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DECISÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1)
INEXISTÊNCIA DE CONTRARIEDADE
AO ART. 93, INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA. 2) CÓDIGO PENAL E LEI
N. 11.343/2006: QUESTÕES
INFRACONSTITUCIONAIS. 3)
NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVA:
SÚMULA N. 279 DO SUPREMO
TRIBUNAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo de instrumento contra decisão que não admitiu recurso


extraordinário, interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da
Constituição da República.

2. O recurso inadmitido tem como objeto o seguinte julgado do


Tribunal de Justiça do Ceará:

“APELAÇÃO-CRIME. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES (...). I- A autoria e materialidade delitivas
encontram-se devidamente evidenciadas pela confissão do acusado,
bem como pela droga apreendida (aproximadamente 10kg de cocaína),
devendo em razão da confissão ser atenuada a pena aplicada. II- Não
há que se falar em reincidência por condenação em razão de crime de
roubo praticado pelo acusado, quando não houve sentença transitada
em julgado. III- Correta a aplicação na fixação da pena quanto à
incidência do art. 40, inc. V, da Lei de Drogas (tráfico entre estados da
federação), uma vez que a denúncia narra de forma clara os fatos para
tal imputação. IV - No tocante à pena de multa, será mantida a
quantidade de dias-multa, no valor unitário mínimo, não sendo
exacerbada a pena aplicada, uma vez que levou em consideração as
circunstâncias judiciais dispostas no art. 59 do CP, a natureza e a
quantidade da substância encontrada com o acusado. V - Recurso
parcialmente provido, apenas para corrigir a pena quanto à aplicação
da reincidência” (fl. 12 – grifos nossos).

3. No recurso extraordinário, o Agravante alega que o Tribunal a quo


teria contrariado o art. 93, inc. IX, da Constituição da República, pelas
seguintes razões: a) “a pena-base fixada ficou em quase dois terços do máximo
da pena” (fl. 25); b) deveriam ter sido aplicados os arts. 33, § 4º (causa
especial de redução de pena), e 41 (diminuição de pena por colaboração
com a investigação policial e o processo criminal) da Lei n. 11.343/2006; c)
não haveria prova de tráfico interestadual, pelo que não seria aplicável a
causa de aumento do art. 40, V, da Lei n. 11.343/2006.

4. A decisão agravada teve como fundamentos para a


inadmissibilidade do recurso extraordinário a ausência de ofensa
constitucional direta e a incidência das Súmulas n. 279 e 284 do Supremo
Tribunal (fls. 49-50).

O Agravante assevera que estariam presentes os pressupostos para o


processamento do recurso extraordinário.

Analisada a matéria posta à apreciação, DECIDO.

5. Razão jurídica não assiste ao Agravante.

6. A alegação de nulidade do acórdão por contrariedade ao art. 93,


inc. IX, da Constituição da República não pode prosperar. Embora em
sentido contrário à pretensão do Agravante, o acórdão recorrido
apresentou suficiente fundamentação.

Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal, “o que a


Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão judicial seja fundamentada;
não, que a fundamentação seja correta, na solução das questões de fato ou de
direito da lide: declinadas no julgado as premissas, corretamente assentadas ou
não, mas coerentes com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência
constitucional” (RE 140.370, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 150/269).
7. Ademais, são infraconstitucionais as questões relativas à
dosimetria da pena (Código Penal) e à aplicabilidade de normas da Lei n.
11.343/2006, não podendo ser objeto de recurso extraordinário. Nesse
sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. CRIMINAL. ÔNUS DA PROVA E
DOSIMETRIA DA PENA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 282 E 356 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL: OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. PRECEDENTE. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (AI
842.032- AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, Dje 12.5.2011
– grifos nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL. AUSÊNCIA DE PEÇA


ESSENCIAL. ARTS. 5º, XLVI, E 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. OFENSA
REFLEXA. A parte agravante não demonstra a presença nos autos da
peça que a decisão agravada teve como ausente, qual seja, a certidão de
publicação do acórdão recorrido. Trata-se de peça de traslado
obrigatório, cuja ausência acarreta o não-conhecimento do agravo de
instrumento. Ausência de prequestionamento. Questão não ventilada
no acórdão recorrido e que não foi suscitada em embargos de
declaração. Óbice previsto pelos enunciados das Súmulas 282 e
356/STF. Alegação de violação dos arts. 5º, XLVI, e 93, IX, da
Constituição Federal. Necessidade de exame prévio de norma
infraconstitucional (Código Penal) para a verificação de contrariedade
à Carta Magna. Caracterização de ofensa reflexa ou indireta.
Precedente. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI
586.491-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe
28.11.2008 – grifos nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMINAL.
DOSIMETRIA DA PENA. INCISO IX DO ART. 93 DA
CF/88. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS
282 E 356 DO STF. CONTROVÉRSIA DECIDIDA COM
APOIO NO ARTIGO 59 E CAPUT DO ARTIGO 71 DO
CÓDIGO PENAL. OFENSA INDIRETA AO MAGNO
TEXTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 283 DO STF.
AGRAVO DESPROVIDO. (...) O acórdão recorrido não
invocou nenhum direto comando constitucional para nele fazer
repousar a decisão afinal proferida. Controvérsia decidida à luz
do artigo 59 e do caput do artigo 71 do Código Penal. Pelo que
eventual ofensa ao Magno Texto ocorreria de modo indireto ou
reflexo (...). Agravo regimental desprovido” (RE 569.378-AgR,
Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, DJe 26.6.2009 –
grifos nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE


INSTRUMENTO. MATÉRIA CRIMINAL. RÉU
CONDENADO NAS SANÇÕES DO CAPUT DO ART. 33
COMBINADO COM O INCISO I DO ART. 40 DA LEI
11.343/06. LEI DE DROGAS. TRÁFICO INTERNACIONAL.
ALEGADA AFRONTA AOS INCISOS LIV, LV, LVII DO
ART. 5º E AO INCISO IX DO ART. 93 DA CF/88. OFENSA
MERAMENTE REFLEXA AO MAGNO TEXTO.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE MATERIAL
PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279/STF.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A alegada
violação à Constituição Federal, se existente, ocorreria de forma
reflexa ou indireta, o que não enseja a abertura da via
extraordinária. 2. Por outra volta, para se chegar à conclusão
pretendida pela parte agravante, faz-se necessário o reexame do
conjunto probatório dos autos, providência vedada pela Súmula
279 desta nossa Corte. 3. Agravo regimental desprovido” (AI
792.585-AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Primeira Turma, Dje
17.9.2010 – grifos nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. CRIMINAL. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. REEXAME DE PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. PRISÃO. CAUSA DE DIMINUIÇÃO.
ART. 33 DA LEI N. 11.343/06. 1. Controvérsia decidida à luz
de normas infraconstitucionais. Ofensa indireta à Constituição
do Brasil. 2. Reexame de fatos e provas. Inviabilidade do recurso
extraordinário. Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal. 3.
A causa de diminuição de pena prevista no artigo 33 da Lei n.
11.343/06, mais benigna, pode ser aplicada sobre a pena fixada
com fundamento no disposto no artigo 12, caput, da Lei n.
6.368/76. Precedente. Agravo regimental a que se nega
provimento” (RE 597.341- AgR, Rel. Min. Eros Grau,
Segunda Turma, Dje 29.5.2009 – grifos nossos).

8. Por fim, a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal impede a análise


da alegação de falta de prova de tráfico interestadual de drogas (art. 40,
inc. V, da Lei n. 11.343/2006). Nesse sentido:

“PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERRUPÇÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL DIANTE DE NOVA SENTENÇA DE
PRONÚNCIA E INEXISTÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO DO JULGADO QUE FIXOU A PENA.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL: OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. PRECEDENTES. REEXAME
DE PROVAS: INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO. 1. A afronta aos arts. 5º, inc. XLVI; e 93,
inc. IX e XI, da Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria,
indireta, por exigir o prévio exame da legislação infraconstitucional.
Precedentes. 2. Para se alcançar entendimento diverso do que
assentado no acórdão recorrido, seria necessário o reexame dos
elementos probatórios, o que é vedado em recurso extraordinário.
Incide, na espécie, a Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal. 3.
Agravo regimental a que se nega provimento” (AI 703.635-AgR, de
minha relatoria, Primeira Turma, DJe 19.9.2008 – grifos nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSO PENAL.


ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, XXXV E LV, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
SÚMULA 279. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA
REFLEXA. As razões recursais trazem questões constitucionais cuja
análise implica reexame dos fatos e provas que fundamentaram as
conclusões da decisão recorrida, o que é vedado pela Súmula 279 desta
Corte. A alegação de violação do art. 5º, XXXV e LV, da Constituição
Federal trata de matéria cuja suposta violação demandaria o exame
prévio da legislação infraconstitucional, no caso, do Código de
Processo Penal, de modo que se trata de hipótese de ofensa indireta ou
reflexa ao texto constitucional. Precedentes. O agravante não
demonstrou o desacerto da decisão ora agravada. Agravo regimental a
que se nega provimento” (AI 541.381-AgR, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, Segunda Turma, DJe 17.4.2009 – grifos nossos).

8. Nada há a prover quanto às alegações do Agravante.

9. Pelo exposto, nego seguimento a este agravo (art. 38 da Lei


8.038/90 e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal).

Publique-se.

Brasília, 1º de março de 2012.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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