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São Paulo
2019
2
Versão Original
São Paulo
2019
3
136 pp.
Agradecimentos
Este trabalho marca o desfecho de uma fase de cinco anos de curso, mas é
também o ápice de uma série de experiências de vida e de interesses pessoais
muito mais antigos. Cada frase aqui escrita é o resultado de inúmeros
encontros e desencontros, histórias com finais tanto felizes quanto tristes. Este
estudo é, pois, dependente de tantas pessoas merecedoras da minha gratidão
que seria impossível citá-las nominalmente. Mea Maxima Culpa.
Agradeço aos meus colegas e amigos da FEA-USP que, seja na sala de aula,
seja nos cafés dos intervalos ou nas oportunidades mais descontraídas,
coloriram uma experiência que, de outro modo, teria sido acinzentada.
Agradeço à minha namorada Elaine pela paciência e pelo carinho. Muitas das
horas dispendidas nesta tela em branco tinham, na verdade, como fundo, a sua
imagem em meu coração. Talvez você tenha que aguentar mais horas de
estudo e pesquisa no futuro, próximo ou distante.
Agradeço ao Du, por ter ouvido, por anos, tantas ideias estapafúrdias de
pesquisa e pela diligente leitura e crítica do texto.
Agradeço ao meu tio Carlos. Seu apoio, puro e desinteressado, foi sempre
uma viga de sustentação indispensável, para mim, individualmente, e para a
nossa família.
Last not least, eu devo tudo ao Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora e todos
os Santos e anjos, que me guiaram e protegeram, com ou sem o pedido por
orações. Muito obrigado pelas inúmeras graças concedidas, sempre. Perdão
pela minha persistente incapacidade em perceber as bênçãos diárias.
5
“Culture, the acquainting ourselves with the best that has been known
and said in the world, and thus with the history of the human spirit”
Matthew Arnold
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo aproximar a análise promovida pela Nova
Economia Institucional às hipóteses delineadas e defendidas pelo Culturalismo,
projeto de pesquisa iniciado por Max Weber. O status quaestionis de cada um
destes ramos intelectuais, num escopo limitado à História Econômica e à
Teoria do Desenvolvimento Econômico, é levantado por meio de uma densa
análise bibliográfica: questões críticas, tanto de Teoria Social quanto de
Metodologia das Ciências Sociais, são sublinhadas com a finalidade de
destacar limitações de visão, exageros nas hipóteses e relevantes quebras de
paradigmas internos que mudaram os direcionamentos das respectivas
posições científicas. A partir desta massa crítica, parte-se para um escopo
microeconômico, por meio da releitura de um modelo novo-institucionalista, o
modelo de Williamson de escolha de fronteiras verticais, através de uma troca
de variáveis sugerida pela leitura do Culturalismo: sai de cena a variável índice
de especificidade do ativo e entra no palco um índice de confiança. A
interpretação prática do modelo, entretanto, não é alterada, sendo apenas
expandida de um paradigma metodologicamente individualista para um âmbito
social ampliado. Deriva-se daí, por fim, um modelo heurístico de decisão
estratégica de quatro quadrantes, cujas variáveis são a complexidade
econômica e o índice de confiança social. Com base nestas variáveis, decisões
sobre fronteiras verticais ótimas e, consequentemente, sobre o formato de
estruturas organizacionais podem ser realizadas.
ABSTRACT
The objective of this study is to bring closer the analysis promoted by the New
Institutional Economics to the hypothesis delineated and defended by
Culturalism, a research project pioneered by Max Weber. The status
quaestionis of each one of these intellectual branches, in a scope limited to
Economic History and Economic Development Theory, is raised through a
dense bibliographical analysis: critical problems, both in Social Theory and in
Social Sciences Methodology, are underlined, aiming to highlight vision
limitations, exaggerations in hypothesis and relevant paradigm shifts that
changed the directions of the respective scientific positions. Stem from this
critical mass, now with a microeconomic scope, a reinterpretation of a new
institutionalist model, the Williamson´s model of vertical frontiers, is offered by
means of a variables switch: exits stage left the asset specificity index, enters
stage right the social trust index. The practical interpretations, nonetheless,
stays the same, being only expanded from a methodological individualist
perspective towards a larger social sphere. From there, is derived, in the end, a
heuristic model of four loci, with two variables: economic complexity and the
index of social trust. Based on these variables, decisions about optimal vertical
frontiers and, consequently, about organizational structures can be made.
Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10
Introdução
No segundo capítulo, por sua vez, será apresentada uma recensão, ainda que
incompleta, do argumento culturalista que se impôs nos debates intelectuais a
partir de Weber (2014). O argumento apresentado, entretanto, será o de que,
se Weber errou na sua apresentação dos fatos, ele acertou no espírito de seu
estudo. A influência cultural no desenvolvimento e nas práticas mundanas da
economia, pela via da confiança social, segundo o estudo antropológico de
Peyrefitte (1999), e pela via do capital social espontâneo, segundo a sociologia
de Fukuyama (1995), assim como pelas análises de Sowell (1994,1996 e 1998)
sobre raça, migrações e conquistas, acaba por vingar o espírito da pesquisa
weberiana. Esta posição é defendida pela apresentação de uma série de
estudos estatísticos sobre o tema, assim como pela leitura de uma série de
importantes críticas à tese weberiana, que correlaciona o surgimento do
capitalismo moderno ao ethos protestante.
Por outro, a intuição dos custos de transação serviu para a criação de uma
nova abordagem perante o estudo da história econômica, em especial nos
estudos de Douglass North. North buscava, pois, a fonte do crescimento
econômico por meio do ferramental de Coase, chegando, por fim, à tese de
que os direitos de propriedade foram os dispositivos institucionais explicativos
de primordial importância para a “grande divergência”, termo que os
historiadores econômicos usam para definir a deslanchada das economias
capitalistas ocidentais. A seguir, será delineada a evolução desta segunda
abordagem, num status quaestionis, que tem por objetivo dar proeminência às
instituições como fonte do desenvolvimento econômico.
13
(...)The general rise in price level during the sixteenth century was
universal. Relative product and factor prices also changed in similar
patterns. The prices of agricultural goods increased relative to
manufactured gods and rents of land increased more rapidly than
wages. The real wages of labor declined significantly (ibidem, p. 109).
Sendo empurrado pelos avanços nos outros setores, o interior rural também
evoluiu, tornando-se mais intensivo no uso de capital, mesmo que dependendo
menos de inovações tecnológicas do que de métodos e especialização
produtiva.
Tal alteração de caminho ante seus trabalhos anteriores não pode ser julgada
como um alheamento em relação à economia neoclássica, que ainda é uma
das bases de sustentação de sua abordagem. Não obstante, há uma
substantiva crítica à sua capacidade explicativa.
North parte, então, para a sua própria definição de Estado, que interpreta um
papel intermediário entre duas teorias distintas. De um lado, a teoria do
contrato social, revivida por interpretações neoclássicas, que relega ao Estado
um caráter de maximizador da riqueza da sociedade. De outro, a teoria
predatória, cujos proponentes advém tanto do marxismo quanto de outlooks
mais mainstream, que julga que o papel do ente estatal é maximizar a riqueza
do indivíduo ou do grupo que o controla. North realiza uma gradação histórica
de um item que, no fundo, as separa, e que será a base de seu modelo: a
teoria contratualista, assumindo a distribuição igualitária de potencial de
violência entre os principais, explica de maneira mais acurada os
desenvolvimentos fetais de um Estado, enquanto a teoria predatória, partindo
de um pressuposto de principais com capacidades de violência desiguais,
explica melhor o caráter não-equilibrado e a formação de diversos grupos de
interesse (Ibidem, p. 22).
Até aqui, este agregado teórico responde apenas às indagações, per se,
estáticas. Tratam de instabilidade, não de mudança. Explicam porque, até certo
pré-requisito econômico ser conquistado, não existirá uma resposta ao
problema do free rider, com a concomitante manutenção dos direitos de
propriedade ineficientes. Não obstante, não existe uma explicação para a ação
política de grandes grupos de indivíduos que, para North, pode ser importada
da teoria marxista (ibidem, p 31). Existe, pois, uma contraposição dialética
entre a existência de free riders e a ação revolucionária. Deste arrazoado,
explicitam-se as seguintes posições: 1) a existência do free rider é uma das
grandes fontes da estabilidade institucional ao longo do tempo; 2) a inovação
institucional é levada a cabo pelas elites; 3) revoluções serão “palacianas”,
colocadas em prática por agentes do governante ou por grupos de elites de
governantes concorrentes e; 4) quando o governante é agente de um grupo ou
22
Apesar de todo o refinamento obtido pela análise neoclássica tanto pelo viés
de uma teoria do estado ou até mesmo por meio da análise mercadológica,
North ainda não está satisfeito com o que subsiste. Por um lado, a difusão do
controle político advinda da habilidade de grupos de interesse em capturar
postos no estado - um retorno esperado do que se sintetizou até aqui - tende a
tornar a predição dos tipos de direito de propriedade de uma dada sociedade
estudada extremamente difícil. Por outro, uma perspectiva advinda dos estudos
de Organização Industrial aponta para, mesmo nos casos mais simples de
realização contratual, a necessidade de certas posições morais mínimas para a
aplicação justa das regras e para o funcionamento organizacional (ibidem, p.
43-44). Em termos mais técnicos,
No último ponto apresentado acima, North acaba por atestar que a alteração
de preços relativos é uma fonte de mudanças ideológicas, já que estas trariam
à superfície modificações na interpretação de justeza de um determinado
sistema. Se até agora North apresentou a versão abstratista da ideologia como
padrão, ele não nega que existam desenvolvimentos ideológicos advindos de
“empreendedores intelectuais”. Ele apenas nega que tais exemplos sejam mais
que desenvolvimentos excepcionais, enquanto a regra demonstraria que as
diferenciações ideológicas surgem ou da influência referente à localização
24
In sum, there are three changes that could account for the transition
from hunting to agriculture. Individually or acting in concert, a decline
in the productivity of labor in agriculture or a sustained expansion of
the size of the labor force could have resulted in the transition of man
being exclusively a hunter to increasingly a farmer. (ibidem, p. 77)
The incentive change stems from the different property rights under
the two systems. When common property rights over resources exists,
there is little incentive for the acquisition of superior technology and
learning. In contrast, exclusive property rights which reward the
owners provide a direct incentive to improve efficiency and
productivity, or, in more fundamental terms, to acquire more
knowledge and new techniques (Ibidem, p. 89)
Tendo em mente este salto qualitativo, dá-se início à estruturação dos estados
das antigas civilizações – cujos formatos e tamanhos diferem-se tanto por
conta do relevo geográfico, de recursos existentes quanto por conta do estado
da tecnologia militar -, num período que termina com a queda do império
romano (ibidem, p. 64). A expansão comercial, os progressos técnicos – a era
do ferro sucedendo a era do bronze -, o desenvolvimento urbano e a criação de
complexas instituições econômicas (ibidem, p. 92) se deram, de maneiras
diversas, em todos os estados clássicos. Entretanto, há a tendência da
ampliação do tamanho estatal (ibidem, p. 96). A codificação de uma lei
26
A mudança era levada a cabo por indivíduos da elite ou seus agentes, sendo o
populacho, muito provavelmente, limitado por conta da má distribuição de
renda, ajudando na criação de um celeiro inferior para a estabilidade de longo
prazo. Se, por um lado, as burocracias imperiais refletiam uma tensão entre a
vontade maximizadora dos governantes e o controle dos constituintes,
atingindo um sucesso parcial, se muito, na contenção dos interesses diversos,
a maior fonte de crises se encontrava nas sucessões e em seus processos.
(Ibidem, p.119)
primeiro imperador cristão, o cisma gerado pela busca pela forma teológica
mais correta gerou uma série de confrontos. (ibidem, p. 121)
The agents of change too were not all kings, emperors or their agents.
They included such persons as Rabbi Akiba ben Joseph and his pupil
Rabbi Meier, who began to systematize the codes of the Jews; Jesus
of Nazareth; Saul of Tarsus, who was perhaps the decisive influence
in the spread of Christianity; and, in the seventh century A.D.,
Mohammed.(ibidem, p. 121)
1
Cabe fazer a ressalva de que, conforme afirma Hacking (1999), a visão de Berger e
Luckmann – autores de The Social Construction of Reality (1966) - adotada por North não é
“fortemente” construtivista, tendo fortes pressupostos weberianos e fenomenológicos, em
oposição ao posterior radicalismo pós-moderno. Para uma análise do fenômeno pós-moderno,
ver Hicks (2011).
2
De fato, houve, além disso, um giro conceitual no marxismo, em especial quando pensamos
em Gramsci, por um lado, os frankfurtianos, por outro, e todos os seus seguidores, que se
preocuparam tanto com a questão cultural quanto o chamado “trabalho do negativo”. Como
fonte geral, ver Kolakowski (2005). Uma fonte interessante sobre a Escola de Frankfurt, em
português, é Merquior (2017). Já sobre Gramsci e, em especial, sua influência no Brasil,
consulte Carvalho (2014).
28
Contra afirmações mais populares, North afirma que este período específico
não foi uma quebra, uma ruptura, mas apenas um desenvolvimento
evolucionário de um número de eventos prévios (ibidem, p. 162). O fato de que
a evolução tecnológica não se deu por si mesma nem ex nihilo, mas sim surgiu
num ambiente em que, além de um set de direitos de propriedade, ainda que
com limitações - mas cujo pináculo pode ser absorvido pelos analistas no
sistema de patentes -, ofertava-se agora bens e serviços para um mercado
consumidor muito maior, fato do qual se depreende a inferência da
dependência do avanço técnico a uma demanda substancialmente suprimida
(ibidem, p.165)
Nesta pauta, há uma crítica à tonalidade ideológica (aqui não no sentido livre
de julgamentos, mas usando a palavra em uma acepção depreciativa) no uso
do “laissez-faire” como resposta à ampliação dos mercados e dos resultados
econômicos da revolução industrial. Mercados eficientes, seguindo o padrão
neoclássico, para o autor, são mercados bem regulamentados, com direitos de
propriedade bem compostos – tais mercados são um sinal de uma ação
governamental positiva, e não negativa (ibidem, p. 167). A revolução teve
31
The period that we have come to call the Industrial revolution was not
a radical break from the past (…) it was an evolutionary culmination of
a series of prior events.(…).The technological events of the Industrial
Revolution period were largely independent of developments from
basic science (ibidem, p.162).
Tal avanço, que teria ocorrido somente nos últimos 100 anos antes do
lançamento de seu estudo, no que é finalmente especificado o âmago da
Segunda Revolução Industrial: o casamento entre ciência e técnica é
sacramentado, criando, por conseguinte, uma curva de oferta de novos
conhecimentos elástica. (Ibidem, p. 171)
Exemplos muito claros do padrão delimitado por North podem ser encontrados
no desenvolvimento político e econômico dos EUA, em que a ampliação do raio
de ação estatal se deu tanto em termos percentuais quanto um aumento da
representação de diversos interesses. Um pluralismo político estendido, assim
como a alteração das estruturas e limitações regulatórias sobre
empreendimentos econômicos, inclusive a alteração dos focos destas
limitações, mostraram-se patentes (ibidem, p. 187). Já em 1914, apesar de até
então a razão do tamanho estatal em termos percentuais do PNB estar ainda
controlada, o sistema madisoniano de pesos e contrapesos - o desenho levado
a cabo com base nos argumentos dos Federalist Papers - já tinha sofrido
mudanças primárias que levariam à sua subversão (ibidem, p.193). Tais
mudanças ocorreram tanto pela via judicial quanto pela via política – por meio
da hipertrofia dos grupos de pressão (ibidem, p. 196). Uma descentralização da
tomada de decisão do centro político para órgãos comissionados foi levada a
cabo.
What is clear is that the ideological convictions form the farmers and
the Progressive movement led to actions which were used by interest
groups in altering the system. The clearest reflection of ideological
transformation was the evolving attitude of the judiciary. The gradual
transformation of the attitude of the Supreme Court was a long
process, from Chief Justice Waite´s position on the Munn case to the
conflict between Justice Field and Justice Holmes, to the case of
Nebbia vs. New York (1934), where the court declared “there is no
closed case or category of business affected with the public
interest…” The ideological transformation was still in process by 1914,
but it would be established definitely in the 1930´s (ibidem, p. 198).
3
Termo que remete, no caso, à visão negativa de Thomas Hobbes, filósofo que teorizou sobre
a instauração do estado por meio de um contrato social, sobre o comportamento humano face
à ausência de limitações no estado de natureza pré-estatal. Para duas leituras divergentes,
mas muito iluminadoras, sobre o pensador inglês, vide Strauss (1952) e Oakeshott (1972).
34
The degree to which the state will implement the development of land
and labor markets will depend on the two constraints specified above.
Such development might, for example, increase potential strife, as in
the case of enclosures in Tudor England, and hence threaten a ruler´s
security (ibidem, p 207).
Até agora, o leitor pôde vislumbrar uma nova forma de interpretar casos
históricos, um desenvolvimento ao mesmo tempo profundo em termos
conceituais, com resultados interessantes em aplicações práticas, e com ampla
possibilidade de testes de hipóteses antes não imagináveis. Entretanto, a
análise do laureado com o prêmio Nobel em economia havia passado de uma
explicação histórica baseada em custos de transação para um desenho
hipotético dependente de uma explicação política para mudanças estruturais.
Houve, entretanto, pari passu com uma série de estudos históricos individuais,
uma guinada cada vez mais definitiva em direção às preocupações
concernentes à política. Se, antes, a preocupação de North girava sempre em
torno de suposições econômicas e transformações econômicas, em seu
trabalho em parceria com Weingast e Wallis (2009), é levantada a questão até
então sutilmente suprimida por entre os modelos suscitados: como de fato
surgem as mudanças estatais em termos institucionais?
1. A widely held set of beliefs about the inclusion of and equality for all
citizens.
2. Entry into economic, political, religious, and educational activities
without restraints.
3. Support for organizational forms in each activity that is open to all
(for example, contract enforcement).
4. Rule of Law enforced impartially for all citizens.
5. Impersonal exchange” (Ibidem, p. 114)
Por outro lado, o ciclo vicioso também se dá por duas vias. Instituições
políticas extrativistas determinam as instituições econômicas extrativistas
enquanto as últimas enriquecem as elites que ampliam sua força política. Por
outro, e de modo mais complexo, através da Lei de Ferro das Oligarquias,
conforme idealizada pelo sociólogo Robert Michels, há uma troca da coalizão
que lidera politicamente por meio de uma derrubada de regime, mas, como não
há limitação do poder discricionário pelas instituições, há um duplo incentivo
para a manutenção da qualidade extrativista das instituições. (ibidem, pp. 283-
284)
acima delimitas, fica mais claro o excerto que se encontra em um local no início
do livro:
1.5 - Conclusão
No capítulo que aqui se encerra foi realizada uma análise sobre os principais
argumentos da NEI no debate econômico que tem por cerne as fontes do
desenvolvimento econômico, partindo de Douglass North e seus colaboradores
até os populares escritos de Acemoglu e Robinson.
4
“Nothing is real in the political life of the nation that would not already be present in its
literature as spirit, nothing in this vital, dreamless literature that did not realize itself in the life of
the nation”(HOFMANNSTHAL, 2011, p.159).
50
Neste texto seminal em que ocorre, por assim dizer, uma importante revolução
para a ciência do desenvolvimento cultural e social, Weber (2013), num
primeiro momento, delimita bem o foco de sua atenção. O capitalismo industrial
moderno, racional e impessoal - diferente dos modelos capitalistas de
patrocínio estatal, do capitalismo financeiro-, ainda que tivesse embriões em
exemplos da antiguidade, possuía características específicas e novas
(WEBER, 2013, p. 22). O progresso científico, político-econômico e cultural do
ocidente, diferentemente do levado a cabo em outras partes do globo,
desenvolveu-se por meio de uma racionalização peculiar, informada por uma
ética religiosa específica (ibidem, p. 25).
5
A visão relativista de Weber tende, na prática, como veremos ainda neste capítulo, a ser
deixada de lado. Strauss (2014) via nessa característica pretensamente neutra de Weber
traços de niilismo. Voegelin (2000), concordando com Strauss, aponta que, por um lado, o
relativismo do método weberiano integrava uma mudança da percepção sobre o significado do
racionalismo, que, na prática, transmutava-se em irracionalismo por conta do fechamento da
ciência às inquirições metafísicas e, por outro, em suas pesquisas de monta sobre religião,
acabou por, sem perceber, tomar posições valorativas, principalmente no que diz respeito à
escolha das fontes.
52
6
Vide, como será mostrado adiante, Sowell (1996).
7
Para um detalhamento do conceito de tipo ideal, vide Weber (2001).
53
O tantas vezes ministro gaulista passou toda a sua carreira acadêmica girando
em torno desta questão, mas acabou por apresentar uma hipótese para um
problema mais abrangente do que o comparativo atraso da nação francesa
ante suas pares europeias ou atlânticas: quais seriam as fontes psíquicas das
mudanças econômicas? (PEYREFITTE, 1999, p. 29). O seu magnum opus, A
Sociedade de Confiança, é o grande resultado de uma vida dedicada à questão
do desenvolvimento.
8
Vide Smith (2003). Para uma leitura que considera o lado mais humanista de Adam Smith,
vide a já citada Himmelfarb (2012).
60
9
Um bom resumo da teoria marxista está presente em Schumpeter (2008).
10
Vide Braudel (1978).
61
11
Vide o clássico de Montesquieu (2010).
12
A asserção pode ser encontrada em Hegel (2001).
13
Confira em Walzer (1965) que é, entretanto, mais conhecido por seus textos sobre guerra e
justiça.
14
Vide o popular livreto liberal de Bastiat (2010), facilmente encontrado na internet em diversas
edições e línguas.
62
15
Vide Schumpeter (2008).
16
Vide Hayek (1981).
63
atraso francês realizada por Géllinier, também acabam por levantar a bola da
questão da confiança (ibidem, p. 429).
sem tal habilidade, são, por sua vez, denominadas sociedades familísticas.
Nelas, os indivíduos têm relações específicas com o ente estatal, que age
como indutor do desenvolvimento:
It is no accident that the United States, Japan and Germany were the
first countries to develop large, modern, rationally organized ,
professionally managed corporations. Each of these cultures had
certain characteristics that allowed business organizations to move
beyond the family rather rapidly and to create a variety of new,
voluntary social groups that were not based on kinship. (…) (T)here
was a high degree of trust between individuals who were not related
to one another, and hence, a solid basis for social capital (ibidem, p.
57).
18
Vide o clássico do já citado Tocqueville (2010).
69
19
Vide Banfield (1958).
70
de curto prazo para a família (ibidem, p. 99) e que Robert Putnam 20 leu como
baixo índice de visão cívica – correlacionado com o catolicismo italiano –
influenciou negativamente a economia local, assim como na criação de
sociedades delinquentes, máfias, enfraquecedoras dos laços intermediários da
comunidade (ibidem, p.101). A parte bem sucedida do país, a Terza Itália, ao
centro, possuindo maior capital social (ibidem, p.104), criou uma série de
pequenas redes de empresas flexíveis, voltadas a objetivos profissionais, e não
familiares, como ocorria com as redes chinesas (ibidem. p.105). O sucesso
desta parte da Itália se deve à centralização do poder estatal mais antiga e às
características comunais absorvidas via conexão geográfica com o norte
(ibidem, p. 108).
A economia japonesa se destaca por sempre ter sido dominada por grandes
firmas, antes da dominação americana, pelos zaibatstus e, após a ocupação,
pelos nascentes keiretsus (ibidem, p. 162), e, por outro lado, pela rápido
processo de mudança para um modelo profissional nas administrações das até
então empresas familiares (ibidem, p. 166). Se o governo teve alguma
influência na expansão do modelo de grandes firmas, ele não o criou
deliberadamente, apenas acelerou um processo previamente colocado em
prática (ibidem, p. 169), que, apesar da burocracia corporativa lenta, permitiu
que o país se destacasse em alguns setores chave (ibidem, p. 170).
Cerca de 70% dos trabalhadores alemães iniciam suas carreiras por este
sistema (ibidem. p. 237), que é administrado em parte pelas empresas e em
parte pelo governo (ibidem, p. 238). O maior nível de habilidade dos
funcionários permite uma confiança maior por parte dos chefes, assim como o
ambiente de trabalho torna-se menos alienante (ibidem, p. 242) O sistema
alemão realiza um equilíbrio entre um custo trabalhista alto, nichos de alto valor
agregado e instituições comunais que produzem alta estabilidade econômica
(ibidem, p. 243) e é fruto da manutenção histórica de instituições feudais, como
guildas, por mais tempo do que em países vizinhos (ibidem, p. 246).
From the moment of its founding up through its rise at the time of
World War I as the world´s premier industrial power, the United States
was anything but an individualistic society. It was, in fact , a society
21
Vide Womack, Jones et al (1991).
22
Vide Tönnies (1977) e Timasheff (1965).
23
Vide Riesman, Glazer et al (1950).
24
Vide Whyte (1956).
76
O caráter sectário dos puritanos da América do Norte criou uma base para
posteriores usos do capital social em organizações e objetivos alheios à
religião, sendo, ao mesmo tempo, fonte da visão comunitarista e individualista
do caráter americano. A revolta contra a igreja estabelecida abre espaço para a
criação de novas organizações, mas enfraquece os laços hierárquicos (ibidem,
p. 293). A sociabilidade puritana, pois, era autodestrutiva (ibidem, p. 294).
The Italians, who advanced more rapidly than the Irish but less rapidly
than the Jews, fell somewhere in between the two in terms of
community self-organization. A number of mutual aid societies were
created by workers and shopkeepers, but the Italian community never
spawned large, community-wide or welfare organizations like B´nai
B´rith. (Ibidem, p. 305)
Todo este enredo teve como pano de fundo a então novidade da globalização
e sua influência na criação de novos modelos organizacionais e de marketing,
mais facilmente aplicáveis em sociedades de alta sociabilidade (ibidem, p.318).
Os EUA, enquanto sociedade, como personagens com sociabilidade
declinante, atuam erroneamente, apostando nos resultados e policies de
estudos multiculturais, supervalorizando culturas externas, ao invés de se
preocupar com a sua própria (ibidem, p. 320).
differences, costs are imposed on both groups. Such costs are real
and do not depend upon perceptions or stereotypes, nor do they
necessarily entail prejudice or animosity. (…) People tend to minimize
their own costs in various ways – such as job segregation, residential
segregation or the offering of different credit terms to different groups
(SOWELL, 1994, p. 113)
O estudo das instituições políticas em relação à questão racial deve ser levado
a cabo tendo em mente o jogo de incentivos, e não a régua das finalidades
ideológicas de caráter propositivo (ibidem, p. 118), já que se sabe que o
governo funciona como uma entidade de captura de renda e de poder (ibidem,
p.119). Tendo o conhecimento de que a arbitrariedade e corrupção não
conduzem à prosperidade econômica (ibidem, p. 121), a lei e a ordem, que
surgiram em processos históricos longos e tortuosos (ibidem, p. 122) tendem a
proteger grupos minoritários, enquanto ações de grupos que julgam as como
leis injustas tendem a desfavorecer estas mesmas minorias quando há um
arrefecimento da aplicação legal (ibidem, p. 123). A democracia, ainda que
benéfica, não é suficiente para avaliar o direcionamento racial de uma dada
comunidade política (ibidem, p. 125), e o surgimento de partidos raciais,
quando ligados a uma etnia exclusiva e com retóricas de antagonismo étnico,
tende a acentuar as condições de polarização (ibidem, p.126).
uma situação em que os contatos sociais eram, pois, mais livres (ibidem, p,
206).
tem, de certo modo, uma origem familiar, não nacionalista (ibidem, p. 103).
Grosso modo, tais características foram importantíssimas na industrialização
do Brasil (ibidem, p. 91), imprimiram uma forte marca, por meio de nomes que
se tornaram icônicos, por meio de grandes firmas, gestores, atletas e
intelectuais nos Estados Unidos (ibidem, p. 82), além de, em tempos remotos,
terem sido de imprescindível importância para a área russa do Báltico, que fora
um entreposto germânico conquistado pelo exército czarista (ibidem, p. 57),
para a agricultura próxima ao Volga (ibidem, p. 62), e para a área do Mar
Negro, que, com uma mudança de Czar, foi base para um segundo fluxo
migratório alemão, desta vez para os EUA (ibidem, p. 64). Cabe ressaltar
também a posição de isolamento dos Alemães no Paraguai, que resultou num
exemplo positivo de população minoritária que prosperou gerando pouca inveja
(ibidem, p. 94) e a antiga, mas ambivalente, posição social dos alemães na
Austrália, sendo, em alguns casos, tradicional e separada da comunidade
australiana (ibidem, p.95), e, em outros, bem assimilada e aclimatada (ibidem,
p. 96).
forneceram uma vantagem competitiva tanto com credores quanto com clientes
(ibidem, p. 182). Especialmente no ocidente, a mão de obra chinesa foi
utilizada na agricultura no Caribe e na América do Sul, onde os imigrantes
eram tratados de maneira bastante violenta (ibidem, p. 215). Não obstante, eles
emergiram como proprietários de pequenas lojas na região (ibidem, p. 218).
Apesar de setbacks legais, os chineses nos EUA atingiram tanto proeminência
econômica quanto intelectual e social (ibidem, p. 226). Se o sucesso dos
chineses em evoluir socioeconomicamente não teve correlação nenhuma com
as sociedades hospedeiras, dada a diversidade de exemplos de bons
resultados (ibidem, p. 227), boa parte do sucesso empresarial deles se deveu à
prática de preços competitivos sem a requisição de colateral (ibidem, p. 229).
A diáspora judaica, por sua vez, mostrou seu caráter único por ser uma
comunidade exterior maior do que a disposta dentro dos seus limites nacionais,
por conta da perda reiterada do território nacional e por uma constante
mudança nos padrões de dispersão populacional, tendo sido, se não a maior
comunidade de middleman minorities, a mais tradicional (ibidem, p. 235).
Apesar da história desde os tempos antigos (ibidem, p. 236), cabe ressaltar,
modernamente, a excepcional contribuição judaica para o comércio e a
indústria na América Latina (ibidem, p. 282), criando, por exemplo, a indústria
têxtil nos EUA, Chile, Brasil e Argentina (ibidem, p. 286). Os judeus se
identificaram com as práticas comerciais e, como outras minorias
intermediárias, converteram tal sucesso em negócios de maior monta e em
práticas derivadas da educação especializada (ibidem, p. 306).
transporte dos escravos quanto pelo tratamento geral, violento, dado pelos
dignitários maometanos à mão de obra subjugada (ibidem, p. 157).
p. 232). Apesar do atraso relativo, o povo eslavo atingiu altos resultados nas
artes e nas ciências (ibidem, p. 241). O declínio democrático eslavo entre as
duas grandes guerras serve como indicador da limitação do capital humano e
das bases intangíveis necessárias para o desenvolvimento (ibidem, p. 247).
O caso dos índios do ocidente, talvez, seja o mais extremo exemplo deste rol.
O ambiente geográfico impediu não somente as trocas econômicas e culturais
com o exterior, mas também entre as tribos locais (ibidem, p. 252), criando
universos culturais minúsculos (ibidem, p. 253). Com a chegada dos europeus,
houve um “ataque” unilateral de uma potência amparada por inúmeras culturas
antepassadas contra culturas localizadas e fechadas (ibidem, p. 255). Um
grande aliado do homem branco foi o aglomerado biológico de doenças contra
as quais os indígenas não tinham defesa alguma (ibidem, p. 254).
Sabendo que ideias, por si sós, não tinham impactos, Sowell ressalta, além
dos fatores acima delimitados, a importância da abertura da cultura receptora
(ibidem, p.361), sem contar a visão de que há, também, um capital cultural
negativo em relação ao desenvolvimento, como as atitudes tipicamente
aristocráticas, contrárias ao empreendedorismo (ibidem, p. 339). Sowell está,
portanto, em uma posição diametralmente oposta à de Acemoglu e Robinson.
É contra os reducionismos e contra os abstratismos. Sua visão é preocupada
com a história econômica, por assim dizer, palpável.
Crowell (2006) faz um ótimo trabalho ao tratar dos primeiros críticos da tese
weberiana. Destacam-se, além dos argumentos de alguns historiadores
alemães, as objeções levantadas por Werner Sombart e T. H. Tawney.
Sombart via na tese com fundo de “tipo ideal” duas limitações: a de tempo e a
de religião. Apesar de concordar com Weber sobre a influência espiritual na
criação do capitalismo, Sombart cria que o judaísmo teve um papel
fundamental, e não o calvinismo, e que, de fato, o capitalismo teria surgido
muito antes do período da revolução industrial, tendo nascido na renascença.
Tawney, por sua vez, vai além: o florescimento inicial do capitalismo teria suas
fontes na Europa medieval, afirmando, ainda, que Weber desconsiderou uma
série de pensadores sociais cuja influência criou movimentos e visões
favoráveis ao desenvolvimento da iniciativa privada.
Strauss (2014, p. 72) afirma que, se muito, Weber, por uma falha derivada de
seu próprio método relativista, acabou confundindo a prática calvinista
degradada com a verdadeira teologia calvinista. Por medo de aplicar juízos de
valor, Weber haveria confundido a prática histórica dos calvinistas,
99
Michael Novak (1991, p. 36) faz questão de notar o caráter negativo dado a
Weber para o capitalismo em um mundo desencantado, que terminaria por
desembocar em um estado existencial burocrático, prisional. Em um ensaio
para o periódico católico First Things, Novak (2006) faz questão de, para
contrabalancear o fato, lembrar que o desenvolvimento econômico de tempos
recentes em diversos cantões do planeta de certo modo vingou a teoria
weberiana que conecta o lado espiritual à prática econômica. Não obstante, o
autor critica a cegueira weberiana perante a verve economicamente criativa da
ética católica. Hayek (1981, p. 203) aponta para a fonte escolástica do espírito
do capitalismo, ao defender que os jesuítas espanhóis codificaram, eticamente,
o que havia sido praticado nas cidades mercantes italianas e holandesas.
2.7 – Conclusão
25
Como os Chicago boys da liberalização chilena, foi criado o epíteto Bocconi boys para
identificar os autores italianos em questão, que perpassam pelos departamentos de Economia
e Finanças da Universidade de Harvard, Universidade de Chicago e da Northwestern
University.
101
Numa leitura parecida, ainda que com uma disposição menos crítica a Weber
e mais tradicionalmente sociológica, Fukuyama (1995) correlacionou o
desenvolvimento econômico mais estruturado e rápido a sociedades menos
familistas e com mais capital social – sendo este derivado dos fortes laços de
confiança comunitária. O desenvolvimento industrial nas sociedades familistas
e de baixo capital social espontâneo é fortemente dependente da ação estatal.
Além disso, conforme Peyrefitte, o sociólogo nipo-americano, aproximou o
conceito de custo de transação à questão da desconfiança, desvendando,
então, o “elo perdido” que separa as duas escolas estudadas no presente
trabalho.
26
Vide a nota de rodapé número 5.
102
Ainda que Weber tenha, conforme Schumpeter (2008) afirma, entendido mal o
materialismo de Marx, ele, com razão, encontrou a chave para a realização de
pesquisas indispensável para as ciências sociais, ainda que fossem
plenamente irrealizáveis dentro das limitações de sua metodologia positivista,
caso ferreamente interpretada. O fato de que, textualmente, tanto Fukuyama
quanto Peyrefitte tenham estudado e correlacionado um fator imaterial – a
confiança – ao constructo teórico dos custos de transação abre um fértil
27
Braudel leu em Weber, de certo modo, o argumento intelectual proposto por Fukuyama
(1989) a respeito da pax pós Guerra Fria.
103
∆𝑮 + ∆𝑪 = 𝟎 𝒏𝒐 𝒑𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒌 ^ (𝟑)
108
Williamson, entretanto, não para por aí. Ele avança sua análise para além do
modelo centrado em um índice ideal de especificidade, avaliando
qualitativamente tipos de especificidade de ativos (ibidem, p. 95-96) e de
análise de barreiras de eficiência (ibidem, p. 96-98). Além disso, toda a análise
de Williamson se comunica, seja correlacionando-se ou contrapondo-se, aos
estudos do fenômeno problemático do Hold-up (BESANKO et al, 21012, pp.
159-162) e a própria teoria de Grossman, Hart e Moore sobre a questão
proprietária dos ativos específicos na análise sobre a verticalização (ibidem, pp.
175-179). Não obstante, tais desenvolvimentos não serão levados em conta
neste trabalho.
Seria inclusive até mais racional imaginar que, no que tange à decisão sobre
tecnologias, as escolhas são baseadas mais em opiniões de especialistas, ou
análises mais práticas de mercado e de escalabilidade. O próprio problema do
holdup, cerne da visão estratégica da economia de custos de transação, surge
extremamente ligado à questão jurídica dos contratos. É, pois, a agregação
para a decisão empresarial preambular de um elemento ex post. Em outras
palavras, há um aparente gap temporal entre os custos das funções propostas
por Williamson e a variação de especificidade dos ativos.
29
Se o tratamento de Fukuyama é direto e positivo, podemos tratar da leitura de Peyrefitte
(1999) acerca do terceiro fator imaterial de produção como o outro lado da moeda. Indireto mas
indispensável.
111
Uma curva de custos de burocracia seria delimitada pela equação que atinge
custo zero no ponto t*.
∆𝑮 + ∆𝑪 = 𝟎 𝒏𝒐 𝒑𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒕 ^ (𝟔)
∆𝑮 + ∆𝑪 = 𝟎 𝒏𝒐 𝒑𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒕𝒌 ^ (𝟗)
Talvez o mais famoso e mais disseminado modelo tenha sido o proposto por
Hofestede (2001), que surgiu de uma análise realizada em mais de 50
subsidiárias em diferentes países da IBM, tendo sido posteriormente replicada
com 400 entrevistados não afiliados à empresa em mais de 30 países.
Segundo o estudo, amparado por fontes teóricas da psicologia e dos estudos
sociológicos, cinco dimensões culturais forneceriam indícios para a
31
diferenciação comparativa de diferentes unidades culturais .
31
A primeira edição do estudo levava em conta apenas quatro dimensões.
116
Após anos de pesquisa, Hofstede (2011), por meio de uma curta análise
histórica do desenvolvimento de seu modelo, forneceu ao público a descrição
das seis dimensões que, por fim, resumem o seu modelo em sua forma mais
avançada. As dimensões são: Power Distance, que serve como índice de
leitura sobre a desigualdade de poder nas relações sociais; Uncertainty
Avoidance, um termômetro sobre o desconforto de uma dada sociedade
perante incertezas; Individualism/Collectivism, sobre a integração de
indivíduos aos grupos; Masculinity/Femininity, relacionada à divisão
psicológica de papeis entre os sexos; Long Term/Short Term Orientation,
relacionada ao foco temporal dos esforços empreendidos; e, por fim,
Indugence/ Restraint, que mensura o controle de gratificões ou a disposição a
aproveitar os prazeres mundanos (HOFSTEDE, 2011, p.8).
IV -Economia Desenvolvida em
Alta
Com baixa complexidade econômica, mas com alto grau de capital social
espontâneo, temos o tipo histórico das nações que despontaram cedo. No
segundo quadrante, das Economias em Take Off, há a abertura para uma
maior importância legada aos ativos específicos e formas iniciais de relações
complexas de descentralização. No passado, em países como Inglaterra,
Holanda e EUA, os primeiros experimentos com direito de propriedade e com
formas jurídicas de relações empresariais foram realizados com sucesso.
Dentre todos os quadrantes, é o de menor valor prático, dado seu
anacronismo. Possui, entretanto, valor teórico para o modelo, como um
precedente para uma situação existente e economicamente positiva.
Pensando numa comparação intermediária, nem macro nem local, com caráter
regional, estudos como o já citado trabalho de Putnam oferecem análises
interessantes. A leitura sobre a diferenciação entre a Itália atrasada e a Itália
desenvolvida a partir dos passos de Banfield (1958), tomada emprestada por
Fukuyama, é um ótimo exemplo. Sem depender de nenhuma fonte específica,
posso citar a diferença tradicional entre o caráter social do norte dos Estados
Unidos e o sul, com suas consequentes distinções sociais, inclusive com a
proclividade nortista em direção à prosperidade. Tal mote é popularíssimo na
sociologia e na política comparada, sendo, pois, estas duas searas de estudo
fontes interessantes para análises regionais.
33
Acesse em https://portugues.doingbusiness.org/pt/reports.
124
Com isso, o gestor pode comparar, seja no nível nacional, regional ou local,
com aproximações e informações com um custo de obtenção relativamente
baixo, bem ao modo como são utilizados os modelos de Hofstede e o CAGE,
duas ou mais unidades – a depender do nível de análise- em termos de
complexidade econômica e confiança social. Neste trabalho, o foco foi
direcionado, primordialmente, às decisões concernentes à verticalização e, em
segundo lugar, en passant, à própria estrutura organizacional da firma, ligada
fortemente a decisões do gênero.
3.5 - Conclusão
pela especificidade dos ativos de sua operação. Caso um novo produto a ser
produzido necessite de um ativo específico, a relação entre os custos
burocráticos de governança – mais precisamente, a diferença dos custos
burocráticos internos e dos custos burocráticos incorridos ao utilizar o mercado
como fornecedor - e a diferença entre os custos de produção internos e
externos – i.e. do vendedor, no caso de compra do produto pronto - impele à
decisão de produção interna. Já no caso de um ativo não-específico, o pêndulo
tende para melhores resultados econômicos na compra do produto.
4 – Conclusão e Discussão
34
Vide a argumentação de Arrow (1994) para a essencialidade das variáveis sociais, alheias
ao individualismo metodológico, para os estudos econômicos.
129
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