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INTRODUÇÃO

As leis trabalhistas no Brasil, embora tenham origem anterior, nascem no governo de


Getúlio Vargas. A partir do ano de 1930, Vargas uniu um grupo de juristas e legisladores
para elaborar uma Consolidação das Leis Trabalhistas, a CLT. As leis trabalhistas da Era
Vargas, como também são chamadas, levaram 13 anos de desenvolvimento, e buscavam
garantir uma série de seguranças e regulamentações na relação entre empregadores e
empregados. Há uma série de temas tratados na CLT, mas alguns se destacam, em função
dos avanços que representaram para as condições de vida de classes trabalhadoras e para
a sistematização do mercado de trabalho brasileiro:

CARTEIRA DE TRABALHO
A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) é o documento obrigatório para toda
pessoa que preste algum tipo de serviço para outras pessoas. Nela são registradas todas as
informações da vida profissional do trabalhador, que servem de base para que ele tenha
acesso aos direitos trabalhistas, como seguro-desemprego, FGTS e benefícios
previdenciários, entre outros.

O documento pode ser retido pela empresa para fazer anotações em determinados
momentos –como na rescisão do contrato–, mas precisa ser devolvido em até 48 horas.

JORNADA DE TRABALHO E HORA EXTRA


A jornada de trabalho é o tempo em que o trabalhador presta serviço ou fica à disposição
do empregador. Pela Constituição Federal, ela deve ser de até 8 horas diárias e, no
máximo, de 44 horas semanais. O tempo trabalhado além da carga horária de cada
atividade é considerado hora extra.
O empregado não é obrigado a fazer hora extra, a não ser em caso de força maior ou
dentro de limites, quando houver real necessidade. Para exigir horas extras, deve ser
assinado acordo entre as partes ou uma norma coletiva.
O valor da hora extra também é superior: a empresa deve pagar 50% a mais que a hora
normal

13° Salário
O 13º salário é um salário extra pago no fim do ano para empregados contratados. O valor
deve ser igual à remuneração referente ao mês de dezembro.
Para os trabalhadores cujo contrato seja menor que um ano de serviço, o cálculo deve ser
feito dividindo o valor do 13º por 12 e multiplicando pelo número de meses trabalhados.
Períodos superiores a 15 dias também devem ser contabilizados.

Aposentados e pensionistas do INSS também recebem uma remuneração extra no fim do


ano.

A primeira metade do 13º deve ser paga até novembro e a segunda parte, até o dia 20 de
dezembro. O trabalhador também pode optar receber a primeira parcela no momento das
férias.

O 13º salário é garantido pela Constituição Federal de 1988 (art. 7, VIII) e existe desde
1962.
Férias Remuneradas
Após completar um ano com registro em carteira, o trabalhador ganha o direito a um
período de férias remuneradas por um período de 30 dias corridos.
A decisão sobre quando o empregado poderá tirar as férias é do empregador, mas elas
devem ser agendadas em até 12 meses. Se a empresa não liberar o empregado nesse
período, fica obrigada a dobrar a remuneração paga nas férias.
As férias podem ser divididas em dois períodos, nunca inferior a dez dias corridos. Essa
opção, porém, é vetada para trabalhadores com menos de 18 anos e com mais de 50 anos,
que devem tirar os dias de férias em um período apenas.
Caso o empregado tenha mais de cinco faltas sem justificativa, o número de dias das férias
é reduzido. A partir de 33 faltas sem justificativa, ele perde o direito às férias.
A empresa também pode conceder férias coletivas a todos os trabalhadores ou de
determinados setores, por um período não inferior a dez dias. A decisão deve ser
comunicada ao Ministério do Trabalho e o sindicato da categoria. No caso de empregados
com menos de um ano de contrato, o tempo será calculado proporcionalmente e uma
nova contagem será iniciada no retorno das férias.

FGTS
A empresa deve depositar mensalmente um valor correspondente a 8% do salário bruto
(sem descontos) para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em uma conta no
nome do trabalhador na Caixa Federal.
O objetivo do FGTS é garantir uma reserva financeira em momentos de necessidade como
demissão (se for sem justa causa) ou no caso de diagnóstico de câncer ou Aids.
O FGTS também pode ser usado para ajudar a adquirir a casa própria e na aposentadoria.

Seguro – Desemprego
O seguro-desemprego é um assistência financeira paga ao trabalhador em caso de
demissão sem justa causa.
O valor é calculado a partir do último salário recebido e não pode ser menor que o salário
mínimo.

Vale Transporte
O trabalhador também tem direito a receber o vale-transporte, um adiantamento do valor
das despesas de transporte de sua residência para o local de trabalho.
A empresa pode descontar até 6% do salário bruto (sem descontos) para o vale-
transporte. A diferença acima deste valor é bancada por ela.
O cálculo do custo do transporte é feito pela empresa.

Abono Salarial
O abono salarial é um benefício de um salário mínimo por ano pago a trabalhadores com
renda mensal de até dois salários mínimos que contribuem para o PIS (Programa de
Integração Social) ou o Pasep (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público).
Pode recebe o abono quem trabalhou ao menos 30 dias no ano e já esteja cadastrado no
Fundo de Participação PIS/Pasep ou no Cadastro Nacional do Trabalhador há pelo menos
cinco anos.

Alimentação e Assistência Médica


Benefícios como vale-alimentação ou vale-refeição, assistência médica e assistência
odontológica não são obrigações legais da empresa.
Empresas com mais de 300 funcionários devem providenciar um local adequado para
refeições durante a jornada de trabalho.

Licença Maternidade
A licença-maternidade é um benefício previdenciário que concede uma licença de 120 dias
remuneradas às mulheres após o parto.
As gestantes também têm estabilidade no emprego desde o momento da confirmação da
gravidez até cinco meses após o parto.
O benefício pode ser estendido para pais viúvos ou no caso de adoção.

Aviso Prévio
Em caso de quebra de contrato (pedido de demissão do trabalhador ou dispensa), é
necessário que a outra parte seja avisada com 30 dias de antencedência. Trabalhadores há
mais de um ano na empresa, deverão acrescentar três dias ao período por cada ano
trabalhado, podendo chegar ao máximo de 90 dias (trabalhadores empregados há 20
anos).
Se a dispensa ocorrer sem o aviso, o trabalhador tem o direito de receber o salário
corresponde ao período, com todos os direitos e benefícios. Por outro lado, se o
trabalhador deixar o trabalho, a empresa pode descontar esses valores.

Adicional Noturno
O trabalho em período noturno deve ter remuneração 20% maior. É considerado período
noturno o trabalho entre as 22h de um dia até as 5h do dia seguinte.
O horário muda para o trabalho rural (entre 21h e 5h) e o trabalho pecuário (entre 20h e
4h).

Faltas Justificadas
A CLT garante a ausência ao trabalho em alguns casos:
- por dois dias por falecimento de cônjuge, ascendentes (pais e avós), descendentes (filhos
e netos, por exemplo), irmãos ou dependentes
- por três dias após casamento
- por cinco dias após nascimento de filho, no caso dos pais (licença-paternidade)
- por doação voluntária de sangue (uma vez a cada doze meses de trabalho)
- para cumprir exigências do serviço militar
- para realizar provas de exame vestibular para cursos de ensino superior
- quando precisar comparecer a juízo (por exemplo, para participar de júri)

REFORMA TRABALHISTA
1) ACORDADO SOBRE O LEGISLADO
Uma das principais proposições da reforma trabalhista é dar força de lei aos acordos
coletivos firmados entre sindicatos e empresas, priorizando-os sobre a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), considerada por muitos uma legislação rígida. A medida permite mudanças
em doze pontos específicos, que dizem respeito ao salário e à jornada de trabalho. Não
podem ser negociadas normas relativas a FGTS, 13º salário, seguro-desemprego, bem como
condições de segurança e higiene do trabalho.
O governo defende que a mudança dará mais autonomia aos trabalhadores durante as
negociações e fortalecerá o movimento sindical, além de gerar mais empregos. O projeto é
apoiado principalmente pelo empresariado e por alguns sindicatos, sobretudo os patronais.

Por outro lado, a reforma encontra resistência no Ministério Público do Trabalho, na Justiça do
Trabalho e em alguns partidos políticos, que defendem que a reforma fere direitos
fundamentais, historicamente garantidos pela CLT.
2) CONTRATO TEMPORÁRIO
Uma das mudanças já efetuadas na legislação trabalhista em 2017 refere-se à regras
do trabalho temporário. O tempo dos contratos temporários foi ampliado para 180 dias,
consecutivos ou não, com possibilidade de prorrogação por outros 90 dias. Até março de 2017,
o trabalhador temporário podia ser contratado por 90 dias, prorrogados pelo mesmo período.
Para ampliação do prazo, será necessário pedir permissão ao Ministério do Trabalho.
Os trabalhadores temporários são contratados por empresas de trabalho temporário que os
colocam à disposição de outras empresas. Eles possuem direitos equiparados aos dos
trabalhadores em regime CLT: salário equivalente ao dos empregados da mesma
categoria, FGTS, horas extras, adicionais, entre outros. O tempo de trabalho temporário
também conta para a aposentadoria.
A principal diferença entre os trabalhadores temporários e os trabalhadores celetistas é que,
no caso do temporário, existe um prazo determinado para o fim do trabalho. Outra diferença
é que, ao sair da empresa, o trabalhador temporário não recebe as verbas rescisórias por
demissão sem justa causa. É importante saber também que o trabalho temporário não se
aplica aos empregados domésticos.

3) JORNADA DE TRABALHO
Se a reforma trabalhista for aprovada, as novas regras permitirão que trabalhadores e
empregadores possam negociar, através de acordos coletivos, de que forma a jornada de
trabalho será executada durante a semana. Hoje, há um limite máximo de 44 horas semanais,
sendo duas dessas cumpridas como hora extra. Pela nova regra, trabalhadores poderão
cumprir até 48 horas semanais de trabalho, com quatro delas sendo horas extra.A proposta
também autoriza a possibilidade de compensação de horas: o trabalhador poderá exercer até
12 horas de trabalho por dia, desde que receba folga de 36 horas em seguida. Ou seja, na
prática, o trabalhador poderá cumprir a jornada semanal em quatro dias. Essa distribuição de
jornada de trabalho, conhecida como 12×36, já é exercida em algumas profissões, como na
área de saúde e segurança.

Essa sem dúvida está entre as medidas mais polêmicas da reforma trabalhista. Enquanto
alguns especialistas defendem que a proposta não é tão novidade assim, outros argumentam
que a medida não leva em consideração outros aspectos da vida do trabalhador, como o
tempo gasto em deslocamento, que somado às 12 horas diárias de trabalho resultaria em até
16 horas diárias gastas somente em função do trabalho.

4) REGIME PARCIAL DE TRABALHO


Outro ponto da reforma trabalhista é a alteração nas regras do regime parcial de trabalho.
Hoje, as empresas podem contratar trabalhadores em jornadas parciais de até 25 horas
semanais, não sendo permitido o cumprimento de horas extras.
A proposta do governo prevê a ampliação da jornada parcial de trabalho para até 30 horas
semanais, sem possibilidade de hora extra, ou para até 26 horas semanais com possibilidade
de até 6 horas extras.

Outra mudança é o aumento do período de férias para 30 dias independente do número de


horas trabalhadas, igualando o tempo de férias do regime parcial com o do regime integral de
trabalho. Uma terceira mudança é a possibilidade de troca de ⅓ do período de férias por
pagamento financeiro.

5) TERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO
Outra medida considerada parte da reforma trabalhista é a regulamentação da terceirização
do trabalho. Aprovada e sancionada separada das demais medidas, em março de 2017, a lei da
terceirização permite que todas as atividades de uma empresa possam ser terceirizadas.
Antes, a regra valia apenas para as atividades-meio, aquelas não consideradas a principal
atividade da empresa, como por exemplo limpeza e segurança.

Pela antiga legislação, o funcionário terceirizado poderia cobrar pagamento de direitos


trabalhistas tanto da empresa terceirizada, quanto da empresa que a contratou. Agora, os
direitos trabalhistas só poderão ser cobrados junto à empresa contratante quando esgotados
todos os recursos de cobrança contra a empresa terceirizada.

Os defensores da terceirização afirmam que a mudança permitirá o aumento da produtividade


das empresas, a redução dos custos e maior flexibilidade para realizar contratações. Além
disso, garantem que a terceirização proporcionará melhores condições de trabalho e trará
mais proteção aos empregados terceirizados.

Contudo, os que são contrários à mudança afirmam que ela resultará em piores condições de
trabalho, já que os trabalhadores terceirizados ganham em média 25% a menos e trabalham
mais horas na semana do que empregados não terceirizados. Além disso, argumentam que a
nova legislação dificultará que terceirizados reclamem seus direitos na justiça.

6) ACESSO À JUSTIÇA DO TRABALHO


Hoje, o trabalhador que recebe até dois salários mínimos tem direito a assistência
judiciária gratuita, no caso de acionar a Justiça do Trabalho. Mesmo quem recebe acima desse
valor pode declarar a falta de recursos. Com a reforma, o benefício da assistência gratuita será
garantido a quem recebe menos que 40% do teto do INSS (o equivalente a cerca de R$ 2,2
mil). Mas, se antes era necessário apenas declarar a insuficiência de recursos, com a reforma
seria preciso comprová-la.
O trabalhador que faltar a alguma sessão de um processo trabalhista também terá de arcar
com as custas, a não ser que apresente justificativa dentro de 15 dias. Isso valerá mesmo para
o beneficiário da justiça gratuita. Além disso, o reclamante precisará declarar de antemão o
valor que pretende reaver com o processo, o que demandará o serviço de um
contador. Também passará a ter punição a parte que agir de má-fé durante o processo,
podendo ser condenado a multa de até 10% do valor da causa.
Por fim, o projeto de reforma tem efeitos diretos sobre o Tribunal Superior do Trabalho (TST),
que terá mais dificuldade para emitir súmulas: pelo menos dois terços dos ministros precisam
aprovar a criação ou alteração da súmula, que antes disso precisará ter sido aprovada por
unanimidade em pelo menos dois terços das turmas do tribunal.
OUTROS PONTOS:
O texto do relator Rogério Marinho altera mais de 100 dispositivos da CLT, ou seja, muita coisa
além dos pontos acima devem mudar.

 Uma das mudanças que mais suscita polêmica é o fim do imposto sindical obrigatório,
que passaria a ser facultativo a todos os trabalhadores;
 O teletrabalho (home office) passa a ser regulamentado, prevendo negociações entre
empregador e empregado quanto a responsabilidades sobre despesas relacionadas às
funções, bem como contrato por tarefa, e não por jornada;
 O chamado trabalho intermitente passa a ser permitido. Nesse trabalho, existe a
relação entre empregado e empregador, mas a prestação de serviços não é contínua. Ou
seja, o trabalhador é contratado por dias e por horas, pelos quais terá direito
a benefícios trabalhistas. Mas, fora desse período, não receberá remuneração, nem
benefícios. Além disso, a remuneração não poderá ser menor do que o salário mínimo por
hora;
 Também está incluída multa, menor que a proposta pelo governo Temer, a
empregadores que mantêm trabalhadores não registrados (de R$6 mil para R$3 mil, no
caso de empresas de médio ou grande porte; e de R$1 mil para R$ 800 no caso de
pequenas e microempresas);
 Possibilidade de parcelamento das férias em três vezes, e a menor parcela deverá ter
15 dias (hoje, podem ser parceladas em duas partes e a menor deve ter no mínimo dez
dias);
 O tempo mínimo de pausas durante a jornada diminuirá para 30 minutos.

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