção de CO2: A hipercapnia aumenta o risco de intoxicação, provavelmente pelo fato de


aumentar o fluxo sanguíneo e nível de oxigênio no cérebro.

- Exercícios Físicos: Aumenta a suscetibilidade, provavelmente por aumentar o grau de


retenção de CO2. Os limites de exposição ao O2 devem ser mais conservadores em mergulhos que
demandem esforço físico.

- Profundidade: O aumento de profundidade está diretamente associado à suscetibilidade de


intoxicação, mesmo com o nível de PPO2 constante, que é o caso, por exemplo, de um mergulho
dependente, provavelmente pelo aumento da densidade do gás e concomitante aumento na retenção de
CO2. Há algumas evidências de que o gás inerte componente da mistura gasosa acelera a formação de
radicais livres de oxigênio danosos. Os limites de exposição para misturas gasosas deve ser mais
conservador do que para oxigênio puro.

- Exposição Intermitente: Interrupção periódica a uma alta exposição de PPO2, com um


intervalo de 5 a 10 minutos para uma baixa exposição, reduzirá o risco de intoxicação, estendendo o
tempo total de exposição permitida a alta exposição. Esta técnica é mais empregada em tratamentos
hiperbáricos e descompressão na superfície.

Sintomas de Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: A mais séria e direta consequência da


intoxicação pelo O2 é a convulsão. Por vezes, a identificação precoce dos sintomas pode permitir um
aviso suficiente para que a pressão parcial seja reduzida e prevenir o início de sintomas mais sérios.
Abaixo seguem os sintomas e sinais de intoxicação do SNC pelo oxigênio. Para tanto, é utilizado o
acrônimo CONVANTIT para ajudar a memorização:

- CON (convulsões): o sintoma mais sério de intoxicação;

- V (distúrbios visuais): quaisquer distúrbios, incluindo “visão em túnel”;

- A (distúrbios auditivos): qualquer alteração na audição;

- N (náuseas): pode ser intermitente e a gravidade pode variar;

- T (tremores): manifestação clássica nos músculos faciais;

- I (irritabilidade): mudança de personalidade, ansiedade, confusão, entre outros;

- T (tonturas): vertigem, desorientação.

A advertência quanto aos sintomas pode, por vezes, não aparecer e a maioria não é
exclusivamente de sintomas de intoxicação pelo O2. Espasmo muscular é talvez, o aviso mais claro,
mas que pode ocorrer tardiamente. Caso nenhum desses sintomas apareça ao se exceder a pressão
parcial limite, o mergulhador deve tomar imediata ação a fim de reduzir a PPO 2.
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A convulsão pode ocorrer subitamente, sem preceder nenhum dos outros sintomas. Durante a
convulsão, o indivíduo perde a consciência e o cérebro passa a enviar impulsos nervosos
incontroláveis aos músculos. A esta altura, todos os músculos são estimulados de uma vez só, levando
o corpo a um estado de rigidez. Esta é referida como a fase tônica da convulsão. O cérebro logo
fadiga, diminuindo os impulsos. Esta é a fase crônica.

Após a fase convulsiva, a atividade cerebral é deprimida e uma depressão pós-convulsão


acontece. Durante esta fase, o indivíduo geralmente está inconsciente e quieto por um tempo, depois
semi-inconsciente e inquieto. Ele irá normalmente, dormir e desligar-se, acordando ocasionalmente,
embora ainda não totalmente racional. A fase depressiva, por vezes, dura em torno de 15 minutos, mas
uma hora ou mais não é incomum. No fim desta fase, o indivíduo geralmente torna-se subitamente
alerta, reclamando de não mais do que fadiga, dor muscular e possivelmente, dor de cabeça. Após uma
intoxicação pelo oxigênio, o mergulhador geralmente lembra-se claramente dos momentos que
antecederam a inconsciência, mas não se lembra de nada no período da convulsão e muito pouco do
período pós-convulsão.

Tratamento de Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: O mergulhador que experimentar os


indícios de sintomas de intoxicação pelo oxigênio deve informar à autoridade competente
imediatamente. As ações a seguir podem ser tomadas para diminuir a pressão parcial de oxigênio:

- Diminuir a profundidade;

- Utilizar uma mistura gasosa com uma PPO2 menor;

- Em uma câmara de recompressão, remover a máscara de O2.

AVISO: Reduzir a pressão parcial de oxigênio não reverte imediatamente as mudanças


bioquímicas no sistema nervoso central causado por uma alta PPO 2. Caso alguns dos sintomas
ocorram, o mergulhador ainda pode sofrer convulsão até 1 ou 2 minutos após ter sido removido
da alta taxa de oxigênio. Não se deve assumir que a convulsão não irá ocorrer, a menos que o
mergulhador esteja fora da alta PPO2 por 2 ou 3 minutos.

O possível risco de hipóxia durante a apnéia na fase tônica é reduzido por conta da alta pressão
parcial de oxigênio nos tecidos e no cérebro. Caso o mergulhador convulsione, o organismo deve ser
ventilado imediatamente com um gás com menor taxa de oxigênio. Caso seja possível permanecer na
mesma profundidade (mergulho dependente) e o suprimento de gás seja seguro, o mergulhador deve
permanecer nesta profundidade e aguardar até que a convulsão de lugar a uma respiração normal.
Caso uma subida seja necessária, ela deve ser feita o mais lenta possível, para reduzir o risco de
embolia arterial gasosa. O mergulhador inconsciente na superfície por causa de intoxicação pelo
oxigênio deve ser tratado como se tivesse sofrido embolia arterial gasosa.

Se a convulsão ocorrer em uma câmara de recompressão, é importante manter o indivíduo


longe de objetos que o mesmo possa causar lesões a si. A restrição dos movimentos não é necessária
nem desejável. A máscara de oxigênio deve ser removida imediatamente. Não é necessário forçar a
abertura da boca para inserir um mordedor quando a convulsão estiver ocorrendo. Após esta ocorrer e
a boca relaxar, mantenha a mandíbula para cima e para frente para manter a via aérea limpa até que o
mergulhador recupere a consciência.

Se a convulsão não causar afogamento ou outra lesão ao mergulhador, uma recuperação


completa sem outros efeitos pode ser esperada em até 24 horas. A suscetibilidade à intoxicação não
aumenta os riscos de convulsão, no entanto, mergulhadores podem estar mais inclinados aos sintomas,
durante mergulhos subsequentes à exposição ao oxigênio.

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Prevenção de Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: O mecanismo de intoxicação do sistema


nervoso central pelo oxigênio permanece desconhecido é fruto de muitas teorias e pesquisas. A
prevenção da intoxicação é importante para os mergulhadores. Para evitar a intoxicação do SNC é
necessário estabelecer certos limites de segurança:

- Não exceder, em nenhum mergulho e sob nenhuma hipótese, a pressão parcial de


oxigênio de 1,6 ATA para a fase de descompressão e 1,4 ATA para as misturas de fundo;

- Manter os limites de exposição apropriados para as pressões parciais de oxigênio às quais se


está exposto;

- Evitar a combinação de elevadas taxas de PPO2 com esforço físico, hipertermia ou altas taxas
de dióxido de carbono e nunca usar medicamentos que tenham como efeitos colaterais, dificuldades
respiratórias e estimulem o sistema nervoso central. Exemplo típico é o uso de descongestionantes
nasais.

Quando o uso de altas pressões parciais de oxigênio for necessário, os mergulhadores devem
ser precavidos, tendo certeza que o gás respirável está em boas condições, observando os limites de
tempo de acordo com a tabela de mergulho, evitar esforço excessivo e observando sintomas anormais
que podem aparecer.

Outro procedimento que se mostra importante para gerenciar a exposição ao oxigênio é a


prática de “intervalos de ar”, o que simplesmente significa alternar para ar ou outra mistura com uma
baixa concentração de O2, a fim de reduzir a PPO2 e respirá-lo por vários minutos.
9.4.3 - DOENÇA DESCOMPRESSIVA

O sangue e tecidos do mergulhador absorvem nitrogênio adicional (ou hélio) dos pulmões
quando em profundidades. Durante a subida, o excesso de gás pode separar-se da solução, formando
bolhas. Estas bolhas produzem efeitos mecânicos e bioquímicos que levam a uma condição conhecida
como Doença Descompressiva.

9.4.3.1 - Teoria da Descompressão


Existem achados da dinâmica do movimento dos gases desde a sua entrada pelos pulmões do
mergulhador até sua chegada aos tecidos e se encontrarem num estado de saturação que devem ser
entendidos. A teoria da descompressão nos moldes atuais é uma leitura matemática da fisiopatologia
da doença descompressiva. O conhecimento da teoria da descompressão facilita o entendimento das
propostas relacionadas aos modelos algoritmos criados.
Tensão do Gás Inerte Tecidual e Descompressão: Durante o mergulho, gases são absorvidos
pelos tecidos dos mergulhadores. A tensão do gás inerte tecidual, mensurada em unidade de pressão, é
a medida do quanto o mergulhador absorve desse gás.

A pressão parcial dos gases da mistura gasosa nos pulmões do mergulhador direciona a
absorção dos gases teciduais. À medida que o mergulhador submerge, há um aumento da pressão
ambiente. A mistura de gás respirado durante o mergulho tem a mesma pressão. No entanto, demora
um tempo para que ocorra aumento da tensão tecidual e ela alcance o valor de pressão dos gases
respirados.

Maiores tempos de fundo aumentam a tensão tecidual de gases inertes. Maiores intervalos de
superfície diminuem esses valores.
Os Compartimentos: Todo o corpo absorve Nitrogênio, sob pressão. Algumas áreas
absorvem o gás mais rápido do que outras, por exemplo, os compartimentos de 5 e 10 minutos,
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comparados com os compartimentos de 60 e 120 minutos. Atualmente os pesquisadores


contemporâneos preferem utilizar o termo "Compartimentos" do que "Tecidos".

Anatomicamente, existem 4 tecidos no corpo humano: muscular, conjuntivo, epitelial e


nervoso. Tudo no nosso corpo é feito pela combinação destes 4 tecidos. Para trabalho de
descompressão, o corpo é dividido em um certo número de compartimentos.

Apesar do fluxo sanguíneo poder variar com a atividade ou outros eventos no corpo e com isso
mudar a velocidade do tecido anatômico, os modelos de descompressão levam em conta muitos
compartimentos, para ter a certeza de levar considerar a maioria das possibilidades, tais como frio e o
exercício.
Meios-tempos: Cada tecido ou parte do corpo humano é peculiar e os órgãos são constituídos
de vários tecidos, que, por sua vez, são formados de diferentes substâncias e apresentam diferentes
suprimentos sanguíneos (perfusão). As tensões teciduais de gás inerte variam em função da taxa de
absorção e eliminação de cada tecido.
Quando falamos de meio-tempo tecidual de gás inerte, estamos referindo-nos ao tempo, em
minutos, que é levado para saturar metade do tecido com esse gás. Seguindo o processo de saturação
de gás pelo tecido, há a necessidade da mesma quantidade de tempo para que seja absorvida a
quantidade de gás para a outra metade ficar saturada pela metade.

Os compartimentos atingem 50% da sua capacidade (equilíbrio) após 1 Meio-Tempo, 75%


após 2 Meios-Tempos, 87,5% após 3 Meios-Tempos, 93,75% após 4 Meios-Tempos, e 96,87% após 5
Meios-Tempos. Por convenção, após 6 Meios-Tempos os compartimentos são considerados
completamente equilibrados ou saturados com a pressão na profundidade. Um compartimento com
Meio-Tempo de 5 minutos, completa com gás inerte a metade do máximo da sua capacidade, em 5
minutos. O compartimento de 10 minutos completa a sua metade em 10 minutos, o de 20 minutos leva
20 minutos para completar a sua metade, e assim por diante.
Assim sendo, quanto mais repleto de gás fica o tecido, mais difícil fica entrar mais gás. A
diminuição da taxa de absorção de um gás em relação a um intervalo de tempo segue uma função
matemática exponencial até a saturação completa.
Diferentes modelos matemáticos utilizam diferentes meios-tempos. A quantidade de
compartimentos e os minutos de cada um deles dependem do criador do modelo.

Nem todo o gás, durante o seu processo de eliminação, sai do tecido para a corrente sanguínea
do mesmo modo que entrou. Tecidos adjacentes que apresentam meios-tempos diferentes, influenciam
a eliminação de gás inerte em função da criação de diferenças de tensões entre eles. Maiores tensões
de gás num determinado tecido que em outro produzem um gradiente de pressão entre tecidos. O gás
acaba passando de um tecido para outro e daí para a circulação para ser eliminado. Isso complica os
cálculos de difusão no sentido da eliminação dos gases.
Compartimentos Rápidos e Compartimentos Lentos: Um compartimento rápido absorve e
elimina gases de forma rápida e apresenta meios-tempos curtos. Em comparação com os
compartimentos lentos, eles apresentam tensões de gases mais altas após um mergulho. Como os
compartimentos rápidos geralmente também apresentam rápida eliminação de gás inerte acumulado,
ocorre que eles se beneficiam com as paradas de segurança. As paradas de segurança diminuem de
modo significativo as tensões desses gases. Além disso, maiores intervalos de superfície facilitam a
eliminação de gases inertes desses tecidos.
Os compartimentos de meios-tempos mais curtos são importantes na ocorrência de doença
descompressiva, principalmente porque eles são o modelo de comportamento da cinética dos gases
inertes no sistema nervoso central.
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Já os compartimentos ditos lentos são aqueles que absorvem e eliminam gases em meios-
tempos longos. Esses tecidos não têm tempo suficiente de eliminar gás inerte antes do mergulho
seguinte, ou seja, o mergulho seguinte de uma sequência de mergulhos sucessivos já ocorre a partir de
uma tensão tecidual de gás inerte naquele compartimento que ficou do mergulho anterior.

Um compartimento é mais rápido que outro em relação à capacidade de eliminação de gás


inerte em função da sua vascularização (perfusão) e da afinidade ou capacidade de incorporar o gás
em questão. Tecidos com maior conteúdo de gorduras têm maior capacidade de incorporar gases do
que os com maior conteúdo aquoso. O mesmo é valido para os mais ricamente vascularizados em
relação aos menos.

Portanto, compartimentos lentos são o tecido adiposo, o osso, as cartilagens pouco


vascularizadas, os líquidos da sinóvia e articulações e as cicatrizes. Neles, pela grande distância entre
a massa total e os vasos capilares, a difusão é um fator mais importante que a vascularização na
incorporação e eliminação de gases. O meio-tempo desses compartimentos acaba limitado pela
difusibilidade e a massa total de tecido. Neles, são necessários grandes gradientes de pressão para
eliminação do gás inerte. Na descompressão acabam tendo maiores tensões de gás que os tecidos mais
vascularizados. Acabam desempenhando o papel de reservatórios de gás, que podem contribuir para o
crescimento de bolhas ao fim do mergulho e mesmo na superfície.
Os compartimentos de meios-tempos maiores são importantes no cálculo da formação de
bolhas quando se realiza mais de um mergulho no dia, durante vários dias ou se pretende voar após o
mergulho. A utilização no cálculo de descompressão de compartimentos de meios-tempos maiores
permite definir a eliminação total de uma carga presumida de gás inerte num período mais estendido.
Valor “M”: O valor M refere-se à tensão máxima de determinado gás permitida para
determinado compartimento. O “M” vem de máximo. Historicamente, foi criado no início dos
esforços de se realizar uma teoria da descompressão quando se acreditava que um gás não entraria em
fase para formar bolhas antes que se excedesse uma quantidade máxima de supersaturação. Um valor
M era calculado para cada tecido ou compartimento de forma que cada um tinha um valor M
específico para determinado gás a determinada pressão ambiente.

Na descompressão, nenhum compartimento pode exceder o valor M da tensão do(s) gás(es)


inertes da mistura. Alcançar um valor estabelecido significa que a tensão do gás no compartimento
pode desencadear o início do surgimento de uma bolha. A criação do valor M permitiu a definição de
paradas descompressivas. Uma parada descompressiva numa profundidade de valor M aceitável deve
ocorrer para diminuir a tensão do gás para valores aceitáveis. No mergulho recreativo em que não
deve haver descompressão na água, nenhum tecido pode exceder o valor M determinado para a
profundidade de fundo real. Os valores M são determinados para cada gás, pressão ambiente e
compartimento e são incorporados aos algoritmos computacionais de descompressão.

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Saturação: Um tecido é considerado saturado quando absorve todo o gás inerte que ele pode a
uma determinada pressão ambiente. Para um tecido ficar 99% saturado a uma determinada pressão
ambiente são necessários 6 meios- tempos.
Se, num determinado algoritmo, considerarmos o compartimento mais lento como sendo de
120 minutos, então serão necessárias 12 horas para haver 99% da saturação do tecido, tendo estado o
mergulhador numa determinada profundidade. Em termos práticos, a partir desse período não há mais
o que absorver de gás pelo tecido. Se o mergulhador aumentar a profundidade do mergulho, haverá
mais gradiente de pressão entre a mistura respirada e os tecidos e consequentemente mais gás poderá
ser absorvido. Um novo período de tempo deverá passar até que ocorra nova saturação.

Em relação à dessaturação, considera-se que o tecido leva a mesma quantidade de


meios- tempos para dessaturar. Como foi colocado anteriormente, há vários fatores que afetam a
dessaturação. Atualmente há uma tendência de tratar a dessaturação de modo não simétrico em
relação à saturação. Como já foi colocado, isso é previsto em alguns algoritmos e nesses há uma
diminuição da taxa de dessaturação.
O conceito de saturação é importante no mergulho comercial que utiliza o mergulho saturado.
No mergulho de saturação, os mergulhadores permanecem, a determinada profundidade, por períodos
longos de tempo por questões de demanda de trabalho. Muitas vezes, se passam vários dias até se
reiniciarem os procedimentos de descompressão. Ficar numa mesma profundidade por longos
períodos acarreta uma determinada obrigação de descompressão que não mais muda em relação ao
tempo que se gasta naquela profundidade, ou seja, ficar numa mesma profundidade por longos
períodos acarreta a mesma obrigação de descompressão que se o mergulhador ficasse por pouco
tempo. Então, havendo uma determinada demanda de trabalho, o mergulho saturado se torna mais
prático e economicamente viável do que fazer múltiplos mergulhos no mesmo período de tempo com
menor tempo de fundo.

Supersaturação: Exceto pela narcose, a pressão elevada de nitrogênio nos tecidos não
apresenta um efeito fisiológico significativo, contanto que se permaneça embaixo d´água, ou mais
precisamente, sob pressão. Entretanto, quando há a subida do mergulho, a pressão diminui. Já que o
corpo esteve absorvendo nitrogênio ao longo do mergulho, eventualmente haverá a subida para uma
profundidade na qual a pressão nos tecidos excederá a pressão circundante. Neste momento os tecidos
tornam-se Supersaturados, ou seja, contêm mais nitrogênio dissolvido do que podem reter na pressão
ambiente. Nesse momento, o N2 começa a sair da solução nos tecidos e o corpo começa a eliminá-lo.
Nesse ponto é onde surge o potencial para a doença descompressiva.
Descompressão segura ocorre quando se pode diminuir a pressão ambiente e manter a
supersaturação suficientemente alta que não produza estado de fase gasosa e, ao mesmo tempo, o gás
possa ser eliminado.
As mudanças de estado dos gases ocorrem num espectro que passa pelo estado de fase gasosa.
Sempre que existe supersaturação, a fase gasosa pode evoluir em micronúcleos e bolhas.
No mergulho seguro, o mergulhador deve poder subir de determinada profundidade até a
superfície sem que seja necessário cálculo de descompressão. Um mergulho também é considerado
seguro quando a taxa de supersaturação na superfície fica abaixo dos limites aceitáveis que não
provoquem a formação de uma quantidade de bolhas que venham a ter expressão clínica na forma de
doença descompressiva.
Hoje, sabe-se que os tecidos rápidos toleram níveis de supersaturação maiores que os lentos
apesar de terem meios-tempos menores. Os tecidos rápidos podem continuamente sobrecarregar os
lentos durante a eliminação de gases. Os tecidos rápidos, por sua vez, são os responsáveis pelos
sintomas mais graves da doença descompressiva. Atualmente constatou-se que isso é um dos
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problemas de descompressão mesmo quando o mergulhador se encontra nos limites de tempo por
profundidade das tabelas. Isso também pode servir de base para se acentuar a necessidade de controle
da velocidade de subida.
Bolhas: Bolhas podem formar-se diretamente em tecidos supersaturados quando ocorre
descompressão. Elas também podem formar-se a partir de micronúcleos pré-formados que são
excitáveis por compressão e descompressão. As bolhas que deixam seus locais de formação, podem
mover-se para qualquer outro local. Elas também podem dissolver-se localmente por difusão gasosa
para tecidos contíguos ou mesmo para o sangue. Bolhas podem passar pelo filtro pulmonar, podem
fragmentar-se em núcleos menores agregados e podem até ser eliminadas completamente. O colapso
de uma bolha ou micronúcleo somente ocorre com enormes pressões, alguma coisa semelhante a
10 ATAs.

Em tecidos supersaturados, o gás inerte difunde-se nos micronúcleos, aumentando o tamanho


deles até que se libertem da superfície do tecido sob a forma de minúsculas bolhas. Contanto que o
número destas micro-bolhas permaneça relativamente reduzido, seus tecidos gradualmente liberam o
gás inerte através da combinação da difusão de gases dissolvidos, do aprisionamento e difusão de
micro-bolhas nos capilares pulmonares e da re-difusão das micro-bolhas que não são transportadas
para os capilares pulmonares quando a pressão do gás no tecido circundante é reduzida.

9.4.3.2 - Manifestação da Doença Descompressiva

Bolhas existem em certo grau dentro do corpo após todos os mergulhos. Se as bolhas são
poucas e pequenas elas não produzem efeitos, mas se existem em quantidade, seu volume pode ser
grande o suficiente para causar doença descompressiva. Geralmente as bolhas devem estar dentro de
tecidos com baixa perfusão ou no lado arterial do sistema circulatório para que causem DD Bolhas no
lado venoso são geralmente inofensivas. Sendo assim, a fase gasosa deve se desenvolver no lado
arterial ou se mover do lado venoso para o lado arterial através de algum mecanismo, ou mesmo as
duas possibilidades.

Sintomas de Doença Descompressiva: Uma vez que as bolhas podem se desenvolver em uma
parte do corpo ou serem carregadas para qualquer parte do corpo, a doença descompressiva pode ser
caracterizada por dezenas de sintomas aparentemente sem relação e com severidade variada. Isto
significa que diversos fatores podem, teoricamente, predispor o mergulhador à DD e que outros
fatores podem protegê-lo.

Médicos hiperbáricos facilmente reconhecem alguns sinais e sintomas como sendo de DD, mas
outros, que se apresentam após um mergulho podem ou não ser de doença descompressiva. Em muitos
tipos, o mecanismo exato de lesão, além da formação de bolhas, é um mistério.

Apesar dos diferentes sinais e sintomas, as várias manifestações da DD tendem a compartilhar


algumas características. A doença descompressiva tende a aparecer após o mergulho e pode levar até
36 horas para se manifestar, embora cerca de metade dos casos de DD apareça dentro do período de
uma hora após o mergulho. Contudo, ao mergulhar com hélio, a doença descompressiva com
frequência aparece rapidamente e a vítima pode ter os sintomas enquanto ainda está fazendo a
descompressão. Isto é muito raro com ar ou nitrox, a menos que o mergulhador tenha omitido uma
quantidade substancial de paradas de descompressão. A doença descompressiva pode piorar ao longo
das primeiras horas após sua manifestação. Baseado nestes fatos, um médico saberia que um sintoma
que aparece 48 horas após um mergulho, mas que melhora sem qualquer intervenção de primeiros
socorros ou tratamento, provavelmente não é DD.

112
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A doença descompressiva é geralmente dividida em duas categorias:

DOENÇA DESCOMPRESSIVA TIPO I: É caracterizada somente por dor e apresenta sinais


e sintomas que não apresentam risco imediato de morte. Também é pouco provável que cause
incapacidade física de longa duração. Os sintomas apresentam-se nas seguintes formas:

- Cutânea: Erupções em áreas da pele geralmente sobre os ombros e na parte superior do


peito;

- Dores nas Articulações e Membros: Ocorre em aproximadamente 75% dos casos. Podem
ser encontrados em mais de um local no mesmo membro, tal como no ombro e cotovelo. Pode
progredir para formas mais graves;

- Fadiga: Sintoma mais comum de DD. Fisiologistas consideram-na quando em contexto com
outros sintomas de DD, embora não se deva ignorar a fadiga excessiva sem uma explicação plausível;

- Ouvido Interno: A DD ocorrendo dentro do ouvido pode causar perda de audição, tontura,
zumbido nos ouvidos ou vertigem. Estes sintomas assemelham-se aos de um barotrauma, sendo difícil
diagnosticar a origem.

DOENÇA DESCOMPRESSIVA TIPO II: É caracterizada por sintomas que podem ser
debilitantes ou representar risco imediato de morte. Estes sintomas estão particularmente relacionados
com os efeitos no sistema nervoso. Apresentam-se nas seguintes formas:

- Neurológica: Pode afetar o movimento ou o tato, ou funções vitais como a respiração e o


batimento cardíaco. Incluem formigamento e dormência das áreas periféricas do corpo, inconsciência,
parada respiratória e paralisia. Quando envolve a medula espinhal, causa perda de sensação e paralisia
nas extremidades inferiores que avança lentamente para cima. Caso não haja tratamento, as vítimas
podem ficar paralisadas do pescoço para baixo.

- Pulmonar: Ocorre raramente. O acúmulo de gás nos capilares pulmonares pode interferir na
troca de gases dentro dos pulmões. Isto reduz simultaneamente o oxigênio para os tecidos e a
eliminação do nitrogênio, causando dor ao respirar, geralmente acompanhada de tosse curta e irritada.
Muitas vezes a vítima sente uma forte falta de ar. Os sintomas tendem a progredir rapidamente,
podendo levar a vítima ao estado de choque.

Fatores Predisponentes de Doença Descompressiva: As variações na fisiologia de cada


indivíduo podem afetar o risco de DD. Muitos desses fatores permanecem inconclusivos. Seguem
algumas destas variáveis:

- Gordura Corporal: Se dá pelo fato do colesterol elevado, uma vez que a gordura absorve
mais nitrogênio do que a água;

- Atividade Física: A prática de exercício poucas horas antes do mergulho pode elevar o
número de micronúcleos de gás nos quais as bolhas se formam;

- Idade: Uma pessoa com idade avançada tende a ter seu sistema respiratório e circulatório
trabalhando com menos eficiência;

- Desidratação: Reduz a quantidade de sangue disponível para a troca gasosa, desacelerando a


eliminação de gases do corpo;

- Lesões e Doenças: Lesões já curadas podem produzir dificuldades locais de circulação


sanguínea e doenças podem produzir uma redução geral da eficiência circulatória;
113
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- Álcool: Consumido antes do mergulho, o álcool tende a acelerar a circulação, o que pode
carregar os tecidos com gases inertes além da quantidade assumida pelos modelos descompressivos.
Consumido após o mergulho, causa a dilatação em capilares, possivelmente elevando a taxa de
liberação de nitrogênio e contribuindo para a formação de bolhas;

- Dióxido de Carbono: Altas taxas de CO2 interferem com o transporte de gases pelo sistema
circulatório, ao dilatar capilares e aumentar a absorção de gases inertes durante o mergulho;

- Frio: A mudança de temperatura corporal durante o mergulho, onde o organismo passa de


aquecido a frio, faz com que o mergulhador tenha uma circulação normal durante a fase de absorção
de gases, mas uma circulação restrita durante o processo de eliminação dos gases. Após o mergulho,
uma exposição ao frio predispõe o mergulhador à DD mais do que se ele se mantivesse aquecido, uma
vez que o calor mantém uma circulação periférica adequada. No entanto, expor o corpo frio a uma
água quente após o mergulho é prejudicial, pois a exposição ao calor reduz a capacidade dos tecidos
de manterem gás inerte em solução.

- Altitude e Vôo após o mergulho: A redução da pressão atmosférica na cabine da aeronave,


conforme a altitude, eleva o gradiente de pressão entre os gases dissolvidos nos tecidos e as pressões
ambientes. O mesmo vale para mergulhos em regiões acima do nível do mar, caso não se considere a
redução na pressão atmosférica indicada por tabelas especiais ou computador de mergulho projetado
para mergulho em altitude. Quando a DD ocorre em altitudes, retornar ao nível do mar não garante
alívio dos efeitos;

- Perfis Inversos: Uma vez que a grande maioria dos dados empíricos tem como base perfis
normais de mergulho (mais profundo para o mais raso), é encorajado que se evite perfis inversos;

- Histórico de DD: Quando a doença descompressiva acomete um mergulhador pela primeira


vez, ela danifica ou degrada um sistema ou processo corporal responsável pelo gerenciamento do
esforço de descompressão. Ao apresentar DD, o mergulhador não deve voltar a mergulhar até que seja
liberado por um médico especialista.

Tratamento de Doença Descompressiva: Divide-se em três fases - transporte do paciente,


tratamento da causa e tratamento da consequência.
Qualquer pessoa deve começar a fazer as duas primeiras fases até a chegada de um médico
hiperbárico.
Não fazer viagem aérea em helicópteros ou aviões com cabines não pressurizadas, até 24
horas após o mergulho. Há casos que mesmo o mergulhador tendo realizado descompressão correta,
apresentou sintomas leves de DD durante uma viagem de avião depois de mergulhar. É importante
ressaltar que, algumas cabines ditas “pressurizadas”, na verdade, são pressurizadas a 0,8 ou 0,9 ATM.
Portanto, ao transportar o MG, devemos observá-lo a cada momento, verificando uma possível
evolução do quadro.
O tratamento da causa básica da doença se dá a partir da administração de oxigênio a 100%
e em seguida, é realizado tratamento em câmara de recompressão, utilizando as tabelas padrões de
tratamento. Elas tem a função de diminuir e dissolver as bolhas. Quanto mais rápido se der início a
esta segunda fase, melhor o prognóstico do paciente. O tratamento da consequência será realizado em
hospitais, clínicas de reabilitação, com supervisão de um médico hiperbárico.

9.4.3.3 - Câmara de Recompressão

Vaso resistente à pressão, destinado a pressurizar mergulhadores para tratamento de acidentes


descompressivos ou para realização de descompressão na superfície.
114
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A câmara de recompressão é dividida em antecâmara e câmara principal. A antecâmara tem


duas funções: permitir a entrada e a saída da câmara principal sem alterar a sua pressão. Devido ao seu
pequeno volume, ela poderá ser pressurizada rapidamente. Esta facilidade será particularmente
importante para a realização de descompressão na superfície, quando o mergulhador deverá ser
pressurizado a uma pressão equivalente a 40 pés de profundidade em 30 segundos. Ambas as câmaras
possuem idênticos sistemas para ar e oxigênio. O oxigênio é respirado através de máscaras conhecidas
como BIBS (“Built in Breathing System”), localizadas no interior das duas câmaras. Os BIBS possuem
válvulas de demanda e conjunto oral nasal. O gás exalado pelo mergulhador possui uma alta
percentagem de oxigênio. Para evitar o crescimento da taxa de oxigênio no interior da câmara e o
consequente alto risco de incêndio, os BIBS são normalmente projetados com válvulas de descarga
externas.

A válvula de descarga é uma válvula de demanda que trabalha de maneira inversa. Ela abre
quando o mergulhador exala, permitindo que o ar flua para fora da câmara. É necessário manter uma
perfeita vigilância na taxa de oxigênio da atmosfera da câmara. A taxa de oxigênio não deverá exceder
a 23%. Quando estiver realizando operação com oxigênio, a câmara deverá ser ventilada por 2
minutos a cada 5 minutos. Se a operação for com ar, a ventilação será feita por 1 minuto a cada 5
minutos, a fim de evitar o crescimento da taxa de gás carbônico. Para ventilar, basta abrir
simultaneamente as válvulas de admissão e descarga, permitindo que o ar circule no interior da
câmara sem alterar a pressão interna. A pressão do oxigênio para o interior da câmara varia entre 75 a
125 psi. Toda câmara deverá possuir um programa regular de manutenção, ser inspecionada e testada
para verificação de vazamentos a cada dois anos ou após a realização de reparo. Teste hidrostático
deverá ser realizado a cada cinco anos (1,5 vezes a pressão de trabalho). A lista de verificação pré-
mergulho deverá ser preenchida toda vez que a câmara for usada. Mergulhos que exijam
descompressão não deverão ser programados, independentemente do equipamento usado, se não
houver câmara de recompressão em condições de operar e à disposição, a menos de uma hora de
distância do local do mergulho, usando o meio de transporte mais rápido existente no local.

Câmara de Recompressão

9.5 - PROBLEMAS TÉRMICOS NO MERGULHO


O corpo humano funciona efetivamente dentro de uma faixa relativamente estreita de
temperatura interna. A média, ou temperatura normal de 37ºC é mantida pelos mecanismos naturais
do corpo, auxiliado por medidas artificiais como o uso de roupas protetoras ou adaptação ao ambiente
quando as condições externas tendem para frio ou calor extremos.

Problemas térmicos, decorrentes da exposição a várias temperaturas da água, levam a uma


consideração majoritária no planejamento do mergulho e equipamentos a serem utilizados. O tempo
de fundo deve ser mais limitado quando se considera a tolerância do mergulhador ao frio ou calor do
115
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que quando se considera o aumento de pressão parcial de oxigênio ou a quantidade de descompressão


requerida.

9.5.1 - HIPOTERMIA
É a queda da temperatura corporal abaixo do normal. A água remove o calor corporal,
aproximadamente 20 vezes mais rápido que o ar. Isto mostra, por exemplo, porque uma
temperatura ambiente no ar de 23º C parece confortável, enquanto que na água é considerada fria. A
hipotermia durante a imersão é um perigo em potencial sempre que operações de mergulho acontecem
em águas frias. A resposta do mergulhador à imersão em águas frias depende do grau térmico de
proteção usado e da temperatura da água. A água, a uma temperatura de 33ºC, é a requerida para
manter o mergulhador que esteja desprotegido e descansando, em uma temperatura estável. O
mergulhador desprotegido será afetado pela excessiva perda de calor e irá tornar-se mais frio dentro
de um curto período de tempo quando a temperatura da água estiver abaixo de 23ºC.

Causas de Hipotermia: A hipotermia no mergulho ocorre quando a diferença entre a


temperatura da água e a corporal é grande o suficiente para o corpo perder mais calor do que pode
produzir. Exercícios normalmente aumentam a produção de calor e a temperatura do corpo em
condições secas. Paradoxalmente, exercícios em águas frias podem levar a temperatura corporal a cair
mais rapidamente. Qualquer movimento que faz com que a água entre em contato com a pele, cria
uma turbulência que elimina calor (convecção). A perda de calor é causada não somente por
convecção, mas também pelo aumento do fluxo sanguíneo nos membros durante os exercícios. Estes
dois efeitos conflitantes resultam na manutenção ou aumento da temperatura central em águas
aquecidas ou redução em águas frias.

Sintomas de Hipotermia: Em casos medianos, a vítima irá experimentar tremores


incontroláveis, fala arrastada, desequilíbrio e/ou perda na condição de julgamento. Casos graves são
caracterizados pela ausência de tremores, status mental enfraquecido, batimentos cardíacos irregulares
e/ou baixa pulsação e frequência respiratória. Em temperaturas extremamente baixas ou em uma
imersão prolongada, a perda de calor pelo corpo atinge um ponto em que a morte pode ocorrer. Segue
abaixo uma tabela demonstrando a relação temperatura corporal x sintomas:

TIPO TEMP. CORPORAL SINTOMAS


Sensação de frio, vasoconstricção da pele, aumento na
37ºC
tensão muscular, aumento no consumo de oxigênio
Tremores esporádicos, ataques brutos de tremores,
36ºC aumento maior no consumo de oxigênio, tremores
incontroláveis
LEVE
Confusão mental, possível afogamento, redução na
35ºC
capacidade de reação
Perda de memória, comprometimento da fala,
34ºC comprometimento das funções sensoriais,
comprometimento das funções motoras
33ºC Alucinações, delírios, perda parcial de consciência
Ritmos cardíacos irregulares, performance motora
MÉDIA 32ºC
gravemente prejudicada
Diminuição de tremores, incapacidade de reconhecer
31ºC
parentes e amigos próximos
Ausência de tremores, rigidez muscular, irresponsivo a
30ºC
dor
GRAVE 29ºC Perda de consciência
27ºC Batimentos cardíacos ineficientes, flacidez muscular
26ºC Morte

116
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Tratamento de Hipotermia: Para tratar hipotermia média, um reaquecimento ativo e passivo


deve ser usado e precisa ser contínuo até que a vítima entre na fase de sudorese. As técnicas de
reaquecimento incluem:

- Remoção das roupas molhadas;

- Envolver a vítima parcialmente (pernas e axilas) em um cobertor (preferencialmente de lã);

- Remover a vítima para um local protegido contra o vento;

- Se possível, levar a vítima para uma área aquecida.

Para o tratamento de hipotermia grave deve-se evitar qualquer exercício, manter a vítima
deitada, iniciar os procedimentos de reaquecimento e providenciar o transporte imediato da vítima
para um centro de tratamento médico.

Prevenção de Hipotermia: O mergulhador deve utilizar uma proteção térmica baseado na


temperatura da água e no tempo de fundo planejado. Uma roupa apropriada pode reduzir
satisfatoriamente os efeitos de perda de calor e o mergulhador consegue trabalhar em águas frias por
períodos razoáveis de tempo. Aclimatização, hidratação adequada, experiência e senso comum
trabalham juntos na prevenção de hipotermia.
9.5.2 - VERTIGEM CALÓRICA

O tímpano não precisa romper para ocorrer uma vertigem calórica. Ela pode ocorrer
simplesmente pelo resultado da entrada de água no canal externo de somente um lado do ouvido. Pode
ocorrer também quando um canal externo está obstruído por cera. Pode manifestar-se subitamente
pela entrada de água fria ou quando se atravessa uma termoclina. O efeito geralmente é rápido, mas
quando presente causa significante desorientação e náusea.
9.5.3 - HIPERTERMIA

Consiste no aumento da temperatura interna do corpo. Pode ser considerada um risco potencial
quando a temperatura do ar excede 32,2ºC ou a temperatura da água excede 27,8ºC. Um indivíduo
está sujeito à hipertermia quando a temperatura corporal aumenta 1ºC acima do normal (37ºC). Esta
temperatura não deve exceder 39ºC.

Causas de Hipertermia: Mergulhadores estão suscetíveis a hipertermia quando são incapazes


de dissipar o calor do corpo. Isto pode resultar por altas temperaturas da água, proteção térmica
excessiva, taxa de trabalho subaquático e a duração do mergulho. A exposição ao calor no
pré-mergulho pode levar o mergulhador a desidratação, aumentando o risco de hipertermia.

Sintomas de Hipertermia: Sinais e sintomas de hipertermia podem variar de indivíduo para


indivíduo. Casos graves podem apresentar desorientação, tremores, perda de consciência e/ou
convulsões. Seguem abaixo os sintomas mais comuns de hipertermia:

- Sensação de corpo quente, desconforto;

- Pouca quantidade de urina;

- Inabilidade de pensar claramente;

- Fadiga;

117
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- Dor de cabeça fraca;

- Desorientação, confusão;

- Náusea

- Aumento rápido da pulsação;

- Exaustão;

- Aumento dos batimentos cardíacos.

Sintomas de Hipertermia: O tratamento de todos os casos de hipertermia inclui o


resfriamento da vítima para reduzir sua temperatura corporal. Em casos moderados, deve-se resfriar a
vítima imediatamente através da remoção das roupas. Em seguida, deve-se jogar um pouco de água
morna sobre o corpo, abanando-a logo após. Isto causa uma larga evaporação da água fria. Deve ser
evitado emergir todo corpo da vítima em água fria pois irá causar vasoconstricção que diminuirá o
fluxo sanguíneo e assim, diminuir a perda de calor. Bolsas de gelo no pescoço, axila e virilha devem
ser usados. A vítima deve ser hidratada o quanto antes, permanecendo até que a mesma consiga urinar
em várias vezes.

Casos graves de hipertermia são emergências médicas. Os procedimentos de resfriamento


devem ser iniciados imediatamente, assim como as providências para o transporte para um centro
médico adequado. Soro fisiológico intravenoso deve ser administrado por pessoal qualificado, durante
o transporte.

Prevenção de Hipertermia: Aclimatização, hidratação adequada, experiência e senso comum


trabalham juntos na prevenção de hipertermia. Bebidas contendo álcool ou cafeína devem ser evitadas
pois causam desidratação. Medicações contendo anti-estaminas ou aspirina não devem ser usados em
mergulhos em águas quentes. Indivíduos em boa forma física e aqueles com baixos níveis de gordura
estão menos sujeitos a desenvolverem hipertermia.

9.6 - OUTROS PROBLEMAS MÉDICOS NO MERGULHO


9.6.1 - DESIDRATAÇÃO

Desidratação é uma preocupação para mergulhadores, particularmente nas zonas tropicais. Ela
é definida como uma excessiva perda de água pelos tecidos do corpo e é acompanhada por um
distúrbio no balanço de essenciais eletrólitos, particularmente sódio, potássio e cloreto.

Causas de Desidratação: Usualmente resulta de uma ingestão inadequada de líquidos e/ou


excessiva transpiração em climas quentes. A não ser que atenção adequada seja dada a hidratação, há
uma chance significante de o mergulhador entrar na água desidratado.

A imersão na água cria uma situação especial que pode conduzir o mergulhador à desidratação.
A água contrabalança o gradiente de pressão hidrostática no sistema circulatório, dos pés à cabeça.
Como resultado, o sangue que é normalmente agrupado nas veias das pernas, é translocado para o
pulmão, causando um aumento no volume sanguíneo central. O corpo, erradamente interpreta esse
aumento como um excesso de fluido. O reflexo se dá no aumento do fluxo de urina, que conduz ao
aumento de perda de água pelo corpo e concomitantemente, reduz o volume sanguíneo durante o
mergulho. Os reflexos são sentidos quando o mergulhador sai da água. A porção sanguínea novamente
volta para as veias das pernas. Pelo fato do volume total de sangue ter sido reduzido, o volume central
118
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cai dramaticamente. O coração pode ter dificuldade em captar sangue suficiente para bombeá-lo. O
mergulhador pode experimentar fraqueza nas pernas, sentindo dificuldades em permanecer em pé ou
subir uma escada. Este é o resultado da queda da pressão sanguínea quando o volume sanguíneo se
desloca para as pernas. Comumente o mergulhador sentirá fadiga, menos alerta e menor capacidade de
pensar claramente. Sua tolerância a exercícios será reduzida.

Prevenção de Desidratação: A desidratação aumenta o risco de doença descompressiva.


Mergulhadores devem monitorar a ingestão de líquidos e a quantidade de vezes em que urinam
durante operações de mergulho, para manterem-se bem hidratados.
9.6.2 - OTITE EXTERNA

Trata-se de uma infecção no canal do ouvido causada por mergulhos repetitivos. O primeiro
sintoma de otite é um prurido e/ou sensação de água no ouvido afetado. Esta sensação irá progredir
para dor local quando o canal do ouvido externo tornar-se inchado e inflamado. Nódulos linfáticos
podem crescer, causando dor no movimento maxilar. Febre pode ocorrer em muitos casos. Quando a
otite se desenvolve, o mergulhador deve terminar o mergulho e procurar uma assistência médica para
ser examinado.

A não ser que medidas preventivas sejam tomadas, é mais normal ocorrer otite durante
operações de mergulho, causando desconforto e restrições ao trabalho. A profilaxia para otite deve ser
tomada toda manhã, após cada mergulho e toda noite em que se realiza operações durante o dia.
Consiste na aplicação de 2% de ácido acético + acetato de alumínio em cada ouvido, que deve estar
virado para cima, durante 5 minutos.

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CAPÍTULO 10 - TABELAS DE MERGULHO

10.1 - MODELOS DESCOMPRESSIVOS


10.1.1 - INTRODUÇÃO AOS MODELOS DESCOMPRESSIVOS
Embora a discussão relacionada à descompressão envolva mergulhadores, o potencial de
doença descompressiva existe em quaisquer atividades nas quais os seres humanos experimentem uma
substancial redução de pressão. Consequentemente, aqueles potencialmente afetados pela DD incluem
trabalhadores em caixões pressurizados, aviadores e astronautas, assim como mergulhadores. Pessoas
envolvidas nestes campos de atividade dependem primariamente de modelos descompressivos para
gerenciar o risco de doença descompressiva.
O propósito de um modelo descompressivo é aplicar o que é sabido sobre a teoria da
descompressão, em procedimentos previsíveis que controlam e limitam a formação de bolhas de gases
dentro do corpo. Tabelas e computadores de mergulho são as ferramentas com as quais se pode
colocar em prática o modelo. A finalidade desse modelo é permitir que se mergulhe o máximo tempo
possível com o mínimo risco de DD.
Um modelo descompressivo útil precisa ser confiável e prever o mais precisamente possível,
os tempos não-descompressivos mais longos e os requerimentos de descompressão mais curtos, sem
risco inaceitável de DD.
A moderna teoria da descompressão e os modelos nela baseados começaram com os conceitos
propostos por John Scott Haldane. A Royal Navy encarregou Haldane de resolver o problema de
mergulhadores sofrendo de DD e é atribuído à sua genialidade o fato de que, virtualmente, todos os
computadores e tabelas de mergulho em uso, sejam derivados do modelo teórico que ele inventou.
O modelo descompressivo original de Haldane consistia de cinco tecidos com meias-vidas
variando de 5 a 75 minutos, para prever matematicamente como os vários tecidos através do corpo
absorveriam e liberariam o nitrogênio. Embora seja aceito que tecidos diferentes possuam
características diferentes no que diz respeito à absorção e eliminação de gases inertes, é importante
fazer a distinção entre o conceito de “tecidos” na fisiologia da descompressão e na determinação dos
modelos descompressivos. Apesar de Haldane acreditar que existisse uma relação entre as meias-vidas
que ele determinou e o corpo humano, não era sua intenção que qualquer tecido teórico particular
correspondesse a qualquer tecido corporal em particular. Ao invés disso, Haldane estava tentando
reproduzir de forma matemática o fato de que o corpo não absorve e libera nitrogênio em uma escala
singular de tempo.
Além de prever a absorção e eliminação de nitrogênio, o modelo Haldaneano também
gerenciava a doença descompressiva ao controlar a razão crítica entre a pressão do nitrogênio teórico
dissolvido e a pressão circundante. Haldane determinou a razão crítica de 1.58:1 entre a pressão
parcial do nitrogênio e a pressão ambiente (circundante) para todos os seus compartimentos de tecido
(uma vez que ele considerou o ar como sendo composto por 100% de nitrogênio, ele na verdade usou
a relação de 2:1, o que é a mesma relação entre a pressão total e a pressão ambiente). De acordo com a
teoria de Haldane, seria esperado o surgimento de DD em qualquer mergulho que excedesse esta razão
em qualquer compartimento. Para evitar que isso acontecesse, Haldane utilizou seu modelo para gerar
um cronograma de profundidades, tempos e paradas de descompressão, que permitisse a um
mergulhador liberar o excesso de nitrogênio durante a subida sem exceder esta razão crítica, o que
correspondeu às primeiras tabelas de mergulho publicadas.
No final da década de 1930, as pesquisas da U.S Navy concluíram a existência dos “tecidos
rápidos” e “tecidos lentos”, cada qual com suas razões críticas. Posteriormente, pesquisas na década
de 1950 demonstraram que a razão crítica não somente é diferente para cada compartimento de tecido,
como também varia dentro de cada compartimento, dependendo da profundidade.

120
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Durante o mesmo período, a U.S Navy desenvolveu os primeiros procedimentos para


mergulhos repetitivos, que fornecem créditos de tempo ao mergulhador, ao levarem em conta a
liberação de nitrogênio durante o tempo na superfície entre mergulhos. Durante estas duas importantes
reavaliações, a U.S Navy aumentou o número de compartimentos para seis (adicionando uma meia-
vida de 120 minutos) e implementou o conceito de Valor-M, como uma maneira mais fácil de calcular
as máximas pressões de supersaturação permitidas para cada compartimento.
Embora as teorias tenham avançado, a metodologia básica utilizada na vasta maioria das
tabelas e computadores de mergulho permanece neo-haldeneana. A razão principal é que o método de
Haldane requer processos matemáticos relativamente simples, tornando-o bem apropriado para
computadores pequenos e portáteis, além desse modelo ser bem confiável dentro da esfera do
mergulho, mesmo que não reproduza perfeitamente o que acontece dentro do corpo.
Todos os modelos neo-haldeneanos utilizam compartimentos (tecidos) teóricos. Todos os
compartimentos diferem uns dos outros num mesmo modelo em dois aspectos: 1) eles absorvem
nitrogênio em diferentes taxas, que são determinados pelas meias-vidas e 2) podem tolerar diferentes
quantidades de nitrogênio que é o Valor-M, ou, por questão de simplicidade, a carga máxima de
nitrogênio permitida.

10.1.2 - TEORIA DA DESCOMPRESSÃO NA PRÁTICA

Para melhor visualização da teoria da descompressão, imagine a seguinte situação: Um


mergulhador desce a uma profundidade de 40 metros. O compartimento mais rápido, que é o de 5
minutos, será o primeiro a ser saturado, enquanto que o de 120 minutos será o último. Se o
mergulhador permanecesse nessa profundidade até completar as 6 meias-vidas, 720 minutos, do
compartimento mais lento, seu corpo estaria completamente saturado.

Passados os 5 primeiros minutos, a tensão de gás dissolvido no compartimento será relativo a


profundidade de 20 metros. Mais 5 minutos e a tensão equivalente passa a ser de 30 metros. Nesse
caso, chega-se bem próximo do valor máximo de tensão de nitrogênio que esse compartimento
suporta na superfície (M0 = 31,7). Sendo assim, caso o mergulhador suba com até 10 minutos de
tempo de fundo, irá direto para a superfície sem a necessidade de parada para descompressão, pois
chegará com uma supersaturação com valor menor que seu Valor-M. Esse caso demonstra que os
valores M0 determinam os limites não-descompressivos das tabelas.

Para encontrar o Valor-M de cada compartimento, o criador do termo, Capitão-Médico Robert


D. Workman, fez uma projeção linear (ajuste matemático) desses valores M em função da
profundidade e achou uma consistência com os dados estatísticos que dispunha. Ele também fez a
observação de que a projeção linear dos valores M seria útil para ser usada em programas de
descompressão.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Workman apresentou os valores M na forma de equação linear, conforme seguem abaixo:

Valores da Tabela da Marinha Americana

Compartimento M0 (valor-M na superfície) ∆M

5 min 31,7 1,8

10 min 26,8 1,6

20 min 21,9 1,5

40 min 17 1,4

80 min 16,4 1,3

120 min 15,8 1,2

M0 - valor M para cada compartimento ao nível do mar


Valor M = M0 + (∆M x P)
∆M - constante usada para corrigir o valor M do
compartimento em relação a profundidade

P - profundidade da parada de descompressão

Ex.: Qual será o Valor-M do compartimento de 5 minutos em uma parada de 6m de profundidade?

Valor M = M0 + (∆M x P)

Valor M = 31,7 + (1,8 x 6)

Valor M = 42,5

Ou seja, a tensão máxima permitida nessa profundidade é equivalente a 42,5 metros de água salgada.
Retornando ao exemplo do mergulho a 40 metros, caso o mergulhador continue mergulhando
por mais de 10 minutos, tem-se a seguinte progressão na tensão de gás no compartimento: 15 minutos
de tempo de fundo há uma tensão de 35 metros e após 20 minutos, uma tensão de 37,5 metros. Nesse
caso, não é mais permitido subir direto à superfície, pois a tensão de gás no compartimento é maior
que M0, ou seja, esse mergulho necessita de paradas para descompressão.
Mas até que profundidade é seguro subir? Para responder essa questão, Workman ajustou sua
fórmula para:

Tgd - tensão do gás dissolvido no compartimento em um dado


Pdeco = Tgd - M0 tempo de mergulho
∆M
M0 - valor M para cada compartimento ao nível do mar

∆M - constante usada para corrigir o valor M do


compartimento em relação a profundidade
122
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Calculando o exemplo, tem-se que Pdeco = (37,5 - 31,7) ÷ 1,8 = 3,22, ou seja, é possível subir
até uma profundidade de 3,22 metros sem exceder os limites de supersaturação do compartimento de 5
minutos. Contudo, os outros compartimentos também participam do processo. Veja o que acontece
com o compartimento de meia-vida de 10 minutos no mesmo mergulho a 40 metros por 20 minutos.
Após os primeiros 10 minutos, há uma tensão no compartimento equivalente a 20 metros, depois de
20 minutos (duas meias-vidas), essa tensão passa a ser de 30 metros. Nesse caso, qual é a
profundidade segura para descomprimir o compartimento de 10 minutos, já que ele também excedeu o
seu M0 (26,8)? Fazendo os cálculos, temos que P deco = (30 - 26,8) ÷ 1,6 = 2 metros. Se os cálculos
fossem feitos para outros compartimentos, se chegaria a conclusão que nenhum outro excedeu o seu
M0, ou seja, quem controlou o mergulho (compartimento controlador), foram os compartimentos
rápidos, que controlam os mergulhos fundos e rápidos, enquanto os compartimentos lentos controlam
os mergulhos rasos e longos, o intervalo de superfície e o vôo após o mergulho.

10.2 - MERGULHOS REPETITIVOS


Se o mergulho fosse limitado a uma única imersão não-descompressiva de profundidade única,
não haveria necessidade de um modelo descompressivo. Poderia ser estabelecido experimentalmente
os tempos não-descompressivos e então memorizá-los. Entretanto, uma vez que não se pode testar de
forma viável cada perfil possível de mergulho em multinível, repetitivo e/ou descompressivo, um
modelo descompressivo é obrigatório caso se queira adicionar estes mergulhos à prática. Tanto as
tabelas quanto os computadores requerem um modelo descompressivo.

10.2.1 - Mergulho Repetitivo (Método U.S Navy)


Ao desenvolver suas primeiras tabelas para mergulho repetitivo na década de 1950, a U.S
Navy tratou do problema com um método simples, todavia refinado. Eles raciocinaram que o pior dos
casos para qualquer situação possível de mergulho repetitivo, tal como um mergulho repetitivo
descompressivo, seria se o compartimento mais lento (120 minutos) fosse o compartimento
controlador do mergulho. Consequentemente, as tabelas de mergulho repetitivo da U.S Navy,
incluindo as letras do grupo repetitivo, a tabela de crédito de intervalo de superfície e a tabela de
tempo de nitrogênio residual estão todas baseadas na eliminação de nitrogênio pelo compartimento de
120 minutos.
Quando as tabelas de mergulho repetitivo foram apresentadas pela primeira vez pela U.S
Navy, elas representaram um grande avanço. Anteriormente, nenhuma estipulação era feita para o
crédito de superfície. Os tempos de fundo eram simplesmente somados, muitas vezes penalizando
mergulhadores com enormes tempos de descompressão em um segundo ou terceiro mergulho. A U.S
Navy testou com sucesso seu conceito para mergulhos repetitivos e em 1956 aprovou as novas tabelas
para uso em sua esquadra.

10.3 - PROCEDIMENTOS DE SUBIDA


Determinar uma velocidade de subida correta é algo extremamente complexo. Vamos discutir,
inicialmente, como a velocidade de subida se relaciona ao mergulho.
Intuitivamente, pode-se esperar que a probabilidade de um barotrauma pulmonar diminua,
conforme a velocidade de subida diminui, já que uma velocidade mais lenta fornece ao mergulhador
um tempo maior para reagir ao desconforto de uma sobrepressão pulmonar ou para simplesmente
reassumir a respiração sem mesmo estar consciente de que um problema era iminente.
Por outro lado, salvo a possível exceção de alguns problemas médicos como lesões e doenças
pulmonares, os vários anos de experiência da U.S Navy, combinados com os experimentos de outros
médicos, levam à conclusão de que respirando normalmente, uma velocidade de subida de
18 metros/minuto, pode ser sinônimo de subidas isentas de embolia aérea.

123
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

O modelo haldeneano não estipula qualquer velocidade específica de subida e não existem
dados dando respaldo para que uma velocidade mais lenta que 18 metros/minuto seja necessária para a
prevenção de DD. No entanto, é sempre prudente ser conservador, devendo ser considerado 18
metros/minuto como sendo a máxima velocidade a ser adotada.
10.4 - MERGULHO DESCOMPRESSIVO
É o tipo de mergulho realizado quando se ultrapassa, acidentalmente ou propositalmente, os
limites máximos de tempo estabelecidos na Tabela Limite Sem Descompressão. O mergulho
descompressivo deve ser realizado somente quando não for possível ou for ineficaz a realização de um
mergulho não-descompressivo.

O mergulho descompressivo geralmente é realizado quando se deseja atingir profundidades


maiores que 30 metros, com extensos tempos de fundo. Para tanto, quando se trata de cilindros de
mergulho, o ideal é que sejam utilizados cilindros duplos, com no mínimo 11 litros de volume interno,
uma vez que cilindros simples oferecerão uma capacidade limitada de gás, ante o objetivo do
mergulho descompressivo. Deve-se levar em consideração ainda a necessidade de cilindros extras
para a descompressão, que são chamados de “stage”, cujo volume ideal deve variar de 6 a 11 litros.

Havendo a necessidade da realização do mergulho com descompressão, deve ser providenciada


e realizada toda a logística de modo a garantir a segurança e praticidade do mergulho. Devem ser
levados em consideração fatores como:

- Uma câmara hiperbárica localizada a menos de uma hora do local onde for realizado o
mergulho, para o caso de algum problema na descompressão. Deve ser verificado também o meio de
transporte até a câmara;

- Determinar os gases ideais para a descompressão, lembrando que, quanto mais rica em O2 for
a mistura gasosa, mais eficiente torna-se a descompressão. No entanto, deve-se atentar para que os
equipamentos sejam compatíveis com a mistura e que a PPO2 nunca ultrapasse 1,6 ATA (a
profundidade máxima para utilização de O2 a 100% é de 6m). A prática do uso de nitrox (EAN 40 ou
50) e O2 puro reduz substancialmente o tempo de descompressão porque a pressão circundante
determina o grau de formação de bolhas, mas é o gradiente de pressão dentro dos pulmões que
determina o quão rápido os compartimentos eliminam o gás;

- Checar se dentro do perfil de mergulho planejado, haverá gás suficiente para realizar a
descompressão;

- Obedecer a “Regra dos Terços”. Esta reza que, em um mergulho descompressivo, o


suprimento de gás deve ser dividido em 3, ou seja, utiliza-se 2/3 do gás para realização do mergulho e
a descompressão, devendo restar sempre 1/3 do suprimento. Esta regra aplica-se tanto para a mistura
de fundo quanto para a mistura de descompressão.

124
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10.5 - TABELAS DE DESCOMPRESSÃO


1 - TABELA DE LIMITES SEM DESCOMPRESSÃO (TLSD)
2 - TABELA DE TEMPO DE NITROGÊNIO RESIDUAL (TTNR)
3 - TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR (TPDAr)

NOTAÇÕES
 Profundidade - profundidade máxima alcançada durante o mergulho.
 Deixada de Superfície ( DS ) - hora que o mergulhador começou a mergulhar ( imergiu ).
 Deixada de Fundo ( DF ) - hora que o mergulhador deu início a sua subida.
 Chegada a Superfície ( CS ) - hora que o mergulhador chega à superfície ( emerge ).
 Tempo Total de Fundo ( TTF ) - é o tempo percorrido de DS a DF.
 Tempo Total de Descompressão ( TTD ) - é o tempo gasto de DF até CS.
 Tempo Total de Subida ( TTS ) - é o tempo gasto de DF até CS.
 Tempo Total de Mergulho ( TTM ) - é o tempo gasto desde DS até CS ou a soma de TTF
com TTD.
 Parada para Descompressão - é o tempo que o mergulhador deve ficar a uma determinada
profundidade com a finalidade de eliminar gases inertes dissolvidos no seu organismo.
 Esquema de Mergulho - é o agrupamento da profundidade ( em metros ou pés ) com o tempo
total de fundo TTF ( em minutos ) para um determinado mergulho.
Ex.: 21/70 - profundidade = 21 m
TTF = 70 min.
 Esquema de Descompressão - é o plano que relaciona as paradas durante o retorno a
superfície com as profundidades e os tempos necessários para que o organismo do
mergulhador possa liberar o excesso de gases inertes nele dissolvidos.
 Mergulho Simples - é qualquer mergulho realizado em um intervalo maior que doze ( 12 )
horas após outro.
 Mergulho Sucessivo ou Repetitivo - é qualquer mergulho realizado em um intervalo de
tempo menor que doze ( 12 ) horas após outro.
 Intervalo de Superfície ( IS ) - é o tempo que o mergulhador passa na superfície entre dois
mergulhos ( menor que doze horas ).
 Nitrogênio Residual - é a quantidade de nitrogênio acima do normal dissolvidos nos tecidos
do mergulhador após a chegada à superfície. Leva no mínimo doze horas para ser eliminado,
estando o mergulhador em repouso.
 Letra do Grupo Repetitivo - é uma letra que indica a quantidade de nitrogênio residual no
organismo do mergulhador após um mergulho.
 Tempo de Nitrogênio Residual ( TNR ) - é a quantidade de Nitrogênio Residual, convertida
em minutos, que deve ser adicionada ao tempo real de fundo de um mergulho de repetição
 Velocidade de Descida - deve ser em torno de 21m/min.
 Velocidade de Subida - deve ser de 18m/min. Não devemos desrespeitar esta velocidade
porque ela faz parte do tempo total de descompressão.

125
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

10.5.1 - TABELA LIMITE SEM DESCOMPRESSÃO (TLSD)

Utilizadas para mergulhos onde não há necessidade de paradas para descompressão. A função
principal de sua utilização é de fornecer a letra designativa do grupo de repetição para um mergulho
sucessivo.

IMPORTANTE: Tanto essa como as outras tabelas são uma adaptação à tabela utilizada pela
Marinha e seus valores foram encontrados através da observação de indivíduos de características
diferentes.
TABELA DE LI MI TES SEM DESCOMPRESSÃO
I LIMITESSEMDESCOM- II - GRUPOSPARAMERGULHOSSUCESSIVOS
PROFUNDIDADE PRESSÃO(EMMINUTOS) A B C D E F G H I J K L M N O
10 - 60 120 210 300
P 15 - 35 70 110 160 225 350
É 20 - 25 50 75 100 135 180 240 325
S 25 - 20 35 55 75 100 125 160 195 245 315
30 - 15 30 45 60 75 95 120 145 170 205 250 310
35 310 5 15 25 40 50 60 80 100 120 140 160 190 220 270 310

12 200 5 15 25 30 40 50 70 80 100 110 130 150 170 200


M 15 100 10 15 25 30 40 50 60 70 80 90 100
18 60 10 15 20 25 30 40 50 55 60
E 21 50 5 10 15 20 30 35 40 45 50
24 40 5 10 15 20 25 30 35 40
T 27 30 5 10 12 15 20 25 30
30 25 5 7 10 15 20 22 25
R 33 20 5 10 13 15 20
36 15 5 10 12 15
O 39 10 5 8 10
42 10 5 7 10
S 45 5 5 -
48 5 5
51 5 5
55 5 5
58 5 5
ENCONTRENESSA VERIFIQUESEOSEU ENCONTREONÚMEROCORRESPONDENTEAOSEUTEMPODEFUNDO
COLUNAAPROFUNDI- TEMPODEFU ND OESTÁ SEELEFORLIGEIRAMENTEMAIORDOQUEOD ATABELAUSEONÚMEROSEGUINTE, ÀDIREITA,E
DEDOSEUMERGULH ODE NTRODOLIMITEACIMA SIGAACOLUN AATÉOT OPOPARAENCONTRARSUALETRAPARAMERGULHOS U CESSIVO

10.5.2 - TABELA DE TEMPO DE NITROGÊNIO RESIDUAL

Usada para nos fornecer o TNR para um mergulho sucessivo com intervalo de superfície (IS),
entre 10 minutos e 12 horas. Antes de apresentarmos essa tabela, veremos como se deve calcular um
mergulho sucessivo.

ENTRADA NA TABELA

A) Letra do grupo repetitivo do mergulho anterior, localizada pelo esquema de descompressão


do primeiro mergulho

B) Intervalo de Superfície, dado em horas e minutos.

Mergulho Sucessivo (novos dados obtidos pelo esquema de mergulho desejado)


A) Nova Letra do Grupo Repetitivo
B) Profundidade do novo mergulho
C) TNR em minutos

Ex: 1º mergulho – ED = 30/50L - CS = 09:00h


2º mergulho – EM = 27/? - DS = 11:h
Letra do grupo repetitivo do mergulho anterior – L
IS = 2 horas
126
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Nova letra do grupo repetitivo – G


Profundidade do novo mergulho = 27 metros
TNR = 29 minutos
OBS: Iniciará o novo mergulho já com 29 minutos.
Obs:.
Mergulho Repetitivo

1º caso – IS < 10 min

- considera-se maior profundidade


- soma-se TTF dos dois mergulhos

2º caso - IS maior ou igual a 10 min ou menor ou igual a 12 h

- utilizar TNR

3 º caso – IS maior que 12 h  Novo mergulho

- Considera-se como um novo mergulho

- novo mergulho

127
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

TABELA DE TEMPO DE NITROGÊNIO RESIDUAL


A 0:10
* Mergulhos após intervalos de superfície 12:00*
maiores que 12 horas não são sucessivos. B 0:10 2:11
Considere os tempos reais de fundo para 2:10 12:00*
entrada na TPD e obtenção dos esquemas de C 0:10 1:40 2:50
descompressão de tais mergulhos. 1:39 2:49 12:00
D 0:10 1:10 2:39 5:49
1:09 2:38 5:48 12:00*
E 0:10 0:55 1:58 3:23 6:33
GR/ IS
IS 0:54 1:57 3:22 6:32 12:00*
1ª F 0:10 0:46 1:30 2:29 3:58 7:06
0:45 1:29 2:28 3:57 7:05 12:00*
G 0:10 0:41 1:16 2:00 2:59 4:26 7:37
2ª TNR
PMS 0:40 1:15 1:59 2:58 4:25 7:36 12:00*
H 0:10 0:37 1:07 1:42 2:24 3:21 4:50 7:60
0:36 1:06 1:41 2:23 3:20 4:49 7:59 12:00*
I 0:10 0:34 1:00 1:30 2:03 2:45 3:44 5:13 8:22
0:33 0:59 1:29 2:02 2:44 3:43 5:12 8:21 12:00*
J 0:10 0:32 0:55 1:20 1:48 2:21 3:05 4:03 5:41 8:41
0:31 0:54 1:19 1:47 2:20 3:04 4:02 5:40 8:40 12:00*
K 0:10 0:29 0:50 1:12 1:36 2:04 2:39 3:22 4:20 5:49 8:59
0:28 0:49 1:11 1:35 2:05 2:38 3:21 4:19 5:48 8:58 12:00*
L 0:10 0:27 0:46 1:05 1:26 1:50 2:20 2:54 3:37 4:36 6:03 9:13
0:26 0:45 1:04 1:25 1:49 2:19 2:53 3:36 4:35 6:02 9:12 12:00*
M 0:10 0:26 0:43 1:00 1:19 1:40 2:06 2:35 3:09 3:53 4:50 6:19 9:29
0:25 0:42 0:59 1:18 1:39 2:05 2:34 3:08 3:52 4:49 6:18 9:28 12:00*
N 0:10 0:25 0:40 0:55 1:12 1:31 1:54 2:19 2:48 3:23 4:05 5:04 6:33 9:44
0:24 0:39 0:54 1:11 1:30 1:53 2:18 2:47 3:22 4:04 5:03 6:32 9:43 12:00*
O 0:10 0:24 0:37 0:52 1:18 1:25 1:44 2:05 2:30 3:00 3:34 4:18 5:17 6:45 9:55
0:23 0:36 0:51 1:07 1:24 1:43 2:04 2:29 2:59 3:33 4:17 5:16 6:44 9:54 12:00*
Z 0:10 0:23 0:35 0:49 1:03 1:19 1:37 1:56 2:18 2:43 3:11 3:46 4:30 5:28 6:57 10:06
0:22 0:34 0:48 1:02 1:18 1:36 1:55 2:17 2:42 3:10 3:45 4:29 5:27 6:56 10:05 12:00*
Novo
Grupo
Z O N M L K J I H G F E D C B A

PROF. DO
MERGULHO
SUCESSIVO
Metros pés Z O N M L K J I H G F E D C B A
12 40 257 241 213 187 161 138 116 101 87 73 61 49 37 25 17 7
15 50 169 160 142 124 111 99 87 76 66 56 47 38 29 21 13 6
18 60 122 117 107 97 88 79 70 61 52 44 36 30 24 17 11 5
21 70 100 96 87 80 72 64 57 50 43 37 31 26 20 15 9 4
24 80 84 80 73 68 61 54 48 43 38 32 28 23 18 13 8 4
27 90 73 70 64 58 53 47 43 38 33 29 24 20 16 11 7 3
30 100 64 62 57 52 48 43 38 34 30 26 22 18 14 10 7 2
33 110 57 55 51 47 42 38 34 31 27 24 20 16 13 10 6 3
36 120 52 50 46 43 39 35 32 28 25 21 18 15 12 9 6 3
39 130 46 44 40 38 35 31 28 25 22 19 16 13 11 8 6 3
42 140 42 40 38 35 32 29 26 23 20 18 15 12 10 7 5 2
45 150 40 38 35 32 30 27 24 22 19 17 14 12 9 7 5 2
48 160 37 36 33 31 28 26 23 20 18 16 13 11 9 6 4 2
51 170 35 34 31 29 26 24 22 19 17 15 13 10 8 6 4 2
54 180 32 31 29 27 25 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2
57 190 31 30 28 26 24 21 19 17 15 13 11 10 8 6 4 2
TEMPO DE NITROGÊNIO RESIDUAL (Minutos)

128
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

10.5.3 - TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR (TPDAr)

Usada quando as condições de mergulho (profundidade/tempo) necessitem de paradas para


descompressão na água ou em câmaras de recompressão*. Também fornece a letra do grupo
repetitivo, usada para calcular o TNR para o mergulho sucessivo.

*Específico para mergulho profissional, ou mergulhos que possuam infra-estrutura


compatível com a atividade (técnicos em câmara, médicos hiperbáricos etc).

Condições especiais de mergulho

IMPORTANTE: Essas condições servem para qualquer mergulho, seja para o simples, para o sem
descompressão, ou ainda para o mergulho repetitivo. Estamos abordando-as antes de fornecer a
Tabela Padrão de Descompressão para frisar a importância na observação desses aspectos.

A) Em caso de frio intenso ou esforço muito grande – devemos usar o esquema de


descompressão calculando tempo maior seguinte. Caso o mergulho seja caracterizado,
tanto por frio intenso quanto por esforço físico além do normal, calcula-se dois tempos
maiores acima.

129
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

B) TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR


Profundidade PARADAS PARA DESCOMPRESSÃO
TTF TPP TTD
Metros 15 12 9 6 3 GR
min min:seg min:seg
Pés
50 40 30 20 10
200 0 0:40 *
210 0:30 2 2:40 N
230 0:30 7 7:40 N
12 250 0:30 11 11:40 O
270 0:30 15 15:40 O
40 300 0:30 19 19:40 Z
360 0:30 23 23:40 **
480 0:30 41 41:40 **
720 0:30 69 69:40 **

100 0 0:50 *
110 0:40 3 3:50 L
120 0:40 5 5:50 M
15 140 0:40 10 10:50 M
160 0:40 21 21:50 N
50 180 0:40 29 29:50 O
200 0:40 35 35:50 O
220 0:40 40 40:50 Z
240 0:40 47 47:50 Z

60 0 1:00 *
70 0:50 2 3:00 K
80 0:50 7 8:00 L
100 0:50 14 15:00 M
120 0:50 26 27:00 N
18 140 0:50 39 40:00 O
160 0:50 48 49:00 Z
60 180 0:50 56 57:00 Z
200 0:40 1 69 71:00 Z
240 0:40 2 79 82:00 **
360 0:40 20 119 140:00 **
480 0:40 44 148 193:00 **
720 0:40 78 187 266:00 **

50 0 1:10 *
60 1:00 8 9:10 K
70 1:00 14 15:10 L
80 1:00 18 19:10 M
90 1:00 23 24:10 N
21 100 1:00 33 34:10 N
110 0:50 41 44:10 O
70 120 0:50 47 52:10 O
130 0:50 1 52 52:10 O
140 0:50 2 56 59:10 Z
150 0:50 20 61 65:10 Z
160 0:50 44 72 86:10 Z
170 0:50 78 79 99:10 Z
* Veja a TLSD
** Mergulhos sucessivos não podem seguir Mergulhos de exposição excepcional.

130
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR


Profundidade PARADAS PARA DESCOMPRESSÃO
TTF TPP TTD
Metros 15 12 9 6 3 GR
min min:seg min:seg
Pés
50 40 30 20 10
40 0 1:20 *
50 1:10 10 11:20 K
60 1:10 17 18:20 L
70 1:10 23 24:20 M
80 1:00 2 31 34:20 N
90 1:00 7 39 47:20 N
100 1:00 11 46 58:20 O
24 110 1:00 13 53 67:20 O
120 1:00 17 56 74:20 Z
80 130 1:00 19 63 83:20 Z
140 1:00 26 69 96:20 Z
150 1:00 32 77 110:20 Z
180 1:00 35 85 121:20 **
240 0:50 6 52 120 179:20 **
360 0:50 29 90 160 280:20 **
480 0:50 59 107 187 354:20 **
720 0:40 17 108 142 187 455:20 **

30 0 1:30 *
40 1:20 7 8:30 J
50 1:20 18 19:30 L
60 1:20 25 26:30 M
27 70 1:10 7 30 38:30 N
80 1:10 13 40 54:30 N
90 90 1:10 18 48 57:30 O
100 1:10 21 54 76:30 Z
110 1:10 24 61 86:30 Z
120 1:10 32 68 101:30 Z
130 1:00 5 36 74 116:30 Z

25 0 1:40 *
30 1:30 3 4:40 I
40 1:30 15 16:40 K
50 1:20 2 24 27:40 L
60 1:20 9 28 38:40 N
70 1:20 17 39 57:40 O
80 1:20 23 48 72:40 O
30
90 1:10 3 23 57 84:40 Z
100 100 1:10 7 23 65 97:40 Z
110 1:10 10 34 72 117:40 Z
120 1:10 12 41 78 132:40 Z
180 1:00 1 29 53 118 202:40 **
240 1:00 14 42 84 142 283:40 **
360 0:50 2 42 73 111 187 416:40 **
480 0:50 21 61 91 142 187 503:40 **
720 0:50 55 106 122 142 187 613:40 **
* Veja a TLSD
** Mergulhos sucessivos não podem seguir Mergulhos de exposição excepcional.

131
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR


Profundidade PARADAS PARA DESCOMPRESSÃO
TTF TPP TTD
Metros 21 18 15 12 9 6 3 GR
min min:seg min:seg
70 60 50 40 30 20 10
Pés
20 0 0 1:20 *
25 1:10 3 11:20 H
30 1:10 7 18:20 J
40 1:10 2 21 24:20 L
33
50 1:00 8 26 34:20 M
60 1:00 18 36 47:20 N
110
70 1:00 1 23 48 58:20 O
80 1:00 7 23 57 67:20 Z
90 1:00 12 30 64 74:20 Z
100 1:00 15 37 72 83:20 Z

15 0 2:00 *
20 1:50 2 4:00 H
25 1:50 9 8:00 I
30 1:50 14 16:00 J
40 1:40 5 25 32:00 L
50 1:40 15 31 48:00 N
60 1:30 2 22 45 71:00 O
36 70 1:30 9 23 55 89:00 O
80 1:30 15 27 63 107:00 Z
120 90 1:30 19 37 74 132:00 Z
100 1:30 23 45 80 150:00 Z
120 1:20 10 19 47 98 176:00 **
180 1:10 5 27 37 76 137 284:00 **
240 1:10 23 35 60 97 179 396:00 **
360 1:00 18 45 64 93 142 187 551:00 **
480 0:50 3 41 64 93 122 142 187 654:00 **
720 0:50 32 74 100 114 122 142 187 773:00 **

10 0 2:10 *
15 2:00 1 3:10 F
20 2:00 4 6:10 H
25 2:00 10 12:10 J
39 30 1:50 3 18 23:10 M
40 1:50 10 25 37:10 N
130 50 1:40 3 21 37 63:10 O
60 1:40 9 23 52 86:10 Z
70 1:40 16 24 61 103:10 Z
80 1:30 3 19 35 72 131:10 Z
90 1:30 8 19 45 80 154:10 Z

* Veja a TLSD
** Mergulhos sucessivos não podem seguir Mergulhos de exposição excepcional.

132
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR


Profundidade PARADAS PARA DESCOMPRESSÃO
TTF TPP TTD
Metros 27 24 21 18 15 12 9 6 3 GR
min min:seg min:seg
90 80 70 60 50 40 30 20 10
Pés
10 0 2:20 ?
15 2:10 2 4:20 ?
20 2:10 5 8:20 ?
25 2:00 2 14 18:20 ?
30 2:00 5 21 28:20 ?
40 1:50 2 16 26 46:20 N
50 1:50 6 24 44 76:20 O
42 60 1:50 16 23 56 97:20 Z
70 1:40 4 19 32 68 125:20 Z
140 80 1:40 10 23 41 79 155:20 Z
90 1:30 2 14 18 42 88 166:20 **
120 1:30 12 14 36 56 120 240:20 **
180 1:20 10 26 32 54 94 168 386:20 **
240 1:10 8 28 34 50 78 124 187 511:20 **
360 1:00 9 32 42 64 84 122 142 187 684:20 **
480 1:00 31 44 59 100 114 122 142 187 801:20 **
720 0:50 16 56 88 97 100 114 122 142 187 924:20 **

5 0 2:30 C
10 2:20 1 3:30 E
15 2:20 3 5:30 G
20 2:10 2 7 11:30 H
45 25 2:10 4 17 23:30 K
30 2:10 8 24 34:30 L
150 40 2:00 5 19 33 59:30 N
50 2:00 12 23 51 88:30 O
60 1:50 3 19 26 62 112:30 Z
70 1:50 11 19 39 75 146:30 Z
80 1:40 1 17 19 50 84 173:30 **

5 2:40 D
10 2:30 3:40 F
15 2:20 1 7:40 H
20 2:20 3 16:40 J
48
25 2:20 7 29:40 F
30 2:10 2 11 40:40 M
160
40 2:10 7 23 71:40 N
50 2:00 2 16 23 98:40 Z
60 2:00 9 19 33 132:40 Z
70 1:50 1 17 22 44 166:40 **

* Veja a TLSD
** Mergulhos sucessivos não podem seguir Mergulhos de exposição excepcional.

133
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

TABELA PADRÃO DE DESCOMPRESSÃO A AR


Profundidade PARADAS PARA DESCOMPRESSÃO
TTF TPP TTD
Metros 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3 GR
min min:seg min:seg
110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10
Pés
5 0 2:50 D
10 2:40 2 4:50 F
15 2:30 2 5 9:50 H
20 2:30 4 15 21:50 J
25 2:20 2 7 23 34:50 L
30 2:20 4 13 26 45:50 M
40 2:10 1 10 23 45 81:50 O
51 50 2:10 5 18 23 61 109:50 Z
60 2:00 2 15 22 37 74 152:50 Z
170 70 2:00 8 17 19 51 86 183:50 **
90 1:50 12 12 14 34 52 120 246:50 **
120 1:30 2 10 12 18 32 42 82 156 356:50 **
180 1:20 4 10 22 28 34 50 78 120 187 535:50 **
240 1:20 18 24 30 42 50 70 116 142 187 681:50 **
360 1:10 22 34 40 52 60 98 114 122 142 187 873:50 **
1007:5
480 1:00 14 40 42 56 91 97 100 114 122 142 187 **
0

5 0 3:00 D
10 2:50 3 6:00 F
15 2:40 3 6 12:00 I
54 20 2:30 1 5 17 26:00 K
25 2:30 3 10 24 40:00 L
180 30 2:30 6 17 27 53:00 N
40 2:20 3 14 23 50 93:00 O
50 2:10 2 9 19 30 65 128:00 Z
60 2:10 5 16 19 44 81 168:00 Z

5 0 3:10 D
10 2:50 1 3 7:10 G
15 2:50 4 7 14:10 I
57 20 2:40 2 6 20 31:10 K
25 2:40 5 11 25 44:10 M
190 30 2:30 1 8 19 32 63:10 N
40 2:30 8 14 23 55 103:10 O
50 2:20 4 13 22 33 72 147:10 **
60 2:20 10 17 19 50 84 183:10 **

** Mergulhos sucessivos não podem seguir Mergulhos de exposição excepcional.

134
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

EXERCÍCIO DE TABELA

Com o objetivo de simplificar nossas contas, utilizaremos ( ’ ) para expressar minutos e ( ” ) para
expressar segundos

1- TLSD

36 / 15

GR= F t ( min:seg)

18 m ----------------------------60 segundos (vel subida)

36m ----------------------------X
2’
X = 36 x 60 = 2 minutos ( 2’ )
18
36

TTF= 15’
Prof (m)

2- TPDAr

36 / 20

GR = H t (min : Seg)

10 ”
2’

1’50”

36

TTF = 20’ TTD = 4 ’


Prof (m)

Mergulho Repetitivo – IS < 10 min e IS maior ou igual a 10 min e menor ou igual a 12h

135
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Exerc. 01 - 1º merg: 36 / 15 IS = 8 min 2º merg: 24 / 15


Exerc. 02 - 1º merg: 36 / 15 IS = 5h 2º merg: 24 / 38

GR = F IS = 8 ’ GR = J t ( min : Seg )

10”
3 14’

2’ 1’10”

24

36

TTF=15’ TTF=15’ TTD=15’20”


Prof (m)
ED = 36 / 30

GR = F IS = 5 h GR = K
t (min:seg)

10’ 10”

2’ 1’ 10”

24

36

TTF=15’ TRF=38’ TTD = 11’ 20”


TNR=8’
Prof (m)
TTF=46’

ED = 24 / 46

136
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

10.6 - MERGULHO EM ALTITUDE E VÔO APÓS MERGULHO


Deixar o ponto de mergulho pode requerer uma ascensão temporária a altas altitudes. Por
exemplo, mergulhadores podem ter que cruzar montanhas ou deixar o ponto de mergulho pelo ar.
Ascensão a altitude após o mergulho aumenta o risco de Doença Descompressiva por conta do
acréscimo na redução da pressão atmosférica. Quanto maior a altitude, maior o risco.
A tabela abaixo prescreve o intervalo de superfície requerido antes de iniciar a ascensão a
altitude. Este intervalo depende da altitude a ser considerada e do maior grupo de repetição obtido nas
24 horas anteriores.

Grupo Altitude (m)


Repetitivo 300 600 900 1200 1500 1800 2100 2400 2700 3000

A 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00

B 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 1:42

C 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 1:48 6:23

D 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 1:45 5:24 9:59

E 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 1:37 4:39 8:18 12:54

F 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 1:32 4:04 7:06 10:45 15:20

G 0:00 0:00 0:00 0:00 1:19 3:38 6:10 9:13 12:52 17:27

H 0:00 0:00 0:00 1:06 3:10 5:29 8:02 11:04 14:43 19:18

I 0:00 0:00 0:56 2:45 4:50 7:09 9:41 12:44 16:22 20:58

J 0:00 0:41 2:25 4:15 6:19 8:39 11:11 14:13 17:52 22:27

K 0:30 2:03 3:47 5:37 7:41 10:00 12:33 15:35 19:14 23:49

L 1:45 3:18 5:02 6:52 8:56 11:15 13:48 16:50 20:29 25:04

M 2:54 4:28 6:12 8:01 10:06 12:25 14:57 18:00 21:38 26:14

N 3:59 5:32 7:16 9:06 11:10 13:29 16:02 19:04 22:43 27:18

O 4:59 6:33 8:17 10:06 12:11 14:30 17:02 20:05 23:43 28:19

Z 5:56 7:29 9:13 11:03 13:07 15:26 17:59 21:01 24:40 29:15

Mergulho em altitude:

Todas as tabelas de descompressão deste Manual foram calculadas para mergulho ao nível do
mar, onde a pressão atmosférica é igual a 1 ATA. Contudo, se os mergulhos forem realizados em
altitudes acima de 100 metros (ex: lagos em montanhas), torna-se necessário descompressões mais
longas, tendo em vista que o mergulhador, ao sair da água, encontra uma pressão sub-atmosférica,
(menor que 1 ATA) que aumenta o gradiente entre a pressão ambiente e a tensão do gás inerte
dissolvido nos tecidos, favorecendo o aparecimento da Doença Descompressiva.

137
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

A tabela abaixo serve para corrigir este problema e constitui uma regra prática para os
mergulhos realizados em altitudes acima de 100 metros.

ALTITUDE PROCEDIMENTO
Até 100m (330 pés) Cumprir a Tabela Padrão de Descompressão (TPD)
De 100 a 300m (330 a 1.000 pés) Some ¼ da profundidade original e use o esquema
de descompressão da TPD para o resultado obtido.
De 300 a 2.000m (1.000 a 6.500 pés) Some 1/3 da profundidade original e use o
esquema de descompressão da TPD para o
resultado obtido.
De 2.000 a 3.000m (6.500 a 10.000 pés) Some ½ da profundidade original e use o esquema
de descompressão da TPD para o resultado obtido.

Exemplo: Achar o esquema de descompressão para um mergulho a 18m (60 pés)


realizado em um lago situado a 400m (1.320 pés) de altitude:

Solução:

Para altitude 400m (1.320 pés), somar 1/3 da profundidade:

Prof. Equivalente = Prof. + 1/3 Prof. = 18 + 18/3 = 18 + 6 = 24m (80 pés)

Resposta: Entrar na TPD com 24m (80 pés).

138
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CAPÍTULO 11 - MISTURAS GASOSAS

11.1 - AR ENRIQUECIDO (NITROX)


11.1.1 - DEFINIÇÃO

Tendo aparecido no mergulho por volta de 1982, o Nitrox, ou ar enriquecido com oxigênio, é
qualquer mistura de oxigênio e nitrogênio que contenha mais de 22% de O 2. As vantagens do Nitrox
estão relacionadas à menor concentração de nitrogênio na mistura, aumentando os tempos de fundo
dentro dos limites não-descompressivos e reduzindo o tempo de descompressão. No entanto, o acesso
a essas vantagens não é tão simples, pois faz-se necessário a implementação de uma complexa
logística para manusear e produzir misturas nitrox com segurança, além do risco de toxicidade pelo
oxigênio.
A referência ao nitrox é feita a partir da sigla EAN (Enriched Air Nitrox). Por exemplo, se uma
mistura gasosa contém 32% de O2 e, consequentemente, 68% de N2, a terminologia utilizada é EAN
32, ou seja, é feita referência somente à porcentagem de oxigênio na mistura.
11.1.2 - VANTAGENS DO NITROX

Os benefícios e vantagens da utilização do nitrox são muitas, contudo, todos esses benefícios
estão relacionados com a respiração de uma menor fração de nitrogênio na mistura. O nitrogênio é um
gás inerte que, por não ser metabolizado no corpo, permanece dissolvido no sangue e tecidos, sendo
responsável pelo risco de doença descompressiva quando se utiliza ar ou nitrox. O uso de nitrox
diminui a absorção de nitrogênio durante o mergulho, pois as misturas contém menos N2 quando
comparadas com o ar, permitindo assim, um aumento do tempo de fundo antes de atingir os limites
não-descompressivos. Uma outra estratégia é usar o nitrox para diminuir a necessidade de intervalo de
superfície, conservando os tempos de fundo dos mergulhos. Também pode ser usado em situações nas
quais se queira aumentar a margem de segurança toda vez que o contexto do mergulho, seja do local
(correnteza, água fria) ou do mergulhador (mau condicionamento físico, obesidade), indicarem um
risco maior de doença descompressiva. Mergulhadores que usam nitrox em expedições de vários dias
de mergulho, com vários mergulhos por dia, relatam menos cansaço físico no final dos dias de
trabalho e maior segurança nos procedimentos de vôo após o mergulho. Essa diminuição do cansaço é
explicada pela pouca formação de microbolhas, em função do uso de uma mistura com menos gás
inerte.

11.1.3 - DESVANTAGENS DO NITROX

Apesar de sua grande vantagem ser a diminuição do risco de doença descompressiva e o


aumento dos tempos de fundo sem descompressão, o nitrox não elimina totalmente o risco de DD. O
nitrox tem potencial igual, ou segundo alguns pesquisadores, até maior que o ar. Respirar misturas
nitrox com pressão parcial de oxigênio maior que 0,5 ATA em longas exposições ou em vários
mergulhos sucessivos podem causar problemas nas células pulmonares e diminuição da capacidade
vital dos pulmões. Além disso, pressões parciais de oxigênios elevadas, podem causar alteração nas
células do sistema nervoso central, acarretando alterações neurológicas e até afogamento. A utilização
de qualquer mistura respiratória, incluindo o nitrox, exige análise e identificação precisa da mistura.

11.1.4 - LIMITES DO USO DE OXIGÊNIO

Os efeitos fisiológicos dos gases estão diretamente ligados a pressão parcial, que é igual a
fração do gás (%), multiplicado pela pressão ambiente absoluta. A pressão parcial do gás também é
um indicativo do número de moléculas por determinado volume, ou seja, da concentração molecular.
Segundo a Lei de Dalton, com o aumento da profundidade ocorre um aumento correspondente na

139
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

pressão parcial dos gases. Esse aumento deve ser considerado por qualquer mergulhador que deseja
realizar mergulhos com misturas gasosas.
É importante ressaltar que a referência à porcentagem de um gás em qualquer mistura é dada
através da fração do gás. Sendo assim, a fração de oxigênio (FO 2) em uma mistura EAN 36 pode ser
expressa como 0,36. Como a pressão parcial de um gás é expressa pela multiplicação da fração do gás
pela pressão ambiente, tem-se que, nesse caso, a PPO2 a 20 metros de profundidade, cuja pressão
absoluta é de 3 ATAs, é de 1,08 (0,36 x 3). Nota-se que a FO2 permanece constante, mas a PPO2 varia
conforme a profundidade. No caso, por exemplo, de uma mistura EAN 50 ser usada a 10 metros de
profundidade, a PPO2 será de 1 ATA, ou seja, respirar esta mistura a 10 metros, equivale a respirar
oxigênio puro na superfície.
O oxigênio é o principal componente do sistema mais básico de suporte de vida empregado
pelo corpo humano e apesar disso, é potencialmente perigoso em condições hiperbáricas. A falta ou
excesso de oxigênio são danosos ao organismo. Quando respirado a pressão parcial menor que 0,16
ATA pode haver hipóxia e quando respirado a PPO2 maior que 0,5 ATA pode causar hiperóxia.

Com relação à máxima PPO2 que pode ser respirada pelo mergulhador, ela depende de vários
fatores, principalmente perfil e da duração dos diversos segmentos do mergulho, bem como das
diversas misturas respiratórias utilizadas durante o mergulho. Como regra básica, pode-se dizer que
para fins de planejamento e tempo de fundo de mergulho, a PPO2 máxima deve ser de 1,4 ATA e sob
circunstâncias de contingência e descompressão, 1,6 ATA. Ou seja, o limite deve ser evitado se o
mergulhador e o mergulho não estiverem em condições ideais, pois situações como o frio e esforço
físico podem aumentar a probabilidade de intoxicação.
Para fazer uso de misturas respiratórias de forma segura, os seguintes parâmetros devem ser
determinados:
- A pressão parcial de determinado componente da mistura (também chamada dosagem);
- A profundidade máxima de operação de uma dada mistura;
- A fração do gás a ser usada para determinado mergulho.
O modo de responder a essas perguntas é fazendo uso da equação de Dalton, na qual a pressão
parcial de cada gás é igual à fração do gás multiplicado pela pressão ambiente absoluta.

Ex.: Qual é a pressão parcial de oxigênio em um mergulho com EAN 30 a 34 metros?

R: PPO2 = 0,3 (Fração do Gás) x 4,4 (Pressão Ambiente) = 1,32 ATA

Caso se queira descobrir a profundidade máxima de operação (PMO) para determinada


mistura, basta dividir a pressão parcial máxima permitida pela fração do oxigênio na mistura.

Ex. 1: Qual é a profundidade máxima de operação do EAN 40 para ser usado como mistura de
fundo?

R: 1,4 (PPO2 máxima para mistura de fundo) ÷ 0,4 (Fração do Gás) = 3,5 ATAs = 25 metros

Ex. 2: Qual é a profundidade máxima de operação do EAN 40 para ser usado como mistura de
descompressão?

R: 1,6 (PPO2 máxima para mistura de descompressão) ÷ 0,4 (Fração do Gás) =


4 ATAs = 30 metros

140
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Caso se queira descobrir a fração de oxigênio (Fg) a ser usada em determinado mergulho, basta
dividir a pressão parcial máxima determinada para ser usada com a mistura, pela em ATA do
mergulho.

Ex. 1: Qual é a fração de oxigênio a ser usada em uma mistura de fundo em um mergulho a
profundidade de 40 metros?

R: 1,4 (PPO2 máxima para mistura de fundo) ÷ 5 (Pressão Ambiente) = 0,28 = 28%

Ex. 2: Qual é a fração de oxigênio a ser usada em uma mistura de descompressão em uma
parada de 12 metros?

R: 1,6 (PPO2 máxima para mistura de descompressão) ÷ 2,2 (Pressão Ambiente) = 0,72 = 72%

11.1.5 - CÁLCULO DA PROFUNDIDADE EQUIVALENTE A AR (PEA)

Misturas nitrox contem mais oxigênio que o ar e, consequentemente, menos nitrogênio. Sendo
assim, para uma mesma profundidade e tempo de fundo, a absorção de nitrogênio será menor quando
forem usadas misturas nitrox. Em última análise, a quantidade de nitrogênio dissolvido no corpo
depende da pressão parcial de nitrogênio e do tempo de exposição (Lei de Henry). Mergulhos em que
a PPN2 e o tempo de fundo forem equivalentes, terão a mesma absorção de gás inerte, independente
da profundidade e do gás usado em cada mergulho.
As tabelas de descompressão e os limites não-descompressivos para nitrox são derivados de
tabelas a ar que usam esse conceito há mais de 30 anos. O conceito de profundidade equivalente a ar
(PEA) permite que qualquer tabela de descompressão a ar seja usada para nitrox. Na realidade,
quando se mergulha com nitrox, o corpo físico encontra-se em uma determinada profundidade e o
corpo fisiológico, em função da menor pressão parcial de nitrogênio, situa-se em uma profundidade
menor. Seguem alguns exemplos:
Ex. 1: Qual a PEA quando se faz um mergulho com EAN 32 a 33 metros?
R: Para encontrar a resposta, basta dividir a pressão parcial de nitrogênio procurada pela fração
de nitrogênio no ar, que é a mistura na qual se procura a equivalência. Logo,

PEA = 2,9 ATA (PPN2 a 33 metros usando EAN 32) ÷ 0,79 ATA (PPN2 do ar) = 3,7 ATA = 27
metros

Ex. 2: Qual a PEA quando se o EAN 50 na parada de descompressão a 21 metros?


R: PPN2 a 21 metros usando EAN 50 = 3,1 x 0,5 = 1,55 ATA
PEA = 1,55 ATA ÷ 0,79 = 1,96 ATA = 9,6 metros
Obs: O resultado mostra o motivo pelo qual misturas mais ricas de nitrox são usadas para
descompressão.

11.1.6 - PREPARAÇÃO E CUIDADOS COM O USO DE EAN

Com a popularização do uso do nitrox, muitos métodos de preparação de mistura foram


desenvolvidos e aprimorados. A maioria desses métodos visa melhorar a logística da preparação do
gás, eliminando a necessidade de cálculos, diminuindo as etapas do processo e a necessidade de
manutenção e limpeza do sistema para trabalhar com oxigênio. Entre esses métodos, estão os
procedimentos de mistura contínua e o da membrana separadora. Contudo, o método de pressão
parcial é o mais usado, principalmente para misturas com mais de 40% de oxigênio.

141
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

11.1.6.1 - Cuidados ao lidar com sistemas de oxigênio


Sistemas de oxigênio estão sujeitos a combustão e esse é um risco que jamais deve ser
negligenciado. Para que ela aconteça, é necessária a presença de três componentes, conhecido como
triângulo do fogo: combustível, comburente e calor. Quanto maior for a concentração de oxigênio,
mais fácil será iniciar a combustão. Como na maioria das vezes não é possível separar os três
elementos, é preciso reduzir os riscos, evitando que sistemas de oxigênio sejam contaminados por
combustível de baixo ponto de ignição e que fontes de calor com compressão adiabática (gás na
velocidade do som), atrito, faísca ou qualquer outra fonte de calor estejam presentes.
11.1.6.2 - Regra dos 40%
As misturas nitrox com até 40% de oxigênio podem ser tratadas como ar e os reguladores não
necessitam de cuidados específicos. Contudo, quando se usa misturas com mais de 40% de O 2, essas
devem ser tratadas com os mesmos cuidados do oxigênio. Reguladores e manômetros devem ser
preparados para esse gás.
11.1.6.3 - Serviço para preparação de uso com oxigênio
Refere-se à adaptabilidade do produto ou componente para ser usado em conjunto com
oxigênio. A preparação requer tanto procedimentos de limpeza como a utilização de componentes
compatíveis com oxigênio. A maioria dos componentes apropriados para uso com esse gás terá
também um limite de temperatura/pressão como parte dos limites do serviço de oxigênio, que requer
que o produto seja desenhado e arquitetado para ser compatível com o uso de O2. Todos os pontos
acima são necessários antes de se entrar em contato com o oxigênio puro.
Limpeza para oxigênio: Prepara os equipamentos para serem utilizados com oxigênio puro.
Isto não significa que os equipamentos em si são compatíveis com oxigênio, mas sim que os
contaminantes que reagem violentamente a altas porcentagens de oxigênio, foram removidos.
Equipamentos compatíveis com oxigênio: São aqueles em que os materiais que os compõem
são apropriados para utilização com oxigênio puro. Isto não significa que o equipamento está pronto
para ser usado com O2, mas sim que os materiais envolvidos são apropriados, quando preparados
adequadamente, para utilização com misturas com mais de 40% de oxigênio.

Marcação de cilindros de Nitrox

11.1.6.4 - O oxigênio e o ar usados em misturas


O oxigênio a ser usado em misturas nitrox deve ser o medicinal, armazenado em cilindros de
cor verde com padrão de pureza de 99,5%. Esse cilindro recebe vácuo antes da carga e seu conteúdo é
controlado. O ar compatível com oxigênio deve ser filtrado, principalmente para hidrocarbonetos
(óleos), além de possuir menor teor de monóxido de carbono.
11.1.6.5 - Cálculos para mistura por pressão parcial
O método de pressão parcial é o mais popular pelo seu custo e portabilidade, principalmente
quando o objetivo é produzir misturas de descompressão com mais de 40% de O2. O método
142
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normalmente consiste em adicionar oxigênio puro até a pressão necessária e completar com o ar até a
pressão final desejada.
Ex.: Quanto de oxigênio puro deve ser adicionado para produzir EAN 35 a uma pressão final de
3000 PSI?
- Se a pressão final é de 3000 PSI, tem-se ao final da mistura uma pressão de oxigênio de
1050 PSI (0,35 x 3000) e uma pressão final de nitrogênio de 1950 PSI (0,65 x 3000), sendo que o
oxigênio será composto por duas fontes: o oxigênio puro a ser colocado e o oxigênio do ar.
Obviamente, o nitrogênio virá do ar;
- Se o nitrogênio veio do ar, basta calcular qual será a pressão necessária de ar a ser colocada
para que se possa ter uma pressão de nitrogênio de 1950 PSI. Se o ar tem 79% de nitrogênio, basta
dividir 1950 PSI (N2) por 0,79. Então, a pressão do ar necessária será de 2468 PSI para que no final da
mistura tenha 1950 PSI de nitrogênio;
- Se forem colocados 2468 PSI de ar, a quantidade de oxigênio puro será de 532 PSI
(3000 PSI - 2468 PSI);
- Tem-se então que se deve colocar oxigênio puro até a pressão de 532 PSI e completar com ar.
Com base no raciocínio acima, pode-se derivar a seguinte fórmula:

PO2 = FO2 desejada - 0,21 x Pfinal


0,79

11.1.6.6 - Análise da Mistura

Este é um dos pontos mais importantes para a segurança do mergulhador que utiliza nitrox.
Devido ao perigo de exceder a PMO, as cargas de EAN devem ser analisadas pessoalmente antes de
iniciar o mergulho com a mistura.
NUNCA MERGULHE SEM ESTAR ABSOLUTAMENTE SEGURO DE QUAL É A
MISTURA PRESENTE NO SEU CILINDRO.
Com relação à análise dos cilindros, devem ser observados os seguintes aspectos:
- Calibragem dos analisadores de oxigênio: Os equipamentos, principalmente os portáteis,
devem ser calibrados antes do uso. A calibragem pode ser feita expondo o sensor ao ar atmosférico e
ajustando a leitura para valores entre 20,9% e 21%;

Modelo de Analisador de oxigênio

- Isoladores: Antes de analisar qualquer gás em cilindros duplos, deve ser checado se o
isolador está completamente aberto, a fim de garantir que não há misturas diferentes nos dois
cilindros.

143
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11.2 - TRIMIX
11.2.1 - DEFINIÇÃO

É qualquer combinação de hélio, oxigênio e nitrogênio. Oferece ao mergulhador a


possibilidade de ajustar a fração de oxigênio e de hélio e, consequentemente, do nitrogênio, de acordo
com a necessidade de cada mergulho, além de ser possível controlar não só a exposição ao oxigênio,
como também a profundidade narcótica equivalente. Por exemplo, mergulhar com Trimix a 75 metros
com uma narcose equivalente a mergulhar a 30 metros de profundidade. Exemplos dessas misturas
são o Tx 20/40 (20% de oxigênio e 40% de hélio) e Tx 16/50 (16% de O 2 e 50% de He). A propósito,
as misturas trimix podem ser hipóxicas quando tiverem frações de oxigênio menores que 16%.

11.2.2 - O GÁS HÉLIO

É o mais leve dos gases nobres e foi o primeiro a ser descoberto. Só perde em densidade para o
hidrogênio que, por ser explosivo na presença do oxigênio, não é utilizado no mergulho.

11.2.3 - VANTAGENS DO TRIMIX

- Possibilidade de manter a PPO2 em 1,4 ATA em qualquer profundidade;


- Possibilidade de ajustar a profundidade narcótica equivalente, diminuindo a narcose até o
nível necessário para a situação de cada mergulho;
- Reduzir a densidade da mistura, diminuindo o esforço respiratório e a retenção de dióxido de
carbono, o que reduz em muito a probabilidade de intoxicação por oxigênio, narcose e DD;
- Menor variação de flutuabilidade entre os cilindros cheios e os vazios;
- O hélio, por ter uma molécula bem menor e ser menos solúvel em lipídios (gordura), é
eliminado mais facilmente e produz menos stress descompressivo.

11.2.4 - DESVANTAGENS DO TRIMIX

- Por ser excelente condutor térmico, o hélio rouba calor do corpo mais rapidamente que o ar.
Na prática isso só faz diferença no caso da utilização de roupa seca, quando o mergulhador terá de
lançar mão de um sistema de inflagem, com o ar ou argônio, para evitar a perda de calor;

- Apesar do hélio ser eliminado mais rapidamente, por ter uma molécula menor e ser menos
solúvel em lipídios, o controle da variação de pressão e das paradas profundas deve ser mais preciso,
pois por ser menos solúvel em plasma, o hélio passa da fase dissolvida para a gasosa com variações
menores de pressão, quando comparado com o nitrogênio;
- Custo elevado de produção;
- Misturas trimix com menos de 16% de O2 são hipóxicas e podem levar ao afogamento se
respiradas por engano.

11.2.5 - HIGH PRESSURE NERVOUS SYNDROME (HPNS)

A HPNS é uma disfunção neurológica de causas complexas. No início era denominado


erroneamente de “tremores do hélio”. Mas atualmente sabe-se que as altas pressões do mergulho é que
são as responsáveis pela síndrome e não o hélio. A teoria aceita hoje baseia-se em pesquisas de
anestesiologistas que consideram o fenômeno reverso ao da anestesia. Os estudos revelaram que o
aumento de pressão tende a reverter os efeitos anestésicos e narcóticos. Os efeitos narcóticos são
causados por gases que tem grande solubilidade em lipídios e que causam aumento de vlume da
membrana das células do sistema nervoso central e alterações nos canais de sódio e de potássio e em
144
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

vários receptores e neurotransmissores que regulam a função normal. O aumento da pressão parece
reverter esse efeito, agindo na membrana da célula nervosa e diminuindo o aumento de volume. Como
o hélio é pouco solúvel em lipídios, ele não tem ação sobre a membrana da célula nervosa, permitindo
que as altas pressões diminuam o volume da membrana, causando os efeitos da HPNS. Sendo assim, o
hélio não é o responsável pela síndrome e sua baixa solubilidade em lipídios não atua para
contrabalançar os efeitos das altas pressões. Por esse motivo, em mergulhos a mais de 180 metros,
substitui-se o Heliox por Trimix com pelo menos 10% de nitrogênio para contrabalançar os efeitos das
altas pressões.
A HPNS é um problema relacionado a mergulhos com Heliox a mais de 150 metros e seus
efeitos são reduzidos quando se usa misturas Trimix.

11.2.6 - MÉTODOS PARA DETERMINAR A MISTURA TRIMIX IDEAL

O cálculo matemático para determinar a mistura Trimix a ser usada em determinado mergulho
é bem simples. O importante é entender os parâmetros corretos. Uma mistura Trimix usada como gás
de fundo não pode ter fração de oxigênio maior que 1,4 ATA. Sendo assim, essa pressão parcial será o
parâmetro a ser usado para estabelecer a fração de O2.
O segundo aspecto a ser determinado é a fração de hélio, para que se possa controlar a
profundidade narcótica equivalente (PNE), que deve ser calculada para os 30 metros de profundidade
ou menor (nos casos em que o risco do mergulho e sua complexibilidade demandarem atenção
absoluta).

Ex. 1: Qual o Trimix a ser usado para um mergulho a 50 metros de profundidade?


R: A fórmula utilizada é a de cálculo da PPO2, logo:
PPgás = Fgás x Pamb
- Para determinar a fração de oxigênio, basta dividir a PPO2 desejada pela pressão ambiente,
ou seja, 1,4 ÷ 6 = 23% de oxigênio;
- A fração de hélio será usada para manter a PPO2 + PPN2 no fundo menor ou igual a 30
metros (4 ATA), mantendo assim, a profundidade narcótica equivalente (PNE). Sendo assim, para
determinar a pressão de hélio no fundo, basta diminuir a pressão ambiente da pressão narcótica
equivalente a 30 metros a ar, ou seja, 6 ATA (50 metros) - 4 ATA = 2 ATA (PPHe);
- A fração de hélio na mistura será dada dividindo-se a pressão do hélio no fundo pela pressão
ambiente, ou seja, 2 ATA (PPHe) ÷ 6 ATA (pressão ambiente) = 33% de hélio;
- Nesse caso, a mistura a ser usada será Tx 23/33.
Ex. 2: Qual profundidade narcótica equivalente em um mergulho a 70 metros com um Tx
17/60?
R: Como visto acima, a PNE é dada pela soma das pressões de oxigênio e nitrogênio no fundo,
logo:
- No Tx 17/60, há 60% de hélio e o restante é oxigênio e nitrogênio. Sendo assim, há 40% de
gases narcóticos, que no fundo, a 8 ATA, terão uma pressão de 3,2 ATA (0,4 x 8), o que equivale à
narcose de 22 metros usando ar.

11.2.7 - MISTURAS TRIMIX MAIS USADAS

Como visto acima, a mistura trimix ideal é normalmente determinada usando como parâmetro
a pressão parcial de 1,4 ATA e a profundidade narcótica equivalente (PNE) de 30 metros. Usar uma
fração de hélio maior que a considerada ideal não é um problema e em muitos casos é extremamente
aconselhável. Na maioria das vezes, a mistura ideal traz limitações, no caso de haver variações no
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

planejamento do mergulho. Usar misturas “padrão” para determinadas faixas de profundidade é uma
boa opção, com vários benefícios operacionais. O mergulhador adquire facilmente maior experiência e
conhecimento sobre os perfis de mergulho e a descompressão planejada, podendo também, acomodar
variações de profundidade que possam surgir durante o mergulho.
As misturas “padrão” são:
- Trimix 28/20: mergulhos entre 30 e 40 metros;
- Trimix 21/35: mergulhos entre 40 e 50 metros;
- Trimix 20/40: mergulhos entre 50 e 60 metros;
- Trimix 16/50: mergulhos entre 63 e 75 metros.

11.2.8 - PREPARAÇÃO DE MISTURAS TRIMIX

A preparação de misturas Trimix não apresenta complicação adicional quando comparada a


misturas Nitrox e a maioria dos métodos usados na preparação de misturas Nitrox pode ser usada para
misturas Trimix. Os cuidados de limpeza e preparação dos equipamentos são em função do oxigênio e
são os mesmos requeridos para as misturas Nitrox. A menor densidade do hélio não impõe nenhuma
necessidade de equipamentos especiais ou vedações extras para evitar vazamentos. O hélio, no
entanto, tem uma taxa de compressibilidade menos linear que o oxigênio e o ar, ou seja, o número de
moléculas que são comprimidas com o aumento da pressão é menor. Isso vale para todos os gases,
principalmente em pressões em torno de 3000 PSI. Mas para o hélio, essa diferença é maior e convém
ser ajustada.
11.2.9 - O HÉLIO USADO PARA MISTURAS TRIMIX

Como já visto, o oxigênio usado em misturas Nitrox deve ser o medicinal, acondicionado em
cilindros de cor verde e com padrão de pureza de 99,5%. A preocupação com esses padrões de pureza
está relacionada a mergulhos profundos em que o potencial de intoxicação causado por qualquer gás é
muito maior devido ao aumento da pressão parcial. A maioria dos padrões de pureza de hélio
disponíveis no mercado contém menos contaminantes que o oxigênio medicinal. Por esse motivo, com
exceção do hélio usado em balões, todos podem ser usados para mergulho. Os contaminantes
geralmente encontrados em maior grau no hélio com padrão de pureza menor são os hidrocarbonetos
(óleos), mesmo assim, em quantidades bem menores que as encontradas no ar do compressor a ser
misturado com o hélio e com o oxigênio.
11.2.10 - CÁLCULOS PARA MISTURA POR PRESSÃO PARCIAL

O método consiste em adicionar primeiro os gases mais caros (hélio), depois o oxigênio puro
até a pressão necessária e completar com ar até a pressão final desejada.
Ex.: Quais são as pressões parciais de cada gás para realizar uma mistura TX 28/20 a pressão
final de 3000 PSI?
- Começando com o hélio, pois o cálculo é simples e direto, já que esse gás vem de uma única
fonte, que é o cilindro de hélio. Sendo assim, a pressão de hélio será de 20% da pressão total, ou seja,
600 PSI de hélio (0,2 x 3000);
- Neste momento, assim como para o Nitrox, deve ser calculada a pressão de nitrogênio, que
será de 1560 PSI (0,52 x 3000). Sendo assim, para que haja essa pressão de nitrogênio no final da
mistura, é necessário adicionar 1975 PSI de ar (1560 ÷ 0,79), já que o nitrogênio vem do ar;
- Agora que tem-se o valor da pressão de hélio (600 PSI) a ser colocada e a pressão de ar (1975
PSI), basta reduzir esses valores da pressão total para obter-se a pressão de oxigênio puro. Nesse caso,
deve-se adicionar 425 PSI de oxigênio;
146
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- Colocando os gases na ordem, deve ser feito o ajuste para a taxa de compressibilidade do
hélio, ou seja, acrescer 10% na pressão calculada para correção: 660 PSI de hélio;
- Depois se coloca o oxigênio puro, até 1085 PSI (660 PSI + 425 PSI);
- Nesse ponto recomenda-se fazer uma análise da mistura, pois caso tenha havido algum erro,
ainda será possível acertar. Caso tudo esteja correto, tem-se uma análise de 39% de oxigênio;
- Depois basta completar com ar até 3000 PSI e proceder a análise do da mistura.
11.2.11 - ANÁLISE DA MISTURA

A análise da mistura de Trimix é idêntica a de Nitrox, uma vez que a partir da quantidade de
oxigênio na mistura é possível definir a quantidade de hélio. Logo, seguem as mesmas orientações.
Assim como o Nitrox, este é um dos pontos mais importantes para a segurança do mergulhador
que utiliza Trimix. Devido ao perigo de exceder a PMO, as cargas de Trimix devem ser analisadas
pessoalmente antes de iniciar o mergulho com a mistura.
NUNCA MERGULHE SEM ESTAR ABSOLUTAMENTE SEGURO DE QUAL É A
MISTURA PRESENTE NO SEU CILINDRO.
Com relação à análise dos cilindros, devem ser observados os seguintes aspectos:
- Calibragem dos analisadores de oxigênio: Os equipamentos, principalmente os portáteis,
devem ser calibrados antes do uso. A calibragem pode ser feita expondo o sensor ao ar atmosférico e
ajustando a leitura para valores entre 20,9% e 21%;

- Isoladores: Antes de analisar qualquer gás em cilindros duplos, deve ser checado se o
isolador está completamente aberto, a fim de garantir que não há misturas diferentes nos dois cilindros

11.3 - OUTRAS MISTURAS GASOSAS


11.3.1 - HELIOX

Qualquer combinação de hélio e oxigênio, muito comum no mergulho comercial e nas Forças
Armadas. É usada para diminuir narcose e a densidade da mistura, reduzindo ao máximo o esforço
respiratório do mergulhador, o que é de extrema importância para as atividades que exigem maior
esforço físico e para as grandes profundidades. Não é muito utilizada no mergulho recreacional por
conta do elevado custo.

11.3.2 - TRIOX

Qualquer mistura Trimix com mais de 21% de oxigênio. É a evolução do Nitrox, pois traz a
vantagem de maior tempo de fundo sem descompressão e com menos narcose. Sua melhor aplicação é
dos 24 metros aos 40 metros, proporcionando ao mergulhador, além dos benefícios do Nitrox, a
diminuição da narcose e do esforço respiratório. O Triox é extremamente útil quando há necessidade
de se executar tarefas como busca, catalogação, observação detalhada de uma determinada área ou
qualquer situação que exija 100% da capacidade cognitiva do mergulhador. Exemplos de Triox: TX
28/20 (28% de O2 e 20% de He) Tx 30/30 (30% de O2 e 30% de He).

147
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CAPÍTULO 12 - MERGULHO TÉCNICO


Prática de mergulho autônomo avançada, que utiliza equipamentos, técnicas, conhecimentos e
habilidades adicionais para planejar e executar mergulhos que vão além dos limites do mergulho raso:

- Mergulhos a mais de 40 metros de profundidade;

- Mergulhos com descompressão em etapas;

- Penetrações sob teto físico que ultrapassem o limite da luz natural e/ou o limite de distância
linear da superfície maior do que 40 metros;

- Uso de misturas nitrox e oxigênio puro para acelerar as etapas de descompressão;

- Troca de gás durante o mergulho.

12.1 - CONFIGURAÇÃO E EQUIPAMENTOS


12.1.1 - CONFIGURAÇÃO
No mergulho técnico, a configuração de equipamentos é uma questão tão importante como a
física, a fisiologia e o planejamento do mergulho. Apesar de o mergulhador necessitar de uma
quantidade maior de equipamentos, quando comparado ao mergulho raso, devem-se tomar os devidos
cuidados com os exageros de redundância, a fim de evitar o transporte de equipamentos
desnecessários ou em excesso.

A redundância advinda de um sistema de duplas eficiente faz parte do cenário e deve sempre
ser levada em consideração. Sendo assim, o sistema de configuração tem que ser pensado para a
necessidade da equipe e não apenas para um dos mergulhadores.
O uso de configurações diferentes implica em diversas limitações, como:
- Dificuldade nas avaliações e na verificação de segurança pelos diferentes
comportamentos e procedimentos requeridos para cada configuração;
- Como a familiaridade com diferentes equipamentos é menor, a probabilidade de se
detectar possíveis problemas no equipamento do dupla, antes, durante e após o mergulho,
diminui consideravelmente;
- Diminuição da eficiência da equipe no caso de emergência, pois configurações
diferentes na mesma equipe alteram procedimentos e os níveis de eficiência, com
consequente aumento do tempo-resposta;
- Necessidade de portar ferramentas e peças de reposição em maior número, quando
comparados com equipes que usam configurações de equipamentos idênticas.
Na configuração de equipamentos, vários são os aspectos a serem levados em consideração.
Contudo, as palavras-chaves são: segurança e eficiência.
Alguns princípios básicos devem ser usados e analisados em conjunto na montagem e
avaliação de uma configuração segura e eficiente:
- Integração: uma configuração efetiva é, antes de tudo, um sistema em que as
diferentes peças dos equipamentos são montadas com uma visão do todo e na qual tudo tem motivo;
- Simplicidade: o sistema deve funcionar de maneira simples e intuitiva. Essa
característica é ainda mais relevante durante situações de emergência, nas quais ela se presta com
eficiência na redução do tempo-resposta e do stress.

148
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- Minimalismo: o sistema deve ser composto apenas dos elementos necessários para
um mergulho seguro em determinado ambiente, com o objetivo de se reduzir as áreas falhas. Um erro
comum é a violação dessa regra para acomodar redundâncias desnecessárias e/ou exageradas.
- Confiabilidade: as peças do sistema devem funcionar com desempenho adequado no
ambiente para o qual foram projetadas. Vários equipamentos encontrados no mercado, não foram
concebidos para funcionar de forma segura em ambientes de mergulho técnico, que exige a
necessidade de maior resistência à pressão, grande capacidade de fluxo, durabilidade e
compatibilidade com o oxigênio.
- Ergonomia: todas as peças do sistema devem permitir uma boa interação anatômica e
funcional entre o mergulhador e o equipamento, evitando dificuldades motoras e stress muscular
desnecessário.
- Hidrodinâmica: O sistema deve ser compacto e apresentar pequena resistência aos
movimentos e nenhuma possibilidade de enroscos e aprisionamentos. Os equipamentos devem ser
configurados de maneira a aproveitar os espaços e evitar arrasto adicional, sem prejudicar seu
desempenho.
- Compatibilidade: o sistema deve ser aplicável em diferentes ambientes e com a
menor variação. Essas ficam por conta da adição ou eliminação de equipamentos para cada ambiente,
mas a mecânica de funcionamento é a mesma. Isso ajuda na redução do tempo de resposta do
mergulhador, pois os procedimentos de emergência são sempre iguais, independente do ambiente.

12.1.1 - EQUIPAMENTOS

 CILINDROS DUPLOS - Normalmente, são usados cilindros, de aço ou alumínio, com


capacidade acima de 4530 litros (160 pés cúbicos). Esta necessidade dá-se pelo fato dos
mergulhos técnicos serem profundos e com tempos de fundo estendidos. A opção por cilindro
duplo não pode ser feita apenas em termos de maior quantidade de gás. A escolha deve ser
resultado da análise da quantidade de gás necessário para o mergulho, da condição de
flutuabilidade no início e no final da imersão e no conforto que ela pode propiciar ao
mergulhador.

Cilindro duplo para mergulho técnico

 TORNEIRA DUPLA COM ISOLADOR - Esse sistema permite a utilização de suprimento


de gás de ambos os cilindros, simultaneamente ou separadamente, se necessário. Permite

149
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

também, que o mergulhador possa gerenciar os problemas de vazamento de gás de qualquer


um dos cilindros da dupla.

Manifold para cilindro duplo

Visão explodida de um manifold

 BACKPLATE E ARREIO - Backplate: chapa de metal, fabricada em aço inoxidável ou


alumínio, é a melhor escolha para manter todo o equipamento preso ao corpo do mergulhador,
pois, ao contrário de outros sistemas, o backplate e o arreio mantêm o conjunto perfeitamente
ajustado. Arreio: fabricado em nylon contínuo de 5cm, sem costuras, pontos de falha ou
engates rápidos, o arreio tem a função de prender o backplate no mergulhador, além de
permitir que outros equipamentos ou acessórios sejam presos nele.

Modelo de backplate e arreio

 ASA - Também denominada célula, tem a mesma função do colete equilibrador. Disponível
em vários tamanhos, deve ser escolhida de acordo com a flutuabilidade que pode proporcionar.
Para escolher a Asa adequada, o mergulhador precisa levar em conta o seu peso total, contando
todo o equipamento. A flutuabilidade mínima requerida para uma Asa a ser usada em um

150
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

mergulho técnico é de 18 quilos (40 libras), mas o mais comum entre mergulhadores, é o uso
de Asas de 25 quilos (55 libras).

Modelo de Asa

 REGULADOR PARA GÁS DE FUNDO - Peça fundamental para a segurança do


mergulhador, especialmente em mergulhos profundos. Os reguladores balanceados e de alta
performance são recomendados para qualquer mergulho profundo, independente do tipo de
mistura. A utilização de dois reguladores com sistema de conexão DIN é obrigatória, para
diminuir a probabilidade de falha e aumentar a segurança. Características do regulador: o 2º
estágio principal deve possuir mangueira longa de, no mínimo 1,5 metros e no máximo, 2,10
metros; o 2º estágio reserva deve ter mangueira curta, com comprimento podendo variar de 56
centímetros a 71 centímetros; a mangueira do manômetro deve ter comprimento de 61
centímetros.

Modelo de regulador para cilindro duplo

 CILINDRO ADICIONAL (STAGE) - Usado para prolongar o tempo de fundo ou realizar


paradas descompressivas. O stage deve ser de alumínio, devido a flutuabilidade no começo do
mergulho, sendo sua capacidade de volume de gás de 40 ou 80 pés cúbicos.

Modelo de stage
151
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

 REGULADOR PARA STAGE - Deve ser composto por um 2º estágio e um manômetro, de


preferência pequeno, sendo o comprimento da mangueira de 15 centímetros.

Modelo de regulador para stage

 ACESSÓRIOS - As características dos acessórios para mergulho técnico seguem descritas no


capítulo 6 deste manual. São eles: computador de mergulho, carretilha, spool, prancheta de
anotação, lanternas, decomarker e mosquetões.

12.2 - PLANEJAMENTO DO MERGULHO TÉCNICO

O mergulho técnico demanda logística e planejamento mais complexos que o mergulho raso.
Neste mergulho, o mergulhador deverá participar, ativamente, de todas as fases de elaboração do
mergulho.
12.2.1 - FASE PRÉ-PLANEJAMENTO

Essa etapa é de extrema importância para o sucesso e segurança do mergulho. Conhecer


antecipadamente a profundidade, a temperatura da água, a visibilidade média e o tipo de fundo do
local de mergulho, é essencial para determinar os equipamentos e misturas a serem usadas.
12.2.2 - PLANEJAMENTO

O planejamento do mergulho técnico envolve tempo e comprometimento e deve ser realizado


com calma e antecipadamente, para que o mergulho tenha sucesso e os riscos envolvidos sejam
minimizados. Os oito passos abaixo, auxiliam o mergulhador a preparar um planejamento complexo:

1 - Defina os objetivos do mergulho;


2 - Defina os gases a serem usados;
3 - Planeje a descompressão;
4 - Gerencie a quantidade de gás necessário;
5 - Gerencie a exposição ao oxigênio;
6 - Determine a logística;
7 - Identifique os riscos e estabeleça um plano de contingência;

152
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

12.2.2.1 - Definindo os objetivos do mergulho

Acima de tudo, o principal objetivo do mergulho técnico é terminá-lo em segurança. O segredo


para simplificar a missão é analisar o objetivo e dividi-lo em subtarefas a serem realizadas por equipes
diferentes ou pela mesma equipe em vários mergulhos. Uma vez definido os objetivos do mergulho, a
equipe deve determinar a profundidade máxima e o tempo de fundo máximo do mergulho, para que se
possa definir os gases a serem usados.

12.2.2.2 - Definindo os gases a serem usados

Os gases a serem usados no fundo e na descompressão dependem basicamente da


profundidade máxima do mergulho e do tempo de fundo. Estes gases devem ser padronizados para
todos os membros da equipe. Isso evita falhas e facilita o planejamento e os procedimentos de
emergência.
Considerando, por exemplo, um mergulho a 45 metros de profundidade, para determinar a
melhor mistura de fundo deve-se adotar os seguintes procedimentos:

a) Para determinar a fração de oxigênio, basta dividir a PPO 2 desejada pela pressão ambiente,
que a 45 metros é de 5,5 ATAs. Lembrando que nem sempre usar a maior PPO2 é a melhor escolha.
Utilizar uma PPO2 menor quase não altera o tempo de descompressão e diminui o risco de exposição
ao oxigênio.
- 1,4 / 5,5 = 25% de oxigênio;
- 1,15 / 5,5 = 21% de oxigênio.

Logo, a mistura ideal para este tipo de mergulho é o Tx 21/35.

b) O Tx 21/35 nessa profundidade terá uma profundidade narcótica equivalente (PNE) de


aproximadamente 26 metros, pois 65% (O2 + N2) da mistura tem potencial narcótico:
- 5,5 ATAs (45 metros) x 0,65 (fração de O2 + N2 na mistura) = 3,57 ATA = 25,7 metros

c) Para mistura de descompressão, deve-se levar em consideração que, quanto maior a fração
de O2 utilizada, mais acelerada será a descompressão. A mistura EAN50 e O2 100% são bastante
efetivos nesta etapa.

Neste exemplo, o mergulho também pode ser realizado utilizando como mistura de fundo o ar
comprimido, uma vez que a PPO2 máxima (0,21 x 5,5 = 1,15 ATAs) está dentro do tolerável. No
entanto, os cuidados devem ser redobrados, uma vez que deve-se levar em consideração o fator
narcose.

12.2.2.3 - Planejando a descompressão

Além de elaborar o perfil, o planejamento atento e cuidadoso da descompressão deve levar em


conta as contingências para possíveis atrasos e variações de profundidade, além do cenário para perda
de gases de descompressão. O mergulhador deve ser capaz de ajustar e extrapolar os tempos de
descompressão, em função das alterações encontradas durante o mergulho (frio, esforço físico,
alteração no perfil do mergulho, correnteza, etc). Tomando como base o exemplo acima, usando a
mistura de fundo Tx 21/35, teremos a seguinte descompressão:

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Profundidade (m) Tempo de Parada (min) Tempo de Fundo (min) Gás


45 - 40 Tx 21/35
24 1 - Tx 21/35
21 2 - EAN 50
18 1 - EAN 50
15 3 - EAN 50
12 4 - EAN 50
9 6 - EAN 50
6 23 - O2 100%

Para o mesmo perfil, utilizando ar comprimido como mistura de fundo, teremos o seguinte:

Profundidade (m) Tempo de Parada (min) Tempo de Fundo (min) Gás


45 - 40 Ar
24 1 - Ar
21 1 - EAN 50
18 2 - EAN 50
15 3 - EAN 50
12 3 - EAN 50
9 6 - EAN 50
6 19 - O2 100%

Repare que, no perfil com Trimix, o tempo total de mergulho foi de 80 minutos, enquanto que
com ar foi de 75 minutos. Logo, o principal fator a ser levado em conta ao definir a mistura de fundo,
não é a eficiência no tempo de descompressão e sim o fator narcose.
No caso de haver esforço físico, frio ou qualquer outra situação que aumente a probabilidade
de doença descompressiva, deve-se aumentar o tempo de parada aos 6 metros. Deve-se atentar para a
subida dos 6 metros para a superfície, que deve levar, no mínimo, 3 minutos.

12.2.2.4 - Gerenciando a quantidade de gás

Atualmente, a tecnologia oferece diversas maneiras de se planejar o mergulho. Programas e


aplicativos permitem o planejamento real, bem como de contingência. Nesses casos, é possível inserir
informações importantes como o consumo médio do mergulhador, uma vez que, a partir da inserção
desse dado, será calculado se a quantidade de gás disponível será suficiente para realização do
mergulho. Para tanto, deve ser simulada a pior situação possível no mergulho.
Para que o cálculo seja eficiente, é essencial que o mergulhador saiba qual sua média de litros
de gás consumido por minuto.
No exemplo em questão, o cilindro duplo de 15 litros cada, carregado a 200 bar, possui um
total de 6000 litros, o cilindro de 11 litros com EAN 50, carregado a 200 bar, possui 2200 litros e o
cilindro de 11 litros com O2 100%, carregado a 100 bar, possui 1100 litros. Leva-se em consideração
ainda, um consumo médio, por exemplo, de 20 litros por minuto para a mistura de fundo e 17 litros
por minuto para a mistura de descompressão.

154
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Nesse caso, utilizando a mistura Tx 21/35, teremos:

- Litros de gás consumidos com Tx 21/35 = 4606,1 litros


- Litros de gás consumidos com EAN 50 = 621,9 litros
- Litros de gás consumidos com O2 100% = 624,2 litros

Caso a mistura utilizada seja o ar comprimido, teremos:

- Litros de gás consumidos com ar = 4606,1 litros


- Litros de gás consumidos com EAN 50 = 579,5 litros
- Litros de gás consumidos com O2 100% = 515,7 litros

Logo, em ambos os casos, o perfil de mergulho é perfeitamente exequível.

Lembrando que o consumo médio é determinado para situações normais de mergulho. Caso,
antecipadamente, seja verificado a necessidade de esforço físico ou que outras condições sejam
adversas, a média de consumo deve ser aumentada.

A regra dos terços

É um procedimento simples e efetivo, usado para gerenciar o consumo de gás durante


mergulhos técnicos. Consiste, basicamente, em determinar o uso de 2/3 do gás disponível para
realização do mergulho, restando 1/3 para situações de emergência. Para tanto, segue a maneira de
cálculo:

a) Determine a pressão do cilindro;


b) Arredonde a pressão para um valor imediatamente inferior e que seja divisível por 3;
c) Calcule 1/3 desse valor arredondado;
d) Subtraia esse valor da pressão real do cilindro.

Ex: Em um cilindro com 200 bar de pressão, arredonda-se para a pressão imediatamente
inferior (180 bar) e divide-se a mesma por 3 (60 bar). Então, subtrai-se esse valor da pressão real (200
bar), chegando ao valor do terço (140 bar).
Em uma situação de mergulho técnico, deve-se checar a quantidade de gás a ser utilizada
durante o mergulho, verificando se a mesma estaria dentro da margem de 2/3.
No exemplo em questão, foi verificado que, tanto para o mergulho com Trimix, quanto o
mergulho com ar, o consumo do cilindro duplo de 15 litros cada, seria de 4606,1 litros. Considerando
o cilindro carregado a 200 bar, o que totalizaria 6000 litros de gás disponível, 2/3 desse valor daria um
total de 4000 litros, logo, em ambos os casos, o mergulho é exequível, mas desrespeita a regra dos
terços. Nesse caso, o tempo de fundo deverá ser reduzido, por exemplo, para 35 minutos, a fim de que
a regra seja respeitada.

12.2.2.5 - Gerenciando a exposição ao oxigênio

Partindo do princípio que a PPO2 em um mergulho técnico estará sob controle, o mergulhador
deve atentar para % de exposição ao oxigênio no SNC e também para os efeitos de intoxicação
pulmonar. Tabelas, programas e aplicativos virtuais fazem os cálculos destas exposições, trazendo o
valor %SNC e o número de OTUs produzidas depois de cada mergulho. Para efeito de entendimento,
a OTU (oxigen tolerance unit) mede a exposição ao oxigênio para efeito de intoxicação pulmonar. A
preocupação com esta ocorre muito em mergulhos saturados, nos quais o mergulhador não tem a
oportunidade de regressar a superfície e respirar misturas normóxidas. A exceção no mergulho técnico
se faz no caso de vários mergulhos de longa duração, em dias consecutivos ou seguidos de tratamento
155
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

em câmara hiperbárica. Para que se tenha idéia de como funciona, em um mergulho a 75 metros por
40 minutos, o número de OTUs acumuladas durante o tempo de fundo e a descompressão será de 204
OTUs, abaixo do limite diário a partir do décimo primeiro dia, que é de 300 OTUs. Para o primeiro
dia de mergulho, por exemplo, o limite de exposição é de 850 OTUs.

Os breaks

Para mergulhos nos quais os valores de %SNC são maiores que 80%, deve-se fazer “breaks”
de 5 minutos a cada 20 minutos usando o gás de fundo ou o gás de descompressão com menor fração
de oxigênio. O mesmo se aplica aos perfis de descompressão, em que se respira oxigênio puro por
mais de 20 minutos, sendo ou não o valor %SNC maior que 80%. Esse procedimento aumenta a
margem de segurança de exposição ao oxigênio. Esses “breaks” serão aplicados somente na parada
dos 6 metros, tanto para exposições %SNC maiores que 80%, quanto para respirar oxigênio puro por
mais de 20 minutos. Em um mergulho, por exemplo, de 50 metros por 21 minutos, usando Tx 20/40 e
EAN50 e oxigênio na descompressão, haveria necessidade de uma parada de 30 min aos 6 metros com
oxigênio puro e um acumulativo de %SNC de 70%. Nesse caso, o %SNC não ultrapassa 80%, mas o
tempo de uso de oxigênio ultrapassa 20 minutos, logo, o gás deverá ser respirado por 20 minutos,
fazendo um “break” de 5 minutos e voltando a respirar o oxigênio por mais 1 minuto.
Os “breaks” podem ser realizados com o gás de fundo ou com o gás de descompressão com
menor fração de oxigênio. Usar o gás de fundo é operacionalmente mais fácil, pois os reguladores
estão facilmente disponíveis, quando comparado ao regulador do stage. A menor fração de oxigênio
da mistura de fundo torna o “break” mais efetivo. Deve-se atentar porém, para misturas hipóxicas, que
não permitam a respiração aos 6 metros.
Os “breaks” aumentam em muito, a resistência ao aparecimento de sintomas pulmonares de
intoxicação pelo oxigênio. Os limites de OTUs são praticamente impossíveis de serem atingidos,
principalmente com a utilização dos “breaks”. Contudo, o número de OTUs deve ser registrado para o
caso de tratamento hiperbárico e múltiplas exposições por vários dias consecutivos. Os “breaks”
devem ser usados nas paradas rasas sempre que as condições como excesso de dióxido de carbono,
exercício físico e frio estiverem presentes, mesmo que não se atinja os 80%SNC ou os 20 minutos de
oxigênio puro.

O intervalo de superfície e a %SNC

Vários estudos específicos foram realizados para calcular o tempo de recuperação necessário
para os sintomas da intoxicação pulmonar. No entanto, para a exposição do SNC, o único
procedimento existente foi sugerido pelo Dr. Bill Hamilton, que trabalha com um meio-tempo de 90
minutos para a redução da %SNC durante o intervalo de superfície. Por exemplo, no mergulho de 60
metros por 25 minutos com Tx 20/40, EAN50 e oxigênio puro, teríamos, ao final do mergulho,
81%SNC; após 90 minutos, segundo o proposto por Hamilton, esse valor seria cerca de 40% SNC; e
após 180 minutos de intervalo de superfície, seria em torno de 20%SNC. Se um segundo mergulho for
realizado antes da eliminação do oxigênio residual, este deverá ser levado em consideração no
planejamento do mergulho seguinte.

12.2.2.6 - Determinando a logística

Neste ponto do planejamento, já são conhecidas as necessidades de misturas, recarga, número


de cilindros, mergulhadores de apoio e equipamento de emergência. Faz-se necessário a partir de
então, obter o máximo de informações possíveis sobre o ponto de mergulho, que são cruciais para se
determinar a logística da operação.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Procedimentos de descompressão

Quanto mais fundo e longo for o mergulho, maior será a descompressão e a duração total do
período da operação. Principalmente no mar, quanto maior for a duração da operação, maior será a
probabilidade de mudança de tempo, alteração da correnteza e visibilidade. A fase de descompressão,
muitas vezes, tem duração maior que o tempo de fundo; sendo assim o procedimento de
descompressão deverá ser escolhido cuidadosamente, de acordo com as características do ambiente e
do mergulho.

12.2.2.7 - Identificando os riscos e estabelecendo um plano de contingência

O risco da operação de mergulho técnico deve ser calculado levando-se em conta os diversos
fatores envolvidos e a relação entre eles, pois um acidente de mergulho geralmente é causado por uma
cadeia de erros. Todos os mergulhos envolvem riscos, mas alguns tem complexidade e nível de risco
maior e por isso exigem avaliação e planejamento mais cuidadosos. Para avaliar o risco de
determinado mergulho, deve-se levar em consideração a periculosidade de cada evento e a
possibilidade dele acontecer. Esses fatores podem variar de situação para situação. O risco de ficar
sem gás é alto, embora seja menos provável de acontecer em alguns mergulhos do que em outros. O
mesmo acontece com a possibilidade de ficar à deriva no mar, que varia muito com as condições do
mergulho. Um bom procedimento é montar uma tabela de risco para cada situação de mergulho. A
gravidade e a probabilidade de determinado evento está relacionada ao risco de vida que ele oferece.
Definir a probabilidade de determinado evento acontecer é de extrema importância para se calcular o
risco geral e evitar preocupação exagerada com algo que tenha uma probabilidade mínima de
influenciar no planejamento. Esta pode variar muito para um evento, dependendo das condições do
mergulho.

Procedimentos de emergência padronizados

Alguns procedimentos básicos de emergência variam muito pouco em função das condições de
mergulho. Eles podem ser discutidos e aprimorados durante o planejamento, mas normalmente são de
resposta padronizada, principalmente as emergências durante a descompressão. Os procedimentos a
seguir levam em conta um cenário, em que a câmara hiperbárica está acessível em até 4 horas.

a) Atraso na subida e descompressão


1 - Se o atraso foi no tempo de fundo, antes da primeira parada, considere como tempo de
fundo, logo, deve-se consultar o planejamento de segurança e adotar o novo perfil;
2 - Se por algum motivo, o mergulhador não puder usar a descompressão do novo perfil, deve-
se realizar as paradas profundas e aumentar o tempo de parada aos 6 metros;
3 - Se houver atraso em uma ou mais paradas, por mais de 3 minutos, aumente o tempo de
parada aos 6 metros e não deve contar o tempo de atraso como descompressão.

b) Omissão de paradas profundas de descompressão


1 - Retornar a profundidade da parada omitida o mais rápido possível;
2 - Cumprir as paradas profundas e aumentar o tempo na parada aos 6 metros;
3 - Caso não seja possível retornar a profundidade da parada e o número de paradas profundas
omitidas for grande, aumenta-se o tempo nas paradas de 12 metros em torno de 30%, aos 9 metros em
torno de 40% e aos 6 metros pelo menos 50%.

c) Omissão de descompressão na parada aos 6 metros


1 - Se omitir a parada aos 6 metros, com intervalo de superfície de até 10 minutos e sem
aparecimento de sintomas, retorna-se a parada dos 6 metros e aumenta-se a descompressão, por pelo
menos o dobro do tempo que faltava ser cumprido;
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

2 - Caso haja aparecimento de sintomas ou intervalo de superfície maior que 10 minutos, deve-
se subir a bordo e executar os procedimentos de emergência para doença descompressiva.

d) Aparecimento de sintomas de DD quando submerso


Apesar de raro, o aparecimento de sintomas de doença descompressiva durante a
descompressão pode ocorrer. Geralmente, aparecem em profundidades mais rasas. Caso os sintomas
apareçam:
1- Informar o dupla do mergulho e mergulhadores de apoio. Deve-se fazer o sinal de DD e
tentar informar os procedimentos;

Sinal de doença descompressiva

2 - Se for possível, tentar completar a descompressão e aumentar o tempo de parada aos 6


metros, usando oxigênio puro até o limite do gás ou limite fisiológico;
3 - O ideal é que o mergulhador seja monitorado, o tempo todo, por pelo menos 2
mergulhadores;
4 - A equipe de superfície deve ser informada, para preparar os procedimentos de emergência,
primeiros socorros e evacuação até a câmara hiperbárica.

e) Intoxicação do SNC na descompressão


1 - Caso haja o aparecimentos de algum dos sintomas da COVANTIT, deve-se trocar a mistura
para o gás de fundo, ou se não for possível, para mistura descompressiva mais pobre e respirar por
pelo menos 5 minutos, antes de voltar ao gás de descompressão que estava sendo usado;
2 - Informar o dupla do mergulho e o mergulhador de apoio. Deve ser solicitada ajuda e
monitoramento constante;
3 - Diminuir o tempo de descompressão na parada rasa o máximo possível. Deve ser evitado o
uso de oxigênio 100%, mas caso tenha que ser usado, a parada dos 6 metros deve ser cumprida, ao
invés dos 6 metros, aos 4 ou 3 metros;
4 - No caso de uma convulsão, o dupla e o mergulhador de apoio devem levar a vítima direto
para a superfície, após o término da fase tônica da convulsão, para que não ocorra uma síndrome de
hiperexpansão pulmonar;
5 - A vítima de convulsão deve ser tratada com os procedimentos de primeiros socorros para
doença descompressiva, inclusive com administração de oxigênio puro. Caso a vítima convulsione na
superfície, deve-se fazer “breaks” a cada 5 minutos no O2. A convulsão hiperóxica não deixa sequelas
e o oxigênio é importante para diminuir as consequências do provável quadro de doença
descompressiva.

f) Primeiros socorros para doença descompressiva


Devem ser seguidos os procedimentos padrões: avaliar, decidir, coordenar e reportar:
1 - Avaliação primária;
2 - Administração de oxigênio 100%;

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3 - Hidratação por via oral em vítimas conscientes. Se possível, aplicar hidratação por via
intravenosa, que deve ser feita por pessoal médico treinado;
4 - Avaliação secundária;
5 - Evacuação para câmara hiperbárica.

12.3 - CONSIDERAÇÕES

O objetivo principal de um planejamento de mergulho é minimizar os riscos e permitir que a


operação seja executada com segurança. Por vezes, mesmo depois de realizar todo o trabalho de
preparação da logística, a situação de mergulho que se encontra, pode apresentar um nível de risco não
aceitável para um ou mais membros da equipe. A “regra de ouro” é clara: qualquer mergulhador pode
encerrar um mergulho, por qualquer motivo, em qualquer momento.

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CAPÍTULO 13 - HIDROGRAFIA
A hidrografia é o ramo da geografia física que estuda as águas do planeta, abrangendo portanto
rios, mares, oceanos, lagos, geleiras, água do subsolo e da atmosfera. A grande parte da reserva
hídrica mundial (mais de 97%) concentra-se em oceanos e mares, com um volume de 1.380.000.000
km³. Já as águas continentais representam pouco mais de 2% da água do planeta, ficando com um
volume em torno de 38.000.000 km³.

13.1 - HIDROGRAFIA DO BRASIL

O Brasil tem um dos maiores complexos hidrográficos do mundo, apresentando rios com
grandes extensões, larguras e profundidades. A maioria dos rios brasileiros nasce em regiões pouco
elevadas, com exceção do rio Amazonas e de alguns afluentes que nascem na cordilheira dos Andes.
O Brasil possui 8% de toda a água doce que está na superfície da Terra. Além disso, a maior bacia
fluvial do mundo, a Amazônica, também fica no Brasil. Somente o rio Amazonas deságua no mar, um
quinto de toda a água doce que é despejada nos oceanos.

Definições:
- Rio: é um curso natural de água, usualmente de água doce, que flui no sentido de um oceano,
um lago, um mar, ou outro rio. Em alguns casos, um rio simplesmente flui para o solo ou seca
completamente antes de chegar a outro corpo d'água. Pequenos rios também podem ser chamados por
outros nomes, incluindo córrego, riacho, riachuelo, canal e ribeira. Não existe uma regra geral que
define o que pode ser chamado de rio, embora em alguns países ou comunidades, um fluxo pode ser
definido pelo seu tamanho. O rio faz parte do ciclo hidrológico. A água de um rio é geralmente
coletada através de escoamento superficial, recarga das águas subterrâneas, nascentes, e a liberação da
água armazenada em gelo natural (por exemplo, das geleiras);

- Lago: é uma depressão natural na superfície da Terra que contém, permanentemente, uma
quantidade variável de água. Essa água pode ser proveniente da chuva, de uma nascente local, ou de
curso de água, como rios e glaciares geleiras que desaguem nessa depressão. A quantidade de água
que um lago contém depende do clima regional. As dimensões dos lagos são muito variáveis, desde
alguns metros até várias centenas de quilômetros, como são os Grandes Lagos da América do Norte
ou os Grandes Lagos Africanos. A sua profundidade também varia desde alguns centímetros até várias
centenas de metros - o Lago Baikal, na Sibéria, é o mais profundo do mundo, com 1680 metros;

- Lagoa: é um corpo de água com pouco fluxo, mas geralmente sem água estagnada, podendo
ser natural ou feita pelo Homem (artificial), e é usualmente menor que um lago. Uma larga variedade
de corpos d'água feitos pelo homem é classificada como lagoas, incluindo jardins d'água desenhados
para ornamentação, tanques para a produção comercial de peixes e tanques solares para o
armazenamento de energia termal. Lagoas e lagos são diferenciadas de córregos, rios e outros cursos
d'água, via velocidade da corrente. Enquanto as correntezas são facilmente observadas, lagoas e lagos
possuem microcorrentezas conduzidas termicamente e correntes provocadas pelo vento. Essas
características distinguem uma lagoa de muitos outros acidentes geográficos com características de
terreno aquático, como as piscinas naturais formadas pelas marés;

- Barragem, Açude ou Represa: é uma barreira artificial, feita em cursos de água para a
retenção de grandes quantidades de água. A sua utilização é, sobretudo, para abastecer de água,
zonas residenciais, agrícolas, industriais, produção de energia elétrica (energia hidráulica), ou
regularização de um caudal.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

13.2 - OS RIOS E SUAS CARACTERÍSTICAS


13.2.1 - RIOS DE PLANALTO E PLANÍCIE
Devido à natureza do relevo, no Brasil predominam os rios de planalto, que apresentam
rupturas de declive, vales encaixados, entre outras características, que lhes conferem um alto potencial
para a geração de energia elétrica. Encachoeirados e com muitos desníveis entre a nascente e a foz, os
rios de planalto apresentam grandes quedas d’água. Assim, em decorrência de seu perfil não
regularizado, ficam prejudicados no que diz respeito à navegabilidade. Os rios São Francisco e Paraná
são os principais rios de planalto.

Em menor quantidade, temos no Brasil os rios que correm nas planícies, sendo usados
basicamente para a navegação fluvial, por não apresentarem cachoeiras e saltos em seu percurso.
Como exemplo, podem ser citados alguns rios da bacia Amazônica (região Norte) e da bacia
Paraguaia (região Centro-Oeste, ocupando áreas do Pantanal Mato-Grossense). Entre os grandes rios
nacionais, apenas o Amazonas e o Paraguai são predominantemente de planície e largamente
utilizados para a navegação.

Apesar da maioria dos rios brasileiros nunca secar, alguns apresentam características curiosas,
como por exemplo o Jagauribe (Ceará), que desaparece nas secas, e o Paraguaçu (Bahia), que se torna
subterrâneo e depois volta a ficar visível.

Rio de Planalto Rio de Planície


13.2.2 - DINÂMICA DOS RIOS
13.2.2.1 - Orientação dos Rios
- Rio abaixo: Sentido para onde a água corre;
- Rio acima: Sentido de onde a água vem;
- Direita do rio: Olhando rio abaixo, é a margem direita; e
- Esquerda do rio: Olhando rio abaixo, é a margem esquerda do rio.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

13.2.2.2 - Força da Água


A velocidade da correnteza é o que dá poder a água. Como se não bastasse, a correnteza traz
objetos, grandes e pequenos, que podem se transformar em aríetes se não forem identificados a tempo
pela equipe que está executando o salvamento, o que pode colocar toda a operação em risco. Cabe
salientar que quanto mais água houver no local da correnteza, mais alta será a coluna de água e,
consequentemente, mas rápida ela ficará, ou seja, mais poderosa. Segue abaixo uma tabela com a
força da água em relação à velocidade que ela adquire.

13.2.2.3 - Características da Correnteza:


A correnteza no rio, diferente do que aparenta, possui um padrão facilmente reconhecido, tanto
em relação a sua direção quanto em relação a sua força. Abaixo temos as linhas de força de um rio
qualquer:

10.2.2.4 - Leitura das Corredeiras

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Chamamos de "ler" a corredeira ou o rio, o ato de, visualmente, detectar obstáculos, remansos,
refluxos, a linha d'água entre outros componentes presentes no rio. Segue abaixo as explicações e os
desenhos ilustrativos de tais obstáculos:

- REMANSO: lugar onde a água fica parada e, às vezes, até pega um sentido contrário ao da
corrente, geralmente atrás de um obstáculo dentro da correnteza (pedra, poste, carro, etc), podendo
acontecer próximo às margens, após uma curva do rio, córrego ou curso d'água.

- REFLUXO: é uma turbulência causada pela passagem da água por cima de algum obstáculo,
causando um efeito parecido com o de um liquidificador, podendo até puxar para o fundo algum
objeto que esteja flutuando entre a linha d'água e o obstáculo que o criou.

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- REFLUXO ABERTO: é um refluxo que, devido ao seu formato, tende a jogar o objeto
aprisionado para fora pelas laterais do refluxo.

- REFLUXO FECHADO: é um refluxo que, devido ao seu formato, tende a manter o objeto
dentro dele. Representa um risco para bombeiros e vítimas, pois uma vez nele a única saída é rio
abaixo.

- REFLUXO RETO: é um refluxo, geralmente formado por barreiras ou degraus naturais,


que tendem a manter o objeto dentro dele. Este refluxo é o mais perigoso de todos.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- ONDAS ESTACIONÁRIAS: são ondas formadas geralmente por um afunilamento do rio,


canal ou corrente, sendo que também pode ser encontrada após um obstáculo submerso.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CAPÍTULO 14 - OPERAÇÕES DE BUSCA E RESGATE

14.1 - PESSOAL E LOGÍSTICA NAS OPERAÇÕES


14.1.1 - PESSOAL
Em uma operação padrão de busca, a equipe ideal deve conter, no mínimo 4 mergulhadores,
que exercerão as seguintes funções:

- Supervisor do mergulho: Mergulhador mais antigo da equipe. Responsável por dimensionar


a logística a ser utilizada na operação, o método de busca adequado de acordo com a situação
apresentada, lidar com familiares, autoridades ou outras OBMs presentes, planejar, controlar e
registrar o perfil de mergulho dos mergulhadores, resolver problemas diversos que possam surgir no
decorrer da operação e verificar locais de apoio médico para caso de acidentes, bem como gerenciar
os mesmos caso ocorram. Pode ainda exercer a função de mergulhador de emergência (“sardinha”) se
necessário;

- Controlador do mergulho: Mergulhador responsável por orientar a busca dos


mergulhadores de fundo, de acordo com a área determinada pelo supervisor. Deve oferecer atenção
exclusiva à busca, sempre checando se a situação está sob controle, que pode ser feita através do
“cabo da vida” ou da observação da emissão de bolhas pelos mergulhadores, repassando a situação de
momento ao supervisor. Responsável ainda por substituir o supervisor quando do seu impedimento e
exercer a função de mergulhador de emergência (“sardinha”) quando houver necessidade;

- Mergulhadores de fundo: Mergulhadores responsáveis por realizar as buscas no fundo do


meio líquido. Um dos mergulhadores, de acordo com o definido pelo supervisor, deve ser aquele que
estará em contato direto com a superfície através do “cabo da vida”, repassando os toques recebidos
aos demais mergulhadores. Tem por premissa básica, quando houver utilização de cabo, mante-lo
sempre retesado, indicando assim, que a busca transcorre dentro do planejado;

- Mergulhador de emergência (“sardinha”): Mergulhador responsável por atuar em


situações de emergência com os mergulhadores que estiverem no fundo do meio realizando as buscas.
Deverá estar com todo o equipamento pronto para ser empenhado quando necessário. Esta função
pode ser exercida pelo supervisor ou controlador de mergulho.

14.1.2 - EQUIPAMENTOS
A logística a ser utilizada em uma operação ficará a cargo do supervisor do mergulho, que
determinará os equipamentos a serem preparados, de acordo com o tipo de ocorrência.

O fato da maioria das ocorrências atendidas pelos mergulhadores de resgate do CBMERJ


serem em rios, que possuem diversos obstáculos naturais (galhos de árvore, pedras, etc) e propositais
(detritos jogados pelo homem, etc), faz com que os equipamentos de mergulho autônomo a serem
utilizados, sejam reduzidos ao mínimo necessário, evitando assim, a possibilidade do mergulhador
ficar preso a um desses obstáculos.

Os equipamentos considerados “padrão” para a maioria das buscas são os seguintes:

- Equipamento individual (máscara, nadadeira, snorkel, luvas, capuz, faca);

- Roupa e bota de neoprene com até 5mm;

- Cinto de lastro com pedras de 2 ou 3kg;


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- Cilindros de mergulho de 11 litros;

- Back-Pack;

- Reguladores simples (1º e 2º estágio);

- Cabo náutico confeccionado por material resistente, com diâmetro entre 8 e 11mm;

- Bóia sinalizadora;

- Material para remoção de vítimas fatais (sacos e luvas para cadáveres).

Ratificando que é função do supervisor, verificar os equipamentos necessários, de acordo com


a peculiaridade da ocorrência.

14.1.3 - EMBARCAÇÕES E MOTORES DE POPA


14.1.3.1 - Embarcações

Os tipos de embarcações a serem utilizadas nas operações de busca e resgate subaquáticas,


devem ser de acordo com o local de operação.

Geralmente, quando a operação ocorre em águas abrigadas, o ideal é a utilização de botes


infláveis de fundo rígido ou semi-rígido com no máximo 5 metros de comprimento e motor de popa
com potência para vencer correntezas. Estes botes possuem boa estabilidade na água, facilidade de
serem transportados e guardados, possibilidade de reparo no local dependendo do problema,
capacidade para suportar motores de popa de até 35HP.

Quando a operação ocorre em águas abertas, o ideal é a utilização de embarcações de fibra


com comprimento maior do que 6 metros, com motor de centro com potência suficiente para vencer
correntezas, além de razoável estabilidade em mares agitados. No entanto, botes infláveis de fundo
rígido e motor de centro não deixam de ser boas opções para esse tipo de operação.

Modelos de botes infláveis

Cuidados com bote inflável: Esses procedimentos visam aumentar a vida útil do bote,
garantindo a eficiência do mesmo quando necessário:

- Guarde sempre o bote sob uma cobertura que impeça a ação do sol sobre o mesmo. A
exposição ao sol resseca o material e desassocia a colagem por conta da ação dos raios ultravioletas;

- Em caso de uso de lona para cobrir o bote, use somente alpargatas ou amazonas. Evite lonas
de algodão ou plástico, pois estas podem fazer com que a temperatura interna fique maior que a
externa, aumentando o ressecamento do tecido ou danificação da colagem;

167
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- Evite arrastar o bote no deslocamento até a água;

- Evite uso de produtos químicos no bote;

- Nunca guardar o inflável molhado e nem totalmente cheio;

- Recomenda-se aplicação periódica de emulsão e silicone para reidratar o tecido;

- Quando estiver exposto ao sol ou calor intenso, deve-se controlar a pressão dos
compartimentos, que não pode ultrapassar: 4 lb Zefir, 6,5 lb Flexboat, 2,5 lb Nautika, 7 lb Poddium;

- A quilha central, quando em navegação, deverá estar sempre cheia;

- Não usar motorização superior ao recomendado pelo fabricante;

- Aplicar, periodicamente, verniz nas partes de madeira;

- Quando o inflável estiver na água, jogue água periodicamente sobre os tubulões, para evitar o
rompimento das emendas;

Procedimentos para casos de furos: Estes procedimentos visam solucionar furos superficiais
que ocorram no inflável. Em caso de furos profundos, o bote deve ser levado a uma assistência técnica
específica.

- Ter em mãos um kit para reparo de furos superficiais. Para botes infláveis, deve conter, no
mínimo, um tubo de 100 ml de cola específica para tecido emborrachado, 100 ml de toluol, 10 ml de
catalisador, dois pedaços de lixa fina (de cerca de 5 x 5 cm), quatro pedaços de tecido (de 10 X 20
cm), e um pincel de pelos grossos. Além disso, faz-se necessário tesoura e sabão;

- Pegue um balde com água e sabão. Com o barco fora d´água, limpo, seco e ainda cheio de ar,
passe uma esponja com esta mistura por toda a superfície onde existe a suspeita de furo, para localizá-
lo;

- Retire todo o ar do barco. Depois, pegue uma das tiras de tecido que acompanham o kit de
reparo do bote e com uma tesoura, recorte-o no formato de um quadrado. O tamanho do recorte vai
depender, obviamente, do tamanho do furo. Mas, pela regra geral, ele deve ter, pelo menos, três
centímetros a mais em todos os lados;

- Pegue o tecido recortado e coloque-o sobre a área afetada para demarcar seu contorno na
borracha. Os cantos do quadrado são arredondados, para evitar que as pontas se descolem;

- Com a área já demarcada, use um dos pedaços da lixa que acompanha o kit e esfregue-a
sobre a área danificada, a fim de torná-la bem áspera. Porém, tomando a precaução de afastar todo o
pó de borracha que se formar. Repita o mesmo processo o tecido recortado;

- Com um pequeno pano, de preferência branco, para não manchar a borracha, e umedecido
com o solvente que acompanha o kit (também chamado de "toluol"), limpe bem a área que foi lixada;

- Agite bem o frasco de cola e adicione a ele um pouco do catalisador que também acompanha
o kit. A proporção deve ser de cerca de 10%. Depois, com o próprio pincel, misture bem. Outra opção
é usar uma tigela, de preferência de vidro, para misturar a cola e o catalisador;

- Pincele a parte afetada e o remende com uma camada fina da solução cola- catalisador.

168
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Espere 15 minutos e pincele novamente outra camada fina, deixando secar por mais 10 minutos. Caso
seque totalmente, use um pequeno pano umedecido com o solvente para reativar a cola;

- Em seguida, aplique uma camada fina do solvente no remendo com outro pedaço de pano
branco. Depois, com o mesmo pedaço de pano, umedecido com solvente, aplique no próprio barco,
para "ativar" a cola;

- Grude o remendo e com uma espátula (ou qualquer pedaço de madeira), pressione bem, para
espalhar a cola e fixar o pedaço de tecido. Depois, com o mesmo pano branco umedecido com
solvente, limpe toda a área ao redor da colagem;

- Depois de colado, guarde-o em local arejado, protegido da chuva e não use nem infle o bote
por um dia, para certificar-se de que todo o processo foi bem feito. Depois, é só encher novamente e
voltar a usá-lo. Com o bote cheio, aproveite e passe uma esponja com esta água e sabão por toda a
superfície da colagem para certificar-se de que o furo foi, definitivamente, tapado.

Procedimentos para casos de bote emborcado: Caso o bote utilizado pela guarnição venha a
emborcar (virar de cabeça para baixo) durante a operação, devem ser adotados os seguintes
procedimentos, que podem ser realizados por um ou mais mergulhadores:

- Certificar-se que o bote esteja em um local seguro, preferencialmente sem correnteza. Caso
haja correnteza, providenciar uma amarração para evitar que o mesmo se desloque;

- Guarnecer um cabo com diâmetro mínimo de 8mm, dividindo-o ao meio. Seu comprimento
total deverá ser, no mínimo, o mesmo da distância entre um flutuante submerso e o oposto não
submerso;

- Amarrar as extremidades do cabo no flutuante submerso, sendo uma extremidade amarrada


na popa e a outra na proa, devendo o seio do cabo passar sobre o bote;

- O mergulhador deverá posicionar-se sobre o flutuante oposto ao que o cabo está amarrado,
segurar o cabo unindo as duas partes e tracioná-lo (jogar o peso do corpo para trás) até que o bote
esteja na posição de queda;

- Assim que o bote estiver em posição de queda, o mergulhador deverá lançar-se a água,
afastando-se do bote, a fim de evitar que o mesmo o atinja.

Procedimentos para desvirar bote emborcado

14.1.3.2 - Motores de Popa

Por definição, motor de popa é um motor com um ou mais hélices, destinado a possibilitar o
deslocamento de canoa ou bote, ou também em alguns navios e lanchas, em determinado meio
aquático, seja em lago, rio, mar, oceano, etc.
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

A correta utilização do motor, seja em operação ou manutenção, é de fundamental importância,


pois se depende desse equipamento para o sucesso de uma operação.

Modelos de motores de popa

Dicas para bom funcionamento do motor de popa

- Para motores "2 tempos", use sempre óleo TCW3. Lembre-se de ter óleo de reserva;
- Motores usados no litoral devem trabalhar com a proporção de 40/1. Em água doce, a
proporção deve ser de 50/1 (válido para motores sem autolub);

- Quando ficar vários dias sem usar o motor, funcione-o até esgotar a gasolina do carburador.
Se o motor tiver válvula no conector, aperte-o para entrar ar na tubulação e secar a bomba de gasolina;
- Se o motor estiver com o rotor de bomba d'água original, esse tem validade de 3 anos ou 60
horas de uso em média, dependendo do tipo de água;
- Se o rotor do motor for paralelo, sua troca deverá ser feita a cada ano ou 30 horas de uso em
média;

- O óleo da rabeta deverá ser trocado a cada 60 horas. Verificar o nível a cada 30 horas.
Observar se não tem água misturada;
- Ter de reserva junto ao barco algumas peças: hélice, velas e um rotor de bomba d'água;
- Vantagens do motor 2 tempos: Mais leve, maior potência e manutenção mais barata;

- Desvantagens do motor 2 tempos: Mais barulhento, consome mais gasolina e mais óleo. É
muito poluente para o ar e para a água;
- Vantagens do motor 4 tempos: É muito silencioso, consome pouco combustível e pouco óleo.
Não usa óleo junto com o combustível. O óleo fica no carter (dentro do motor). Sabendo usa-lo é mais
durável;
- Desvantagem do motor 4 tempos: É mais caro que o motor 2 tempos, tem manutenção mais
cara, é mais pesado e tem menos potência.

- Durante a navegação, verifique sempre se o sistema de resfriamento do motor está ativo, nos
motores de popa há um esguicho bem visível. Se ele (o esguicho) parar, verifique o rotor da bomba de
água e a tomada de água, que pode estar entupida. Desobstruir a tomada de água pode ser simples.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Dicas para adoçamento de motor de popa

1 - Tirar o capô do motor;


2 - Verificar se há algum vazamento de combustível, cabo de vela solto, ou alguma outra
alteração;
3 - Colocar o “telefone” ou mangueira d´água na rabeta;
4 - Verificar se a pressão da água está boa (nos motores de popa há um orifício na lateral que
espirra água com boa pressão, se a pressão for baixa este orifício vai sair pouca água);
5 - Ligar o motor sem acelerar (além do motor já estar quente, NUNCA se acelera fora
d’água);

6 - Verificar se a água está retornando pela descarga;


7 - Verificar a água que sai, se estiver muito preta ou com óleo. Caso esteja, pode ser um
problema. A água deve sair limpa com um leve depósito de carvão;
8 - Verificar se o jato d´água do motor está com pressão;

9 - Será notado, que após alguns minutos a água começará sair por outras saídas. Estas saídas
estão ligadas ao termostato, isto significa que os termostatos estão se abrindo;
10 - Deixar, a partir deste ponto, o motor funcionar por 10 minutos, sempre verificando a
pressão dá água e a temperatura do motor, COMO? Pela água que sai na descarga, se ela estiver
fervendo, significa que a pressão da água esta pouca, mas se a água ficar somente quente, isto é
normal;
11 - Desligar o motor e levantar a rabeta para se lavar embaixo, aproveitando para verificar os
anodos, nesta área é comum juntar as “cracas”, não deixar acumular, lavar bem, com água;

12 - Abaixar a rabeta e lavar o motor. Aguardar um pouco para que não haja choque de
temperatura, provocando uma rachadura no bloco. Lavar o motor com mangueira com pressão baixa
de cima para baixo, somente nos cabeçotes e na descarga, nos motores de popa, da metade do volante
para trás sem molhar o motor de arranque.
14 - Aplicar spray do fabricante no motor todo, ou vaselina, mas sem excesso;
15 - Colocar o capô no motor, dando polimento com cera de carro uma vez por mês. Nos
motores escuros é comum encontrar manchas de sal na coluna, neste caso, esfregar uma esponja com
vinagre, várias vezes e depois aplicar a cera, a mancha vai sair.
Mitos e Fatos sobre motor de popa

Este ponto visa esclarecer algumas dúvidas e procedimentos ora tidos como corretos sobre os
motores. A partir daí, auxiliar para uma melhor utilização e manutenção dos mesmos. Seguem
algumas afirmações e seus devidos esclarecimentos.

“Pode-se ligar o motor, mesmo que por poucos segundos, sem ligar a água”.

Explicação: O rotor da bomba d’água e de borracha é instalado dentro de uma caixa de aço,
sem água. O atrito da borracha irá danificar o rotor, quebrando as pontas das aletas do rotor, que irão
comprometer a refrigeração do motor ou até entupir o sistema de refrigeração. Se um motor funciona
a 1.300RPM, em 1 segundo girará 21 vezes.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

“Pode-se dar chupeta na bateria de um motor de popa”.

Explicação: Os motores de popa, em sua grande maioria, são dotados de um componente


chamado Regulador e Retificador de voltagem. A função dele, como o nome já diz, é retificar a
voltagem de alternada para contínua e regular para 12 volts. Acontece que se a bateria estiver fraca, o
regulador terá que “trabalhar” muito para repor a voltagem da bateria e o resultado da retificação e
regulagem da voltagem é transformada em calor. Por isso o Regulador Retificador é refrigerado a
água, mas não o suficiente para dissipar todo o calor e o resultado é a queima dos diodos internos e o
isolamento da carcaça, que poderá acarretar danos ao estator, posteriormente ao módulo de ignição.

“O motor está falhando, deve ser um cisco, então se acelerar o motor em ponto morto, o
cisco sai pela descarga”.

Explicação: Os pequenos entupimentos são causados por depósito de sedimentos da reação da


gasolina velha com a cuba do carburador. São partículas sólidas e estas não irão desobstruir com a
aceleração. Se o motor estiver com a linha de combustível pressurizada não há motivo para acelerar o
motor em ponto morto. Um técnico pode acelerar o motor, pois estará verificando a aceleração e o
retorno desta. Caso o motor demore a votar a ficar em lenta significa que o motor está trabalhando
pobre ou existe uma entrada falsa de ar nos carburadores.

“Não se deve lavar o motor por dentro, pois a água pode entrar no cilindro”.

Explicação: O motor precisa de ar para fazer a mistura. Este ar é “respirado” pelo motor do
ambiente em que estiver sendo usado. Quando usado em água salgada, o ar absorvido contém
partículas de água e sal e a água, quando entrar em contato com o bloco quente do motor irá evaporar,
mas o sal não. Quando o sal estiver em ambiente úmido e quente e em contato com o bloco, velas e
parafusos do motor irão provocar uma oxidação. Para evitar que isso ocorra, é recomendável lavar o
motor nos cabeçotes, nas velas e na base do motor com água doce e principalmente com baixa
pressão. Não lave o motor logo após desligá-lo, evitando assim um choque térmico no motor. Após
lavá-lo, aplique um spray à base óleo orgânico fino ou silicone, para proteger o motor e seus
componentes.

“Deve-se sempre adicionar óleo dois tempos na gasolina, independente do tanque de óleo
do motor”.

Explicação: Os sistemas de lubrificação automática, se estiverem funcionado corretamente,


irão misturar o óleo na gasolina na proporção de 1:50 ~ 1:60. Qualquer excesso de óleo ira contribuir
para a carbonização do motor e com isso reduzir a vida útil do motor. Se o sistema não estiver
operando corretamente, primeiramente conserte o defeito e logo após o reparo. Adicione 1:50 no
primeiro tanque para garantir se o reparo deu certo, assim não colocando em risco a lubrificação do
motor.
14.2 - BUSCA SUBAQUÁTICA

A busca subaquática, também chamada de varredura, é o meio empregado pelo MG, para
recuperar e trazer à superfície, bens e vítimas que, por algum motivo, encontram-se perdidos(as) no
fundo do meio líquido. Dependendo do relevo, material disponível, dimensão do objeto a ser
procurado e visibilidade, o mergulhador irá optar pelo melhor tipo de varredura a ser empregado
durante o serviço, devendo, portanto, “mapear” o fundo, centímetro por centímetro.

No serviço do Corpo de Bombeiros existe ainda uma peculiaridade. As varreduras não são
realizadas apenas em lagoas, lagos ou locais de “água parada”, mas principalmente em rios, com
172
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

correntezas que realmente “testam’ a habilidade, técnica e coragem do mergulhador de resgate. Por
isso, é imprescindível que o mergulhador esteja bem física, técnica e, sobretudo, psicologicamente,
pois enfrentará situações de alto risco que exigirão um perfeito entrelaçamento e sincronismo dessas 3
(três) características, principalmente quando a visibilidade no mergulho for reduzida e quando o
mergulhador tiver que fazer uso de cabos e equipamentos específicos do CBMERJ (desencarcerador,
tirfor, etc).

As buscas podem ser realizadas em superfície, com embarcações pneumáticas (quando a


visibilidade permitir), com snorkel (economiza ar do cilindro, devendo ir ao fundo somente quando
for necessário) ou em profundidade, também com o apoio da equipe de superfície (cabos). No
CBMERJ, ficou estabelecido pelos mergulhadores o grau dado à visibilidade do local, variando de 0
(zero) a 5 (cinco), do mais escuro ao mais claro, respectivamente. (Ex: mergulho no rio Guandú -
escuridão total – visibilidade ZERO).

Uma vez que a área a ser pesquisada tenha sido estabelecida, é hora do supervisor de mergulho
determinar qual tipo de padrão será utilizado. A decisão é baseada em:

• Tamanho da área;
• Recursos disponíveis;
• Correnteza;
• Profundidade;
• Objeto da busca;
• Provável contorno ou formato do fundo;
• Obstáculos conhecidos ou presumidos; e
• Outras possíveis variáveis.

O fato da maioria das ocorrências serem em rios, faz com que alguns padrões de busca sejam
adaptados a esta realidade. Devido à visibilidade restrita e forte correnteza nos rios, é imprescindível
que o mergulhador mantenha-se o mais próximo do fundo, evitando que a água, em velocidade, passe
por baixo do seu corpo com velocidade e o “leve” para a superfície, o que contraria o padrão de evitar
tocar o fundo do meio líquido a fim de não causar levantamento de detritos e sedimentos. Para evitar
esse fato, geralmente dobra-se a quantidade de lastros que se usa em águas calmas, para deixar o
mergulhador rente ao fundo, conseguindo dessa maneira, executar o serviço. (Ex: Se no mar, o MG
utiliza 10 kg de peso (lastro), no mergulho em rio, ele deverá utilizar de 18 a 20 Kg). Mas também se
deve ter cuidado com objetos diversos no fundo, como as latarias de autos envolvidos em um evento e
estar alerta quanto a choques de qualquer objeto que se movimente com velocidade no fundo.

14.2.1 - MÉTODOS DE BUSCA


14.2.1.1- Varredura Circular (Crescente ou Decrescente)

Forma de busca na qual é realizado um círculo em torno de uma área demarcada. Inicialmente
deve-se conhecer o ponto mais provável onde possa estar o objeto (ou vítima) a ser procurado.
Achado o local, um ponto é fixado no fundo (pode ser uma poita, lastros, outro mergulhador ou âncora
da embarcação, os quais serão o centro de um círculo imaginário) e a partir dessa referência, vários
círculos são feitos. A busca pode ser iniciada do ponto de referência para fora (círculo crescente), ou
de fora para o ponto de referência (círculo decrescente). O tamanho do raio que será aumentado ou
reduzido serão de acordo com o julgamento do mergulhador, podendo ser de metro em metro, de dois
em dois metros, etc. O ponto inicial (de partida) pode ser marcado com um objeto pesado ou estaca,
para ter uma perfeita varredura. Caso não seja possível, o mergulhador deverá confiar em sua intuição
ou então procurar trabalhar com a natureza (verificar a direção da corrente para marcar início). O peito
deverá estar próximo ao chão (caso a visibilidade seja restrita) e o trabalho deve ser realizado em

173
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

dupla. O mergulhador deverá manter o cabo sempre retesado. No círculo crescente, deverá atentar
(caso não haja um mergulhador no ponto fixo) na liberação do cabo para que o mesmo não enrole,
devendo levá-lo para o fundo enrolado em “coroa japonesa”. No círculo decrescente deverá atentar no
recolhimento do cabo (caso não haja um mergulhador no ponto fixo), enrolando-o de forma que o
mesmo não prejudique a busca.

Sentido da busca Sentido da busca


Círculo Decrescente Círculo Crescente

Varredura Circular (Crescente ou Decrescente)

14.2.1.2 - Varredura Pendular (Crescente ou Decrescente)

Também conhecida como “varredura em leque” devido ao desenho da busca, certamente é o


tipo mais utilizado pelos mergulhadores, principalmente para trabalhos em rios. Consiste basicamente
em ter um mergulhador (controlador) na superfície ou na embarcação, com um cabo e um ou dois
mergulhadores na água, segurando a outra extremidade. Encontra-se dividida em:

- Leque de Centro (crescente ou decrescente): Neste caso, fixa-se um ponto (que pode ser
um peso (âncora) ou uma embarcação), no centro do rio e a partir deste ponto, o mergulhador inicia
sua busca, de margem a margem, distanciando-se até chegar o fim do cabo ou aproximando-se do
ponto de origem. A distância entre o leque de ida e de volta deve ser dimensionada de modo que toda
a área seja “varrida”. Utiliza-se a correnteza a favor, facilitando o deslocamento e diminuindo o
esforço, economizando desta forma, o ar.

Margem

Sentido da correnteza (Leque Crescente)

Sentido da correnteza (Leque Decrescente)


PONTO FIXO

Margem

Varredura Pendular de Centro (Crescente ou Decrescente)

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- Leque de Margem (crescente ou decrescente): Ocorre da mesma maneira que o método de leque
de centro. A diferença está que, nesse caso, o controlador estará baseado na margem, não havendo
necessidade da fixação de peso no fundo.

Sentido da busca Sentido da busca


Leque Crescente Leque Decrescente

Controlador

Varredura Pendular de Margem (Crescente ou Decrescente)

14.2.1.3 - Varredura Pendular Dupla (Crescente ou Decrescente)

Para uma busca mais rápida em áreas largas, a busca em leque pode ser combinada para criar
um padrão conhecido como limpador de pára-brisas. Dois mergulhadores fazem a busca parcialmente
em áreas semicirculares, movendo-se de um lado ao outro em sincronia.

Quando escolhido este tipo de busca, os controladores geralmente devem permanecer tão
distantes quanto seja necessário para que os mergulhadores se desloquem sem causar choques. Desta
forma, se os mergulhadores são inicialmente mandados a 12m, os controladores devem permanecer
afastados 12m um do outro. Um fundo com valas ou outras restrições pode estreitar as buscas em
leque e fazer com que os controladores fiquem mais próximos. Manter os mergulhadores se movendo
no mesmo passo é tarefa dos controladores. Se o controlador vê que o seu mergulhador está se
afastando demais, um simples sinal na linha de vida deve ser enviado para dizer ao mergulhador que
pare.

Sentido da busca Sentido da busca


Leque Crescente Leque Decrescente

Controlador Controlador

Varredura Pendular Dupla de Margem (Crescente ou Decrescente) 175


MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

14.2.1.4 - Varredura em Linha (“Pente Fino”)

Este procedimento é análogo às operações com bússolas, em terra. Consiste em “passar um


pente-fino” no fundo, a fim de localizar o objeto (vítima) perdido. A bússola pode ser utilizada para
manter uma navegação no mesmo sentido e reta, mas como se sabe, em se tratando de rio
(visibilidade restrita), este instrumento torna-se totalmente descartável. Para uma boa eficácia, é
necessário um bom número de mergulhadores. Este método não é recomendado para buscas com
fortes correntezas e pode ser realizado de duas maneiras:

- Cabo margem – a – margem: Neste processo, dois mergulhadores/controladores ficarão na


superfície, cada um em cada margem do rio/local, sendo estes os responsáveis pela
“frenagem/aceleração” do deslocamento sub. A direção da busca deverá sempre estar perpendicular à
margem do rio. Poderá ser utilizada uma vara de madeira ou alumínio e amarrar o cabo de ligação
com a superfície nas extremidades da vara. Com isso, evitar-se-á uma possível perda na direção da
busca. Os MGs (no fundo) que ficarão nas extremidades do cabo/madeira, serão a ligação com a
superfície, portanto, os mediadores do deslocamento, devendo de preferência, serem os mais
experientes da equipe de fundo. Dependendo do número de MGs no fundo, pode ser feita uma única
varredura ou demarcar a área e fazer a busca paulatinamente, de quadro a quadro. Este procedimento
também pode ser feito através da utilização de duas embarcações paralelas, com um cabo
interligando-as e sem mergulhadores no fundo. Nesse caso, é necessário que o cabo esteja bem
lastreado e que o fundo não possua muitas irregularidades.

Varredura em Linha - Cabo margem – a – margem

- Cabo no fundo: Agora, o cabo que servia de “guia” (que estava sendo utilizado pelos
controladores), irá para o fundo e será o “caminho” percorrido pela equipe de MGs. São colocados
pesos (lastros) em toda sua extensão, espaçados de 10 em 10 metros, evitando seu movimento no
fundo. Para assegurar um “pente-fino” perfeito, poderá ser utilizado outro cabo ou objeto de madeira

176
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

(leve), que ficará perpendicular ao cabo (“caminho”) que está no fundo. Se a área a ser batida for
grande, podem ser feitas “estradas” paralelas, utilizando vários cabos, antes de iniciar as buscas.

14.2.2 - COMUNICAÇÃO NAS OPERAÇÕES DE BUSCA


A comunicação durante as operações de busca e resgate é de fundamental importância, pois
garante a segurança dos mergulhadores e o sucesso da operação, tanto na superfície quanto no fundo
meio líquido.

Em ambientes com boa visibilidade, a comunicação entre os mergulhadores no fundo é feita


através da utilização dos sinais padrões de mergulho.

Já em ambientes com baixa visibilidade, onde não for possível o contato visual, a comunicação
entre os mergulhadores é feita através do contato físico ou da utilização de um cabo náutico (8 a
11mm de espessura), também conhecido como “cabo da vida”.

Em ambos os casos, é utilizado o “cabo da vida” como ligação entre o controlador do


mergulho e os mergulhadores. Uma das extremidades do cabo fica guarnecida com um dos
mergulhadores, que a leva presa ao seu antebraço através do nó conhecido como “azelha”, enquanto
que o restante do cabo fica guarnecido com o controlador. Nesse caso, a comunicação é feita através
de toques no cabo, conforme padronização a seguir:

Do Controlador para o Mergulhador:


- 1 toque: Verificar se está tudo bem com o mergulhador;

- 2 toques: Determinar ao mergulhador que mude o sentido da busca;

- 4 toques: Informar ao mergulhador que será retirado da água;

- 6 toques: Informar que o mergulhador será retirado de forma urgente da água.

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Do Mergulhador para o Controlador:


- 1 toque: Informar ao controlador que chegou ao fundo ou que a situação está sob controle;

- 2 toques: Solicitar mais cabo ao controlador;

- 3 toques: Informar que encontrou o bem ou corpo;

- 4 toques: Solicitar ao controlador que inicie a subida normal;

- 6 toques: Determinar ao controlador que realize a subida de emergência.

Assim como na utilização dos sinais normais de mergulho, sempre que um sinal for dado, seja
do controlador para o mergulhador ou vice-versa, deve ser dada resposta com a mesma quantidade de
toques recebidos através do cabo. Caso não haja resposta, a operação deve ser interrompida
imediatamente, devendo o mergulhador retornar à superfície ou ser retirado da água pelo controlador.

Na comunicação entre os mergulhadores no fundo, esta é feita da mesma maneira acima citada,
ou seja, o mergulhador em contato com a superfície recebe o toque de cabo, repassa ao mergulhador
que estiver ao seu lado, que o responde com a mesma quantidade de toques recebidos, que
consequentemente, responde ao controlador. Somente e tão somente após os sinais terem sido feitos e
respondidos, se executará a ação. Esta comunicação pode ser feita ainda através do contato físico,
procedendo os toques como se fosse a comunicação via “cabo da vida”, ou através da execução dos
sinais normais de ambientes com visibilidade. Nesse caso, porém, como o ambiente possui
visibilidade restrita, não sendo possível o contato visual, o sinal deverá ser feito no corpo do outro
mergulhador. Ex: se um mergulhador estiver com pouco ar, ao invés dele bater no próprio peito, ele
deverá bater no peito do seu canga.

14.3 - ORIENTAÇÃO COM BÚSSOLA


14.3.1 - BÚSSOLA
É um instrumento destinado à medida de ângulos horizontais e a orientação da carta e no
terreno. Atualmente, a bússola tem sido utilizada no mergulho para busca e resgate de objetos e/ou
pessoas que se encontrem no fundo, em determinada área.

Trata-se de um goniômetro, no qual a origem de suas medidas é determinada por uma agulha
imantada que indica, por princípio da física terrestre, uma direção aproximadamente constante, que é
o Norte Magnético.

Compõe-se comumente de uma caixa de madeira ou metal, em cujo interior existe um limbo
graduado. No fundo e no centro da caixa, existe um pino de aço, denominado QUÍCIO, sobre o qual
gira a agulha imantada.

A agulha é de aço imantado e apresenta suas extremidades em ponta, sendo uma delas, a que
se dirige para o Norte, assinalada, geralmente em azul.

Obs.: Os itens acima são definições clássicas de bússolas utilizadas no terreno, ou seja, a
seco, em terra. No mergulho, esses equipamentos sofreram alterações para que fossem utilizados no
meio subaquático.

As bússolas para mergulho são encontradas tanto para utilização em pulso, pranchetas e
também em consoles. Possui leitura dupla, funcionamento com sistema a banho de óleo, com
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mostrador fluorescente, com escala de anel rotante de graduação, caixa em tecnopolímero de alta
resistência, policarbonato contra choques. Quando acopladas em consoles, vem em um estojo em
elastômero contra choques. Diferentemente das bússolas de terra, não possuem agulha e sim um limbo
móvel, cujo movimento se dá de acordo com a direção Norte. São compostas pelas partes conforme
figura abaixo:

Bezel Giratório

Limbo Móvel

Linha de Fé

Existem 03 direções base, a saber: Norte Verdadeiro ou Geográfico (NG), Norte Magnético
(NM) e Norte da Quadrícula (NQ). No mergulho, o mais importante, a saber, é o NM, pois essa
direção (NM) é indicada pela ponta N da bússola.

14.3.2 - UTILIZAÇÃO DA BÚSSOLA


Geralmente, a bússola serve para “traçar” uma linha reta entre o mergulhador e o objetivo a ser
alcançado. Ela é muito utilizada pelos mergulhadores de combate, para que estes cheguem ao seu
objetivo, por baixo da água, sem serem detectados.
Existem exercícios que preparam o mergulhador para as buscas, utilizando a bússola.
Inclusive, alguns destes exercícios também são considerados como métodos de busca. São eles:

14.3.2.1- Linha Reta

Consiste em traçar um azimute (direção horizontal, no sentido horário, em relação ao Norte),


percorrer determinada distância no fundo e chegando ao objetivo, traçar o contra-azimute e retornar à
posição inicial.

OBJETIVO

INÍCIO

FIM

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14.3.2.2 - Quadrado

Consiste em realizar uma busca, fazendo “quadrados”, que podem ser crescentes ou
decrescentes. Inicialmente, traça-se uma reta e calcula-se uma distância, que pode ser medida em
“número de pernadas” (movimentos com a nadadeira). Percorrida esta distância, traça-se um ângulo
de 90º e faz um deslocamento, em linha reta, com o mesmo número de pernadas do deslocamento
anterior. Repete-se o mesmo procedimento até completar um quadrado.
Caso o objeto não tenha sido encontrado, na segunda busca, deverá ser aumentado o lado do
quadrado, ou seja, será feita uma busca crescente. Se diminuir o lado do quadrado, será feita então,
uma busca decrescente. Cabe ao mergulhador escolher o melhor método.

Objeto a ser
procurado

90 º
INÍCIO
FIM

14.3.2.3 - Triângulo

Consiste em construir um triângulo imaginário, traçando ângulos de 120º, fazendo


EXATAMENTE um triângulo equilátero. Para verificar se o exercício está correto, o final do
deslocamento deverá coincidir com o início.

1 2

120º
INÍCIO

FIM 3

14.3.3 - RECOMENDAÇÕES
- Nade relaxado, com ritmo;

- Vá para o mergulho descansado, sem já estar previamente fatigado;


180
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- Evite buscas (percursos) longas. Para uma busca perfeita, começar por percursos pequenos e,
se for o caso, fazê-la de modo crescente;

- Visualize o local antes de ir para o fundo. Veja se possui pedras, pilares de pontes, barcos
com âncora no fundo, correnteza, etc. Estes dados podem servir de referencial para uma busca;

- Mudança de direção para a direita, deve ser somado o ângulo desejado a partir de 0º.
Movimento para a esquerda subtrai-se o ângulo a partir de 360º;

- Procure sempre visualizar a bússola da mesma maneira. Visualizá-la em posições diferentes


pode culminar com um erro na orientação;

- Antes de executar uma mudança de direção, confira se a bússola está devidamente orientada;

- Nunca ajuste o bezel da bússola após uma mudança de direção. Mova sempre o próprio corpo
até alcançar o objetivo;

- Tenha confiança em seu aprendizado. Determinadas situações fazem com o mergulhador


acredite estar perdido no fundo. Mas se você estiver certo do seu aprendizado, continue a busca e
certamente atingirá seu objetivo.

14.4 - RECUPERAÇÃO DE CARGAS

14.4.1 - REFLUTUAÇÃO

A reflutuação consiste em trazer à superfície, objetos submersos em determinado meio líquido,


através da utilização de meios e técnicas que façam a carga passar do estado de flutuabilidade negativa
ou neutra para flutuabilidade positiva.

Para o processo de reflutuação de uma carga, são necessários tanto procedimentos de logística
quanto de cálculos físicos. Quanto à logística, é preciso determinar o tipo de material a ser utilizado,
bem como as técnicas e táticas ideais. Os equipamentos mais comuns para essas operações são
bombonas, geralmente com volume de 200 litros ou Lift Bags. No caso das bombonas, faz-se ainda
necessário realizar um cálculo físico conhecido como Força de Flutuação, para determinar a
quantidade desses equipamentos a ser utilizada, adotando assim, a maneira mais eficiente de colocar a
logística em prática.

Independentemente do material utilizado na reflutuação, é preciso obedecer a alguns padrões.


As bombonas ou lift bags devem estar fixados o mais próximo possível do objeto, bem como
distribuídos uniformemente, ou seja, com materiais de mesmo volume na parte posterior e anterior e
lateral esquerda e direita. O lançamento de ar para o interior do material deve ser realizado somente
após ser dado o pronto de todos os mergulhadores. Para esse procedimento, o ideal é utilizar um
cilindro extra, evitando assim, o uso de gás do próprio cilindro. Este lançamento de ar também deve
obedecer a um padrão, ou seja, deverão ser determinados os melhores pontos para início da manobra,
lançando assim, ar nas bombonas ou lift bags que estiverem posicionados nas extremidades opostas
(vide figura abaixo), de forma simultânea e lenta, verificando o deslocamento do objeto. Caso o
mesmo não esteja subindo conforme o planejado, a operação deve ser interrompida, sendo aplicada
uma nova tática.

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OBS: O MERGULHADOR DEVE ATENTAR PARA NÃO POSICIONAR-SE NO TRAJETO


DE SUBIDA DO OBJETO E NEM ABAIXO DO MESMO, DEVENDO PERMANECER
SEMPRE AO LADO DO OBJETO.

14.4.1.1 - Força de Flutuação


Por definição, é a diferença entre o Empuxo e o Peso.

Fórmula: FF = E - P onde,

FF = Força de Flutuação
E = Empuxo
P = Peso

E=Vxd onde,

V = volume
d = densidade da água

Obs: *densidade da água doce = 1,00 T / litros


*densidade da água salgada = 1,03 T / litros

1ª bombona manobrada
2ª bombona manobrada

Fieira

2ª bombona manobrada
1ª bombona manobrada

Exemplo de Reflutuação

Ex. 1: Quantos quilogramas podem ser içados do fundo do mar, com um tambor de volume de
210 litros e peso de 10 Kg?
R: O empuxo será igual ao peso do líquido deslocado. O volume deslocado pelo tambor
quando totalmente mergulhado, será de 210 litros.

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E = V x d
V = 210 litros
D = 1,03 Kg / l
E = 210 x 1,03 = 216,3 Kg
A força de flutuação, que é a capacidade de içamento do tambor, será a diferença entre o
empuxo e o seu peso, isto é:
FF = E - P
FF = 216,3 - 10 = 206,3 Kg
Podemos içar um objeto do fundo do mar de até 206,3 Kg.

Ex. 2: Quantas bombonas de 200 litros e peso de 10kg são necessárias para içar um objeto de
1800kg do fundo do mar?
E = V x d
V = 200 litros
d = 1,03 Kg / l
E = 200 x 1,03 = 206 Kg
A força de flutuação, que é a capacidade de içamento do tambor, será a diferença entre o
empuxo e o seu peso, isto é:
FF = E - P
FF = 206 - 10 = 196 Kg
Com uma bombona, podemos içar um objeto do fundo do mar de até 196 Kg. Como se
deseja içar um objeto de 1800kg, basta dividir este peso pelo valor encontrado para uma bombona,
logo:
1800 ÷ 196 = 9,18. Serão necessárias 10 bombonas para içar o objeto.

14.4.2 - TRACIONAMENTO

O tracionamento de carga é a maneira mais prática de retirar um objeto do fundo de meios


líquidos com pouca profundidade e que estejam próximo à margem, como é o caso, por exemplo, de
rios.

Podem ser adotados dois métodos para esta técnica: através da utilização de um caminhão do
tipo reboque ou através da utilização do aparelho Tirfor.

14.4.2.1 - Utilização de caminhão tipo reboque

Este método é o mais prático, pois demanda pouco esforço físico para ser executado.

Localizado o objeto, inicia-se o procedimento de preparação para o tracionamento. Deve ser


identificado pelo mergulhador, o melhor ponto para prender o cabo de aço do caminhão reboque ao
objeto. Este ponto deve ser a parte mais resistente do objeto, cabendo ao mergulhador a decisão de
executar ou não a fixação, mediante as condições do ponto verificado. Em seguida, o cabo de aço do
caminhão reboque deve ser levado até o objeto. Dependendo da distância em que o objeto estiver da
margem, pode ser necessário amarrar algumas bombonas ou lift bags ao longo do cabo, uma vez que o
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mesmo, por ser pesado, pode tornar-se difícil ser levado sob a água. Estando pronto o sistema, deverá
ser autorizado pelo mergulhador, o início do tracionamento.

OBS: O MERGULHADOR DEVE ATENTAR PARA NÃO POSICIONAR-SE NO TRAJETO,


DENTRO DA ÁGUA, DE TRACIONAMENTO DO OBJETO E NEM ABAIXO DO MESMO,
DEVENDO PERMANECER SEMPRE NO LADO OPOSTO E ACIMA OU NO MESMO
NÍVEL DO OBJETO.

14.4.2.2 - Utilização do aparelho Tirfor

Este método é utilizado quando não for possível estabelecer um caminhão do tipo reboque para
tracionar o objeto submerso. O princípio de trabalho é o mesmo da utilização do caminhão reboque.

Aparelho Tirfor: Opera com a ação de dois pares de mordentes lisos, de ajuste automático,
que no momento do tracionamento ou da descida da carga, esses dois pares de mordentes,
alternadamente, apertam e soltam o cabo, para puxá-lo no sentido da subida ou retê-lo no sentido da
descida, sendo que os dois conjuntos de mordentes apertam o cabo conforme a tração do cabo, então
quanto mais pesada a carga, mais forte será o aperto.

Para o deslocamento dos mordentes, são manipuladas duas alavancas que constituem o avanço
ou a marcha ré. O tirfor opera com o empenho de acessórios como correntes, clips, grampos-manilha,
moitões, cadernais, lingas e o indispensável cabo, que varia de diâmetro conforme o modelo do tirfor.

Alavanca de Recuo Alavanca de Avanço

Cabo de Aço Punho de Debreagem

Alavanca Telescópica

Aparelho Tirfor

Operação do Tirfor: O militar deve manter atenção especial ao EPI, principalmente com
relação às mãos, que são um alvo frequente de lesões. Após este cuidado, o militar deve desenrolar o
cabo, pressionar o punho de debreagem em direção à alavanca telescópica até travá-lo, introduzir a
ponta do cabo até sair do lado oposto, ancorar o aparelho pelo eixo de ancoragem num ponto fixo e
resistente, puxar o cabo, a mão, até ficar bem esticado e colocar o punho de debreagem à posição
inicial. Antes de iniciar o tracionamento, é conveniente a verificação da ancoragem do aparelho e o
ângulo de trabalho, para que o cabo trabalhe em linha reta, então deve-se introduzir e travar a alavanca
telescópica no seu braço e para içar ou tracionar, movimenta-se em vai e vem a alavanca, já para o
recuo ou descida deve-se introduzir a alavanca telescópica no braço que fica no meio do aparelho e
movimentando-se em vai e vem, obter o deslocamento desejado da carga. Para finalizar a operação,
deve-se movimentar a alavanca em marcha a ré, até afrouxar o cabo e, após isto, elevar o punho de
debreagem a frente, liberando o cabo.

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OBS: O MERGULHADOR DEVE ATENTAR PARA NÃO POSICIONAR-SE NO TRAJETO,


DENTRO DA ÁGUA, DE TRACIONAMENTO DO OBJETO E NEM ABAIXO DO MESMO,
DEVENDO PERMANECER SEMPRE NO LADO OPOSTO E ACIMA OU NO MESMO
NÍVEL DO OBJETO.

14.5 - OPERAÇÕES DE DESENCARCERAMENTO

Em casos de queda de veículo em meio líquido, dependendo da força do impacto pré ou pós
chegada ao meio, o auto pode sofrer avarias que impossibilitem a retirada de vítimas de seu interior.
Para tanto, faz-se necessário a utilização de aparelhos desencarceradores para viabilizar a operação.
14.5.1 - APARELHO DESENCARCERADOR
O conjunto de salvamento (desencarcerador hidráulico) destina-se a serviço de salvamento em
acidentes automobilísticos, desabamentos e trabalhos submersos, dentro do limite de 40m de
profundidade.

O sistema consiste de um motor elétrico ou à gasolina, que move uma bomba hidráulica, sendo
esta comum a todos os modelos. Ela se caracteriza por um aro ôco que contém em seu interior 4
pistões radiais permanentemente comprimidos por molas. No centro deste conjunto, há um excêntrico
movido pelo eixo do motor, que devido a seu movimento irregular, ao passar por cada um dos pistões,
provoca um movimento nos mesmos, impulsionando o fluído para dentro do aro. Neste há apenas uma
saída, por onde escoa todo o fluído em direção à válvula.

Todo este conjunto permanece imerso no reservatório de fluído, tendo sob o aro, quatro tubos
pescadores que alimentam cada um dos pistões. No bloco da válvula, há ainda um pequeno tubo
encarregado de despejar o fluído que retorna das ferramentas hidráulicas.

O conjunto de salvamento é composto por: bomba hidráulica acionada por um motor a


gasolina, mangueiras com sistemas de engate rápido e várias ferramentas hidráulicas que podem ser
utilizadas para afastamento, tração e corte.

14.5.1.1 - Partes do conjunto de salvamento

Bomba Hidráulica: Tanque de Combustível / Carter de óleo do motor / Vela de ignição /


Carter de óleo da bomba hidráulica / Válvula de Combustível / Filtro de ar / Manopla / Alavanca de
comando /Afogador / Acelerador.

Cortadores: A série de cortadores possui lâminas, em formato de meia-lua, que deslizam uma
sobre a outra, proporcionando o corte. Estas podem ser trocadas por outras de diferentes desenhos
para os mais diversos tipos de cortes e de materiais (Ex: Seccionamento de portas e colunas de
veículos onde haja vítimas presas), realizando o trabalho com rapidez e segurança.
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Expansores: São ferramentas equipadas com braços que tem, em suas extremidades, ponteiras
substituíveis e podem ser utilizados para abertura ou separação de chapas (Ex: retirando a porta de um
veículo acidentado), ou ainda, no tracionamento de partes (Ex. elevando-se a coluna de direção para
liberar a vítima do volante do veículo), com o concurso do jogo de correntes.

Ferramenta combinada: Como o próprio nome diz, combina as funções das outras
ferramentas, sendo equipada com braços multifuncionais, que permitem a realização de cortes,
afastamento e tracionamento, este último com auxílio de jogo de correntes.

Cilindros de resgate: Aplicável em qualquer tipo de resgate e salvamento onde se requeira


elevação de carga. É particularmente útil quando os trabalhos de afastamento necessitem de grandes
extensões, devido à grande potência desenvolvida (12 ton) ou, não alcançadas pelos expansores.
Sendo assim, comprimentos de 750, 1300 e 1700mm podem ser atingidos.

14.5.1.2 - Sequência de operação

- Certifique-se de que a alavanca de pressurização do fluído encontra-se na posição horizontal


(sistema despressurizado);

- Conecte as mangueiras através dos plugues tipo “engate rápido”;

- Abra a válvula de combustível girando-a cerca de ¼ de volta em sentido anti-horário;

- Posicione o comando do acelerador na posição “START” (afogado ). Quando o motor estiver


quente, posicione o comando em “FAST”.

- Segure a manopla de acionamento e puxe suavemente até sentir resistência , a fim de retirar a
folga entre as partes . A seguir, puxe rapidamente o cordão, para evitar retrocesso e dar partida no
motor, deixando a manopla retornar à sua sede gradualmente;

- Quando a máquina funcionar, mova o comando do acelerador à posição desejada de rotação


do motor, na faixa entre “SLOW” e “ FAST”;

- Coloque a alavanca de pressurização do fluido na posição vertical, afim de pressurizar o


sistema;

- Segure a pinça hidráulica pela alça e pelo punho, atuando com o dedo polegar no disco
anatômico proporcionando o movimento desejado, respeitando as indicações de abertura e fechamento
encontradas no corpo da pinça hidráulica;

- Ao final da operação, coloque a alavanca de pressurização na posição horizontal


(despressurizado);

- Desligue o motor passando o comando do acelerador para “STOP”;

- Feche a válvula de combustível, girando-a em sentido horário;

- Desconecte as mangueiras e proteja-as com as capas apropriadas.

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14.6 - PRIMEIROS SOCORROS EM OPERAÇÕES

No decorrer das operações de busca e resgate, por conta das adversidades encontradas no
fundo do meio líquido ou no deslocamento de ida ou volta do ponto de busca, além dos fatores
fisiológicos anteriormente citados, há o risco de acidentes com os mergulhadores ou até mesmo com
as vítimas. Para tanto, faz-se necessário a noção de primeiros socorros aplicados a essas
possibilidades, baseado nos principais acidentes.

14.6.1 - PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA E RESSUCITAÇÃO CARDIOPULMONAR


De acordo com a American Heart Association, parada cardiorrespiratória (PCR) é definida
como irresponsividade, ausência de respiração efetiva e ausência de pulso central. Fato importante é o
reconhecimento de que não devemos apenas saber abordar um paciente com PCR, mas também saber
quando não iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP).

A interrupção súbita das funções cardiopulmonares se constitui num tipo de problema que
sempre foi um desafio para as equipes médicas. Esta é uma emergência médica extrema, cujos
resultados serão a lesão cerebral irreversível e a morte, se as medidas adequadas para restabelecer o
fluxo sanguíneo e a ventilação não forem tomadas em curto período de tempo.

Até que o diagnóstico correto da causa da parada cardiopulmonar seja determinado, a equipe
de reanimação deverá se preocupar basicamente em manter o bombeamento sanguíneo e a função
respiratória.

A parada cardiorrespiratória possui diversas causas, como:

- Embolia pulmonar;

- Asfixia;

- Hipóxia.

14.6.1.1 - Suporte Básico de Vida Adulto

O suporte básico de vida (SBV) consiste em uma série de ações para avaliar e tratar situações
que levam a vítima rapidamente à morte. A identificação da PCR é a primeira delas.

As ações seguem uma sequência lógica no atendimento de emergência. A primeira etapa é a


identificação de uma emergência e a solicitação de socorro especializado; a segunda etapa consiste em
realizar o CAB da reanimação seguido da terceira, que é a desfibrilação.

De acordo com o protocolo de 2010 da American Heart Association, após a avaliação da cena,
reconhecimento da parada cardiorrespiratória e ativação do serviço de emergência, o socorrista dá
início ao CAB da vida ao invés do ABC. A reanimação deve ser iniciada pelas compressões cardíacas.
Lembrando que se a vítima apresentar “gasps”, ou seja, respiração agônica, durante o reconhecimento
da PCR, o socorrista deve proceder como se a mesma estivesse em parada cardiorrespiratória, já que o
“gasp” não pode ser considerado ventilação efetiva.

“CAB da vida”

C - Circulação: Deve-se tentar palpar um pulso arterial profundo por um período máximo de
10 segundos. Após este período, com a confirmação ou suspeição de PCR, dão-se início as
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

compressões cardíacas. Deve-se atingir a frequência mínima de 100 por minuto, comprimir o tórax no
mínimo 5 cm permitindo o seu retorno completo após cada compressão, minimizar interrupções
durante a RCP e evitar a hiperventilação.

Lembrando que sempre que possível a vítima deve se encontrar sobre superfície rígida.

Para uma compressão torácica efetiva, a vítima deve ser colocada em decúbito dorsal sobre
estrutura rígida; o socorrista deve colocar os joelhos ao lado e próximos ao tronco da vítima. A
compressão deve ser realizada no esterno, entre os mamilos da vítima, com a região tenar e hipotênar
das mãos, as mesmas devem ser entrelaçadas e os braços devem ficar estendidos, ficando
perpendicular ao corpo da vítima em um ângulo de 90ª com o solo. A força exercida deve ser
realizada pelo peso do tronco do socorrista. A compressão deve ser forte e rápida.

A – Abertura de Vias aéreas: Após as 30 compressões cardíacas iniciais, o socorrista deve


posicionar a cabeça da vítima em posição neutra, checar as vias aéreas e logo em seguida realizar a
abertura das vias aéreas através de manobras específicas, devendo utilizar a manobra de inclinação de
cabeça – elevação de queixo para abrir as vias aéreas. Ressalta-se que a abertura de vias aéreas é
prioridade máxima nos pacientes sem responsividade.

Língua mal posicionada, obstruindo as vias aéreas Posicionamento correto da língua, evitando a obstrução

B - Boa Ventilação: Durante a RCP, o propósito principal da ventilação é manter uma


oxigenação basal tecidual. Devem ser realizadas duas ventilações de resgate. As ventilações devem
ser feitas de forma contínua, utilizando-se o ar expirado. Tal procedimento deve levar em torno de 1
segundo por ventilação; independente da forma de ventilação escolhida, incluindo boca-a-boca, boca-
máscara e ventilação com via aérea avançada. O volume corrente deve ser o necessário para provocar
elevação visível da caixa torácica.

Em vítima que não esteja respirando, mas que esteja com pulso presente, deverá ser aplicada a
ventilação de resgate sem as compressões torácicas. O socorrista deverá aplicar 10 a 12 ventilações de
resgate por minuto. Para tal, deverá realizar uma média de 1 ventilação a cada 5 a 6 segundos. Deverá
re-checar o pulso após 2 minutos de ventilação.

Relação ventilação-compressão: A relação ventilação-compressão, recomendada pelo


protocolo de 2010, é de 30:2 para todas as idades. No entanto, no caso de vítimas pediátricas, na
presença de dois reanimadores, a proporção a ser utilizada é de 15:2.

Enfatizando: as compressões devem ser rápidas, no mínimo 100 compressões por minuto.
Caso a vítima não esteja com uma via aérea avançada devem ser realizados 5 ciclos (cerca de 2
minutos) de RCP na relação 30:2. Entretanto, se a vítima estiver com uma via aérea avançada, as
compressões devem ser contínuas, sem pausas para ventilação, respeitando-se a frequência mínima de
100 compressões por minuto. Paralelamente, o outro socorrista estará realizando as ventilações em
uma frequência aproximada de 8 a 10 ventilações por minuto (cerca de 1 ventilação a cada 6
segundos).

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Para que não ocorra perda da eficácia das compressões devido ao esgotamento físico do socorrista,
deverá haver um revezamento entre a equipe a cada 2 minutos.

Compressão Torácica e Ventilação Artificial

14.6.2 - FRATURAS
É a solução de continuidade total ou parcial de uma estrutura óssea, produzida por trauma
direto ou indireto, podendo apresentar lesões associadas a outros tecidos.

Classificação das fraturas quanto ao ferimento:

- Fechada (simples): a pele não foi perfurada pelas extremidades ósseas;

- Aberta (exposta): o osso se quebra, atravessando a pele, ou existe uma ferida associada que se
estende desde o osso fraturado até a pele.

Sinais e sintomas de fraturas:

- Dor: geralmente o local da fratura está muito sensível, a vítima mal-estar intenso;

- Edema: inchaço provocado pelo aumento de líquido entre os tecidos;

- Deformidade: a fratura produz uma posição anormal ou angulação num local que não possui
articulação;

- Impotência funcional: a lesão impede ou dificulta os movimentos, devido à dor e à alteração


músculo-esquelética. A vítima geralmente protege o local fraturado;

- Crepitação: sensação audível e palpável causada pelo atrito entre os fragmentos ósseos. Não
deve ser reproduzida intencionalmente, por provocar dor e agravar a lesão;

- Fragmentos expostos: os fragmentos ósseos podem se projetar através da pele ou serem


vistos ao fundo do ferimento.

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14.6.2.1 - Luxação

É o desalinhamento das extremidades ósseas de uma articulação fazendo com que as


superfícies articulares percam o contato entre si.

Sinais e sintomas:

- Dor: aumenta se a vítima tenta movimentar a articulação;

- Edema;

- Deformidade;

- Impotência funcional.

14.6.2.2 - Entorse

É a torção ou distensão brusca de uma articulação, além de seu grau normal de amplitude.

Sinais e sintomas: São similares aos das luxações. Sendo que nas entorses os ligamentos
geralmente sofrem ruptura ou estiramento, provocados pelo trauma na articulação.

14.6.2.3 - Razões para imobilização

- Alívio da dor;

- Prevenção de outras lesões de músculos, nervos e vasos sangüíneos;

- Manutenção da perfusão no membro.

14.6.2.4 - Tratamento

1. Informe o que planeja fazer.

2. Exponha o local, removendo roupas se necessário.

3. Controle hemorragias e cubra feridas. Não empurre fragmentos ósseos, nem tente removê-
los. Use curativos estéreis.

4. Avalie o pulso distal, a sensibilidade e a perfusão.

5. Imobilize. Use tensão suave para colocação da tala na extremidade lesionada.

6. Mantenha a tração e o alinhamento até que a tala esteja posicionada e fixa, imobilizando
uma articulação acima e uma abaixo da lesão. As talas devem ser ajustadas de maneira a não
interromper a circulação local. Em alguns casos, a extremidade deverá ser imobilizada na posição
encontrada.

7. Revise a presença de pulso e sensibilidade. Assegure-se de que a imobilização está adequada


e não restringe a circulação.

8. Previna ou trate o choque.

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Observação: na maioria das vezes, é impossível saber sem o uso de raio-X se o paciente é
verdadeiramente portador de uma fratura, entorse ou luxação. No entanto, até ser provado o contrário,
devemos sempre tratá-lo como portador de tais lesões.

Tipos de imobilização improvisada de fraturas

14.6.3 - HEMORRAGIAS
É o extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos ou das cavidades do coração, podendo
provocar estado de choque e óbito. A hemorragia pode ser externa ou interna.

14.6.3.1 - Classificação Clínica

Hemorragia externa: ocorre devido a ferimentos abertos, onde o sangue é eliminado para o
exterior do organismo.

Sinais e sintomas de hemorragia externa:

- agitação;

- palidez;

- sudorese;

- pele fria;

- pulso acelerado e fraco (acima de 100 bpm);

- hipotensão;

- sede;

- fraqueza;

- alteração do nível de consciência; e

- estado de choque.

Hemorragia interna: ocorre quando há lesão de um órgão interno e o sangue se acumula em


uma cavidade do organismo, como: peritônio, pleura, pericárdio, meninges ou se difunde nos
interstícios dos tecidos. Geralmente não é visível.

Sinais e sintomas de hemorragia interna podem ser os mesmos encontrados na hemorragia


externa, e, ainda:

- contusões;

- dor abdominal;

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- rigidez ou flacidez dos músculos abdominais;

- eliminação de sangue através dos órgãos que se comunicam com o exterior, como: nariz e/ou
pavilhão auditivo, vias urinárias, vômito ou tosse com presença de sangue.

14.6.3.2 - Classificação Anatômica

- Arterial: quando o vaso atingido é uma artéria, caracteriza-se por hemorragia que faz jorrar
sangue pulsátil e de cor vermelho vivo; a perda de sangue é rápida e abundante.

- Venosa: quando o vaso atingido é uma veia, caracteriza-se por hemorragia na qual o sangue
sai de forma contínua, na cor vermelho escuro, podendo ser abundante.

- Capilar: quando o vaso atingido é um capilar, o sangue escoa lentamente, normalmente numa
cor menos viva que o sangue arterial.

Classificação anatômica da hemorragia

14.6.3.3 - Técnicas para controle de hemorragia

1. Pressão direta sobre o ferimento.

2. Elevação de membro.

3. Compressão dos pontos arteriais.

Observação: em casos de amputação traumática, esmagamento de membro e hemorragia em vaso


arterial de grande calibre, deve ser empregada a combinação das técnicas de controle de hemorragia.

Pressão direta sobre o ferimento: Coloque sua mão enluvada diretamente sobre o ferimento
e aplique pressão apertando o ponto de hemorragia; a pressão da mão poderá ser substituída por um
curativo (atadura e gaze), que manterá a pressão na área do ferimento. A interrupção precoce da
pressão direta ou retirada do curativo, removerá o coágulo semi-formado, reiniciando a hemorragia.

192
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Elevação de membro: Eleve o membro de modo que o ferimento fique acima do nível do
coração. Essa técnica pode ser usada em conjunto com a pressão direta nas hemorragias de membro
superior ou inferior. Os efeitos da gravidade vão ajudar a diminuir a pressão do sangue, auxiliando no
controle da hemorragia. Essa técnica não deve ser empregada quando houver suspeita de fratura,
entorse ou luxação.

Compressão com elevação de membro

Compressão dos pontos arteriais: Comprima a artéria que passe rente a uma superfície do
corpo próximo a uma estrutura óssea. O fluxo de sangue será diminuído, facilitando a contenção da
hemorragia (hemostasia). Essa técnica deverá ser utilizada após a pressão direta ou quando a pressão
direta com elevação do membro tenha falhado. No membro superior, o ponto de compressão é a
artéria braquial (próxima ao bíceps) e no membro inferior é a artéria femural (próxima à virilha).

Elevação de membro e compressão do ponto arterial

14.6.3.4 - Tratamento

- exponha o local do ferimento;

- efetue hemostasia;

- afrouxe roupas;

- previna a perda de calor corporal;

- não dê nada para o paciente comer ou beber;

- ministre oxigênio suplementar, se necessário;

- estabilize e transporte o paciente.


193
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Observação: a primeira técnica a ser empregada em hemorragias visíveis é pressão direta sobre o
ferimento.

14.6.4 - TRANSPORTE DE ACIDENTADOS


14.6.4.1 - Transporte em maca

* Com porta ou tábua


* Paletó, camisa, etc
* Cobertores, toalhas, etc
* Sacos
* Cinto, cordas tecidos, etc

14.6.4.2 - Transporte sem maca

a) Transporte com 01 socorrista

* Transporte de apoio
* Transporte de braços
* Transporte nas costas
* Transporte de arrasto ou lençol

b) Transporte com 02 socorristas

* Transporte em cadeirinha
* Transporte pelas extremidades
* Transporte por cadeira
* Transporte em rede

TRANSPORTE DE APOIO

TRANSPORTE EM BRAÇOS

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TRANSPORTE NAS COSTAS

TRANSPORTE DE
ARRASTO OU
LENÇOL

TRANSPORTE EM CADEIRINHA

TRANSPORTE PELAS EXTREMIDADES

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TRANSPORTE EM CADEIRA

TRANSPORTE EM REDE

TRANSPORTE COM MAIS DE


DOIS SOCORRISTAS

TRANSPORTE MÉTODO BOMBEIRO

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CAPÍTULO 15 - MERGULHO DEPENDENTE

15.1 - GENERALIDADES

Uma das modalidades de mergulho para trabalhos subaquáticos que requeira ao mergulhador
permanecer submerso por períodos extensos de tempo é o mergulho dependente. Este capítulo
descreve algumas das técnicas e procedimentos usados por mergulhadores neste tipo de mergulho.

15.2 - EQUIPAMENTOS PARA MERGULHO DEPENDENTE

Os equipamentos mínimos necessários para execução de um mergulho dependente são:

- Fonte de gás respirável;


- Manifold de controle do mergulho;
- Maleta de comunicação;
- Umbilicais;
- Harness de segurança;
- Máscara ou capacete de mergulho;
- Roupa térmica;
- Suprimento reserva de gás (bail-out).

15.2.1 - FONTE DE GÁS RESPIRÁVEL

A fonte de suprimento de gás respirável para o mergulho dependente pode ser, tanto um
compressor de baixa pressão, quanto um conjunto de cilindros de alta pressão (reduzidos para baixa
pressão), ou a combinação dos dois. Existem várias combinações de fonte de gás que podem ser
utilizadas. Se o ar for o único gás requerido, todo o mergulho pode ser feito utilizando uma única
fonte, porém, é mais seguro se houver múltiplas fontes disponíveis. A melhor logística é um
compressor de baixa pressão como fonte primária e um conjunto de cilindros de alta pressão como
back-up. Caso um compressor de baixa seja utilizado, é preciso que este esteja equipado com um
tanque de volume (que irá atuar como fonte reserva e um removedor de umidade) e filtragem
adequada. Se for utilizada uma mistura gasosa, o sistema pode incluir múltiplos cilindros com
diferentes misturas. Caso fontes de alta pressão de oxigênio sejam utilizadas, todo o sistema precisa
estar limpo e compatível para oxigênio.

Tanque de volume

Modelo de compressor de baixa pressão

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15.2.2 - MANIFOLD DE CONTROLE DO MERGULHO


O mergulho dependente é normalmente conduzido usando um tipo de manifold de gás
respirável, que é usado para monitorar e controlar o suprimento e pressão de gás para o mergulhador,
como também alternar os gases respiráveis enviados. O ideal é que o manifold seja capaz de suportar
dois mergulhadores. Estes aparelhos são fabricados de modo a serem pouco complexos e fáceis de
operar. Podem suportar somente ar em baixa pressão ou alta e baixa. Caso alta pressão seja usada, o
manifold deverá possuir um regulador de pressão, usado para controlar o suprimento de pressão
intermediária para o mergulhador. Em alguns casos, onde ar em alta pressão é usado, cilindros de alta
podem ser utilizados como suprimento deste ar. O regulador de pressão é ajustado manualmente para
corrigir a sobre-pressão no capacete, para a profundidade do mergulhador, devendo ser reajustada
conforme o mergulhador varia a profundidade. Um regulador de primeiro estágio de um equipamento
de mergulho autônomo, não irá trabalhar corretamente, porque ele não possui um sensor de pressão de
acordo com a profundidade do mergulhador. Manifolds para misturas gasosas são mais complexos do
que os de ar. Eles normalmente incluem múltiplos reguladores redutores de pressão e uma válvula
manual para casos de emergência. A maioria dos manifolds aceita um mínimo de três fontes de gás.
Independentemente do tipo de manifold, ele normalmente vem equipado com um pneumofatômetro,
equipamento usado para mensurar a profundidade do mergulhador. O pneumofatômetro consiste de
um amplo e altamente preciso aferidor de profundidade com uma agulha conectada entre este e o
suprimento de ar do mergulhador. Em seguida, um “T” apropriado é conectado a uma mangueira de
abertura e fechamento que é adaptada no umbilical do mergulhador, chamada de mangueira do
pneumofatômetro. Para realizar a leitura de profundidade, o operador do manifold abre a válvula da
agulha até a mangueira estar cheia de ar e o mergulhador reportar que o está saindo bolhas de ar no
fim da mangueira. Então, o operador fecha a válvula e a pressão presa na mangueira fornece uma
precisa leitura da profundidade do mergulhador no aferidor.

Modelo de manifold de controle de gás

15.2.3 - MALETA DE COMUNICAÇÃO


Comunicações no mergulho dependente são suportadas por um sistema de comunicação
hardwire, que permite a conversão por duas vias. Este é um sistema mais confiável do que o tipo
wireless. O sistema consiste de uma caixa de comunicação com um suprimento de energia, um cabo,
conectores a prova d´água na máscara ou capacete do mergulhador, fones de ouvido e um microfone
dentro do capacete. O sistema funciona como um telefone. Existem dois tipos de sistema de
comunicação hardwire: um sistema tradicionalmente conhecido como “push-to-talk” e outro
conhecido como “round robin”. Ambos são aceitáveis, mas requerem disciplina para o uso. No
sistema “push-to-talk”, somente uma pessoa pode falar por vez. Os dois fios devem carregar o sinal
por um único caminho por vez, seja para baixo ou para cima. Requer um cuidado especial da parte do
operador, uma vez que o botão não esteja acionado, o mergulhador não poderá escutar. No caso do
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mergulhador, para falar, não há necessidade de pressionar qualquer botão. No sistema “round robin”,
dois fios carregam o sinal para baixo (para o mergulhador) e dois carregam para cima (para a
superfície), permitindo que ambos falem ao mesmo tempo. Este sistema é mais parecido com o
telefone, mas ainda sim, requer que somente uma pessoa fale por vez, a fim de haver clareza na
comunicação.

Modelo de maleta de fonia

15.2.4 - UMBILICAIS
O umbilical é um conjunto de mangueiras e cabos unidos uns aos outros. No mínimo, o
umbilical normalmente consiste da mangueira de suprimento de ar do mergulhador, fios de
comunicação, mangueira do pneumofatômetro e um cabo resistente. Outros componentes podem
incluir uma mangueira de água quente e um cabo de vídeo. O umbilical pode boiar ou afundar,
dependendo do tipo de mangueira. A mangueira de respiração não deve dobrar e precisa ser aprovada
para fornecimento de gás respirável. Mangueiras que não sejam específicas para mergulho podem
soltar vapores tóxicos, que são perigosos para o mergulhador.

Umbilical para mergulho dependente

15.2.5 - HARNESS DE SEGURANÇA


O harness de segurança é um acessório que é sobreposto a roupa de mergulho, que tem o
propósito de distribuir o umbilical, uniformemente para o mergulhador. Também serve como suporte
para equipamentos e materiais que o mergulhador precise carregar consigo, porém, deve tomar
cuidado para tais acessórios não causarem enroscamento.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

D-rings, feitos de aço inox, são usados para conexão com o umbilical e fixação do harness no
peito do mergulhador. A ligação entre o umbilical e o harness também pode ser feita por um
mosquetão, acoplado ao próprio umbilical ou clipado no harness.

Harness de segurança

15.2.6 - MÁSCARA OU CAPACETE DE MERGULHO


A máscara ou capacete de mergulho fornece a capacidade de respiração, mas também inclui
uma cavidade oral-nasal (pequena máscara que cobre boca e nariz) para conversação. Não há bocal no
equipamento e o mergulhador pode respirar tanto pelo nariz quanto pela boca. A cavidade oral-nasal
também ajuda na redução de dióxido de carbono dentro do capacete. A maioria das máscaras e
capacetes de hoje em dia incorporam um regulador de demanda, assim como um sistema de free-flow.
Para mergulhos rasos ou com água relativamente quente, uma máscara do tipo “full-face” é suficiente.
Para mergulhos mais profundos, em águas frias, poluídas ou áreas com penetrações, é recomendável o
uso de capacetes. Máscaras e capacetes devem estar equipados com reguladores ajustáveis, para
permitir ao mergulhador, regular o esforço respiratório, baseado na carga de trabalho. Além disso,
deve possuir também uma válvula de free-flow, a fim de jogar um grande volume de gás respirável
para o interior da máscara, caso esteja embaçada, ou ventilá-la adequadamente, caso esteja com
excesso de dióxido de carbono. A flutuabilidade e balanço do capacete são essenciais para o conforto
do mergulhador. Um capacete que esteja muito positivo irá causar tensão na mandíbula do
mergulhador e se estiver muito pesado causará dor em seu pescoço. Caso haja algum desses
problemas, pequenos pesos podem ser acoplados ao capacete, para ajustar o balanço adequadamente.
Toda máscara e capacete devem ser equipados com um sistema de equalização, que permitirá ao
mergulhador bloquear o nariz para compensar a pressão nos ouvidos. O mergulhador deve ser capaz
de operar este sistema com as mãos enluvadas. Devem ser equipados também com uma válvula que
permita acionar o sistema de emergência (bail-out) com um botão de abre e fecha. Caso o
fornecimento primário de ar seja interrompido, o mergulhador só precisará abrir a válvula de
emergência para acessar o bail-out.

Modelos de capacete Modelos de máscara full-face

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

15.2.7 - ROUPA TÉRMICA


As características das roupas térmicas para mergulho dependente são as mesmas citadas no
Cap 6, item 6.3, deste manual.

15.2.8 - SUPRIMENTO RESERVA DE GÁS (BAIL-OUT)


O suprimento reserva de gás (bail-out) é destinado para os casos de perda do suprimento
primário de gás respirável, oriundo do compressor ou conjunto de cilindros. Trata-se de um sistema
totalmente independente da fonte primária. O tamanho do cilindro a ser utilizado deve ser aquele que,
caso acionado, possua gás suficiente para trazer o mergulhador de volta a superfície em segurança. O
bail-out deve ficar localizado em um ponto que não atrapalhe a execução do trabalho do mergulhador.
Normalmente é utilizado um cilindro de alumínio, de volume interno 11,2 litros.

bail-out

15.3 - PROCEDIMENTOS PARA MERGULHO DEPENDENTE

O mergulho dependente é usado por mergulhadores porque lhes dá flexibilidade necessária


para executar diferentes tarefas subaquáticas. Nesta modalidade, a mistura gasosa usada pelo
mergulhador é oferecida pela superfície através de mangueiras; assim, mergulhadores tem um
contínuo suprimento de gás.
O mergulho dependente é geralmente usado quando mergulhadores necessitam permanecer um
extenso período de tempo sob a água, para cumprir determinados objetivos. As vantagens deste tipo
de mergulho são:

- Promove uma linha física direta com o mergulhador;


- Permite a comunicação entre a superfície e o mergulhador;
- Promove um contínuo suprimento de gás respirável, consequentemente, maior tempo de
fundo;
- Promove controle de profundidade.

Outra vantagem deste tipo de mergulho é a possibilidade de ser executado a partir de diferentes
meios, como píers, pequenas embarcações, navios ou pela praia.
As desvantagens do mergulho dependente, se comparado com o mergulho autônomo, são:

- A restrição da mobilidade do mergulhador, limitada pelo tamanho do umbilical;


- A resistência causada pelo peso do umbilical;
- A grande quantidade de equipamento necessária para dar suporte ao mergulho dependente.

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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

15.3.1 - PLANEJANDO O MERGULHO


O sucesso de qualquer mergulho depende de um criterioso planejamento, o qual deve-se levar
em conta os objetivos do mergulho, as atividades envolvidas para atingir tal objetivo, condições
ambientais (tanto sobre quanto sob a água), riscos potenciais que podem ocorrer na área operacional
do mergulho, pessoal envolvido para execução do mergulho, a programação do mergulho,
equipamento necessário para que o mergulho seja conduzido de forma segura e eficiente e a logística
necessária para casos de acidente.
Para todo mergulho dependente, o supervisor de mergulho deve levar em consideração todas as
condições que envolvem o mergulho, a fim de verificar a viabilidade e preparar a logística necessária.
Diferentes condições ambientais podem afetar membros da equipe de forma diferente. Por exemplo,
mergulhadores geralmente não são afetados por ondas, exceto quando entram ou saem da água. No
entanto, os operadores em águas rasas, podem ser afetados pela ação das ondas, da ondulação e
correntes.
Temperatura do ar e condições de vento na superfície também pode ter grande efeito na
proposta e outros suportes de pessoal para o mergulho.
É importante relembrar, no entanto, que o staff deve ser capaz de operar com a máxima
eficiência durante todo o mergulho. Qualquer redução desta capacidade, pode colocar o mergulhador
em risco.
As condições subaquáticas podem influenciar muitos aspectos do mergulho, desde a seleção do
staff a escolha dos equipamentos. Todos os operadores do mergulho devem considerar:

- Profundidade;
- Tempo de fundo;
- Visibilidade da água;
- Marés e correnteza;
- Vida marinha;
- Staff;
- Custo do equipamento;
- Gases requeridos;
- Assistência para emergência e tratamento.

Além disso, a presença de agentes contaminantes na água, obstáculos subaquáticos, gelo ou


outra condição ambiental anormal, podem afetar o planejamento de alguns mergulhos.
A profundidade deve ser determinada antes de o mergulho começar. Para obtenção da
profundidade, uma série de procedimentos pode ser utilizado, que podem incluir uma linha
demarcada, pneumofatômetro, sonares, etc. Devem ser retiradas amostras do fundo na área do
mergulho. Condições do fundo afetam a mobilidade e visibilidade sob a água. Um fundo arenoso
permite máxima mobilidade e os movimentos do mergulhador não produzem suspensão a ponto de
restringir a visibilidade. Por comparação, trabalhar em um fundo lameado ou sedimentado pode ser
perigoso. A correnteza deve ser levada em consideração para o mergulho, seja este realizado em um
rio ou mar aberto. A direção e velocidade do rio, oceano e correntes marítimas, variam de acordo com
a época do ano, fase da maré, condições do fundo, profundidade e clima. A visibilidade sub e
temperatura da água também possuem importância fundamental no planejamento do mergulho.

15.3.2 - SELEÇÃO DA EQUIPE DE MERGULHO

O número de pessoas necessárias na equipe de mergulho para conduzir o mergulho


dependente, depende de muitos fatores: tipos de equipamentos utilizados; condições ambientais;
profundidade do mergulho; plataforma a ser utilizada; como os mergulhadores serão colocados e
retirados da água e o número de mergulhadores que serão empenhados. Como exemplo, para colocar e
retirar o mergulhador de forma segura em águas abertas, se requer um mínimo de 6 mergulhadores: o
202
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

mergulhador de fundo, o controlador do mergulho, supervisor, mergulhador de emergência, reserva


para o controlador e o marcador do tempo. Tenha em mente que um dos maiores problemas é a
remoção de um mergulhador inconsciente da água. Deve sempre haver um plano e meios disponíveis
para prestação dos primeiros socorros.
O supervisor do mergulho é o responsável pelo planejamento, organização e gerenciamento de
toda a operação de mergulho. Ele deve permanecer nos locais de mergulho por todo o tempo. É o
responsável por determinar os equipamentos necessários, inspecioná-los antes do mergulho, selecionar
os membros da equipe, elaborar procedimentos de primeiros socorros, realizar o briefing pré e pós
mergulho, monitorar o progresso do mergulho.
O mergulhador de fundo deve estar qualificado e treinado com os equipamentos e técnicas
necessárias para o mergulho. No decorrer do mergulho, o mergulhador deve sempre manter contato
com a superfície, a fim de informar o progresso do mergulho, condições do fundo e quaisquer
problemas (atuais ou em potencial). Todo mergulhador é responsável por conferir se seu equipamento
está completo, em boas condições e pronto para uso. Além disso, todo mergulhador precisa conhecer
os sinais feitos através do cabo e os verbais e precisa responder e executar as instruções vindas da
superfície.
O mergulhador de emergência precisa estar tão treinado e qualificado quanto o mergulhador de
fundo. Deve estar sempre pronto para substituir o mergulhador de fundo, independentemente do
tamanho do problema.
O controlador é, normalmente, qualificado para mergulho dependente ou que tenha recebido
treinamento especializado para ser um controlador de mergulho. É responsável por vestir o
mergulhador e controlar o umbilical, trabalhando em conjunto com o mergulhador de fundo. Cada
mergulhador de fundo precisa ter, no mínimo, um controlador para seu umbilical. Antes de o
mergulhador entrar na água, o controlador deve:

- Checar os equipamentos do mergulhador;


- Checar o suprimento de ar;
- Auxiliar o mergulhador a se vestir;
- Auxiliar o mergulhador a entrar na água.

Tão logo o mergulhador esteja na água, o controlador passará a tomar conta do umbilical, a fim
de garantir que não haja excesso e nem tensão no cabo. Além disso, deverá manter contato com o
mergulhador e manter o supervisor informado sobre o progresso do mergulho.
Em mergulhos complexos e longos, um controlador reserva pode ser necessário. Este precisa
estar tão qualificado quanto o titular e participar de todo o briefing da operação. É responsável por
prestar assistência ou substituir o controlador primário quando necessário.
Um marcador de tempo pode ser designado para controlar o tempo de fundo do mergulhador
durante a tarefa. A responsabilidade inclui o registro de tempos de mergulho, profundidades e
qualquer informação importante sobre o mergulho. Em situações em que o número de membros da
equipe seja limitado, o controlador do mergulho poderá exercer a função de marcador de tempo. Em
outras situações, o supervisor do mergulho poderá exercer esta função.

15.3.3 - PREPARAÇÃO PARA O MERGULHO

Normalmente, a equipe de mergulho irá preparar a estação de mergulho. O supervisor deverá


providenciar para que a estação esteja pronta. Para garantir sua execução, deverá possuir uma lista de
checagem para a configuração do sistema e dos gases a serem utilizados. Os controladores
normalmente assistem os mergulhadores para se equiparem. Em muitos casos, o mergulhador irá
vestir a roupa em um local confortável para que possa ser equipado com o harness, umbilicais, etc.
Geralmente, a máscara ou capacete é o último procedimento a ser executado. A lista de checagem
auxilia o supervisor a garantir que o mergulhador está completamente pronto, correção de problemas
203
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

existentes ou em potencial. Caberá ao supervisor checar o mergulhador principal e o reserva. Uma


lista de checagem típica consiste no seguinte:

- Check da roupa do mergulhador;


- Check do harness de segurança e sistema de emergência (bailout), ajustado e acessível;
- Check do lastro do mergulhador;
- Check e registro da pressão do bailout;
- Check e registro da mistura gasosa, caso haja, do bailout;
- Check do fluxo de gás para a máscara ou capacete;
- Check do funcionamento do gás do sistema de emergência;
- Teste das comunicações;
- Check dos componentes da máscara ou do capacete (ex: ajuste da demanda do regulador,
purge, etc);

Tão logo o mergulhador esteja pronto, ele deve parar logo sob a água, e:

- Ajustar a demanda de ar do regulador;


- Check do funcionamento da válvula do sistema de emergência e da válvula de free-flow;
- Completar o teste de comunicações com a superfície.

15.3.4 - CONTROLANDO O MERGULHADOR DE FUNDO

Contato entre o controlador e o mergulhador de fundo deve ser mantido durante toda a
operação. O controlador deve manter as mãos no mergulhador, completamente vestido com a máscara
ou capacete, quando este mover-se para ou do ponto de entrada na água. Manterá também, contato
físico com o mergulhador quando o mesmo entrar ou sair da água. No caso da descida, o controlador
irá liberar o umbilical, de acordo com a velocidade da mesma, mas nunca mais rápido do que o
necessário para o mergulhador. O controlador deve sempre ser capaz de sentir o mergulhador. Tão
logo no fundo, o mergulhador e o controlador devem trabalhar como equipe. O controlador somente
deverá oferecer a quantidade suficiente de cabo do umbilical para o mergulhador, de modo a não
atrapalhá-lo. Normalmente dá-se 1 metro extra de cabo. Se houver perda na comunicação oral, esta
deverá ser feita através de toques no umbilical. Toda a comunicação deve ser transmitida ao
supervisor do mergulho. Caso haja perda nos dois tipos de comunicação, o supervisor deve ser
imediatamente informado. Caso a comunicação oral não seja utilizada, o controlador deverá,
periodicamente, usar os sinais de toque no cabo, a fim de obter informações sobre as condições do
mergulho. Caso o mergulhador não responda aos toques, após algumas tentativas, a situação deve ser
tratada como uma emergência e o supervisor deverá ser notificado imediatamente.

15.3.4.1 - Sinais de comunicação via cabo

1 - Sinais de Emergência:

- 2/2/2=> Estou enroscado e preciso do auxílio do mergulhador de emergência


- 3/3/3 => Estou enroscado, mas consigo me livrar sozinho
- 4/4/4 => Me suba imediatamente

Todos os sinais devem ser respondidos, à exceção do último.

2 - Do controlador para o mergulhador

- 1 toque => “Está tudo bem”? Quando o mergulhador estiver descendo, significa “Pare”;
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- 2 toques => “Descendo”. Durante a subida, significa “Você subiu muito rápido, desça até eu
parar você”;
- 3 toques => “Prepare-se para deixar o fundo e iniciar a subida”;
- 4 toques => “Iniciando a subida”;
- 2/1 toques => “Ok, entendi”.

3 - Do mergulhador para o controlador

- 1 toque => “Eu estou bem” ou “Eu cheguei no fundo”;


- 2 toques => “Devagar” ou “Me de mais cabo”;
- 3 toques => “Puxe a folga do cabo”;
- 4 toques => “Me puxe”;
- 2/1 toques => “Ok, entendi”;
- 3/2 toques => “Me de mais ar”;
- 4/3 toques => “Me de menos ar”.

Outras combinações de toques podem ser utilizadas, de acordo com a necessidade. Para tanto,
o supervisor, controlador, mergulhador e mergulhador de emergência devem estar cientes das novas
combinações.

15.3.5 - O MERGULHO

Quando o mergulhador estiver vestido e pronto para o mergulho, o controlador irá auxiliá-lo a
se preparar para a entrada na água. A técnica de entrada irá depender do local onde for realizado o
mergulho, que pode ser sentado ou em pé. Para entrada em pé, o controlador deverá fornecer cabo
suficiente e o mergulhador deverá proteger sua máscara ou capacete com a mão. Quando o
mergulhador estiver pronto para a descida, as ações a seguir, se apropriadas, deverão ser tomadas
pelos vários membros da equipe:

- O mergulhador deve checar sua flutuabilidade. O lastreamento neutro ou negativo irá


depender do objetivo;
- O supervisor deve verificar o sistema de suprimento de ar, máscara ou capacete e se o sistema
de comunicações está operando corretamente. Em caso negativo, as correções devem ser feitas antes
da descida do mergulhador. O controlador deve procurar por qualquer vazamento no sistema de
suprimento de ar ou na roupa, além de procurar por bolhas de ar. Nenhum mergulhador deve
mergulhar com mau funcionamento no equipamento;
- O supervisor deve verificar com o mergulhador se todos os equipamentos estão operando
satisfatoriamente;
- O supervisor é quem dará a permissão ao mergulhador para iniciar a descida;
- A descida deve ser feita de forma lenta e progressiva, não devendo a velocidade ultrapassar
22m/min;
- O mergulhador deverá compensar os ouvidos durante toda a descida. Na impossibilidade, o
mergulho deverá ser abortado;
- Quando o mergulhador atinge o fundo, o controlador deve ser informado sobre seu status e
garantir que o umbilical não esteja obstruindo o cabo da descida;
- O mergulhador pode optar por desenrolar uma carretilha, cuja extremidade fica amarrada ao
cabo de descida, em casos de pouca visibilidade;
- Após deixar o cabo de descida, o mergulhador deve proceder vagarosamente, a fim de
conservar energia. É aconselhável ao mergulhador, levar uma parte do umbilical na mão, para
prevenir puxadas inesperadas na mangueira;
- O mergulhador deve passar por cima, nunca por baixo, de obstáculos;
205
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

- Se estiver se movendo contra a corrente, pode ser necessário para o mergulhador, assumir
uma posição de rastejo;
- Se o mergulhador tiver que penetrar em naufrágios, túneis, etc., um segundo mergulhador
precisa estar no fundo para controlar a mangueira do umbilical na entrada do espaço confinado;
- O mergulhador deve ser avisado da proximidade do fim do mergulho, podendo assim,
completar a tarefa e preparar-se para a subida.

15.3.6 - VENTILAÇÃO

Se o mergulhador estiver experimentando uma respiração rápida, pesada ou curta, transpiração


anormal ou um calor incomum, tonturas ou visão turva ou ainda se a máscara ou capacete estiver
embaçada, provavelmente há um excesso de dióxido de carbono no sistema. Para eliminar este
excesso em uma máscara ou capacete de fluxo contínuo, o mergulhador precisa ventilá-la através de
um aumento significante de fluxo de ar, por no mínimo 15-20 segundos. Em uma máscara de
demanda, retenção de CO2 não é comum, mas pode estar presente se o mergulhador não respirar
normalmente ou tiver o ajuste do regulador definido para pesado ou não condizente com a taxa de
trabalho. Para ventilar uma máscara ou capacete de demanda, o free-flow ou botão de purga podem
ser usados por 5-10 segundos, que será tempo suficiente para eliminar o excesso de CO 2 das cavidades
oral-nasal e faciais.

15.3.7 - EMERGÊNCIAS COM O MERGULHADOR

15.3.7.1 - Enroscamento

O umbilical do mergulhador dependente pode ficar enroscado em cabos de ancoragem, partes


de naufrágios, estruturas subaquáticas ou o mergulhador pode ficar preso na entrada de um túnel ou no
deslocamento de objetos pesados sob a água. Em algumas emergências, o mergulhador dependente
está em uma posição mais favorável de sobrevivência, se comparado ao mergulhador autônomo, pois
tem um suprimento ilimitado de ar e pode comunicar-se com a superfície, duas das maiores
facilidades em operações de resgate. O enroscamento pode resultar em fadiga, exposição e submersão
prolongada e, consequentemente, pode haver necessidade de uma longa descompressão.
Mergulhadores que estiverem enroscados devem:

- Manter a calma e o controle respiratório;


- Raciocinar com clareza;
- Descrever a situação para a superfície;
- Determinar a causa do enroscamento e, se possível, soltar-se por conta própria;
- Tomar cuidado para evitar cortar partes do umbilical, caso use uma faca.

Caso os esforços para soltar-se por conta própria não tenham sucesso, o mergulhador deve
chamar pelo mergulhador de emergência e esperar, calmamente, pela sua chegada. Excesso de força
ou outras ações de pânico podem piorar a situação, dificultando a ação de soltura.

15.3.7.2 - Subida Descontrolada

Uma velocidade de subida descontrolada do fundo para a superfície é extremamente perigosa


para mergulhadores que usam uma roupa seca. Esta subida súbita ocorre quando a roupa fica
hiperinflada ou o mergulhador perde o contato com o fundo ou com o cabo de descida e é puxado para
a superfície. A causa desta ocorrência normalmente se dá por conta de um controle de flutuabilidade
impróprio por parte do mergulhador, no volume de ar da sua roupa seca. Um arrasto excessivo
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

causado por uma correnteza pode trazer o mergulhador para a superfície. Durante a subida
descontrolada, o mergulhador tipicamente excede a taxa de velocidade de 9m/min que precisa ser
mantida para uma subida segura. Uma inversão acidental realizada pelo mergulhador, que pode jogar
ar para a parte de baixo da roupa seca (pernas), também pode resultar em uma subida descontrolada.
Uma subida descontrolada pode causar:

- Síndrome da hiperexpansão pulmonar;


- Doença descompressiva;
- Perda de paradas para descompressão;
- Acidentes físicos, caso o mergulhador bata em algum objeto durante a subida, como o fundo
de uma embarcação ou plataforma.

Antes de começar o mergulho, o mergulhador precisa certificar-se que todas as válvulas de


exaustão da roupa estejam funcionando adequadamente. A roupa deve possuir um tamanho ideal para
o mergulhador, de modo a evitar que este leve espaço excessivo nas pernas, onde o ar possa se
acumular. Mergulhadores precisam ser treinados em ambientes controlados, de preferência em um
tanque, para o uso de roupa seca. Não é recomendado fazer uso da roupa seca para auxiliar a subida,
pois a perda de controle pode levar a uma subida descontrolada. O mergulhador que tenha
experimentado uma subida descontrolada, que aparentemente não apresente nenhum sintoma de
acidente e que ainda esteja dentro do limite não-descompressivo da tabela, deve voltar para a
profundidade de 3 metros e por lá permanecer até que seja completado o tempo normal do que deveria
ter sido a subida. Ao retornar a superfície, ele deve ser observado por, no mínimo, uma hora, a fim de
verificar a presença de sintomas de doença descompressiva ou outros sintomas. Vítimas de subida
descontrolada, que estejam perto do limite não-descompressivo ou que requeiram descompressão,
podem ser capazes de seguir os procedimentos de descompressão. No entanto, caso seja incapaz de
seguir os procedimentos, a vítima deve ser recomprimida em uma câmara hiperbárica a profundidade
de 18 metros e avaliada em seguida. Oxigênio deve estar disponível para uso. Na profundidade, a
condição do mergulhador deve ser avaliada, a procura por sinais ou sintomas de embolia aérea ou
doença descompressiva, podendo ser necessário aumentar a profundidade na câmara. O supervisor do
mergulho deve consultar o médico hiperbárico, a fim de definir a melhor tabela para o tratamento.
Caso não haja câmara disponível, vítimas conscientes devem ser tratadas de acordo com os
procedimentos de recompressão para interrupção ou omissão de descompressão. Vítimas
inconscientes devem ser guiadas de acordo com a tabela de recompressão e os procedimentos
designados para tratamento de embolia aérea ou séria doença descompressiva devem ser usados.

15.3.7.3 - Perda do suprimento primário de ar

Mesmo a perda do suprimento primário de ar não ser frequente com a maioria dos sistemas de
mergulho dependente, pode ocorrer ocasionalmente. Em um improvável evento de perda do controle
do suprimento primário de ar, o operador do controle de gás deve, imediatamente, mudar para o
suprimento secundário, notificar o supervisor e aguardar instruções. O supervisor ordenará a
investigação da causa da perda de fornecimento e imediatamente iniciar os preparativos para o
encerramento do mergulho. Irá orientar ao controlador para remover a folga do umbilical e em
seguida, ordenar a checagem para verificação se está livre e pronto para deixar o fundo. Caso não seja
possível restaurar o suprimento primário de ar tão logo o mergulhador esteja pronto para subir, o
mergulho deverá ser abortado. Em muitos casos, o suprimento será restaurado e o mergulho poderá
prosseguir. Por vezes, o mergulhador poderá reportar que o fluxo de gás está baixo ou que a
respiração está pesada. Uma checagem do console de controle do suprimento de ar deve ser realizada.
Caso não haja nenhum problema, é possível que a mangueira do umbilical do mergulhador esteja
sendo esmagada por um objeto pesado. Neste caso, o mergulhador deverá alternar a fonte de ar para o
bail-out e verificar se o fluxo retorna ao normal. Em caso positivo, ele deverá imediatamente verificar
se o umbilical está livre. O supervisor deverá orientar o controlador para retirar a folga da mangueira.
207
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

Geralmente, a adoção destes dois procedimentos será suficiente para encontrar a origem da restrição.
Caso o umbilical não consiga ser liberado, o mergulhador de emergência deverá ser empenhado com
um umbilical de reposição e ferramentas necessárias para substituir a mangueira com problema e o
mergulho deverá ser abortado. Nunca continue o mergulho com somente uma fonte de suprimento de
ar.

15.3.7.4 - Perda de comunicação ou contato com o mergulhador

Caso o contato do mergulhador com a superfície seja perdido, os seguintes procedimentos


devem ser adotados:

- Se a comunicação oral for perdida, o controlador deverá imediatamente proceder o contato


via toques no cabo e abortar o mergulho;
- Dependendo das condições e objetivos feitos durante o planejamento do mergulho, o
mergulho deverá ser terminado ou continuado até que seja completado (usando-se os sinais de toque
no cabo). Em mergulhos de busca, é melhor que o mergulho seja encerrado e o problema resolvido;
- Caso o controlador sinta tensão suficiente no cabo para concluir que o mergulhador continua
preso a este, mas mesmo assim não responder aos sinais de toque, devem ser tomadas as providências
como se o mesmo estivesse inconsciente. Neste caso, o mergulhador de emergência deve ser acionado
imediatamente;
- Caso se perceba que o mergulhador não está respirando, uma checagem do capacete ou
máscara deve ser feito para garantir que o gás respirável está disponível. Neste caso, o umbilical deve
ser liberado e o mergulhador trazido para a superfície.

15.3.7.5 - Perda da visão do cabo de descida ou da carretilha

Ocasionalmente, o mergulhador perderá a visão do cabo de descida ou do cabo da carretilha.


No caso da carretilha, o mergulhador deverá cuidadosamente procurar, utilizando os braços, pelas
proximidades. Se a profundidade for menor que 12 metros, o controlador deverá arrastar o umbilical
com o objetivo de guiar o mergulhador de volta ao cabo de descida. Neste caso, o mergulhador deve
ser levantado um pouco do fundo. Quando o contato com o cabo for restabelecido, o mergulhador
deverá avisar ao controlador para colocá-lo de volta no fundo. No caso de profundidade maior que 12
metros, o controlador deverá guiar o mergulhador para o cabo de descida, utilizando métodos de
busca.

15.3.7.6 - Descida descontrolada

Uma descida descontrolada é um sério perigo para mergulhadores que usam máscara ou
capacete, com ou sem roupa seca. O principal risco é súbito aumento da pressão ambiente, que pode
resultar em um barotrauma, caso o mergulhador não consiga compensar a máscara ou capacete e a
roupa. Com um capacete de acoplagem, a válvula irá, automaticamente, adicionar com o aumento da
pressão. No entanto, se o mergulhador estiver usando uma roupa seca sem acoplagem, o barotrauma
torna-se possível. Barotraumas podem ser muito sérios. O mergulhador e o controlador devem estar
sempre atentos a possibilidade de uma descida descontrolada. Se o mergulhador começar a descer
descontroladamente, o controlador deverá tensionar o umbilical, a fim de parar a descida.

15.3.8 - SUBIDA

Quando o tempo de fundo do mergulhador chegar ao fim ou o objetivo for completado, o


supervisor do mergulho dará a ordem para que o mergulhador regresse para o sino de mergulho ou
para o cabo de descida. Irá ordenar ao controlador que remova o excesso de cabo do umbilical,
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garantindo que o mesmo esteja livre e que o mergulhador esteja pronto para a subida. Os
procedimentos a seguir devem ser usados:

- O controlador deve exercer uma ligeira pressão na montagem do umbilical;


- O controlador deve exercer uma tração constante e lenta, direcionada pelo supervisor;
- O supervisor deverá marcar o tempo de subida, tão logo o mergulhador indique que deixou o
fundo;
- O supervisor é o responsável por manter uma velocidade de subida adequada (9m/min);
- O operador do console deverá relatar ao supervisor, a profundidade do mergulhador
(geralmente a cada 3 metros), conforme checado no pneumofatômetro;
- Se estiver usando uma roupa seca, o mergulhador deverá lançar somente o necessário de ar
na roupa, a fim de evitar uma subida descontrolada;
- Geralmente, o supervisor irá informar o mergulhador sobre a necessidade de paradas para
descompressão;
- Quando o mergulhador estiver na superfície, o controlador e mais um membro da equipe irá
auxiliar o mergulhador na remoção da máscara ou capacete e do restante do equipamento.

15.3.9 - PROCEDIMENTOS PÓS-MERGULHO

Após todos os equipamentos terem sido removidos do mergulhador e devidamente checados


pelo supervisor, o mergulhador deverá permanecer nas proximidades por pelo menos 30 minutos.
Caso a operação de mergulho tenha sido concluída, os seguintes procedimentos são recomendados:

- Limpar o capacete ou máscara e o bail-out; enxaguar em volta e limpar com ar;


- Proteja a ligação do suprimento de ar da máscara ou capacete, desconectando e cobrindo;
- Lave e enxague todos os equipamentos de mergulho;
- Garanta que todo o sistema esteja seguro.

A manutenção pós-mergulho deve ser executada de acordo com a recomendação do fabricante.


A limpeza da cavidade oral da máscara ou capacete ou da máscara oral-nasal, além do bocal, deve ser
feita utilizando produtos desinfectantes, feitos por componentes que minimizem a transmissão de
germes. A solução deve ser aplicada através do uso de uma esponja ou escova, devendo a área a ser
limpa, bem escovada com a solução, por um tempo de 5 minutos. Após, a solução deve ser removida
com água doce. O equipamento deve estar totalmente seco antes de ser guardado.

15.3.10 - CONFIGURAÇÕES ALTERNATIVAS PARA MERGULHO DEPENDENTE

Apesar da maioria dos mergulhos dependentes serem feitos a partir de grandes embarcações ou
plataformas fixas, o sistema do umbilical pode ser adaptado a pequenas embarcações que estiverem
ancoradas e seguras. É recomendado nesse caso, que a embarcação esteja ancorada em pelo menos
dois pontos, a fim de prevenir qualquer tipo de colisão que venha a colocar o mergulhador em risco.
Quando essa situação tiver que ser colocada em prática, um conjunto de cilindros de alta pressão, com
um console de controle de ar, pode ser usado como suprimento de ar respirável. Quando a
profundidade for maior que 30 metros ou além dos limites não-descompressivos, a configuração do
conjunto de cilindros e do console de ar deve ser realizada de modo a assegurar um suprimento de gás
reserva. Isto permite a equipe, realizar a operação sem um compressor de ar. O número e tamanho dos
cilindros dependerão do tamanho da embarcação e equipamentos operacionais. Para embarcações
pequenas, dois ou mais conjuntos de cilindros duplos para mergulho autônomo podem ser conectados
a um manifold especial, que por sua vez, estará conectado a um redutor de alta pressão ou a um painel
de controle de gases. O umbilical é conectado em seguida, a outra extremidade do redutor de pressão.
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Para embarcações grandes, o ar pode carregado por uma série de cilindros de alta pressão, com
volume de 240 ou 300 pés3. Independentemente da configuração a ser utilizada, todos os cilindros
devem estar seguros e as válvulas, manifold e reguladores devem estar protegidos a fim de prevenir
ferimentos na equipe ou danos aos demais equipamentos. O umbilical deve ser enrolado no topo dos
cilindros ou no fundo da embarcação. Para conveniência do controlador, a caixa de comunicação é
geralmente colocada em um assento. Estes equipamentos de comunicação devem estar protegidos do
tempo e do spray de água, especialmente quando for água salgada. Pelo fato de pequenas embarcações
serem utilizadas somente para mergulhos rasos, o tamanho do umbilical é normalmente de 30 a 45
metros. A equipe de mergulho para este tipo de mergulho consiste no mergulhador, supervisor,
controlador e mergulhador de emergência. Caso todos os membros sejam qualificados, poderá haver
um revezamento entre os membros, a fim de dinamizar a operação. O mergulhador de emergência
pode estar equipado com uma máscara e umbilical reserva ou pode equipar-se com equipamento
autônomo. Ele deve ser capaz de entrar na água, quando necessário, em menos de 1 minuto. Além
disso, deverá usar um cabo de ligação, de fácil soltura, entre ele e o controlador, para fins de
comunicação. Todo mergulhador deve carregar consigo, um cilindro de emergência (bail-out) para
casos de perda do suprimento primário de ar.

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CAPÍTULO 16 - SERES MARINHOS PERIGOSOS

“O mar pode se tornar uma armadilha para aqueles que desconhecem ou desrespeitam os seres
que o habitam”.
A permanente busca por novos recursos, matérias-primas e alimentos, a crescente ocupação
das zonas costeiras por loteamentos e o grande incremento das atividades esportivas e de lazer ligadas
ao mar, sua fauna e flora, tem levado o homem, cada vez mais intensamente nos últimos anos, a
conviver e expor-se a riscos de acidentes com os seres marinhos. Como "intruso" desse complexo e
maravilhoso ecossistema, o homem deve respeito a seus habitantes. Não seria exagero dizer, que a
maioria dos acidentes são provocados pela falta de conhecimento e atenção, excesso de curiosidade ou
até mesmo prepotência, abuso e irresponsabilidade. Além da adaptação a novas condições num meio
que lhe é estranho, o homem enfrenta a natural reação do meio ambiente contra essa "invasão",
representada pela ação de alguns animais marinhos, muitas vezes em uma atitude natural de
comportamento ou defesa, que pode provocar sérios acidentes. Desde os conhecidos e temidos
tubarões a formas menores e menos temidas, mas não menos perigosas, como as águas-vivas. Nesse
capítulo sobre os seres marinhos perigosos, procuraremos descrever os principais animais, com
ocorrência no litoral brasileiro, que oferecem perigo para o homem, abordando, de forma resumida e
objetiva, suas principais características, hábitos, formas de agressão, tipos de acidentes que provocam,
em caso de mordida, picada com ou sem inoculação de peçonha, contato ou intoxicação, as formas de
evitá-los e o tratamento das lesões e desconfortos físicos ocasionados.
Veremos aqui agora, como os animais podem ser divididos, quanto a lesões:
Para efeito prático de estudo, os animais marinhos perigosos estão divididos em dois grupos:

GRUPO I – ANIMAIS QUE OCASIONAM OU PRODUZEM FERIMENTOS

- FALSOS CORAIS URTICANTES


- OURIÇOS MARINHOS
- TUBARÕES
- BARRACUDAS
- MORÉIAS
- RAIAS ELÉTRICAS

GRUPO II - SERES QUE INJETAM VENENO

- ÁGUAS VIVAS
- POLVO
- OURIÇOS DO MAR
- ARRAIAS
- CARAMUJOS

16.1 - GRUPO I - SERES QUE OCASIONAM OU PRODUZEM FERIMENTOS


16.1.1 - FALSOS CORAIS URTICANTES
São pólipos diminutos, coloniais e dimórficos, que se projetam através de póros em um
exoesqueleto calcário maciço (carbonato de cálcio). Assemelham-se aos corais verdadeiros e são
encontrados nos recifes tropicais até 30 metros de profundidade. Seus tentáculos são capazes de
infligir lesões urticantes que variam de intensidade de acordo com a espécie envolvida. Algumas
espécies ocorrentes em nossa costa e na costa da Flórida, conhecidas como "coral-de-fogo" possuem
poderosos nematocistos capazes de provocar sérias lesões muito dolorosas.

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Tratamento:
1) lavar a região atingida com solução de bicarbonato de sódio ou solução fraca de
amônia;
2) pomadas de corticosteróide ou anti-histamínicos no local;
3) logo que a dor começar a diminuir, lavar cuidadosamente a lesão com água e sabão para
remover todo o material estranho. Aplicar um curativo anti-séptico e cobrir com gaze esterilizada.
Prevenção: usar luvas, roupas de borracha e outros meios de proteção adequados.

Coral de Fogo

16.1.2 - OURIÇOS DO MAR (EQUINODERMOS)

São encontrados em grandes quantidades. As lesões são ocasionadas por espinhos, que
rodeiam todo o seu corpo. Os espinhos possuem pequenas rebarbas e se fragmentam muito facilmente
quando se tenta removê-los do local. Alguns ouriços dispõem de sistemas injetores de veneno nas
bases dos seus espinhos. A penetração dos espinhos ocasiona, imediatamente, a sensação de
queimadura, provocando, em casos graves, fraqueza nas pernas, anestesia, pulso irregular, paralisia,
dispnéia, etc.

Tratamento: remova os espinhos com uma pinça. Lave a região e cubra com gaze esterilizada.
Tratar a infecção se for o caso.

Prevenção: usar luvas, sapatos e outros meios protetores, evitando sempre tocar nos ouriços
do mar.

Ouriço do mar

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16.1.3 - TUBARÕES (CONCRICHTHYES)


São os seres marinhos mais temidos e respeitados em todo o mundo. Apesar de tal fama,
apenas doze espécies vivem no litoral brasileiro. Altamente instintivos e imprevisíveis e com enorme
capacidade de percepção proporcionada pela combinação de seus sentidos apurados, os tubarões são
atraídos e incentivados a atacar, por sangue, movimentos bruscos e descoordenados, barulhos, peixes
feridos, cores berrantes e objetos metálicos brilhantes. Usualmente, a lesão provocada pelo ataque de
um tubarão advém de uma única mordida, de formato parabólico com bordas irregulares (múltiplas
incisões lineares crescentes), que pode apresentar-se como laceração e/ou compressão, de acordo com
o tipo de tubarão agressor. Em função da força mandibular empregada pelo animal, os danos podem
estender-se internamente no abdômen e tórax quando a mordida ocorrer no tronco. Qualquer mordida,
independente do tamanho do tubarão, deve ser considerada grave devido às grandes dilacerações que
provocam. A hemorragia proveniente do corte de grandes vasos ou danos em estruturas internas
altamente vascularizadas induz ao choque hipovolêmico e o consequente afogamento da vítima. De
acordo com os registros, a mortalidade provocada por ataques de tubarão está situada entre 20 e 35%.

Tubarão Tigre Tubarão Cabeça Chata

16.1.4 - BARRACUDAS (OSTEICHTYES)

Há cerca de 20 espécies de barracuda, sendo a gigante a mais temida. Ela pode alcançar dois
metros de comprimento. Atacam ao homem muito raramente, mas as consequências são graves.
Acredita-se que sejam atraídas por cores claras e, em geral, os ataques são rápidos e ferozes.

Barracuda

16.1.5 - MORÉIAS

De hábitos costeiros, em águas relativamente rasas com fundo coralino e/ou rochoso,
permanece entocada durante o dia vigiando os arredores. Muito nervosa, é capaz de atacar e morder
qualquer coisa que a perturbe. À noite, quando é mais ativa, sai de sua toca para procurar alimento. A
moréia não sai de sua toca para atacar o homem. No entanto, quando um mergulhador se aproxima da
entrada de sua toca, ela põe a cabeça para fora, com a boca aberta ameaçadoramente. Se o "intruso"
não notá-la a tempo, poderá levar uma potente mordida. Os ferimentos causados pelas moréias são do
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tipo lacerante e denteado. A hemorragia pode ser grande e a infecção secundária é frequentemente
encontrada. Além das dilacerações provocadas, a ferida normalmente infecciona devido à enorme
quantidade de bactérias existentes no material não digerido que permanece entre seus dentes fortes e
cortantes.

Moréia

16.1.6 – RAIAS ELÉTRICAS

Duas famílias de raias elétricas possuem representantes em nosso litoral. A família


Torpedinidae, com duas espécies do gênero Torpedo, e a família Narcinidae, com três espécies dos
gêneros Diplobatis, Discopyge e Narcine. As raias elétricas vivem em todos os oceanos temperados e
tropicais do planeta e são os mais importantes membros desse grupo dos seres eletrogênicos. Embora
possam ser encontradas em profundidades medianas, são, na sua maioria, raias costeiras de águas
rasas. Péssimas nadadoras, quando não estão enterradas na lama ou na areia do fundo, onde passam
grande parte do dia, movimentando-se de forma bastante lenta. Todas as espécies possuem o corpo
com formato de disco, sendo a cauda e a nadadeira caudal bem desenvolvidas. A descarga elétrica é
uma simples reação involuntária de reflexo do animal. Com um choque contínuo ou vários repetidos,
a energia acumulada se esgota. Para recuperá-la, as raias elétricas necessitam descansar por algum
período. A voltagem produzida, que varia de acordo com a espécie, pode alcançar de 8 a 220 volts. As
espécies mais perigosas, dos gêneros Diplobatis e Torpedo, podem produzir descargas acima de 200
volts. A maior raia elétrica do nosso litoral é denominada Raia torpedo (Torpedo nobiliana). Atinge
1,8 metros de comprimento e seu dorso é marrom-escuro e o ventre branco. Devido ao seu grande
porte, pode produzir uma descarga de até 220 volts, bastante perigosa para o homem, apesar de não
haver registros de acidentes sérios. A espécie mais comum do litoral brasileiro e de boa parte da costa
das Américas, chamada vulgarmente de TREME-TREME, é de pequeno porte (seu comprimento não
passa de meio metro) e produz uma descarga que oscila entre 14 e 37 volts.

Raia Treme-Treme Raia Torpedo

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Tratamento: O tratamento para os casos de acidente com estes seres seria praticamente o mesmo para
quem sofre um choque na tomada elétrica de sua residência, não fosse o ambiente onde ele ocorre (a
água). Nesse sentido, existe o agravante da possibilidade de afogamento em caso de pânico ou mesmo
inconsciência ocasionados por um choque mais violento. Assim, nos acidentes com estes seres, a
vítima deverá ser retirada imediatamente da água a fim de evitar afogamentos. O seguimento do
tratamento deverá ocorrer de acordo com os danos e sintomas apresentados.

Prevenção: Os banhistas que costumam andar dentro da água nas áreas costeiras e rasas e aqueles que
desembarcam de suas lanchas nas praias devem ter muito cuidado, pois visualizar uma raia elétrica
deitada no fundo e coberta de areia ou lama é uma tarefa difícil. O uso de botas de borracha garante
uma proteção efetiva contra a descarga elétrica quando há o contato com o corpo do animal. O mesmo
acontece com as roupas de neoprene e as nadadeiras usadas pelos mergulhadores e pescadores
subaquáticos. Vale lembrar que apenas no ambiente terrestre, onde o ar atua como um ótimo isolante,
o choque elétrico só ocorre quando se está em contato direto com o solo ("aterrado"), permitindo que a
corrente passe pelo corpo. No ambiente marinho, sendo a água salgada um excelente condutor de
eletricidade, o contato com o corpo da raia, mesmo estando-se flutuando na massa de água, provocará
com certeza um choque no mergulhador ou banhista desprotegido.
Como todo choque elétrico, a descarga produzida pelas raias elétricas também pode provocar,
em função da espécie e consequentemente, de sua voltagem e dependendo do local e do tamanho da
pessoa atingida, desde bons sustos seguidos de muita adrenalina até sérias queimaduras. Dependendo
da espécie e de seu tamanho, o contato físico com uma raia elétrica descansada, com plena carga,
como as do gênero Torpedo, pode produzir um sério choque elétrico. A descarga é capaz de nocautear
um homem adulto e torná-lo incapacitado temporariamente.

16.2 - GRUPO II - SERES QUE INJETAM VENENO

No grupo dos invertebrados marinhos peçonhentos encontraremos vários animais distribuídos


em diversos ramos, como os poríferos (esponjas), os celenterados (caravelas, águas-vivas, corais, etc),
os equinodermos (ouriços), os moluscos (conus e polvos) e os anelídeos (poliquetas).

Esponjas Poliquetas Esponjas coloridas

16.2.1 - ÁGUA VIVA (CNIDÁRIA, HIDROZOA)

Vivem nos mares tropicais e subtropicais, nas águas pelágicas e costeiras e nas praias. Podem
ocorrer isoladamente ou em grandes grupos __ principalmente nos ciclos sazonais de procriação, em
áreas que são, em geral, conhecidas pelos habitantes locais e evitadas por motivos óbvios. Flutuam
calmamente e apesar de poderem se deslocar por contrações rítmicas estão, em grande parte, à mercê
das correntes e ondas. Durante as tempestades um grande número delas costuma ser lançado nas
praias. Seu alimento, peixes e pequenos invertebrados, são capturados e paralisados pelos
nematocistos dos tentáculos orais e conduzido para a boca. São exatamente esses tentáculos orais que
provocam acidentes com o homem. Todas as águas-vivas são capazes de infligir algum dano, porém
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apenas algumas espécies são realmente perigosas e podem provocar lesões muito dolorosas e sérias.
Em nosso litoral são muito comuns as espécies capazes de provocar pequenas lesões e dermatites
dolorosas. As mais perigosas, pouco comuns, podem infligir desde as lesões moderadas (dor pulsátil
ou latejante, porém raramente causando inconsciência) às lesões severas (dor intensa que pode levar à
perda da consciência e ao afogamento). Os acidentes com as espécies muito perigosas, denominadas
vulgarmente de vespas-do-mar e que podem provocar, além de erupções lacerantes e dor lancinante,
falência circulatória e paralisia respiratória, são mais raros em nossa costa.

São comuns em águas frias, possuem em seus tentáculos, células urticantes que em contato
com o corpo disparam um filamento urticante que gruda na pele. Outro parente da água-viva bastante
perigoso é a Caravela, comum em águas quentes do Nordeste, e que possui tentáculos que podem
atingir 1m de comprimento. Sintomas: Dor, irritação e vermelhidão na pele, em alguns casos até
parada respiratória, caso a pessoa seja muito sensível à substância, e tenha uma grande área do tórax
atingida.

Tratamento:

1) quando atingido, sair da água imediatamente;

2) procurar remover bem rápido a substância tóxica, protegendo as mãos e evitando espalhar
mais o material. Aplique amônia ou bicarbonato de sódio;

3) tentar reduzir a reação com pomadas de corticosteróides, anti-histamínicos, anestésicos


locais e compressas frias;

4) acompanhar com cuidado a reação sistêmica e um possível choque;

5) encaminhar a vítima para um hospital.

Prevenção:
1) esteja sempre alerta para evitar possíveis contatos;
2) use roupa de neoprene nas áreas suspeitas ou em mergulhos noturnos;
3) os tentáculos podem estar afastados do corpo da água viva por mais de um metro. Eles
podem ser perigosos mesmo depois de mortos. A manipulação deve ser feita com cuidado.

Medusa
Caravela

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16.2.2 - ARRAIAS (CHONDRICHTHYES)

Existem vários tipos de arraias, sendo que muitas delas apresentam veneno. As venenosas,
como a raia manteiga, tem uma espécie de ferrão coberto por uma bainha membranosa, geralmente, na
parte superior da cauda. A arraia permanece quase o tempo todo deitada, com o ventre pousado no
fundo, parcialmente coberta por areia. Só ataca quando perturbada, para isso sacode-se fortemente,
atingindo o mergulhador com o ferrão, que forma um ferimento relativamente profundo. O local
afetado fica dolorido. A dor pode espalhar-se por todo o membro. Ainda podem aparecer sintomas
como choques, náuseas, vômito, espasmos musculares.
Tratamento: 1) remover a vítima da água imediatamente;
2) lavar o ferimento com soro fisiológico ou água doce;
3) tentar remover os fragmentos do ferrão ou da bainha membranosa;
4) manter o ferimento em água tão quente quanto suportável por meia hora
aproximadamente;
5) injetar novocaína local, se necessário;
6) logo que a dor melhorar, cubra o ferimento e eleve o membro afetado;
7) em caso de sutura, nunca deixar de drenar o ferimento;
8) usar soro antitetânico e antibióticos para prevenir uma possível infecção
(nesta fase o paciente já deverá estar sob cuidados médicos);
9) esteja atento para os sintomas de choque, intervindo prontamente.

Arraia Jamanta
Arraia Manteiga

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16.2.3 - PEIXES VENENOSOS

São muito encontrados em águas tropicais e tendem a permanecer quietos no fundo. É o


contato casual do mergulhador com seus ferrões venenosos que, geralmente, causam lesões. Os mais
comuns são: o peixe-escorpião, o peixe-gato e o peixe-pedra. Quando o mergulhador chega a uma
região desconhecida para a prática da caça submarina ou qualquer outra modalidade de mergulho,
deve sempre consultar os pescadores e mergulhadores locais para obter informações quanto ao tipo de
vida existente na região, principalmente quanto ao tipo de seres marinhos que oferecem perigo ao
homem.

Peixe-Pedra Peixe-Escorpião Peixe-Gato

16.2.4 - SERPENTES (AMPHIBIA)

Seu aspecto é semelhante aos das serpentes de terra. O corpo é geralmente terminado por uma
cauda achatada, em forma de almofada. O maxilar superior é guarnecido na sua parte dianteira por
dois dentes ocos, capazes de injetar veneno. A serpente marinha só ataca o homem quando atingida
por ele, o que normalmente se dá por casualidade. Seu veneno é, em geral, bastante potente. A
característica principal é que a vítima só começa a sentir os sintomas da picada quase trinta minutos
após o ataque. As picadas são sistêmicas, com pouca reação local. Às vezes, pode passar
despercebida.
Sintomas:
1) sensação de mal estar e ansiedade;
2) sensação de língua grossa. Cansaço muscular com dor ao fazer movimentos;
3) astenia, evoluindo para dificuldades na movimentação. Instalação de paralisia
flácida, começando pelos membros inferiores de propagação ascendente;
4) dificuldade de falar e deglutir, com sensação de ardência na garganta;
5) espasmos musculares e convulsões;
6) dispnéia;
7) perda de consciência;
8) choque.

Serpente Marinha
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Tratamento:
1) Manter a parte comprometida quieta, evitando exercício;
2) Se a picada for em um membro, aplicar um torniquete acima da picada, afrouxando-o
de meia em meia hora por 5 minutos;
3) Transportar a vítima com um mínimo de exercício para o Hospital mais próximo.
4) Procurar capturar a serpente para a identificação;
5) É recomendável que se faça uma preparação do paciente com corticosteróides para
prevenir uma reação anafilática pela aplicação do soro;
6) O soro aplicado deve ser o antiofídico polivalente, por via endovenosa (20cc ou mais,
se necessário);
7) É importante que o paciente fique em observação para o caso de instalação de um
estado de choque;
8) deve-se estar alerta para:
a) Controle do balanço hidroeletrolítico
b) Distúrbios respiratórios.
9) Recomenda-se nestes casos a sedação com entorpecentes, com exceção da morfina.

16.2.5 - CARAMUJOS

Possuem um ferrão venenoso, principalmente, os da família conidal. Podem produzir,


inicialmente, uma isquemia localizada, cianose e sensação de dormência. Esses sintomas evoluem
muito rápido e passam para todo o corpo, sendo mais típicos nos lábios e na boca. Em casos graves,
podem aparecer paralisia, dificuldade respiratória, coma e morte causada por falência cardíaca. O
tratamento é semelhante aos das mordidas de cobra.

Os caramujos mais temíveis são os do gênero Planorbis, por serem hospedeiros de uma fase
intermediária da evolução do esquistossomo (verme que produz no homem a grave doença chamada
esquistossomose).

Prevenção: cuidado ao pegar caramujos. Sempre transportá-los em sacolas. Nunca entre as


roupas e o corpo.

Caramujo

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ORAÇÃO DO MERGULHADOR DO CBMERJ

Poderoso e Soberano Deus,


Lanço-me nas profundezas das águas,
Através do desconhecido das trevas,
Para buscar o que foi perdido, resgatar o que está submerso.

Faço isso com a incerteza da minha volta,


Com o risco da minha integridade,
Com o temor que nos é inerente,
Mas com a convicção de que precisamos fazê-lo.

Por isso, Senhor,


Faz com que eu supere as incertezas,
Que o medo seja sobrepujado pela fé,
E se viermos a perecer no cumprimento do dever,
Que tu ó Deus, guarde nossas almas.

Mas faz Senhor, com que cumpramos a nossa missão sagrada:


Seja em águas claras ou turvas, rasas ou profundas,
Se submerso nós trazemos,
Se perdido nós achamos.

Mergulho! Mergulho! Mergulho!

Nilo Teixeira de Oliveira - 2º Ten BM QOA/91

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BIBLIOGRAFIA

- WERNECK, Marcus. Manual de Mergulho Tek Trimix. 1. ed. Rio de Janeiro: PDIC Brasil, 2005.
- Encyclopedia of Recreational Diving. California: PADI, 2005.
- U.S. Navy Diving Manual. 6ª revisão: U.S. Navy, 2005.
- PELIZZARI, Umberto. Manual of Freediving - Underwater on a Single Breath. Idelson-Gnocchi,
2004.
- Manual de Mergulho a Ar. 1. ed. Marinha do Brasil, 2007
- NOAA Diving Manual. 4. ed. National Oceanic and Atmospheric Administration, 2002.
- Prehospital Trauma Life Suport. 7. ed. National Association of Emergency Medical Technicians,
2011.
- CANETTI, Marcelo. Resgate e Transporte de Pacientes: Materiais e Técnicas. 1. ed. Rio de
Janeiro, 1994.
- Manual de Operações de Mergulho. 1. ed. Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, 2006.
- MOREIRA, Carlos Alberto Bastos. Compêndio de Mergulho da Confederação Brasileira de
Pesca e Desportos Subaquáticos. 1. ed. Rio de Janeiro, 1996.

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